segunda-feira, 22 de dezembro de 2014

Capítulo 54

D
epois de deixar tudo arrumado, tanto o Rogério, quanto eu caímos exaustos na cama.
- Cansou, né parceiro?
- Cansei demais...
- Vou dormir que depois dessa eu fiquei exausto...
- Te cansei, foi? – eu brinquei.
- Cansou, puto. Cansou sim.
- E você nem viu nada!
Bem que eu queria continuar provocando o Rogério, mas o sono falou mais alto e rapidamente eu adormeci e só acordei depois da hora do almoço.

- Dormiu bem? – ele perguntou.
- Ainda estou com sono – confessei.
- Então dorme mais, ué.
- Não posso. Preciso voltar para casa.
- Já? Não vai nem almoçar comigo?
- Acho que não, Rogério. Eu quero ir pra minha casa, deitar na minha cama e colocar os meus pensamentos em ordem.
- Que pensamentos? É sobre o que aconteceu entre nós dois?
- Não. Não fica encucado com isso. Só foi sexo e nunca mais vai acontecer.
- Que bom que nós pensamos da mesma forma.
- Sim. Fica tranquilo que eu não vou me apaixonar por você não. Pode continuar levando essa vidinha hétero que você tem.
- Você me deixou bem mais aliviado agora – ele sorriu.
- Que bom...












- Isso são horas de chegar em casa? – perguntou Rodrigo.
- E qual o problema?
- Todos! Quando for assim me avisa para eu não ficar preocupado!
- Desse jeito parece até que você é meu pai, Rodrigo! Eu sou maior de idade, vacinado e posso sair de casa a hora que eu quiser.
- Beleza. A gente se preocupa e você vem com quatro pedras na mão. Vou me lembrar disso.
Revirei meus olhos e deixei meu corpo cair em cima da minha cama. 

- Você por acaso não viu o bilhete que deixei na porta?
- Vi, mas mesmo assim fiquei preocupado.
- Desculpa, pai. Não faço mais isso, tá? – brinquei.
- Acho bom! – ele sorriu. – Posso fazer uma pergunta?
- Diga? – autorizei.
- Quando você pretende procurar um emprego?
- Em breve. Muito em breve. Já está mais do que na hora.
- Que bom que você reconhece. Tipo, não é querendo me passar por chato, mas faz tempo que você não ajuda, né? E eu não tenho tanto dinheiro assim, sabe?
- Eu sei, parceiro – fiquei com vergonha. – Prometo que amanhã mesmo eu vou correr atrás disso.
- Que bom. É assim que se fala!
É claro que o Rodrigo estava certo. Desde que o meu contrato como menor aprendiz havia acabado, eu não trabalhei mais e definitivamente não tinha como ficar vivendo às custas dos meus amigos. Eu ´precisava de um emprego urgentemente.
Acredito que eu não tenha visto o tempo passar enquanto estava com depressão. Já havia passado mais de 4 meses e eu ainda não tinha feito praticamente nada para dar a volta por cima...
- Sabe o que eu esqueci de fazer nas férias? – Rodrigo indagou.
- O quê?
- Esqueci de pedir um notebook pro meu pai...
- Ah, é. Você havia comentado que ia pedir um de presente.
- Pois é. Esqueci. Maior mancada.
- Pode usar o meu, eu quase não uso mesmo!
- Pois é! E você era louco por um e agora nem usa mais. Que relaxo...
- As circunstâncias me impedem.
- Nada te impede. Você não usa porque não quer!
Eu odiava quando ele dava uma de gostosão para cima de mim.
- Odeio quando você dá uma de sabichão pra cima de mim, Rodrigo. Odeio...
- Não é questão de ser sabichão, é a verdade.
- Nem parece que você tem 21 anos, parece que tem 80! Haja saco.
- Isso se chama maturidade, coisa que você não tem!
- Vai ficar tacando isso na minha cara até quando?
- Até você aprender a viver, o que eu espero que não demore muito.
- Na boa? Vou te deixar com sua chatice e vou fazer alguma coisa de interessante. Com licença!
Eu saí do quarto sem nem pensar duas vezes. Não é que eu quisesse ser melhor que o Rodrigo, mas ele às vezes me irritava bastante com aquelas lições de moral que me dava. Eu ficava irritado.

