Eu arregalei os olhos e todos se voltaram para mim. Meu amigo Léo
estava com a cara fechada e as minhas amigas me aplaudiram.

- Vai lá – o Bruno me empurrou.

Onde ele estava? Como eu não tinha visto ele perto de mim???
- Vem aqui, Caio – minha supervisora riu. – É você!!!
As minhas pernas estavam tremendo de nervosismo. Comecei a andar pelo meio das pessoas e quando cheguei perto da Heloísa, as minhas mãos já estavam geladas e suadas.
- Parabéns – ela me recepcionou com dois beijos. – Esse notebook é seu.
- Tem certeza? – eu não estava acreditando.
- Você é o único Caio Monteiro da sua equipe, não é?
- Claro que é você, seu bobo – minha supervisora me abraçou.

- Nossa, nem tô acreditando!!!
- Meus parabéns – disse a coordenadora.
- Muito obrigado – meus olhos ficaram molhados.
- Você mereceu. Fez por onde ganhar – minha supervisora finalizou. – Parabéns. Você merece.
- Valeu, super...
Eu peguei a sacola com as mãos trêmulas e em seguida voltei pro meu lugar. Uma rodinha de pessoas se formou ao meu redor, todos querendo ver meu prêmio.
- Parabéns, Caio – disse Bruno com um sorriso enorme nos lábios.
- Obrigado – nossos olhos se prenderam como dois ímãs.
- Você merece – ele completou.
- Obrigado...
Não estava acreditando. O prêmio que eu queria tinha sido realmente meu... Seria sorte ou um presente de Deus???
- Posso ver? – perguntou Tamires.
Eu também não estava me segurando de curiosidade. Tirei o objeto da sacola e abri a caixa. Ele era lindo. Perfeito. E meu, todinho meu!

- Vai me emprestar de vez em quando, né? – Rodrigou perguntou.
- Vou pensar no seu caso...
- Olha lá, hein? Eu te arrumei uma casa nova e descente. Seja bonzinho comigo!!!
- Atenção, pessoal... Vamos revelar quem foi o 1º colocado e quem vai levar pra casa essa televisão linda...
Aquele foi o momento mais esperado, porque todos queriam aquele televisor.
- A 1ª colocada...
Todos os meninos ficaram decepcionados. Inclusive o Bruno. Pobrezinho...
- É a Aparecida Flores!!!
Ninguém acreditou. Aparecida Flores era aquela senhorinha que fez escuta com o Leonardo. Aquela que ninguém, absolutamente ninguém, botava fé.
A decepção foi coletiva, mas serviu de lição pra todos. Não devemos julgar pelas aparências!
A mulher ficou tão emocionada que quase passou mal. Depois de anunciados todos os vencedores, eu resolvi sair da operação e ir pra minha nova casa, porque eu queria inaugurar o meu presente logo.
- Parabéns, Caio – as pessoas iam me parabenizando quando me encontravam.
- Você merece – outras comentavam.
Eu estava tão feliz que nem as idiotices do Léo me tiraram do sério naquele momento.
- Sensacional – disse Priscila.
- Eu disse que ia ganhar – dei risada.
- Sorte de principiante – o Leonardo resmungou.
- Tá com invejinha, tá? Isso é pra você aprender a não falar mal das pessoas!!!
- Quem falou mal de você aqui?
- Tá nervoso? Calma, só tô brincando com você!!! Não é assim que você fala?
Meus amigos riram.

- Não vi a menor graça – ele reclamou.
- Eu também não vejo a menor graça nas suas brincadeirinhas!
- Não briguem meninos – Priscila interveio.
Deu pra notar que ele ficou com raiva de mim. Ou inveja. Eu não levei a história a diante.

- Me mudei na hora certa – comentei. – Lá na hospedaria não ia ter internet.
- Computador sem internet não é computador – Bruno comentou.
- Verdade.
- Bruno, por que você tá tão calado hoje? – perguntou Rodrigo.
- Ah, não tô num dia de luz hoje não...
- Percebi.
- Tá sentindo falta do Igor ainda? – Tamires perguntou.
- Deus me livre. Isso é coisa passada.
- Ah, que bom, né?
Nossos olhos se cruzaram. Meu estômago ficou gelado. Por mais defeitos que ele tivesse, eu ainda estava interessado nele, mas não conseguia admitir.
- Bola pra frente – ele disse isso olhando nos meus olhos.
Eu estava tão acostumado a descer na minha antiga estação, que se o Rodrigo não tivesse me impedido de sair do trem, eu ia direto pra hospedaria do Seu Manollo.

- Ai, não estou acostumado a descer fora dessa estação – justifiquei.
- A nossa é a próxima, relaxa. Não é tão longe assim.
E não era mesmo. Em menos de dois minutos, o trem parou novamente.
- Até amanhã, pessoal – falei.
Nossos olhos se cruzaram novamente. Pareciam dois ímãs que se atraíam a todo momento.

- Até – responderam.
- Falou aí, gurizada... A gente se fala.
Nós descemos.
- Acho que o seu amigo está com inveja de você.
- Por mim – dei de ombros. – Ele é meio idiota de vez em quando.
- Se eu fosse você, tomaria cuidado. Ele pode puxar o seu tapete.
- Como assim?
- Amigo cobra, sabe como é? Aquele que se passa por seu amigo, mas na primeira oportunidade te trai?
- Uhum.
- Fica esperto.
- Obrigado pelo toque.
Quando nós chegamos na república, todos estavam lá, com exceção do Ricardo, que ainda não havia chegado do trabalho.

- E aí, Caio? – Willian me cumprimentou. – Já se habituou?
- Ainda tô me acostumando...
- Fica à vontade, a casa também é sua à partir de hoje.
- Valeu...
- Tranquilinho? – perguntou Fabrício.
- Sossegado.
- Bem-vindo aí – disse Vinícius. – Não quiseram deixar você no meu quarto, vê se pode.
- Fiquei sabendo – dei risada.
- Não vai inaugurar seu brinquedinho? – Rodrigo indagou.
- Que brinquedinho? – um dos meninos ficou curioso.
- Esse sortudo ganhou um notebook da empresa hoje!!!
- Pô, que maneiro – Vinícius comentou.
- Mas ele vai ter que me emprestar. Se não fosse por minha causa ele nem estaria aqui.
- Interesseiro – Fabrício deu risada.
- Tem alguma coisa pra janta? – Rodrigo perguntou, se dirigindo pra cozinha.
- Tem macarrão com salsicha – respondeu Willian.
- Quem fez?
- Eu – respondeu Fabrício.
- Hum... será que essa gororoba ficou boa?
- Vai se foder – o moleque retrucou.
Dei risada e fui pro meu quarto. Coloquei a mochila em um canto qualquer e me joguei na minha nova cama, nem me preocupei em me trocar, fiz questão de inaugurar o meu notebook logo de uma vez.
Fucei em tudo o que pude e mais um pouco. Era completo. Tinha Messenger, Office, Anti-vírus... Tudo o que eu precisava.

- Já? – ele entrou com um prato nas mãos.
- Lógico. Preciso instalar a internet. Como faço?
- Quem vai poder te ajudar com isso é o Ricardo. É ele que mexe nessas coisas... Ele que configura e tudo mais.
- Mas dá pra colocar aqui?
- Ah, dá sim. Todos os quartos têm uma extensão justamente pra isso.
- E ele vai demorar?
- Chega lá pelas 22 horas.
Olhei no relógio. Faltava meia hora ainda. Eu estava ansioso.
- Tudo isso?
- Relaxa. Vai tomar um banho, comer e depois ele arruma pra você.
- Se não tem jeito...
Fechei o meu computador e fui até o guarda-roupa pra pegar algo para vestir.
- Aqui tem ferro de passar?
- Uhum.
- Finalmente vou poder passar as minhas roupas...
- Se quiser usar ele tá lá na lavanderia.
- Não, não. Não vou passar a roupa de dormir, né? Só as que eu saio de casa mesmo.
- Hum. Se quiser jantar tem macarrão ainda. E tá bom até, viu?
- Ah, valeu, mas eu tô sem fome.
- Certeza?
- Certeza sim. Acostumei a ficar sem jantar, não sinto fome à noite.
E era verdade mesmo. Acho que fiquei tanto tempo sem janta que o meu organismo acostumou.
- Se você diz.
- Vou tomar banho, já volto.
- À vontade.
Uma das melhores coisas que me aconteceu quando eu mudei para aquela república, foi poder voltar a tomar banho quente. Eu estava sentindo tanta falta daquilo que demorei muito pra sair de baixo d’água. Parecia inacreditável que aquilo estivesse acontecendo.


