terça-feira, 10 de março de 2015

Capítulo 27

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O
 barulho dos fogos de artifício da Praia de Copacabana se misturaram com o barulho acelerado dos meus batimentos cardíacos.
O show pirotécnico estava mais do que perfeito e a energia de início de ano tomou conta de toda a extensão da orla de Copacabana.
Vinícius me deu um abraço e me desejou um feliz ano novo. O mesmo eu fiz com ele, depois nós dois abraçamos o Kléber e desejamos boas energias ao rapaz e em seguida nós voltamos a olhar para o céu da cidade do Rio.
Dei um gole na minha bebida e mais uma vez voltei a pedir paz e saúde no meu ano novo.

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2.008 já tinha ficado pra trás e eu não sabia dizer se aquele ano ia ou não deixar saudades.
Olhando de uma forma mais ampla, talvez sim porque conquistei a faculdade e fiz novos amigos, mas olhando de uma forma mais simplória, aquele ano não ia deixar saudade por causa das confusões que vivi em todo o seu decorrer.
Mas o fato era que 2.008 já era passado. Deixando ou não deixando saudades eu tinha que pensar era em 2.009. Que o ano que morreu ficasse pra trás e que viesse um ano repleto de realizações para mim e todos os meus amigos.
Pensei na minha família. Onde será que eles estariam naquele momento? Será que estariam em casa? Provavelmente sim... Entretanto, algo me disse que o Cauã não estava com os meus pais e eu não sei por qual motivo eu tive essa sensação.
A tradicional queima de fogos da Praia de Copacabana durou 15 minutos e eu não desgrudei meus olhos do céu um segundo sequer, exceto na hora que abracei os meus amigos. No meu ponto de vista, não existia melhor lugar para passar o réveillon que não fosse em Copacabana.
Então estava feito. Mais um ano tinha iniciado e eu tinha que encará-lo com toda a minha coragem e determinação.
Sendo assim, que viessem os desafios e os obstáculos para que assim eu pudesse me tornar um ser humano melhor. No fundo eu entendia que precisava amadurecer em vários aspectos e foi por esse motivo que eu determinei logo nos primeiros minutos de 2.009 que naquele ano eu mudaria todas as minhas atitudes e mudaria principalmente a minha forma de encarar a vida.
A vida era curta demais para a gente ficar perdendo tempo com coisas ruins, com sentimentos negativos e com atitudes que não condizem com o que nós somos de verdade...
Suspirei e é claro que o Bruno estava na minha mente. Eu estava com saudade dele e sabia que o garoto estava em algum lugar naquela imensa multidão. Mas onde?
Bastou pensar um pouco mais no meu ex para o meu celular tocar e para eu ver o nome dele no centro da tela. Abri um sorriso enorme e tratei logo de atender:

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- Bruno!!!
- Caio...
- Feliz ano novo – mais uma vez nós falamos em uníssono.
- Muito obrigado – eu fechei meus olhos e suspirei.
- Que o seu ano seja repleto de coisas boas e que nesse ano você alcance todos os seus maiores sonhos...
- Desejo tudo em dobro pra você, Bruno. De coração.
- Obrigado, Caio! Você está em Copa?
- Sim e você?
- Eu também.
Eu tive que aumentar o volume da ligação porque a barulheira era tão grande que eu estava com dificuldade para compreendê-lo. Vinícius e Kléber também estavam no celular.
- Onde você está? – ele perguntou.
- Aqui do outro lado da rua, não estou na areia e você?
- Eu estou na areia. Quis pular as 7 ondinhas – ele riu.
- Ah, entendi...
- Eu posso... Te encontrar?
Engoli em seco.
- Hã...
- Deixa – ele suspirou. – Deixa pra lá.
- Não! – eu arregalei meus olhos. – Vem aqui...
- Sério?
- Sério... Eu to dizendo pra vir então vem, ué...

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- Mas onde você está exatamente?
Dei as coordenadas e em seguida ele desligou. Fiquei ansioso para ver o meu ex. Eu queria ver como ele estava naquela madrugada.
- Te amo também, amor – o Vini estava com os olhos fechados. – Eu te amo muito!
Que bonitinho... Ele estava mesmo apaixonado por aquela garota de nome Bruna. Ainda era inconformado com essa coincidência.
- Beijo, beijo, beijo, beijo... – ele ia falando.
Olhei para um lado, olhei para o outro e só encontrei desconhecidos. O Bruno que é bom eu não encontrei... Demorou muito para ele aparecer na minha frente. Eu já estava quase desenganado.
Quando nos vimos, nós não falamos absolutamente nada. Só nos abraçamos e deixamos o silêncio falar por nós. Meus olhos ficaram encharcados com aquele abraço.

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Quando nos separamos, eu notei que ele também estava com os olhos marejados. Por que a gente sempre chorava no mesmo momento?
- Feliz ano novo – ele me falou.
- Pra você também!
Pelo canto do olho eu percebi que o Vinícius estava todo perdido.
- Vini, lembra do Bruno?
- Hã... Não!
- Bruno, lembra do Vinícius?
- Lembro não também.
Eles deram risada.
- Bruno, Vinícius, Vinícius, Bruno.
Eles apertaram as mãos e trocaram um “feliz ano novo”.
- Do Kléber você lembra, né?
- Dele sim – Bruno olhou pro meu amigo. – Feliz ano novo, Kléber!
- Obrigado, Bruno! Pra você também!
- Então você é o famoso Bruno?
Vinícius não podia ter falado isso. Eu fiquei extremamente vermelho.
- Famoso? – Bruno não entendeu.
- Eu já ouvi falar muito de você.
- Ouviu é? Mal, né?
- Hã... Também – Vini ficou sem graça.
Benfeito! Ninguém mandou ele abrir a boca.
- E com toda razão – Bruno me fitou. – O Caio tem motivos para isso.
- Vamos mudar de assunto? – me pronunciei.
- É melhor – concordou Vinícius. – Deixa isso pra lá, vamos viver o ano novo!
- Quer um gole? – ofereci minha bebida ao Bruno.
- Posso?
- Lógico!
Passei a minha Smirnoff ao garoto e ele deu um gole na bebida, mas não tirou os olhos dos meus.
Bruno estava mais do que lindo. O rapaz usava uma bermuda branca e uma camiseta vermelha – igualzinho a mim no réveillon passado –. Mais uma vez estava de boné e este era da mesma cor que a camiseta e estava virado para trás. Perfeitinho demais.

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Os meninos e eu resolvemos ficar por ali mesmo. Aos poucos a praia foi esvaziando e quando a gente conseguiu espaço, ficamos na areia e curtimos aquele clima de início de ano por mais um tempinho.
Não posso negar que eu fiquei feliz pelo Bruno ter ficado comigo naquele dia e por incrível que pareça a minha cabeça não ficou falando para eu sair de perto dele. Acredito que meus pensamentos já estavam começando a tolerar o Bruno novamente, eu só não sabia o que isso significava.
Recebi vários telefonemas naquela madrugada, incluindo a Janaína, a Alexia e o Víctor, mas o mais importante foi o do Rodrigo:
- Feliz ano novo pra você, gostosão – ele deu risada.
- Pra você também, meu príncipe lindo!
Bruno arregalou os olhos e ficou com cara feia. Vinícius pareceu intrigado.
- Espero que o seu 2.009 seja milhares de vezes melhor que 2.008 e que você consiga resolver todos os seus problemas sentimentais, viu?
- Obrigado, príncipe. Que seu ano seja incrível também...
- Muita saúde aí, muita paz pra nós e um ano novo cheio de coisas boas. A minha mãe te mandou um beijo e te desejou um feliz ano novo.
- Mande outro pra ela e deseje um ano novo repleto de coisas boas pra toda a sua família.
- Pode deixar. O Vini está por aí?
- Sim!
- Melhor eu ligar pra ele porque você me chamou de príncipe e ele no mínimo vai achar isso estranho.
- Verdade. É por isso que eu te amo, porque você é muito inteligente.
- Obrigado pela parte que me toca. Beijo, fica com Deus e eu já estou morrendo de saudades.
- Não mais do que eu. Volta logo?
- Só volto no mês que vem, apressadinho.
- Que pena... Isso é uma lástima!
- Não morra de saudades, hein?
- Vou tentar – nós dois rimos ao mesmo tempo.
- Tchau, Cacs.
- Tchau, príncipe. Fica com Deus.
O Rodrigo só ia ficar todo esse tempo fora porque não estava mais estagiando, senão ele ia ser obrigado a voltar antes. O problema dessa viagem tão longa seria apenas com o curso de inglês. Ele ia perder algumas aulas e depois eu seria obrigado a fornecer tudo o que a Profª Júlia passou durante a sua ausência.
Nem tive tempo de colocar o celular no bolso e o Murilo já começou a me ligar. Eu suspirei, atendi e disse:

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- Oi?
- Feliz ano novo, garotão!
- Pra você também, Murilo!
Ele me desejou tudo o que queria desejar e depois desligou. A gente não conversou muito tempo.
- Posso te fazer uma perguntinha? – Bruno não parava de me olhar um segundo sequer. Vinícius estava no celular, provavelmente com o Rodrigo.
- Faz.
- Quem você estava chamando de “príncipe”?
- Prefiro não falar sobre isso – tentei não ser grosso com o Bruno logo no primeiro dia do ano.
- Mas eu estou curioso. E com ciúmes também. Pensei que fosse o Murilo, mas ele te ligou logo em seguida...
- Não vou falar quem é e você não tem motivos pra ficar com ciúmes. Nós não temos nada, lembra?
- Não temos só porque você não quer, né?
- Não quero falar sobre isso, vamos mudar de assunto?
Mas ele ficou com a cara feia e isso foi suficiente para ambos ficarmos estressados. Dei graças a Deus quando o Kléber me chamou para ir embora.
- Vamos sim – concordei na hora. – Podemos, Vini?
- Podemos, Caio!
- Já vão? – Bruno estava distraído.
- Já – respondeu Vinícius. – Você fica?
- Não. Eu vou embora também. Querem uma carona?
- Carona? – os olhinhos do médico ficaram brilhando.
- Não, obrigado – eu respondi. – Nós vamos de ônibus mesmo.
- Vamos? – Vinícius me fuzilou. – Vamos de ônibus podendo ir de carro?
- Vamos sim – eu sibilei.
- Quero ir de carro, Caio – Kléber me cutucou. – Eu estou cansado!
Quis matar o Kléber nesse momento!
- Faço questão de levá-los em casa – Bruno sorriu.
- Não precisa – cruzei os braços e bati o pé na areia.
- Precisa sim – Vinícius se meteu no assunto. – Eu ficaria eternamente agradecido se você fizesse isso, Bruno.
- Eu também, eu também – Kléber ficou serelepe.
- Com todo prazer, Vinícius. A gente só vai precisar ir até o meu carro, que está lá em Ipanema.
- Não tem problema – o médico estava me olhando. – Ipanema não é longe daqui.

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Fui xingando o Vini e o Kléber em pensamento durante todo o caminho. Eles não podiam ter aceitado aquele convite, não podiam!

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O Celta do meu ex estava estacionado na rua da avó dele, ou seja, na rua do Murilo. Ainda bem que meu namorado não estava na cidade, porque se ele me visse entrando no carro do Bruno, provavelmente ia acabar sobrando pra mim.
- Entra aí, amor – Bruno segurou a minha mão.
- Eu não sou o seu amor! – puxei a minha mão e fui para o banco de trás.
- Por que não vai lá na frente com ele? – perguntou Vinícius.
- Porque eu não quero e cala essa sua boca, não dá ideia pra ele senão eu quebro todos os seus dentes!
Vinícius arregalou os olhos e ficou calado. Eu estava bravo com o meu amigo.

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- Vocês me guiam aí, hein? – o gato entrou no carro, colocou o cinto e ligou o motor.
- Pode deixar – Kléber olhou para a janela e prestou atenção na região.
Não tinha trânsito de carros no Rio naquela madrugada, mas o fluxo de pessoas era tão grande que o Bruno encontrou dificuldade para dirigir em algumas ruas e avenidas do Rio de Janeiro.
- Como você dirige bem – Vinícius elogiou o meu ex-namorado. – Faz tempo que você tem carta?
- Agora fazem uns 3 meses acho. Não sei exatamente quanto tempo faz, não sou bom para guardar datas.
- Pouco tempo... Parabéns, você dirige bem.
- Obrigado.
Conhecendo o Bruno como eu conhecia, eu tinha certeza que aquele elogio foi suficiente para deixar o ego dele lá em cima. Mas eu tinha que concordar que o garoto era bom no volante.
- Quantos anos você tem, Bruno? – perguntou Vinícius.
- 19.
- Ah, desculpa a curiosidade. É que você aparenta ser bem mais novo.
- Ah, valeu – o gatão riu. – Que bom que eu estou conservado.
Revirei meus olhos. O Vini estava me saindo melhor do que encomenda. O Kléber estava era dormindo.
Falando em aniversário, lembrei que o do médico e o do Fabrício estavam chegando. Se eu não estivesse enganado, ambos iam completar 28 anos. Já estavam ficando velhinhos.
- Pode virar à esquerda – mandou Vinícius.
- Tudo bem – meu ex obedeceu e eu me vi na minha rua.
Não demorou nadinha para o Bruno chegar na frente da minha casa e isso me deixou extremamente irritado. Eu não queria que ele parasse ali para não saber onde eu morava.

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- Muito, muito, muito obrigado pela carona – Vinícius estendeu o braço pro Bruno.
- Por nada, Vinícius. Um feliz ano novo pra você!
- Pra você também.
- Obrigado.
- Acorda, Kléber – Vini deu um tapa na cabeça do meu amigo.
- Oi? Oi? Que foi?
- Nós chegamos, rapaz! Anda, vamos entrar!
- Ah... Obrigado pela carona, Bruno!
- De nada, Kléber. Feliz ano novo!
- Pra você também, gatinho.
GATINHO?! Deu vontade de executar o Kléber com uma metralhadora! Quem ele pensava que era pra chamar o Bruno de “gatinho”?!
Assim que eles sairam eu fui logo jogando as cartas pro Bruno:
- Não quero que você venha aqui na minha casa, entendeu?
- Eu falei que ia vir por acaso?
- Não, mas eu te conheço bem e sei que essa é a sua vontade.
- Nisso você tem razão. Se eu pudesse eu viria mesmo.
- Mas você não pode, então vê se não me aparece aqui, beleza?
- Pode deixar, Caio – Bruno bufou. – Eu não vou atrapalhar a sua vida.
- Assim espero. Um bom ano pra você e obrigado pela carona.
Ao dizer isso eu destravei a porta e tentei sair, mas ele me puxou com força pelo braço esquerdo e eu acabei caindo deitado no banco do carro.
- Ficou louco? – isso me deixou irritado.
- Espera... Vamos conversar mais um pouquinho, por favor...
- Não, Bruno! – não aceitei o convite. – É melhor não.
Bruno tirou o cinto e como um gato pula em cima de um muro, ele pulou para o banco de trás do automóvel. Nem sei como ele fez isso tão rapidamente...
Eu queria sair do carro, mas não consegui mexer nenhum milímetro do meu corpo. Bastou o menino segurar a minha mão para eu ficar completamente sem fôlego e completamente excitado.
E mais uma vez eu me vi grudado nos lábios do Bruno. Definitivamente eu não estava mais conseguindo manter o controle das minhas ações, sempre que eu ficava à sós com ele, o meu auto controle sumia do mapa e eu fazia tudo sem nem ao menos pensar nas consequências.
Foi um beijo bem longo e cheio de sentimentos, como deveria ser. A saudade bateu de novo dentro do meu peito e eu fiquei com uma vontade enlouquecedora de pedir para ele entrar, mas é claro que eu não ia deixar essa vontade falar mais alto.

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- Não – sem mais nem menos eu empurrei o Bruno para trás. – Não faz mais isso!
Ele engoliu a saliva que tinha na boca e ficou me olhando com os lábios entreabertos.
- Por quê?
- Porque eu não quero e porque eu tenho namorado. Você deveria encontrar outra pessoa, Bruno. Aproveita o ano novo pra procurar alguém que te ame como você merece e vê se me deixa em paz.
- Não vou procurar ninguém, Caio. Eu te amo e é com você que eu quero ficar. Por que não entende isso?
- E por que você não entende que nós dois não temos mais nada a ver? Eu não te amo mais, será que você entende isso?


- Não ama, né? O beijo está mentindo então?
- Não é o meu beijo que vai dizer o que eu sinto.
- Pois ele diz muito mais do que você possa imaginar e eu sei, eu tenho a mais plena certeza do mundo que você sente alguma coisa por mim.
- Sinto mesmo – suspirei. – Ódio!
- Já ouviu falar que o ódio é facilmente confundido com o amor? O amor e ódio andam lado a lado, de mãos dadas e eles se confundem, se completam, se mascaram...
- Sinceramente? Eu sinto qualquer coisa por você, menos amor.
- Mentir não é o seu forte, sabia disso?
- Eu não estou mentindo, estou falando a verdade – praticamente gaguejei ao falar essa frase. – E te peço que neste ano novo você me deixe em paz.
- Por que não cede, hein? Por que não ouve o seu coração?
- Porque o meu coração é um imbecil, é um burro e não sabe fazer as escolhas direito. Lembre-se que você mesmo falou que aquela conversa seria o nosso ponto final.
- Ponto final é o caralho – Bruno me puxou com muita força e grudou as nossas testas. – Aquilo no máximo foi uma vírgula.
- Me solta, Bruno!
- Não solto não. Vamos pro meu apartamento?
- De jeito nenhum – eu dei risada e me soltei do garoto. – Eu vou é para a minha cama, isso sim. Bom dia, Bruno.
Eu abri a porta e quese saí, mas ele me puxou de novo e eu caí deitado literalmente no colo do Bruno. Ele nem se importou com a porta aberta e foi logo tratando de me beijar.
Ele estava excitado e eu entendia perfeitamente o motivo dessa excitação. Com certeza era o mesmo que acontecia comigo.
- Fica comigo hoje, por favor? – ele me encarou.
- Não – dei um jeito de me sentar e passei as costas da mão na minha boca. – Não me procura mais, por favor. Feliz ano novo, Bruno.
Me senti extremamente aliviado quando eu consegui sair do carro do meu ex-namorado. Eu entrei na minha casa e rapidamente fechei a porta para não cair na tentação de querer ficar com ele novamente.
Mas eu não subi as escadas de imediato. Fiquei parado, encostado na porta com o dedo indicador e o dedo do meio da minha mão direita nos meus lábios.
- Ele me beijou... Ele me beijou...