- Que cara é essa? – perguntou Fabrício quando eu sentei no sofá da sala.
- Nada não, guri. Deixa pra lá!
- Só quero ajudar...
- Nada contigo, relaxa. E obrigado pela intenção.
- O vídeo-game do Ricardo está fazendo falta, né?
- Sinto falta é do meu – confessei.
- Hum...
- Mas você pode jogar pelo computador, não pode?
- Ah, sei lá. Não é a mesma coisa.
- Saquei.
- Como foi a viagem lá para Curitiba City?
- No começo eu não gostei, mas depois eu curti. Lá é muito legal e a família do Rodrigo é muito bacana. E você? Como foi o final de ano?
- Bom demais. Passei ao lado da minha família, só por isso já valeu muito.
- Que bom. Passou rápido. Nem dá pra acreditar que já estamos quase em fevereiro!
- Pois é, pois é. Daqui uns dias começam as aulas de novo...
- Coragem! Ainda bem que eu já passei dessa fase.
- Passou por enquanto, né? Ainda tem faculdade pela frente. Ou você não vai querer fazer?
- Vou sim. Quer dizer, eu acho que sim. Nunca parei pra pensar seriamente no assunto. Não sei nem o que eu quero fazer!
- Um teste vocacional é bacana. Eu fiz um quando tinha a sua idade.
- Você fala como se isso tivesse acontecido há mil anos – dei risada.
- Nós temos 7 anos de diferença, moleque. Você ainda é um pivete se for comparado comigo!
- Pivete não, hein?
- Pivete sim. Maior pivetão! – ele brincou.
- Qual é? Só porquê eu acabei de completar 18 anos e você já está chegando nos 30?
- Aí também não, hein? Eu só tenho 25. Quase 26.
- Ah, é? Quando é seu aniversário?
- Dia 26 agora.
- Hum, pertinho já... Então a gente têm 8 anos de diferença, não 7.
- Aham. E no outro dia é o do Vini!
- Sério? Caralho, que coincidência.
- Né?
- E pra completar, vocês ainda têm a mesma idade, né?
- Uhum.
- Da hora.
- Estão falando de mim ou é impressão minha? – o gostosão apareceu na sala de repente. 

Não tive como controlar os meus olhos. Eles percorreram todo aquele corpo escultural em uma fração de segundos. Como Vinícius estava lindo!
- Eu estava falando que o nosso aniversário está chegando – explicou Fabrício.
- Ah, pode crer. Mais uma primavera!
Ele sentou ao meu lado e eu senti um perfume novo e diferente invadir o meu nariz. Além de lindo e gostoso, ele estava pra lá de cheiroso!
- Que perfume é esse? – perguntou Fabrício. – É novo, não é?
- Ganhei de presente de uma amiga.
- Amiga? – o companheiro de quarto duvidou. – Amiga? Aham, sei!
- É amiga mesmo, idiota. Gostou do cheiro?
- Da hora. Qual é?
Ele disse o nome, mas eu não lembro qual é.
- Hum...
- Que foi, Caio? – Vinícius me cutucou no ombro. – Por que está tão calado?
- Pensando na morte da bezerra.
- Não vai voltar a ficar deprê de novo não, né?
- Deus me livre! Agora eu estou bem e sei que isso não vai acontecer de novo.
- É o que a gente espera – o futuro médico finalizou.
- Hora de voltar a viver, hein? – Fabrício se meteu.
- Certeza! Amanhã mesmo já vou procurar um emprego.
- E o que você vai buscar?
- Sei lá. Nas condições que eu me encontro, aceito qualquer coisa.
- Acho que eu posso te dar uma forcinha!
- Sério, Fabrício? Como?
- Lá na loja estão precisando de vendedores. Toparia?
- Qual a chance de não topar? Quando eu começo?
- Calma, seu apressado – ele riu. – Não é assim que as coisas funcionam! Primeiro tem que fazer os testes e entrevistas.
- Demorou. Só me falar quando.
- Amanhã mesmo a gente pode ver isso daí. Quando eu for trabalhar, você vai comigo e eu te apresento pro gerente, beleza?
- Combinadíssimo! Valeu pela ajuda.
- Disponha!


E assim nós fizemos. Meu amigo trabalhava em uma loja de roupas que ficava em um shopping na Barra da Tijuca. O local não era lá muito grande, mas pelo tanto de clientes que havia dentro da loja, eu percebi que o recinto era bem movimentado.
- Espera aqui que eu vou chamar a Sabrina.
- Quem é essa?
- A gerente – ele explicou. – Não saia daí.
- Tudo bem.
Eu fiquei parado feito uma estátua. Enquanto ele não voltava, analisei minuciosamente cada centímetro daquele estabelecimento e percebi que as coisas estavam um pouco desorganizadas. Será que era impressão minha?
- Caio, essa é a Sabrina. Sabrina, esse é meu amigo Caio.
- Tudo bem, Caio? – a mulher me cumprimentou com dois beijos no rosto.
- Tudo e você?
- Bem, obrigada.
- Sabrina, ele está procurando um emprego e como nós estamos desfalcados...
- Qual a sua idade? – a gerente perguntou.
- 18.
- Ah! Que bom, eu pensei que fosse menos. Você aparenta ser mais jovem.
- Que bom – dei risada. – Melhor assim, né?
- Sim, claro. Você tem experiência com vendas?
- Na verdade não...
- Hum... Vem comigo, vamos para a minha sala. Lá a gente pode conversar melhor.
- Tudo bem!
Ela era uma loira alta, bonita e com o corpo escultural. Uma mulher que com certeza, mexia com o imaginário dos homens heterossexuais.

