segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

Capítulo 50

R
odrigo só podia estar louco!
- Como assim em 2 horas? – eu fiquei sem saber o que fazer.
- 2 horas – meu amigo repetiu. – E eu acho bom você se apressar senão a gente vai chegar atrasado no aeroporto!

- Meu, você só pode estar doido! Nem me pergunta se eu quero ir e vai comprando uma passagem assim do nada?
- Você não tem que querer nada, Caio. Já comprei e agora você vai e não se fala mais nisso! Vai arrumar as suas malas, por favor!
- Nâo vou não. Eu não quero ir e você não pode me obrigar.
- Não vai? Tudo bem, eu arrumo então.
Ele me deixou falando sozinho e foi até o nosso quarto.
- Espera aí, Rodrigo...
- Não quero nem saber – ele estava com a voz totalmente autoritária. – Você vai e eu não vou falar mais nisso.
- Não gostei disso. Não gostei mesmo! Acho que eu tenho direito de escolher aonde quero ir e com quem quero ir... Você não pode simplesmente tomar uma decisão dessas por mim.
- Nas circunstâncias atuais você não tem muita escolha, mano. Ou você acha que vai ficar aqui nessa casa, sozinho, sem nenhum amigo, sem nenhuma companhia, sem nenhum familiar...? De jeito nenhum. Eu só quero te ajudar, já parou pra pensar nisso?
Eu estava bravo e não parei pra pensar em nada. Ele não tinha o direito de decidir por mim, não tinha!
- Ficou calado, né? – Rodrigo riu. – Vai tomar um banho, se arrumar e para de ser criança. Você vai adorar a minha cidade!
Contra a minha vontade, separei uma roupa qualquer e fui até o banheiro para tomar banho. Enquanto lavava o meu corpo, pesei os prós e os contras daquela viagem de última hora e acabei ficando um pouco menos reativo. Ele não estava totalmente errado, mas poderia ter me consultado primeiro.
Antes de sair, nós desligamos a água e a eletricidade e verificamos se estava tudo em ordem pela república. Eu não sabia quantos dias iríamos ficar longe daquele lugar.
- Quantos dias vamos ficar lá? – perguntei com a voz um pouco rabugenta.
- No mínimo 20.
- VINTE? – me espantei. – Tá doido?
- O que você acha? Acha que eu vou perder a oportunidade de ficar perto da minha família?
Não respondi nada. Se antes eu já não queria ir, à partir daquele momento eu senti vontade de desfazer aquela mala e me enfurnar dentro do meu quarto para não sair de lá tão cedo.
- Vamos? – ele perguntou.
- Não quero, mas não tenho escolha mesmo.
- Para de reclamar, hein? Para de reclamar! Pegou seus remédios?
- Não.
- Isso! Parabéns! Como é que o tratamento vai dar certo desse jeito? Onde eles estão?
Revirei meus olhos, respirei bem fundo e disse:
- No criado mudo do nosso quarto, Rodrigo. No criado mudo!

Ele andou rapidamente até os nossos aposentos e voltou com a sacola dos remédios em mãos.
- Agora sim, vamos! Já estamos um pouco atrasados.
Assim que coloquei os meus pés na calçada foi que parei para pensar. Como ele poderia viajar? E como ficaria no trabalho?
- Estou de férias, Caio – ele me contou.
- Desde quando? – me surpreendi.
- Desde hoje.
- Não sabia. Você não me falou nada.
- E você conversa comigo por acaso? Vive trancado no quarto, não quer saber de ninguém!

