sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

Capítulo 32

S
erá que ele estava falando sério ou estava só me testando pra ver até onde eu ia?
Mesmo estando muito nervoso e amedrontado, eu tive que pensar rápido para sair por cima naquela história, afinal ele não podia desconfiar da minha verdadeira opção sexual.
- Agora não – tentei não transparecer o meu nervosismo e dei um sorriso amarelo. – Na verdade eu quero outra coisa.
Ele correspondeu ao meu sorriso e entrou na minha conversa.
- O que você precisa?
- De um guarda-chuva. Isso é, se você puder parar o que estava fazendo para me ajudar, é claro.
- Você viu o que eu estava fazendo, né safado?
- Pois é, ninguém mandou você não fechar a porta – eu estava tremendo de medo. Será que ele tinha percebido o meu interesse?
- Eu te empresto o guarda-chuva se você me ajudar a terminar o que comecei – ele deu um sorrisinho safado.
- Não obrigado – respondi rindo. – Prefiro me molhar.
Ele continuou com aquele sorriso safado e apertou o cacete por dentro da cueca. Mesmo não desviando os olhos da face daquele macho, eu consegui enxergar aqueles pelos pretos que estavam totalmente a mostra,
- E você gosta de guarda-chuva grande ou pequeno? – ele perguntou depois de um minuto.
- Grande  - respondi na lata. – Assim ele me cobre por completo.
- Deu sorte. O meu é do jeito que você gosta.
- E você me empresta? – nossos olhos não desgrudavam.
- Quantas vezes você quiser.
- E por que você não o traz logo?
- Estou esperando você pegar.
- E onde ele está?
- Aqui.
Vinícius puxou a minha mão e colocou em cima de seu dote, mas por cima da cueca. Eu não sabia o que fazer.
Meu coração batia tão forte que as veias do meu pescoço estavam saltando sem parar. O pau estava duro, quente e pulsava forte.
- Já disse que não tô a fim de te ajudar agora – tirei a minha mão, mas abri um sorriso para parecer simpático.
Vinícius deu risada e andou até o lado do guarda-roupa, voltando com o guarda-chuva em seguida.
- Pega – ele estendeu a mão e eu fechei meus dedos em volta do cabo preto daquele objeto.
- Obrigado. Eu já te devolvo.
Antes de sair, troquei mais um olhar com aquele monumento e quando entrei no meu quarto, caí deitado na minha cama tamanho o medo que eu estava sentindo.
Por que eu tinha feito aquilo? Por que eu tinha brincado com o Vini daquela forma? Será que eu tinha feito a coisa certa? Pedir o guarda-chuva emprestado foi a primeira coisa que surgiu na minha cabeça. Será que ele tinha caído na ladainha?
Será que ele sabia que eu curtia homens? Será que o Rodrigo tinha contado a ele a verdade sobre a minha orientação sexual?
E se ele tivesse percebido alguma coisa? Por que ele perguntou se eu queria dar “uma conferida”? Ele estaria interessado em mim?
O Vinícius não podia ser gay. De jeito nenhum! Ele não tinha o menor jeito para a coisa... Ele era do tipo garanhão que passava o rodo, como o meu irmão gostava de fazer na escola...
Ele até tinha transado com uma garota na nossa casa! Será que ele curtia a parada no sigilo? Seria bom demais pra ser verdade...
A única coisa que eu ia ter que fazer à partir daquele momento, era disfarçar melhor as minhas olhadas e o meu interesse. Não podia deixar que ele soubesse da verdade. De jeito nenhum. Eu não sabia do que ele seria capaz se desconfiasse que eu era gay. Isso é, se ele já não soubesse de fato o que estava acontecendo.
Quando voltei para casa, ele estava terminando de tomar uma latinha de cerveja na cozinha, já completamente vestido.
- Deixei seu guarda-chuva na garagem escorrendo a água.
- Ah, beleza. Comprou o seu?
- Comprei. Valeu por ter emprestado.
- Ele é todo seu – ele falou aquilo e deu um gole na bebida, mas não tirou os olhos de cima de mim.
- Não preciso mais. Já tenho o meu.