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Só poderia ser um sonho. Meu primeiro beijo do ano de 2.009 tinha sido com o Bruno e não poderia ter sido melhor.
Sonho? Aquilo só poderia ter sido um pesadelo, um tremendo pesadelo. E o beijo nem tinha sido tão bom assim...
Pesadelo? Como aquele beijo maravilhoso poderia ter sido um pesadelo? Nem nos meus mais belos sonhos eu poderia imaginar um beijo como aquele...
Só por esse beijo eu tive certeza no meu íntimo que o meu 2.009 seria maravilhoso. Como algo poderia dar errado naquele ano se eu já tinha iniciado com o pé direito?
Será que eu poderia encarar aquele beijo como um sinal? Será que era um sinal que realmente o meu ano seria maravilhoso? Ou seria um sinal informando que o novo ano continuaria como o ano velho?
Fosse como fosse, eu estava me sentindo feliz, muito feliz. Feliz por ter alcançado 2.009, feliz por ter saúde e feliz por ter encontrado o Bruno...
Mas a minha consciência queria me deixar triste. Minha consciência queria me deixar pra baixo, queria me deixar irritado e frustrado, mas nada ia atrapalhar aquela sensação que eu estava sentindo...
Eu ainda estava excitado e queria sim ter ido ao apê do Bruno, mas isso sim eu não poderia fazer. Não poderia ser tão insensível para com o meu namorado e tinha que fazer as coisas com muita, muita cautela.
Não que eu quisesse transar novamente com o Bruno, mas se isso fosse acontecer, teria que acontecer à partir do momento que eu estivesse solteiro.
- Caio? – Vinícius me chamou do topo da escada. – Vai passar a noite aí embaixo?
- Já vou, Vini...
Abri meus olhos e suspirei profundamente. O hálito fresco do Bruno ainda estava na minha boca... Como eu ia conseguir viver longe dele, como?
Antes de subir eu abri uma fresta na porta e notei que ele ainda estava na frente da minha casa. Não consegui vê-lo, mas o carro com certeza era dele. Será que ia ficar lá por muito tempo?
Não, não ia. Assim que eu coloquei o pé no primeiro degrau da escada, ouvi o barulho do motor sendo ligado e em seguida o carro deu a partida e desapareceu de perto da minha residência.
Suspirei mais uma vez e subi os degraus lentamente, seguindo para o meu quarto sem pensar duas vezes.
Vini já estava esparramado na cama, apenas com a velha cueca branca que ele sempre usava. O garoto não me fitou porque estava de bruços, mas percebeu a minha presença e disse:
- E aí? Se acertaram?
- Não.
- Não? – ele virou e me encarou. – Como não? É ano novo...

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- E daí? É ano novo, mas as mancadas e mentiras são velhas. E você me saiu melhor do que encomenda hoje, hein? Precisava ter aceitado a carona dele?
- Ah, precisava sim... – Vinícius abriu um sorriso lindo. – Eu estou podre e daqui a pouco tenho que trabalhar! Não ia aguentar voltar de ônibus não...
- A gente poderia ter voltado de táxi, Vinícius! Você sabe que eu quero ficar longe dele e ainda me arma uma dessas? Até parece que é um complô contra a minha pessoa...
- Caio, seja sincero: você quer mesmo ficar longe do Bruno?
- Claro que eu quero...
- Quer? Então por que deu aquele abraço enorme nele? Por que aceitou que ele ficasse na praia com a gente? Por que demorou para subir as escadas? Por que está pensando nele agora? PORQUE VOCÊ AMA ESSE GAROTO, CAIO!
- Amo, amo mesmo – bufei de raiva e caí na minha cama, ainda com roupa. – Mas não posso ficar com ele.
- E não pode por que? Por causa do Murilo? Simples, termina logo esse namoro e vai abraçar a sua felicidade, garoto. Eu não entendo qual é a sua dificuldade em aceitar a realidade!
- A minha dificuldade se chama Bruno, Vinícius. Ele já me fez sofrer duas vezes, quem me garante que não me fará sofrer mais? Quem me garante que ele não me fará sofrer pela terceira, pela quarta, pela quinta vez?
- Não acho que isso vá acontecer. Ele me parece muito apaixonado por você.
- Por mim ele que fique com essa paixão reprimida. Não volto com ele e ponto final. Nesse ano eu vou é intensificar a minha relação com o Murilo, é isso que eu vou fazer.
- Sinceramente? Nunca vi um cara tão cabeça dura como você. Bom dia!
O médico deitou de bruços novamente e bufou provavelmente de raiva de mim. Eu não liguei e não dei ouvidos, afinal somente eu sabia o que eu já tinha sofrido com o Bruno e não ia ser os conselhos do Vinícius que me fariam mudar de ideia.
Acordei só depois do meio dia naquela quinta-feira e logo de cara percebi que eu estava sozinho no quarto. Provavelmente o Vini já tinha ido para o trabalho. Ainda bem que eu estava de folga naquele dia.
Levantei, me espreguicei e fui direto pro banheiro pra tirar a água do joelho. Fiz tudo o que tinha que fazer e em seguida fui para a cozinha para colocar o meu almoço. Eu estava faminto!
Nem cheguei na metade do prato e o Kléber apareceu só de cueca vermelha. Ele me deu boa tarde, sentou na minha frente e montou um prato de comida.
- Como foi sua noite? – ele perguntou.
- Normal e a sua?
- Normal também.
- Sentindo saudades do Miguel?
- Que nada. Falei com ele agora!
- E quando ele volta?
- Fevereiro.
- Que delícia, hein?
- Aham. Queria eu poder ter tirado férias também.
Eu entendia bem o que ele queria falar com aquilo.
- E o namorado? Quando vai apresentar?
- Queria trazê-lo aqui, mas é embaçado!
 - Sei como é, mas leva ele lá na loja... Quero conhecer esse famoso Eduardo.
- Nem vem, hein? Vai tirando “os zóio” que ele tem dono.
- Pode ficar tranquilo – ri. – Eu não vou roubar o seu namorado.
- Acho bom. Esse pernil está bom demais, hein?
- Invenção do Vini!
- Cadê ele? Não vem comer com a gente não?
- Já saiu pro hospital.
- Ah, verdade. Agora ele é um residente, né?
- Sim e já está todo orgulhoso. E não é pra menos.
- Não vejo a hora de me formar e começar na minha área.
- Falta pouco, pô.
- Pouco? Um ano e meio anos pra você é pouco?
- Sinceramente? É sim. Eu comecei a faculdade ontem e já estou na metade.
- Mas você é tecnólogo, Caio. Pra você é muito mais rápido do que pra gente.
- Isso é uma verdade. Se você reclama com 3 anos, imagina o seu irmão com 6?
- Deus me livre. Eu não teria a menor paciência para isso.
- Eu também não.
Kléber e eu ficamos trocando ideia por um tempão e depois que terminamos o almoço, eu fiquei incumbido de lavar a louça e ele ficou incumbido de secar e guardar. Mesmo o cara estando só de cueca ao meu lado, eu não senti o menor interesse por ele e olha que o futuro professor não era de se jogar fora.
Voltei pra loja na sexta e como estava de férias da faculdade, tive oportunidade de dobrar o meu expediente para aumentar a minha quantidade de horas extras no final do mês.