- Já falei que tenho meus motivos.
- Isso é bem relativo, né?
- Julgar é fácil, né? Queria ver se você estivesse no meu lugar.
- Se eu estivesse no seu lugar, já teria superado, dado a volta por cima e provavelmente já estaria com outra pessoa.
- Duvido!
- Não duvide, porque eu não costumo viver de passado, ao contrário de você.
- Hoje você está insuportável, Rodrigo – fechei a cara. – Insuportável!
- Só estou falando a verdade. Não vou passar a mão na sua cabeça, por mais que você seja meu amigo.
- Nem sei porquê você quer me levar nessa viagem. Eu não sou uma boa companhia mesmo.
- Não se faça de vítima, pelo amor de Deus. Odeio pessoas que se fazem de coitadinhas.
- Então por que você tá me levando? Me deixa ficar aqui, vai ser muito melhor!
- Porque eu... eu prefiro ouvir seus resmungos o mês todo ao invés de te ver dentro de um caixão! Seu idiota, nunca que eu ia te deixar sozinho aqui nessa cidade! Eu não sou louco!
Fiquei calado. Eu não sabia se ele estava sendo bonzinho demais comigo, ou se fez aquilo por piedade. 


- Táxi? – meu amigo esticou o braço e o carro reduziu a velocidade até parar.
- Vamos de táxi? – perguntei.
- Prefere ir a pé? – ele parecia estressado.
- Desculpa. Só foi um comentário.
- Aeroporto, por favor – ele disse ao motorista.
Foi a primeira vez que eu coloquei meus pés dentro de um avião.

Quando a aeronave decolou, eu senti uma adrenalina enorme. Foi uma das melhores sensações que eu já havia sentido em toda a minha vida.
- Nunca andou de avião, né? – ele perguntou.
- Não. Muito da hora.
- Pode crer.
O melhor de tudo foi ver as nuvens ao nosso lado. Pareciam novelos de algodão. Tive vontade de tocá-las. O que aconteceria se os vidros do avião pudessem ser abertos?
- Você simplesmente morreria – ele caiu na gargalhada.
- Ah, é? E como eu faço pra abrir? – brinquei.
- Idiota – ele ficou sério na hora.
- Calma, é só brincadeira – tentei me justificar.
- Já ouviu falar que toda brincadeira tem um fundo de verdade?
Mas não era verdade. Será que ele não percebia que eu estava totalmente arrependido de ter tentado cometer suicídio?
- É brincadeira sim!
- Acho bom.
Meu amigo estava tão autoritário comigo naqueles últimos tempos que parecia até meu pai ou irmão mais velho.
- Taí. Seu irmão mais velho. É assim que eu me sinto – Rodrigo explicou.
- Hum – resmunguei.
Irmão mais velho. Bem que poderia ser verdade. Meu irmão nunca faria o que o Rodrigo estava fazendo por mim. Nunca mesmo!
Não tive nem tempo de curtir a minha adrenalina. Quando o negócio começou a ficar bom, o avião começou a descer e pousou muito rapidamente.
- Que rápido – fiquei chateado.
- Pois é. Essa é a vantagem de viajar de avião.



Eu olhei por todos os lados. Era muito esquisito estar em uma cidade totalmente desconhecida. Lembrei do meu primeiro dia no Rio de Janeiro.
- Agora nós vamos pegar um ônibus.
- Que ônibus?
- Um ônibus que vai levar a gente até a minha casa, oras.
- E fica longe daqui?
- Um pouco. Uma meia hora, 40 minutos dentro do busão.
- Seus pais sabem que eu estou com você?
- Eles não sabem nem que eu estou aqui!
- Como não?
- Quero fazer uma surpresa.
Ele foi andando e eu fui seguindo. Curitiba era totalmente diferente do Rio e de São Paulo, mas eu não sabia explicar o que as diferenciava.
- Só esperar o ônibus agora – ele colocou a mala no chão e estalou os dedos.

- Não queria estar aqui – reclamei.
- É? Mas você está, reclamão! Agora aproveita. Tenho certeza que você vai adorar.
Quando menos esperei, ele esticou o braço feito um desesperado. Um ônibus parou à nossa frente e a gente entrou.