- Como é bom voltar a tomar banho quente – falei quando entrei no quarto.
- Lá não tinha água quente?
- Nâo.
- Deus me livre. Odeio banho gelado.
- Eu até gosto, mas só quando está muito calor. No inverno eu sofria...
- Eu imagino.
- Se bem que aqui no Rio de Janeiro quase nunca faz frio, não é?
- É mesmo. Comparado com o Paraná isso daqui é o Deserto do Saara.
- Pior que é mesmo.
- Vai lá – o Bruno me empurrou.
Onde ele estava? Como eu não tinha visto ele perto de mim???
- Vem aqui, Caio – minha supervisora riu. – É você!!!
As minhas pernas estavam tremendo de nervosismo. Comecei a andar pelo meio das pessoas e quando cheguei perto da Heloísa, as minhas mãos já estavam geladas e suadas.
- Parabéns – ela me recepcionou com dois beijos. – Esse notebook é seu.
- Tem certeza? – eu não estava acreditando.
- Você é o único Caio Monteiro da sua equipe, não é?
- Claro que é você, seu bobo – minha supervisora me abraçou.
- Nossa, nem tô acreditando!!!
- Meus parabéns – disse a coordenadora.
- Muito obrigado – meus olhos ficaram molhados.
- Você mereceu. Fez por onde ganhar – minha supervisora finalizou. – Parabéns. Você merece.
- Valeu, super...
Eu peguei a sacola com as mãos trêmulas e em seguida voltei pro meu lugar. Uma rodinha de pessoas se formou ao meu redor, todos querendo ver meu prêmio.
- Parabéns, Caio – disse Bruno com um sorriso enorme nos lábios.
- Obrigado – nossos olhos se prenderam como dois ímãs.
- Você merece – ele completou.
- Obrigado...
Não estava acreditando. O prêmio que eu queria tinha sido realmente meu... Seria sorte ou um presente de Deus???
- Posso ver? – perguntou Tamires.
Eu também não estava me segurando de curiosidade. Tirei o objeto da sacola e abri a caixa. Ele era lindo. Perfeito. E meu, todinho meu!
- Vai me emprestar de vez em quando, né? – Rodrigou perguntou.
- Vou pensar no seu caso...
- Olha lá, hein? Eu te arrumei uma casa nova e descente. Seja bonzinho comigo!!!
- Atenção, pessoal... Vamos revelar quem foi o 1º colocado e quem vai levar pra casa essa televisão linda...
Aquele foi o momento mais esperado, porque todos queriam aquele televisor.
- A 1ª colocada...
Todos os meninos ficaram decepcionados. Inclusive o Bruno. Pobrezinho...
- É a Aparecida Flores!!!
Ninguém acreditou. Aparecida Flores era aquela senhorinha que fez escuta com o Leonardo. Aquela que ninguém, absolutamente ninguém, botava fé.
A decepção foi coletiva, mas serviu de lição pra todos. Não devemos julgar pelas aparências!
A mulher ficou tão emocionada que quase passou mal. Depois de anunciados todos os vencedores, eu resolvi sair da operação e ir pra minha nova casa, porque eu queria inaugurar o meu presente logo.
- Parabéns, Caio – as pessoas iam me parabenizando quando me encontravam.
- Você merece – outras comentavam.
Eu estava tão feliz que nem as idiotices do Léo me tiraram do sério naquele momento.
- Sensacional – disse Priscila.
- Eu disse que ia ganhar – dei risada.
- Sorte de principiante – o Leonardo resmungou.
- Tá com invejinha, tá? Isso é pra você aprender a não falar mal das pessoas!!!
- Quem falou mal de você aqui?
- Tá nervoso? Calma, só tô brincando com você!!! Não é assim que você fala?
Meus amigos riram.
- Não vi a menor graça – ele reclamou.
- Eu também não vejo a menor graça nas suas brincadeirinhas!
- Não briguem meninos – Priscila interveio.
Deu pra notar que ele ficou com raiva de mim. Ou inveja. Eu não levei a história a diante.
- Me mudei na hora certa – comentei. – Lá na hospedaria não ia ter internet.
- Computador sem internet não é computador – Bruno comentou.
- Verdade.
- Bruno, por que você tá tão calado hoje? – perguntou Rodrigo.
- Ah, não tô num dia de luz hoje não...
- Percebi.
- Tá sentindo falta do Igor ainda? – Tamires perguntou.
- Deus me livre. Isso é coisa passada.
- Ah, que bom, né?
Nossos olhos se cruzaram. Meu estômago ficou gelado. Por mais defeitos que ele tivesse, eu ainda estava interessado nele, mas não conseguia admitir.
- Bola pra frente – ele disse isso olhando nos meus olhos.
Eu estava tão acostumado a descer na minha antiga estação, que se o Rodrigo não tivesse me impedido de sair do trem, eu ia direto pra hospedaria do Seu Manollo.
- Ai, não estou acostumado a descer fora dessa estação – justifiquei.
- A nossa é a próxima, relaxa. Não é tão longe assim.
E não era mesmo. Em menos de dois minutos, o trem parou novamente.
- Até amanhã, pessoal – falei.
Nossos olhos se cruzaram novamente. Pareciam dois ímãs que se atraíam a todo momento.
- Até – responderam.
- Falou aí, gurizada... A gente se fala.
Nós descemos.
- Acho que o seu amigo está com inveja de você.
- Por mim – dei de ombros. – Ele é meio idiota de vez em quando.
- Se eu fosse você, tomaria cuidado. Ele pode puxar o seu tapete.
- Como assim?
- Amigo cobra, sabe como é? Aquele que se passa por seu amigo, mas na primeira oportunidade te trai?
- Uhum.
- Fica esperto.
- Obrigado pelo toque.
Quando nós chegamos na república, todos estavam lá, com exceção do Ricardo, que ainda não havia chegado do trabalho.
- E aí, Caio? – Willian me cumprimentou. – Já se habituou?
- Ainda tô me acostumando...
- Fica à vontade, a casa também é sua à partir de hoje.
- Valeu...
- Tranquilinho? – perguntou Fabrício.
- Sossegado.
- Bem-vindo aí – disse Vinícius. – Não quiseram deixar você no meu quarto, vê se pode.
- Fiquei sabendo – dei risada.
- Não vai inaugurar seu brinquedinho? – Rodrigo indagou.
- Que brinquedinho? – um dos meninos ficou curioso.
- Esse sortudo ganhou um notebook da empresa hoje!!!
- Pô, que maneiro – Vinícius comentou.
- Mas ele vai ter que me emprestar. Se não fosse por minha causa ele nem estaria aqui.
- Interesseiro – Fabrício deu risada.
- Tem alguma coisa pra janta? – Rodrigo perguntou, se dirigindo pra cozinha.
- Tem macarrão com salsicha – respondeu Willian.
- Quem fez?
- Eu – respondeu Fabrício.
- Hum... será que essa gororoba ficou boa?
- Vai se foder – o moleque retrucou.
Dei risada e fui pro meu quarto. Coloquei a mochila em um canto qualquer e me joguei na minha nova cama, nem me preocupei em me trocar, fiz questão de inaugurar o meu notebook logo de uma vez.
Fucei em tudo o que pude e mais um pouco. Era completo. Tinha Messenger, Office, Anti-vírus... Tudo o que eu precisava.
- Já? – ele entrou com um prato nas mãos.
- Lógico. Preciso instalar a internet. Como faço?
- Quem vai poder te ajudar com isso é o Ricardo. É ele que mexe nessas coisas... Ele que configura e tudo mais.
- Mas dá pra colocar aqui?
- Ah, dá sim. Todos os quartos têm uma extensão justamente pra isso.
- E ele vai demorar?
- Chega lá pelas 22 horas.
Olhei no relógio. Faltava meia hora ainda. Eu estava ansioso.
- Tudo isso?
- Relaxa. Vai tomar um banho, comer e depois ele arruma pra você.
- Se não tem jeito...
Fechei o meu computador e fui até o guarda-roupa pra pegar algo para vestir.
- Aqui tem ferro de passar?
- Uhum.
- Finalmente vou poder passar as minhas roupas...
- Se quiser usar ele tá lá na lavanderia.
- Não, não. Não vou passar a roupa de dormir, né? Só as que eu saio de casa mesmo.
- Hum. Se quiser jantar tem macarrão ainda. E tá bom até, viu?
- Ah, valeu, mas eu tô sem fome.
- Certeza?
- Certeza sim. Acostumei a ficar sem jantar, não sinto fome à noite.
E era verdade mesmo. Acho que fiquei tanto tempo sem janta que o meu organismo acostumou.
- Se você diz.
- Vou tomar banho, já volto.
- À vontade.
Uma das melhores coisas que me aconteceu quando eu mudei para aquela república, foi poder voltar a tomar banho quente. Eu estava sentindo tanta falta daquilo que demorei muito pra sair de baixo d’água. Parecia inacreditável que aquilo estivesse acontecendo.
- Como é bom voltar a tomar banho quente – falei quando entrei no quarto.
- Lá não tinha água quente?
- Nâo.
- Deus me livre. Odeio banho gelado.
- Eu até gosto, mas só quando está muito calor. No inverno eu sofria...
- Eu imagino.
- Se bem que aqui no Rio de Janeiro quase nunca faz frio, não é?
- É mesmo. Comparado com o Paraná isso daqui é o Deserto do Saara.
- Pior que é mesmo.
- Configurado – disse Ricardo.
- Valeu, mano – agradeci. – Te devo uma.
- Que nada. Relaxa.
Não esperei mais. Me joguei na minha cama e rapidamente me conectei ao mundo online.
- Agora vai até de madrugada, né? – Will sorriu.
- Provavelmente – respondi.
- Eu quero usar, hein?
- Eu deixo, chorão...
- Isso aí – Rodrigo deu risada.
Entrei no meu Orkut. Meu irmão tinha entrado no meu perfil de novo. O que ele queria afinal de contas?
O melhor de tudo foi ter voltado a mexer no MSN. Quase todos os meus antigos amigos de São Paulo estavam conectados. Inclusive o Víctor.