- Mas ele não é tão grande quanto o meu!
- Como você sabe?
- Por que o meu é único!
Dei um sorriso e saí da cozinha de propósito. Eu não queria que ele continuasse com aquelas brincadeirinhas de duplo sentido. Por mais que eu estivesse gostando, ele não podia perceber meu interesse. Não mesmo.
- Posso te fazer uma pergunta? – eu aproveitei que ele estava sentado no equipamento de braço.
- Pode – ele soltou o ar pela boca.
- Você não contou para os meninos que eu sou... Gay não né?
- Não. Por quê?
- Ah, por nada. Puro desencargo de consciência.
- Ih, o que foi? Não confia em mim, caralho?
- Confio, porra. É só para saber.
- Sei. Quem não te conhece que te compre.
- Terminaram? – o gostosão do Felipe apareceu.
- Falta só mais uma série para mim e a gente termina – eu expliquei.
- Então agilizem e vamos para o próximo. Vocês precisam crescer esses bracinhos logo. Andem, andem!!!
O que o Felipe tinha de gostoso, tinha de mala-sem-alça. Ele ficava mais no nosso calcanhar que no dos outros alunos. Aquilo me deixava irritado.
- Vai, faz logo sua série e vamos pro próximo – Rodrigo estava de regata e eu já estava conseguindo enxergar os músculos dele mais salientes.
- Já vou – murmurei de contra gosto.
Como a hora não estava passando, eu fiquei refletindo mais um pouco a respeito do que o Bruno tinha me contato. Eu ainda não estava 100% seguro que o que ele tinha dito era verdadeiro.
- Esse garoto só vive pensando – falou Aline.
- Hum? Ah, é. Eu preciso colocar a cachola no lugar.
- Problemas?
- Mais ou menos.
- Se precisar de alguma coisa, me procura.
- Valeu.
Ela começou a conversar sobre a novela com a amiga do lado e eu voltei a mergulhar no meus pensamentos.
Eu precisava entender e confirmar se o que ele me disse era verídico ou não.
Durante o resto da semana, o Vini não fez mais nenhuma brincadeirinha de duplo sentido.
Talvez a minha reação tivesse dado certo. Se eu tivesse transparecido meu nervosismo e meu medo, pode ser que ele tivesse entendido que eu estava com vontade de ficar com ele e tudo tivesse ido por água abaixo.
Nós quase não nos falamos nos dias que passaram. Ele ficou a maior parte do tempo estudando as matérias da faculdade e eu dormindo.
Quando eu encontrei o Rodrigo na sexta, ele me recepcionou com uma má notícia. Mais uma vez o Leonardo estava espalhando boatos ao meu respeito na central de cobrança.  Daquela vez eu fiquei fora de si.
- Calma, Caio – meu colega se preocupou. – Você está todo vermelho, parece até que vai explodir!
- E você acha que é pra menos? – bufei de ódio.
Daquela vez ele disse que eu comecei a dar em cima dele. Eu nem o via mais, como aquilo seria possível?
Mas eu estava decidido a colocar um ponto final naquelas historinhas que ele estava contando, nem que para aquilo eu me arrependesse amargamente pro resto da minha vida!!!
- O que você pretende fazer? – Rodrigo perguntou.
- Vou acabar com a vida dele, mesmo sem provas.
- Cuidado, Caio. Não cutuca a onça com vara curta!
- Ele me cutucou primeiro. Quem mexeu no vespeiro foi ele e não eu.
Depois que saí do armazém da Dona Elvira, fui direto para a casa do Leonardo. Eu precisava tirar aquela história a limpo o quanto antes.
Toquei a campainha e a mãe dele saiu no portão. Eu estava furioso de tanta raiva.
- Oi, Caio – disse a mulher. – Como vai? Quanto tempo?
- O Leonardo está?
- Está sim, pode entrar. Eu vou chamá-lo...
- Não se incomode. Eu sei o caminho do quarto. Com licença.
Não me fiz de rogado e entrei voando pelo portão e só parei de andar quando entrei nos aposentos daquele desgraçado. Ele estava sentado na frente do computador.
