terça-feira, 31 de março de 2015

Capítulo 68²

E
U já imaginava que seria assim.
Por mais confiante que eu estivesse, eu sabia que aquilo poderia acontecer. E eu estava realizado por causa da minha melhor amiga.
Se tinha uma pessoa que merecia aquela promoção, essa pessoa era a Janaína. Ela era mais velha do que eu, muito mais experiente e talvez até mais capaz do que a minha pessoa. Depois de 1 minuto de decepção, eu comecei a rir pensando em como seria a reação daquela criatura.

- Por que está rindo?
- Porque ela vai ficar louca!
- Não está chateado?
- De jeito nenhum!
- Tem certeza?
- Claro, Jonas. Eu já tinha dito que eu iria ficar feliz se esse fosse o resultado. Eu amo a minha amiga e ela merece isso e muito mais!
- Mas agora ela não é mais a sua amiga, ela é a sua superiora.
- Aqui dentro da loja. Fora daqui ela continua sendo a minha amiga, como sempre foi, como sempre será.
- Espero que você saiba separar as coisas.
- Qual é? Por acaso você não me conhece? É claro que eu sei separar as coisas. Trabalho é trabalho, amizade é amizade.
- É assim que se fala! Porém, eu não quero que você desista, hein? Não foi dessa vez, mas com certeza será da próxima.
- Sem crise, Jonas. Se tem uma coisa que eu não faço nessa vida é desistir daquilo que eu quero. Você me conhece.
- Jura que não está triste, Caio?
- É claro que não, Jonas! A Jana merece muito mais do que eu. Ela é mais velha, ela merece mais. A coitada está nessa luta há muito mais tempo que eu.
- Então tá bom. O Antony frisou bastante que você está preparado, mas que nesse momento a vaga é da Jana. Isso não te impede de chegar na gerência daqui algum tempo, tá?
- Uhum. E quando a minha amiga começa?
- Segunda-feira. Ela ficará com a equipe manhã e eu com a equipe tarde.
- E como será quando a Duda voltar?
- Isso será verificado daqui 5 meses, não agora. Não sofra por antecipação, mas de antemão eu te aviso que não haverá desligamentos. Um de nós três será remanejado, provavelmente.
- Ah, que bom. Assim eu fico tranquilo. Tem mais alguma coisa que você queira me falar?
- Não, é só isso. Espero que não desmotive.
- É claro que eu não vou desmotivar. Já posso ir pro meu setor?
- Pode sim. Chama a Janaína pra mim, mas não fala nada pra ela. Eu é que irei comunicar a decisão do Antony.
- Como você quiser. Até mais tarde, chefe.
- Juízo nessa cabecinha, rapaz. Estou feliz pela sua reação e triste por você não ter passado.
- A Jana merece. Não se preocupa comigo. Você sabe que eu não queria participar desse processo.
- E talvez tenha sido essa sua resistência que te atrapalhou.
- Não acho. Eu acho que as coisas acontecem no momento certo. Se não foi agora, é porque não é o meu momento. É o momento da Janaína e eu repito: ela merece.
- Vai lá, moço. Não fala nada com ela, por favor.
- Pode deixar, chefe.
Eu saí e a loja parou para me olhar. Os vendedores estavam me fitando e conforme eu fui andando, eles foram perguntando se eu tinha passado ou não no processo seletivo.
- E aí? – ela saiu correndo, segurou nos meus braços e ficou me olhando com a maior cara de expectativa. – O que aconteceu?
Segurei o riso.
- Fala logo, minhoca albina e acefálica!
Não me contive e comecei a rir.
- Você passou, né? VOCÊ PASSOU? AAAAAAAH...
- O Jonas quer falar com você. Ele está te esperando.
- Eu não acredito que você passou... Você é meu novo gerente? É isso mesmo produção?
- Vai conversar com o nosso chefe. Ou melhor, com o chefe de um de nós dois. Vai lá, ele está te esperando.
Ela saiu resmungando e com a cara de poucos amigos. Eu não estava me segurando e soltei logo uma gargalhada. Eu ia ficar assistindo a saída dela de camarote.
- E aí? Você é nosso novo chefe? – Gabriel foi ao meu encontro.
- Não posso falar ainda. Tem que esperar a Janaína sair da sala.
- Fala, cara. A gente vai saber de qualquer jeito.
- Não vou falar. Eu não posso. O Jonas me proibiu.
- Sem graça!
Não me segurei. Eu precisava ouvir o que eles iam falar e por isso eu voltei pra perto da sala do meu regional e fiquei praticamente com o ouvido colado na porta, só para ouvir a reação da Janaína.
- OOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOI???
Eu ri e ri muito. À partir desse momento eu só ouvi murmúrios da voz do Jonas. A nova gerente estava calada, provavelmente em estado de choque.
- TO PRETA PASSADA NA BORRA DE CAFÉ!!! MENTIRA QUE EU PASSEI NESSA PORRA?
Ela estava falando muito alto e por isso eu consegui ouvir a voz dela nitidamente. Eu estava imaginando as feições da Janaína e só com isso eu voltei a rir feito um abobalhado.
- EU TO LASCADA... EU TO FERRADA... EU TO FODIDA... EU TO... PRETA... PASSADA... NA... CHAPINHA!!!
Jonas também deu risada. Eu queria tanto ver a cara da minha melhor amiga!
- JESUS CRISTO ME AMARROTA QUE EU FIQUEI PRETÉRITA!!!
Desse momento em diante houve um silêncio mortal da parte da minha amiga. Provavelmente ela estava sendo orientada com relação a algum procedimento que teria que cumprir. Eu não saí de perto da sala um segundo sequer. Eu precisava ver a saída dela de camarote.