“Mentira que é você?” – a janelinha dele subiu.
“Sou eu sim...” – respondi.
“Nossa, que emoção!!! Tudo bem com você?”
“Tudo ótimo e você?”
“Melhor agora. Está em uma lan house?”
Expliquei rapidamente o que tinha acontecido. Ele ficou muito feliz pelas coisas estarem começando a mudar.
Enquanto eu estava teclando com meu melhor amigo, uma janela subiu e eu percebi que era a Joyce:
“Muito obrigada por ter me feito passar por ridícula na frente do colégio todo...”
Não me dei ao trabalho de responder e bloqueei a garota. Eu não queria tê-la feito passar por idiota. A minha intenção não era aquela.
O papo com o Víctor estava tão bom que eu nem me dei conta das horas passando. Quando percebi, já era quase uma da manhã.
O Rodrigo entrou no quarto, só com uma bermuda e me lançou um olhar curioso.
- Ainda?
- Uhum. Vem mexer, pode vir...
- Oba...
Me despedi do Víctor, fechei todos os programas e emprestei o meu notebook ao Rodrigo.
- Fica à vontade.
- Valeu, parceiro. Prometo que não vou abusar.
- Imagina, é o mínimo que eu posso fazer por você. Pode usar o quanto quiser.
- Valeu, mas é provisório. Vou pedir dinheiro pro meu pai pra comprar um.
- Que chique!!!
Eu saí do quarto para usar o banheiro e escovar os dentes. O Fabrício estava sentado no chão da sala, assistindo televisão.

- Já cansou de usar o note? – indagou.
- Emprestei um pouco pro Rodrigo – expliquei.
- Ah, tá.
Fiz tudo o que tinha que fazer e quando voltei pra sala, sentei no sofá pra ver o que estava passando na televisão.
- O que você tá assistindo?
- Um documentário sobre usuários de drogas.
- Da hora.
Os dados que estavam passando na reportagem eram impressionantes. Eu podia ter todos os defeitos do mundo, mas nunca iria usar aquele tipo de coisa. Nunca mesmo.
- Vou dormir. Amanhã o dia vai ser longo – disse o rapaz, levantando-se do chão.
- É eu também vou.
Ainda estava achando esquisito morar naquela casa, mas tudo estava muito no começo. Provavelmente com o tempo eu me acostumaria.
- Boa noite, parceiro.
- Boa noite, mano.
Fui direto pra minha cama. O Rodrigo ainda estava mexendo na internet, mas aquilo não ia atrapalhar o meu sono.
- Ah, deixa eu te perguntar uma coisa?
- O quê? – fiquei curioso.
- Como você costuma dormir?
- Como assim?
- Como você prefere dormir? De pijama, de bermuda, de cueca, pelado...?
Achei aquela pergunta muito esquisita.
- Ah, não tem um jeito certo, por quê?
- Tô perguntando porque entre nós aqui não tem essa. Cada um dorme do jeito que quer.
- Ah, entendi.
- Então se você estiver grilado com isso, pode ficar à vontade, firmeza?
- Tranquilo.
- Não se importa se eu dormir de cueca não né?
- Lógico que não – meu rosto esquentou e meu pau deu sinal de vida. – Sem crise.
- Ah, que bom. Fiquei meio assim...
- Que nada, por mim é tranquilo. Pode dormir do jeito que você quiser.
- Você também.
- Beleza.
Mas eu fiquei de bermuda e camiseta mesmo. Às vezes dormia de cueca ou pelado, mas só quando estava muito calor.
Fiquei imaginando como cada um dormia. Os meninos eram bem gatinhos, com exceção do Ricardo que fazia o tipo “nerd”. Será que eles dormiam pelados? E se eu visse algum deles pelado? Qual seria a minha reação? Eu tinha que ser bem cauteloso ao pisar naquele terreno.

- Pronto, já fiz tudo o que tinha que fazer. Te adicionei no Orkut, beleza?
- Ah, tranquilo. Amanhã eu te aceito.
- Firmeza. Tô sem sono.
- Eu também tô – confessei.
- Posso colocar o note na mesinha?
- Pode sim. Eu ia deixar lá mesmo.
- Ah, beleza.
O Rodrigo levantou e colocou meu notebook em cima da mesa. Em seguida tirou a bermuda, desligou a luz e foi pra cama.
O corpo dele não era daquele tipo escultural, mas estava em dia. Muito gatinho, porém não tanto como o Bruno.
Pensei nele. O que será que estaria fazendo naquele momento? Será que estava sozinho? Ou será que ele já tinha arrumado um novo namorado? Porquê ele demonstrou claramente que é do tipo de pessoa que não fica sozinho por muito tempo...
A casa estava completamente silenciosa. A única coisa que eu conseguia ouvir além dos meus próprios pensamentos, era os carros que passavam na rua.
Me remexi pra um lado, me remexi pro outro e o sono não chegou. Talvez eu estivesse estranhando a cama...

