simplesmente não estava acreditando no que eu estava ouvindo.
Era aquilo mesmo que eu tinha entendido? Não, não era possível...
- Algum problema? – ele indagou.
- Hã? Não, não.
- Ficou calado. Não gostou do meu apelido?
- Não é isso. Só tô incrédulo de você ter me convidado pra sair.
- Se eu for ficar esperando por você, né? – ele sorriu.
Fiquei calado.
- Vou ao banheiro, a gente se fala depois, tudo bem?
- Espero você na internet hoje à noite.
- Estarei lá – garanti.
Nos despedimos e eu me dirigi ao sanitário masculino. Bitch. Eu me perguntei o que eu podia esperar de uma pessoa com esse tipo de apelido.

- Boa tarde, Caio – disse Michel.

- Ah, olá.
- Tudo bem contigo?
- Aham.
- Que bom.
Ele estava escovando os dentes. Se ele não tivesse falado comigo, eu nem tinha percebido a sua presença naquele lugar.
- Algum problema? – ele indagou.
- Hã? Não, não.
- Ficou calado. Não gostou do meu apelido?
- Não é isso. Só tô incrédulo de você ter me convidado pra sair.
- Se eu for ficar esperando por você, né? – ele sorriu.
Fiquei calado.
- Vou ao banheiro, a gente se fala depois, tudo bem?
- Espero você na internet hoje à noite.
- Estarei lá – garanti.
Nos despedimos e eu me dirigi ao sanitário masculino. Bitch. Eu me perguntei o que eu podia esperar de uma pessoa com esse tipo de apelido.
- Boa tarde, Caio – disse Michel.
- Ah, olá.
- Tudo bem contigo?
- Aham.
- Que bom.
Ele estava escovando os dentes. Se ele não tivesse falado comigo, eu nem tinha percebido a sua presença naquele lugar.
- Amigo, já tá sabendo da novidade? – o Leonardo foi todo
entusiasmado pro meu lado.
- Que novidade?
- A empresa fez parceria com uma academia!!!
- Ah, é? Não sabia disso não... Quem te contou?
- Colocaram a informação no mural, vem ver...
Ele me puxou pelo pulso e nós fomos até o mural de informações
.
- Leia – ele pediu.
Eu passei rapidamente os olhos pelas informações que estavam em destaque. Era uma parceria nova, onde todos os funcionários tinham direito a treinar nos estabelecimentos com 95% de desconto.
- Sensacional – fiquei maravilhado com aquela novidade. – Como faço pra começar hoje?
Ele riu.
- Temos que falar com nosso supervisor.
- Vou falar com a Marcinha, ela ainda não saiu de férias.
- Mas hoje é o último dia dela, portanto acredito que ela não vai resolver mais nada. Já deve estar em ritmo de férias.
- Ninguém merece falar com aquele... Chato!
- O que você tem contra o Michel? Maior tesudo!
- Ah, grande coisa. Não fui com o focinho dele não.
- Que horror!!! Vamos fazer, né?
- Óbvio que sim.
Aquele desconto era simplesmente irrecusável e eu não ia perder a oportunidade. Não mesmo.
A única coisa que se falava nos corredores era da nova parceria da empresa com a academia. Foi o maior bafafá e todos estava entusiasmados.
Quando a minha equipe entrou, a maioria já foi pro calcanhar dos supervisores pra indagar como devíamos proceder pra nos inscrever.
- Aguardem que no final do expediente nós vamos explicar – Michel foi quem falou.
- Atrevido, ninguém perguntou a sua opinião...
- Andem, logando, logando! Estamos com clientes na fila... Andem logo.

A Márcia realmente estava em ritmo de férias, porque ela nem estava gritando como fazia de costume... Eu até estava achando aquilo muito esquisito.
- Ansiosa para as férias, super? – perguntei.
- Ai, menino já tô com a passagem na bolsa. Saindo daqui eu vou direto pro aeroporto.
- Minha nossa!!! Vai viajar pra onde?
- Porto de Galinhas. Vou ficar no Nordeste os 30 dias.
- Ah, que máximo. Rolou até uma inveja branca aqui...
Ela sorriu.
- Vou sentir falta de vocês, mas eu aguento.
- Também vou sentir muito a sua falta, super. Volta logo.
- Deus me livre. Volto só daqui um mês. E olhe lá. Se eu arrumar meu negão eu fico por lá mesmo.
Louca... Aquilo era bem a cara dela mesmo.
- Boa sorte então.
- Ande, logue logo. Já está atrasado. Quer levar uma advertência?
- Já loguei, já loguei.
- Acho bom!!!
Quando o relógio marcou 19:50, todos nós colocamos uma pausa para a reunião daquele dia. A Márcia se despediu, entregou um chocolate pra cada funcionário e depois o Michel começou a tagarelar. A única coisa que ele disse de interessante, foi como a gente fazia pra se inscrever na academia.
- Quem quer se inscrever levanta a mão.

Acho que a única que não levantou a mão foi a Dona Aparecida. De resto, todos estavam alucinados. Quem não queria ficar em forma?
- Caraca – Michel se espantou. – Assim é que eu gosto. Minha equipe vai ser a equipe mais sarada desse Call Center...
Ele passou a folha de inscrição e rapidamente eu comecei a responder o questionário. A única coisa ruim era ter que fazer exame médico. Onde eu ia fazer aquilo?
- Quem terminou pode entregar pra Márcia.
- E depois, a gente faz o quê? – uma menina perguntou.
- O RH vai providenciar o crachá de vocês. Quando chegar, é só ir na unidade que vocês querem com esse crachá, o exame médico e começar a treinar.
- E demora muito tempo pro crachá ficar pronto? – meu amigo Léo perguntou. Ele estava com os olhos brilhando.
- De 3 à 5 dias úteis.
Quando ele falou o prazo todo mundo começou a reclamar. Eu achei o tempo justo, afinal eram muitos funcionários.
- Se não tem jeito... – alguém falou.
Depois que a reunião foi encerrada, eu me desloguei, fechei todos os sistema e desliguei o meu computador. Antes de sair, me despedi da minha supervisora. Eu ia sentir muito a falta dela.
- Boas férias, boa viagem, bom descanso. Que você volte logo.
- Obrigada. Comporte-se. Seja bonzinho.
- Eu sempre sou bonzinho!
- Sei. Assim espero.
- Que novidade?
- A empresa fez parceria com uma academia!!!
- Ah, é? Não sabia disso não... Quem te contou?
- Colocaram a informação no mural, vem ver...
Ele me puxou pelo pulso e nós fomos até o mural de informações
.
- Leia – ele pediu.
Eu passei rapidamente os olhos pelas informações que estavam em destaque. Era uma parceria nova, onde todos os funcionários tinham direito a treinar nos estabelecimentos com 95% de desconto.
- Sensacional – fiquei maravilhado com aquela novidade. – Como faço pra começar hoje?
Ele riu.
- Temos que falar com nosso supervisor.
- Vou falar com a Marcinha, ela ainda não saiu de férias.
- Mas hoje é o último dia dela, portanto acredito que ela não vai resolver mais nada. Já deve estar em ritmo de férias.
- Ninguém merece falar com aquele... Chato!
- O que você tem contra o Michel? Maior tesudo!
- Ah, grande coisa. Não fui com o focinho dele não.
- Que horror!!! Vamos fazer, né?
- Óbvio que sim.
Aquele desconto era simplesmente irrecusável e eu não ia perder a oportunidade. Não mesmo.
A única coisa que se falava nos corredores era da nova parceria da empresa com a academia. Foi o maior bafafá e todos estava entusiasmados.
Quando a minha equipe entrou, a maioria já foi pro calcanhar dos supervisores pra indagar como devíamos proceder pra nos inscrever.
- Aguardem que no final do expediente nós vamos explicar – Michel foi quem falou.
- Atrevido, ninguém perguntou a sua opinião...
- Andem, logando, logando! Estamos com clientes na fila... Andem logo.
A Márcia realmente estava em ritmo de férias, porque ela nem estava gritando como fazia de costume... Eu até estava achando aquilo muito esquisito.
- Ansiosa para as férias, super? – perguntei.
- Ai, menino já tô com a passagem na bolsa. Saindo daqui eu vou direto pro aeroporto.
- Minha nossa!!! Vai viajar pra onde?
- Porto de Galinhas. Vou ficar no Nordeste os 30 dias.
- Ah, que máximo. Rolou até uma inveja branca aqui...
Ela sorriu.
- Vou sentir falta de vocês, mas eu aguento.
- Também vou sentir muito a sua falta, super. Volta logo.
- Deus me livre. Volto só daqui um mês. E olhe lá. Se eu arrumar meu negão eu fico por lá mesmo.
Louca... Aquilo era bem a cara dela mesmo.
- Boa sorte então.
- Ande, logue logo. Já está atrasado. Quer levar uma advertência?
- Já loguei, já loguei.
- Acho bom!!!
Quando o relógio marcou 19:50, todos nós colocamos uma pausa para a reunião daquele dia. A Márcia se despediu, entregou um chocolate pra cada funcionário e depois o Michel começou a tagarelar. A única coisa que ele disse de interessante, foi como a gente fazia pra se inscrever na academia.
- Quem quer se inscrever levanta a mão.
Acho que a única que não levantou a mão foi a Dona Aparecida. De resto, todos estavam alucinados. Quem não queria ficar em forma?
- Caraca – Michel se espantou. – Assim é que eu gosto. Minha equipe vai ser a equipe mais sarada desse Call Center...
Ele passou a folha de inscrição e rapidamente eu comecei a responder o questionário. A única coisa ruim era ter que fazer exame médico. Onde eu ia fazer aquilo?
- Quem terminou pode entregar pra Márcia.
- E depois, a gente faz o quê? – uma menina perguntou.
- O RH vai providenciar o crachá de vocês. Quando chegar, é só ir na unidade que vocês querem com esse crachá, o exame médico e começar a treinar.
- E demora muito tempo pro crachá ficar pronto? – meu amigo Léo perguntou. Ele estava com os olhos brilhando.
- De 3 à 5 dias úteis.
Quando ele falou o prazo todo mundo começou a reclamar. Eu achei o tempo justo, afinal eram muitos funcionários.
- Se não tem jeito... – alguém falou.
Depois que a reunião foi encerrada, eu me desloguei, fechei todos os sistema e desliguei o meu computador. Antes de sair, me despedi da minha supervisora. Eu ia sentir muito a falta dela.
- Boas férias, boa viagem, bom descanso. Que você volte logo.
- Obrigada. Comporte-se. Seja bonzinho.
- Eu sempre sou bonzinho!
- Sei. Assim espero.
- Vai malhar também? – perguntei ao Rodrigo.
- Posso tentar. Não garanto que eu consiga. É muito cansativo.
- Ah, para de ser mole, meu.
- Vai se ferrar, pô. Tô com um montão de trabalho da faculdade pra fazer... E isso porquê é o começo de tudo, hein?
- Ossos do ofício. Quem mandou escolhar uma carreira tão complicada?
- Quando eu começar a ganhar meu salário, vou lembrar de você, beleza?
- Isso aí, lembre e ajude seu amigo.
- Vai sonhando.
- Hoje é seu dia de lavar a louça, hein?
- Tinha que me lembrar? – ele reclamou.
- Amigos são pra essas coisas – abri um sorriso.
- Amigo da onça você, hein?
- Olha, olha!!! Me respeita senão eu suspendo o notebook.
- Quanta maldade nesse coração de caminhoneiro, viu...
Gargalhei. Ele era muito louquinho, mas muito gente fina.
- Preciso cortar esse cabelo – ele reclamou.
- Tá da hora assim.
- Mas eu sinto muito calor com ele... Quero cortar. Acho que vou fazer isso no sábado.
- Também tô precisando dar uma aparada.
Meus cabelos estavam começando a cair sobre os olhos e a ficar por cima das orelhas.