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- Ai que delícia – a Janaína me abraçou. – Como você está gostoso nesse ano novo.
- Cala a boca, meu – eu dei risada. – Você não vale nada.
- Valho sim, nem vem que não tem. Como foi sua virada?
- Muito boa e a sua?
- Boa demais, passei beijando na boca do meu gato.
- Ah, é? Sinal então que o negócio está evoluindo... Já apresentou pra família?
- Já, gato. Está devidamente apresentado, agora só falta saber se ele é bom de cama. Se for bom de cama a gente leva a relação adiante, se não for ele será rapidamente descartado.
- Fácil assim? – eu ri.
- Fácil assim. E assim a vida segue, uns vão, outros vêm... Vamos ver se esse vai dar certo.
- Você acredita que eu não lembro o nome dele?
- Não? Vou dar na sua cara pra você prestar atenção nas coisas que eu falo. Ele se chama Ronaldo.
- Porra, Jana... Você tá pegando o Ronaldinho Gaúcho e não me falou nada?
- CRUZ CREDO... ESTÁ AMARRADO NOS CABELOS DE MARIA MADALENA! Deus me livre, aquele cara é feio demais... Nem que ele fosse o último homem do mundo.
- Amiga, pensa bem – eu ri. – Ele tem muito dinheiro.
- Ah, bom isso é uma verdade... Pelo dinheiro dele, única e exclusivamente pelo dinheiro dele eu seria capaz de fazer um esforço. É só colocar um saco de pão na cabeça e já era.
- Ai que horror – eu ri. – Você não presta, hein?
- Orra! Se presto. Mas me diz, como foi seu ano novo? Passou com quem?
- Com o Kléber e o Vini, o médico. Sabe quem é, né?
- O quê? Como poderia não saber quem é o Vini? Puta que pariu, que cara tesudo é aquele? Aquele sim eu pegava e dava um jeito nele fácil, fácil... Meu sonho!
- Ai Deus... Pois é, passei com eles e com o... Bruno...
- MENTIRA? QUE BABADO É ESSE CAIO MONTEIRO?
- É que ele estava lá em Copacabana também, me ligou, perguntou se poderia me encontrar e eu não consegui dizer não. Daí a gente se encontrou e depois ele foi levar a gente lá em casa.
- Fiquei preta passada na chapinha agora. Vocês dois ainda vão acabar no altar e eu quero ser a madrinha!
- Agora eu que digo: está amarrado nos cabelos de Maria Madalena!
- É Jesus na causa. É Ele que vai abençoar essa união aí de vocês dois. Eu quero escolher o vestido de noiva.
- Que vestido de noiva, Janaína? – uni as sobrancelhas, cruzei os braços e bati o pé esquerdo no chão.
- Ué... O vestido que um de vocês dois vai usar no dia do casamento... Diga-se de passagem, quem teria que usar é você... Ficaria lindo!
- Prepare-se pra morrer... CACHORRA!
Só não bati na cara da Janaína por dois motivos. Primeiro: eu estava com preguiça e segundo: nós estávamos dentro da loja e isso poderia gerar justa causa para mim, mas que eu fiquei com raiva dela, ah eu fiquei.
Como era o primeiro dia útil do ano, vários clientes compareceram na loja para reclamar de produtos com defeito e de montagens que não foram realizadas. Aquele foi um dia extremamente estressante e eu quase fiquei louco de tanto xingo que eu escutei.
- Escuta aqui, garoto – uma mulher levantou da cadeira e colocou o dedo em minha direção. – Se esse montador não for na minha casa agora eu cancelo essa porcaria de compra, está me entendo?
- Perfeitamente, senhora – encarei a mulher e fui firme. – Entretanto, eu já expliquei que não será possível direcionar o montador hoje, uma vez que o seu pedido de montagem foi cancelado.

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- ENTÃO ABRE OUTRO PEDIDO AGORA, SEU INCOMPETENTE!!!
- O pedido já foi aberto conforme eu lhe mostrei e a senhora já está ciente que o prazo para ser realizado o atendimento é até o dia 5 de janeiro, na próxima segunda-feira.
- EU QUERO ESSE MONTADOR HOJE, INFELIZ!
- Por gentileza, a senhora se acalme porque em nenhum momento eu a desrespeitei. Eu já informei o procedimento e não haverá alteração nas informações.
- QUEM É O SEU GERENTE? EU QUERO FALAR COM O SEU GERENTE!
- Um momento, por favor.
Peguei o meu ramal e disquei o número da mesa do Jonas, mas ele não atendeu.
- Gerência, Ana?
- Aninha, é o Caio. Está vendo o Jonas ou a Eduarda por aí?
- Ambos estão ocupados, Caio.
- Onde eles estão?
- Um está no crediário e o outro no estoque...
- Quem está no crediário?
- A Duda...
- Beleza, vou ligar lá. Obrigado, querida.
- Por nada.
- CADÊ O SEU GERENTE?
- A senhora pode esperar? Eu estou entrando em contato com ele, se é que a senhora não percebeu.
A Janaína estava sentada ao meu lado, atendendo um cara que também era mal-educado, mas ele foi ao extremo e quase agrediu a minha amiga.
- O senhor se controle, senão eu serei obrigada a chamar o segurança! – a negra levantou da cadeira e se afastou do cara.
- ENTÃO CHAMA O SEGURANÇA SUA VADIA DO CARALHO... CHAMA O SEGURANÇA E EU QUEBRO A SUA CARA!
- jana, eu já estou ligando pra Duda.
- Obrigada, Caio!
A minha cliente e o cliente da Jana se uniram e ambos ficaram fazendo um escândalo no meio da filial. Eu fiquei morrendo de vergonha.
- Crediário, Luciana?
- Lú, é o Caio. Passa pra Duda, por favor?
- Só um segundinho, Caio.
- Eduarda?
- Duda, sou eu... Por favor, você pode nos ajudar?
- São os clientes, né? Eu já ouvi a gritaria. Onde está o Jonas?
- No estoque, já tentei chamá-lo também. Você pode vir aqui?
- Já estou indo.
- O cliente quase bateu na Janaína.
- Sério?
- Uhum...
- Segura as pontas, Caio!
Ela desligou e enquanto não aparecia, eu liguei pro Jonas. Alguém ia ter que controlar aqueles dois.
- Estoque, Diego?
- Diego, Caio beleza?
- E aí, meu parceiro? Feliz ano novo...
- Pra ti também. Posso falar com o Jonas, por favor?
- Ele está no recebimento, conferindo chegada de produtos. É muito urgente?
- É urgente sim, temos dois clientes aqui que precisam dele... Pode passar pra ele, por favor?
- Um momento.
- Jonas? – o cara atendeu.
- Jonas, é o Caio. Temos dois problemas que requerem a sua presença.
- O que houve?
- Dois clientes exaltados e um quase agrediu a Janaína. A Eduarda já está aqui, você pode vir também?
- Claro. Já estou chegando aí.
- Obrigado.
- Caio, liga pro Tácio, por favor – mandou Eduarda.
- Sim...
Procurei o ramal do gerente regional no sistema e quando encontrei tratei logo de ligar. Ainda bem que o cara atendeu rapidinho:
- Tácio?
- Tácio? É o Caio da loja do Barra Shopping, tudo bem?
- Caio? Desculpe, mas não lembro de você...
- Sou vendedor de móveis. A Eduarda que pediu para te ligar...
- Pois não?
- Nós estamos com problemas. Existem dois clientes exaltados aqui na filial, inclusive um deles quase bateu em uma de nossas vendedoras.
- Quais os problemas deles?
- Montagem.
- Certo. Eu chego aí em 15 minutos, Caio.
- Tudo bem, Tácio. Obrigado.
- Deixa eu sentar aí, Caio? – Jonas apertou meu ombro.
- Claro...
Foi mais de 1 hora de negociação e somente o Tácio conseguiu contornar a situação. Há muito eu não via clientes tão estressados como aqueles, a última tinha sido aquela senhora que queria a entrega do fogão no dia de natal. Seria uma praga de final e começo de ano?

15 DIAS DEPOIS...

- Boas férias, amiga – eu agarrei a Jana com toda a força que tive.
- Ai que delícia... Como você é forte...
- Palhaça – dei risada.
- Seu bombom.
- Obrigado...
- Se não for comer você fala que eu levo pros meus primos...
- Claro que eu vou comer. Faz um tempão que eu não aprecio um chocolate.

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- Você e essa mania de físico perfeito. Daqui a pouco vai ser um Gabriel da vida.
- Não quero ser que nem ele, já atingi o meu objetivo. Só falta o abdômen ficar tanquinho. E já estou quase lá.
- Cuidado, hein? Barriga tanquinho é sinal que a torneirinha é pequena.
- Pequeno é o seu cérebro, Janaína! – fiquei bravo. – Eu estou muito bem resolvido nesse quesito se é que você quer saber.
- Está é?
- Estou!
- Quanto mede então?
- Aí você já quer saber demais, né?
- Ué... Se está tão bem resolvido como diz eu quero saber quanto mede...
- Quer é? Pois você vai ficar querendo, espertinha.
- Você é muito chato, sabia?
- E você é curiosa demais – ri. – Boas férias, é melhor você vazar porque já estão nos olhando.
- Ai que vou mesmo senão me atraso para a minha viagem.
- Boa viagem, boas férias, aproveita bastante e vê se descansa, hein?
- Fácil. Beijo, amigo. Até fevereiro.
- Até fevereiro, sua linda!!!
Ficar 30 dias sem a presença da Janaína seria no mínimo chato, porque bastava olhar pra ela pra começar a rir. A minha amizade com a garota estava cada dia mais forte e eu já tinha plena certeza que nós teríamos que nos tolerar pelo resto da vida e que nunca ninguém iria nos separar. A Janaína era o Rodrigo de saias.
- Oi, Caio! – Do Carmo foi falar comigo.
- Oi, Do Carmo?
- E aí, querido? Já decidiu?
- Já e eu continuo dizendo que não – dei risada.
- Quando mudar de ideia me procura, hein?
Acontece que eu não ia mudar de ideia. Eu não ia me consultar com ela porque eu nem a conhecia direito e também porque eu não acreditava naquelas coisas de oráculos e tudo o que diz respeito a esse mundo que para mim era estranho.