- Rodrigo? – o cobrador arregalou os olhos.
- Puta, não acredito que é você!
O cobrador deu um pulo da cadeira onde estava e deu um abraço bem forte no meu amigo. Eu fiquei me perguntando quem seria aquele cara.
- Não acredito que você está aqui! – disse o rapaz de aparência comum.
- Cheguei hoje. Não falei para ninguém porque quis fazer surpresa!
- A tia vai ter um troço!
- Vai mesmo – ele riu.
Só depois de 5 minutos o Rodrigo lembrou que eu estava atrás dele.
- Ah, deixa eu te apresentar! Esse é o Caio, meu amigo que mora comigo lá no Rio.
- Beleza? – o carinha esticou a mão.
- Beleza – respondi, sem entender nada.
- Caio, esse é o Eric, meu primo.
- Hum. Entendi.
Eles ficaram conversando sem parar. O cobrador deixou meu amigo a par de tudo o que havia acontecido naquele ano que ele ficou longe de casa e cerca de meia hora depois, ele pediu parada.
- Cola lá em casa depois pra gente trocar ideia, beleza?
- Pode deixar – Eric sorriu. – Bom te ver, primo.
- Digo o mesmo. Até mais!
- Até.


A gente desceu e eu me senti totalmente perdido e sem saber o que fazer.
- Minha casa fica na rua de trás, Caio. Vem comigo!
Nós andamos por uma ruazinha extremamente tranquila e rapidamente dobramos a esquina. Curitiba parecia ser uma cidade bem calma, ou será que era impressão minha?
- É aquela casa lilás ali, tá vendo?
Não era uma casa. Era um baita de um sobrado!
- Que casarão, Rodrigo!
- Que nada, é só aparência – ele riu. – Ah, como é bom estar em casa!
Ele parecia bem feliz e era de se esperar que estivesse mesmo. Eu também iria me sentir muito feliz se estivesse voltando pra casa.
- Não fala nada, por favor – ele abaixou o tom de voz. – Quero fazer uma surpresa pra minha mãe.
- Pode deixar.
Eu confesso que me senti um intruso. Seria bem melhor que ele não tivesse me levado para aquela viagem de última hora.

Rodrigo abriu o portão bem devagar. Só pelo tamanho da garagem, eu tive uma dimensão do tamanho daquele sobrado. Acho que eu não estava enganado, a casa deveria ser imensa mesmo.
Assim que ele abriu a porta, demos de cara com uma mulher que aparentava ser muito jovem. Ela estava extremamente arrumada e maquiada. Com toda certeza iria sair de casa.

- Rodrigo? – ela também arregalou os olhos e abriu os lábios.
- Oi, mãe – ele abriu um sorriso enorme.
- É você mesmo, filho? – os olhos dela já ficaram cheios de lágrimas.
- Ué, acho que sim, né? – ele riu.
Senti uma pontada de inveja do abraço que eles deram. Como eu queria que a minha mãe me abraçasse daquele jeito...

- Por que não disse que viria, seu desnaturado? – ela beijou muitas vezes a bochecha do menino.
- Quis fazer uma surpresa, mãe.
Se eu pudesse, teria cavado um buraco e desaparecido. Eles nem perceberam a minha presença e eu não soube o que fazer, nem como reagir.
- Que saudade – ela suspirou. – Que saudade!
- Eu também, mãe. Ah, deixa eu te apresentar o meu amigo! Esse é o Caio. Lembra que falei dele para você?
- Ah, sim! Como vai, Caio? – ela se aproximou e me deu um beijo no rosto.
- Bem.
- Trouxe ele para passar as férias aqui, mãe.
- Tudo bem, amor. Seja bem-vindo, Caio. Sinta-se em casa!
- Obrigado. Não queria vir, mas ele insistiu muito.
- Que nada, fica tranquilo – ela tentou ser receptiva.
- O pai está trabalhando, né?
- Sim, mas me conta! Como você está? Como foram as provas? Como está sendo no trabalho? Já tem namorada? E o calor do Rio? É quente mesmo? A cidade é muito perigosa? Não aconteceu nada com você não, né...?
- Respira, mãe – ele caiu na gargalhada. – Uma pergunta de cada vez!
A mulher e o filho ficaram conversando por horas e nem me deram atenção. Definitivamente, eu não deveria ter ido viajar com meu amigo. Eu tinha certeza que iria ficar jogado em um canto durante todas aquelas férias e ia me sentir ainda mais sozinho.
Seria muito melhor que eu tivesse ficado no Rio de Janeiro. Pelo menos lá eu saberia andar e em Curitiba, eu seria refém do Rodrigo.
Não, não foi uma boa ideia ter aceitado aquela imposição. Eu tinha que dar um jeito de voltar para o Rio de Janeiro. Eu tinha que dar um jeito de voltar para a república, para ficar sozinho com a minha dor e com a minha depressão, mas como eu ia fazer aquilo???