E quando isso aconteceu, eu não me contive e fui logo correndo para abraçá-la. A negra chega estava pálida e toda descompassada. Ela ainda estava em estado de choque total.
- PARABÉNS, MINHA GERENTE!!!
- To preta passada na chapinha...
- Que Deus te abençoe nessa nova etapa de sua vida, meu amor!!!
- Jesus me abana!
- Muita sorte, muita sorte mesmo porque você merece isso e muito mais, viu? Eu estou muito feliz por você, muito feliz mesmo!!!
- Caio, eu to toda trabalhada na perplexidade. Diz que isso é um sonho?
- Não, não é um sonho! Olha só, é verdade...
Eu falei isso e dei um beliscão no braço da nova gerente. Ela gritou de dor, me puxou pelo braço e quase me jogou no chão para me esbofetear.
- Você me paga por esse beliscão, bicha maldita! Vou fazer tranças com os pelos do seu...
- Algum problema aqui? – Jonas saiu da sala e nos pegou no flagra.
- Ela está me ameaçando de morte – continuei rindo feito um besta.
- Janaína, olha a postura!
- Ele me beliscou!
- Porque ela falou que estava sonhando.
- Não é um sonho, Jana. É realidade. Aceita.
- Jesus me dá um banho de água fria, meu Pai!!!
Foi assim. Ela ficou questionando a veracidade daquele acontecimento durante o resto do dia. A notícia da promoção da minha amiga se espalhou na loja mais rápido do que eu poderia imaginar. E a grande maioria dos colaboradores foi cumprimentá-la.
- Obrigada, Do Carmo!!! Você poderia ter me falado que isso ia acontecer, né?
- Você não me perguntou nada, Jana!
- E precisa perguntar, criatura? Cadê a sua pró-atividade? Onde fica a nossa amizade nessa história? Eu anotei isso, hein? Vou deixar pra usar contra você nos tribunais quando eu for pro andar de cima!!!
- AI que maldade – a cartomante riu. – Da próxima vez eu falo até as previsões da sua quinta geração!
- Pois eu acho bom!
- Caio? Como você está se sentindo?
- Melhor impossível, Do Carmo. Estou pra lá de feliz pelo progresso da minha amiga.
- Dá pra notar. Sua aura é muito pura, viu?
- Hã? – não entendi.
- Eu quis dizer que você é um menino do bem. Dá pra notar que você não está com inveja da sua amiga.
- Claro que não estou!
- Mas cuide-se. Existe muito olho gordo ao seu redor, mas não é da Janaína. Não se preocupe.
- Eu sei que não é dela. E nem me importo com isso. Eu me resguardo através de minhas orações.
- É isso mesmo. A inveja não vai te atingir, mas sempre é bom a gente se precaver. Não baixe a guarda.
- Isso é verdade.
A nova gerente não parou de agradecer pelos cumprimentos de nossos colegas de trabalho. E a cada abraço que ela recebia, eu percebia que a mulher ficava mais e mais cansada.
- Amanhã você está de folga? – ela perguntou.
- Não, Jana. Você está?
- Só volto segunda. Ganhei 2 dias.
- Você merece. Vai ser bom pra descarregar a emoção e pra recuperar a energia.
- Eu precisava desses dias. Se fosse pra assumir hoje eu ficaria louca. Eu estou louca. Eu sou louca. Eu acho que vou pirar.
- Relaxa. Vai dar tudo certo. Vai ser minha chefinha preferida, viu?
- Eu vou querer a sua ajuda, tá? Não vou conseguir ultrapassar esse desafio sozinha.
- Conte comigo sempre que precisar. De verdade.
- Eu sei que eu posso contar, amor. E eu jurava que tinha sido você que tinha passado.
- Graças a Deus foi você. A senhora merece!
- Senhora é sua avó! Até parece que eu sou senhora no auge dos meus 18 anos.
- 18 em cada perna, né?
- Me chama de velha de novo e eu te jogo no esgoto, cachorro!!!

- Oi... – ele partiu ao meu encontro e me abraçou. – Que saudades de você...
- Eu estava com saudades também, meu gostoso.
- Você está bem?
- Maravilhosamente bem – garanti.
- Fiquei tão chateado por você não ter passado no processo seletivo!
- Não fique, amor. Eu estou muito feliz pela Janaína. Ela merece muito mais do que eu.
- E como ela está?
- Doida, lesada, atrapalhada e engraçada como sempre.
Bastou falar na morena para ela dar o ar da graça. Bruno a abraçou, a parabenizou e eles ficaram conversando por um momento:
- Espero que dê tudo certo, sabe?
- Vai dar tudo certo sim – Bruno a tranquilizou. – Cuida bem do meu Caio, tá?
- Espero que esse pulguento não me dê trabalho!
- Pulguento é o seu nariz, sua vaca!
- Viu como ele me trata? É assim o dia inteiro. Só me humilha, só me ofende, só me maltrata...
- Você é que me maltrata, quenga velha.
- VELHA NÃO, HEIN?
Bruno gargalhou com as nossas brincadeiras. A Janaína era a mulher mais palhaça que eu conhecia na face da Terra. Eu estava louco para que chegasse a segunda-feira para que eu a visse na nova postura de líder. Eu tinha certeza que ela se sairia bem.
- Até segunda, chefinha! Se cuida e aproveita seus últimos dias de plebeia.
- Eu sempre serei plebeia, meu filho.
Isso era verdade. Eu tinha mais do que certeza que a promoção não ia subir pra cabeça da Janaína. Se isso acontecesse eu iria ficar muito chateado com a bela.
- Beijo, vão com Deus. Bom final de semana.
- Pra você também – Bruno e eu falamos em uníssono.