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Resolvi deixar essa história de lado e fui ao encontro da minha amiga Alexia. Ela estava meio jururu e eu queria saber o que estava acontecendo.
- Que se passa nesse coraçãozinho negro?
- Que horror! Meu coração não é negro, eu sou branca!
- Fala baixo, doida – eu sorri. – Se alguém te ouve, você pode parecer racisata!
- Você aí que fica falando que meu coração é negro... Fala sério sou uma menina de luz, rapaz.
- Eu sei que é, sua boba. Era brincadeira, mas me diz o que você tem hoje?
- Ai, eu acho que estou gostando de um menino...
- Ai que bom, Alexia... Se fosse de uma menina eu ia te estranhar, amiga.
- Engraçadinho. Mas eu acho que ele não gosta de mim.
- E quem é esse menino?
- Ele é daqui, não posso falar o nome.
- Ah, mentira? Você vai descobrir o santo e não vai falar o milagre? Pode ir falando nome, idade, CPF, tipo sanguíneo e tamanho do calçado, minha flor...
- Vem cá – ela me puxou e eu senti uma dor no ombro. – É o Diego...
- O do estoque?
- E tem outro?
- Ah, ele é gato... – ponderei. – Quer que eu dê um jeito de vocês se encontrarem?
- Faria isso por mim?
- Qual a chance de eu não fazer? Vou te ajudar nessa, não quero ver a minha amiga encalhada.
- E eu estou encalhada por acaso? Encalhado está você que o namorado está viajando desde dezembro e não voltou até agora. Melhor não ter!
- Nisso você tem razão – eu ri. – É melhor não ter mesmo.
A morena e eu ficamos trocando ideia por um tempinho, mas logo tivemos que dispersar para atender os nossos clientes.
- Caio, cola na grade – Jonas passou na minha mesa e apertou meu ombro.
- Ai, Deus. O que eu fiz de errado? – suspirei, levantei e segui o magricela. – O que foi?
- Senta aí, vamos analisar sua meta desse mês.
- Não quer que eu venda mais do que já vendi, né? Ultrapassei todos os meus recordes.
- Vamos ver como o senhor está... Quero fazer um comparativo com as vendas do ano passado.
- Abre aí.
Existia uma tela no sistema que demonstrava todos os produtos que eu vendi na temporada. Lá também contava os pedidos que não tinham sido montados e as compras que foram canceladas. Eu só tive um cancelamento naquele mês de janeiro e isso me deixou feliz.
- Viu só? – olhei pro meu chefe. – Eu vendi bem!
- Vendeu mesmo, hein? Mais do que você vendia na linha branca, inclusive.
- Verdade, mas como os produtos não são equivalentes nos preços, a minha comissão não vai ser tão grande quanto a do ano passado.
- Vamos ver. Deixa eu ver como você ficou em dezembro de 2.007 e dezembro de 2.008...
Olhamos juntos e eu fiquei surpreso com o resultado. A comissão seria praticamente a mesma e mais uma vez tinha ultrapassado os meus objetivos.
- Gostei de ver. Vamos falir essa empresa com comissão – Jonas riu.
- Posso ser indiscreto?
- Seja – ele me encarou.
- Quanto vocês ganham de comissão?
- Eu e a Duda?
- Sim...?
- A gente ganha 0,5% do que cada equipe vender no mês.
Achei a comissão dos gerentes baixa demais...
- E isso é pouco ou muito?
- Depende do ponto de vista. Se eu tivesse um funcionário só, acharia isso muito pouco, mas como a minha equipe é composta por mais de 30 vendedores, isso me deixa plenamente satisfeito.
- E quanto a gente vende por mês em média?
- Depende do mês, Caio. Em dezembro, por exemplo, vocês fecharam com mais de 2 milhões em venda. Isso a loja toda em 31 dias.
Fiz as contas mentalmente. Uma comissão a 0,5% de 2 milhões de reais dava 10 mil? Será que era isso mesmo? Se fosse estava bom até demais, né?
- Quando vai ter processo seletivo pra gerência? – perguntei de brincadeira.
- Ah, agora você quer né espertinho? – Jonas deu risada. – Pois agora eu vou fazer questão de te encaixar quando tiver uma vaga seja em qual loja for.
- Quero não, é brincadeira – sorri. – Deixa eu ficar com minha comissãozinha pequena mesmo.
- Agora é questão de honra Ou você vira gerente dessa loja, ou eu não me chamo Jonas.
- Pode começar a procurar outro nome, viu?
- Nem a pau, eu amo meu nome e é você que tem que se preparar para assumir o meu posto em breve.
- Sonha. Sonhar ainda é de graça, até o Lula privatizar nossos pensamentos.

DIAS DEPOIS...
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Aproveitei a minha folga de domingo para comprar meus materiais da faculdade. Fevereiro estava batendo na porta e eu ainda não tinha comprado absolutamente nada.
Naquele ano eu não resisti e comprei um fichário de couro preto. Lindo. Só fiquei chateado com o preço, que não foi lá dos mais baratos.
Aproveitei para renovar o meu conjunto de canetas, comprei também um estojo novo, vários lápis, borracha, corretivo – ou branquinho –, folha sulfite, bloco de fichário, divisórias, régua, marca texto, grampo para grampeador, pastas, e clips de metal. Comprei tanta coisa que tive até dificuldade para levar pro caixa.
- Boa tarde – disse a moça do caixa.
- Boa tarde.
Fui entregando as coisas e ela foi passando os códigos de barra. Senti até vontade de chorar quando ela disse o valor final da minha pequena compra:
- R$ 319,54.
Engoli em seco, suspirei e respirei fundo. Peguei meu cartão do banco na carteira, entreguei para a funcionária e disse:
- Tem como passar metade no débito e metade no crédito?
- Claro.
- Então faça isso, por favor.
Que absurdo. Como as coisas estavam caras... Mas o pior de tudo era que eu precisava de cada item que foi comprado. O meu material do ano passado não prestava pra mais nada.
- É metade, metade? – ela me olhou.
- Pode ser.
- Vai querer parcelar o crédito?
- 3 vezes, por favor.


Enquanto ela foi passando o cartão eu fui guardando as coisas nas sacolas. Fiquei chateado com o meu gasto, ainda bem que era meu último ano na faculdade.
- Senha, por favor?
Digitei a minha senha e depois finalizei a arrumação das coisas nas sacolas.
- Sua notinha.
- Obrigado, moça.
- Obrigada, volte sempre.
- Bom trabalho.
- Obrigada.
Continuei suspirando o resto do caminho. Eu deveria ter comprado um caderno de 15 matérias ao invés daquele fichário, mas ele era lindo demais...
- Fomos as compras hoje, é? – Kléber me encarou.
- Pois é. Fui comprar meus materiais da faculdade.
- Nem comprei os meus ainda.
- Está um absurdo de caro. Gastei mais de R$ 300,00 nisso daqui.
- Ah, mas pudera... Você comprou a loja toda, né?
- Nada. Só o necessário mesmo.
- Por que não usou seus materiais do ano passado?
- Por dois motivos. Primeiro: não prestam mais e segundo: semestre novo, materiais novos.
- Consumista – meu amigo riu. – E depois não quer gastar dinheiro!
- É um mal necessário, mas já está acabando. Graças a Deus é meu último ano.
- Sempre que você fala isso eu entro em depressão. Você começou a faculdade depois de mim e já está se formando. Isso não é justo!
- Isso é pra quem pode e não pra quem quer – brinquei e entrei no quarto para arrumar as minhas coisas.

