|
F
|
iquei tão surpreso com aquele presente que não tive reação pra
saber o que deveria fazer.
Por que o Bruno resolveu me presentar com aquela cesta enorme de cafá da manhã? Será que eu significava tanto assim pra ele?
- Ah, já chegou? – Rodrigo entrou no quarto de repente.
- Sim.
Eu cheguei a pensar que o certo seria devolver o presente, mas como já havia aberto a embalagem e comido uma maçã, acabei não resistindo e cedi a todas as guloseimas que estavam na minha frente.
- Que cestão, hein? – Rodrigo estava de costas, procurando alguma coisa no armário.
- É. Ainda estou meio incrédulo.
- Posso saber quem te deu?
- O Bruno – respondi depois de engolir o iogurte.
- Caramba. Ele gosta mesmo de você.
- Parece que sim, mas eu ainda tenho as minhas dúvidas.
- Talvez ele queira voltar – o garoto tirou a camiseta.
- É o que ele quer. Ele deixa isso bem claro no cartão.
- E você vai voltar?
- Não. Não sei. Acho que não...
- Hum... Já está em dúvida – ele deu uma risadinha.
- Ah, Rodrigo... Eu sinceramente não sei nem o que eu tenho que fazer agora.
- Que tal agradecer? É um bom começo.
- Sim, mas como? Por telefone ou pessoalmente?
- Vai ter como encontrá-lo hoje?
- Não.
- Então liga. Espera ele sair do serviço e liga. Dá uma chance pro cara, ele parece arrependido.
- Como é que você sabe?
- Pelo tamanho da cesta a gente deduz.
Foi como somar 2 + 2!
- Foi você que deu o endereço daqui né seu filho da mãe? – eu fiquei abismado.
- Eu? Tô fora. Sei de nada não!
Mas a fisionomia dele o condenou. Eu não tive dúvidas: o Rodrigo forneceu o nosso endereço pro Bruno mandar a cesta!
- Você não deveria ter feito isso!
- Quem tá dizendo é você – meu amigo tirou o corpo fora. – Eu não falei nada.
- Confessa logo de uma vez, eu sei que foi você!
- Qual é? Virou vidente agora?
- Não. Você se condena por si só!
Rodrigo suspirou.
- Eu não tive escolhas. Ele ficou me enchendo a paciência mais de um mês.
- Por que não me disse nada?
- Porque não queria estragar a surpresa!
- Filho da mãe... Não deveria ter feito isso! E se ele vier aqui?
- Se ele vier você vai atendê-lo com toda cortesia do mundo. Não vai?
- Não, não vou! Ele não é louco de pender pra esses lados!
- O que impede? Caio, por que não assume logo de uma vez que você tá doidinho pelo Bruno? É muito melhor!
- E quem disse que eu estou doidinho por ele?
- Você se condena tão fácil quanto eu, meu caro amigo! É só ouvir falar no nome dele que você fica com os olhinhos brilhando e fica todo bobão. Parece que entra no mundo da lua!
Eu senti vergonha. Será que era do jeito que ele falava mesmo? Será que eu era tão apaixonado pelo Bruno a ponto de demonstrar a torto e a direita que estava gostando dele?
- Não seja burro, cara – Rodrigo tirou a bermuda e colocou uma calça jeans. – Dê uma oportunidade pro cara e seja feliz!
- Tenho medo. E se ele me trair de novo?
- E se ele não te trair mais? E se vocês forem felizes? E se ele estiver mesmo arrependido?
- Você não está me ajudando, Rodrigo – eu reclamei. – Preciso de alguém que me ajude a pensar, você tá me deixando ainda mais confuso!
- Essa não é a minha intenção, mas eu estou sendo realista! Quem nunca errou nessa vida que atire a primeira pedra!
- Nisso você tem razão.
Sem mais nem menos a imagem da minha avó veio na minha cabeça. Ela sempre me falava que nós temos que dar uma segunda chance para todas as pessoas que erraram, por mais difícil que a situação seja.
- Eu não sei – falei depois de um tempo.
- Pensa aí no seu travesseiro. É o melhor que você tem a fazer. Sei que é bem difícil perdoar uma traição, mas pior seria ficar com essa incógnita na sua cabeça pro resto da vida. É você que vai ter que decidir!
- Eu vou ter que pensar muito no assunto.
- Faça isso, mas não o condene mais. O passado já passou. Segue em frente e tenta ser feliz, Caio. Você já tem problemas demais para se dar ao luxo de ter mais um. Busca sua felicidade, amigão!
- Vou pensar, Rodrigo. Eu prometo que vou pensar!
E foi aquilo mesmo que eu fiz. Não consegui parar de pensar no assunto até a hora de entrar em contato com ele.
Será que eu deveria dar uma nova oportunidade? E se eu me arrependesse depois? E se desse tudo errado de novo?
Quando tive a certeza que ele não estava mais na central, não hesitei e liguei logo de uma vez. Eu precisava agradecer.
- Oi – a voz dele parecia feliz. – É você mesmo?
- Oi, Bruno – eu suspirei e fechei meus olhos. Como era bom ouvir aquela voz de anjo. – Sim, sou eu.
- Que honra atender uma ligação sua! Tudo bem com o senhor?
- Seu bobo. Tudo bem sim e você?
- Agora está tudo ótimo!
- Eu estou ligando para te agradecer.
- Já recebeu?
- Já. É linda, mas não precisava se preocupar!
- Foi a forma que eu encontrei pra te mostrar o quanto eu te quero, menino!