- Droga – resmunguei baixinho.
- O que foi?
- O sono não vem.
- Aqui também não. Talvez você esteja estranhando a cama.
- Pode ser. Pensei nisso também.
- Tenso.
- Logo acostumo – garanti.
- Quer vir pra essa? A gente troca.
- Que nada, pode ficar tranquilo. Acho que é insônia mesmo.
- Deve ser a adrenalina por causa do notebook.
Dei risada.
- Talvez, vai saber...
Silêncio.
Eu fiquei olhando a luz que vinha das frestas da janela. Por que as coisas tinham acontecido daquele jeito? Como estaria sendo a minha vida se eu estivesse em São Paulo? Provavelmente seria a mesma chatice de sempre...
Se estivesse em São Paulo, provavelmente eu ainda estaria mascarado em uma imagem que não era minha, uma imagem heterossexual, uma imagem que não era minha...
- Rodrigo?
- Hum?
- Que dia tem que pagar o aluguel?
- Ah, bem lembrado. Vence dia 10.
- Ah, de boa. Eu tenho que dar quanto?
- R$ 50,00.
- SÓ? – me espantei e muito. Não era possível que fosse tão pouco!
- Eu disse que você ia fazer um bom negócio.
- Arrasou! – fiquei feliz com a boa notícia.
Ele riu.
- E a água e a luz?
- Elas chegam mais ou menos no meio do mês. Bom reservar um dinheirinho.
- Vou fazer isso sim.
- O resto das contas é só pro final do mês. Telefone e internet fica mais ou menos R$ 40,00 pra cada um.
- Acho que fiz um excelente negócio – abri um sorriso. Qualquer valor que me sobrasse já iria me ajudar muito.
- Acredite, você fez um bom negócio.
- Vou te agradecer pro resto da vida.
- Nem precisa. Me paga uma cachaça qualquer dia desses e tá tudo certo.
- Pode deixar – a gente riu junto.
- Valeu, mano – agradeci. – Te devo uma.
- Que nada. Relaxa.
Não esperei mais. Me joguei na minha cama e rapidamente me conectei ao mundo online.
- Agora vai até de madrugada, né? – Will sorriu.
- Provavelmente – respondi.
- Eu quero usar, hein?
- Eu deixo, chorão...
- Isso aí – Rodrigo deu risada.
Entrei no meu Orkut. Meu irmão tinha entrado no meu perfil de novo. O que ele queria afinal de contas?
O melhor de tudo foi ter voltado a mexer no MSN. Quase todos os meus antigos amigos de São Paulo estavam conectados. Inclusive o Víctor.
“Mentira que é você?” – a janelinha dele subiu.
“Sou eu sim...” – respondi.
“Nossa, que emoção!!! Tudo bem com você?”
“Tudo ótimo e você?”
“Melhor agora. Está em uma lan house?”
Expliquei rapidamente o que tinha acontecido. Ele ficou muito feliz pelas coisas estarem começando a mudar.
Enquanto eu estava teclando com meu melhor amigo, uma janela subiu e eu percebi que era a Joyce:
“Muito obrigada por ter me feito passar por ridícula na frente do colégio todo...”
Não me dei ao trabalho de responder e bloqueei a garota. Eu não queria tê-la feito passar por idiota. A minha intenção não era aquela.
O papo com o Víctor estava tão bom que eu nem me dei conta das horas passando. Quando percebi, já era quase uma da manhã.
O Rodrigo entrou no quarto, só com uma bermuda e me lançou um olhar curioso.
- Ainda?
- Uhum. Vem mexer, pode vir...
- Oba...
Me despedi do Víctor, fechei todos os programas e emprestei o meu notebook ao Rodrigo.
- Fica à vontade.
- Valeu, parceiro. Prometo que não vou abusar.
- Imagina, é o mínimo que eu posso fazer por você. Pode usar o quanto quiser.
- Valeu, mas é provisório. Vou pedir dinheiro pro meu pai pra comprar um.
- Que chique!!!
Eu saí do quarto para usar o banheiro e escovar os dentes. O Fabrício estava sentado no chão da sala, assistindo televisão.
- Já cansou de usar o note? – indagou.
- Emprestei um pouco pro Rodrigo – expliquei.
- Ah, tá.
Fiz tudo o que tinha que fazer e quando voltei pra sala, sentei no sofá pra ver o que estava passando na televisão.
- O que você tá assistindo?
- Um documentário sobre usuários de drogas.
- Da hora.
Os dados que estavam passando na reportagem eram impressionantes. Eu podia ter todos os defeitos do mundo, mas nunca iria usar aquele tipo de coisa. Nunca mesmo.
- Vou dormir. Amanhã o dia vai ser longo – disse o rapaz, levantando-se do chão.
- É eu também vou.
Ainda estava achando esquisito morar naquela casa, mas tudo estava muito no começo. Provavelmente com o tempo eu me acostumaria.
- Boa noite, parceiro.
- Boa noite, mano.
Fui direto pra minha cama. O Rodrigo ainda estava mexendo na internet, mas aquilo não ia atrapalhar o meu sono.
- Ah, deixa eu te perguntar uma coisa?
- O quê? – fiquei curioso.
- Como você costuma dormir?
- Como assim?
- Como você prefere dormir? De pijama, de bermuda, de cueca, pelado...?
Achei aquela pergunta muito esquisita.
- Ah, não tem um jeito certo, por quê?
- Tô perguntando porque entre nós aqui não tem essa. Cada um dorme do jeito que quer.
- Ah, entendi.
- Então se você estiver grilado com isso, pode ficar à vontade, firmeza?
- Tranquilo.
- Não se importa se eu dormir de cueca não né?
- Lógico que não – meu rosto esquentou e meu pau deu sinal de vida. – Sem crise.
- Ah, que bom. Fiquei meio assim...
- Que nada, por mim é tranquilo. Pode dormir do jeito que você quiser.
- Você também.
- Beleza.
Mas eu fiquei de bermuda e camiseta mesmo. Às vezes dormia de cueca ou pelado, mas só quando estava muito calor.
Fiquei imaginando como cada um dormia. Os meninos eram bem gatinhos, com exceção do Ricardo que fazia o tipo “nerd”. Será que eles dormiam pelados? E se eu visse algum deles pelado? Qual seria a minha reação? Eu tinha que ser bem cauteloso ao pisar naquele terreno.
- Pronto, já fiz tudo o que tinha que fazer. Te adicionei no Orkut, beleza?
- Ah, tranquilo. Amanhã eu te aceito.
- Firmeza. Tô sem sono.
- Eu também tô – confessei.
- Posso colocar o note na mesinha?
- Pode sim. Eu ia deixar lá mesmo.
- Ah, beleza.
O Rodrigo levantou e colocou meu notebook em cima da mesa. Em seguida tirou a bermuda, desligou a luz e foi pra cama.
O corpo dele não era daquele tipo escultural, mas estava em dia. Muito gatinho, porém não tanto como o Bruno.
Pensei nele. O que será que estaria fazendo naquele momento? Será que estava sozinho? Ou será que ele já tinha arrumado um novo namorado? Porquê ele demonstrou claramente que é do tipo de pessoa que não fica sozinho por muito tempo...
A casa estava completamente silenciosa. A única coisa que eu conseguia ouvir além dos meus próprios pensamentos, era os carros que passavam na rua.
Me remexi pra um lado, me remexi pro outro e o sono não chegou. Talvez eu estivesse estranhando a cama...
- Droga – resmunguei baixinho.
- O que foi?
- O sono não vem.
- Aqui também não. Talvez você esteja estranhando a cama.
- Pode ser. Pensei nisso também.
- Tenso.
- Logo acostumo – garanti.
- Quer vir pra essa? A gente troca.
- Que nada, pode ficar tranquilo. Acho que é insônia mesmo.
- Deve ser a adrenalina por causa do notebook.
Dei risada.
- Talvez, vai saber...
Silêncio.
Eu fiquei olhando a luz que vinha das frestas da janela. Por que as coisas tinham acontecido daquele jeito? Como estaria sendo a minha vida se eu estivesse em São Paulo? Provavelmente seria a mesma chatice de sempre...
Se estivesse em São Paulo, provavelmente eu ainda estaria mascarado em uma imagem que não era minha, uma imagem heterossexual, uma imagem que não era minha...
- Rodrigo?
- Hum?
- Que dia tem que pagar o aluguel?
- Ah, bem lembrado. Vence dia 10.
- Ah, de boa. Eu tenho que dar quanto?
- R$ 50,00.
- SÓ? – me espantei e muito. Não era possível que fosse tão pouco!
- Eu disse que você ia fazer um bom negócio.
- Arrasou! – fiquei feliz com a boa notícia.
Ele riu.
- E a água e a luz?
- Elas chegam mais ou menos no meio do mês. Bom reservar um dinheirinho.
- Vou fazer isso sim.
- O resto das contas é só pro final do mês. Telefone e internet fica mais ou menos R$ 40,00 pra cada um.
- Acho que fiz um excelente negócio – abri um sorriso. Qualquer valor que me sobrasse já iria me ajudar muito.
- Acredite, você fez um bom negócio.
- Vou te agradecer pro resto da vida.
- Nem precisa. Me paga uma cachaça qualquer dia desses e tá tudo certo.
- Pode deixar – a gente riu junto.
Não sei a que horas eu fui dormir na madrugada da quinta, só sei
que perdi a hora pra ir ao mercadinho da Dona Elvira naquela manhã.