Eu tinha uma gaveta na cômoda destinada aos meus materiais da faculdade. Arrumei os antigos cuidadosamente e em seguida comecei a organizar os novos, visto que faltava apenas 10 dias para o início das aulas, que seria em 9 de fevereiro.
Nenhum dos meninos havia voltado das férias de começo de ano e isso só iria acontecer na véspera do início das aulas. Todos iriam voltar no domingo, dia 8. Eu estava ansioso para rever o Rodrigo.
Mas só de pensar que ele e a Marcela já tinham transado isso me deixava irritado. Eu não sabia se recebia o meu amigo com um abraço ou com um soco no olho e uma vassourada. Eu ainda tinha muito ciúmes daquela garota insuportável.
Murilo também ainda não tinha voltado de férias e nem sequer estava mais me ligando. Ele deveria estar se divertindo tanto que nem lembrou que eu existia. Eu também não fiquei ligando, porque fiz isso várias vezes e ele nunca me atendeu. Se ele não queria falar comigo, não seria eu que ia ficar insistindo.
Já com o Bruno era totalmente diferente. Nós sempre estávamos nos falando, mas não era algo com muita frequência e não tinha um dia certo pra isso acontecer.
Era sempre ele que me ligava e na maioria das vezes, nós só falávamos o básico mesmo. O que me deixou contente foi o fato dele não insistir mais para a gente se encontrar. Isso significava que finalmente ele tinha entendido que eu não queria mais nada com ele.
Pelo menos era isso que eu achava. Não que fosse verdade, é claro que eu queria ficar com ele, mas a minha cabeça, meus pensamentos ainda não deixavam isso acontecer e eu nem sabia se ia acontecer ou não.

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Entretanto, sempre que nós falávamos, eu ganhava o meu dia. Ficava feliz, praticamente radiante e isso era notado por todos os que me cercavam.
- Que felicidade esquisita é essa? – perguntou Eduarda.
- Não posso ficar feliz, chefona?
- Claro que pode, mas qual o motivo?
- Ah, sei lá! Me sinto feliz, só isso.
- Ai que bom. Fico muito contente com isso. Que essa felicidade vire rotina.
- Assim seja!
- Que dia começam as suas aulas?
- Dia 9.
- Então desse dia pra frente nada de hora extra, correto?
- Corretíssimo.
- Só pra não esquecer.
- Sim senhora. Vou cumprimentar meus amigos e trabalhar. Qualquer coisa me procura.
- E vice-versa. Bom trabalho.
- Pra nós.
- Caio? – Do Carmo apareceu e eu logo suspirei.
- Não quero – dei risada.
- Quando mudar de ideia me procure – ela riu também.
- To fora – falei pra mim mesmo. – Alexia...
- Amor – ela me abraçou. – Hum, que cheiroso...
- Sou limpinho, amiga!
- Já voltou pra academia?
- Voltei hoje. Eles finalmente reabriram depois de 1 mês fechados.
- Porque demorou tanto pra abrir?
- Eles tiveram um problema com o encanamento dos vestiários. Reformaram.
- Ah, entendi. Acho que vou começar a malhar também.
- Faz muito bem. Hoje em dia eu não vivo mais sem a academia.
- Você já é quase um Gabriel da vida.
- Sou nada – dei risada.
- Ei, você já falou com o Diego? – Alexia mordeu o lábio.
- Ainda não. Quase não vejo aquela criatura.
- Se mete lá no estoque, amigo. Me ajuda aí...
- Relaxa, minha missão para 2.009 é te desencalhar. Não fique preocupada.
- Não estou encalhada, seu viado branquelo. Só estou na seca, é diferente.
- Ou seja, está encalhada. E não é “viado”, é “veado”.


Chegar em casa no dia 8 de fevereiro e encontrar o Rodrigo deitado na minha cama não teve preço.
- Eu estava com muita, muita, muita saudade de você – agarrei meu amigo e quase não larguei mais.
- Eu também estava, mano. Muita saudade. Como você está?
- Muito melhor agora e você?
- Estou ótimo, melhor impossível. Pena que tive que voltar, se pudesse continuaria lá no Paraná pra sempre.
- Você ama aquele lugar, né?
- Amo sim. Nasci e cresci em Curitiba, Caio. Eu amo demais a minha cidade.
- Mas ainda bem que resolveu estudar aqui no Rio de Janeiro, pelo menos assim a gente se conheceu.
- Verdade. Aqui eu conheci você e o amor da minha vida. Meus dois amores!
Fechei a cara.
- O assunto estava bom até agora... Tinha que falar naquela lambisgoia?
- Não fale assim da Marcela, ela não é lambisgoia.
- É sim aquela cachorra... Como eu tenho ciúmes dessa garota, você não tem noção.
- Ciumento – ele me abraçou de novo. – Ainda bem que ela foi pra lá.
- Rolou mesmo? – eu choraminguei. – Diz que não, vai?
- Rolou e rolou várias vezes – ele riu. – Quase fiquei esgotado fisicamente falando. A gente não fazia outra coisa a não ser sexo...
- CACHORRO!
Eu não consegui me controlar e bati no Rodrigo. Eu sentia muito ciúmes dele com a Marcela, muito mesmo!
- Seu sadado – eu bati de novo. – Seu safado!!!
- Para, Cacs! – ele se defendeu rindo. – E foi muito bom... Ai, para de me bater...
- E a sua família não falou nada, seu cachorro? – dei mais um tapa no garoto.
- Não, porque a gente fazia só de noite, né?
- Você falou que era “a toda hora”... – mais um tabefe, dessa vez no peito dele.
- Modo de falar. Não dava pra fazer 24 horas por dia, se bem que era isso que a gente queria, mas enfim.
- Poupe-me dos detalhes sórdidos, por favor – dei mais uma porradinha nele.
- Agora que rolou eu me sinto mais completo ainda, sabia? – ele me segurou, prendeu meus braços e me abraçou. Pra finalizar, o cachorro beijou meu pescoço.
- Quer parar?
- Ela é muito perfeita, ela é muito linda, gostosa, cheirosa...
- Quer parar de me deixar com ciúmes?
- Ela me completou na cama, sério mesmo.
- PARA COM ISSO!
- O que foi? – ele riu.
- Que saco, eu estou com ciúmes, será que você não percebe isso?
- Bobinho – Rodrigo riu. – Não precisa ficar com ciúmes de mim. Eu já disse que você é o único homem que eu amo nessa vida?
- Já, mas isso pra mim não é suficiente.
- Bobinho que eu tanto adoro – ele me deu um beijo no rosto. – Quer dormir comigo hoje?
- QUERO!
- Mas só dormir, tá bom?
- Chato – brinquei e sorri. – Só espera eu tomar um banho.
- Enquanto isso eu vou arrumar a cama e te espero, tá? Vamos aproveitar que o Vini foi namorar e o quarto é só nosso.
- Verdade. Já volto.
Eu pensei que todos os meninos iam voltar naquele domingo, mas me esqueci que o Fabrício não estudava mais e que ele só ia voltar para a formatura, que seria no mês seguinte. Eu já estava sentindo falta do meu amigo.
Após o banho eu coloquei a minha cueca, dei um jeito no meu cabelo, escovei os dentes, coloquei a roupa suja no tanque e por fim voltei pro meu quarto.
Ele estava me esperando na minha cama, deitado de barriga pra cima, apenas de cueca e com o braço esquerdo atrás da cabeça. Lindinho até demais.
- Senti tanto a sua falta – deitei no peito do Digow.
- E eu a sua. Os meus pais te mandaram lembranças.
- Eles estão bem?
- Graças a Deus.
- E seu sobrinho?
- Está a coisa mais linda desse mundo. Correndo por todos os lados e falando pelos cotovelos. Fiz um vídeo dele no celular, olha só.


Eu olhei e me encantei. O menino era lindo e muito esperto. Ele me lembrava o tio, mas como não era sobrinho de sangue do Rodrigo, eu não consegui entender qual era a semelhança entre os dois.
- Lindão ele, né?
- Muito. Sua mãe deve babar nele, né?
- Demais... A Marcela pirou quando o viu. Ele é muito lindo.
- Puxou ao tio – falei baixinho.
- Bobão. Me conta quais são as novas daqui?
- Aqui em casa está tudo na mesma. Eu paguei todas as contas com o Vini, nós passamos o ano novo em Copacabana com o Kléber e foi isso. Nada de anormal.
- E esse coraçãozinho aí, como está?
- Batendo. Apaixonado por você!
- Besta! Ainda pensando nele?
- Como sempre, mas não tanto como antes porque ele deu uma trégua.
- Já não era sem tempo, né?
- Uhum.
- E o Murilo?
- Não voltou ainda.
- Caraca. Que férias são essas?
- Ele volta essa semana, acho. Faz tempo que a gente não se fala.
- Alexia está bem?
- Sim. Por quê?
- Sei lá. Lembrei dela de repente.
- Hum.
- Preparado pra mais um ano na faculdade?
- Graças a Deus é o último.
- Verdade – concordou Rodrigo. – Como o tempo passa rápido.
- É mesmo. Comprou seus materiais?
- Comprei sim e você?
- Ainda estou indigesto. Gastei mais de R$ 300,00 com eles.
- Eu também. As coisas estão caras esse ano, né?
- Verdade.
- Como foi o aniversário do Vinícius?
- Ah, foi legal. Ele comemorou lá com a namorada dele e a família dela. Me convidou, mas eu não me senti confortável para ir na casa da Bruna.
- Entendi. E o Fabrício deu notícias?
- Eu liguei no aniversário dele e ele disse que só volta pra formatura.
- Eles fizeram 28, né?
- Uhum. E o senhor vai fazer 24, né?
- Não. Faço 23.
- Mentira sua, você faz 24!!!
- Não, não. Eu vou fazer 23 anos esse ano.
- Pensa que me engana – dei risada. – Fará 24 e eu sei muito bem disso.
- Até que se prove o contrário eu faço 23 anos e que não se fale mais nisso!!!
- 24... A idade da decisão. Quer ajuda na escolha?
- Não, obrigado. Eu já escolhi desde que nasci. Palhacinho...
- Pena que não fez a escolha certa, mas se mudar de ideia aqui estoum eu, tá bom?
- Bobo! – meu irmão fez cafuné nos meus cabelos.
Digão e eu ficamos conversando até altas horas da madrugada e só paramos quando o sono tomou conta do nosso corpo.

