E
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u não sabia se ria, se chorava, se gritava, se saía
correndo, se caía na cama ou se simplesmente comemorava.

Estava feito. Eu tinha finalizado o curso. Fechei a matéria final com média máxima e não peguei DP em nenhuma disciplina. Eu tinha conseguido, havia finalizado a faculdade. O próximo passo era só a formatura, que já estava paga e já tinha data marcada: 13 de março de 2.010.
Rodrigo me abraçou de novo e juntos, nós choramos e gragalhamos de emoção. A gente tinha conseguido. Ele tinha conseguido, eu tinha conseguido e devia tudo aquilo justamente à ele. Foi graças a ele que eu consegui conquistar aquele sonho. Se não fosse o incentivo do Rodrigo, eu nunca teria dado o pontapé inicial.
- A gente passou – ele falou. – A gente passou...
- E isso tudo é graças à você! Obrigado por me incentivar, obrigado por me ajudar, por me animar, por me encorajar... Eu devo isso à você!
- Você deve isso ao seu esforço, não a mim. Parabéns pra gente, mano. Parabéns pra gente...
- Parabéns pra gente! Eu nem acredito...
- Nem eu!
Nos soltamos e o Vinícius me abraçou. Ele me parabenizou e disse que estava orgulhoso de mim. Disse que estava feliz pelo meu progresso e que eu merecia tudo aquilo que estava vivendo.
As palavras do Fabrício foram ditas através de um abraço longo e silencioso. A única coisa que ele me falou foi um “parabéns” e nada mais que isso, mas não havia necessidade de falar mais nada.
Eu sabia que eu sempre poderia contar com eles. Eles eram os únicos amigos verdadeiros que eu tinha na vida, com exceção das meninas e do Víctor é claro. Se eles não fizessem parte da minha vida,
muito provavelmente eu não teria alcançado aquele degrau. Eu estava livre da faculdade, livre!

- Eu preciso ligar pros meus pais...
- E eu pro Bruno!
Rodrigo e eu saímos do quarto e fomos pra laje de nossa casa. Ele ficou num canto, eu fiquei no outro e cada um ligou para quem tinha que ligar.
- Amor? – a voz de sono do Bruno partiu meu coração.
- Eu te acordei, bebê? – funguei.

- Acordou, mas não tem problema. Aconteceu alguma coisa? Você está chorando? O que fizeram com você, anjo? Fala, eu estou ficando preocupado!
A voz dele passou do cansaço para a preocupação. Eu chorei de novo e quase não consegui falar pro Bruno o que estava acontecendo.
- Eu vou pra sua casa agora... Deve ter acontecido alguma coisa séria com você!
- Não, amor... Aconteceu uma coisa maravilhosa...
- Você foi promovido? – ele chutou.
- Não. Eu passei na faculdade.
Silêncio.
- Ai... Amor... Putz, parabéns...
De todos, ele foi o que me parabenizou mais. Bruno fez um verdadeiro discurso e para a minha surpresa, ele também se emocionou.
- Eu estou tão orgulhoso de você, tão orgulhoso... Meu príncipe agora é um cara formado na faculdade!
- Não sou formado ainda, bobo. A formatura é só em março.
- Mesmo assim... Falta pouco! O pior já passou. Nem acredito, anjo... Como eu queria você aqui pra te encher de beijos...
- Eu queria você aqui também pra me encher de beijos, mas amanhã eu ainda tenho que acordar cedo...
- É eu também tenho que acordar cedo. Amanhã é meu último dia no cursinho, graças a Deus.
- Que bom, meu lindo. A gente vai acabar as aulas juntos.
- Verdade. Mal posso esperar. Eu te amo, Caio!
- E eu a você, amor.
- Meu universitário lindo!
- Bobo – eu sequei uma lágrima de felicidade.
Como eu estava feliz. O Rodrigo deu risada alegremente. Ele também estava feliz. Quem não ficaria numa situação daquelas?
- Amor, vou deixar você descansar, tá bom? Me perdoa ter te acordado.
- Não tem problema, anjo. Eu ia te ligar, mas peguei no sono. Desculpa.
