terça-feira, 10 de março de 2015

Capítulo 28

M
eu choque foi tão grande que eu não senti nem vontade de pegar o dinheiro.

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Eu esperava por qualquer coisa, menos por aquilo. Queria receber no mínimo um cheque com uma quantia acima de 4 dígitos ou quem sabe uns 20 mil reais, mas R$ 2,50 foi demais pra minha cabeça.
- Não vai pegar o dinheiro? – a mulher ergueu as sobrancelhas.
- Ah, o dinheiro... – a minha vontade era de dar um chute naquela mulher. – Obrigado...
Segurei a nota de 2 e a moeda de 50 e não soube nem o que fazer. Olhei pro Rodrigo e ele estava muito vermelho e era nítido que ele estava segurando uma gargalhada. Bastou sair da Lotérica pra ele soltar o riso.

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- QUE ÓDIO!
Rodrigo riu tanto, mas riu tanto que ele chorou. Eu fiquei me xingando de tudo quanto foi coisa e fiquei realmente muito irritado com aquela quantia em dinheiro. Por que tinha que ser tão pouco?
- Desgraça... Que ódio, que ódio, que ódio!
Eu nunca vi o meu irmão rir tanto em toda a minha vida. Ele chegou a agachar no chão de tanto que ele deu risada.


- Ai minha barriga – ele colocou as duas mãos na barriga e sentou em um batente na calçada.
- VAMOS EMBORA, CACETE – gritei com ele.
- Espera... Espera... – quando eu pensei que ele ia parar de rir, foi aí que ele riu mais.
- Ri, infeliz – bufei. – Pode rir! A culpa disso daqui é toda sua... Por que não me falou que eu ia receber só essa porcaria?
- Eu não... Sabia – ele secou as lágrimas. – Você precisava ter visto a sua cara... Ai minha barriga...
Eu não achei a menor graça no assunto. Se dependesse de mim, eu teria cavado um buraco e sumido do mapa, porque eu fiquei foi com vergonha, isso sim.
- Vai ficar sentado aí? Então tchau.
- Espera – ele continuou rindo. – Ai meu Deus, isso foi muito engraçado!
- Eu devia enfiar esse dinheiro no rabo daquela mulher. Vaca!
Foi aí que ele riu mais. A culpa não era da coitada da moça da Lotérica, mas eu confesso que a culpei por alguns minutos.
- Pobre é uma desgraça mesmo. Até na hora de ganhar na loteria ganha uma merreca. O que eu vou fazer com esse dinheiro? Não dá nem pra comprar pão com isso. Que ódio!
Rodrigo riu por mais de meia hora e eu só ficava cada segundo com mais raiva desse jogo idiota. Eu nunca mais iria fazê-lo em toda a minha vida. Pensei eu que iria tirar o pé da lama, mas na verdade só fiz afundá-lo ainda mais.

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- Veja pelo lado positivo – Rodrigo me abraçou.
- Qual o lado positivo dessa história, pelo amor de Deus? Eu to com tanta vergonha que queria pegar um avião e morar na Jamaica!
- Pelo menos você foi reembolsado. Recebeu exatamente a quantia que você gastou.
- Ah, puta que pariu, né meu? Quer calar a boca?


- Não! – ele gargalhou de novo.
Não sei qual foi o motivo de tanta graça. Eu não achei graça de nada, muito pelo contrário.
- Já que você achou tanta graça assim, fica com esse dinheiro pra você. Compra um sorvete, uma água, um café, um refrigerante, qualquer porcaria que seja, mas pega esse dinheiro!
- Não, valeu – meu irmão secou as lágrimas de novo. – Ele é todinho seu.
- Não. Faço questão que você pegue. É meu presente de natal. Dinheiro maldito, você não vai fazer diferença na minha vida.
Bufei e entreguei o valor ao Rodrigo. Ele pegou e continuou rindo.
- Vou emoldurar e deixar no nosso quarto. É a lembrança do seu prêmio da loteria – ele gargalhou de novo.
- Quer parar de rir? Eu vou pra loja que eu ganho mais, isso sim. Passar bem!
Saí andando a passos largos e mesmo à distância ainda consegui ouvir o riso do Rodrigo. Ele me tirou do sério naquele dia e isso não ia ficar barato.

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Entrei na loja e fui direto pro vestiário. Não falei com ninguém e isso foi motivo de especulação por parte de alguns colegas de trabalho.
- Você está bem? – perguntou Diego.
- Não. Nâo estou em um bom dia.
- Ah...
- E aí, como está o relacionamento com a Alexia?
- A gente está se conhecendo ainda. Não posso chamar isso de relacionamento. Só saímos uma vez...
- E quando vão sair de novo? – fechei a minha camisa.
- Amanhã. Vamos ao shopping outra vez.
- Ela está de quatro por você. Fica esperto.
- De 4? Quero ela de 4 é na cama, isso sim – Diego abriu um sorriso safado.
- Respeita a minha amiga, hein rapaz? – eu levei na brincadeira e apertei o ombro do cara. – Ela é muito gente boa.
- Sei disso. Eu gosto da Alexia.
Que bom que ele também gostava dela. Pelo jeito o casal ia se dar bem e isso seria bom para a minha amiga. Eu estava na torcida para que ela não sofresse do jeito que sofreu pelo Gabriel.
- Que cara de poucos amigos é essa? – perguntou Eduarda. – E o que faz aqui tão cedo?
- Posso fazer extra?
- Pode. O que você tem?
- Ai, Duda. Eu estou frustrado.
- Frustrado? Por quê?
- Joguei na loteria, acertei os pontos e só ganhei R$ 2,50!
- Ah, jogou na Lotofácil? – ela sorriu.
- Foi. Nunca fiquei tão frustrado como estou agora.
- E quanto você pensou que ia ganhar, Caio Monteiro?
- Ah, sei lá... Uns 20 mil...
Duda riu.
- Oh, meu lindo... 20 mil só ganha quem acertar os 15 pontos... Na verdade ganha até mais que isso.
- Não sabia disso, ninguém me falou nada. Eu fiquei tão feliz, mas tão feliz quando cheguei em casa e vi que acertei 11 números...
Minha gerente também riu de mim.
- Por que não leu atrás da cartela os valores que são pagos.
- E tem lá?
- Acho que deve ter, não estou lembrada. Mas é assim: quem acerta 11 números, ganha R$ 2,50; quem acerta 12 números, ganha R$ 5,00; quem acerta 13 números, ganha R$ 12,50; quem acerta 14 números, ganha mais de mil reais e quem acerta 15 números ganha o prêmio que está aculumado.
- O tio do meu irmão postiço ganhou mais de 400 mil.
- Então ele acertou tudo. Embora o nome seja Lotofácil, não é tão fácil assim não. Requer muita sorte.
- E pelo visto isso eu não tenho.
- Não fale assim, Caio – ela riu. – Você é sortudo sim, você acertou os 11 pontos... Continua jogando, quem sabe uma hora você acerta os 15? A sorte é cega, mocinho. A gente tem que arriscar.
- Nunca mais jogo essas coisa.
- Eu mesma já quase acertei a Mega Sena.
- Sério?
- Sim... Pena que eu coloquei 3 números em uma cartela e 3 em outro. Quase me matei nesse dia, ia ganhar mais de 30 milhões, mas tudo bem. Não era pra ser nesse dia. Eu continuo tentando sempre.
- Aí é falta de sorte mesmo, hein?
- Pra você ver, mas não tem problema. Meu santo é forte e um dia eu vou acertar.
- Queria ser confiante assim como você.
- Ah, eu acredito na sorte. Uma dia ela bate na minha porta.
- Vou bater o crachá, Duda.
- Bom trabalho, Caio – ela deu risada.
Bom seria se eu tivesse ganhado um dinheirão e não aquela merreca.
- Já por aqui? – Janaína foi ao meu encontro.
- Não estou em um dia de luz.
- Que bicho te mordeu?
Expliquei o acontecido e ela me zoou ao extremo:

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- Me empresta esse dinheiro? Quero dar entrada na minha casa própria...
- Cala a boca, negra azeda – bufei.
Da mesma forma que o Rodrigo fez, ela também riu de mim e o mesmo aconteceu com a Alexia.
- Pobre é foda, até quando vai ficar rico o pobre se fode – ela suspirou.
- Nem me fala – bufei. – Jogo maldito. Nunca mais que quero saber dele.
Quando finalizei o preenchimento do folheto, me dirigi ao caixa da Lotérica e efetuei o pagamento.
- R$ 2,50 disse a funcionária.
Paguei o valor e ela me devolveu o comprovante do jogo. Eu estava na torcida para que daquela vez eu acertasse pelo menos 14 números.
- Vamos ver quantos eu acerto dessa vez. Jogo bendito – bufei e guardei tudo na minha carteira.
Passeei pelo shopping e fiquei olhando as vitrines. Eu estava precisando comprar roupas novas e mais cedo ou mais tarde eu ia ter que tirar um dia para fazer isso. Quando seria e minha próxima folga? Não estava lembrando qual a data que o Jonas e eu havíamos combinado.
- Chefinho?
- Hum? – ele continuou lendo alguma coisa no computador.
- Quando é a minha folga mesmo?
- Dia 1º de março. Esqueceu, foi?
- Pois é, me deu um branco... Mas agora eu não esqueço mais.
- Uhum. Me faz um favor, Caio?
- Claro!
- Pede pro Kléber vir até aqui?
- Peço sim. Um momento só.
Me dirigi ao meu departamento e encontrei o Kléber sentado em minha mesa. O que ele estava fazendo ali?
- Desculpa me apossar da sua mesa – ele me encarou. – É que a minha estava ocupada.
- Sem crise. O Jonas está te chamando.
- Ai... Sempre que ele me chama eu sinto um frio na espinha. Será que fiz alguma coisa de errada?
- Não sei, isso é você que tem que saber. É melhor ir logo, ele não está com cara de muitos amigos hoje.
- Ai meu Deus... Que medo...
Sentei no meu lugar e em seguida o telefone tocou:
- Setor de Móveis, Caio?
Era um cliente que queria reclamar da montagem. O pedido dele estava cancelado, eu abri uma nova solicitação de atendimento e me comprometi em acompanhar o caso. Não fiz mais nada naquele dia a não ser acompanhar os meus pedidos de entrega e montagem e aproveitei para fazer a cobrança dos atendimentos que estavam em atraso.
- Vendeu pouco hoje, Caio – Jonas me olhou no vestiário. – Mas eu vi os seus e-mails. É isso aí.
- Eu precisava cobrar os atendimentos...
- E fez muito bem. Esse é o papel de um bom funcionário.
- Pelego – ouvi algum dos meninos me xingar.
- Algum problema aí, rapaziada? – Jonas foi falar com os caras. – Estão com inveja do meu relacionamento com o Caio?
- Não, chefe... Que é isso...
- Então acho bom não falarem mais nada a respeito do Caio. Ele é um excelente vendedor e faz por onde ser elogiado.
Fiz questão de sair daquele vestiário antes daquela discussão acabar. Eu nem lavei o meu rosto e peguei as minhas coisas o mais rápido que pude. Eu já estava acostumado a ser chamado de puxa saco, mas nunca gostei que isso acontecesse.
- Hoje você está mordido, hein? – Kléber estava na ponta da escada rolante.
- Estou mesmo. O que o Jonas queria?
- Era feedback. Ele acompanhou as minhas vendas e encontrou alguns errinhos básicos.
- Deu bronca?
- Não, só uma orientação.
- Entendi. O Jonas é gente fina.
- Ele é. E a Duda também é.
- Verdade.
- Vamos, rapazes? Hoje eu to com meu Fuscão – o gerente riu.
- Se esse carro quebrar eu não vou empurrar não, hein? – comentei, mas de brincadeira.
- Ele não vai quebrar – Jonas pisou na escada rolante. – Eu confio no meu possante.


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Eu sempre acreditei que as palavras que a gente fala têm poder, mas não imaginei que o poder fosse tão imediato assim. E não é que o carro do Jonas quebrou mesmo?
- Boca santa, hein Caio? Isso tudo é inveja do meu carango?
- Claro que não – garanti. – Eu não tenho inveja de nada nesse mundo.
- Agora vocês vão ter que empurrar. Eu não quero nem saber!
- Não coloco as minhas mãos nisso não...
- E eu não vou aguentar empurrar um carro tão pesado assim – Kléber tirou o corpo fora.
- Ou vocês empurram, ou a gente fica aqui o resto da noite. O que preferem?
- Por que não chama um guincho? – eu sugeri.
- Imagina que precisa de guincho pro meu carrinho pegar... É só dar uma forcinha, vamos lá rapaziada... Quebrem essa pra mim.