- Pode sentar, Caio. Fica à vontade. Aceita um suco? Um café? Uma água?
- Não, não. Muito obrigado.
- Então... Quer dizer que você está precisando de um emprego?
- Na verdade sim.
- Já trabalhou?
- Como operador de telemarketing e também como ajudante-geral em um mercadinho de bairro.
- E tudo isso desde que você fez 18 anos?
Eu tive que explicar tudo o que aconteceu, mas obviamente não falei nenhum detalhe sobre a minha mudança para o Rio de Janeiro. A moça ouviu tudo atentamente e quando eu finalizei ela falou:
- Impressionante. Você é um batalhador mesmo! Parabéns.
- Eu tento dar o melhor de mim e tento sobreviver. Só isso.
Se ela soubesse que eu já tinha tentado me matar por causa de um amor não correspondido...
- Serei bem sincera com você: o trâmite correto de admissão de pessoal não é esse, mas tratando-se de uma indicação do Fabrício e agora entendendo melhor sua história de vida, eu não tenho como te dizer não. Vou te contratar.
- Sério? – meus olhos se iluminaram.

- Sim, sim. Gostei de você e do seu perfil. Acho que você tem futuro com vendas e com certeza você tem um potencial gigantesco de exercer um cargo de liderança!
- Jura? Nunca me imaginei como vendedor, mas tudo bem.
- Não quer o emprego?
- Não, não é isso – me arrependi do que eu disse. – Claro que eu quero. Eu quis dizer que não me imagino com perfil de vendas e muito menos como líder, entendeu?
- Ah, sim. Tranquilo, não fica grilado não. O emprego é seu sim. Só vou precisar que você traga alguns documentos para o registro e aí sim você pode começar.
- E quais são os documentos?
- Vou imprimir a listinha, só um segundo...
Quando eu passei os olhos pelo sulfite, percebi que a documentação era basicamente a mesma que eu havia entregue na outra empresa que trabalhava.
- Quando eu posso trazer?
- Pode mandar pelo Fabrício. Assim que chegar eu encaminho a carteira para registro e solicito o crachá.
- Nossa, tá tudo tão rápido que eu estou até estranhando. E quando eu começo?
- Segunda-feira que vem, pode ser?
- Claro! Mas qual o horário? Qual o salário? Os benefícios? As condições de trabalho? A política da empresa?
Ela tinha me contratado tão rápido que eu realmente estava achando aquilo muito estranho. Ou ela estava desesperada atrás de funcionários, ou havia alguma coisa por trás daquela história!
Sabrina me explicou como funcionava a rotina da loja, me informou qual seria o meu salário e benefícios e enfim perguntou se eu tinha alguma dúvida.
- Não. Nenhuma dúvida.
- De acordo com o salário?
- Claro que sim! É maior do que eu ganhava antes!
- Sem contar que tem comissão dependendo da quantia que você vender por dia. Depois os meninos te explicam melhor.
- Tudo bem. Então segunda eu tenho que chegar que horas?
- No mesmo horário do seu amigo.
- Ah... E acaba que horas o expediente?
- Depende de você. Normalmente são 8 horas por dia, mas você pode fazer hora-extra se quiser.
- Bacana... Agora sim eu estou gostando disso...
- Vai gostar muito mais quando receber seus holerites no final do mês. Acredite em mim, você vai se dar muito bem aqui.
- Assim espero. Obrigado, Sabrina!
- Imagina. Sempre um prazer ajudar os amigos do Fabrício!
Ah, então era por aquele motivo que ela tinha me contratado... Será que ela e o Fabrício tinham alguma coisa?
Não seria estranho. Ele era gato e ela não ficava atrás. Com certeza deveria existir um trelelê entre os dois!
- Ficamos combinados então, Caio. Bem-vindo e boa sorte. Pode contar comigo para o que precisar.
- Obrigado. Muito obrigado mesmo.
- Por nada. Eu vou te acompanhar até a loja porque preciso fazer uma reunião com meus funcionários.
- Hum, entendi.
- E aí? – ele foi ao meu encontro com um quê de ansiedade na voz.
- Já consegui – abri um sorriso largo. – Foi mais fácil do que eu imaginava.
- Sério? Quer dizer que agora além de morarmos juntos vamos trabalhar juntos também?
- Pois é. Você vai ter que me aguentar agora.
- E vice-versa!
- Vou precisar de sua ajuda no começo, beleza?
- Conta comigo sempre que você precisar.
- Fabrício, reunião – anunciou a gerente.
- Vai pra casa e depois a gente conversa, fera – ele apertou meu ombro. – E parabéns pelo emprego novo!
- Obrigado, mano. Te devo uma.
- Me paga uma loira gelada e está tudo certo.
- Pode deixar.
- Fabrício? – Sabrina chamou pela segunda vez.
- Vai lá. Depois a gente conversa.