Era manhã de sábado e eu estava prestes a sair de casa para ir pro trabalho.
- Não vai, fica – meu namorado fez cara de pidão.
- Bem que eu queria ficar mesmo, mas não posso. E você também tem que trabalhar, mocinho.
- Droga! Por que eu não nasci rico?
- Você nasceu rico sim...
- Só em seus sonhos, amor! Você sabe muito bem que isso não é verdade!
- Eu sei sim – sorri. – É que eu adoro te pentelhar, sabia?
- Adora, é?
- Uhum!
- Cachorrinho. Me dá mais um beijinho, vai?

Todos os beijos do mundo eram poucos para nos satisfazer. Por mais tempo que nós estivéssemos juntos, Bruno e eu nunca deixamos o romantismo de lado e isso fazia toda a diferença para manter a chama da nossa paixão acesa ininterruptamente.
Nem parecia que nós estávamos juntos há 8 meses. A nossa química ainda era a mesma do começo de namoro e muitas vezes bastava um olhar mais provocante para ambos ficarmos totalmente acesos. Era algo impressionante.
- Deixa eu te levar antes que eu não me segure mais.
- Eu também estou a perigo aqui já – suspirei.
- Queria saber quando a gente vai ter mais tempo pra ficar juntos...
- Eu também queria saber isso. Acho que só nas próximas férias, né?
- Infelizmente. Sabe Deus quando vai ser.
- Bom, em julho você fica de folga na faculdade. Daí vai dar mais tempo pra gente se curtir. Ou não?
- Lógico, mas tem os trabalhos. Queria ficar ao seu lado 24 horas por dia.
- Eu também – apertei o botão que levava o elevador até a garagem. – Mas quer saber de uma coisa?
- O quê?
- A distância aumenta a saudade e a saudade apimenta a relação!
- Ah, isso é mesmo!
A saudade da semana apimentava mesmo a nossa relação, porque todas as sextas a gente pegava fogo, quase literalmente falando.
- Eu já estou me cansando desse carro, sabia?
- Como assim? Ele está com algum problema?
- Não. Eu enjoei mesmo. Acho que vou trocar.
- Fácil assim? Não senhor! Não vai trocar nada não. Para de gastar dinheiro sem necessidade, a gente tem que pensar no nosso futuro.
- Pior que você tem razão. Então acho que eu vou trocar a cor dele. Queria algo mais ousado.
- Como o quê, por exemplo?
- Um verde oliva, sei lá. Algo assim.
- Eu adoro essa cor. Deixa como está e para de ser gastão, Bruno Silva!
Ele nem falou “Duarte”, simplesmente me deu uma porrada e não foi das mais fracas não. Eu só fiz rir.
Nós não tínhamos nem 1 ano de namoro e não sabíamos como seria a nossa vida daquele momento em diante. As incertezas me faziam ficar com os dois pés bem fixos ao chão. Se ele queria trocar o carro, ele ia ter que esperar mais um pouco. O Bruno não podia ser desajuizado como era no passado.
- Trabalha direitinho, tá bom?
- Pode deixar, amor – falei.
- Beijo!
- Outro. Se cuida e até mais tarde.
- Se prepara pro show de hoje à noite, hein?
- Pode deixar, amor.

Tive um dia absolutamente normal na filial. Meus amigos e colegas de trabalho já não estavam mais no meu pé e não ficavam mais falando do bendito processo seletivo. Isso me deixou bem aliviado.
- Boa tarde, senhora – eu abordei uma cliente. – Posso ajudá-la?
- Não, obrigada. Eu só estou olhando mesmo.
- Qualquer coisa é só me chamar. Meu nome é Caio.
- Tudo bem, obrigada.
Essas negativas eram constantes, desde a minha chegada naquela empresa, há três anos. Se todos os clientes que entrassem na loja fechassem a compra eu estaria com a faca, o queijo e a goiabada!
Eu estava sentindo falta da Janaína e da Alexia. Ali dentro da filial elas eram as únicas pessoas que eu tinha um contato verdadeiro. A mamãe de primeira viagem já estava fazendo falta ali dentro.
- Diego? – chamei o marido da minha amiga. – Como está a Alexia?
- Está bem, Caio.
- E a neném?
- Bem também. Essa noite a gente quase não dormiu porque ela estava com cólica. Foi horrível.
- Coitadinha... Que judiação!
- É, mas passou graças a Deus.
- Dá um beijo nas duas por mim, tá?
- Pode deixar, cara.
Naquele sábado o Jonas quase não parou na loja. Ele teve vários problemas pra resolver e em alguns momentos a loja ficou simplesmente jogada ao léu, sem nenhum responsável pelos colaboradores.
- Eu quero falar com o gerente – disse um cliente.
- Só um momento que eu vou verificar onde ele se encontra – falei.
Saí doido atrás do cara pela loja e não o encontrei. O que estaria acontecendo?
- Agora ele foi almoçar, Caio – me disse uma das colaboradoras do crediário.
- E não deixou ninguém cobrindo?
- Acredito que não.
- Droga!
Voltei e comuniquei o ocorrido ao cliente, mas ele não entendeu.
- Só que ele não pode sair e deixar a loja sozinha – o homem comentou comigo. – Que credibilidade é essa? Só tem um gerente nessa merda?
- Não. Nós temos dois gerentes, mas uma está de folga.
- Ah, entendi. Menos mal. Então eu espero porque eu só falo com ele.
- Como o senhor quiser. Eu peço por gentileza que o senhor aguarde aqui na mesa. Quando o Jonas chegar eu comunico, está bem?
- Perfeito. Muito obrigado, Caio. Pode ficar à vontade aí nas suas vendas.
Como se eu estivesse me preocupando com aquele cara. Eu ia mais é ficar na minha mesmo e não ia dar bola pra ele. Quando o Jonas chegasse, ele que assumisse a responsabilidade de sua saída.