- Dona Elvira deve estar chateada comigo – dei um pulo da cama.
O Rodrigo estava dormindo de bruços e com as pernas em forma de “4”. Passei os olhos rapidamente pelo seu corpo e um arrepio percorreu a minha espinha. Meus hormônios estavam à flor da pele... Hora de...
Entrei no banheiro e fechei a porta ao passar. Liguei o chuveiro e deixei a água quente cair sobre o meu corpo. Que sensação maravilhosa!
Mas não demorei tudo o que queria demorar, afinal já estava mais do que atrasado pro trabalho. Troquei de roupa rapidamente, escovei os dentes e saí pra lavanderia.
Será que eu podia colocar a roupa suja dentro da máquina? Pelo sim e pelo não, resolvi arriscar. Se desse problema depois eu dava um jeito de me desculpar.
A casa estava silenciosa. Provavelmente os meninos já tinham ido para seus respectivos trabalhos ou ainda estavam dormindo. Eu ainda não entendia muito bem a rotina daquela casa.

Peguei uma bisnaguinha dentro do armário e fui comendo enquanto andava pela calçada. O sol estava de rachar naquela manhã. Ainda bem que eu tinha passado protetor antes de sair de casa.

- Dona Elvira, me perdoa o atraso – arfei de cansaço.
- Veio correndo, foi?
- Aham. Me atrasei, me desculpa...
- Tem problema não...
- Tudo bem com a senhora?
- Mais ou menos. Fiquei gripada de um dia pro outro.
- Já tomou remédio?
- Já sim, querido. Obrigada pela preocupação.
- O que eu faço?
- Primeiro me conte como está sendo a nova casa – ela abriu um sorriso.
- Ah, por enquanto nada de anormal. Os meninos são muito legais.
- Fico feliz, querido.
- Ai, nem te conto, Dona Elvira!!! Ganhei o notebook da firma!!!
- Sério? – ela arregalou os olhos de supresa.
- É sim, eu nem acreditei...
- Graças a Deus, Caio! Você queria tanto...
- Pois é. Deus não me abandona nunca!
- Muito bem, é assim que se fala.
- Mas me diga, o que eu posso fazer?
- Você pode ir ao banco?
- Claro que sim.
- Tenho que pagar umas contas hoje. Espera aí, já volto.
- Uhum.
Enquanto ela saiu, eu atendi dois clientes e quando ela voltou, me entregou 3 boletos e uma quantia em dinheiro.
- É muita grana, Dona Elvira. A senhora não quer ir comigo?
- Confio em você.
- Qual o banco eu tenho que ir?
- Pode ser na Lotérica mesmo. Não tem problema não.
- Ah, que bom. Pelo menos é mais perto. Já volto!
- Vai com Deus e tome cuidado, hein?
- Pode deixar.

Eu andei rapidamente pelas ruas do Rio de Janeiro, mas estava preocupado. Era dinheiro demais... E se acontecesse alguma coisa? E se eu perdesse ou fosse assaltado?
Quando a minha vez chegou, o meu coração bateu aliviado. Eu entreguei os boletos e a quantia em dinheiro que a Dona Elvira havia me entregado pra moça do caixa e quando ela me entregou os papeis com o comprovante de pagamento, eu me senti aliviado.
Mas parecia que eu estava adivinhando alguma coisa, pois antes de sair do estabelecimento, dois assaltantes entraram e anunciaram um assalto.

Minhas pernas tremeram mais do que vara verde. Eu não sabia o que fazer.
Não sei se foi loucura da minha parte ou se foi um ato de sobrevivência, mas eu saí correndo daquele lugar. Eu estava tão nervoso e atrapalhado que quase bati de frente com uma senhorinha de idade.

- Desculpa, desculpa...
- Não olha por onde anda?
Não tive coragem de responder e continuei correndo. Só parei quando cheguei no mercadinho da Dona Elvira.
- Que foi, criatura? Por que você está suado desse jeito? Parece que viu um fantasma!
- Um assalto... Um assalto na Lotérica...
- Virgem Santíssima – ela começou a tremer toda. – O meu dinheiro? Levaram o meu dinheiro?
- Não – eu sentei em uma cadeira atrás do balcão. – Eu consegui pagar as contas primeiro...
- Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo!!!
Eu abaixei a cabeça e respirei fundo. Estava muito cansado e suado.
- Vou trazer um copo d’água pra você...
- Por... Favor...
Depois de uns minutinhos ela apareceu com a água. Percebi que ela estava tremando tanto quanto eu.