Quando eu entrei no meu quarto, meus olhos foram puxados para o meu notebook. De repente senti uma necessidade muito grande de mexer na internet.
Desde que eu tinha sido abandonado pelo Bruno, não tinha feito nenhum tipo de atualização no meu Orkut. Estava mais do que na hora de mudar algumas coisas...
Mas se eu soubesse que ao entrar na internet iria encontrá-lo online, jamais teria feito aquilo.
A foto do Bitch estava no início do meu perfil e aquilo significava que ele também estava conectado naquele momento. Que ódio que eu senti! Não sei como não o bloqueei naquele exato momento...
- Desgraçado – falei baixinho.
Fiquei tão paralisado olhando para a foto do meu ex, que nem sequer percebi que ele tinha deixado vários depoimentos para mim.
Sem perder tempo e com o coração explodindo em um misto de saudade, dor e ódio, eu rejeitei depoimento por depoimento e não li uma linha sequer. Quem ele pensava que era para tentar falar comigo depois de tudo o que havia feito?
Sem nem pensar duas vezes, cliquei no meu perfil e comecei a editar as informações que precisavam ser atualizadas. 

Troquei meu status de “namorando” para “solteiro”, alterei a foto do meu perfil, mudei o meu “quem sou eu” e para finalizar apaguei o álbum onde estavam as fotos das nossas alianças.
Não queria ter vestígios dele na minha vida, mas quando resolvi excluí-lo do meu profile, meu coração acabou falando mais alto e eu voltei atrás na minha decisão.
Talvez fosse melhor ele ver as minhas novas atualizações. Talvez fosse melhor ele saber que eu estava muito bem, muito feliz e muito melhor estando longe dele...
Talvez fosse melhor ele perceber que eu não precisava dele para ser feliz!
Não. Eu não ia excluí-lo do meu Orkut. Muito pelo contrário! Se tivesse um jeito de colocar o meu nome em evidência para ele saber que eu estava vivo, com certeza eu o faria!
Mas pelo jeito ele também estava feliz. A curiosidade falou mais alto e eu não resisti e fucei no perfil do meu ex-namorado.
Ele também tirou o “namorando” e colocou “solteiro” e alterou a cidade de “Rio de Janeiro” para “Madrid”.
- Chega, Caio. Chega disso. Volta pra realidade!
Eu não podia me dar ao luxo de ter uma recaída. Não podia mesmo! E de jeito nenhum que eu ia ficar olhando o perfil do Bruno. Já me bastava todo o sofrimento que tive no passado... Não precisava e não merecia sofrer tudo de novo.
Se ele estava feliz, eu também estava. Se ele tinha superado, eu também tinha. Se é que ele precisava superar alguma coisa!
- Não pensa mais nele! Não pensa mais nele!
Tentei desviar o foco do Bruno e só consegui fazê-lo quando entrei na minha lista de recados.
Havia mais de 50 recados do Víctor e ele parecia estar muito preocupado comigo.
Fiquei me perguntando por que ele não me mandou um depoimento. Como era burro, meu Deus! Os recados não eram privados e todos podiam ver, já os depoimentos não...
Respondi de um em um e no último escrevi a minha revolta. Xinguei ele de tudo quanto foi nome. Carinha sonso, meu!
Mas os recados do Víctor não eram os únicos. Também tinha do Bruno e até do seu melhor amigo, o Vítor.
Eu li apenas os do Vítor, mas não me dei ao trabalho de respondê-los.
O carioca queria saber como eu estava e disse que tanto ele, quanto seu melhor amigo estavam preocupados comigo.
Preocupados? Depois de tudo o que aconteceu? Naquele momento era tarde demais para que ambos se preocupassem comigo. O que eu queria deles era distância, isso sim!
Jà estava quase saindo, quando decidi entrar no perfil do Cauã. Eu precisava saber notícias da minha família...
A última vez que havia tentado falar com minha mãe foi no domingo de páscoa. Depois do incidente com o meu pai, não tive mais coragem de ligar. E se ele atendesse de novo?
Aparentemente estava tudo na mesma santa rotina. Meu irmão colocou uma foto sem camisa no perfil e eu percebi que ele estava um pouco mais encorpado. Será que estava fazendo academia?