- O que você está fazendo aqui? – ele me fitou com ar de curiosidade.
Eu fechei os meus dedos e senti uma vontade enorme de dar um soco na cara daquele traidor, mas me segurei.
- Eu queria conversar com você – tentei não ser tão grosso como eu queria.
- Sobre?
- Sobre o que você anda falando ao meu respeito.
- Eu? Falando coisas ao seu respeito? Está louco? – ele era muito sínico!
Por mais que eu estivesse disposto a ferrar com a vida dele e contar toda a verdade para os seus pais, naquele momento algo dentro de mim abrandou o meu coração.
Eu pensei em tudo o que a minha família havia feito comigo e não consegui acabar com a raça dele, como eu tanto ansiava.
- Por favor, não se faça de desentendido. Nós dois sabemos muito bem do que eu estou falando.
Ele deu uma risadinha irônica e em seguida falou:
- Estou me divertindo muito, você não tem noção!
- Está? E qual é a graça em ver a desgraça dos outros? Me diz?
- E quem disse que eu estou me divertindo com a sua desgraça? Eu estou me divertindo é com o papelão que você está fazendo agora em vir aqui e tentar tirar satisfação comigo.
- E o que você queria que eu fizesse? Que aguentasse calado tudo o que você está falando ao meu respeito? Por acaso você acha que está escrito “idiota” na minha testa?
- Não acho. Tenho certeza.
- Como é que é?
- Você é tão idiota, Caio, que nem sequer percebeu que eu e o Bruno estávamos juntos.
Eu senti o sangue começar a subir pra minha cabeça. Minhas mãos começaram a tremer de ódio.
- O que eu te fiz, Léo? O que eu te fiz pra você me odiar tanto?
- Eu não te odeio. Muito pelo contrário. Eu gosto de você!
- Ah, faça-me o favor. Quanta falsidade!
- Ai, Caio. Quer saber de uma coisa? Vai embora, vai? Você não vai conseguir nada aqui!
- Eu só quero que você pare de inventar essas coisas ao meu respeito. Você sabe muito bem que não é verdade!
- Ah, me deixa em paz. Eu falo o que eu quiser e você não vai me impedir!
- Desgraçado – eu sibilei entre os dentes e não me segurei. Parti pra cima daquele garoto e a briga começou.
- DESGRAÇADO! – gritei.
- EU DISSE QUE AQUELES TAPAS NÃO IAM FICAR BARATO, NÃO DISSE?
- SEU TRAÍRA, SEU SUJO, VOCÊ NÃO PASSA DE UM INSETO!
Ele tentou me dar um soco na cara, mas eu me abaixei e o empurrei pela cintura, fazendo com que ele caísse de costas no chão.
Foi a minha oportunidade. Eu subi em cima de seu corpo e comecei a bater na cara de pau daquele inseto. A cada tapa que eu dava, ele tentava me empurrar, mas eu não me dei por vencido.
- SEU FILHO DE UMA PUTA TRAIDOR... EU TE ODEIO, DESGRAÇADO!
- VOCÊ VAI ME PAGAR, CAIO – ele gritava.
Leonardo conseguiu me prender e a gente começou a rolar no chão do quarto. Eu bati a minha cabeça no chão com força e senti a mão dele voar para o meu rosto. Era a primeira vez que alguém batia na minha cara – fora meu pai, é claro.
- EU DEVIA TER FICADO COM O BRUNO ANTES – ele deu mais um tabefe e o meu ódio aumentou. – EU DEVIA TER FEITO ELE TE TRAIR ANTES...
- O QUE ESTÁ ACONTECENDO AQUI? – a mãe do Léo apareceu no quarto e nos pegou no flagra.
Ele arregalou os olhos e rapidamente saiu de cima de mim. Eu me sentei e passei a mão pelo meu rosto, que estava ardendo a beça.
- ANDEM, EXPLIQUEM! O QUE ESTÁ ACONTECENDO AQUI?
- Mãe, eu posso explicar!
- QUE HISTÓRIA É ESSA DE FICAR COM O BRUNO, LEONARDO?
- Anda, machão. Fala a verdade para a sua mãe... Fala, machão – eu desdenhei.