- Seu cabelo é muito liso – ele comentou. – As meninas ficam morrendo de inveja de você.
- Ah, é? Dessa eu não sabia.
- Aham. Sempre que você passa elas ficam olhando e reclamando.
- Sabia disso não... Mas o seu também é liso.
- Mas ele não tem esse caimento que o seu tem. Acho que é por isso que elas ficam com inveja.
- Ficam é? Pois eu não vou cortar mais não – brinquei.
- E aí, Caio? Vai deixar o cabelo na cintura, parceiro?
- Não, né? É claro que não. Vou deixar nesse cumprimento mesmo.
- Por que você não faz umas luzes?
- Luzes?
- Ia ficar maneiro, porque você é branquelo...
- Olha pra minha cara, Rodrigo. Quem vê pensa que eu gosto dessas coisas...
- Qual o problema? Fica estilo surfista, mané. As minas vão cair em cima de você.
Aí é que eu não ia fazer mesmo.
- Vou pensar na possibilidade. Se você acha da hora, por que não faz no seu?
- Vou fazer. Eu tinha, mas saiu. Vou fazer de novo. Faz o maior sucesso com as gatinhas.
- Quero ver.
- Confia. Experiência própria.
Eu não queria fazer sucesso com as gatinhas. Eu queria fazer sucesso com o Bruno. Só com ele e ninguém mais.
- E aí, a sua certidão já chegou?
- Até o momento não. Acho que demora um pouco, né?
- Sei lá. Não costumo mandar cartas. Aliás, acho que eu nunca fiz isso.
- Ninguém mais faz. Só as empresas pra mandar boletos.
- Verdade.
Quando cheguei em casa, ele ainda não estava on-line. Provavelmente estava na escola ainda. Aproveitei então pra ceder a minha vez ao meu companheiro de quarto.
- Mas eu não quero mexer agora...
- Mas depois que os meninos chegarem, você vai ter que lavar a louça esqueceu?
- Você me odeia, né? Fala aí... Taca na cara mesmo... Odeio lavar louça!!!
Dei risada.
- Para de reclamar. Meia dúzia de pratos e copos. Não vai te matar.
- Meia dúzia de pratos, meia dúzia de copos, meia dúzia de garfos, meia dúzia de facas, meia dúzia de panelas... Ou seja, só termino na hora de ir pra faculdade.
- Exagerado!
Saí e fui tomar meu banho. Como seria a minha saída com o Bruno? Será que finalmente eu ia ter a oportunidade de ficar com um garoto? E logo com o garoto que eu queria?

- Quem está aí? – era a voz do Ricardo.
- Sou eu – respondi.
- Vai demorar?
- Não, já tô saindo.
- Beleza, valeu.
Pela primeira vez desde que eu tinha me mudado, eu pensei que seria melhor ter dois banheiros, porque aquele vivia sempre congestionado.
Quando eu abri a porta, ele estava andando pra um lado e pro outro. Será que estava apertado?
- Licença – ele quase saiu correndo. Sim ele estava apertado.
- Do que tá rindo? – Rodrigo perguntou.
- Do Ricardo. Se eu tivesse demorado um segundo a mais no banheiro, ele não tinha aguentado.
- Hoje você tá mau, hein?
- Tô nada. Sou bonzinho.
- Tô vendo.
- Que fazes?
- Lendo meus e-mails, no MSN e no site da faculdade.
- Tô entediado.
Me joguei de costas na cama.

- Já, já eu te entrego.
- Tranquilo.
O que ele estaria fazendo naquele momento? Com quem ele estaria falando? Que roupa estaria usando?
Bruno... Como era lindinho, mas tinha seus defeitos. Defeitos que eu ia ter que pesar na balança antes de tomar alguma atitude com ele...
Mas o que eu estava esperando? Um príncipe encantado? Todo mundo tem defeitos. É normal e com ele não poderia ser diferente!
Só que seus defeitos, eram um pouco defeituosos demais. Ele fumava... Como seria na hora do beijo? Será que eu ia sentir gosto de cigarro? E ele era um pouco afeminado de vez em quando. Será que ele seria capaz de mudar por minha causa? Será que ele estaria disposto a engatar uma relação comigo?
Quando os demais moradores da república chegaram, o Rodrigo me entregou o computador e foi pra cozinha, encarar o seu desafio.
Eu loguei no MSN e rapidamente a janela dele subiu. A foto que ele tinha colocado estava perfeita.
“Adorei a foto.” – comentei.
“Obrigado. Tudo bem?”
“Sim e você?”
“Cansado.”
“Também estou.”
“Alguma novidade?”
Contei a ele da academia, mas ele já sabia.
“Então eu não tenho novidades. E você?”
“Só uma.”
“Qual?”
“Que eu estou apaixonado por você...”
Fiquei completamente sem reação e sem saber o que falar. Como não tinha palavras, mandei só o bonequinho da vergonha e esperei que ele continuasse

“Seu irmão gêmeo é lindo!!!”
“Meu irmão gêmeo?”
O que ele queria dizer com aquilo?
“É.”
“Meu irmão gêmeo?” – eu repeti a pergunta.
“Tô brincando, bobinho. Você é que é lindo.”
Abri um sorriso e senti as bochechas esquentarem.
“Porém vocês são clonados, isso sim”
Gargalhei. Não era a primeira pessoa que me dizia aquilo.
“Somos idênticos mesmo.”
“Iguaizinhos... Sempre quis ficar com gêmeos!”
“Como assim? Ao mesmo tempo?”
“Lógico. Deve ser uma delícia...”
Fiquei boquiaberto. Ele fazia jus ao apelido que tinha!!!
“Fala sério...”
“É sério, não tô brincando não, mas vamos mudar de assunto... Vou tomar banho, já volto!”
Era simplesmente inacreditável as coisas que ele me falava. Como eu podia acreditar que ele estava apaixonado por mim se ele me dizia aqueles absurdos?
“Já volto também.” – digitei.
Fui até a cozinha e encontrei os 5 sentados à mesa.
- Olá, olá – cumprimentei.
- E aí, Caio? – eles disseram ao mesmo tempo.
- Tranquilo? O que tem aí pra comer?
- Trouxemos pão e mortadela. Vai querer? – perguntou Fabrício.
- Quero sim.
Fiz um sanduíche e sentei ao lado do Ricardo. Fazia tempo que eu não comia aquilo.