- Caio? – Rodrigo abriu a porta do quarto. – Tudo bem?
- Tudo e você?
- Bem também. Fui desligado!
- Sério? – arregalei meus olhos. – Por quê?
- Redução de custos, mas olha a minha cara de preocupado!
Ele parecia estar bem feliz.
- Que tenso, hein?
- Tenso nada. Já fiquei tempo demais naquele pulgueiro. Eu mereço coisa muito melhor!
Meu colega sentou na cama e ficou me olhando com ar de curiosidade.
- Que foi? – perguntei.
- E você? Conseguiu emprego já?
- Consegui, acredita? Vou trabalhar com o Fabrício!
- Sério? Mas já conseguiu? Que rapidez foi essa?
- Pois é, mano. Fiquei até surpreso. A gerente nem me entrevistou direito e me contratou. Acho que ela dá uns pegas no Fabrício, viu?
Ele riu.
- Por que você acha isso?
- Porque ela disse que sendo amigo do Fabrício ela não ia pensar duas vezes em me contratar.
- Ah, é?
- Aham! Maior estranho, mas beleza. Vamos que vamos.
- Isso aí. Agora é a minha vez de descansar um pouquinho.
- Isso mesmo. Descansa que você merece, se bem que você ficou um mês de férias. Nem tem o que descansar!
- Claro que tenho! Eu estudo, lembra?
- Que eu saiba você está de férias!
- Mas ninguém precisa ficar sabendo disso.
- Palhaço!
- Sabe, maninho...?
- Que foi, mano?
- Eu estou muito feliz!
- Com a sua saída do trabalho?
- Também, mas não é só.
- E o que mais está te deixando assim?
- Você!
- Eu? – estranhei.
- É! Porque tipo, antes de viajar, você era um e hoje você é outro! Estou feliz que tenha percebido que precisava erguer a cabeça!
- Agradeça a você mesmo. Eu não sei o que seria de mim se você não tivesse me ajudado tanto.
- Ah, que nada! Eu fiz de coração. Gosto muito de você. cara... Não queria te ver na pior não.
- Obrigado, mano. Eu também gosto muito de você, de verdade.
Silêncio. Ele me fitou por um longo tempo e depois disse:
- Já usou aí? Posso usar?
- Ah, pode sim. Já terminei de fazer tudo o que eu queria. Acredita que o Bruno me mandou vários depoimentos?
- Sério? Não acredito! E você leu?
- Claro que não!
- O que será que ele queria com você? Será que ele quis se justificar?
- Não sei e também não me importo com isso. Deixa ele no passado, que é o lugar dele.
Meu brother pegou o note e depois de aproximadamente 5 minutos falou:
- Hum, mudou o perfil... Aí sim, hein?
- Estava na hora, né?
- Com certeza! Gostei de ver.
- Obrigado.






NA SEGUNDA-FEIRA SEGUINTE...
- Acho bacana você trocar ideia com a chefe, Caio – meu amigo me incentivou.
- Aham, beleza. Onde ela fica?
- Normalmente na sala dela. Dá uma passada lá.
- Beleza.
Quase que eu errei o caminho, mas no fim acabei acertando.
- Pode entrar – ouvi a voz da gerente dentro da sala.
- Com licença?
- Caio! Que bom ver você! Tudo bem?
Nos cumprimentamos com os beijos tradicionais no rosto.
- Bem sim e você?
- Bem. E aí, preparado para começar a trabalhar?
- Claro! Só preciso que você me explique o que eu tenho que fazer.
- Vender, vender e vender.
- Caraca!
- Brincadeira, Caio. Nessa primeira semana eu vou te deixar sob a responsabilidade de um vendedor mais experiente. Assim você pode pegar as artimanhas e aprender alguns truques básicos. O que acha?
- Show de bola!
- Mas vai tirando o cavalinho da chuva que não vai ser o Fabrício – ela sorriu.
- Ah... – me decepcionei.
- Vou colocar você com o meu melhor vendedor. Tenho certeza que você terá muito mais proveito do que se ficar com o seu amigo.
- Se você diz – quem era eu para discordar?
- Vem comigo, garoto!
A mulher estava muito elegante. Ela usava uma calça social preta com uma blusa branca e um sapato de bico fino que tinha no mínimo 10 centímetros de altura. Paguei o maior pau para a postura dela enquanto andava de salto. Realmente muito elegante.

- Gabriel? Pode vir aqui um minuto?
- Claro!
De imediato notei que aquele cara era rato de academia!
- Pois não, chefe?
- Gabo, esse é o Caio. Ele é o nosso novo vendedor. Essa semana eu vou deixar ele sob a sua responsabilidade, pode ser?
Gabo? Seria o apelido dele?
- Claro que sim, chefe!
- Caio esse é o Gabriel. Que nem eu te falei, ele é o nosso melhor vendedor. Vende muito e muito bem. Pode grudar nele e aprender tudo o que você tiver que aprender, tudo bem?
- Aham...
O rapaz tinha o corpo mil vezes mais definido que o do Vinícius, Fabrício e Maicon juntos.
O corpo era tão musculoso que parecia daqueles caras fissurados em fitness. Eu não achei muito bonito, mas mesmo assim ele ainda era bem atraente.
- Tudo bem, Caio? – ele estendeu a mão.
- Tudo e você?
Que mão firme ele tinha...
- Bem também. Seja bem-vindo então.
- Obrigado.
- Caio, gruda nele. Aprende tudo, hein? Quero só ver na semana que vem!
- Pode deixar, Sabrina. Pode deixar.
Grudar naquele deus era tudo o que eu mais queria naquele momento, mas é claro que era totalmente impossível!
Como eu estava na seca, qualquer cara que aparecesse na minha frente mexia com meu imaginário, ainda mais sendo gostoso como o Gabo era. O rapaz era realmente muito, muito musculoso e tinha um rosto bonito, mas o que mais me interessou nele, foi o sorriso. Gabriel usava aparelho e eu sempre amei sorrisos metélicos!