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Nós fizemos, mas ambos ficamos xingando o Jonas de uma forma que ele não nos ouvisse. Empurrar aquele Fusca não foi uma tarefa propriamente fácil, mas também não foi das mais difíceis.
- HUM – ouvi o Kléber fazer força e fiquei com medo do que poderia acontecer. Eu não estava a fim de sentir um cheiro desagradável...
- PRONTO! – Jonas comemorou. – PEGOU... VAMOS EMBORA...
- Louvado seja Deus – bufei e entrei no carro.
- Quando você vier com esse Fusca eu volto pra casa de busão, na boa – Kléber entrou e colocou o cinto. Ele ficou na frente.
- Somos dois – concordei com meu amigo.
- Como vocês são mal-agradecidos, hein? Vou anotar isso no meu diário de bordo e isso será usado contra vocês no próximo feedback.

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Bastou chegar em casa para o Rodrigo olhar pra mim e começar a rir. O problema é que não foi só ele, todos riram da minha cara, inclusive o Éverton e o Maicon:
- Me empresta R$ 2,50 ai, Caio? – Éverton já surgiu dando risada.
- Pega com o Digão, eu dei o prêmio pra ele.
- Essa foi boa, hein? É até bom saber que eu nem vou jogar essa merda.
- Eu disse que não ia jogar mais, mas hoje já fiz um novo jogo.
- Cuidado pra não ganhar R$ 0,50 da próxima vez.
- Né? – resolvi entrar no espírito da brincadeira.
A faculdade mal havia começado e eu já tinha um trabalho pra fazer. Ele era em dupla e deveria ser entregue na semana seguinte. A minha dupla era a chata da Marcela.
- O que está fazendo aí? – perguntou Rodrigo.
- Conversando com a Marcela.
- Como assim conversando com a Marcela? Que história é essa? O que está falando com minha mulher?
- Sua mulher? – Vinícius se meteu. – E desde quando vocês casaram?
- Desde o dia 2 de janeiro – Rodrigo suspirou.
- Sério mesmo? – Vinícius caiu na brincadeira.
- Claro que não – eu me meti. – Ele só casou na cama, adiantou a lua de mel, entendeu?
- Puta que pariu, Digão... Vocês só meteram em janeiro? Puta, como conseguiu esperar?
- Sinceramente? Nem sei, mas valeu a pena esperar.
- Foi bom?
- Bom? Bom é apelido. Ela é boa nisso.
- Aí vale a pena. A Bruna também é, ultimamente ela está com um fogo... Mas é claro que eu dou conta.
Eu não tinha dúvidas que ele dava conta!
Não sei se eu fiquei com mais ciúmes do Vini ou do Rodrigo. Às vezes eu me sentia meio “dono” daqueles dois e não gostava de ouvir muito a respeito das namoradas. Isso me deixava enciumado de verdade.
- O que está falando com minha mulher? – Rodrigo deitou ao meu lado na cama.
- A gente está resolvendo um trabalho da faculdade. Posso falar com ela ou você vai me morder?
- Vou te morder.
E ele mordeu mesmo, mas não mordeu com muita força. Porém, como eu sou branquelo demais, bastou 5 minutos para o meu antebraço ficar arroxeado.

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- Agora não vou poder usar regata por sua culpa – reclamei.
- Isso daí logo passa. Precisava ver como eu deixei a Marcela nas férias.
- Poupe-me dos detalhes sórdidos – senti vontade de jogá-lo pra fora da minha cama.
Vinícius deu risada.
- Me empresta o note?
- Pra quê?
- Pra mim usar, ué.
- Não, eu estou ocupado.
- É rapidinho, Caio. Eu só quero fazer uma coisa.
Revirei os olhos e passei o computador pro meu melhor amigo. Ele só abriu a janela que eu estava conversando com a namorada dele e enviou uma solicitação de webcam.
- Não acredito que você fez isso.
- Quero ver a minha princesa, ué.
O rosto da namorada dele apareceu no computador depois de alguns segundos. Ela ficou surpresa quando viu o namorado e foi logo perguntando:
- Amor? O que está fazendo aí?
- Oi, princesa... O Caio disse que estava falando com você e eu fiquei com saudades. Tudo bem?
- Ai... Melhor agora... E você?
- Também...
- Vão ficar nessa melação ou a gente pode discutir sobre o trabalho, Marcela?
- É verdade... Precisamos decidir, né?
- Pois é.
- Decidam depois... – Rodrigo se meteu na conversa.
- Nâo dá – falei. – Já é pra semana que vem e o tema é um pouco complicadinho.
- É mesmo, amor. A gente precisa decidir agora...
- Então eu vou ficar aqui esperando a minha vez de falar com você.
- Seu lindo – Marcela suspirou.

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Eu tirei o áudio e fiquei teclando com minha cunhada. Demorou, mas nós decidimos o que íamos fazer e quando isso aconteceu, o Digow praticamente sequestrou o meu notebook e levou pra cama dele.
Eu deitei e comecei a cochilar, mas depois de um tempo comecei a ouvir uns barulhos estranhos e isso fez com que o meu sono fosse embora.
- Isso, amor... – era a voz do Rodrigo.
Ele ainda estava falando com a Marcela? E o que eles estavam fazendo? Bastou ouvir um gemido para entender tudo.
Arregalei os olhos e senti o meu coração disparar. Será que eles estavam fazendo sexo virtual? Aparentemente sim, porque ele gemeu mais de uma vez.
- Mostra... Mostra pra mim... Isso, safada...
Fiquei com nojo do Rodrigo. Eu não acreditei que ele estava fazendo aquilo comigo e o Vinícius no quarto!
Dei um chute na cama dele e isso foi suficiente para ele parar o que estava fazendo. Eu não ouvi mais nada e não demorou muito para ele descer da cama e sair do quarto. O computador ficou no lugar que tinha que ficar.
- Safado – mordi meu lábio.
Pensei que ia demorar para dormir, mas isso não aconteceu. Pensei um pouco no Digow e quando menos esperei, eu já estava acordando na manhã seguinte.
- Bom dia – ele me abraçou.
- Safado!
- Oi? – o menino gelou.
- Pensa que eu não ouvi o que você estava falando com a Marcela de madrugada...
- Você estava acordado? – Rodrigo ficou da cor de um tomate.
- Não, mas eu acordei bem na hora. Safadinho... – sorri.
O menino ficou muito sem graça, mas eu não dei bronca nem nada, pelo contrário. Eu disse que não tinha problema e que por mim aquilo poderia acontecer sempre que fosse necessário.
- Vamos pra aula? – ele nem olhava pra mim.
- Sim, sim.
Pior foi encontrar com a Marcela. É claro que ela não sabia e não ia saber que eu sabia o que ela e o namorado estavam fazendo na cam, mas mesmo assim foi difícil não pensar no que eu tinha ouvido. Eu acabei dando risada sozinho.
- O que foi? Do que você está rindo? – ela perguntou.
- Não é nada. Lembrei de uma piada que me contaram ontem.
- Nossa, como o seu raciocínio é lento.
- Engraçadinha.
- Ai, eu tenho uma novidade!
- Qual novidade? – perguntei.
- Consegui um estágio.
- Sério? Onde?
- Na Globo!!!
- NA GLOBO? – não disfarcei o meu espanto.
- Pois é, querido. Na Rede Globo! Vou lá hoje acertar as coisas.
- Ai que chique... Parabéns!
- Obrigada. Se quiser eu te indico onde consegui.
- Não – suspirei. – Não vou poder sair da loja.
- E como fará seu estágio?
- Farei na loja mesmo.
- Ah, entendi. Que pena, seria divertido trabalhar com você.