- Parecia que eu estava adivinhando alguma coisa.
- Mas graças a Deus deu tudo certo.
- Aqui estão os comprovantes. Não sobrou troco.
- Eu sei. Eu dei o dinheiro contado. E era o único que eu tinha.
- Já pensou se não tivesse dado tempo?
- Nem diga uma coisa dessas!
- Fiquei muito assustado.
- Não é pra menos, mas essa é a nossa realidade. Infelizmente.
- Pois é.
Depois que eu me acalmei, voltei aos meus afazeres no mercadinho. Arrumei as prateleiras e fiz uma faxina rápida. A Dona Elvira quase não me ajudou.
- Dona Elvira deve estar chateada comigo – dei um pulo da cama.
O Rodrigo estava dormindo de bruços e com as pernas em forma de “4”. Passei os olhos rapidamente pelo seu corpo e um arrepio percorreu a minha espinha. Meus hormônios estavam à flor da pele... Hora de...
Entrei no banheiro e fechei a porta ao passar. Liguei o chuveiro e deixei a água quente cair sobre o meu corpo. Que sensação maravilhosa!
Mas não demorei tudo o que queria demorar, afinal já estava mais do que atrasado pro trabalho. Troquei de roupa rapidamente, escovei os dentes e saí pra lavanderia.
Será que eu podia colocar a roupa suja dentro da máquina? Pelo sim e pelo não, resolvi arriscar. Se desse problema depois eu dava um jeito de me desculpar.
A casa estava silenciosa. Provavelmente os meninos já tinham ido para seus respectivos trabalhos ou ainda estavam dormindo. Eu ainda não entendia muito bem a rotina daquela casa.
Peguei uma bisnaguinha dentro do armário e fui comendo enquanto andava pela calçada. O sol estava de rachar naquela manhã. Ainda bem que eu tinha passado protetor antes de sair de casa.
- Dona Elvira, me perdoa o atraso – arfei de cansaço.
- Veio correndo, foi?
- Aham. Me atrasei, me desculpa...
- Tem problema não...
- Tudo bem com a senhora?
- Mais ou menos. Fiquei gripada de um dia pro outro.
- Já tomou remédio?
- Já sim, querido. Obrigada pela preocupação.
- O que eu faço?
- Primeiro me conte como está sendo a nova casa – ela abriu um sorriso.
- Ah, por enquanto nada de anormal. Os meninos são muito legais.
- Fico feliz, querido.
- Ai, nem te conto, Dona Elvira!!! Ganhei o notebook da firma!!!
- Sério? – ela arregalou os olhos de supresa.
- É sim, eu nem acreditei...
- Graças a Deus, Caio! Você queria tanto...
- Pois é. Deus não me abandona nunca!
- Muito bem, é assim que se fala.
- Mas me diga, o que eu posso fazer?
- Você pode ir ao banco?
- Claro que sim.
- Tenho que pagar umas contas hoje. Espera aí, já volto.
- Uhum.
Enquanto ela saiu, eu atendi dois clientes e quando ela voltou, me entregou 3 boletos e uma quantia em dinheiro.
- É muita grana, Dona Elvira. A senhora não quer ir comigo?
- Confio em você.
- Qual o banco eu tenho que ir?
- Pode ser na Lotérica mesmo. Não tem problema não.
- Ah, que bom. Pelo menos é mais perto. Já volto!
- Vai com Deus e tome cuidado, hein?
- Pode deixar.
Eu andei rapidamente pelas ruas do Rio de Janeiro, mas estava preocupado. Era dinheiro demais... E se acontecesse alguma coisa? E se eu perdesse ou fosse assaltado?
Quando a minha vez chegou, o meu coração bateu aliviado. Eu entreguei os boletos e a quantia em dinheiro que a Dona Elvira havia me entregado pra moça do caixa e quando ela me entregou os papeis com o comprovante de pagamento, eu me senti aliviado.
Mas parecia que eu estava adivinhando alguma coisa, pois antes de sair do estabelecimento, dois assaltantes entraram e anunciaram um assalto.
Minhas pernas tremeram mais do que vara verde. Eu não sabia o que fazer.
Não sei se foi loucura da minha parte ou se foi um ato de sobrevivência, mas eu saí correndo daquele lugar. Eu estava tão nervoso e atrapalhado que quase bati de frente com uma senhorinha de idade.
- Desculpa, desculpa...
- Não olha por onde anda?
Não tive coragem de responder e continuei correndo. Só parei quando cheguei no mercadinho da Dona Elvira.
- Que foi, criatura? Por que você está suado desse jeito? Parece que viu um fantasma!
- Um assalto... Um assalto na Lotérica...
- Virgem Santíssima – ela começou a tremer toda. – O meu dinheiro? Levaram o meu dinheiro?
- Não – eu sentei em uma cadeira atrás do balcão. – Eu consegui pagar as contas primeiro...
- Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo!!!
Eu abaixei a cabeça e respirei fundo. Estava muito cansado e suado.
- Vou trazer um copo d’água pra você...
- Por... Favor...
Depois de uns minutinhos ela apareceu com a água. Percebi que ela estava tremando tanto quanto eu.
- Parecia que eu estava adivinhando alguma coisa.
- Mas graças a Deus deu tudo certo.
- Aqui estão os comprovantes. Não sobrou troco.
- Eu sei. Eu dei o dinheiro contado. E era o único que eu tinha.
- Já pensou se não tivesse dado tempo?
- Nem diga uma coisa dessas!
- Fiquei muito assustado.
- Não é pra menos, mas essa é a nossa realidade. Infelizmente.
- Pois é.
Depois que eu me acalmei, voltei aos meus afazeres no mercadinho. Arrumei as prateleiras e fiz uma faxina rápida. A Dona Elvira quase não me ajudou.
Quando eu voltei pra casa, encontrei o Rodrigo na cozinha e contei
o que tinha acontecido.
- Pois é, essa é a realidade do Rio de Janeiro.
- Ainda bem que eles não levaram o dinheiro da Dona Elvira.
- Sorte sua. Senão você ia ter que pagar.
- Não fala isso nem em sonhos.
- Né?
- Deixa eu te perguntar, deixei a minha roupa suja dentro da máquina. Tem problema?
- Tem não. Desde que você reconheça as suas roupas.
- Ah, reconheço sim.
- Cuidado pra não misturar as cuecas – ele deu risada.
- E acontece, é?
- Já trocamos várias vezes. Pra evitar esses transtornos a gente prefere deixar as cuecas nos baldes.
- Ah, bem melhor mesmo. Qual é o meu?
- Vem, eu te mostro qual é.
Nós fomos até a lavanderia e ele pegou o meu baldinho e me entregou.
- Pode deixar nesse. Desculpa, acabei esquecendo de contar esse detalhe.
- Que nada, nem tem problema.
Eu abri a máquina, peguei a minha peça íntima e coloquei dentro do baldinho.
- A gente não deixa juntar muita roupa não – ele comentou. – Normalmente a gente lava dia sim dia não, porque é muita gente, suja rápido.
- Cada um lava as suas?
- As cuecas sim – ele riu –, mas a roupa normal quem lava é a máquina e normalmente um de nós estende por vez.
- Bacana essa divisão de tarefas.
- Tem que ser assim, senão o bagulho não funciona. Rapidinho você aprende. Eu aprendi fácil.
- Percebi.

- Pois é, essa é a realidade do Rio de Janeiro.
- Ainda bem que eles não levaram o dinheiro da Dona Elvira.
- Sorte sua. Senão você ia ter que pagar.
- Não fala isso nem em sonhos.
- Né?
- Deixa eu te perguntar, deixei a minha roupa suja dentro da máquina. Tem problema?
- Tem não. Desde que você reconheça as suas roupas.
- Ah, reconheço sim.
- Cuidado pra não misturar as cuecas – ele deu risada.
- E acontece, é?
- Já trocamos várias vezes. Pra evitar esses transtornos a gente prefere deixar as cuecas nos baldes.
- Ah, bem melhor mesmo. Qual é o meu?
- Vem, eu te mostro qual é.
Nós fomos até a lavanderia e ele pegou o meu baldinho e me entregou.
- Pode deixar nesse. Desculpa, acabei esquecendo de contar esse detalhe.
- Que nada, nem tem problema.
Eu abri a máquina, peguei a minha peça íntima e coloquei dentro do baldinho.
- A gente não deixa juntar muita roupa não – ele comentou. – Normalmente a gente lava dia sim dia não, porque é muita gente, suja rápido.
- Cada um lava as suas?
- As cuecas sim – ele riu –, mas a roupa normal quem lava é a máquina e normalmente um de nós estende por vez.
- Bacana essa divisão de tarefas.
- Tem que ser assim, senão o bagulho não funciona. Rapidinho você aprende. Eu aprendi fácil.
- Percebi.
- Posso conversar com você? – Leonardo perguntou.
- Pode sim.
Nós subimos pro refeitório e sentamos em uma mesa desocupada.
- Que foi?
- Queria te pedir desculpas, Caio.
Eu fitei os olhos dele.
- Nâo quero que a gente fique brigado, eu gosto de você.
- Também gosto de você, Léo, mas não gosto quando você extrapola nas suas brincadeirinhas.
- Desculpa. Eu prometo que não vou maiz falar do Bruno, tá bom?
- Acho bom mesmo.
- Então você me desculpa?
- Uhum.
Ele abriu um sorriso.
- Que alívio.
- Também não quero ficar brigado. Você é meu melhor amigo, esqueceu?
- Você também é meu melhor amigo...
- Vamos esquecer o que aconteceu, já passou.
- Uhum. E aí, me conta. Como está seu notebook?
- Lindo. Já usei ontem.
- Eu vi você on-line no Orkut – ele sorriu.
- Vi você também. Ia falar com você, mas achei melhor esperar.
- Fez bem. Ontem eu estava um pouco nervoso.
- Percebi.
- Desculpa mesmo.
- Já desculpei.
- Pode sim.
Nós subimos pro refeitório e sentamos em uma mesa desocupada.
- Que foi?
- Queria te pedir desculpas, Caio.
Eu fitei os olhos dele.
- Nâo quero que a gente fique brigado, eu gosto de você.
- Também gosto de você, Léo, mas não gosto quando você extrapola nas suas brincadeirinhas.
- Desculpa. Eu prometo que não vou maiz falar do Bruno, tá bom?
- Acho bom mesmo.
- Então você me desculpa?
- Uhum.
Ele abriu um sorriso.
- Que alívio.
- Também não quero ficar brigado. Você é meu melhor amigo, esqueceu?
- Você também é meu melhor amigo...
- Vamos esquecer o que aconteceu, já passou.
- Uhum. E aí, me conta. Como está seu notebook?
- Lindo. Já usei ontem.
- Eu vi você on-line no Orkut – ele sorriu.
- Vi você também. Ia falar com você, mas achei melhor esperar.
- Fez bem. Ontem eu estava um pouco nervoso.
- Percebi.
- Desculpa mesmo.
- Já desculpei.
Todos os garotos já estavam na república quando nós chegamos
naquela noite.
Eu fui pro quarto, joguei minhas coisas em um canto e fui logo ligando o meu notebook, mas antes de começar a usar, peguei uma roupa limpa e fui pro banheiro pra tomar banho.
- Vai jantar, Caio? – perguntou Willian.
- Tô sem fome.
- Qual é, vai fazer desfeita mesmo? – ele pareceu ofendido.
- Não é isso, é que eu tô tão acostumado a ficar sem janta que não sinto mais fome de noite, mas o que tem de bom?
- Risoto.
Eu era simplesmente tarado por aquele prato.