Entrentanto, sem a menor sombra de dúvidas, Gabriel era totalmente hetero. Era humanamente impossível que uma delícia daquelas fosse gay. Ou será que eu estava enganado???
Fiquei pensando naquela possibilidade e por causa disso, não percebi que o gostosão estava me chamando para iniciarmos o nosso trabalho:
- Está tudo bem? – Gabriel perguntou.
- Ah, está sim. Eu só estou pensando.
- Quer desistir? – ele abriu um sorriso lindo. – Ainda dá tempo!
- Que desistir que nada. Eu quero é aprender tudo logo.
- Ah, é? Então vamos ver se você vai ser um bom aluno!
- Vai depender do professor – eu provoquei.
- Você está com o melhor professor que pode existir nessa loja, Caio. Vai aprender tudo muito rapidamente!
- Assim espero. E qual vai ser a minha primeira lição?
- Que tal começar com a apresentação aos demais funcionários?
Aquela era a parte chata, mas era necessário.
- Se não tem jeito – dei de ombros.
- Esse é o Fabrício – ele falou.
- Eu sei, Gabriel – dei risada.
- O Caio e eu moramos juntos, Gabo!
- Moram juntos? Como assim moram juntos? São casados? – ele arregalou os olhos.
- Qual é, idiota? Está me tirando? – o meu amigo deu um murro no braço musculoso do vendedor.
- O Fabrício e eu moramos na mesma república, entendeu? Somos APENAS bons amigos.
- Ah, que susto! Pensei que vocês fossem casados.
- Qual é? Tenho cara de viado por acaso? – Fabrício se ofendeu.
- Não, não. Desculpa. Eu que pensei besteira!
Confesso que fiquei um pouco chateado com a reação do Fabrício. Ele pareceu ser um pouco preconceituoso com aqueles comentários.
- Essa é a Saionara – ele falou.
Eu me deparei com uma japonesa baixinha e de cabelos longos e lisos. Fiquei com dó do nome da coitada. Com certeza ela deveria sofrer bullying por onde passava.
- Muito prazer – falei.
- O prazer é todo meu – a mocinha parecia ser muito simpática, porque foi uma das poucas que abriu um sorriso sincero quando me viu.
- Obrigado.
- E essa daqui é a nossa caçulinha.
- Por que caçulinha?
- Porque ela chegou aqui na semana passada.
- Agora não sou mais a caçula – a garota sorriu. – Muito prazer, eu me chamo Olívia.
- Oi, Olívia. Caio. Tudo bem?
- Bem e você?
- Bem também, obrigado.
- Esses são os vendedores. Agora você precisa conhecer as operadoras de caixa. Vem comigo!
- Sim, professor.
Ele deu uma risadinha e começou a andar pelo meio do estabelecimento. Eu percebi que os clientes estavam chegando aos poucos.
- Lú, deixa eu te apresentar nosso novo vendedor!
- Lá vem o Gabo com os pupilos dele -  a menina riu.
- Caio, Luiza, Luiza, Caio!
- Muito prazer – falamos ao mesmo tempo.
- E essa linda aí é a Cassandra.
Um nome mais feio que o outro...
- Tudo bem? – ela perguntou.
- Bem, obrigado.
- E acho que é só. Acho que não esqueci ninguém!
- Apresentou o Lucas? – perguntou Luiza.
- Não. Esqueci dele. Onde ele está?
- No estoque. Imaginei que você havia esquecido do coitado.
- Quem manda ele viver enfurnado naquele estoque? Vem comigo, Caio. Ainda falta um vendedor!
- Caraca, quantos são? Cem?
- Não – Gabo riu. – Somos apenas em 15. 16 com você.
- E só têm 2 caixas?
- Não, não. Tem mais 4. É que as meninas só vão entrar mais tarde.
- Ah!
Para uma loja de médio porte, até que existiam muitos funcionários.
- Lucas? Cadê você?
- Aqui – ouvi uma voz não tão masculina sair de trás de uma pilha de caixas.
- Ah, aí está você! – Gabriel deu risada. – Deixa eu te apresentar o nosso novo colega de trabalho.
- Mais um? Não tá bom não?
- Reclamações com a sua gerente. Esse é o Caio. Caio, esse é o Lucas.
- Olá – estendi a mão.
Ele me olhou com ar de desaprovação e com relutância, apertou minha mão.
- Olá.
O meu gaydar começou a apitar enlouquecidamente. Só precisei bater meus olhos naquele rosto magro para saber que aquele carinha era do babado.

- Agora acabou, Caio. Só tem as meninas dos caixas, mas elas só entram depois do meio dia.
- Entendi.
- Esse é o estoque. Lucas, você poderia mostrar o estoque pro Caio, né?
- Estou ocupado – o cara resmungou. – Apresenta você que já está com a mão na massa!
- Esse daí dormiu de calça jeans essa noite, viu? – Gabo suspirou. – Vai acostumando.
- Ele é sempre mal-humorado desse jeito?
- Sempre, mas com o tempo você acostuma e aprende a lidar com ele. É só não dar muita trela que ele fica na dele!
- Hum...
- Não tem muto segredo aqui não. Cada caixa tem um código que é o código da mercadoria que fica na loja. Com o tempo você vai decorar.
- Assim espero.
- Cola aqui, agora vou te ensinar a mexer no sistema.
- E tem isso também?
- Claro que tem! Como você vai lançar suas vendas e fazer seu controle de comissão?
- Ah...
- Posso perguntar uma coisa?
- Claro!
- Você não é carioca, né?
- Sou não! Eu sou paulista!
- Ah, percebi.
- Por causa do meu sotaque, né?
- Sim, sim. Esse sotaque do interior te denunciou.
- Meu sotaque não é do interior – reclamei. – Pelo contrário, já está ficando igual ao de vocês!
- Ih, tá longe, hein campeão? Tá bem longe!
- Não exagera vai?
- Deixemos o sotaque para outra hora. Preciso te mostrar o sistema, vem comigo!