- Que bom que voltou – eu fui ao encontro dele, quase depois de uma hora. – Tem um cliente esperando você na minha mesa, ele disse que só vai falar com você.
- É hoje! É hoje!!!
Dei graças a Deus quando o meu expediente acabou. Mesmo sendo um dia comum como outro qualquer, eu queria sair logo da empresa para curtir o resto do sábado ao lado do meu namorado. Eu precisava muito disso.
- Pegou os ingressos? – Bruno me encarou.
- Claro que sim. Está com a sua carteirinha, né?
- Uhum.
Saímos de casa e rumamos até o local do show do Víctor e Léo. Eu não era tão fã dessa dupla como era do Jorge e Mateus, mas eles eram legais e eu gostava de algumas músicas.

- Caraca, olha esse estacionamento como está – Bruno se espantou.
- Já achei uma vaga lá na frente, Bruh.
- Onde?
- Lá na frente. Pode ir reto...
Ele estacionou e a gente desceu do carro quase instantaneamente. A casa de show já estava fervilhando e por causa disso, meu namorado e eu ficamos um pouco afastados do palco.
- Aqui está bom – ele parou atrás de duas garotas. – Pena que estamos longe do palco.
- Pois é, mas está bem aqui.

A dupla sertaneja entrou com um pouco de atraso no palco, mas nada significativo demais. Eu quase fiquei surdo com as duas garotas que estavam na nossa frente gritando nos meus ouvidos.
- Eu mereço – revirei os olhos.
- Quer parar de me empurrar? – ouvi a voz do Bruno ao meu lado. Com quem ele estaria conversando?
- Tudo bem aí?
- Essa garota fica me empurrando aqui...
Pelo que eu me lembrava, o show do Víctor e Léo estava mais cheio que o do Jorge e Mateus, que Bruno e eu tínhamos ido em julho do ano anterior. Eu me senti uma sardinha espremida no meio de tanta gente.
Cantei, mas não fiquei rouco como no outro show e o mesmo aconteceu com o Bruno. Eu até gostava da dupla, mas não era a mesma sensação de participar de um show do Jorge e Mateus.
- As fotos estão ficando boas? – perguntei.
- Estão sim. O zoom hoje está funcionando direitinho.
- Vamos tirar uma foto?
- Claro!
Me juntei com o meu gatinho e ele tirou a nossa foto, mas não ficou legal.
- Acho que eu tremi.
- É esse empurra-empurra – bufei.
- Deixa eu tirar mais uma...
A outra ficou melhor que a primeira. Essa com certeza iria pras minhas redes sociais.
- Adoro essa música!!! – falei e comecei a pular como todos estavam fazendo. A música era “Borboletas”.
O espetáculo durou cerca de uma hora e meia e quando acabou, meu namorado e eu fomos quase que pisoteados pelas fãs enlouquecidas que estavam saindo da casa de show.
- Que povo mal educado – eu reclamei. – Ninguém têm educação nesse lugar?
- Vem – Bruno me puxou pela mão. – Por aqui está mais tranquilo.
- Porra, olha esses viadinhos de mãos dadas, meu irmão – um cara começou a nos zoar com um amigo.
- Qual é o problema? – eu fui tirar satisfação.
- Pô... E ainda é metido a valentão! Não tem medo de morrer não, viado?
- CAIO! – Bruno me puxou com muita força. – Vamos embora daqui!
Eu fui puxado pelo meu namorado, mas a minha vontade era de tirar satisfação com aquele idiotinha. Pena que o Bruno foi mais forte que eu.
- Pode me soltar? – eu puxei meu braço.
- Não! – ele me agarrou de novo. – Quer apanhar, criatura???
Não falamos nada até chegar no carro, mas quando eu sentei ele foi logo despejando tudo em cima de mim:
- Eu odeio quando você tenta se meter em encrenca, Caio!
- Ele estava nos xingando, Bruno!
- E daí? Quantas vezes isso já aconteceu? Não foi a primeira e nem será a última vez e você sabe muito bem disso!
- Não tenho sangue de barata como você, Bruno. Eu não gosto de levar desaforo pra casa!
- É, só que você não conhece quem está mexendo com você, garoto! Ele te ameaçou de morte ou por acaso você não ouviu?
- Ouvi sim...
- Eu fico com muita raiva quando você faz isso, na boa! Eu não quero que isso aconteça novamente, entendeu?
- Eu já disse que não gosto de levar desaforo pra casa!
- E eu não quero que aconteça nada com você, caralho! Quer fazer o favor de ser mais coerente?
- Você está querendo dizer que eu sou incoerente, Bruno?
- Estou sim! Se meter em briga não leva a nada. Esse não é meu namorado.
- Eu já disse que não tenho sangue de barata como você tem, desculpa.
- Melhor ter sangue de barata e ficar vivo do que se meter a valentão e depois acontecer alguma coisa – ele fechou a cara.
- Qual é? Vai ficar com essa cara de bunda agora?
- Essa é a única que eu tenho, sinto muito.
- Pois ela estava muito melhor mais cedo!
- Disse certo: estava. Agora não está mais.
- Estúpido!
- Pelo menos eu penso na minha vida, né?
- Vai ficar tacando na cara mesmo?
- Vou! Odiei o que você fez.
- Problema é seu se você gosta de ser ofendido. Eu não gosto.
- Caio, o que está acontecendo com você, hein? Eu não te conheço nessas horas, sabia?
- Eu só não gosto de ser xingado, Bruno. Só isso!
- Eu também não gosto, Caio, mas nem por isso eu vou me meter em briga. Deixa essa porra falar o que quiser, meu... Não vai mudar em nada a sua vida, vai?
- Vai sim!
- Ah, então foda-se. Faz o que você quiser, eu não to nem aí. Não é a primeira vez que acontece isso e você sabe que não será a última. Já me irritei com você.
- E eu com você! Já que quer que eu me foda, pode parar o carro aqui que eu vou descer.
- Ficou louco?
- Devo ter ficado. Para o carro que eu quero descer, Bruno!
- Não eu não vou parar. E você não vai descer do carro.
- Você não manda nas minhas vontades, garoto!
- Eu não vou parar e acabou. Não quero que aconteça nada com você.
- Eu sou bem grandinho para me cuidar, Bruno! Para o carro. Você mesmo disse que está irritado comigo. Deixa eu sair!
- Não. Para de ser criança, Caio.
Eu ri. Eu estava ficando mais irritado com o Bruno.
- Essa agora foi a gota d’água. Deixa eu sair desse carro, por favor?
- Não! Eu não vou deixar você sair. Não sei o que você vai fazer...
- Eu não devo satisfação da minha vida pra você, na boa!
Ele bufou e virou em uma curva meio fechada. Eu estava chateado com o Bruno. Ele não precisava ter sido tão duro comigo. Eu olhei pra janela e fiquei com vontade de chorar. Essa era a nossa primeira briga depois que a gente reatou o relacionamento.
- Pra onde você está indo? – perguntei.
- Pro apartamento, oras.
- Não! Me leva pra casa.
- Não vou levar. Você vai pro meu apartamento.
- Eu não quero ir pro seu apartamento. Eu quero ir pra minha casa!
- Vai ficar com essa frescura agora, Caio?
- Não é frescura, Bruno. Eu só não quero ir pra sua casa, eu quero ir pra minha. Me deixa em casa, por favor?
- Não vou deixar não. A gente precisa conversar.
- Vai terminar comigo?
Ele me olhou pela primeira vez, com a boca entreaberta.
- É isso que você quer? – a voz do Bruno quase não saiu.
- Não!!!
- Pois é, eu também não quero. Só quero deixar as coisas limpas entre nós dois.
Respirei fundo. Que briga mais boba, meu Deus!