Fiquei tímido com aquela afirmação.
- Eu nem sei o que te falar, sabe? – confessei. – Muito obrigado!
- Não fale nada. Aceite o meu pedido, só isso.
- Não é tão fácil assim, Bruno.
- Eu sei que não é. É por isso que eu estou te pedindo uma oportunidade pra te mostrar que eu mudei e que eu não vou mais errar com você. Só preciso de uma oportunidade!
- Eu vou pensar, tá bom?
- Promete? Promete que vai pensar mesmo?
- Prometo. Já estou pensando na verdade.
- Eu fico muito grato. Você é a pessoa mais importante da minha vida, Caio. Não esquece isso jamais!
- Você é importante pra mim também, Bruno!
- A gente pode se ver?
- Quando?
- Sei lá. Pode ser agora se você quiser.
- Adoraria. Adoraria mesmo, mas eu cheguei da escola e nem dormi porque precisava te ligar. Estou um caco.
- Faço ideia. Pode ser mais tarde então...
- Que horas?
- Que horas você vai pra academia com o Rodrigo?
- Às 21 – respondi.
- Hum... Esse horário eu estou na escola! E que horas vocês saem de lá?
- Às 23.
- Pode ser esse horário aí. Às 23 é perfeito pra mim.
- Mas eu preciso trabalhar, esqueceu?
- Não, não esqueci. Eu posso te fazer companhia até a empresa. O que acha?
- Não sei...
- Ah, Caio! Por favor?
- Tudo bem, mas só vamos conversar, tá bom?
- Sem problemas. Prometo que não vou insistir em nada.
- Tudo bem. Onde nos encontramos?
- Na academia, ué.
- Sabe onde fica?
- Sei. Eu malho lá também.
- Ah, é? Não sabia!
- Você nem liga mais pra mim! Não fala comigo na internet, não me procura mais... Como ia saber se você não fala direito comigo?
- Tenho os meus motivos – senti vergonha de novo.
- Motivos esses que nós iremos esquecer. Eu te prometo!
Fiquei sem resposta de novo.
- Caio?
- Oi? Tô aqui!
- Ficou calado!
- Pensando...
- Em mim?
- Convencido!
- É em mim ou não é?
Poderia ser diferente? Eu estava falando com ele, em quem ele achava que eu estava pensando?
- Óbvio que é em você, chato!
- Eu também penso em você! Todos os dias, todas as horas, todos os minutos, todos os segundos...
- Não exagera, por favor!
- É verdade! Eu não faço outra coisa a não ser pensar em você!
Se ele estivesse mentindo estava sendo um ótimo ator.
- Meus créditos vão acabar. A gente se fala hoje à noite então.
- Combinadíssimo. Vou ficar contando os minutos para te ver novamente.
- Eu também- não deveria ter falado, mas confessei. – Até mais tarde então e obrigado novamente.
- Por nada. Te adoro muito, Caio!
- Eu também, Bruno.
Não houve mais tempo para conversa. Meus créditos acabaram e eu coloquei o celular embaixo do travesseiro.
Será que era verdade o que ele estava me falando? Será que ele gostava mesmo de mim?
Eu deveria dar uma nova oportunidade ao Bruno? Eu deveria tentar namorar com ele novamente? E se desse errado? E se ele me traísse de novo?
Mas se fosse diferente? E se ele realmente estivesse arrependido? Talvez as coisas pudessem dar certo daquela vez...
Eram tantas perguntas sem respostas que a minha cabeça parecia que ia dar nó. Ainda não sabia o que fazer e ainda não sabia qual era a atitude correta. Somente o tempo ia me responder o que eu deveria fazer e qual ia ser o rumo da minha vida dali em diante. A única coisa que eu sabia é que eu só ia saber se ele estava mesmo arrependido se desse uma nova oportunidade.
Nosso namoro tinha durado só uma semana. Eu não tive tempo hábil de me aprofundar nas qualidades e defeitos do garoto de olhos azuis. Eu precisava entendê-lo de verdade. Precisava ouví-lo, ajudá-lo a superar os seus problemas...
Talvez eu estivesse disposto a tentar novamente, mas eu precisaria de mais provas de seu arrependimento. E não seria com presentinhos que ele ia me provar o que eu queria. Não mesmo.
Por que o Bruno resolveu me presentar com aquela cesta enorme de cafá da manhã? Será que eu significava tanto assim pra ele?
- Ah, já chegou? – Rodrigo entrou no quarto de repente.
- Sim.
Eu cheguei a pensar que o certo seria devolver o presente, mas como já havia aberto a embalagem e comido uma maçã, acabei não resistindo e cedi a todas as guloseimas que estavam na minha frente.
- Que cestão, hein? – Rodrigo estava de costas, procurando alguma coisa no armário.
- É. Ainda estou meio incrédulo.
- Posso saber quem te deu?
- O Bruno – respondi depois de engolir o iogurte.
- Caramba. Ele gosta mesmo de você.
- Parece que sim, mas eu ainda tenho as minhas dúvidas.
- Talvez ele queira voltar – o garoto tirou a camiseta.
- É o que ele quer. Ele deixa isso bem claro no cartão.
- E você vai voltar?
- Não. Não sei. Acho que não...
- Hum... Já está em dúvida – ele deu uma risadinha.
- Ah, Rodrigo... Eu sinceramente não sei nem o que eu tenho que fazer agora.
- Que tal agradecer? É um bom começo.
- Sim, mas como? Por telefone ou pessoalmente?
- Vai ter como encontrá-lo hoje?
- Não.