- Pode ir almoçar, Caio – falou Sabrina. – Uma hora de almoço.
- Que arraso! Estou morrendo de fome.
- Passa no caixa com essa ordem de pagamento e tira seu vale-refeição da semana.
- Hã?
- Esse valor é do seu vale-refeição da semana inteira. É só passar no caixa que as meninas te dão o valor em dinheiro, entendeu?
- Ah, tá. Agora eu entendi!
- Pode pegar com uma das meninas do caixa.
- Tudo bem patroa. Obrigado.
- Bom almoço!
- Oi, Caio? – Cassandra chamou.
- Eu preciso sacar esse valor aí...
- Ah, sim! Do seu alimentação, né?
- Isso.
- Só um segundo...
- Cá, você vai almoçar agora, amada? – Lucas apareceu atrás de mim de repente e eu acabei me assustando.
- Que susto! – reclamei.
- Qual é? Está devendo para estar assustado dessa forma?
- Não. Só me assustei porque não sabia que você estava aí atrás.
- Gente lesada é assim mesmo! Cá, vai almoçar agora?
- Lesada é a sua...
- Daqui 5 minutos – respondeu Cassandra. – Você me espera?
- Espero, né? Se não tem jeito!
Que ódio que eu fiquei daquele infeliz! Quem ele pensava que era pra me chamar de lesado?
- Aqui, Caio. Assina a notinha pra mim, por favor?
- Assino – resmunguei com raiva.
- Seu valor – ela me entregou uma quantia em dinheiro.
- Obrigado, moça.
- Por nada. Bom almoço!
- Valeu...
Quando eu me virei, percebi que o Lucas estava me olhando e senti vontade de dar uma boa de uma resposta para aquele idiota, mas acabei me controlando.
- Esse daí não vai durar uma semana aqui – ouvi ele comentar com a amiga quando eu me afastei.
- Vamos ver se não vou durar! Infeliz!
- Falando sozinho, mano? – Fabrício apareceu.
- Ah, que ódio, Fabrício!
- Que foi?
- Esse tal de Lucas aí ficou me chamando de lesado, acredita?
- Ah, nem leva a sério. Ele é mal-amado. Não fica encucado com isso não. Vai almoçar agora?
- Sim e você?
- Eu também. Pode me esperar uns 5 minutinhos? Daí a gente pode ir junto.
- Espero sim...
- Já volto.
Enquanto ele não apareceu, eu fiquei olhando algumas peças de roupas masculinas. Estava mais do que na hora de dar uma renovada no meu visual.
- Ainda não foi almoçar? – estranhou Luiza.
- Estou esperando meu amigo.
- Que amigo? Já fez amizades?
- O Fabrício é meu amigo. Nós moramos juntos.
- Ah, é?
- Ah, por isso que ele entrou aqui – Lucas comentou. – Só podia ser por indicação mesmo!
- Se foi por indicação ou não, isso não te diz respeito.
- Ih, já chegou todo marrentinho!
- Deixa o garoto em paz, Lucas – Cassandra puxou o amigo pelo ombro. – Vamos almoçar que a gente ganha mais!
- Ah, é melhor a gente sair daqui mesmo – o viadinho falou.
- Qual o problema dele? – perguntei para mim mesmo.
- Falta de uma rola bem grande e dura para se ocupar – respondeu Luíza.
Eu caí na gargalhada. Talvez se ele se ocupasse com uma boa pica não fosse tão amargo como era.
- Do que riem? – perguntou meu amigo.
- Nada – tentei sair pela tangente. – Vamos almoçar? Estou morrendo de fome!
- Vamos sim. Lú, avisa a chefe que eu só consegui sair agora, por favor?
- Aviso sim, gato. Pode deixar.
- Valeu, princesa!
Eu achei aquela troca de “elogios” no mínimo muito suspeita. Será que eles eram namorados?
- Vocês têm alguma coisa? – perguntei quando nós saímos de dentro da loja.
- Não, por quê?
- Gato, princesa... No mínimo suspeito isso daí!
- Que nada. Nós somos bons amigos. Só isso.
- Sei...
- Onde você vai querer almoçar?
- Não faço ideia. Onde você almoça normalmente?
- Onde me der vontade. Hoje por exemplo, estou com vontade de comer comida caseira.
- E tem algum lugar por aqui?
- Queridão, você trabalha em um shopping! Já ouviu falar em praça de alimentação?
- Ah, é mesmo. Nem tinha pensado nisso.
- Caralho, tu é burro, hein?
Eu dei risada. Eu não ligava que ele falasse comigo daquele jeito porque sabia que era brincadeira.
- Você é sonso demais, Caio – ele zoou. – Nunca vi igual! Vamos logo, já estou quase desmaiando de fome!
- A comida hoje estava caprichada – Fabrício comentou.
- Estava realmente muito boa.
- Eu gosto muito de comer nesse restaurante,
- Serei freguês assíduo!
- A gente pode almoçar juntos todos os dias, o que acha?
- Fechado. É bom ter um conhecido por perto.
- Me diz, o que está achando?
- Por enquanto tudo em ordem, tirando o chato do Lucas que fica pegando no meu pé...
- Já falei que você não tem que dar ouvidos pra ele. Ele sempre foi assim e sempre vai ser.
- Não gosto de pessoas amarguradas.
- Relaxa. Com o tempo você acostuma a lidar com ele.
Resolvi não ficar pensando no mal-comido e migrei meus pensamentos para o Gabriel. Será que o gatinho já havia almoçado?
- Podemos ir ao banheiro? – Fabrício perguntou. – Preciso cadastrar o Pelé na natação.
- Podia ter me poupado dos detalhes, hein? Podemos sim. Quero tirar água dos joelhos mesmo...
- Tem um aqui perto, vem comigo!
Eu nunca tinha visto um banheiro de shopping tão chique em toda a minha vida.