- Desculpa – falei, quase chorando.
Ele ficou calado. Meu namorado não falou nada por um tempão.
- Desculpa? – me virei e olhei pra ele, com lágrima nos olhos.
- Não faz mais isso, tá bom? – ele suspirou.
- Foi mais forte que eu, me perdoa!
- Eu me preocupo com você, sabe? Não gosto mesmo quando você faz essas coisas. Eu fico com medo, muito medo que aconteça algo de ruim com você.
- Eu sei, amor. Eu sei que eu sou muito explosivo de vez em quando... Me desculpa, tá?
- Claro que eu desculpo, mas não faz mais isso. De verdade.
- Eu prometo que eu vou tentar. Me desculpa por ter te xingado, tá?
- Me desculpa você também. Eu acho que peguei pesado, mas é que você me irritou muito.
Mais uma vez nós ficamos calados. Eu ainda estava meio chateado com a reação do Bruno, mas compreendi que eu era o mais errado nessa história toda.
- Vai me levar pra casa? – perguntei.
- Você quer mesmo ir pra lá?
- Não...
- Ah, bom. Pensei que ia estragar o nosso final de semana. Ele estava perfeito.
- Me perdoa, por favor?
Ele riu.
- Lógico que eu te perdoo, amor. Quem ama perdoa, né?
Mais uma vez senti vontade de chorar.
- Eu te amo, tá?
- Eu te amo também, meu chatinho lindo!
- Chatinho?
- É sim. Chatinho! Quem manda você ser brigão assim?
- Ei! Por que nós estamos parando aqui, hein?
- Olha pro lado que você vai entender.
O Bruno parou o carro atrás de um Celta vermelho. Havia uma fila de carros enorme na nossa frente e eu não entendi onde nós estávamos, até eu olhar pro lado e perceber que...
- ISSO É UM MOTEL!!!