NO SÁBADO PELA MANHÃ.

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A Profª Júlia ia falando e eu ia viajando no sono que estava sentindo.
- Vamos treinar a pronunciação dos números. Repitam comigo: one.
- One – ouvi a voz do Rodrigo invadiu meu cérebro.
- Two – disse a professora.
- Two – o Rodrigo ia acompanhando.
Eu fiquei com o queixo apoiado na minha mão e aos poucos os meus olhos foram fechando.
- Four... Five... SIx...
Eu estava com tanto sono que o meu corpo foi até caindo para a direita. Se eu não tivesse acordado a temp e segurado na mesa onde estava sentado, com toda a certeza do mundo eu teria caído no chão.
- Nine, nine – eu repeti o que a professora falou.
Rodrigo foi obrigado a abaixar a cadeira para dar risada de mim e eu não sei como a professora de inglês não percebeu o que estava acontecendo com nós dois no fundão da sala.
- Para a próxima aula eu quero que vocês tragam uma música. Nós iremos escolher a melhor, iremos ouvir e falaremos sobre a letra e treinaremos a pronunciação. Não esqueçam...
- Meu, você tem que prestar mais atenção na aula – Digow me abraçou no meio da rua. – Você quase dormiu...
- Mas eu sinto muito sono nessas aulas de inglês. Não estou gostando do curso.
- Mas é necessário, né? Veja pela Marcela... Se ela não tivesse o curso, não teria conseguido o estágio na Globo!
- Eu sei, mas mesmo assim. O que fará agora?
- Vou direto pra casa dela pra descarregar as energias, se é que você me entende.
- Cachorro... Use camisinha.
- Por que está me falando isso, Caio?
- Não sei, de repente me deu vontade de falar isso.
- Eu, hein?
- Você usa, não usa?
- Uso sim... Relaxa.
- Então tudo bem.
- E você o que vai fazer?
- Vou colar na praia como sempre. O mar me acalma.
- Cuidado pra não encontrar com o Bruno.
- Pode deixar. Se eu encontrar eu dou um soco na cara dele e fica tudo certo.
- Assim é que se fala. Um beijo e até amanhã à noite.
- Como assim?
- Esqueceu que eu vou dormir na casa dela hoje?
- Ah, é verdade. Você havia falado. Não gostei disso.
- Se cuida, tá bom? Qualquer coisa liga no meu celular.
- Pode deixar.
Naquele dia eu fui preparado. Saí de casa pronto para encarar o mar. Estava de sunga branca e usava um par de chinelos da mesma cor. Eu gostava de estar combinando em tudo.

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Quando cheguei na areia, fui logo tirando a minha roupa para pegar um pouco de sol e isso fez com que eu atraísse alguns olhares alheios, o que me deixou bem encabulado.

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Cacei um canto livre, deixei minha mochila no chão e entrei no mar para refrescar o calor. Infelizmente não pude demorar muito, afinal as minhas coisas estavam largadas na areia e a qualquer momento alguém poderia me assaltar. Felizmente nada de ruim me aconteceu.
Sentei na areia e fiquei olhando pro mar. Ele não estava nada calmo naquele dia. Esse também foi um fator determinante para eu não entrar mais na água.


Mas ela estava tão geladinha... Fiquei tentado, mas não entrei mais, já que poderia acontecer alguma coisa comigo. Por mais que eu amasse o mar, ele me dava medo de vez em quando.
Não houve oportunidade para aproveitar o sol, a praia e o mar da forma que eu queria. O dever estava me chamando e eu fui obrigado a sair da Praia de Ipanema depois de uns 40 minutos que cheguei lá.
Fui direto pra ducha. Ainda bem que não tinha ninguém e eu pude demorar um pouco mais. Lavei bem os cabelos para tirar o sal, mas ainda assim eles não ficaram lisos como de costume.
- Droga. Vou ficar com o cabelo duro o dia todo...
Coloquei minha bermuda e saí andando pelo bairro sem camisa mesmo. O calor estava me matando e só ficando sem camiseta para me sentir menos sufocado.
Andei lentamente até o ponto do ônibus e antes de chegar na metade do caminho eu localizei o Vítor do outro lado da rua. Ele estava sozinho e estava usando um óculos escuros. Por sorte o garoto não me viu.
Aquele idiota havia me xingado, mas isso não mudou em nada a minha vida. Se ele não me curtia, a recíproca era mais do que verdadeira e eu tinha certeza que ele sabia disso. Por mim ele poderia sumir do mapa que não me faria diferença nenhuma.
Entrei no busão ainda sem camisa. No Rio de Janeiro isso é muito comum. Se isso acontecesse aqui em São Paulo, no mínimo as pessoas iriam me chamar de louco.
Só coloquei a camiseta na hora que cheguei no shopping. Se dependesse de mim, eu continuaria sem ela pelo resto do dia, mas aí já era pedir demais não é mesmo?