15 comentários:

Anônimo disse...

Se o Caio voltar pro Rio tem que tomar no c*,mesmo.

Cartas não entregues à você disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Anônimo disse...

Não curti nada isso do capítulo estar menor, pode aumentar isso ae UAHUhauahuahA
Abraço,
Gerfried

Cintia Centeno disse...

Continua logo meu anjo...to ansiosa querendo saber o que vai acontecer...

Anônimo disse...

Amando o conto querendo saber o q vai rolar,caio e rafa parceria incrível no blog

Boylikeme

Anônimo disse...

Muito lindo seu conto, mais acho que ta ficando dramático demais, me desculpa, mais ta igual aquelas novelas mexicanas

Anônimo disse...

Acho que o Caio vai acabar ficando com o Rodrigo

Anônimo disse...

Nao acho q o conto esteja parecendo novela mexicana,afinal e a historia dele ,se todo mundo parar pra contar sua vida vai chegar um momento q vai parecer "novela mexicana",pq como na vida temos momentos de alegria,tristeza,drama,dor,felicidade e prazer
Amando o conto caio continue logo please

Brit_lovesex

Anônimo disse...

Precisando de mais.....

Anônimo disse...

Gnt acho q rodrigo fica com caio ,ficam tão fofos juntos
Sinto que caio ira aprontar em Curitiba



Tem whats?

Anônimo disse...

Ai meu deus rodrigo e caio se peguem logo façam swing com o vini ui

Anônimo disse...

Caio nao pense em abandonar a gnt por causa de uns chatos q acha q esta parecendo novela mexicana nao hein



Eric-dean

Anônimo disse...

Caio ,q coisa horrível esse negocio de depressão supere isso em moço!!!!

Anônimo disse...

bom, resolvi fazer um comentário para o presente conto e o anterior. o Rodrigo está se mostrando realmente que é um fofo, um amigo de verdade. cada conto que leio gosto mais ainda dele. Caio, eu entendo o que é se sentir deslocado. kkkkk. todos os lugares que eu vou eu me sinto assim. aaa. coisa de cegos... você não entende. mas supere, você é forte, um guerreiro, campeão, um vencedor! já te disse isso mas quero tornar publicamente isso. aguardo o próximo capítulo, e estou tomando a liberdade de guardar esta história linda no meu computador... com os devidos Direitos autorais reconhecidos, claro! abraço a você, Caio, a você, Rafael, e a todos os leitores!
Talles Augusto S. de Lima

Anônimo disse...

*_lukka_*


Oi Caio, eu quero saber quando você vai contar o que ouve com o Bruno, coitado eu tenho certeza que foi o "pai(irmão)" do Bruno que fez ele viajar pra outro país só pra afastar o Bruno do amor dele.

Eu amo os seu conto amo muito.
Caio sei que muita gente quer que VC fique com o Rodrigo mais um amor assim nao acaba de uma hora pra outra

Bjs pra você caio ansioso pelo próximo