Eles ficaram conversando sobre a faculdade e eu fiquei pensando no Bitch.
- Tá pensando em quê, criatura? – Willian perguntou.
- Hum? Ah, em um lance que fiquei sabendo agora há pouco.
- Que lance? – eles se interessaram.
- Uma parada com o Cauã – menti. – Não quero nem ficar pensando nesse assunto...
Eles respeitaram meu silêncio. Depois que falei no meu irmão, fiquei com curiosidade de saber como ele estava... Por mais que ele me odiasse, eu sentia falta daquele filho da mãe...
- Graças a Deus não tem louça pra lavar – Rodrigo ergueu as mãos pro teto.
- Quem disse que não? Olha esses copos aqui... – Vinícuis mostrou.
- Isso não é nada comparado com o que eu imaginava que teria que lavar. Por isso que eu amo vocês, trouxeram pão bem no meu dia de lavar a louça. Vocês são foda!
- Ih, olha pro papo do cara, meu – Fabrício zoou. – Que viadagem é essa, parceiro?
- Amar? – Vini comentou. – Tá virando a casaca, fera?
Engoli em seco. Será que eles eram preconceituosos?
- Tá me tirando, porra? – ele levantou e foi pra pia. – É só uma maneira de falar...
- Sei – Fabrício desconfiou, mas de brincadeira. Todos sabíamos que eles não estavam falando sério.
- Continuem assim. Na próxima vez podem trazer pizza. Não vou ligar não – ele deu risada.
- Safado. Da próxima vez vou cozinhar uma feijoada – Willian brincou.
Hum... Feijoada sempre foi um dos meus pratos preferidos, mas sem aquelas nojeiras de joelho, focinho e o diabo a quatro do porco.
- Sabe fazer feijoada? – Ricardo interagiu.
- Sei, parceiro.
- Caraca, Will. Você devia fazer gastronomia – Vini recomendou.
- Nem a pau. Não fui feito pra ficar atrás de fogão não. Eu cozinho aqui pra minha sobrevivência.
- Pra nossa sobrevivência – Fabrício corrigiu.
- Mas eu descobri que o senhor Caio também sabe cozinhar. O almoço de domingo é por conta dele.
- Ah, é? – Fabrício se interessou. – E o que vai ser?
- Leite quente.
Eles me olharam com uma cara de espanto...
- É o que eu sei fazer. Ferver o leite.
- Mentira. Ele disse que sabe fazer doces e macarrão com carne moída.
- Pois então você vai ter que mostrar seus dotes culinários – falou Vinícius. – Quem mandou abrir a boca?
Tava lascado. Fazia tanto tempo que eu não cozinhava que estava receoso de errar a receita...
- Da próxima vez eu fico calado.
- E que tipo de doces você faz? – Ricardo perguntou.
- Só sei fazer mousse de maracujá e bolo de prestígio...
Era melhor ter ficado calado. Todos eles ficaram pedindo o bolo. Eu me arrependi de não ter ficado quieto.
- Tá, tá bom. Que saco. Domingo eu faço essa merda...
- Aêêêêêêêêêêêêêêêêêêêêê...
- Posso tentar. Não garanto que eu consiga. É muito cansativo.
- Ah, para de ser mole, meu.
- Vai se ferrar, pô. Tô com um montão de trabalho da faculdade pra fazer... E isso porquê é o começo de tudo, hein?
- Ossos do ofício. Quem mandou escolhar uma carreira tão complicada?
- Quando eu começar a ganhar meu salário, vou lembrar de você, beleza?
- Isso aí, lembre e ajude seu amigo.
- Vai sonhando.
- Hoje é seu dia de lavar a louça, hein?
- Tinha que me lembrar? – ele reclamou.
- Amigos são pra essas coisas – abri um sorriso.
- Amigo da onça você, hein?
- Olha, olha!!! Me respeita senão eu suspendo o notebook.
- Quanta maldade nesse coração de caminhoneiro, viu...
Gargalhei. Ele era muito louquinho, mas muito gente fina.
- Preciso cortar esse cabelo – ele reclamou.
- Tá da hora assim.
- Mas eu sinto muito calor com ele... Quero cortar. Acho que vou fazer isso no sábado.
- Também tô precisando dar uma aparada.
Meus cabelos estavam começando a cair sobre os olhos e a ficar por cima das orelhas.
- Seu cabelo é muito liso – ele comentou. – As meninas ficam morrendo de inveja de você.
- Ah, é? Dessa eu não sabia.
- Aham. Sempre que você passa elas ficam olhando e reclamando.
- Sabia disso não... Mas o seu também é liso.
- Mas ele não tem esse caimento que o seu tem. Acho que é por isso que elas ficam com inveja.
- Ficam é? Pois eu não vou cortar mais não – brinquei.
- E aí, Caio? Vai deixar o cabelo na cintura, parceiro?
- Não, né? É claro que não. Vou deixar nesse cumprimento mesmo.
- Por que você não faz umas luzes?
- Luzes?
- Ia ficar maneiro, porque você é branquelo...
- Olha pra minha cara, Rodrigo. Quem vê pensa que eu gosto dessas coisas...
- Qual o problema? Fica estilo surfista, mané. As minas vão cair em cima de você.
Aí é que eu não ia fazer mesmo.
- Vou pensar na possibilidade. Se você acha da hora, por que não faz no seu?
- Vou fazer. Eu tinha, mas saiu. Vou fazer de novo. Faz o maior sucesso com as gatinhas.
- Quero ver.
- Confia. Experiência própria.
Eu não queria fazer sucesso com as gatinhas. Eu queria fazer sucesso com o Bruno. Só com ele e ninguém mais.
- E aí, a sua certidão já chegou?
- Até o momento não. Acho que demora um pouco, né?
- Sei lá. Não costumo mandar cartas. Aliás, acho que eu nunca fiz isso.
- Ninguém mais faz. Só as empresas pra mandar boletos.
- Verdade.
Quando cheguei em casa, ele ainda não estava on-line. Provavelmente estava na escola ainda. Aproveitei então pra ceder a minha vez ao meu companheiro de quarto.
- Mas eu não quero mexer agora...
- Mas depois que os meninos chegarem, você vai ter que lavar a louça esqueceu?
- Você me odeia, né? Fala aí... Taca na cara mesmo... Odeio lavar louça!!!
Dei risada.
- Para de reclamar. Meia dúzia de pratos e copos. Não vai te matar.
- Meia dúzia de pratos, meia dúzia de copos, meia dúzia de garfos, meia dúzia de facas, meia dúzia de panelas... Ou seja, só termino na hora de ir pra faculdade.
- Exagerado!
Saí e fui tomar meu banho. Como seria a minha saída com o Bruno? Será que finalmente eu ia ter a oportunidade de ficar com um garoto? E logo com o garoto que eu queria?
- Quem está aí? – era a voz do Ricardo.
- Sou eu – respondi.
- Vai demorar?
- Não, já tô saindo.
- Beleza, valeu.
Pela primeira vez desde que eu tinha me mudado, eu pensei que seria melhor ter dois banheiros, porque aquele vivia sempre congestionado.
Quando eu abri a porta, ele estava andando pra um lado e pro outro. Será que estava apertado?
- Licença – ele quase saiu correndo. Sim ele estava apertado.
- Do que tá rindo? – Rodrigo perguntou.
- Do Ricardo. Se eu tivesse demorado um segundo a mais no banheiro, ele não tinha aguentado.
- Hoje você tá mau, hein?
- Tô nada. Sou bonzinho.
- Tô vendo.
- Que fazes?
- Lendo meus e-mails, no MSN e no site da faculdade.
- Tô entediado.
Me joguei de costas na cama.
- Já, já eu te entrego.
- Tranquilo.
O que ele estaria fazendo naquele momento? Com quem ele estaria falando? Que roupa estaria usando?
Bruno... Como era lindinho, mas tinha seus defeitos. Defeitos que eu ia ter que pesar na balança antes de tomar alguma atitude com ele...
Mas o que eu estava esperando? Um príncipe encantado? Todo mundo tem defeitos. É normal e com ele não poderia ser diferente!
Só que seus defeitos, eram um pouco defeituosos demais. Ele fumava... Como seria na hora do beijo? Será que eu ia sentir gosto de cigarro? E ele era um pouco afeminado de vez em quando. Será que ele seria capaz de mudar por minha causa? Será que ele estaria disposto a engatar uma relação comigo?
Quando os demais moradores da república chegaram, o Rodrigo me entregou o computador e foi pra cozinha, encarar o seu desafio.
Eu loguei no MSN e rapidamente a janela dele subiu. A foto que ele tinha colocado estava perfeita.
“Adorei a foto.” – comentei.
“Obrigado. Tudo bem?”
“Sim e você?”
“Cansado.”
“Também estou.”
“Alguma novidade?”
Contei a ele da academia, mas ele já sabia.
“Então eu não tenho novidades. E você?”
“Só uma.”
“Qual?”
“Que eu estou apaixonado por você...”
Fiquei completamente sem reação e sem saber o que falar. Como não tinha palavras, mandei só o bonequinho da vergonha e esperei que ele continuasse
“Seu irmão gêmeo é lindo!!!”
“Meu irmão gêmeo?”
O que ele queria dizer com aquilo?
“É.”
“Meu irmão gêmeo?” – eu repeti a pergunta.
“Tô brincando, bobinho. Você é que é lindo.”
Abri um sorriso e senti as bochechas esquentarem.
“Porém vocês são clonados, isso sim”
Gargalhei. Não era a primeira pessoa que me dizia aquilo.
“Somos idênticos mesmo.”
“Iguaizinhos... Sempre quis ficar com gêmeos!”
“Como assim? Ao mesmo tempo?”
“Lógico. Deve ser uma delícia...”
Fiquei boquiaberto. Ele fazia jus ao apelido que tinha!!!
“Fala sério...”
“É sério, não tô brincando não, mas vamos mudar de assunto... Vou tomar banho, já volto!”
Era simplesmente inacreditável as coisas que ele me falava. Como eu podia acreditar que ele estava apaixonado por mim se ele me dizia aqueles absurdos?
“Já volto também.” – digitei.
Fui até a cozinha e encontrei os 5 sentados à mesa.
- Olá, olá – cumprimentei.
- E aí, Caio? – eles disseram ao mesmo tempo.
- Tranquilo? O que tem aí pra comer?
- Trouxemos pão e mortadela. Vai querer? – perguntou Fabrício.
- Quero sim.
Fiz um sanduíche e sentei ao lado do Ricardo. Fazia tempo que eu não comia aquilo.
Eles ficaram conversando sobre a faculdade e eu fiquei pensando no Bitch.
- Tá pensando em quê, criatura? – Willian perguntou.
- Hum? Ah, em um lance que fiquei sabendo agora há pouco.
- Que lance? – eles se interessaram.
- Uma parada com o Cauã – menti. – Não quero nem ficar pensando nesse assunto...
Eles respeitaram meu silêncio. Depois que falei no meu irmão, fiquei com curiosidade de saber como ele estava... Por mais que ele me odiasse, eu sentia falta daquele filho da mãe...
- Graças a Deus não tem louça pra lavar – Rodrigo ergueu as mãos pro teto.
- Quem disse que não? Olha esses copos aqui... – Vinícuis mostrou.
- Isso não é nada comparado com o que eu imaginava que teria que lavar. Por isso que eu amo vocês, trouxeram pão bem no meu dia de lavar a louça. Vocês são foda!
- Ih, olha pro papo do cara, meu – Fabrício zoou. – Que viadagem é essa, parceiro?
- Amar? – Vini comentou. – Tá virando a casaca, fera?
Engoli em seco. Será que eles eram preconceituosos?
- Tá me tirando, porra? – ele levantou e foi pra pia. – É só uma maneira de falar...
- Sei – Fabrício desconfiou, mas de brincadeira. Todos sabíamos que eles não estavam falando sério.
- Continuem assim. Na próxima vez podem trazer pizza. Não vou ligar não – ele deu risada.
- Safado. Da próxima vez vou cozinhar uma feijoada – Willian brincou.
Hum... Feijoada sempre foi um dos meus pratos preferidos, mas sem aquelas nojeiras de joelho, focinho e o diabo a quatro do porco.
- Sabe fazer feijoada? – Ricardo interagiu.
- Sei, parceiro.
- Caraca, Will. Você devia fazer gastronomia – Vini recomendou.
- Nem a pau. Não fui feito pra ficar atrás de fogão não. Eu cozinho aqui pra minha sobrevivência.
- Pra nossa sobrevivência – Fabrício corrigiu.
- Mas eu descobri que o senhor Caio também sabe cozinhar. O almoço de domingo é por conta dele.
- Ah, é? – Fabrício se interessou. – E o que vai ser?
- Leite quente.
Eles me olharam com uma cara de espanto...
- É o que eu sei fazer. Ferver o leite.
- Mentira. Ele disse que sabe fazer doces e macarrão com carne moída.
- Pois então você vai ter que mostrar seus dotes culinários – falou Vinícius. – Quem mandou abrir a boca?
Tava lascado. Fazia tanto tempo que eu não cozinhava que estava receoso de errar a receita...
- Da próxima vez eu fico calado.
- E que tipo de doces você faz? – Ricardo perguntou.
- Só sei fazer mousse de maracujá e bolo de prestígio...
Era melhor ter ficado calado. Todos eles ficaram pedindo o bolo. Eu me arrependi de não ter ficado quieto.
- Tá, tá bom. Que saco. Domingo eu faço essa merda...
- Aêêêêêêêêêêêêêêêêêêêêê...
“Por que
você demorou tanto?” – Bruno reclamou.
“Estava trocando ideia com meus amigos.”
“Seus amigos são bonitos?”
Fechei a cara.
“Posso saber por que isso te interessa?”
“É brincadeira, Caio. Só pra tirar você do sério...”
“Sei.”
“Se não quer acreditar, o problema é seu.”
“Falei alguma coisa?”
“’Sei’.”
Suspirei. Ele ia ter que me explicar muita coisa quando a gente fosse se encontrar. Muita coisa mesmo.
“Vou dormir, bebê. Amanhã é dia.”
“Eu também vou.”
“Até amanhã então, tá bom? Dorme bem e sonha comigo.”
Sonhar com ele. Será que aquilo ia acontecer?
“Pode deixar.”
“Beijo. Te adoro...”
“Eu também.”
E falando isso, eu saí da internet. Fechei meu notebook e o coloquei em cima da mesinha. O rodrigo já estava dormindo.