- Ah, se é risoto eu não vou resistir não. Quero sim, só que vou tomar banho primeiro.
- Beleza, vou deixar um prato pra você no micro-ondas, porque já tá acabando.
- Obrigado.
Quando eu ia abrir a porta do banheiro, ela abriu sozinha e o Vinícius saiu, enrolado em uma toalha branca e com os cabelos molhados.

- Opa – ele disse.
- Desculpa, pensei que estava vazio.
- Tranquilo.
Nós nos fitamos e eu passei. Quando tirei a minha roupa, percebi a minha excitação. Ele era muito gostoso! Como eu não tinha percebido aquilo antes???
Quando eu já estava debaixo do chuveiro, percebi que tinha esquecido meu sabonete. Fui obrigado a pegar o que estava na saboneteira mesmo. Era branco e estava cheio de pelos. Sabonete típico de homem. Meu pau voou no ar só de imaginar de quem seria. Será que era do Vini?
- Tem alguém aí? – perguntou um dos 5.
- Tem eu – respondi. – Já tô saindo.
- Beleza.
Pela voz parecia ser o Fabrício. Outro gatinho... Eu precisava urgentemente me masturbar pra parar de pensar neles. Se alguém descobrisse a minha opção sexual, eu estaria frito.
Daquela vez fiz a coisa certa: coloquei a roupa na máquina e a cueca no balde. Não queria ter problemas com eles.
Não me fiz de rogado. Peguei meu prato de risoto, sentei em um dos lugares vagos da mesa e me pus a comer. Estava magnífico.
- Quem fez? – perguntei.
- Eu – respondeu Willian.
- Show de bola. Parabéns.
- Valeu.
- Não elogia muito senão ele vai ficar se sentindo – Ricardo comentou.
- Cala a boca, moleque.
Nem dei atenção ao que o nerd disse. A comida estava muito boa mesmo.
- Quem lava a louça hoje? – perguntou Vinícius quando chegou na cozinha. Ele estava só de bermuda. Meus olhos percorreram os músculos que estavam expostos.
- Hoje é dia do Fabrício.
- O que tem eu? – ele surgiu do nada perto da gente.
- Hoje é seu dia de lavar a louça.
- Ah, beleza...
- Caio, temos uma tabelinha com o dia de cada um. É só olhar na geladeira qual é o seu dia.
- Já inseriram meu nome?
- Somos rápidos, filhote – Willian comentou.
- Percebi.
Depois que jantei, fui direto pro meu notebook.
- Já vai mexer, né viciado? – Rodrigo deu risada.
- Já. Passei muito tempo longe.
- Eu sei – ele suspirou. – Vou deixar você à vontade. Vou jogar vídeo-game com o Fabrício.
- Uhum.

Ele saiu e encostou a porta. Rapidamente me conectei ao MSN e abri o Orkut. Quando a página carregou, levei o maior susto: o Bruno tinha me mandado um convite.
- Não acredito! – exclamei com um sorriso nos lábios.
É claro que eu fucei em tudo. Fotos, depoimentos, recados, vídeos... Vi tudo o que pude. Só não consegui ler todos os recados porque ele tinha mais de 13 mil. Não sei como podia ter tudo aquilo... Se bem que eu n/ao estava muito atrás dele não...
Assim que eu aceitei o seu convite, ele me mandou um Scrap pedindo que eu o adicionasse no MSN. E é claro que eu adicionei na mesma hora.
“Oi” – a janelinha dele subiu.
“Oi” – eu respondi no mesmo instante.
“Como você é rápido...”
Mandei um emotion dando risada.

“Quase nem falou comigo hoje, né?” – ele mandou um emotion com o rostinho triste.

“Você que não falou comigo...”
“Estava esperando você vir falar!”
“E eu estava esperando você vir falar.”
Parecia um sonho. Eu estava conversando com ele... Com o Bruno... Parecia um sonho tão distante...
“O que está fazendo?” – ele perguntou.
“Acabei de jantar, tô de boa aqui no quarto e você?”
“Também, maior tédio.”
“Eu também.”
Nós ficamos trocando ideia por muito tempo. Por volta da uma hora da manhã, o Rodrigo entrou no quarto e se surpreendeu ao me ver na frente do notebook:
- Ainda?
- Pra você ver. O papo tá muito bom...
- Posso saber com quem você está falando?
É claro que ele não podia saber, por isso eu resolvi mascarar a verdade:
- Com uma amiga de São Paulo.
- Amiga? Aham, sei...
- É verdade...
“Caio, vou dormir, tá bom?” – ele teclou.
Fiz um biquinho.
“Também vou, Bi” – respondi.
“A gente se vê amanhã, então.”.
“Vê se fala comigo, hein?”.
“Você também.” – ele mandou um emotion com um beijo.

Meu coração disparou.
Não tive tempo de responder. Quando me dei conta, ele já estava off-line, o que me deixou bem chateado.
- Quer usar?
- Quero – Rodrigo não se fez de rogado.
- Pode usar. Já fiz tudo o que tinha que fazer.
- Beleza... Obrigado.
- Só um segundinho mais...
Antes de entregar o notebook ao Rodrigo, coloquei senha na pasta onde ficava arquivado o histórico de conversas do meu Messenger, por puro desencargo de consciência. Vai que ele fosse fuçar onde não era de sua conta...
- Prontinho. Todo seu!
Entreguei o note ao meu amigo e saí pra ir ao banheiro. A casa já estava escura e silenciosa. Provavelmente todos já tinham ido dormir.
Tirei a água do joelho, dei descarga, lavei as mãos e escovei os dentes. Me senti agradecido por estar me sentindo cansado naquela noite, aquilo significava que eu ia conseguir dormir. Pelo menos era o que eu achava.
Quando eu abri a porta pra ir pro meu quarto, mais uma vez dei de cara com o Vinícius.
- Desculpa – ele falou.
- Coincidência, você de novo...
- Pois é – ele sorriu.
Ele estava só de cueca branca. Não consegui segurar os olhos e olhei o volume.