- Isso é um banheiro mesmo?
- Da hora, né? Modernão.
- Onde ficam os mictórios?
- Ali atrás. É só seguir reto e virar à direita.
- Beleza, valeu.
Eu escolhi uma vítima, me aproximei, abaixei o zíper da minha calça, coloquei o peru pra fora e comecei a urinar.
- Ah...
Só depois que abri os meus olhos percebi que um cara que aparentava ter trinta e poucos anos estava me encarando. O que será que ele queria?
Eu balancei meu pinto, coloquei o bichinho pra dentro, ajeitei a minha cueca, fechei o zíper da calça e apertei o botão para dar a descarga e mesmo depois de fazer tudo isso, o homem não parou de me fitar.
Quando eu me virei para sair, percebi que ele estava se masturbando. Era só o que me faltava! Um tarado qualquer ficar punhetando e olhando pra minha cara. Aquilo era demais pra mim.
- Que cara é essa? – Fabrício apareceu quando eu já tinha terminado de lavar as mãos e já tinha arrumado os meus cabelos.
- Um cara ficou batendo uma no mictório e olhando pra minha cara.
- Ah, filhote! Isso é muito normal nesse shopping, viu? Peguei trauma de mictório. Um dia eu fui mijar e de repente um velho ficou olhando pro meu pau. Fiquei morrendo de ódio.
- Sério? – dei risada.
- Sério, mano. Nunca mais eu uso mictório nesse shopping. Prefiro ir na cabine que é mais seguro.
- Seguirei o seu exemplo.

- Vem comigo, Caio. Vou te ensinar a lançar uma venda no sistema! – disse Gabriel.
- Tudo bem.
- É bem simples. Primeiro você abre esse programinha aqui.
- Beleza.
- Daí você digita a sua matrícula e senha.
- E qual é a minha matrícula?
- A que está no seu crachá.
- Ah!
- Não disse que ele era lesado? – Lucas deu risada baixinho.
Eu me virei bem devagar e cruzei meus olhos com os dele. Senti meu sangue subir lentamente para a minha cabeça.
- Lesada é a senhora sua mãe!
- Como é que é? – ele fechou a cara.

- Lesada é a sua mãe, seu idiota!
Se ele já tinha o rosto feio antes, naquele momento ficou duas vezes pior. Aquele era meu primeiro dia na loja e ele já tinha me tirado do sério mais de uma vez.
Definitivamente não estava nem um pouco disposto a levar desaforo pra casa e não ia aceitar que ele ficasse me xingando daquele jeito.
- O que foi que você disse, menino? – ele deu um passo pra frente.
- O que você ouviu, ou será que você é surdo, além de feio?
Pronto. Foi o que bastou para o circo pegar fogo. Daquele momento em diante, eu tive plena certeza que Lucas e eu não iríamos nos dar bem nunca. Só o que eu queria entender era o que ele tinha contra mim.
Era meu primeiro dia naquela loja e ele já estava fazendo da minha vida um inferno. Será que era falta de sexo ou pura amargura no coração?
Os motivos pelo quais ele me maltratava não me interessavam. A única coisa que eu não ia deixar acontecer, era ele me xingar a troco de nada, mas mal sabia eu que aquele estava sendo apenas o primeiro dia do meu calvário naquela loja. Ainda viria muito trabalho, muito suor, muitas brigas, desavenças e desentendimentos pela frente. Contudo, eu não ia desistir. Ia seguir em frente e não ia deixar ninguém pisar em cima de mim ou não me chamaria Caio Monteiro.

2 comentários:

Unknown disse...

Como sempre perfeito,estou acompanhando aqui.Estava com saudades de você.

Anônimo disse...

Que vida complicada!.
Vai, Caio! Torcendo por você.