Ele dizia que estava apaixonado por mim, mas sempre que tinha oportunidade, fazia questão de me provocar. Aquilo era só uma simples provocação ou ele estava falando sério e disfarçava pra não me deixar irritado?
Existiam tantas coisas a respeito do Bruno que eu não sabia, que até comecei a me perguntar como eu pude me apaixonar por ele. Me apaixonar só pela sua aparência, sem conhecer sua essência...
- Vai pra cozinha? – Fabrício perguntou.
- Vou ao banheiro.
- Você pode trazer uma cerveja pra mim, por favor?
- Aham.
- Valeu.
Quando eu abri a porta da geladeira, percebi que ela estava um tanto vazia demais. Só tinha algumas cervejas, um pote com tempero e água. Nada mais
.
- Valeu, parceiro – ele me olhou.- Senta aí. Não bebe?
- Bebo, mas tô de boa.
- Você é novinho ainda, não pode beber bebida alcoolica.
- Tô nem aí.
- Tem 17, né?
- Aham.
- Faz 18 quando? – ele deu um gole na na bebida.
- Finalzinho de agosto.
- Hum... Tem que comemorar a maioridade, hein?
- Aham, não vou deixar passar em branco.
- Já se alistou?
- Então, tô esperando a minha certidão chegar...
- Ah, pode crer. É bacana servir o exército.
- Você serviu?
- Não, mas meu irmão serve. Ele diz que é foda.
- Deve ser bem puxado...
“E deve dar muito tesão também...” – pensei comigo.
- É da hora.
- Acho que não vou ser convocado, porque eu trabalho e estudo, né...
- Acho que não tem nada a ver não. Se você quiser servir é só deixar isso claro pros caras lá.
- Quero não, tô de boa.
Ele sorriu.
- Eu me arrependi de não ter seguido carreira.
- Nem tem como voltar atrás, né?
- Não. E agora também nem dá mais, tô na faculdade e já tô velho.
- Velho? – eu dei risada. – Você? Ah, vá!!!
- 25 já, parceiro. Tô na metade da casa dos 20.
“Você tá é uma delícia, isso sim...” – pensei de novo.
- Passa rápido, né?
- porra. E como. Depois que você fizer 18 você vai ver como voa.
- Tenso.
- Complicado.
Ele terminou a cerveja e colocou a latinha no chão.
- Muito bom uma cervejinha pra refrescar o calor.
- Prefiro Smirnoff – comentei.
- Não curte cerveja?
- Não é a minha preferência, mas eu tomo.
- Entendi.

Ele mudou de canal, mas meus olhos voaram da tela da televisão pro seu colo. Ele estava com a mão no meio das pernas, coçando o volume. Meu pau começou a subir quando eu vi aquela cena.
- Vai dormir não, viado? – Vinícius apareceu, de cueca como de costume. Eu não consegui resistir e dei uma conferida no material

.- Tô indo já – Fabrício levantou e se espreguiçou.
- Vai ficar aí, Caio?
- Não, também tô indo. Amanhã é dia.
- Pode crer. Abraço.
Antes de voltar pro meus aposentos, o Vinícius voltou do banheiro e nós nos encontramos no corredor.
- Calor, não? – ele puxou assunto.
- Muito – concordei.
Silêncio. Nossos olhos se trombaram rapidamente.
- Boa noite – ele disse. – Até amanhã.
- Até. Boa noite.
Ele passou por mim e abriu a porta do seu quarto, que ficava ao lado do meu. Como ele era gostoso...
Tentei não deixar o meu tesão tomar conta de mim, mas eu não consegui. Meu pênis estava mais duro que uma pedra e ele demorou muito pra voltar ao estado normal.
“Estava trocando ideia com meus amigos.”
“Seus amigos são bonitos?”
Fechei a cara.
“Posso saber por que isso te interessa?”
“É brincadeira, Caio. Só pra tirar você do sério...”
“Sei.”
“Se não quer acreditar, o problema é seu.”
“Falei alguma coisa?”
“’Sei’.”
Suspirei. Ele ia ter que me explicar muita coisa quando a gente fosse se encontrar. Muita coisa mesmo.
“Vou dormir, bebê. Amanhã é dia.”
“Eu também vou.”
“Até amanhã então, tá bom? Dorme bem e sonha comigo.”
Sonhar com ele. Será que aquilo ia acontecer?
“Pode deixar.”
“Beijo. Te adoro...”
“Eu também.”
E falando isso, eu saí da internet. Fechei meu notebook e o coloquei em cima da mesinha. O rodrigo já estava dormindo.
Ele dizia que estava apaixonado por mim, mas sempre que tinha oportunidade, fazia questão de me provocar. Aquilo era só uma simples provocação ou ele estava falando sério e disfarçava pra não me deixar irritado?
Existiam tantas coisas a respeito do Bruno que eu não sabia, que até comecei a me perguntar como eu pude me apaixonar por ele. Me apaixonar só pela sua aparência, sem conhecer sua essência...
- Vai pra cozinha? – Fabrício perguntou.
- Vou ao banheiro.
- Você pode trazer uma cerveja pra mim, por favor?
- Aham.
- Valeu.
Quando eu abri a porta da geladeira, percebi que ela estava um tanto vazia demais. Só tinha algumas cervejas, um pote com tempero e água. Nada mais
.
- Valeu, parceiro – ele me olhou.- Senta aí. Não bebe?
- Bebo, mas tô de boa.
- Você é novinho ainda, não pode beber bebida alcoolica.
- Tô nem aí.
- Tem 17, né?
- Aham.
- Faz 18 quando? – ele deu um gole na na bebida.
- Finalzinho de agosto.
- Hum... Tem que comemorar a maioridade, hein?
- Aham, não vou deixar passar em branco.
- Já se alistou?
- Então, tô esperando a minha certidão chegar...
- Ah, pode crer. É bacana servir o exército.
- Você serviu?
- Não, mas meu irmão serve. Ele diz que é foda.
- Deve ser bem puxado...
“E deve dar muito tesão também...” – pensei comigo.
- É da hora.
- Acho que não vou ser convocado, porque eu trabalho e estudo, né...
- Acho que não tem nada a ver não. Se você quiser servir é só deixar isso claro pros caras lá.
- Quero não, tô de boa.
Ele sorriu.
- Eu me arrependi de não ter seguido carreira.
- Nem tem como voltar atrás, né?
- Não. E agora também nem dá mais, tô na faculdade e já tô velho.
- Velho? – eu dei risada. – Você? Ah, vá!!!
- 25 já, parceiro. Tô na metade da casa dos 20.
“Você tá é uma delícia, isso sim...” – pensei de novo.
- Passa rápido, né?
- porra. E como. Depois que você fizer 18 você vai ver como voa.
- Tenso.
- Complicado.
Ele terminou a cerveja e colocou a latinha no chão.
- Muito bom uma cervejinha pra refrescar o calor.
- Prefiro Smirnoff – comentei.
- Não curte cerveja?
- Não é a minha preferência, mas eu tomo.
- Entendi.
Ele mudou de canal, mas meus olhos voaram da tela da televisão pro seu colo. Ele estava com a mão no meio das pernas, coçando o volume. Meu pau começou a subir quando eu vi aquela cena.
- Vai dormir não, viado? – Vinícius apareceu, de cueca como de costume. Eu não consegui resistir e dei uma conferida no material
.- Tô indo já – Fabrício levantou e se espreguiçou.
- Vai ficar aí, Caio?
- Não, também tô indo. Amanhã é dia.
- Pode crer. Abraço.
Antes de voltar pro meus aposentos, o Vinícius voltou do banheiro e nós nos encontramos no corredor.
- Calor, não? – ele puxou assunto.
- Muito – concordei.
Silêncio. Nossos olhos se trombaram rapidamente.
- Boa noite – ele disse. – Até amanhã.
- Até. Boa noite.
Ele passou por mim e abriu a porta do seu quarto, que ficava ao lado do meu. Como ele era gostoso...
Tentei não deixar o meu tesão tomar conta de mim, mas eu não consegui. Meu pênis estava mais duro que uma pedra e ele demorou muito pra voltar ao estado normal.
Mais do que ansioso, eu estava apreensivo. Falar com o Bruno
significava saber de seus podres e eu tinha medo do que ia vir pela frente.
- Não vou com você hoje – falei ao Léo.
- Por quê?
- Quero ir até a praia.
- Sozinho?
- Sozinho. Preciso ver o mar.
- Ah, entendi. Então tá bom, né?