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- Minha Nossa Senhora de Aparecida... – Alexia me encontrou na calçada do Barra Shopping.
- Que foi?
- Que delícia de homem é essa, Senhor? – ela me olhou da cabeça aos pés.
- Quer parar com isso? – fiquei tímido.
- Nossa, eu acho que vou largar o Diego e vou fazer você virar homem, hein?
- Quer parar, Alexia?
- Nossa... – ela até passou a mão no meu peito. – Que delícia, hein? Adorei...
- Para com isso – eu me vesti.
- Nossa, nossa. Pena que você não curte mulher...
- Da fruta que você gosta eu chupo até o caroço, já te falei isso.
- É melhor eu ficar calada... Mas que você tá gostoso, ah isso você tá...
- Valeu – senti as bochechas queimarem. – Está indo almoçar?
- É...
- E vai aonde?
- Vou só tomar um sorvete na padoca mesmo. Não estou com fome.
- Por que não toma um milk shake no Bob’s?
- Porque a fila está quilométrica. Beijo, vou nessa senão eu me atraso. Gostoso!
- Vai lá, gostosa. A gente já se fala.

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Toquei a campainha da casa do Murilo e fiquei esperando alguém me atender, mas isso não aconteceu.
Como ele não foi ao meu encontro, eu peguei o celular, liguei pro garoto e cobrei uma explicação. Eu só não esperava ouvir algo como o que o Murilo falou:
- Me perdoa, Caio... Eu esqueci que você ia aí em casa hoje e viajei com meus amigos...
- Como é?
- Eu estou aqui em Belo Horizonte e vou voltar só de madrugada...
- Não acredito que você esqueceu o que a gente combinou, Murilo! – fiquei pasmo.
- Me perdoa, de verdade. Eu não lembrei que você ia em casa hoje...
- Que espécie de sentimento é essa que você sente por mim, posso saber? Diz que me ama, diz que estava com saudades, mas nem sequer me ligou durante a semana e agora simplesmente foi viajar? De duas uma: ou eu não significo nada pra você, ou você está fugindo de mim, o que eu acho mais provável, né?
- Não é isso... De verdade... Eu só não me lembrei que a gente tinha combinado que você ia em casa hoje...
- Mentira sua! A gente combinou isso anteontem, você está é com medo... Ah, enfim. Deixa pra lá. Boa noite, Murilo.
- Não, espera... Não desliga... Está bravo comigo?
- Claro que eu estou bravo. Eu não tenho a palavra idiota escrita na testa, entendeu?
- Não estou te chamando de idiota, cara...
- Mas é o que parece. Quer saber? Aproveita aí com seus amiguinhos e esquece que eu existo. Até mais!
E dizendo isso eu desliguei. Desliguei e não pensei em voltar a ligar para aquele garoto nunca mais. Eu não acreditei em nada do que ele me falou e tinha certeza absoluta que ele estava fugindo de mim por conta da prensa que eu dei nele na última vez que a gente se encontrou.
Saí com a cara fechada pela rua do Murilo e mais uma vez avistei o Vítor, mas infelizmente daquela vez eu não passei despercebido e ele partiu ao meu encontro.
- Oi, Caio! Tudo bem?
- Tudo ótimo, Vítor. E você?
- Bem também, obrigado. Veio no Murilo?
- Uhum.
- Ele não está aí não.
- Como sabe?
- Somos amigos, lembra? Ele foi viajar com uns amigos.
- Sério?
- Sim, sim.
- Não está mentindo pra mim de novo não, né?
- Não – ele sorriu. – Dessa vez eu estou falando a verdade.
- Hum...
- Caio, aproveitando que você está aqui eu queria te pedir desculpas...
- Desculpas?
- Sim, sim. Ultimamente eu tenho julgado muito a sua vida e isso não é legal. Eu gosto de você e não quero que você fique com uma má impressão ao meu respeito.
- Não entendi nada, Vítor.
- Tipo assim, eu já menti pra você antes, tudo bem que foi um pedido do Bruno, mas mesmo assim eu me sinto mal. Eu poderia ter te ajudado e não te ajudei... Me desculpa, tá?
- Hum...
- Eu também tenho julgado muito a sua vida. Como você já sabe, o Bruno e eu somos bem ligados e a gente confessa tudo um pro outro. Tudo o que eu mais ouço nessa vida é o seu nome, você não tem noção.
- Ah, é?
- Sim. Você pode até não acreditar, mas o Bruno te ama de verdade, viu?
- Desculpa, mas eu não acredito nisso mesmo.
- Eu sei. Você tem os seus motivos. Eu lamento muito todo esse tempo que você sofreu por ele. De verdade.
- Lamenta?
- Claro! Eu gosto de você, garoto. Você é gente fina, é batalhador e ainda por cima é lindo, né? Vamos combinar que você não merecia tudo o que sofreu.
- Você sabe tanto assim da minha vida?
- Sei, mas pode confiar que eu não fico falando nada pra ninguém. O Bruno abriu meus olhos recentemente e só aí eu percebi o quanto você é gente boa. Desculpa tudo o que eu já te fiz, tá bom?
- Tá – dei de ombros e suspirei.
- Podemos ser amigos? Mas amigos de verdade?
- Ei... Isso não é nenhum planinho do Bruno pra você se aproximar de mim não, né?
- Não, Caio – Vítor riu e não tirou os olhos dos meus. – Eu não faria isso com você.
- Sei...
- De verdade. Confia em mim. Eu gosto de você, de coração.
- Hum...
- Podemos ou não ser amigos?
- Podemos, ué – apertei a mão do menino. – Mas não vou contar nada da minha vida pra você.
- Fica tranquilo – Vítor riu de novo. – Eu não quero saber nada da sua vida.
- Que bom então.
- E o meu xará, como está?
- Faz um tempinho que não falo com ele, mas acredito que ele esteja bem.
- E quando ele vem aqui no Rio de novo? Eu ainda quero ficar com ele, já que o amigo dele não me deu bola, né?
Fiquei sem graça.
- Ainda bem que eu não te dei bola, na boa.
- É ainda bem mesmo. O soco que o Bruno me deu no rosto ainda dói até hoje. Você podia ter ficado calado, né?
- Não podia não. Eu odeio mentira.
- É, mas você poderia ter me poupado de vários socos. O Bruno vira um monstro quando o assunto é você. Ai de quem falar mal de você ou ai de quem ficar com você. Ficou sabendo que ele deu uma surra no Murilo?
- Surra? Fiquei sabendo que eles brigaram apenas...
- Brigaram feio, isso sim. O Bruno virou um demônio, com o perdão da palavra, quando ficou sabendo que vocês dois estão namorando.
- Virou é?
- Eu nunca vi o meu amigo tão bravo em toda a minha vida, de verdade.
- Por que está me falando tudo isso? Foi ele que mandou você me falar essas coisas?
- Não.
- Sei. Eu vou embora. Boa noite, Vítor.
- Boa noite, Caio. Fica com Deus.
- Você também.
Se a intenção do Vítor era me fazer pensar no Bruno, ele atingiu o objetivo. Quer dizer que ele tinha virado um demônio quando soube do meu envolvimento com o “primo” dele? Então por que ele não demonstrava isso pra mim?
No mínimo aquela história estava muito mal-contada. Eu não sabia até onde o Vítor tinha falado a verdade e isso também não tinha importância naquele momento. Eu tinha que pensar era no Murilo. Por que ele viajou sendo que nós tínhamos combinado nos encontrar?