- Então liga. Espera ele sair do serviço e liga. Dá uma chance pro cara, ele parece arrependido.
- Como é que você sabe?
- Pelo tamanho da cesta a gente deduz.
Foi como somar 2 + 2!
- Foi você que deu o endereço daqui né seu filho da mãe? – eu fiquei abismado.
- Eu? Tô fora. Sei de nada não!
Mas a fisionomia dele o condenou. Eu não tive dúvidas: o Rodrigo forneceu o nosso endereço pro Bruno mandar a cesta!
- Você não deveria ter feito isso!
- Quem tá dizendo é você – meu amigo tirou o corpo fora. – Eu não falei nada.
- Confessa logo de uma vez, eu sei que foi você!
- Qual é? Virou vidente agora?
- Não. Você se condena por si só!
Rodrigo suspirou.
- Eu não tive escolhas. Ele ficou me enchendo a paciência mais de um mês.
- Por que não me disse nada?
- Porque não queria estragar a surpresa!
- Filho da mãe... Não deveria ter feito isso! E se ele vier aqui?
- Se ele vier você vai atendê-lo com toda cortesia do mundo. Não vai?
- Não, não vou! Ele não é louco de pender pra esses lados!
- O que impede? Caio, por que não assume logo de uma vez que você tá doidinho pelo Bruno? É muito melhor!
- E quem disse que eu estou doidinho por ele?
- Você se condena tão fácil quanto eu, meu caro amigo! É só ouvir falar no nome dele que você fica com os olhinhos brilhando e fica todo bobão. Parece que entra no mundo da lua!
Eu senti vergonha. Será que era do jeito que ele falava mesmo? Será que eu era tão apaixonado pelo Bruno a ponto de demonstrar a torto e a direita que estava gostando dele?
- Não seja burro, cara – Rodrigo tirou a bermuda e colocou uma calça jeans. – Dê uma oportunidade pro cara e seja feliz!
- Tenho medo. E se ele me trair de novo?
- E se ele não te trair mais? E se vocês forem felizes? E se ele estiver mesmo arrependido?
- Você não está me ajudando, Rodrigo – eu reclamei. – Preciso de alguém que me ajude a pensar, você tá me deixando ainda mais confuso!
- Essa não é a minha intenção, mas eu estou sendo realista! Quem nunca errou nessa vida que atire a primeira pedra!
- Nisso você tem razão.
Sem mais nem menos a imagem da minha avó veio na minha cabeça. Ela sempre me falava que nós temos que dar uma segunda chance para todas as pessoas que erraram, por mais difícil que a situação seja.
- Eu não sei – falei depois de um tempo.
- Pensa aí no seu travesseiro. É o melhor que você tem a fazer. Sei que é bem difícil perdoar uma traição, mas pior seria ficar com essa incógnita na sua cabeça pro resto da vida. É você que vai ter que decidir!
- Eu vou ter que pensar muito no assunto.
- Faça isso, mas não o condene mais. O passado já passou. Segue em frente e tenta ser feliz, Caio. Você já tem problemas demais para se dar ao luxo de ter mais um. Busca sua felicidade, amigão!
- Vou pensar, Rodrigo. Eu prometo que vou pensar!
E foi aquilo mesmo que eu fiz. Não consegui parar de pensar no assunto até a hora de entrar em contato com ele.
Será que eu deveria dar uma nova oportunidade? E se eu me arrependesse depois? E se desse tudo errado de novo?
Quando tive a certeza que ele não estava mais na central, não hesitei e liguei logo de uma vez. Eu precisava agradecer.
- Oi – a voz dele parecia feliz. – É você mesmo?
- Oi, Bruno – eu suspirei e fechei meus olhos. Como era bom ouvir aquela voz de anjo. – Sim, sou eu.
- Que honra atender uma ligação sua! Tudo bem com o senhor?
- Seu bobo. Tudo bem sim e você?
- Agora está tudo ótimo!
- Eu estou ligando para te agradecer.
- Já recebeu?
- Já. É linda, mas não precisava se preocupar!
- Foi a forma que eu encontrei pra te mostrar o quanto eu te quero, menino!
Fiquei tímido com aquela afirmação.
- Eu nem sei o que te falar, sabe? – confessei. – Muito obrigado!
- Não fale nada. Aceite o meu pedido, só isso.
- Não é tão fácil assim, Bruno.
- Eu sei que não é. É por isso que eu estou te pedindo uma oportunidade pra te mostrar que eu mudei e que eu não vou mais errar com você. Só preciso de uma oportunidade!
- Eu vou pensar, tá bom?
- Promete? Promete que vai pensar mesmo?
- Prometo. Já estou pensando na verdade.
- Eu fico muito grato. Você é a pessoa mais importante da minha vida, Caio. Não esquece isso jamais!
- Você é importante pra mim também, Bruno!
- A gente pode se ver?
- Quando?
- Sei lá. Pode ser agora se você quiser.
- Adoraria. Adoraria mesmo, mas eu cheguei da escola e nem dormi porque precisava te ligar. Estou um caco.
- Faço ideia. Pode ser mais tarde então...
- Que horas?
- Que horas você vai pra academia com o Rodrigo?
- Às 21 – respondi.
- Hum... Esse horário eu estou na escola! E que horas vocês saem de lá?
- Às 23.
- Pode ser esse horário aí. Às 23 é perfeito pra mim.
- Mas eu preciso trabalhar, esqueceu?
- Não, não esqueci. Eu posso te fazer companhia até a empresa. O que acha?
- Não sei...