Foi um sacrifício levantar mais cedo na manhã seguinte. Eu já estava acostumado a acordar mais tarde e voltar a rotina diária de estudos não seria nada fácil.
Cheguei na universidade faltando apenas 5 minutos para o início da 1ª aula e não houve nem tempo para colocar o papo em dia com meus amigos.
Um cara bonito, alto e gordo entrou na sala. Ele parecia ser muito culto e estava usando um terno que não parecia ser lá muito barato. Confesso que fiquei curioso pra saber qual era a matéria dele.
A disciplina era Logística e o professor se chamava Sandro. Achei um tédio, mas se era necessária, a gente ia encarar.
A 2ª aula foi com um homem que parecia ter no máximo 30 anos. Ele era alto, esbelto, bonito e chamou muito a atenção de todas as meninas. A Jéssica até se ajeitou na cadeira para vê-lo melhor. O nome dele era Daniel e ele lecionava Gestão Financeira. Também não gostei da matéria, mas enfim. Essa ficou no lugar da Matemática e parecia ser bem pior.
A 3ª aula foi de Estratégias Mercadológicas com a Professora Laura e a 4ª e última aula foi de Educação Corporativa com o Professor Otávio. Essa foi a matéria mais legal do 3º semestre da faculdade.
- Como foi seu primeiro dia de aula? – Rodrigo me esperou no portão.
- Não gostei. Só gostei da última matéria e você?
- O meu foi um porre. Já me passaram o TCC!
- Sério?
- Aham.
- Putz, boa sorte aí.
- Obrigado. Algo me diz que para mim esse ano será igual ao que foi o do Fabrício no ano passado. Já montei o meu grupo de 8 pessoas e já vamos iniciar os trabalhos ainda essa semana.
- É tão ruim assim?
- Sim. É um trabalho que envolve todo o conteúdo do curso, desde o 1º semestre.
- Cruzes – eu arregalei os olhos. – Eu vou ter isso não, né?
- Não – ele sorriu. – Você é tecnólogo e nesses cursos não têm TCC.
- Te amo, Deus – suspirei.

NO FINAL DE SEMANA..
.
- Eu estava com tanta saudade – Murilo acariciou o meu rosto.
- Eu também, Murilo – fechei meus olhos.
Senti um beijo mais provocativo e isso foi o suficiente para acender o pavio e eu ficar excitado.
Subi em cima do meu namorado, arranquei a minha camiseta e aos poucos a coisa foi acontecendo.
Queria muito que rolasse algo a mais que sexo oral, mas novamente não aconteceu e isso foi determinante para eu colocar um ponto final na nossa relação:
- Chega – falei depois que ele colocou a roupa.
- Chega o quê?
- Chega com esse relacionamento. Acabou!
- Oi? – Murilo ficou branco. Ele estava muito bronzeado.
- Acabou. Não aguento mais só rolar sexo oral, Murilo. Ou você faz as coisas de forma completa, ou a gente termina aqui. Você escolhe!
- Calma, Caio...
- Calma é o cacete! A gente já tá namorando há um tempão e eu só estou ouvindo “eu ainda não to pronto, cara.”. Quando você vai ficar pronto? No dia de São Nunca? Ou a relação evolui e vira um namoro de verdade, ou a gente termina agora.
- Não, eu não quero terminar com você! Eu te amo – ele me abraçou com força.
- Então prova que me ama. Prova que me ama e fica comigo por inteiro. Se isso não acontecer, a gente termina.
- Me dá só mais um tempo?
- Vou te dar até o próximo encontro. Se no próximo encontro não rolar, tchau e bênção, entendeu?
- Entendi sim... Assim você está me pressionando demais...
- Pressionando? A gente ficou sem se ver mais de 2 meses e você ainda fala que eu estou te pressionando? Faz favor, né?
- Eu te prometo que no próximo encontro a gente faz tudo o que você quiser – ele suspirou.
- Assim espero!
E era isso mesmo que eu queria. Se eu quisesse esquecer o Bruno, as coisas tinham que acontecer e tinham que acontecer da forma correta. Eu não aguentava mais ficar só naquela “pegação”.
Foi só pensar no Bruno para eu atrair o garoto para perto de mim. No mesmo momento que eu estava saindo da casa do Murilo, ele estava saindo da casa do Vítor.
- Ai, Deus – suspirei.
- É o meu primo ali? – Murilo perguntou.
- É...
- Quer entrar de novo?
- Não. Eu preciso ir pra casa que amanhã é dia de aula.
- Espera, deixa ele ir embora antes...
- Não posso, Murilo. Já estou atrasado!
- Então eu te levo até o ponto...
- Não precisa. Eu vou sozinho mesmo.
- Mas eu quero...
- Não precisa!
- Eu quero te proteger do Bruno, caralho...
- Eu sei me proteger sozinho e ele está de carro não está vendo?
- Esse carro aí é dele? Como você sabe que esse carro é dele, Caio?
Opa... Falei demais...
- Porque ele está com a chave na mão, não está vendo?
- Nossa que visão super sônica é essa?
- Ele só está do outro lado da rua. Você tem problema de visão? – me preocupei.
- Não!
- Hum... – achei estranho. – Enfim, estou indo tá?
- Tudo bem, né?
- Pensa no que eu te falei? – fiz bico.
- Penso, meu – ele me puxou.
- Te amo, tá bom?
- Eu também, cara – Murilo me deu um selinho. – Boa semana.
- Pra você também.
Murilo abriu o portão e eu saí. Não olhei diretamente pro Bruno, mas com certeza ele me viu. Não sei porquê, mas eu tive a certeza que ele me viu.
E viu mesmo. Quando eu estava sentado no ponto do ônibus, o carro dele parou na minha frente e ele disse:
- Entra aí... Eu te levo em casa...
- Não, obrigado – nem olhei na cara dele. Eu tinha que ser firme.
- É sério, entra aí...
- Não, valeu. Eu espero o ônibus mesmo.
- Prefere ficar horas dentro de um ônibus ao invés de chegar em casa cedo? Você é quem sabe... – meu ex andou um pouquinho com o carro.
Eu fiquei bem balançado>
- Promete que me leva pra casa mesmo? Não vai tentar fazer nada comigo?
- Prometo – Bruno beijou os dedos em formato de “X” duas vezes.
Suspirei. Maldito sentimento era aquele que eu sentia por ele. Minha razão sempre ficava minúscula perto do amor que eu sentia por aquele garoto.
Eu entrei, coloquei o cinto de segurança e fiquei olhando pra frente.
- Não vai me cumprimentar?
- Ah, desculpa – dei a mão pro Bruno apertar.
Mas ele não apertou a minha mão. Ao invés disso, ele me puxou e me deu um selinho demorado.
- IDIOTA! – eu soltei o cinto, abri a porta e saí do carro. – NÃO DÁ PRA FAZER NEGÓCIO COM VOCÊ!
- Desculpa, Caio... Me perdoa...
- NÃO! VAI EMBORA!
- É sério, desculpa... Foi mais forte do que eu.
- VAI EMBORA, BRUNO! – eu fiquei com raiva de verdade.
- Me perdoa, por favor... Entra aí, eu não faço mais isso.
- NEM MORTO!