SEMANAS DEPOIS...

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- Para de charme, Caio... Vamos nos ver, porra – Murilo estava irritado.
- Não quero te ver.
- Mas, Caio... Me desculpa, meu...
- Te desculpo sim, Murilo; só não estou a fim de te ver nesse final de semana! Simples assim.
- Mas por que não?
- Porque eu vou pro sambódromo com a minha amiga e não estou a fim de ir pra sua casa, oras.
- E você fala isso com a maior naturalidade do mundo?
- Falo com a maior naturalidade do mundo sim! Você prefere que eu minta? Que eu invente uma história qualquer?
- Não.
- Então pronto. Eu não quero e eu não vou pra sua casa. Se você quiser vir pro carnaval comigo e a minha amiga, beleza. Se não quiser também, beleza do mesmo jeito.
- Não eu não vou. Se você não quer vir aqui é sinal que não quer me ver e se você não quer me ver, não sou eu que vou correr atrás de você. Quando quiser vir, é só me ligar avisando.
- Como você é criança! No outro final de semana eu colo aí, pode ser?
- Pode sim. Eu juro que ficarei te esperando.
- Combinado então. Até mais.
- Até.
Ele provavelmente ficou chateado, mas eu já tinha combinado o carnaval com a Alexia há um tempão e não podia simplesmente desmarcar com a minha amiga para ficar com o Murilo.
Por mais que ele fosse o meu namorado, eu não queria deixar a minha amiga sozinha, já que a Jana não ia porque ela estava viajando. E se fosse pra ficar com o Murilo e não acontecer nada além de um sexo oral, eu preferia mil vezes ficar com a Alexia. Garanto que eu ia me divertir mil vezes mais.
E não deu outra. É claro que sem a Janaína – que estava curtindo os dias de folga ao lado do bofe dela – não foi a mesma coisa, mas mesmo sem ela, o Fabrício e o Rodrigo; a Alexia e eu conseguimos nos divertir bastante e viramos a noite na Sapucaí.

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Ver os desfiles tão de pertinho não tinha preço. Era uma energia maravilhosa e eu saí de lá com as minhas forças renovadas. Cansado, mas com o espírito leve como uma pluma.
- Obrigado pela noite – fui e dei um abraço na Alexia.
- Eu é que agradeço, gostosão.
- Gostosona!

O pior foi ter que voltar pra casa, dormir algumas horas e depois ter que ir pro trabalho. Eu cheguei na loja parecendo um zumbi e isso foi notado por quase todos os funcionários.
- Se acabou na noite, hein?
- Te vi no carnaval ontem...
- Bebeu todas, hein Caio?
- Não dormiu nada essa noite, hein garoto?
Não dei explicações a ninguém e só sorri para essas frases sem graça. O que eu queria naquele momento era a minha cama. Eu precisava de folga.

Mas demorou muito para o dia 1º de março chegar e quando chegou, eu tive que me virar nos 30 para dar conta de tudo o que eu tinha que fazer.
Primeiro, eu quis pegar um sol na praia; portanto, acordei mais cedo do que deveria e fui logo pra praia.
Depois do bronze, fui pro shopping para almoçar com o Murilo. Pelo menos naquele dia ele não fugiu de mim:
- Eu estava com saudades.
- Eu também estava, menino – dei risada. – Ainda bem que não fugiu de mim hoje.
- Eu nunca fujo de você.
- Não, é? Sei.
- O que nós vamos almoçar?
- Eu já decidi: vou comer comida mesmo. E você?
- Eu quero um bom hambúrguer. Você não gosta?
- Adoro, mas não posso comer. Isso daí faz mal pra saúde e ainda por cima engorda demais. Eu preciso manter o meu foco na academia.
- Tá ficando gostosão, hein?
- Você acha?
- Pô... Demais!
- É essa a intenção – dei risada.
Meu namoradinho e eu pedimos as nossas comidas e almoçamos com muita tranquilidade. Nós conversamos bastante e pelo visto não existia qualquer resquício de mágoa ou raiva em nenhuma das partes.
- Me ajuda a escolher algumas roupas?
- Ajudo – ele coçou a cabeça. – O que você vai comprar?
- Quero comprar umas roupas bem transadas. Mais pra sair de casa mesmo. As minhas estão muito acabadinhas.
- Vem comigo. Tem uma loja que eu adoro. É de marca que você quer?
- Quero roupa boa, bonita e barata.
Isso foi difícil de encontrar. Encontrei roupa boa e bonita, mas barata não. Levei um dinheiro trocado e não quis gastar mais do que o meu orçamento podia, por isso não comprei tudo o que queria e acabei ficando frustrado.
- Podia ter comprado mais coisas, pô.
- Não posso gastar mais do que o meu orçamento manda. Mês que vem eu compro o resto.
- O que você faz com seu salário?
- Eu gasto ué. Tem meus gastos na república, meus gastos na faculdade, meus gastos com minhas coisinhas... E o que sobra eu guardo no banco.
- É isso aí. Você está certo, tem que guardar uma graninha mesmo.
- Quero fazer algo no futuro com meu dinheiro. Comprar um carro, sei lá.
- É isso aí. Vamos pra minha casa agora?
- Vamos. Sua mãe e sua tia não estarão lá?
- Não, não estarão. Elas foram pra Aparecida do Norte.
- Longe pra cacete daqui do Rio, hein?
- É nada. Umas 4 horinhas de viagem mais ou menos.
- Já foi lá? – indaguei.
- Já fui sim e você?
- Várias vezes. Preciso voltar inclusive.
- Então você é católico mesmo?
- Sou. Já disse a você isso antes.
- Ah, eu só queria confirmar.