- Não tem problema.
- A gente se vê nesse final de semana?
- Com toda certeza do mundo!
- Eu vou te encher de beijos, meu gostoso!
- Eu também. Estou morrendo de saudades.
- Nem me fala, amor. Nem me fala. Não aguento mais ficar longe de você.
- Nem eu, anjo.
- Boa noite então – o coitadinho bocejou.
- Boa noite, lindão. Eu te amo muito. Desculpa o incômodo.
- Não me incomodou em nada. Parabéns, tá?
- Obrigado. Eu te amo!
- Eu também. Beijo.
- Outro.
Nos despedimos com um tchau e em seguida eu desliguei pro coitadinho poder voltar a dormir. Ouvir a voz do meu Bruno me deixou tão contente... Eu nem sequer estava mais sentindo sono naquela altura do campeonato. A adrenalina corria pelas minhas veias sem fazer nenhum pitstop.
- Minha mãe quer falar com você – Rodrigo foi pra perto de mim com o celular na mão direita.
- Dona Inês? – eu atendi.
- Fiquei sabendo que o senhor terminou as aulas, foi? É isso mesmo?
- É sim...
- Então eu quero lhe transmitir os meus mais sinceros parabéns. O Rodrigo disse o quanto foi difícil pra vocês essas últimas semanas. Eu estou muito orgulhosa dos dois, de coração.
- Obrigado, Dona Inês...
- Que Deus te abençoe, meu filho. Eu tenho certeza que esse foi apenas o primeiro passo de um futuro de vitórias que virá pra você.
- Deus te ouça...
- Pode ter certeza que todo o esforço que a gente faz, é sempre para o nosso crescimento como pessoa. Nada vem fácil, Caio. O que vem fácil vai embora fácil. Parabéns por ter alcançado mais esse objetivo na sua vida. E a gente se vê em breve, hein? Quero ver você na formatura, lindo!
- Vai ser um prazer rever a senhora, Dona Inês.
- Você. Você. Não me chame de senhora, menino.
A gente deu risada.
- Deus te abençoe. Estou orgulhosa de você, viu?
- Muito obrigado. Eu vou passar novamente pro Rodrigo.
- Tudo bem. Fique com Deus, meu filho.
- Amém, Dona Inês. Você também.
Repassei o celular para o dono e depois disso eu desci para a lavanderia. Quando cheguei na cozinha, os moleques pediram para eu ficar lá pra gente comemorar o final da minha faculdade.
- Bebe uma cerveja com a gente, Caio – pediu Fabrício. – O término da sua faculdade merece uma comemoração.
- É foda... – Éverton se pronunciou. – Eu começo a faculdade primeiro que esse daí e ele termina primeiro que eu. Não me conformo com isso.
- Éverton, minha faculdade era tecnólogo, 2 anos. Que culpa que eu tenho? Hein? Deixa eu curtir a minha felicidade em paz, vai encher o saco de outro!
- É porquê não é justo, Caio. Você começou depois e terminou primeiro. Que porra é essa?
- A gente já entendeu isso. Se for pra ficar enchendo meu saco, nem cola aqui. Vai pro seu quarto, faz qualquer coisa, mas me deixa curtir a minha felicidade em paz! Que porra.
- Quem fala o que quer ouve o que não quer – Vinícius deu um tapinha no ombro do nanico. – Relaxa, Éverton. Ano que vem você se forma. Falta pouco agora.
- Mas mesmo assim é foda. Enfim. Fica aí com a sua felicidade, eu vou dormir que amanhã tem mais. Abraços.
Revirei meus olhos. O Éverton perdeu uma grande chance de ficar calado, mas tudo bem. eu preferi comemorar com meus amigos e deixei aquele idiota de meio metro pra lá. Isso era o melhor a ser feito.
Rodrigo juntou-se a nós e a gente comemorou, mas não por muito tempo. Digão e eu estávamos cansados e merecíamos descansar. A gente ainda ia ter que ir pra faculdade no dia seguinte.
Deitei, fechei os olhos e não acreditei que aquilo enfim estava acontecendo. Mais uma vez atribuí o alcance daquela meta ao Rodrigo. Tudo foi graças a ele, tudo. isso era inegável.