- Calor não? – ele puxou assunto.
- Uhum – respondi.
Quando os nossos olhos se cruzaram, eu fiquei constrangido. Provavelmente ele tinha percebido a minha investigada, mas aquilo foi mais forte do que eu...
- Bom, vou nessa. Boa noite – comecei a andar.
- Boa noite – ele respondeu.
Me recriminei em pensamento. Eu tinha que ser cauteloso, muito cauteloso, mas não estava conseguindo me controlar...
Quando deitei, fiquei pensando no que tinha acontecido. Será que ele tinha percebido alguma coisa? Além de excitado, eu estava amedrontado. Talvez a surra que meu pai tinha me dado tivesse afetado o meu emocional, porque eu ficava com medo da reação das pessoas ao descobrirem que eu era gay...
Tentei não pensar no assunto e foquei no Bruno. Por que ele tinha me adicionado no Orkut? E por que ele tinha me mandado um beijo pelo MSN? Será que tinha sido puramente habitual ou será que ele... Estava interessado em mim???
Eu fui pro quarto, joguei minhas coisas em um canto e fui logo ligando o meu notebook, mas antes de começar a usar, peguei uma roupa limpa e fui pro banheiro pra tomar banho.
- Vai jantar, Caio? – perguntou Willian.
- Tô sem fome.
- Qual é, vai fazer desfeita mesmo? – ele pareceu ofendido.
- Não é isso, é que eu tô tão acostumado a ficar sem janta que não sinto mais fome de noite, mas o que tem de bom?
- Risoto.
Eu era simplesmente tarado por aquele prato.
- Ah, se é risoto eu não vou resistir não. Quero sim, só que vou tomar banho primeiro.
- Beleza, vou deixar um prato pra você no micro-ondas, porque já tá acabando.
- Obrigado.
Quando eu ia abrir a porta do banheiro, ela abriu sozinha e o Vinícius saiu, enrolado em uma toalha branca e com os cabelos molhados.

- Opa – ele disse.
- Desculpa, pensei que estava vazio.
- Tranquilo.
Nós nos fitamos e eu passei. Quando tirei a minha roupa, percebi a minha excitação. Ele era muito gostoso! Como eu não tinha percebido aquilo antes???
Quando eu já estava debaixo do chuveiro, percebi que tinha esquecido meu sabonete. Fui obrigado a pegar o que estava na saboneteira mesmo. Era branco e estava cheio de pelos. Sabonete típico de homem. Meu pau voou no ar só de imaginar de quem seria. Será que era do Vini?
- Tem alguém aí? – perguntou um dos 5.
- Tem eu – respondi. – Já tô saindo.
- Beleza.
Pela voz parecia ser o Fabrício. Outro gatinho... Eu precisava urgentemente me masturbar pra parar de pensar neles. Se alguém descobrisse a minha opção sexual, eu estaria frito.
Daquela vez fiz a coisa certa: coloquei a roupa na máquina e a cueca no balde. Não queria ter problemas com eles.
Não me fiz de rogado. Peguei meu prato de risoto, sentei em um dos lugares vagos da mesa e me pus a comer. Estava magnífico.
- Quem fez? – perguntei.
- Eu – respondeu Willian.
- Show de bola. Parabéns.
- Valeu.
- Não elogia muito senão ele vai ficar se sentindo – Ricardo comentou.
- Cala a boca, moleque.
Nem dei atenção ao que o nerd disse. A comida estava muito boa mesmo.
- Quem lava a louça hoje? – perguntou Vinícius quando chegou na cozinha. Ele estava só de bermuda. Meus olhos percorreram os músculos que estavam expostos.
- Hoje é dia do Fabrício.
- O que tem eu? – ele surgiu do nada perto da gente.
- Hoje é seu dia de lavar a louça.
- Ah, beleza...
- Caio, temos uma tabelinha com o dia de cada um. É só olhar na geladeira qual é o seu dia.
- Já inseriram meu nome?
- Somos rápidos, filhote – Willian comentou.
- Percebi.
Depois que jantei, fui direto pro meu notebook.
- Já vai mexer, né viciado? – Rodrigo deu risada.
- Já. Passei muito tempo longe.
- Eu sei – ele suspirou. – Vou deixar você à vontade. Vou jogar vídeo-game com o Fabrício.
- Uhum.
Ele saiu e encostou a porta. Rapidamente me conectei ao MSN e abri o Orkut. Quando a página carregou, levei o maior susto: o Bruno tinha me mandado um convite.
- Não acredito! – exclamei com um sorriso nos lábios.
É claro que eu fucei em tudo. Fotos, depoimentos, recados, vídeos... Vi tudo o que pude. Só não consegui ler todos os recados porque ele tinha mais de 13 mil. Não sei como podia ter tudo aquilo... Se bem que eu n/ao estava muito atrás dele não...
Assim que eu aceitei o seu convite, ele me mandou um Scrap pedindo que eu o adicionasse no MSN. E é claro que eu adicionei na mesma hora.
“Oi” – a janelinha dele subiu.
“Oi” – eu respondi no mesmo instante.
“Como você é rápido...”
Mandei um emotion dando risada.
“Quase nem falou comigo hoje, né?” – ele mandou um emotion com o rostinho triste.
“Você que não falou comigo...”
“Estava esperando você vir falar!”
“E eu estava esperando você vir falar.”
Parecia um sonho. Eu estava conversando com ele... Com o Bruno... Parecia um sonho tão distante...
“O que está fazendo?” – ele perguntou.
“Acabei de jantar, tô de boa aqui no quarto e você?”
“Também, maior tédio.”
“Eu também.”
Nós ficamos trocando ideia por muito tempo. Por volta da uma hora da manhã, o Rodrigo entrou no quarto e se surpreendeu ao me ver na frente do notebook:
- Ainda?
- Pra você ver. O papo tá muito bom...
- Posso saber com quem você está falando?
É claro que ele não podia saber, por isso eu resolvi mascarar a verdade:
- Com uma amiga de São Paulo.
- Amiga? Aham, sei...
- É verdade...
“Caio, vou dormir, tá bom?” – ele teclou.
Fiz um biquinho.
“Também vou, Bi” – respondi.
“A gente se vê amanhã, então.”.
“Vê se fala comigo, hein?”.
“Você também.” – ele mandou um emotion com um beijo.
Meu coração disparou.
Não tive tempo de responder. Quando me dei conta, ele já estava off-line, o que me deixou bem chateado.
- Quer usar?
- Quero – Rodrigo não se fez de rogado.
- Pode usar. Já fiz tudo o que tinha que fazer.
- Beleza... Obrigado.
- Só um segundinho mais...
Antes de entregar o notebook ao Rodrigo, coloquei senha na pasta onde ficava arquivado o histórico de conversas do meu Messenger, por puro desencargo de consciência. Vai que ele fosse fuçar onde não era de sua conta...
- Prontinho. Todo seu!
Entreguei o note ao meu amigo e saí pra ir ao banheiro. A casa já estava escura e silenciosa. Provavelmente todos já tinham ido dormir.
Tirei a água do joelho, dei descarga, lavei as mãos e escovei os dentes. Me senti agradecido por estar me sentindo cansado naquela noite, aquilo significava que eu ia conseguir dormir. Pelo menos era o que eu achava.
Quando eu abri a porta pra ir pro meu quarto, mais uma vez dei de cara com o Vinícius.
- Desculpa – ele falou.
- Coincidência, você de novo...
- Pois é – ele sorriu.
Ele estava só de cueca branca. Não consegui segurar os olhos e olhei o volume.
- Calor não? – ele puxou assunto.
- Uhum – respondi.
Quando os nossos olhos se cruzaram, eu fiquei constrangido. Provavelmente ele tinha percebido a minha investigada, mas aquilo foi mais forte do que eu...
- Bom, vou nessa. Boa noite – comecei a andar.
- Boa noite – ele respondeu.
Me recriminei em pensamento. Eu tinha que ser cauteloso, muito cauteloso, mas não estava conseguindo me controlar...
Quando deitei, fiquei pensando no que tinha acontecido. Será que ele tinha percebido alguma coisa? Além de excitado, eu estava amedrontado. Talvez a surra que meu pai tinha me dado tivesse afetado o meu emocional, porque eu ficava com medo da reação das pessoas ao descobrirem que eu era gay...
Tentei não pensar no assunto e foquei no Bruno. Por que ele tinha me adicionado no Orkut? E por que ele tinha me mandado um beijo pelo MSN? Será que tinha sido puramente habitual ou será que ele... Estava interessado em mim???
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