- CALA A BOCA, CAIO!
- Fala, Léo – eu dei risada. – Conta a verdade para a sua mãe, querido!
- EU JÁ FALEI PARA VOCÊ CALAR A BOCA – ele voou em cima de mim, mas antes de me agredir eu consegui dar uma joelhada no meio de suas pernas. Ele ficou completamente imóvel e deu um grito de dor. - FI-LHO DA PU-TA...
- JÁ CHEGA – a mãe dele parecia transtornada e enfurecida. – SAIA JÁ DA MINHA CASA!
- Com prazer – eu respondi. – Mas eu só vou avisar uma coisa: eu não vou mais tolerar nenhuma mentira ao meu respeito, entendeu? Nenhuma mentira!
- EU DEVIA TER CONTADO MUITO MAIS, EU DEVIA TER FEITO MUITO MAIS, SEU IMBECÍL!
- JÁ CHEGA, LEONARDO! CALA A SUA BOCA QUE EU ME ENTENDO COM VOCÊ JÁ, JÁ. E VOCÊ SAIA JÁ DAQUI!!!
- Com muito prazer. Foi um prazer conhecê-lo, Léo.
Eu estava me sentindo vingado. Por mais que aquilo me deixasse com a consciência pesada, ele tinha merecido tudo o que havia acontecido.
Eu até estava disposto a tentar um acordo amigável, mas como ele não teve a decência de se preservar, acabou se ferrando com a sua família. Era tudo o que eu queria.
Quando eu virei a esquina e comecei a subir a rua para chegar na minha casa, senti um soco forte nas minhas costas e fiquei completamente sem ar.
- VOCÊ ACABOU COM A MINHA VIDA – ele parecia transtornado.
- E VOCÊ POR ACASO NÃO ACABOU COM A MINHA, SEU DESGRAÇADO?
Eu estava me segurando para não der um soco na cara do Leonardo, mas confesso que não ia me segurar por muito tempo...
- EU VOU TE MATAR, SEU FILHO DA PUTA!!!
- Você vai o quê, Leonardo? – o pai do garoto apareceu repentinamente.
- Pai eu...
- Vamos já pra casa. A sua mãe me ligou e me contou tudo.
- Pai...
- VAMOS PRA CASA, LEONARDO! – o homem puxou o filho pelo braço e começou a arrastá-lo pelo meio da calçada.
O meu coração ficou apertado. Por mais que eu estivesse esperando por aquele momento há bastante tempo, eu não queria que nada de ruim acontecesse com o Léo.
Por pior que ele tivesse sido comigo, eu não queria que ele passasse pelo mesmo que eu passei. Nenhum ser humano merece ser humilhado da maneira que eu fui, muito menos sendo pelo próprio pai.

Eu só voltei pra casa quando a minha cabeça estava totalmente no lugar. Eu tinha que saber o que havia acontecido com o Léo e não ia sossegar enquanto não tivesse notícias. Eu estava preocupado e ao mesmo tempo arrependido.
Entrei e segui direto pro banheiro, mas alguém estava tomando banho com a porta fechada.
Não quis perguntar quem era e resolvi esperar. Para tentar diminuir a minha tensão, resolvi lavar as minhas meias e cuecas enquanto a pessoa que estava no banheiro terminava o banho.
Eu estava me sentindo incomodado com o calor, então resolvi tirar a minha bermuda e aproveitar para passar uma água no tecido de tactel. Se eu demorasse mais um pouco para lavar as minhas roupas, em muito pouco tempo não teria mais o que vestir.
Eu estava tão perdido em meus pensamentos e tão preocupado com o Léo que nem sequer me dei conta que o banheiro já estava desocupado.
De repente eu senti alguém me puxar pela cintura e uma mão veloz invadir a minha camiseta e se alojar nos meus mamilos.
Algo muito duro cutucou as minhas costas e eu senti uma respiração quente envolver a minha nuca.
Minhas pernas bambearam, meu coração disparou, minha boca ficou seca e meu corpo arrepiou quando aquela voz grossa e máscula falou no meu ouvido direito:
- Hoje você não me escapa, garotinho...

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