Eu suspirei de novo e agradeci a Deus em pensamento por ter dado tudo certo. Agradeci por eu ter tido coragem, ter tido forças e ter tido determinação para ultrapassar os obstáculos e alcançar a conquista daquele sonho. Sem Deus eu também não teria conseguido chegar onde cheguei.
E após a minha oração eu peguei no sono. Dormi a noite toda na mesma posição e só quando despertei notei que eu não tinha me mexido durante toda aquela madrugada. Como isso foi possível?
- Bom dia – Rodrigo abriu um sorriso imenso. – Preparado para o seu último dia de aula?
- Preparadíssimo e você?
- Com toda certeza do mundo. Vamos?
- Vamos sim!
A gente fez tudo o que tinha que fazer, saímos e chegamos na universidade no mesmo horário de sempre. A grande maioria dos alunos estava animada e feliz. O clima de fim de ano e começo de férias tomou conta de todo o campus.
- A gente se vê no nosso último intervalo – eu falei.
- Beleza. Boa aula.
- Pra nós!
A minha sala estava barulhenta. Todos conversavam, todos sorriam e davam risada. É, pelo visto a sala inteira tinha passado. Eu não vi ninguém triste e cabisbaixo.

Aquele foi um dia inútil. Não teve nada de conteúdo, só houve clima de despedida mesmo. Todos os professores foram falar conosco e na última aula, a coordenadora do curso nos parabenizou e aproveitou para passar informações sobre a nossa colação de grau.
- Muito bom ter passado esses 2 anos com você – eu abracei a Marcela.
- Digo o mesmo. Boa sorte pra você, querido.
- Pra ti também. Boa sorte lá na Globo, tá?
- Obrigada! Eu gosto muito de você, Caio. Você foi importante nesses 2 anos, viu?
- Você também foi. Lembra que foi você que me emprestou o caderno nos meus primeiros dias de aula no ano passado?
- Claro que lembro. E você lembra que foi graças a você que eu conheci o Rodrigo?
- Uhum – isso me deixou irritado. – A gente passou um bom tempo juntos, né?
- Sim. Eu posso te considerar meu amigo?
- Claro que pode. Eu não quero perder o contato com você.
- Eu também não, Caio. Conta comigo sempre que você precisar. A gente vai mantendo contato pela internet. Acho que vai ser difícil da gente se ver agora, né?
- Uhum. Mas posso ser sincero?
- Claro.
- Eu vou sentir sua falta, falta do pessoal, mas não vou sentir falta das aulas não. Eu não via a hora disso tudo aqui acabar, sabia?
- Somos dois. Eu também estava cansada. Mas valeu muito a pena.
- Valeu sim.
- A gente se vê em março, querido. Na formatura.
- Na formatura.
Nos beijamos, nos abraçamos de novo e enfim nos despedimos. Bateu um vazio. Eu olhei para aquela sala de aula vazia e senti vontade de chorar. Era um ciclo da minha vida que estava sendo finalizado.
Abaixei a cabeça e segui andando pelos corredores da faculdade. Olhei pra pilastra que o Rodrigo me esperava na hora do intervalo e o vazio se intensificou.
Por que tinha passado tão rápido? Eu entrei naquele lugar em fevereiro de 2.008 e estava saindo em dezembro de 2.009. Menos de 2 anos e eu já estava concluindo o curso.
Passou realmente muito rápido, mas foi melhor assim. E se fossem 4 anos? Será que eu daria conta? Não. Se em 2 anos eu cheguei a exaustão, imagina em 4. Eu escolhi o curso certo. Era tecnólogo, mas depois eu poderia me aprofundar, poderia fazer uma pós, um mestrado e até doutorado. Eu estava feliz com a minha graduação.
Ia sentir saudades, mas era melhor seguir a minha vida. Aquela foi uma fase muito boa, mas não adiantava ficar saudosista. Aquele só foi mais uma fase da vida que eu havia concluído.
- Triste? – perguntou Rodrigo.
- Mais ou menos. Sei lá, bateu um vazio agora.
- Em mim também.