Assim que coloquei meus pés fora daquele prédio, o normaço carioca envolveu o meu corpo e eu me senti cansado. Vasculhei o local com os olhos, mas nenhum sinal do Bruno.
- Oi – ele atendeu.
- Onde você está?
- Então, eu tô em casa ainda.
- Ainda? – eu reclamei.
- Tive um problema com a minha mãe. Você pode vir pra cá?
- Pra sua casa? – estranhei.
- Não, pro meu bairro. A gente se encontra na orla. Pode ser?
- Ah, tudo bem. Que horas?
- Quando você sair do metrô me liga que a gente se encontra.
- Combinado.
- Beijo.
Pausa.
- Outro – respondi e desliguei rapidamente.
Dos males o menor. Antes ir até Ipanema do que ficar sem falar com ele.
- Mudou de ideia? – Léo perguntou.
- Vou pra praia, esqueceu? Tenho que pegar o metrô...
- Mas você não ia sozinho?
- Pois é, mudei de ideia.
- Quer que eu vá na praia com você?
- Não, não é isso. Só vou no metrô com você...
- Tá dispensando a minha companhia mesmo? É isso mesmo, produção?
- Desculpa, Léo, mas eu sou sincero. Eu preciso ir pra praia sozinho porque quero ouvir o mar e refletir.
- No sábado à noite? E eu nasci ontem, né?
- E o que tem demais que seja sábado à noite?
- Ninguém sai sozinho sábado à noite, Caio.
- Ué e qual é o problema?
- Tem bofe no meio, não tem não?
- Claro que não, idiota. Só preciso ficar um pouco sozinho!
- Sei, mas mesmo se você quisesse a minha companhia eu não ia poder ir. Tenho um encontro.
- Ah, é? E eu posso saber com quem?
- Com uma pessoa que você não conhece. Hoje eu tiro o atraso!!!
Dei risada.
- Safado...
- Vou gozar litros hoje, querido – ele falou baixinho. – Tô precisando.
- É, tô vendo. Depois me conta como foi, hein?
- Bicha curiosa, viu?
- Olha quem fala...
- Não vou com você hoje – falei ao Léo.
- Por quê?
- Quero ir até a praia.
- Sozinho?
- Sozinho. Preciso ver o mar.
- Ah, entendi. Então tá bom, né?
Assim que coloquei meus pés fora daquele prédio, o normaço carioca envolveu o meu corpo e eu me senti cansado. Vasculhei o local com os olhos, mas nenhum sinal do Bruno.
- Oi – ele atendeu.
- Onde você está?
- Então, eu tô em casa ainda.
- Ainda? – eu reclamei.
- Tive um problema com a minha mãe. Você pode vir pra cá?
- Pra sua casa? – estranhei.
- Não, pro meu bairro. A gente se encontra na orla. Pode ser?
- Ah, tudo bem. Que horas?
- Quando você sair do metrô me liga que a gente se encontra.
- Combinado.
- Beijo.
Pausa.
- Outro – respondi e desliguei rapidamente.
Dos males o menor. Antes ir até Ipanema do que ficar sem falar com ele.
- Mudou de ideia? – Léo perguntou.
- Vou pra praia, esqueceu? Tenho que pegar o metrô...
- Mas você não ia sozinho?
- Pois é, mudei de ideia.
- Quer que eu vá na praia com você?
- Não, não é isso. Só vou no metrô com você...
- Tá dispensando a minha companhia mesmo? É isso mesmo, produção?
- Desculpa, Léo, mas eu sou sincero. Eu preciso ir pra praia sozinho porque quero ouvir o mar e refletir.
- No sábado à noite? E eu nasci ontem, né?
- E o que tem demais que seja sábado à noite?
- Ninguém sai sozinho sábado à noite, Caio.
- Ué e qual é o problema?
- Tem bofe no meio, não tem não?
- Claro que não, idiota. Só preciso ficar um pouco sozinho!
- Sei, mas mesmo se você quisesse a minha companhia eu não ia poder ir. Tenho um encontro.
- Ah, é? E eu posso saber com quem?
- Com uma pessoa que você não conhece. Hoje eu tiro o atraso!!!
Dei risada.
- Safado...
- Vou gozar litros hoje, querido – ele falou baixinho. – Tô precisando.
- É, tô vendo. Depois me conta como foi, hein?
- Bicha curiosa, viu?
- Olha quem fala...
- Cheguei já – falei.
- Tô descendo. Me espera na portaria do meu prédio. Sabe onde é, né?
- Sei sim.

Eu andei bem devagar até o prédio do Bruno e rapidamente ele chegou. Estava lindo. Com uma camiseta branca e uma bermuda de tactel azul.

- Boa noite – me cumprimentou com um sorriso.
- Boa noite – minhas pernas estavam trêmulas.
- Você está lindo, sabia?
Minhas bochechas queimaram.
- Obrigado.
- Vamos?
- Uhum.
A gente começou a descer a rua em silêncio. Só voltamos a falar quando estávamos perto da praia.

- E então? – ele começou.
- E então?
- Como foi seu dia?
- Ah, a mesma chata rotina de sempre e o seu?
- As mesmas coisas também.
- Hum...
- Quer ir pra algum lugar ou quer ir pra beira da praia?
- Quero sentar e ver o mar, pode ser?
- Pode sim – ele concordou. – Também gosto muito de fazer isso.
Eu tirei meus tênis e as meias e comecei a andar pela areia.
- Má ideia, né?
- Por quê?
- Você está de calça jeans... Não foi muito legal ter vindo pra cá...
- Nem ligo! Daqui a pouco eu dou um jeitinho nisso.
- Vai se trocar? – ele abriu um sorriso safado.
- Não, vou dobrar a calça – dei risada. – Não trouxe bermuda não. Pensei que íamos pra um barzinho, sei lá.
- Ainda está em tempo de ir. Se quiser a gente vai, mas vai ter que esperar eu me arrumar.
- Que nada, aqui está ótimo. Sou louco por esse lugar.
- Eu também.
Quando eu sentei na areia, dobrei cuidadosamente a perna da minha calça e ela ficou nos joelhos.

- Até que não ficou tão ruim – analisei.
- Ficou ótimo.
Silêncio. Nós dois estávamos olhando a água do oceano vir e voltar. Aquilo era mesmo uma terapia.
- Então? – eu falei, depois de uns dez minutos.
Ele me olhou e ficou calado.
- Quer falar sobre o quê? – continuei.
- Sobre você. Sobre eu. Sobre nós dois...
Fiquei sem graça.
- Você é bem tímido, né? – ele riu.
- Um pouco.
- Acho que é isso que me chama a atenção em você.
- É mesmo?
- Dentre outras coisas, é claro.
- Por exemplo?
- Sua beleza. Seu sorriso. Seus lábios...
Engoli em seco. O meu rosto parecia que estava em chamas.
- O seu cabelo – ele continuou. – Sua pele... Seu olhar de menino...
- Para – eu estava com muita vergonha. – Estou ficando sem graça...
- Mas eu estou sendo sincero, Caio. Ou você acha que eu estou brincando quando digo que me apaixonei por você?
- Sinceramente?
- Claro que sim.
- Às vezes eu tenho essa impressão sim.
- Por que? – ele se chocou.
- Pelas suas atitudes. Ou a falta delas.
- Como assim? O que você está querendo falar com isso?
- Ah, Bruno... Você sempre fica de olho em outros caras...
Ele ficou sério de repente.
- Ah, Caio. É meu jeito, sabe?
- Pois é. É aí que eu queria chegar. Seu jeito não é lá muito correto.
- Por que você diz isso?
- Porque se você está apaixonado como diz, não tem que ficar de olho em outros caras.
- Você está com ciúmes de mim? – ele abriu um sorriso enorme.
Fiquei calado. Ele virou o corpo pro meu lado e ficou de frente pra mim.