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O problema foi que enquanto eu brigava com ele o meu ônibus passou e eu acabei o perdendo. Isso me deixou mais irritado ainda.
- Viu o que você fez? Eu perdi meu ônibus por sua culpa! Agora ele vai demorar horas pra passar...
- Entra, Caio – Bruno até saiu do carro. – De verdade, eu não vou te beijar mais. Me desculpa, é sério.
Bufei. Ele insistiu tanto que acabou me convencendo de novo, mas eu só aceitei porque o ônibus tinha passado recentemente, senão não tinha entrado naquele carro.
- Não encosta em mim! – falei.
- Prometo que não encostarei mais em você.
Não sei explicar por qual motivo eu não fui no banco traseiro. Eu deveria ter ido lá, pelo menos ali ele não poderia me agarrar. Santa ignorância!
- Você está bem? – ele perguntou.
- Estava bem até você aparecer na minha frente.
- Não fala assim, Caio.
- É verdade, Bruno! Você acaba com o meu dia.
- Pois você melhora e muito o meu dia. Estava no Murilo?
- Estava,
- Affe – ele bufou e ficou com cara feia. – Aquele fedelho nem saiu das fraldas ainda.
- Mais respeito com o meu namorado!
- Seu namorado – ele deu risada. – Essa é boa.
- Ele é meu namorado sim!
- - Aposto que ele não te faz feliz em nada. Você deve estar com ele só para tentar me esquecer.
Como ele sabia daquilo?
- Está muito enganado, Bruno. Eu estou com o Murilo porque o amo.
- Ama, é?
- Amo, é claro que eu amo!
- Aham, sei.
- E você estava no Vítor? Fizeram as pazes, é?
- Fizemos sim. Nos perdoamos. Uma amizade que dura 19 anos não pode morrer assim do nada.
- Por que brigaram?
- Quer mesmo saber?
- Quero. Se eu não quisesse, eu não teria perguntado.
- Brigamos porque ele te chamou de idiota.
- Oi?
- Brigamos porque ele te chamou de idiota!
- Só por isso?
- E também porque ele te ofendeu. Eu não quero nem pensar no que ele falou senão é perigoso eu bater o carro.
- Me ofendeu? Que história é essa?
- Caio, o Vítor é meu melhor amigo e ele sabe de toda a nossa história. Ele sabe que eu sou louco por você e sabe que você não está me dando bola...
- E?
- E ele disse que eu tenho que partir pra outra. Disse que você não me merece, que você é um idiota, um cara metido a besta e disse que você não serve pra nada, nem pra lavar banheiro de presídio feminino. Falou que você é pior que lixo!
- Ele disse isso, é?
- Uhum. Desculpa te falar isso, foi você que pediu.
- Sem problemas. Eu não gosto dele mesmo, de hoje em diante gosto menos ainda.
- E brigamos também porque ele quis ficar com você naquele dia na balada. Desde aquele dia eu não falei mais com ele direito. De lá pra cá a gente só brigou.
- Isso foi verdade. Ele quis mesmo ficar comigo.
- Maldito – Bruno ficou vermelho.
- Ele é um idiota. Deixa ele falar mal de mim, o que vem de baixo não me atinge.
- Não deixo não. Ninguém fala mal de você perto de mim, ninguém!
Achei aquilo no mínimo fofinho, mas ele ia ter que rebolar muito pra conquistar de novo a minha confiança. Se é que seria possível.
- E a faculdade?
- Indo bem.
- E o trabalho?
- Bem também.
- Hum. Que bom.
- E o seu trabalho?
- Bem, obrigado. Preciso te convidar para andar comigo de metrô.
- Deus me livre – sorri. – Não quero não.
- Palhaço. Eu guio muito bem.
- É fácil?
- Sim. No começo é difícil, mas depois a gente acostuma.
- Entendi.
- Onde eu entro agora?
- Segue reto, você só vai entrar lá na frente.
- Ah, é verdade. Eu já estava com saudades de você.
- Problema é seu – provoquei.
- Você adora me humilhar, né Caio?
Fiquei calado e não falei mais nada até chegar na minha casa. Ele decorou o caminho. Eu estava frito!
- Obrigado pela carona.
- Espera – mais uma vez ele me puxou. – Fica mais um pouco.
- Não! Eu não quero... – parei a frase na metade.
- Cair em tentação? – Bruno encarou os meus olhos.
Engoli em seco. Aquele era o termo perfeito para ser usado naquele momento.
- Não quero falar mais com você – menti.
- Não mente – Bruno me puxou pela terceira vez naquele dia. – E me beija logo!
Foi inevitável controlar a vontade e eu caí sim em tentação. Bastou ouvir aquele “me beija logo” para eu puxar meu ex-namorado e tascar-lhe um enorme beijo na boca.
Bruno colocou a mão na minha nuca e nós giramos as cabeças sem parar. Foi um beijo rápido, mas não deixou de ser apaixonado.

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Quando nos separamos, ambos ficamos com os lábios entreabertos e não paramos de nos fitar. Meu coração estava a mil por hora e meu pau já estava pra lá de duro. As coisas aconteceram rápido demais.
- Eu... – fiquei sem palavras. – Preciso ir. Boa noite, Bruno!
Abri a porta e desci o mais rápido que pude. Quando entrei em casa, subi as escadas correndo e fui logo pra minha cama. Aquele beijo não podia ter acontecido. Não podia...

- Vamos na Lotérica comigo, Caio? – perguntou Rodrigo.

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- Pra quê?
- Meu tio ganhou na Loteria e eu vou jogar também.
- Seu tio ganhou na loteria? Sério? Ele ganhou na Mega Sena? Você ficou milionário, Digow?
- Não, ganhou na Lotofácil. Só ganhou uns 400 mil reais e eu não fiquei milionário. Ainda.
- Ah, só isso, Digow? Coisa pouca, não dá nem pra comprar um maço de cigarros! Quem me dera ganhar essa bolada!
- Mas comparado com o prêmio da Mega Sena isso não é nada.
- Isso é verdade.
- Por que você não joga também?
- Nem sei como faz isso.
- Eu te ensino.
Era muito fácil. Rodrigo me explicou que acertando 11 dos 15 pontos já ganhava alguma coisa. Eu fiquei esperançoso e fiz logo dois cartõezinhos do jogo de azar.
Naquela mesma noite eu entrei na internet só para pegar o resultado do jogo. Dei o meu jogo pro Rodrigo e enquanto ele foi ditando os números que eu joguei, eu fui verificando quantos pontos eu tinha acertado.
- 7... – meu coração ficou acelerado.
- 15 – disse Rodrigo.
8... 9... 10... ONZE... EU FIZ 11, RODRIGO, EU FIZ 11!!!
- Sério?
- EU FIQUEI RICO!!! EU FIQUEI RICO!!!
O prêmio total da Lotofácil estava acumulado em pouco mais de 1 milhão de reais. Como eu tinha feito 11 pontos, eu estava crente que tinha ganhado pelo menos uns R$ 20 mil e só de pensar nessa hipótese eu já me senti praticamente milionário.
Para um cara que foi expulso de casa, 20 mil reais era um dinheiro imenso. Eu nem consegui dormir direito naquela noite sonhando com o que eu ia fazer com toda aquela dinheirama. E se fosse mais?
Será que daria pra comprar uma casa ou um carro? Melhor seria deixar na poupança para render jurus. Fosse o valor que fosse, eu decidi que não ia mexer... Ia guardar para fazer um “pé de meia” na vida.



Eu estava tão feliz, mas tão feliz que nem sequer prestei atenção na aula na manhã seguinte. A minha ansiedade era tão grande que eu nem consegui ir pra academia naquele dia. Tudo o que eu queria era receber o meu prêmio, afinal eu estava rico não é mesmo?


- Ai meu Deus... Quanto será que eu ganhei, Rodrigo? Vem logo, Rodrigo! Que demora!
- Não faço ideia, Caio... Espero que seja muito, mano. De coração, você merece!
- Metade desse prêmio vai ser seu...
- Para com isso, hein?
- Foi você que me incentivou a jogar, meu...
- Mas eu não quero. O dinheiro é seu! – parecia que ele queria dar risada.
- Que foi? Ai, que demora dessa mulher...
- Próximo – a moça do caixa me chamou.
- Ai que ansiedade... – saí quase correndo pro caixa. As minhas mãos tremiam. – Moça, eu ganhei na Lotofácil e vim retirar o meu prêmio!
- Posso ver seu comprovante, por favor?
Entreguei o comprovante e fiquei esperando com um sorriso bobo nos lábios.
- Moça, se não der pra levar o valor eu tenho que ir na Caixa né?
- Sim, mas vai dar pra levar.
Que bom... Sinal que aquela Lotérica era cheia da grana...
- Ai, Digow! Eu fiquei rico!
- É, mano – ele ainda queria rir. – Ficou sim!
- Por que você está segurando uma risada?
- Moço? – ouvi a mulher me chamando.
- Sim? Cadê meu dinheiro? Ou é cheque?
A moça abriu o caixa e a minha barriga ficou gelada. Ela passou o valor pelo vão dos vidros e eu quase caí pra trás de tanta decepção, raiva e vergonha.
- Aqui está – ela me olhou.
- DOIS REAIS E CINQUENTA CENTAVOS???
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Um comentário:

nevertonnitoly@gmail.com disse...

Caio Monteiro não teve cmo eu me esbaldar de rir aki com você nossa rir mto que. Cheguei chorar Rodrigo tmbem safadinho kkkkkkk mas como sempre impecável,o Bruno é brasileiro msmo não desiste mas cmo podemos desistir de nos amamos né verdade ansioso pelo próximo bjkasss seu lindo❤💛