- Os meninos me chamaram pra comemorar, mas eu nem aceitei. Ultimamente eu estou tão cansado que não tenho vontade de fazer mais nada a não ser dormir.
- Dois. Mas eu vou comemorar hoje à noite.
- Com você é diferente. Foram 4 anos, seu curso foi mil vezes mais complicado que o meu. Você precisa comemorar sim.
- Como vai ser amanhã? Acordar e não ter que vir pra cá?
- Esquisito, mas a gente acostuma.
- É, a gente acostuma. Mas que deu um vazio, isso deu.
- Ver aquela sala de aula sem alunos me deixou triste. Foi bom esse tempo que eu passei aqui.
- Digo a mesma coisa. Mas acabou, né?
- É. E a gente venceu.
- A gente venceu.

Nós dois olhamos pra facul ao mesmo tempo. Eu sabia que ele também estava se sentindo meio esquisito e isso era absolutamente normal.
Rodrigo e eu saímos caminhando pelas ruas da Barra com muita tranquilidade. Eu tinha certeza que tudo o que ele queria naquele momento era paz e tranquilidade, por isso nem perguntei se ele queria ir pra academia ou não.
- Vamos tomar um sorvete? – meu melhor amigo propôs.
- Sim, vamos. Eu estou com calor mesmo.
Nos direcionamos até o shopping que eu trabalhava, fomos pra praça de alimentação e cada um pegou um milk shake de 750 ml. Eu disse que nunca mais iria tomar um daqueles, mas não resisti. Era bom demais...
- Que alívio saber que eu estou livre da faculdade – falei.
- É sim. É um alívio.
- E você já decidiu a sua vida?
- Já sim, Caio.
- E o que você decidiu?
- O meu contrato com a empresa já está acabando e eu acho que eles não vão renovar. Se isso realmente acontecer, eu volto pro Paraná logo depois da formatura.
Uma faca em chamas entrou pela minha garganta. Ainda bem que eu estava sentado, senão eu iria cair de costas no chão daquela praça de alimentação.
- Quer dizer que... Você vai embora, mano?
- É, Caio. Eu vou embora sim.

Estava feito. Eu tinha finalizado o curso. Fechei a matéria final com média máxima e não peguei DP em nenhuma disciplina. Eu tinha conseguido, havia finalizado a faculdade. O próximo passo era só a formatura, que já estava paga e já tinha data marcada: 13 de março de 2.010.
Rodrigo me abraçou de novo e juntos, nós choramos e gragalhamos de emoção. A gente tinha conseguido. Ele tinha conseguido, eu tinha conseguido e devia tudo aquilo justamente à ele. Foi graças a ele que eu consegui conquistar aquele sonho. Se não fosse o incentivo do Rodrigo, eu nunca teria dado o pontapé inicial.
- A gente passou – ele falou. – A gente passou...
- E isso tudo é graças à você! Obrigado por me incentivar, obrigado por me ajudar, por me animar, por me encorajar... Eu devo isso à você!
- Você deve isso ao seu esforço, não a mim. Parabéns pra gente, mano. Parabéns pra gente...
- Parabéns pra gente! Eu nem acredito...
- Nem eu!
Nos soltamos e o Vinícius me abraçou. Ele me parabenizou e disse que estava orgulhoso de mim. Disse que estava feliz pelo meu progresso e que eu merecia tudo aquilo que estava vivendo.
As palavras do Fabrício foram ditas através de um abraço longo e silencioso. A única coisa que ele me falou foi um “parabéns” e nada mais que isso, mas não havia necessidade de falar mais nada.
Eu sabia que eu sempre poderia contar com eles. Eles eram os únicos amigos verdadeiros que eu tinha na vida, com exceção das meninas e do Víctor é claro. Se eles não fizessem parte da minha vida,
muito provavelmente eu não teria alcançado aquele degrau. Eu estava livre da faculdade, livre!
- Eu preciso ligar pros meus pais...
- E eu pro Bruno!
Rodrigo e eu saímos do quarto e fomos pra laje de nossa casa. Ele ficou num canto, eu fiquei no outro e cada um ligou para quem tinha que ligar.