- Ah, Caio! Por favor?
- Tudo bem, mas só vamos conversar, tá bom?
- Sem problemas. Prometo que não vou insistir em nada.
- Tudo bem. Onde nos encontramos?
- Na academia, ué.
- Sabe onde fica?
- Sei. Eu malho lá também.
- Ah, é? Não sabia!
- Você nem liga mais pra mim! Não fala comigo na internet, não me procura mais... Como ia saber se você não fala direito comigo?
- Tenho os meus motivos – senti vergonha de novo.
- Motivos esses que nós iremos esquecer. Eu te prometo!
Fiquei sem resposta de novo.
- Caio?
- Oi? Tô aqui!
- Ficou calado!
- Pensando...
- Em mim?
- Convencido!
- É em mim ou não é?
Poderia ser diferente? Eu estava falando com ele, em quem ele achava que eu estava pensando?
- Óbvio que é em você, chato!
- Eu também penso em você! Todos os dias, todas as horas, todos os minutos, todos os segundos...
- Não exagera, por favor!
- É verdade! Eu não faço outra coisa a não ser pensar em você!
Se ele estivesse mentindo estava sendo um ótimo ator.
- Meus créditos vão acabar. A gente se fala hoje à noite então.
- Combinadíssimo. Vou ficar contando os minutos para te ver novamente.
- Eu também- não deveria ter falado, mas confessei. – Até mais tarde então e obrigado novamente.
- Por nada. Te adoro muito, Caio!
- Eu também, Bruno.
Não houve mais tempo para conversa. Meus créditos acabaram e eu coloquei o celular embaixo do travesseiro.
Será que era verdade o que ele estava me falando? Será que ele gostava mesmo de mim?
Eu deveria dar uma nova oportunidade ao Bruno? Eu deveria tentar namorar com ele novamente? E se desse errado? E se ele me traísse de novo?
Mas se fosse diferente? E se ele realmente estivesse arrependido? Talvez as coisas pudessem dar certo daquela vez...
Eram tantas perguntas sem respostas que a minha cabeça parecia que ia dar nó. Ainda não sabia o que fazer e ainda não sabia qual era a atitude correta. Somente o tempo ia me responder o que eu deveria fazer e qual ia ser o rumo da minha vida dali em diante. A única coisa que eu sabia é que eu só ia saber se ele estava mesmo arrependido se desse uma nova oportunidade.
Nosso namoro tinha durado só uma semana. Eu não tive tempo hábil de me aprofundar nas qualidades e defeitos do garoto de olhos azuis. Eu precisava entendê-lo de verdade. Precisava ouví-lo, ajudá-lo a superar os seus problemas...
Talvez eu estivesse disposto a tentar novamente, mas eu precisaria de mais provas de seu arrependimento. E não seria com presentinhos que ele ia me provar o que eu queria. Não mesmo.
Quando acordei por volta das 7 da noite, ainda estava me sentindo
muito cansado, mas eu precisava dar um jeito na montanha de roupas sujas que
estavam na lavanderia.
Levantei e senti as minhas pernas muito pesadas e doloridas. Seria um reflexo do treino da academia? Antes mesmo de chegar na cozinha, senti uma dor extremamente forte na minha barriga e não consegui mais me movimentar.
O que estava acontecendo? De repente, meu irmão tomou conta da minha mente e eu comecei a ficar preocupado.
A dor que eu estava sentindo passou de imediato e a minha preocupação só aumentou. Estava acontecendo alguma coisa com o Cauã. Eu tinha certeza que estava acontecendo alguma coisa com ele!
Aquele ditado que diz que um irmão gêmeo sente as dores físicas do outro não é nada mentiroso. Eu sempre sentia dor quando meu irmão estava doente e vice-versa, principalmente quando nós éramos crianças.
Nâo pensei duas vezes: tirei o telefone do gancho e disquei o número da minha casa. Tocou, tocou, tocou e ninguém atendia, até que...
- Alô? – a voz da minha mãe parecia preocupada.
- Mãe?
- Caio?
- Aconteceu alguma coisa com o Cauã?
- Caio, meu filho... – ela sempre começava a chorar quando ouvia a minha voz. – Você está bem, meu filho? Você está bem?
- Comigo está tudo ótimo! Eu quero saber se o Cauã está bem, mãe?!
- Sim ele está bem, por quê?
- Senti uma dor esquisita na barriga agora e pensei nele. Sabe aquelas coisas que a gente sentia quando era criança? Igualzinho...
- Meu filho, meu filho... Volta pra casa, Caio! Volta pra casa pelo amor de Deus.
- Isso é impossível. Não posso voltar.
- Volta, Caio! Eu estou ficando louca com você nessa cidade perigosa... Volta, filho...
- Não vou voltar. Prefiro ficar aqui do que ser humilhado pela minha família! Tem certeza que está tudo bem com o Cauã?
Eu era muito burro! Depois de tudo o que eles tinham feito, eu ainda tinha a capacidade de me preocupar!
- Sim filho... Por favor, volta... Volta pra sua casa...
- De jeito nenhum! Seu marido me mataria e eu não estou a fim de ir pro outro mundo agora. Eu liguei só pra saber do meu irmão. Não fale que eu liguei!
- Mas Caio...
- Eu preciso desligar mãe, a conta vai vir muito cara!
- Me dá seu telefone?
- Não. Eu volto a ligar qualquer dia desses. Passar bem!
- Caio...
Eu não esperei ela falar mais nada e coloquei o telefone no gancho. Foi um alívio saber que não estava acontecendo nada com o meu irmão gêmeo. Talvez tudo não tivesse passado de um alarme falso.