- Aham – Bruno abriu um sorriso safadinho.
- Bruno...
- Não quer? Se não quiser eu te levo pra casa!
- Ah, é assim? É assim?
- Relaxa, tá? Nunca veio num motel?
- NÃO! Você veio por acaso?
- Não! E vai ser ótimo perder a virgindade do motel com você. Relaxa, tá?
Eu fiquei todo sem graça. E se algum conhecido me visse ali? O que eu iria falar?
O carro adentrou em uma rampa e de repente eu me vi num túnel todo iluminado. Eu estava nervoso!
- Boa noite – disse o funcionário do estabelecimento.
- Boa noite. Um quarto, por favor!
- Quanto tempo?
- Pernoite.
- Documentos?
- Seu RG, amor.
Abri a carteira e tirei minha identidade. O Bruno passou nossos documentos e em seguida o cara passou a chave e os RGs para o meu namorado.
- Obrigado.
Bruno seguiu com o carro e ficou prestando atenção nas sinalizações do local. Eu ainda estava nervoso.
- Achei. É aqui.
Meu namorado estacionou, desligou o motor e depois me fitou, com ar de curiosidade.
- Está bravo?
- Não, claro que não.
- Você não vai descer?
- Ah, é!
Descemos e eu o segui. Meu namorado abriu a porta e eu me vi em um quarto lindo e extremamente arrumado. A cama era enorme, estava forrada com um lençol vermelho e por onde quer que eu olhasse, eu via espelhos.
- Sempre quis vir aqui, sabia? – ele fechou a porta.
- E por que nunca veio?
- Porque nunca tive oportunidade.
Eu olhei pro teto e vi mais um espelho. Pelo jeito aquela noite ia ser boa...
- Vem aqui, vem? – ele me puxou e nossos corpos se encontraram com força. – Não fica com essa carinha de bravo, vai?
- Eu não estou bravo – respondi.
- Não está? Então abre o seu sorriso lindo pra mim?
Não abri sorriso nenhum. Eu não estava irritado, nem bravo. Estava chateado.
- Vai? Abre o sorriso pra mim?
- Não – fiz bico.
- Não, é? – Bruno começou a fazer cócegas no meu corpo.
- Para, seu chato – eu dei risada.
- Assim está melhor! Eu te amo tanto, Caio!
- Eu também te amo, Bruno.
- Não fica bravo comigo, vai? Eu falei aquilo porque eu me preocupei com você!
- Eu sei, eu sei. Relaxa.
- Me desculpa?
- Sempre! – apertei meu gostoso em um abraço. – Sempre!
- Eu te amo!
- Eu também!
Ficamos abraçados por um tempo e só depois ele começou a me beijar. Bruno me levou até a cama, subiu em mim e não parou o beijo até nós dois ficarmos acesos.
- Eu vou tomar banho e já volto, tá?
- Não posso ir com você? – perguntei.
- Quer ir?
- Quero – fiquei vermelho.
- Então vem, meu gostoso...
Depois da bronca ele ficou todo carinhoso. Devia ser peso na consciência! Eu tirei a camiseta e segui meu namorado até o banheiro e fiquei surpreso quando vi a semelhança que o toalete tinha com o sanitário do apartamento do meu namorado.
- Vem cá, vem? – ele já estava debaixo do chuveiro, pelado e excitado.
- Seu safado!
- Você que é.
Fui até ele e nós voltamos a nos beijar. Eu já estava pra lá de excitado e queria muito ficar com o Bruno pra esquecer de vez a discussão e o desentendimento que nós tivemos pouco tempo antes de chegarmos naquele local.
- Vem – eu desliguei a ducha e puxei o meu namorado. – Eu quero você!
- Quer mesmo?
- Alguma vez eu já mostrei o contrário?
- Até agora não. Vamos ver daqui pra frente.
- Ei... Eu nunca vou querer ficar longe de você!
- Uma hora você vai cansar de mim... – ele fez um biquinho lindo.
- No dia em que isso acontecer, me interna em um manicômio porque eu vou estar louco!
- Promete que nunca vai largar de mim, Caio?
- Não só prometo como eu juro que isso nunca vai acontecer. Vem, amor!
Nós deitamos na cama e começamos com os amassos. À princípio, a coisa ficou mais no beijo, mas à partir do momento em que o tesão apertou, a gente não se segurou mais e as coisas foram acontecendo como deveriam acontecer.
Enquanto o Bruno me chupava, eu fiquei olhando pro espelho do teto e tive uma perfeita noção de como a coisa acontecia entre nós dois.
- Isso, amor... – eu acariciei o rostinho dele. – Continua... Bem devagar...
Não poderia ter nada melhor do que ver o sexo através do espelho do teto. Eu fiquei mais do que excitado com esse pequeno detalhe. Foi realmente muito bom.
- Chupa a cabecinha dele – eu mandei.
Bruno me obedeceu e pra me provocar, mordiscou a minha glande. Eu senti um prazer indescritível e isso me fez gemer um pouco mais alto.
- Eu adoro ouvir você gemendo, meu safado – o gatão foi por cima de mim, abriu as minhas pernas e começou a me beijar.
- Vai me dar prazer? – mordi o lábio dele.
- Muito prazer!
Mas antes de começar a penetração, eu quis fazer oral para retribuir a sensação que ele havia provocado em mim. Eu imitei tudo o que o Bruno fez e também consegui arrancar alguns gemidos de prazer.
- Eu vou gozar... Eu vou gozar...
Segurei no pau do meu namorado com força, para aquilo não acontecer naquele momento. Era cedo demais e eu queria que o orgasmo só chegasse no fim da nossa relação sexual.
- Ainda não, meu gostoso – caí deitado ao lado dele, totalmente extasiado. – Vem aqui, vai?
- O que você quer?
- Quero você... Quero seu corpo... Quero sentir seu cheiro... Quero sentir seu sabor... Quero sentir seu calor...
Nos beijamos e ficamos rolando na cama por um tempão. De repente, o Bruno começou a morder todo o meu corpo e com isso, ele conseguiu deixar a minha pele roxa em alguns lugares.
- Delícia – eu gemi e meu pênis subiu no ar.
- Você é muito gostoso, sabia?
- Cala a boca e me beija, porra!