- Amor? – a voz de sono do Bruno partiu meu coração.
- Eu te acordei, bebê? – funguei.
- Acordou, mas não tem problema. Aconteceu alguma coisa? Você está chorando? O que fizeram com você, anjo? Fala, eu estou ficando preocupado!
A voz dele passou do cansaço para a preocupação. Eu chorei de novo e quase não consegui falar pro Bruno o que estava acontecendo.
- Eu vou pra sua casa agora... Deve ter acontecido alguma coisa séria com você!
- Não, amor... Aconteceu uma coisa maravilhosa...
- Você foi promovido? – ele chutou.
- Não. Eu passei na faculdade.
Silêncio.
- Ai... Amor... Putz, parabéns...
De todos, ele foi o que me parabenizou mais. Bruno fez um verdadeiro discurso e para a minha surpresa, ele também se emocionou.
- Eu estou tão orgulhoso de você, tão orgulhoso... Meu príncipe agora é um cara formado na faculdade!
- Não sou formado ainda, bobo. A formatura é só em março.
- Mesmo assim... Falta pouco! O pior já passou. Nem acredito, anjo... Como eu queria você aqui pra te encher de beijos...
- Eu queria você aqui também pra me encher de beijos, mas amanhã eu ainda tenho que acordar cedo...
- É eu também tenho que acordar cedo. Amanhã é meu último dia no cursinho, graças a Deus.
- Que bom, meu lindo. A gente vai acabar as aulas juntos.
- Verdade. Mal posso esperar. Eu te amo, Caio!
- E eu a você, amor.
- Meu universitário lindo!
- Bobo – eu sequei uma lágrima de felicidade.
Como eu estava feliz. O Rodrigo deu risada alegremente. Ele também estava feliz. Quem não ficaria numa situação daquelas?
- Amor, vou deixar você descansar, tá bom? Me perdoa ter te acordado.
- Não tem problema, anjo. Eu ia te ligar, mas peguei no sono. Desculpa.
- Não tem problema.
- A gente se vê nesse final de semana?
- Com toda certeza do mundo!
- Eu vou te encher de beijos, meu gostoso!
- Eu também. Estou morrendo de saudades.
- Nem me fala, amor. Nem me fala. Não aguento mais ficar longe de você.
- Nem eu, anjo.
- Boa noite então – o coitadinho bocejou.
- Boa noite, lindão. Eu te amo muito. Desculpa o incômodo.
- Não me incomodou em nada. Parabéns, tá?
- Obrigado. Eu te amo!
- Eu também. Beijo.
- Outro.
Nos despedimos com um tchau e em seguida eu desliguei pro coitadinho poder voltar a dormir. Ouvir a voz do meu Bruno me deixou tão contente... Eu nem sequer estava mais sentindo sono naquela altura do campeonato. A adrenalina corria pelas minhas veias sem fazer nenhum pitstop.
- Minha mãe quer falar com você – Rodrigo foi pra perto de mim com o celular na mão direita.
- Dona Inês? – eu atendi.
- Fiquei sabendo que o senhor terminou as aulas, foi? É isso mesmo?
- É sim...
- Então eu quero lhe transmitir os meus mais sinceros parabéns. O Rodrigo disse o quanto foi difícil pra vocês essas últimas semanas. Eu estou muito orgulhosa dos dois, de coração.
- Obrigado, Dona Inês...
- Que Deus te abençoe, meu filho. Eu tenho certeza que esse foi apenas o primeiro passo de um futuro de vitórias que virá pra você.
- Deus te ouça...
- Pode ter certeza que todo o esforço que a gente faz, é sempre para o nosso crescimento como pessoa. Nada vem fácil, Caio. O que vem fácil vai embora fácil. Parabéns por ter alcançado mais esse objetivo na sua vida. E a gente se vê em breve, hein? Quero ver você na formatura, lindo!
- Vai ser um prazer rever a senhora, Dona Inês.
- Você. Você. Não me chame de senhora, menino.
A gente deu risada.
- Deus te abençoe. Estou orgulhosa de você, viu?
- Muito obrigado. Eu vou passar novamente pro Rodrigo.