Normalmente era o Murilo que tomava a iniciativa, mas naquela noite fui eu que peguei as rédeas da situação.
Assim que o novinho trancou a porta do quarto, eu o prensei contra a mesma e o beijei com muita avidez. Não tardou para ele ficar completamente sem fôlego.
Arranquei a roupa do menino, ajoelhei e coloquei tudo pra dentro de minha boca. Ainda continuava pequeno, mas eu já estava bem acostumado com isso.
- Hum, delícia... – ele colocou a mão na minha cabeça.

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Depois fizemos o inverso. Ele me chupou e eu fiquei lá com meus olhos fechados. Não me atrevi a falar nada para não cometer nenhuma gafe.
Foi nesse dia que tudo aconteceu da forma correta. Eu pensei que como sempre, nós íamos parar no oral, mas ele me surpreendeu e foi até o fim naquela noite.
- Eu não sei... Se vou aguentar isso daí não... – ele ficou muito vermelho.
- Relaxa – eu subi no corpo do Murilo e beijei a boca dele com muita suavidade.
Cheguei a pensar no Bruno, mas fiz um esforço enorme na mente e acabei afastando o meu ex dos meus pensamentos. Eu tinha que pensar era no Murilo e não nele.
Mesmo falando que ele não sabia fazer as coisas, o novinho acabou se saindo super bem. Ele conseguiu me penetrar com uma facilidade absurda e eu duvidei e duvidei muito se ele realmente nunca tinha sido passivo. É claro que ele já tinha feito...

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- Uh, uh, uh – ele gemeu enquanto gozava.
- Safado!
- Você que é.
- Murilo? – perguntei depois que já estava vestido.
- Eu?
- Você nunca tinha sido passivo mesmo?
- Não!
- Então eu tirei sua virgindade? – fiquei envergonhado.
- Tirou – ele ficou mais tímido ainda.
Era a segunda vez que eu tirava a virgindade de alguém – se é que ele estava falando a verdade, claro –. A primeira foi com o Henrique.
- Melhor eu ir agora, amoreco – dei um selinho no niño.
- Cedo assim?
- Amanhã tem aula, lembra?
- Ah, é verdade.
- Semana que vem eu não vou vir, hein?
- Ah, é mesmo.
- Tenho a formatura dos meus amigos.
- Verdade. Você já comentou. Não tem problema, a gente se vê daqui 15 dias.
- É isso aí.
Beijei o garoto, me vesti e ele me levou até o portão.
- Vem cá, vem?
Murilo me puxou e começou a me beijar ali mesmo. Eu achei aquilo muito estranho e fora do comum, mas o beijo foi tão bom que eu não resisti e fiquei lá, não sei por quanto tempo.
- O que foi isso? – perguntei com a boca ardendo por causa do beijo.
- Saudade. Eu gosto de você, embora não pareça.
- Bobinho. Eu também gosto de você – apertei o nariz do garoto. – Boa noite!
- Boa noite, lindão.
- Se cuida, tá?
- Você também. Juízo nessa cabecinha aí, hein?
- Juízo é meu sobrenome, Murilo – brinquei.
Ele abriu o portão e eu saí. Mandei um beijinho pra ele e segui o meu rumo. Por sorte, não encontrei com o Vítor naquela noite de domingo.

NA PRIMEIRA SEMANA DE MARÇO...

A formatura dos meninos ia acontecer no dia 7 de março e o clima para essa festa já estava tomando conta da nossa residência.
Na segunda-feira mesmo o Fabrício chegou e ele parecia muito ansioso para a chegada da data tão esperada por ele e o Vinícius:
- Não vejo a hora de chegar sábado.
- Calma – dei risada. – Sábado já está aí.
- Ansioso demais!
- Quando a sua família vem?
- Eles chegam na sexta.
- E vão ficar aqui em casa?
- Não, mas eles vêm conhecer vocês.
- Ah, sim...
Vinícius não parecia tão ansioso quanto Fabrício, mas sim nervoso. Ele já não estava mais se alimentando como devia e já não dormia tão bem como nas outras noites. Para ele, a data parecia ser ainda mais especial pois era a finalização de um sonho. 6 anos de faculdade não são 6 dias, nem 6 meses. Ele tinha mesmo um grande motivo para ficar nervoso e eu não tirei a razão do cara.
O médico, que ainda não era médico porque não tinha diploma, não estava mais acompanhando o professor no hospital.
Ele ia voltar de vez quando fizesse o juramento e quando tivesse com o diploma. Aquele tempo em que ele passou trabalhando com o professor, nada mais foi do que uma espécie de preparação. Nem remunerado ele estava sendo.
O Vini só seria médico formado e residente quando passasse a formatura e quando ele fizesse o tal juramento. Tudo estava muito perto para acontecer.
O mais chato nisso tudo foi ter que ir de social para o evento. Eu não tinha nenhuma roupa social e fui obrigado a comprar uma calça, uma camisa e um sapato. Não fiz questão da gravata, nem do terno. Aí seria pedir demais.
Os únicos que iam na formatura seríamos eu e o Rodrigo. É claro que os outros meninos queriam ir, mas não havia convites suficientes para todos nós e eles entenderam numa boa. O único que ficou meio chateado foi o Éverton, mas já era de se esperar essa infantilidade da parte dele.
Quando a sexta-feira chegou, eu me vi rodeado de dezenas de desconhecidos. A minha casa estava barulhenta, lotada e repleta de pessoas felizes e sorridentes.
Conheci as famílias dos meus amigos e percebi o quanto todos eram legais e atenciosos. Confesso que não guardei o nome de ninguém.
- Parabéns. A casa de vocês é muito organizada – falou uma senhora. Provavelmente ela era mãe do Vinícius.
- Obrigado... – ele agradeceu.
- E vocês parecem ser bem unidos... – disse um cara.
- E somos mesmo – Fabrício riu.
Obviamente que por falta de espaço ninguém dormiu na nossa república. Todos tiveram que ir para hotéis, mas ninguém se preocupou com isso. No domingo seria feito um almoço na minha casa, juntamente com um churrasco e as coisas já estavam praticamente todas prontas.
Nós já tínhamos limpado a casa no decorrer da semana e os caras já tinham comprado as bebidas, as carnes e já tinham preparado a churrasqueira, que ficou na laje da residência.
Quando o sábado finalmente chegou, ninguém teve paz naquela casa. Foi um entra e sai constante e ninguém suportava o nervosismo do Vinícius e a ansiedade do Fabrício.
- Vai tomar banho, Caio – mandou Vinícius.
- Calma, VinI! Ainda não são nem 18 horas...
- Mas vai pra gente agilizar as coisas...
- Calma, amor – Bruna acariciou os cabelos do amado. – Ainda está cedo.
Rodrigo e eu ainda não sabíamos em que carro iríamos e já estávamos ficando preocupados, até um cara que era parente do Fabrício nos oferecer uma carona.
- O meu carro vai vazio. Vocês podem ir com a gente.
- Não vamos atrapalhar? – perguntou Rodrigo.
- Não. De forma alguma. No carro só vamos eu e a minha esposa, então tem vaga suficiente. Aí vocês aproveitam para nos informarem o caminho.
- Sendo assim a gente aceita – eu me pronunciei. – Muito obrigado.
A hora de maior correria foi quando tivemos que nos arrumar. A casa estava cheia de mulheres e nós não tivemos muita privacidade. Rodrigo e eu tivemos que tomar banho praticamente juntos naquela noite, tamanha a movimentação que estava na nossa casa.
- Eu vou primeiro – ele falou. – E você fica aqui esperando. Não é pra vir no box, entendeu?
- Eu vou sim – brinquei.
- Vai nada, seu bobão – ele beijou o meu rosto.
A porta estava trancada e a toda hora alguém pedia para entrar.
- Tem gente – falei.
- Deixa eu entrar, mano – era o Fabrício. – Preciso ir ao banheiro...
- Ai, Deus – abri a porta.
- É rápido.
Ele ainda não estava pronto. O homem ficou de costas pra mim e começou a urinar. Ele ainda parecia estar muito ansioso.
- Chegou o dia, chegou o dia!!!
- Calma, vai dar tudo certo – eu sorri.
- Eu sei que vai!
- Pode vir, Caio – Rodrigo saiu de toalha.
- Ah, valeu.
Entrei na ducha e comecei a tomar banho. Não tive como demorar muito porque a fila pro banheiro estava mesmo longa.
- Como eu estou? – perguntou Rodrigo.
- Uau – meus olhos viram um Rodrigo engomadinho. Meu irmão estava todo de preto e só naquele dia eu percebi que nós dois íamos ficar um par de vasos, porque eu também ia todo de preto. – Lindo!
- Obrigado. Eu sei que sou!