- Responde, você está com ciúmes de mim?
- E se eu estiver?
- Que fofo, Caio – ele se derreteu. – Isso significa que você também gosta de mim?
Pausa. Nossos olhos estavam unidos por uma atração incontrolável.
- Sim? Ou não?
- Sim – confessei baixinho.
Ele sorriu de novo.
- A recíproca é verdadeira...
Abaixei a cabeça. Era tão bom ouvir aquilo...
Nós voltamos a mirar o mar por um tempo. Quando eu me arrumei na areia, ele colocou a mão direita sobre a minha. Meu coração disparou e eu fiquei sem reação.
Meu amor
Há somente você na minha vida
A única coisa que é certa
Meu primeiro amor
Você é "tudo que respiro"
Você é cada passo que dou
E eu
Eu eu eu eu eu
Eu quero dividir
Todo o meu amor com você
Ninguém mais o fará
E seus olhos
Seus olhos, seus olhos
Eles me dizem o quanto você se importa
Oh sim, você sempre será
Meu amor sem fim
Dois corações
Dois corações que batem como um só
Nossas vidas apenas começaram
Para sempre
Oh
Eu te segurarei apertado em meus braços
Eu não consigo resistir aos seus encantos
E amor
Oh, amor
Eu serei uma boba
Por você, tenho certeza
Você sabe que não ligo
Oh, Você sabe que não ligo
Porque você
Você significa o mundo para mim, oh
Eu sei
Eu sei
Eu encontrei em você
Meu amor sem fim
OOh-woow
Boom, boom
Boom, boom, boom, boom, boom
Boom, boom, boom, boom, boom
OOh, e amor
Oh, amor
Eu serei aquela boba
Por você, tenho certeza
Você sabe que não ligo
Oh você sabe
Eu não ligo
E Sim
Você será o único
Pois ninguém pode negar
Este amor que tenho aqui dentro
E eu o darei todo para você
Meu amor
Meu amor, meu amor
Meu amor sem fim
Depois que me acalmei um pouco, deixei que ele entrelaçasse os nossos dedos. Minha garganta estava seca.
- Você já ficou com algum garoto? – ele perguntou, depois de muito tempo.
- Não – respondi de imediato.
- E sente vontade de fazer o quê?
- Como assim?
- O que você sente vontade de fazer com outro garoto?
- Ah, não sei. Nunca parei pra pensar nisso...
- Ah, fala sério... Impossível.
- Estou sendo sincero com você – e estava mesmo. – Acho que isso vai de momento, né?
- Pode ser... Você se considera o quê? Hétero curioso, bissexual, gay...?
- Sou gay sim – respondi na lata. – Faz tempo que sei disso.
- E por que nunca ficou antes?
- Por medo acho. Falta de oportunidade...
- Mas você não é assumido, né?
- Não. Depende. Minha família sabe...
- Ah, é?
- Aham. É por esse motivo que eu estou aqui.
- Como assim?
Abri o jogo e contei tudo o que aconteceu comigo.
- Acho que é por isso que a gente se identifica tanto, Caio.
- Por que? – fiquei curioso.
- Minha família também não me aceita.
- Hã?
- É verdade. Eu me assumi ano passado. Foi bem difícil. Ainda está sendo na verdade.
- Por isso que você tá trabalhando?
- Isso mesmo. Meu pai é empresário, minha mãe é médica. Não somos ricos, mas não nos falta nada.
- Hum...
- Eles sempre me deram tudo, mas depois que descobriram o que eu sou, viraram as costas pra mim...
- Pelo menos você não foi expulso de casa.
- Mas de que adianta? Não fui expulso, mas quase não falo com eles. Não sei o que é pior.
- Verdade.
- Pelo menos a escola meu pai continua pagando.
- Tá vendo? Ele não te virou as costas por completo.
- Mas mesmo assim. Não é mais a mesma coisa...
- Eu sei bem o que é isso.
- No começo eu quis sair de casa, mas não tinha pra onde ir. Não quero ficar na casa de amigos. Pensei de ir pra minha avó, mas ela é de idade já, não quero dar trabalho pra ela...
- Hum...
- Você ficaria comigo?
Que pergunta era aquela?
- Sim. E você?
- É tudo que eu mais quero – foi a vez dele ficar vermelho. – Você me chamou a atenção desde o primeiro momento em que eu te vi.
- Digo a mesma coisa.
Sorrimos juntos.
- Tão estranho falar isso pra você – ele disse.
- Pra mim também é difícil.
- Eu nunca me apaixonei antes.
- Como não? Você não namorava?
- Namorava sim, mas eu não era apaixonado. Eu fiquei com ele por pura atração mesmo.
- E por que acabou?
- Porque tinha que acabar. A gente tinha muita química, mas só. Nos desentendíamos muito.
- Você sofreu quando terminou, não sofreu?
- Sofri. Claro que sofri. Mesmo não sendo apaixonado, eu gostava dele. A gente se apega as pessoas, né?
- Uhum.
- Você já namorou?
- Nunca.
- Nem com garotas?
- Não.
- Mas já ficou com alguma, né?
- Já sim.
- Ah, tá.
Silêncio. O mar estava um pouco agitado.
- Eu percebi que você não gosta de cigarro, né?
- Não. Detesto – fui muito sincero.
- Problema. Eu sou viciado.
- Eu sei.
- Mas isso a gente pode contornar. Balinhas servem pra essas coisas.
Que vergonha...
- E eu posso tentar parar também.
- Sério? Faria isso?
- Quando eu entro em uma relação, eu quero que ela dê certo. Se vai te fazer feliz, por que não?
Mais vergonha ainda.
- Acho que um relacionamento é uma troca, Caio. Uma hora cede um, outra hora cede outro.
- Verdade.
- Mas a gente vai ter um problema.
- Só um? – dei risada. – Vamos ter vários...
- Por exemplo?
- Você sabe que eu não vou poder assumir isso, né?
- E por que não?
- Por causa dos meninos da república, Bruno. Eu tenho medo deles me expulsarem...
- Será que eles fariam isso?
- Não sei, mas pelo sim e pelo não, é melhor não arriscar. E depois de tudo o que me aconteceu lá em casa, eu fiquei traumatizado.
- Coitadinho... Eu imagino o quanto seja difícil.
- Muito difícil.
- Mas eu vou te ajudar a superar, tá bom?
Que fofo...
- Bobo.
- É verdade – a voz dele estava firme. – Eu quero te ajudar. E por outro lado você vai me ajudar também...
- Sim, sim.
- Nossa história é bem parecida.
- Verdade. Eu não sabia que com você também tinha sido assim.
- Infelizmente, mas eu tenho fé que um dia tudo vai se resolver.
- Vai sim. Eu também confio nisso.
- Eu te contei o que me chamou a atenção em você, porém você não disse o que gosta em mim...
- Seus olhos, seus olhos, seus olhos e seus olhos!
Ele deu uma risada gostosa.
- Sério?
- Acho que foi a primeira coisa que eu vi em você. Sou louco por olhos claros. Queria que os meus fossem verdes.
- Seus olhos são lindos do jeito que são.
- Mas mesmo assim.
- Só meus olhos te chamaram a atenção?
- Sua voz – um sotaque lindo. – Sua boca. Seu cabelo...
- Não gosto do meu cabelo. O seu é que é lindo, todo liso desse jeito.
- Valeu. Tô pensando em fazer umas luzes.
- Faz sim. Vai ficar muito bom. Estilo surfista.
- Foi o que me falaram.
- Você tem cara de surfista.
- Tenho é?
- Eu acho.
- Hum.
- E aí? Como ficamos? – ele perguntou.
- Como ficamos?
- Você é que sabe.
- Eu? Já disse que eu quero...
- Eu também quero...
- E então? – dei risada.
- Acho que isso é um sim – ele riu também.
Será que nós estávamos namorando?
- Você quer dizer que nós estamos...?
- Namorando? – ele completou.
- É?
- Acho que não, né? Tá muito cedo pra isso. A gente precisa se conhecer primeiro pra depois ver o que quer. O que acha?
- Perfeito.
- Você vai perceber que eu tenho muitos defeitos, mas eu vou tentar melhorar, tá bom?
- Relaxa, todo mundo tem defeitos. Eu tenho os meus também.
- Não conheço nenhum.
- Imagina, claro que tenho.
- Qual? Você é lindo, é educado, não fuma, não bebe excessivamente, é trabalhador...
- Sou chato, sou perfeccionista, sou orgulhoso, sou desconfiado, sou impaciente...
- Nunca percebi nenhum desses defeitos aí não.
- É porque você não me conhece tão bem assim.
- Mas eu vou conhecer!
- Assim espero – já não estava tão tímido.
- Nunca perguntei isso: qual seu signo?
- Virgem e o seu?

- Escorpião.

Até me arrepiei. O signo do sexo.
- Dizem que escorpião é quente, né?
- Você quer experimentar?
Devo ter ficado mais vermelho que um tomate.
- Bo-bobo.
Ele gargalhou e apertou a minha mão.
- Você fica lindo quando fica com vergonha, sabia?
- Você tá me deixando mais sem graça ainda.
- É verdade...
- Obrigado.
Outra pausa.
- Mas como a gente faz?
- Como assim?
- Você provavelmente não vai querer ficar comigo em público, vai?
- Não – respondi de imediato. – Ainda não estou preparado pra isso.
- E a gente vai ficar aonde? Na república?
- Tá doido? É assinar a minha sentença de morte!
- Pois é, na minha casa também não dá... Só se for na minha avó.
- Na sua avó?
- Aham. Ela ia deixar numa boa...
Engoli em seco. Ia ser muito constrangedor pra mim.
- Não tem outro lugar não?
- De imediato só conheço esse... Por que? Não quer?
- Ah, sei lá. Fico meio assim...
- Relaxa, gatinho. Ela é gente fina...
- Se você está dizendo...
- Vamos pra lá?
- Já? – me espantei.
- Ué, e vamos ficar aqui até quando?
Meu coração disparou. Será que eu estaria prestes a dar meu primeiro beijo gay?
- Vamos? – ele levantou e estendeu a mão.
Nossos olhos ainda estavam unidos. Ele estava decidido. Acho que ele estava sendo sincero afinal de contas.
- Vamos – concordei e me levantei.
Limpei a areia da minha bunda, arrumei as pernas da minha calça, peguei a minha mochila e nós começamos a andar.

- Posso te pedir uma coisa? – perguntei.
- Claro que pode.
- Não comenta isso com ninguém, tá bom?
- Fica tranquilo – ele prometeu. – Não vou te expor desse jeito não.
- Obrigado.
Quando eu cheguei na calçada, limpei a sola dos pés e calcei meus tênis.
- Horrível ficar com areia no pé.
- Lá na minha avó você lava, gatinho.
Toda vez que ele me chamava de gatinho o meu estômago revirava. Eu lembrei do Víctor.
Eu andei de cabeça baixa. Era inacreditável que aquilo estivesse acontecendo. Eu tinha me declarado e ele também. Nós íamos ficar juntos... Juntos!!!
- Feliz? – ele perguntou.
- Muito – confessei. – E você?
- Também. Gosto muito de você.
- Também gosto muito de você.
- A casa da minha avó fica duas ruas acima do meu prédio. É bem pertinho.
- Ah, tá. Que bom.
- Acho que essa hora ela já tá dormindo, mas eu tenho a chave.
- Hum, sim.
Eu estava ansioso. Meu coração estava batendo desregular e o frio na barriga se intensificava a cada passo que eu dava. Tudo estava perfeito e parecia que ia dar certo, até que...
- Bruno? – alguém esbravejou.

Ele virou.
- Oi, pai?
- Onde você pensa que vai?
- Na casa da vó...
- Fazer o que lá? Sua avó já está dormindo. Já pra casa!!!
- Mas pai...
- Já pra casa, Bruno!!!
Ele me olhou com os olhos tristes. Não estávamos esperando por aquilo.
- Já pra casa, eu já disse – o homem pegou o menino pelo braço e começou a puxá-lo.
- Para pai, você tá me machucando!
- E eu vou machucar ainda mais se você não me obedecer!
Eu não sabia o que fazer. Meu coração doeu ao ver aquela cena. Lembrei do meu pai e de sua brutalidade...
- ME SOLTA, PORRA – ele gritou. – EU SEI ANDAR SOZINHO!
Ele se soltou das garras daquele homem e se afastou.
- Eu te ligo – ele disse.
Não falei nada, apenas assenti. Era melhor ele obedecer o pai, senão ia sofrer as consequências depois.
Eu fiquei acompanhando ele entrar no prédio e só consegui recompor as energias pra andar depois que ele sumiu de vista.
- Por que as coisas sempre dão errado pra mim?
Quando tudo parecia que estava resolvido, a gente recebeu aquele balde de água fria. Parecia coisa de novela das oito...

Mesmo com aquele imprevisto indesejado, eu estava me sentindo feliz e realizado. Embora eu quisesse muito ficar com ele, em primeiro lugar estava a sua segurança. Não queria que nada de mau lhe acontecesse...
Acho que eu nem estava sentindo as pernas de tão extasiado que estava. Parecia que era mentira, mas tudo tinha realmente acontecido. Ele tinha se declarado pra mim e nós íamos ficar juntos... Era bom demais pra ser verdade.

Quando cheguei em casa, fui direto pro meu quarto e caí na cama de costas, sem nem prestar atenção ao que estava acontecendo ao meu redor.
- Tudo bem com você? – ele perguntou.
- Tudo ótimo – respondi sorrindo. – Melhor impossível.
- Hum... O que andou aprontando, hein?
- Nada – respondi, ainda sorrindo. – Nada.
- Aham, sei. Isso está me cheirando a garotas...
O olfato do Rodrigo estava defeituoso. Eu estava feliz por outro motivo. Totalmente oposto ao que ele havia pensado.
Era a concretização de um sonho. Tudo tinha acontecido em muito pouco tempo, mas era melhor do que eu pudesse imaginar, melhor do que eu pudesse planejar...
- Tá me ouvindo, Caio? – ele perguntou.
- Aham.
Mas a voz dele estava longe.
- Tem louça pra você lavar, meu.
- Já vou, já...
- O negócio foi bom, hein?
- Aham.
Ele riu e continou a fazer o que estava fazendo. Depois de um tempinho, eu me pus de pé, tirei minha roupa e fui pra cozinha. A pia estava cheia, mas eu não liguei. Eu estava feliz demais pra me importar com aquele detalhe bobo.