- Tudo bem. Fique com Deus, meu filho.
- Amém, Dona Inês. Você também.
Repassei o celular para o dono e depois disso eu desci para a lavanderia. Quando cheguei na cozinha, os moleques pediram para eu ficar lá pra gente comemorar o final da minha faculdade.
- Bebe uma cerveja com a gente, Caio – pediu Fabrício. – O término da sua faculdade merece uma comemoração.
- É foda... – Éverton se pronunciou. – Eu começo a faculdade primeiro que esse daí e ele termina primeiro que eu. Não me conformo com isso.
- Éverton, minha faculdade era tecnólogo, 2 anos. Que culpa que eu tenho? Hein? Deixa eu curtir a minha felicidade em paz, vai encher o saco de outro!
- É porquê não é justo, Caio. Você começou depois e terminou primeiro. Que porra é essa?
- A gente já entendeu isso. Se for pra ficar enchendo meu saco, nem cola aqui. Vai pro seu quarto, faz qualquer coisa, mas me deixa curtir a minha felicidade em paz! Que porra.
- Quem fala o que quer ouve o que não quer – Vinícius deu um tapinha no ombro do nanico. – Relaxa, Éverton. Ano que vem você se forma. Falta pouco agora.
- Mas mesmo assim é foda. Enfim. Fica aí com a sua felicidade, eu vou dormir que amanhã tem mais. Abraços.
Revirei meus olhos. O Éverton perdeu uma grande chance de ficar calado, mas tudo bem. eu preferi comemorar com meus amigos e deixei aquele idiota de meio metro pra lá. Isso era o melhor a ser feito.
Rodrigo juntou-se a nós e a gente comemorou, mas não por muito tempo. Digão e eu estávamos cansados e merecíamos descansar. A gente ainda ia ter que ir pra faculdade no dia seguinte.
Deitei, fechei os olhos e não acreditei que aquilo enfim estava acontecendo. Mais uma vez atribuí o alcance daquela meta ao Rodrigo. Tudo foi graças a ele, tudo. isso era inegável.
Eu suspirei de novo e agradeci a Deus em pensamento por ter dado tudo certo. Agradeci por eu ter tido coragem, ter tido forças e ter tido determinação para ultrapassar os obstáculos e alcançar a conquista daquele sonho. Sem Deus eu também não teria conseguido chegar onde cheguei.
E após a minha oração eu peguei no sono. Dormi a noite toda na mesma posição e só quando despertei notei que eu não tinha me mexido durante toda aquela madrugada. Como isso foi possível?
- Bom dia – Rodrigo abriu um sorriso imenso. – Preparado para o seu último dia de aula?
- Preparadíssimo e você?
- Com toda certeza do mundo. Vamos?
- Vamos sim!
A gente fez tudo o que tinha que fazer, saímos e chegamos na universidade no mesmo horário de sempre. A grande maioria dos alunos estava animada e feliz. O clima de fim de ano e começo de férias tomou conta de todo o campus.
- A gente se vê no nosso último intervalo – eu falei.
- Beleza. Boa aula.
- Pra nós!
A minha sala estava barulhenta. Todos conversavam, todos sorriam e davam risada. É, pelo visto a sala inteira tinha passado. Eu não vi ninguém triste e cabisbaixo.
Aquele foi um dia inútil. Não teve nada de conteúdo, só houve clima de despedida mesmo. Todos os professores foram falar conosco e na última aula, a coordenadora do curso nos parabenizou e aproveitou para passar informações sobre a nossa colação de grau.
- Muito bom ter passado esses 2 anos com você – eu abracei a Marcela.
- Digo o mesmo. Boa sorte pra você, querido.
- Pra ti também. Boa sorte lá na Globo, tá?
- Obrigada! Eu gosto muito de você, Caio. Você foi importante nesses 2 anos, viu?
- Você também foi. Lembra que foi você que me emprestou o caderno nos meus primeiros dias de aula no ano passado?
- Claro que lembro. E você lembra que foi graças a você que eu conheci o Rodrigo?
- Uhum – isso me deixou irritado. – A gente passou um bom tempo juntos, né?