Ele me beijou com um sorriso lindo nos lábios. Eu mordi seu lábio, ele mordeu o meu e nós ficamos só na provocação por mais um tempinho, até não conseguirmos mais segurar a nossa vontade e necessidade física.
- Isso... – eu gemi quando ele me penetrou. – Vem devagar, amor...
- Assim? Bem devagar?
- É!
Foi uma sensação incomum a que eu senti naquela noite. Acho que a briga que nós tivemos antes daquele momento intensificou o que eu sentia pelo Bruno e por isso, a nossa transa superou qualquer expectativa que eu pudesse ter naquele momento.
- Isso, safado – ele beijou o meu rosto. – Geme bem gostoso pra mim, vai?
Eu puxei ar pela boca e soltei um urro de prazer no ouvido do meu namorado. Percebi que ele ficou todo arrepiado e ainda mais excitado.
- Delícia de corpo – ele falou. – Você é perfeito demais pra mim, Caio!
- Não fala nada e continua, porra...
- Eu te amo tanto, garoto!
- Eu é que te amo, Bruno... Eu é que te amo...
- Rebola pra mim, vai?
- Assim, amor?
- Isso, safadão! Assim mesmo, meu gostoso, meu delicioso, meu tesudo...
Acho que desde a nossa volta, essa foi a nossa primeira transa em que falamos mais do que devíamos. Ele não calou a boca em nenhum momento e eu desisti de pedir pra ele não falar nada e curti o momento.
- Eu te quero pra sempre, meu amor!
- Eu também, mas não fala nada...
- Eu te amo!
- Eu também te amo!
Tive que calá-lo com um beijo na boca. Foi um beijo lento, no mesmo ritmo do sexo e só acabou quando ele anunciou que ia gozar.
- Na minha cara! – eu pedi, olhando dentro daqueles olhos azuis.
- Ah, é? – Bruno levantou e jogou a camisinha longe. – Então vem aqui, seu puto!
Tomei um banho com o esperma do Bruno. O cheiro de sexo estava forte dentro daquele quarto de motel e no mesmo momento em que ele gritou de tanto prazer, eu ouvi uma mulher fazer o mesmo em um dos quartos próximos ao nosso. Eu fiquei com vergonha.
- Filho da puta – ele não aguentou e ajoelhou na minha frente. – Vem aqui, cachorro!

Nos beijamos. Eu estava mais sujo do que eu poderia imaginar, mas não me importei. O que importava pra mim naquele momento era saciar a nossa vontade, saciar o nosso desejo.
- Vem me dar prazer também, vem?
- É? Quer receber leitinho também? – perguntei.
- Quero! Muito leitinho...
- Então se prepara, que agora eu vou judiar de você!
- Vem! Eu quero você agora, Caio Monteiro!
Eu não fui tão cauteloso como o Bruno foi. Ao contrário do meu namorado, eu fiz as coisas com mais agilidade e com mais ousadia também.
- Geme! – eu bati com força nas nádegas dele.
- AAAAH...
- Isso... Delícia...
- Mete!
Era isso que eu queria ouvir. Eu forcei meu pau no Bruno com tanta força que o membro até doeu. Como ele estava de quatro, eu literalmente subi em cima de seu corpo e fiquei penetrando como um cachorro faz quando está no cio.
- Ai, delícia – ele falou.
- Geme alto!
Ele começou a gritar de prazer e eu não fiquei atrás. Nossos gemidos deveriam estar sendo ouvidos por todos os lados, mas eu nem me importei mais. Que se lascassem quem quer que estivesse ouvindo a nossa transa.
- Rebola pra mim!
Ele obedecia direitinho e isso me motivava a ser mais mandão ainda. Eu bati de novo na bunda do meu Bruno e depois caí deitado e pedi para ele subir em cima do meu corpo.
- Olha pra mim! – mandei.
- Eu adoro ver essa sua cara de safado, sabia?
- E eu adoro ver você sentindo prazer. Vai, cavalga!
- Ui...
Ao mesmo tempo que eu via o rosto de prazer do meu Bruninho, eu via também tudo o que estava acontecendo pelo espelho do teto. Isso aumentava e muito o meu tesão.
- Senta!
- Acho que eu vou... Gozar de novo...
- Então goza, meu namorado perfeito! – eu puxei o tronco do Bruno e ele grudou a testa na minha,
Ele gozou mesmo. Meu namorado me deu mais um banho de esperma, mas este foi menos potente que o primeiro. Mesmo assim eu fiquei todo melecado.
- Agora é a minha vez – eu empurrei o corpo do gatinho pra cama, ajoelhei, joguei a camisinha longe e pedi pra ele chupar.
- Vai me dar leitinho na boca, amor?
- Vou! – mordi meu lábio. – E é pra engolir tudinho.
- Então vem aqui, safado!
Ele engoliu mesmo. Bruno não deixou escapar uma gota do meu sêmen. Depois do prazer, ele ainda ficou me chupando até o meu pau amolecer.
- Delícia de pau – ele falou.
- Ai, Bruno... – caí, acabado na cama. – Você acaba comigo!
- Você que me destrói, safadão!
Ter um namorado escorpiano não é fácil. O signo de escorpião é praticamente movido a sexo quando o assunto é relacionamento. Por isso a gente sempre tinha muito fogo na cama. A culpa era do Bruno, não minha.
- Vamos tomar um banho, neném?
- Só se for agora – eu dei um pulo e saí da cama.
Nos lavamos por mais ou menos 5 minutos. Pela primeira vez na vida eu conheci os sabonetes e xampus de motel. Já havia ouvido falar naqueles utensílios, mas nunca tinha tido o prazer de utilizá-los. Acabou quase tudo naquele banho mesmo.
- Hum... – ele me cheirou. – Ficou todo cheirosinho de sabonete.
- Palhaço.
Bruno e eu demos um jeito na cama e em seguida nos deitamos. Eu fiquei deitado sobre o peito do meu namorado e fiquei ouvindo os seus batimentos cardíacos. Isso me deixou com sono.