Coloquei minhas cuecas e meias dentro do tanque e comecei a lavá-las. Se eu demorasse mais um dia para executar aquela tarefa, ia ficar sem o que vestir.
Comecei a pensar no Bruno. Ele tinha sido tão fofo com aquele gesto da cesta de café da manhã...
Mas se ele pensava que ia me conquistar com aquele presentinho barato ele estava muito enganado!
Meus princípios falavam mais alto e eles me diziam que eu não deveria dar uma nova oportunidade ao garoto, mas por outro lado o meu coração gritava para que eu saísse correndo e caísse nos braços do meu amor...
O que eu deveria fazer???
Levantei e senti as minhas pernas muito pesadas e doloridas. Seria um reflexo do treino da academia? Antes mesmo de chegar na cozinha, senti uma dor extremamente forte na minha barriga e não consegui mais me movimentar.
O que estava acontecendo? De repente, meu irmão tomou conta da minha mente e eu comecei a ficar preocupado.
A dor que eu estava sentindo passou de imediato e a minha preocupação só aumentou. Estava acontecendo alguma coisa com o Cauã. Eu tinha certeza que estava acontecendo alguma coisa com ele!
Aquele ditado que diz que um irmão gêmeo sente as dores físicas do outro não é nada mentiroso. Eu sempre sentia dor quando meu irmão estava doente e vice-versa, principalmente quando nós éramos crianças.
Nâo pensei duas vezes: tirei o telefone do gancho e disquei o número da minha casa. Tocou, tocou, tocou e ninguém atendia, até que...
- Alô? – a voz da minha mãe parecia preocupada.
- Mãe?
- Caio?
- Aconteceu alguma coisa com o Cauã?
- Caio, meu filho... – ela sempre começava a chorar quando ouvia a minha voz. – Você está bem, meu filho? Você está bem?
- Comigo está tudo ótimo! Eu quero saber se o Cauã está bem, mãe?!
- Sim ele está bem, por quê?
- Senti uma dor esquisita na barriga agora e pensei nele. Sabe aquelas coisas que a gente sentia quando era criança? Igualzinho...
- Meu filho, meu filho... Volta pra casa, Caio! Volta pra casa pelo amor de Deus.
- Isso é impossível. Não posso voltar.
- Volta, Caio! Eu estou ficando louca com você nessa cidade perigosa... Volta, filho...
- Não vou voltar. Prefiro ficar aqui do que ser humilhado pela minha família! Tem certeza que está tudo bem com o Cauã?
Eu era muito burro! Depois de tudo o que eles tinham feito, eu ainda tinha a capacidade de me preocupar!
- Sim filho... Por favor, volta... Volta pra sua casa...
- De jeito nenhum! Seu marido me mataria e eu não estou a fim de ir pro outro mundo agora. Eu liguei só pra saber do meu irmão. Não fale que eu liguei!
- Mas Caio...
- Eu preciso desligar mãe, a conta vai vir muito cara!
- Me dá seu telefone?
- Não. Eu volto a ligar qualquer dia desses. Passar bem!
- Caio...
Eu não esperei ela falar mais nada e coloquei o telefone no gancho. Foi um alívio saber que não estava acontecendo nada com o meu irmão gêmeo. Talvez tudo não tivesse passado de um alarme falso.
Coloquei minhas cuecas e meias dentro do tanque e comecei a lavá-las. Se eu demorasse mais um dia para executar aquela tarefa, ia ficar sem o que vestir.
Comecei a pensar no Bruno. Ele tinha sido tão fofo com aquele gesto da cesta de café da manhã...
Mas se ele pensava que ia me conquistar com aquele presentinho barato ele estava muito enganado!
Meus princípios falavam mais alto e eles me diziam que eu não deveria dar uma nova oportunidade ao garoto, mas por outro lado o meu coração gritava para que eu saísse correndo e caísse nos braços do meu amor...
O que eu deveria fazer???
- E aí, pensou? – ele perguntou.
- Pensei muito, Rodrigo.
- Ligou pra ele?
- Sim. Ele vai vir me buscar aqui na academia às 23:00.
- Ah, é? – ele sorriu. – Isso significa que...
- Significa que eu vou conversar com o Bruno. Só isso. E mudemos de assunto!
- Tá, tudo bem. Eu, hein!
- Como foi o trampo?
- Mesma merda de sempre. Entraram novos operadores.
- E a Màrcia?
- Bem.
- Michel?
- Bem também.
- Mande lembranças aos dois.
- Mandarei. Será que o Felipe mudou nosso treino?
- É o que nós vamos saber agora!
Depois de trocados, descemos e fomos ao encontro do gostosão. Toda vez que ele estava com uma camiseta branca eu ficava enlouquecido de tanto tesão.
- Não, não mudei, mas já está na hora – ele falou. – Na segunda eu faço isso. Podem começar!
Quase não consegui me concentrar no treino. De 5 em 5 minutos eu olhava pro relógio e contava quanto tempo faltava para me encontrar com ele...
- Calma, agora falta pouco – meu amigo deu risada.
- Não aguento mais esperar...
A ansiedade era tanta que eu já estava até pensando em como ele estaria vestido. Ele sempre sabia fazer as combinações perfeitas e sempre arrasava no visual. Eu estava louco para vê-lo novamente...
- Façam a aula de bike e depois podem ir embora – Felipe anunciou.
- Hoje não tem agachamento? – os olhos do Rodrigo brilharam.