Quando eu entrei no meu quarto, encontrei os formandos prontos para a formatura. Meu coração ficou disparado e os meus olhos cheios de lágrimas. Eles estavam simplesmente lindos.
E só então eu percebi como o tempo estava passando rápido. Um filme passou em minha cabeça e eu não consegui tirar os olhos dos dois.
Parecia até que eu tinha conhecido os dois no dia anterior, mas já fazia 3 anos que nós morávamos juntos. Um filme passou na minha cabeça e eu lembrei de vários momentos que nós vivemos juntos...
“- Muito prazer, eu me chamo Vinícius...”
“- Oi, eu sou o Fabrício..”

Como o tempo tinha passado rápido, meu Deus... Só numa hora dessas eu fui capaz de compreender que estava crescendo, ficando velho e amadurecendo. Os jovens estavam se formando e logo seria a minha vez...
Eu lembrei de como foi sofrido aquela época de estudos para o Fabrício e também para o Vinícius...
Não podia simplesmente dizer quem sofreu mais, porque cada curso teve a sua particularidade e cada um sofreu de uma forma.
Lembrei das noites de sono que eles perderam, dos dias e mais dias que ficaram fora fazendo trabalhos, das horas imensuráveis de estudos, do estresse da faculdade, da cobrança dos professores e da responsabilidade que ambos tinham em estudar e muitas vezes trabalhar, como era o caso do Engenheiro.
Vinícius escolheu a medicina e Fabrício Engenharia Química. Cada um na sua área, cada um com a sua paixão, mas ambos com o mesmo empenho, ambos com a mesma responsabilidade e ambos com a mesma vontade de subir na vida, ambos com a mesma determinação.
Não tinha como negar que eles eram guerreiros. Sim, eles eram guerreiros pois só um guerreiro é capaz de ir atrás dos sonhos, só um guerreiro é capaz de entrentar sol, chuva, frio e calor para ir atrás dos objetivos.
Eles estavam se formando na faculdade, mas parecia que estavam se formando mesmo era na vida. Para um foi 4 anos, para o outro 6, mas para ambos foi um período de muitas batalhas, muitas lutas, muitos contratempos, muitos obstáculos.
Todavia, mesmo com tantos momentos de dificuldades, mesmo com tantas barreiras, com tantos obstáculos, com tantos desafios, eles eram dois VENCEDORES.
Não é qualquer um que consegue enfrentar o que Vinícius e Fabrício enfrentaram ao longo de tanto tempo. Naquele momento, Fabrício e Vinícius, meus amigos, meus companheiros de república, meus colegas de quarto, deixaram de ser tudo isso e passaram a ser meus exemplos de vida. Eu estava feliz e alem disso, ORGULHOSO por conhecer aqueles dois, por ter acompanhado toda aquela evolução de perto e por estar fazendo parte daquele momento que era tão especial, tão marcante na vida daqueles caras.
Dois vencedores, dois lutadores que souberam passar por cima de todas as dificuldades com a cabeça erguida, que não desistiram, que não pararam e que seguirem em frente até alcançar o objetivo de suas vidas. De verdade, eles eram exemplos para mim. Mas, será que eu, no auge dos meus 20 anos de idade, com toda a minha imaturidade característica da época em que eu vivia, com toda a minha falta de experiência na vida, ia conseguir chegar onde eles chegaram?

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3 comentários:

Anônimo disse...

Muito bonito que você falou no final. Realmente eles são DOIS VENCEDORES. Já tô até me imaginando na minha formatura chorando horrores.

nevertonnitoly@gmail.com disse...

Lindo msmo essas palavras que você citou nesses últimos textos me emocionei aki lindo de verdade parabéns você é o cara Caio bjkas te adoro ansioso pelo próximo ❤❤

Unknown disse...

Lindo de mais... Parabéns pela nova aparencia do blog, amei tudo mas principalmente o chat...as musicas tbm são perfeitas.
Boa tarde lindo