- Sim. Eu posso te considerar meu amigo?
- Claro que pode. Eu não quero perder o contato com você.
- Eu também não, Caio. Conta comigo sempre que você precisar. A gente vai mantendo contato pela internet. Acho que vai ser difícil da gente se ver agora, né?
- Uhum. Mas posso ser sincero?
- Claro.
- Eu vou sentir sua falta, falta do pessoal, mas não vou sentir falta das aulas não. Eu não via a hora disso tudo aqui acabar, sabia?
- Somos dois. Eu também estava cansada. Mas valeu muito a pena.
- Valeu sim.
- A gente se vê em março, querido. Na formatura.
- Na formatura.
Nos beijamos, nos abraçamos de novo e enfim nos despedimos. Bateu um vazio. Eu olhei para aquela sala de aula vazia e senti vontade de chorar. Era um ciclo da minha vida que estava sendo finalizado.
Abaixei a cabeça e segui andando pelos corredores da faculdade. Olhei pra pilastra que o Rodrigo me esperava na hora do intervalo e o vazio se intensificou.
Por que tinha passado tão rápido? Eu entrei naquele lugar em fevereiro de 2.008 e estava saindo em dezembro de 2.009. Menos de 2 anos e eu já estava concluindo o curso.
Passou realmente muito rápido, mas foi melhor assim. E se fossem 4 anos? Será que eu daria conta? Não. Se em 2 anos eu cheguei a exaustão, imagina em 4. Eu escolhi o curso certo. Era tecnólogo, mas depois eu poderia me aprofundar, poderia fazer uma pós, um mestrado e até doutorado. Eu estava feliz com a minha graduação.
Ia sentir saudades, mas era melhor seguir a minha vida. Aquela foi uma fase muito boa, mas não adiantava ficar saudosista. Aquele só foi mais uma fase da vida que eu havia concluído.
- Triste? – perguntou Rodrigo.
- Mais ou menos. Sei lá, bateu um vazio agora.
- Em mim também.
- Os meninos me chamaram pra comemorar, mas eu nem aceitei. Ultimamente eu estou tão cansado que não tenho vontade de fazer mais nada a não ser dormir.
- Dois. Mas eu vou comemorar hoje à noite.
- Com você é diferente. Foram 4 anos, seu curso foi mil vezes mais complicado que o meu. Você precisa comemorar sim.
- Como vai ser amanhã? Acordar e não ter que vir pra cá?
- Esquisito, mas a gente acostuma.
- É, a gente acostuma. Mas que deu um vazio, isso deu.
- Ver aquela sala de aula sem alunos me deixou triste. Foi bom esse tempo que eu passei aqui.
- Digo a mesma coisa. Mas acabou, né?
- É. E a gente venceu.
- A gente venceu.
Nós dois olhamos pra facul ao mesmo tempo. Eu sabia que ele também estava se sentindo meio esquisito e isso era absolutamente normal.
Rodrigo e eu saímos caminhando pelas ruas da Barra com muita tranquilidade. Eu tinha certeza que tudo o que ele queria naquele momento era paz e tranquilidade, por isso nem perguntei se ele queria ir pra academia ou não.
- Vamos tomar um sorvete? – meu melhor amigo propôs.
- Sim, vamos. Eu estou com calor mesmo.
Nos direcionamos até o shopping que eu trabalhava, fomos pra praça de alimentação e cada um pegou um milk shake de 750 ml. Eu disse que nunca mais iria tomar um daqueles, mas não resisti. Era bom demais...
- Que alívio saber que eu estou livre da faculdade – falei.
- É sim. É um alívio.
- E você já decidiu a sua vida?
- Já sim, Caio.
- E o que você decidiu?
- O meu contrato com a empresa já está acabando e eu acho que eles não vão renovar. Se isso realmente acontecer, eu volto pro Paraná logo depois da formatura.
Uma faca em chamas entrou pela minha garganta. Ainda bem que eu estava sentado, senão eu iria cair de costas no chão daquela praça de alimentação.
- Quer dizer que... Você vai embora, mano?
- É, Caio. Eu vou embora sim.
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