- Ah, finalmente apareceu – falou Willian. – Onde estava?
- Na praia – respondi.
- Ah. E por que está tão feliz assim?
- Porque estou me sentindo bem. Não pode?
- Claro que pode, pô. Amanhã a comida é sua. Não esquece.
- Pode deixar – eu ria à toa.
- Beleza. Boa noite.
- Boa noite.
Depois que terminei de lavar tudo, sequei a louça e guardei tudo em seus respectivos lugares. Eu estava me sentindo até leve depois daquela conversa com o Bruno.
Serviços acabados, voltei pro quarto, peguei uma cueca limpa e fui pro banho. Como era tarde e a rapaziada já estava deitada, me permiti ficar mais tempo que o normal. Eu merecia.
Sequei meu corpo, escovei meus dentes, me vesti e fui pra lavanderia. Joguei a roupa suja no balde, estendi a minha toalha no varal, fechei as vidraças e voltei pro quarto.
Peguei meu notebook e me conectei a internet, mas ele não estava on-line. Será que teve algum problema em casa?
- Tô descendo. Me espera na portaria do meu prédio. Sabe onde é, né?
- Sei sim.
Eu andei bem devagar até o prédio do Bruno e rapidamente ele chegou. Estava lindo. Com uma camiseta branca e uma bermuda de tactel azul.
- Boa noite – me cumprimentou com um sorriso.
- Boa noite – minhas pernas estavam trêmulas.
- Você está lindo, sabia?
Minhas bochechas queimaram.
- Obrigado.
- Vamos?
- Uhum.
A gente começou a descer a rua em silêncio. Só voltamos a falar quando estávamos perto da praia.
- E então? – ele começou.
- E então?
- Como foi seu dia?
- Ah, a mesma chata rotina de sempre e o seu?
- As mesmas coisas também.
- Hum...
- Quer ir pra algum lugar ou quer ir pra beira da praia?
- Quero sentar e ver o mar, pode ser?
- Pode sim – ele concordou. – Também gosto muito de fazer isso.
Eu tirei meus tênis e as meias e comecei a andar pela areia.
- Má ideia, né?
- Por quê?
- Você está de calça jeans... Não foi muito legal ter vindo pra cá...
- Nem ligo! Daqui a pouco eu dou um jeitinho nisso.
- Vai se trocar? – ele abriu um sorriso safado.
- Não, vou dobrar a calça – dei risada. – Não trouxe bermuda não. Pensei que íamos pra um barzinho, sei lá.
- Ainda está em tempo de ir. Se quiser a gente vai, mas vai ter que esperar eu me arrumar.
- Que nada, aqui está ótimo. Sou louco por esse lugar.
- Eu também.
Quando eu sentei na areia, dobrei cuidadosamente a perna da minha calça e ela ficou nos joelhos.
- Até que não ficou tão ruim – analisei.
- Ficou ótimo.
Silêncio. Nós dois estávamos olhando a água do oceano vir e voltar. Aquilo era mesmo uma terapia.
- Então? – eu falei, depois de uns dez minutos.
Ele me olhou e ficou calado.
- Quer falar sobre o quê? – continuei.
- Sobre você. Sobre eu. Sobre nós dois...
Fiquei sem graça.
- Você é bem tímido, né? – ele riu.
- Um pouco.
- Acho que é isso que me chama a atenção em você.
- É mesmo?
- Dentre outras coisas, é claro.
- Por exemplo?
- Sua beleza. Seu sorriso. Seus lábios...
Engoli em seco. O meu rosto parecia que estava em chamas.
- O seu cabelo – ele continuou. – Sua pele... Seu olhar de menino...
- Para – eu estava com muita vergonha. – Estou ficando sem graça...
- Mas eu estou sendo sincero, Caio. Ou você acha que eu estou brincando quando digo que me apaixonei por você?
- Sinceramente?
- Claro que sim.
- Às vezes eu tenho essa impressão sim.
- Por que? – ele se chocou.
- Pelas suas atitudes. Ou a falta delas.
- Como assim? O que você está querendo falar com isso?
- Ah, Bruno... Você sempre fica de olho em outros caras...
Ele ficou sério de repente.
- Ah, Caio. É meu jeito, sabe?
- Pois é. É aí que eu queria chegar. Seu jeito não é lá muito correto.
- Por que você diz isso?
- Porque se você está apaixonado como diz, não tem que ficar de olho em outros caras.
- Você está com ciúmes de mim? – ele abriu um sorriso enorme.
Fiquei calado. Ele virou o corpo pro meu lado e ficou de frente pra mim.
- Responde, você está com ciúmes de mim?
- E se eu estiver?
- Que fofo, Caio – ele se derreteu. – Isso significa que você também gosta de mim?
Pausa. Nossos olhos estavam unidos por uma atração incontrolável.
- Sim? Ou não?
- Sim – confessei baixinho.
Ele sorriu de novo.
- A recíproca é verdadeira...
Abaixei a cabeça. Era tão bom ouvir aquilo...
Nós voltamos a mirar o mar por um tempo. Quando eu me arrumei na areia, ele colocou a mão direita sobre a minha. Meu coração disparou e eu fiquei sem reação.
Amor sem fim
Depois que me acalmei um pouco, deixei que ele entrelaçasse os nossos dedos. Minha garganta estava seca.
- Você já ficou com algum garoto? – ele perguntou, depois de muito tempo.
- Não – respondi de imediato.
- E sente vontade de fazer o quê?
- Como assim?
- O que você sente vontade de fazer com outro garoto?
- Ah, não sei. Nunca parei pra pensar nisso...
- Ah, fala sério... Impossível.
- Estou sendo sincero com você – e estava mesmo. – Acho que isso vai de momento, né?
- Pode ser... Você se considera o quê? Hétero curioso, bissexual, gay...?
- Sou gay sim – respondi na lata. – Faz tempo que sei disso.
- E por que nunca ficou antes?
- Por medo acho. Falta de oportunidade...
- Mas você não é assumido, né?
- Não. Depende. Minha família sabe...
- Ah, é?
- Aham. É por esse motivo que eu estou aqui.
- Como assim?
Abri o jogo e contei tudo o que aconteceu comigo.
- Acho que é por isso que a gente se identifica tanto, Caio.
- Por que? – fiquei curioso.
- Minha família também não me aceita.
- Hã?
- É verdade. Eu me assumi ano passado. Foi bem difícil. Ainda está sendo na verdade.
- Por isso que você tá trabalhando?
- Isso mesmo. Meu pai é empresário, minha mãe é médica. Não somos ricos, mas não nos falta nada.
- Hum...
- Eles sempre me deram tudo, mas depois que descobriram o que eu sou, viraram as costas pra mim...
- Pelo menos você não foi expulso de casa.
- Mas de que adianta? Não fui expulso, mas quase não falo com eles. Não sei o que é pior.
- Verdade.
- Pelo menos a escola meu pai continua pagando.
- Tá vendo? Ele não te virou as costas por completo.
- Mas mesmo assim. Não é mais a mesma coisa...
- Eu sei bem o que é isso.
- No começo eu quis sair de casa, mas não tinha pra onde ir. Não quero ficar na casa de amigos. Pensei de ir pra minha avó, mas ela é de idade já, não quero dar trabalho pra ela...
- Hum...
- Você ficaria comigo?
Que pergunta era aquela?
- Sim. E você?
- É tudo que eu mais quero – foi a vez dele ficar vermelho. – Você me chamou a atenção desde o primeiro momento em que eu te vi.
- Digo a mesma coisa.
Sorrimos juntos.
- Tão estranho falar isso pra você – ele disse.
- Pra mim também é difícil.
- Eu nunca me apaixonei antes.
- Como não? Você não namorava?
- Namorava sim, mas eu não era apaixonado. Eu fiquei com ele por pura atração mesmo.
- E por que acabou?
- Porque tinha que acabar. A gente tinha muita química, mas só. Nos desentendíamos muito.
- Você sofreu quando terminou, não sofreu?
- Sofri. Claro que sofri. Mesmo não sendo apaixonado, eu gostava dele. A gente se apega as pessoas, né?
- Uhum.
- Você já namorou?
- Nunca.
- Nem com garotas?
- Não.
- Mas já ficou com alguma, né?
- Já sim.
- Ah, tá.
Silêncio. O mar estava um pouco agitado.
- Eu percebi que você não gosta de cigarro, né?
- Não. Detesto – fui muito sincero.
- Problema. Eu sou viciado.
- Eu sei.
- Mas isso a gente pode contornar. Balinhas servem pra essas coisas.
Que vergonha...
- E eu posso tentar parar também.
- Sério? Faria isso?
- Quando eu entro em uma relação, eu quero que ela dê certo. Se vai te fazer feliz, por que não?
Mais vergonha ainda.
- Acho que um relacionamento é uma troca, Caio. Uma hora cede um, outra hora cede outro.
- Verdade.
- Mas a gente vai ter um problema.
- Só um? – dei risada. – Vamos ter vários...
- Por exemplo?
- Você sabe que eu não vou poder assumir isso, né?
- E por que não?
- Por causa dos meninos da república, Bruno. Eu tenho medo deles me expulsarem...
- Será que eles fariam isso?
- Não sei, mas pelo sim e pelo não, é melhor não arriscar. E depois de tudo o que me aconteceu lá em casa, eu fiquei traumatizado.
- Coitadinho... Eu imagino o quanto seja difícil.
- Muito difícil.
- Mas eu vou te ajudar a superar, tá bom?
Que fofo...
- Bobo.
- É verdade – a voz dele estava firme. – Eu quero te ajudar. E por outro lado você vai me ajudar também...
- Sim, sim.
- Nossa história é bem parecida.
- Verdade. Eu não sabia que com você também tinha sido assim.
- Infelizmente, mas eu tenho fé que um dia tudo vai se resolver.
- Vai sim. Eu também confio nisso.
- Eu te contei o que me chamou a atenção em você, porém você não disse o que gosta em mim...
- Seus olhos, seus olhos, seus olhos e seus olhos!
Ele deu uma risada gostosa.
- Sério?
- Acho que foi a primeira coisa que eu vi em você. Sou louco por olhos claros. Queria que os meus fossem verdes.
- Seus olhos são lindos do jeito que são.
- Mas mesmo assim.
- Só meus olhos te chamaram a atenção?
- Sua voz – um sotaque lindo. – Sua boca. Seu cabelo...