- Hoje não. Podem ir para a aula de bike. Vai ser uma hora. Dá tempo, né?
- Não – eu me entusiasmei. – Preciso sair daqui há pouco.
- Então façam meia hora, mas façam. É importante!
- Tudo bem – Rodrigo me empurrou. – A gente faz a meia hora.
- Isso aí. Depois eu vou perguntar para a professora se vocês estavam presentes.
Nós não cabulamos a aula, mas nos arrependemos. Eu preferia fazer 15 séries de agachamento ao invés de ficar naquela aula enormemente cansativa.
- Pausa para água – disse a personal. – 5 minutos de descanso.
- 5 minutos é o caralho – Rodrigo reclamou. – Eu vou é pra casa!
- E eu vou encontrar o Bruno!
Dei um pulo da bicicleta e rumei para o vestiário. Quando entrei, tirei a minha roupa rapidamente e me joguei embaixo do chuveiro quente. Foi muito bom sentir o suor descer ralo abaixo.
- Pensei muito, Rodrigo.
- Ligou pra ele?
- Sim. Ele vai vir me buscar aqui na academia às 23:00.
- Ah, é? – ele sorriu. – Isso significa que...
- Significa que eu vou conversar com o Bruno. Só isso. E mudemos de assunto!
- Tá, tudo bem. Eu, hein!
- Como foi o trampo?
- Mesma merda de sempre. Entraram novos operadores.
- E a Màrcia?
- Bem.
- Michel?
- Bem também.
- Mande lembranças aos dois.
- Mandarei. Será que o Felipe mudou nosso treino?
- É o que nós vamos saber agora!
Depois de trocados, descemos e fomos ao encontro do gostosão. Toda vez que ele estava com uma camiseta branca eu ficava enlouquecido de tanto tesão.
- Não, não mudei, mas já está na hora – ele falou. – Na segunda eu faço isso. Podem começar!
Quase não consegui me concentrar no treino. De 5 em 5 minutos eu olhava pro relógio e contava quanto tempo faltava para me encontrar com ele...
- Calma, agora falta pouco – meu amigo deu risada.
- Não aguento mais esperar...
A ansiedade era tanta que eu já estava até pensando em como ele estaria vestido. Ele sempre sabia fazer as combinações perfeitas e sempre arrasava no visual. Eu estava louco para vê-lo novamente...
- Façam a aula de bike e depois podem ir embora – Felipe anunciou.
- Hoje não tem agachamento? – os olhos do Rodrigo brilharam.
- Hoje não. Podem ir para a aula de bike. Vai ser uma hora. Dá tempo, né?
- Não – eu me entusiasmei. – Preciso sair daqui há pouco.
- Então façam meia hora, mas façam. É importante!
- Tudo bem – Rodrigo me empurrou. – A gente faz a meia hora.
- Isso aí. Depois eu vou perguntar para a professora se vocês estavam presentes.
Nós não cabulamos a aula, mas nos arrependemos. Eu preferia fazer 15 séries de agachamento ao invés de ficar naquela aula enormemente cansativa.
- Pausa para água – disse a personal. – 5 minutos de descanso.
- 5 minutos é o caralho – Rodrigo reclamou. – Eu vou é pra casa!
- E eu vou encontrar o Bruno!
Dei um pulo da bicicleta e rumei para o vestiário. Quando entrei, tirei a minha roupa rapidamente e me joguei embaixo do chuveiro quente. Foi muito bom sentir o suor descer ralo abaixo.
Quando eu desci, meus olhos foram logo de encontro aos dele.
Bruno estava lindo demais. Era a primeira vez que eu o via de boné pra trás. O garoto estava usando uma calça jeans de marca, tênis branco e camiseta cor de rosa. Um gato!
- Até amanhã, parceiro – Rodrigo deu um aperto no meu ombro. – Boa sorte.
- Valeu, cara.
Ele cumprimentou o Bruno e em seguida, eu fui ao seu encontro. A cada passo que eu dava, meu coração batia mais forte.
- Oi – falei timidamente.
Nossos olhos eram novamente dois ímãs que se atraíam sem parar. Nem ele, nem eu piscamos por um longo período de tempo.
- OI – falou finalmente.
Não me segurei e o abracei. Os braços da minha Bitch envolveram o meu corpo e eu senti um cheiro gostoso de perfume. Um perfume que eu não conhecia.
- Que saudade – ele falou baixinho.
- Eu também!
Não pudemos ficar parados por muito tempo senão eu ia acabar me atrasando, então a gente começou a andar, mas muito vagarosamente.
- Tudo bem? – ele perguntou.
- Sim e com você?
- Melhorando aos poucos. Já me acostumei com a minha realidade.
- Você diz com relação aos problemas da sua casa, não?
- Isso – ele confirmou. – Nada melhor que o tempo para corrigir as coisas, né?
- Verdade.
- Então, você gostou do meu presente?
- Amei! – respondi. – Não precisava ter se incomodado.
- Não foi incômodo algum. Foi a maneira que eu achei de falar que eu estou vivo, já que você sumiu do nada.
- Ah, Bruno... Não é questão de ter sumido... É que os últimos acontecimentos me abalaram bastante.
- Pode ter certeza que me abalaram muito mais. Ou você pensa que é fácil descobrir que seu pai adotivo é seu irmão de sangue e descobrir que seu ex-namorado tem AIDS e que você pode estar contaminado?
- Nessa última parte eu sei bem o que você sentiu, afinal senti a mesma preocupação na pele. Nem dormi direito.
- Somos dois, mas graças a Deus deu tudo certo. O Igor é passado, deixa ele pra trás. Vamos pensar em nós!
Engoli em seco. Pensar em nós dois? Será?
- Não sei – fui bem sincero. – Ainda não sei.
- Vou respeitar seu limite e seu tempo, Caio. Você sabe que eu quero ficar com você e que estou mais do que arrependido. Sabe também que eu não tenho tanta culpa nessa história, mas enfim...
- Tem culpa sim senhor! Não vem que não tem!
- Vamos deixar o passado para trás? – ele repetiu. – Quero pensar no meu presente e planejar o meu futuro!
Pensar no presente e planejar o futuro era o que eu sempre pregava, mas nem sempre era fácil deixar as coisas que passaram ficar lá atrás. Muitas vezes elas sempre voltavam à tona no momento em que a gente menos esperava...
- Uhum – concordei por fim.
- Me deixa te fazer feliz, Caio? Por favor?
- É o que eu mais quero, Bi.
- Então por que não me dá uma nova oportunidade?
- Porque tenho muito medo. Muito medo mesmo.
- Medo de quê?
- Você sabe!
- Cara, eu não vou te trair mais! Eu prometo! Juro por Deus!
- Não sei. Eu ainda não estou seguro dos seus sentimentos.
- O que quer que eu faça? Eu faço qualquer coisa para te provar que eu te amo!
- Fala baixo, garoto!
A rua estava movimentada.
- Não tô nem aí! Quero que o mundo saiba que você é o amor da minha vida e que eu estou perdidamente apaixonado por você!
Nunca imaginei que ele seria capaz de fazer uma declaração daquelas.
- 1º de abril é só amanhã, Bruno – quis quebrar o gelo, mas ele não gostou.
- Acha que eu estou mentindo? Acha que eu seria capaz de te enganar?
- Calma, é brincadeira!
- Eu não estou brincando quando digo que te amo, Caio!
- Eu também não. Gosto de você desde o primeiro instante em que nossos olhos se cruzaram.
- Eu também! Eu também! Foi amor à primeira vista...
- Mas...
- Mas o quê? Não seja chato e nos dê uma nova chance, por favor?!
- Não sei, Bruno. Eu ainda não sei.
- Quer um prazo para pensar?
- Quero!
- Quanto tempo?
- Uma semana. Pode ser?
- Muito tempo, mas tudo bem. Eu vou te reconquistar, você vai ver!
Ele não tinha me conquistado antes. Eu já estava caídinho por ele há muito tempo e não foi preciso muita coisa para aceitar ficar com aquele garoto.
- Você é especial demais para mim – ele falou em seguida. – E eu não consigo parar de pensar em você um segundo sequer. Nunca senti isso antes. Por ninguém!
- Para de mentir, vai?
- Juro por tudo que há de mais sagrado! Eu nunca gostei tanto de alguém como eu gosto de você.
- Você é meu primeiro amor – eu falei baixinho. – Nunca senti nada assim também.
- Então? Vamos viver esse amor?
Fiquei calado. Nós já havíamos chegado na porta da empresa e eu tinha que subir, mas queria ficar ao lado dele mais um tempo.
Percebendo que eu não conseguia responder, ele falou:
- Você precisa subir?
- Daqui 5 minutos – eu falei.
Ainda tinha um tempinho para ficar com ele, mas era muito pouco.
- Então vem comigo!
Ele me puxou pelo braço e eu não sabia onde ele ia me levar.
- Onde você está me levando?
- Você já vai ver!
Ele me levou até a rua que ficava atrás do prédio onde nós trabalhávamos. Era um lugar escuro e sombrio que me deixou amedrontado.
- Pode ser perigoso...
- Não fala nada.
Ele me empurrou contra um poste e me deu um abraço bem forte. O perfume que ele estava usando entrou novamente pelas minhas narinas e me embriagou completamente. Que fragrância deliciosa!
- Volta pra mim, amor? – a vozinha dele estava suplicante.
Eu fiquei fitando aqueles olhos azuis que eu tanto gostava. Eles estavam sendo sinceros e verdadeiros. Uma vontade imensa de beijá-lo tomou conta de mim, mas eu me controlei.
Eu não poderia fazer aquilo no meio da rua...
- Volta pra mim, amor? – ele pediu de novo.
Eu não sabia se era certo, mas estava extremamente balançado.
Por um lado eu queria ficar com o Bruno, por outro pensava que aquilo não ia dar certo...
- Volta, por favor? – ele perguntou com a voz embargada de choro.
Bruno estava lindo demais. Era a primeira vez que eu o via de boné pra trás. O garoto estava usando uma calça jeans de marca, tênis branco e camiseta cor de rosa. Um gato!
- Até amanhã, parceiro – Rodrigo deu um aperto no meu ombro. – Boa sorte.
- Valeu, cara.
Ele cumprimentou o Bruno e em seguida, eu fui ao seu encontro. A cada passo que eu dava, meu coração batia mais forte.
- Oi – falei timidamente.
Nossos olhos eram novamente dois ímãs que se atraíam sem parar. Nem ele, nem eu piscamos por um longo período de tempo.
- OI – falou finalmente.
Não me segurei e o abracei. Os braços da minha Bitch envolveram o meu corpo e eu senti um cheiro gostoso de perfume. Um perfume que eu não conhecia.
- Que saudade – ele falou baixinho.
- Eu também!
Não pudemos ficar parados por muito tempo senão eu ia acabar me atrasando, então a gente começou a andar, mas muito vagarosamente.