- Não gosto do meu cabelo. O seu é que é lindo, todo liso desse jeito.
- Valeu. Tô pensando em fazer umas luzes.
- Faz sim. Vai ficar muito bom. Estilo surfista.
- Foi o que me falaram.
- Você tem cara de surfista.
- Tenho é?
- Eu acho.
- Hum.
- E aí? Como ficamos? – ele perguntou.
- Como ficamos?
- Você é que sabe.
- Eu? Já disse que eu quero...
- Eu também quero...
- E então? – dei risada.
- Acho que isso é um sim – ele riu também.
Será que nós estávamos namorando?
- Você quer dizer que nós estamos...?
- Namorando? – ele completou.
- É?
- Acho que não, né? Tá muito cedo pra isso. A gente precisa se conhecer primeiro pra depois ver o que quer. O que acha?
- Perfeito.
- Você vai perceber que eu tenho muitos defeitos, mas eu vou tentar melhorar, tá bom?
- Relaxa, todo mundo tem defeitos. Eu tenho os meus também.
- Não conheço nenhum.
- Imagina, claro que tenho.
- Qual? Você é lindo, é educado, não fuma, não bebe excessivamente, é trabalhador...
- Sou chato, sou perfeccionista, sou orgulhoso, sou desconfiado, sou impaciente...
- Nunca percebi nenhum desses defeitos aí não.
- É porque você não me conhece tão bem assim.
- Mas eu vou conhecer!
- Assim espero – já não estava tão tímido.
- Nunca perguntei isso: qual seu signo?
- Virgem e o seu?
- Escorpião.
Até me arrepiei. O signo do sexo.
- Dizem que escorpião é quente, né?
- Você quer experimentar?
Devo ter ficado mais vermelho que um tomate.
- Bo-bobo.
Ele gargalhou e apertou a minha mão.
- Você fica lindo quando fica com vergonha, sabia?
- Você tá me deixando mais sem graça ainda.
- É verdade...
- Obrigado.
Outra pausa.
- Mas como a gente faz?
- Como assim?
- Você provavelmente não vai querer ficar comigo em público, vai?
- Não – respondi de imediato. – Ainda não estou preparado pra isso.
- E a gente vai ficar aonde? Na república?
- Tá doido? É assinar a minha sentença de morte!
- Pois é, na minha casa também não dá... Só se for na minha avó.
- Na sua avó?
- Aham. Ela ia deixar numa boa...
Engoli em seco. Ia ser muito constrangedor pra mim.
- Não tem outro lugar não?
- De imediato só conheço esse... Por que? Não quer?
- Ah, sei lá. Fico meio assim...
- Relaxa, gatinho. Ela é gente fina...
- Se você está dizendo...
- Vamos pra lá?
- Já? – me espantei.
- Ué, e vamos ficar aqui até quando?
Meu coração disparou. Será que eu estaria prestes a dar meu primeiro beijo gay?
- Vamos? – ele levantou e estendeu a mão.
Nossos olhos ainda estavam unidos. Ele estava decidido. Acho que ele estava sendo sincero afinal de contas.
- Vamos – concordei e me levantei.
Limpei a areia da minha bunda, arrumei as pernas da minha calça, peguei a minha mochila e nós começamos a andar.
- Posso te pedir uma coisa? – perguntei.
- Claro que pode.
- Não comenta isso com ninguém, tá bom?
- Fica tranquilo – ele prometeu. – Não vou te expor desse jeito não.
- Obrigado.
Quando eu cheguei na calçada, limpei a sola dos pés e calcei meus tênis.
- Horrível ficar com areia no pé.
- Lá na minha avó você lava, gatinho.
Toda vez que ele me chamava de gatinho o meu estômago revirava. Eu lembrei do Víctor.
Eu andei de cabeça baixa. Era inacreditável que aquilo estivesse acontecendo. Eu tinha me declarado e ele também. Nós íamos ficar juntos... Juntos!!!
- Feliz? – ele perguntou.
- Muito – confessei. – E você?
- Também. Gosto muito de você.
- Também gosto muito de você.
- A casa da minha avó fica duas ruas acima do meu prédio. É bem pertinho.
- Ah, tá. Que bom.
- Acho que essa hora ela já tá dormindo, mas eu tenho a chave.
- Hum, sim.
Eu estava ansioso. Meu coração estava batendo desregular e o frio na barriga se intensificava a cada passo que eu dava. Tudo estava perfeito e parecia que ia dar certo, até que...
- Bruno? – alguém esbravejou.
Ele virou.
- Oi, pai?
- Onde você pensa que vai?
- Na casa da vó...
- Fazer o que lá? Sua avó já está dormindo. Já pra casa!!!
- Mas pai...
- Já pra casa, Bruno!!!
Ele me olhou com os olhos tristes. Não estávamos esperando por aquilo.
- Já pra casa, eu já disse – o homem pegou o menino pelo braço e começou a puxá-lo.
- Para pai, você tá me machucando!
- E eu vou machucar ainda mais se você não me obedecer!
Eu não sabia o que fazer. Meu coração doeu ao ver aquela cena. Lembrei do meu pai e de sua brutalidade...
- ME SOLTA, PORRA – ele gritou. – EU SEI ANDAR SOZINHO!
Ele se soltou das garras daquele homem e se afastou.
- Eu te ligo – ele disse.
Não falei nada, apenas assenti. Era melhor ele obedecer o pai, senão ia sofrer as consequências depois.
Eu fiquei acompanhando ele entrar no prédio e só consegui recompor as energias pra andar depois que ele sumiu de vista.
- Por que as coisas sempre dão errado pra mim?
Quando tudo parecia que estava resolvido, a gente recebeu aquele balde de água fria. Parecia coisa de novela das oito...
Mesmo com aquele imprevisto indesejado, eu estava me sentindo feliz e realizado. Embora eu quisesse muito ficar com ele, em primeiro lugar estava a sua segurança. Não queria que nada de mau lhe acontecesse...
Acho que eu nem estava sentindo as pernas de tão extasiado que estava. Parecia que era mentira, mas tudo tinha realmente acontecido. Ele tinha se declarado pra mim e nós íamos ficar juntos... Era bom demais pra ser verdade.
Quando cheguei em casa, fui direto pro meu quarto e caí na cama de costas, sem nem prestar atenção ao que estava acontecendo ao meu redor.
- Tudo bem com você? – ele perguntou.
- Tudo ótimo – respondi sorrindo. – Melhor impossível.
- Hum... O que andou aprontando, hein?
- Nada – respondi, ainda sorrindo. – Nada.
- Aham, sei. Isso está me cheirando a garotas...
O olfato do Rodrigo estava defeituoso. Eu estava feliz por outro motivo. Totalmente oposto ao que ele havia pensado.
Era a concretização de um sonho. Tudo tinha acontecido em muito pouco tempo, mas era melhor do que eu pudesse imaginar, melhor do que eu pudesse planejar...
- Tá me ouvindo, Caio? – ele perguntou.
- Aham.
Mas a voz dele estava longe.
- Tem louça pra você lavar, meu.
- Já vou, já...
- O negócio foi bom, hein?
- Aham.
Ele riu e continou a fazer o que estava fazendo. Depois de um tempinho, eu me pus de pé, tirei minha roupa e fui pra cozinha. A pia estava cheia, mas eu não liguei. Eu estava feliz demais pra me importar com aquele detalhe bobo.
- Ah, finalmente apareceu – falou Willian. – Onde estava?
- Na praia – respondi.
- Ah. E por que está tão feliz assim?
- Porque estou me sentindo bem. Não pode?
- Claro que pode, pô. Amanhã a comida é sua. Não esquece.
- Pode deixar – eu ria à toa.
- Beleza. Boa noite.
- Boa noite.
Depois que terminei de lavar tudo, sequei a louça e guardei tudo em seus respectivos lugares. Eu estava me sentindo até leve depois daquela conversa com o Bruno.
Serviços acabados, voltei pro quarto, peguei uma cueca limpa e fui pro banho. Como era tarde e a rapaziada já estava deitada, me permiti ficar mais tempo que o normal. Eu merecia.
Sequei meu corpo, escovei meus dentes, me vesti e fui pra lavanderia. Joguei a roupa suja no balde, estendi a minha toalha no varal, fechei as vidraças e voltei pro quarto.
Peguei meu notebook e me conectei a internet, mas ele não estava on-line. Será que teve algum problema em casa?
“Está tudo bem?”
Mandei o SMS, mas não obtive resposta. A
felicidade deu lugar a preocupação. E se tivesse acontecido alguma coisa com
ele???- Caio?
- Oi?
Eu me virei e notei que o Rodrigo estava fazendo alguma coisa da faculdade.
- Me faz um favor?
- Claro!
- Você pode ver se o Fabrício já usou o meu compasso? Tô precisando dele aqui...
- Vejo sim, só um segundo.
Eu pedi um momento pro Víctor, coloquei o computador na cama e saí do quarto. Dei duas batidinhas na porta do quarto dos meninos e fiquei esperando.
- Fala, Caio – quem saiu foi o Vini.
- O Fabrício tá aí?
- Aham. Entra aí.
Eu entrei e ele estava sentado em frente ao computador. Era impressão minha ou ele estava pelado?
- Fabrício, o Rodrigo quer saber se você já usou o compasso dele.
- Ah, já sim. Pega pra mim, Vini?
- Tá aonde?
- No meu estojo.
O Vinícius foi procurar e eu fiquei de olho no cara. Não era impressão minha, ele estava mesmo pelado, mas eu não consegui ver muita coisa.
- Cadê? – Vinícius perguntou.
- No estojo, cacete.
Eu quase me mexi pra ver se via alguma coisa, mas não tive coragem... Por que ele estava daquele jeito? E na frente do Vini?
Será que...?
- Achei!!!
O estudante de medicina arrumou a bagunça que fez, levantou e caminhou em minha direção. Por mais que eu tentasse, não conseguia me segurar. Toda vez que eu o via de cueca, meus olhos automaticamente desciam pro volume.
- Aqui – ele disse.
Mas antes que eu pudesse pegar o compasso, ele colocou a mão esquerda em cima da cueca e coçou o saco. Meu coração disparou. Ele percebeu o que eu estava olhando
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