- Tudo bem? – ele perguntou.
- Sim e com você?
- Melhorando aos poucos. Já me acostumei com a minha realidade.
- Você diz com relação aos problemas da sua casa, não?
- Isso – ele confirmou. – Nada melhor que o tempo para corrigir as coisas, né?
- Verdade.
- Então, você gostou do meu presente?
- Amei! – respondi. – Não precisava ter se incomodado.
- Não foi incômodo algum. Foi a maneira que eu achei de falar que eu estou vivo, já que você sumiu do nada.
- Ah, Bruno... Não é questão de ter sumido... É que os últimos acontecimentos me abalaram bastante.
- Pode ter certeza que me abalaram muito mais. Ou você pensa que é fácil descobrir que seu pai adotivo é seu irmão de sangue e descobrir que seu ex-namorado tem AIDS e que você pode estar contaminado?
- Nessa última parte eu sei bem o que você sentiu, afinal senti a mesma preocupação na pele. Nem dormi direito.
- Somos dois, mas graças a Deus deu tudo certo. O Igor é passado, deixa ele pra trás. Vamos pensar em nós!
Engoli em seco. Pensar em nós dois? Será?
- Não sei – fui bem sincero. – Ainda não sei.
- Vou respeitar seu limite e seu tempo, Caio. Você sabe que eu quero ficar com você e que estou mais do que arrependido. Sabe também que eu não tenho tanta culpa nessa história, mas enfim...
- Tem culpa sim senhor! Não vem que não tem!
- Vamos deixar o passado para trás? – ele repetiu. – Quero pensar no meu presente e planejar o meu futuro!
Pensar no presente e planejar o futuro era o que eu sempre pregava, mas nem sempre era fácil deixar as coisas que passaram ficar lá atrás. Muitas vezes elas sempre voltavam à tona no momento em que a gente menos esperava...
- Uhum – concordei por fim.
- Me deixa te fazer feliz, Caio? Por favor?
- É o que eu mais quero, Bi.
- Então por que não me dá uma nova oportunidade?
- Porque tenho muito medo. Muito medo mesmo.
- Medo de quê?
- Você sabe!
- Cara, eu não vou te trair mais! Eu prometo! Juro por Deus!
- Não sei. Eu ainda não estou seguro dos seus sentimentos.
- O que quer que eu faça? Eu faço qualquer coisa para te provar que eu te amo!
- Fala baixo, garoto!
A rua estava movimentada.
- Não tô nem aí! Quero que o mundo saiba que você é o amor da minha vida e que eu estou perdidamente apaixonado por você!
Nunca imaginei que ele seria capaz de fazer uma declaração daquelas.
- 1º de abril é só amanhã, Bruno – quis quebrar o gelo, mas ele não gostou.
- Acha que eu estou mentindo? Acha que eu seria capaz de te enganar?
- Calma, é brincadeira!
- Eu não estou brincando quando digo que te amo, Caio!
- Eu também não. Gosto de você desde o primeiro instante em que nossos olhos se cruzaram.
- Eu também! Eu também! Foi amor à primeira vista...
- Mas...
- Mas o quê? Não seja chato e nos dê uma nova chance, por favor?!
- Não sei, Bruno. Eu ainda não sei.
- Quer um prazo para pensar?
- Quero!
- Quanto tempo?
- Uma semana. Pode ser?
- Muito tempo, mas tudo bem. Eu vou te reconquistar, você vai ver!
Ele não tinha me conquistado antes. Eu já estava caídinho por ele há muito tempo e não foi preciso muita coisa para aceitar ficar com aquele garoto.
- Você é especial demais para mim – ele falou em seguida. – E eu não consigo parar de pensar em você um segundo sequer. Nunca senti isso antes. Por ninguém!
- Para de mentir, vai?
- Juro por tudo que há de mais sagrado! Eu nunca gostei tanto de alguém como eu gosto de você.
- Você é meu primeiro amor – eu falei baixinho. – Nunca senti nada assim também.
- Então? Vamos viver esse amor?
Fiquei calado. Nós já havíamos chegado na porta da empresa e eu tinha que subir, mas queria ficar ao lado dele mais um tempo.
Percebendo que eu não conseguia responder, ele falou:
- Você precisa subir?
- Daqui 5 minutos – eu falei.
Ainda tinha um tempinho para ficar com ele, mas era muito pouco.
- Então vem comigo!
Ele me puxou pelo braço e eu não sabia onde ele ia me levar.
- Onde você está me levando?
- Você já vai ver!
Ele me levou até a rua que ficava atrás do prédio onde nós trabalhávamos. Era um lugar escuro e sombrio que me deixou amedrontado.
- Pode ser perigoso...
- Não fala nada.
Ele me empurrou contra um poste e me deu um abraço bem forte. O perfume que ele estava usando entrou novamente pelas minhas narinas e me embriagou completamente. Que fragrância deliciosa!
- Volta pra mim, amor? – a vozinha dele estava suplicante.
Eu fiquei fitando aqueles olhos azuis que eu tanto gostava. Eles estavam sendo sinceros e verdadeiros. Uma vontade imensa de beijá-lo tomou conta de mim, mas eu me controlei.
Eu não poderia fazer aquilo no meio da rua...
- Volta pra mim, amor? – ele pediu de novo.
Eu não sabia se era certo, mas estava extremamente balançado.
Por um lado eu queria ficar com o Bruno, por outro pensava que aquilo não ia dar certo...
- Volta, por favor? – ele perguntou com a voz embargada de choro.
Nenhum comentário:
Postar um comentário