- Amor?
- Hum? – eu murmurei.
- Me perdoa por ter brigado com você?
Eu me apoiei no cotovelo e fitei aqueles olhos azuis.
- Claro que eu te perdoo. Eu te entendo. Eu fui um idiota! Me desculpa?
- Sempre.
Nos beijamos.
- Eu prometo que eu não vou mais procurar encrenca.
- E eu prometo que não vou mais perder a paciência com você. Essa foi a primeira e única vez. Eu prometo!
- Eu prometo que nunca mais vou dizer que você tem sangue de barata – agarrei meu namorado e fechei meus olhos. – Desculpa!
- Já passou.
É, já tinha passado, mas mesmo assim a nossa discussão ainda estava fresca na minha mente. Eu estava muito arrependido por tudo o que eu tinha falado pro Bruno.

NA SEGUNDA-FEIRA...

Eu estava na expectativa pra saber como seria o reinado da rainha Janaína. Quando cheguei na loja, me troquei rapidamente e em seguida fui logo ao encontro da dita cuja:
- Eu estou quase cagada de tanto medo!!!
- Não fique assim – tive que rir. – Vai dar tudo certo, chefa!
- Não quero que me chame assim! É tão estranho!
- Mas você é minha chefa, oras bolas. O Jonas nem veio te dar um apoio moral?
- Não! Eu vou ficar sozinha até ele chegar. Ordens do Antony. Sozinha mesmo. Nem o Tácio vem me supervisionar.
- Estranho!
- Muito. Enfim, ordens são ordens.
- Alguma tarefa pra mim, minha gerente mais linda do mundo?
- Sim! ME AJUDA?!
- Eu mesmo não! Se vira aí no seu cafofo. A mesa é toda sua, os ramais também e os pepinos também.
- Obrigada, Caio Monteiro. Eu vou anotar essa no meu caderno rosa-choque e depois você me paga!
- Pode anotar, eu pago tudinho, tudinho no fim do ano!
- Palhaço! Que Deus me ajude nessa hora difícil...
- Ele vai te ajudar, Ele já está te ajudando!
- Vou fazer uma reunião com vocês antes do início do expediente. Espero que todos me respeitem.
A reunião foi rápida. A Janaína foi bem objetiva e ela disse que não estava ali pra brincadeira. Minha amiga impôs ordem na loja em dois tempos, porque alguns de meus colegas de trabalho não a estavam respeitando.

- E se esse burburinho continuar, vocês serão sancionados por insubordinação e indisciplina. À partir de agora eu sou a superiora de todos vocês e eu exijo que vocês me respeitem como tal. Não quero ouvir brincadeirinhas, não quero ouvir murmúrios, não quero ouvir blá, blá, blá nenhum! Eu vou contar com o apoio e compreensão de todos vocês. Obrigada, pessoal! Um bom dia para todos nós!!!
Eu fiquei ORGULHOSO do discurso da minha amiga. Ela arrasou, pisoteou na face de todo mundo e colocou ordem no barraco.
- É isso aí, amiga!!!
- Ah, palhaçada! Se eu ver alguém falando mal de mim o bicho vai pegar nessa loja. Eu sou ruim, Caio!
- E eu não sei? Eu tenho é medo dessa cara de má que você tem.
- Quando eu sou boa, eu sou boa, mas quando eu sou ruim... Eu sou melhor ainda!!!

Depois de algumas semanas na expectativa para a tal excursão ao parque aquático que a Janaína estava organizando, finalmente o dia havia chegado.
- Está levando tudo? – Bruno indagou.
- Sim, estou. Já podemos ir.
O ponto de encontro era no centro da cidade e nós tivemos que ir pra lá de ônibus, uma vez que não havia onde meu namorado deixar o carro. Confesso que eu estava ansioso.
- E aí, piolhento? – Rodrigo apertou a minha mão.
- Como vai, sarnento?
- Ótimo! E aí, cunhadão? Tudo bom?
- Sim senhor e o senhor? – Bruno abraçou o Rodrigo. Fiquei surpreso e feliz.
- Bem também, obrigado.
- Vai sentar onde? – perguntei.
- Lá no fundão com o Fabrício. Até logo.
- Até!
Janaína fretou um ônibus executivo para nos levar até o tal parque aquático. Parecia até uma excursão de escola.
- E esse cabelo liso? – questionei. – Vai sair toda a sua escova quando você entrar na água.
- E quem disse que eu vou entrar na água, Caio? – Jana me lançou aquele olhar mortal dela.
- E não vai? Então para que você está indo nessa excursão?
- Eu vou entrar, anta. Só não vou molhar o meu lindo cabelinho.
- Pois essa eu quero ver. Duvido que você consiga.

Não foi uma viagem muito longa. Nós chegamos no local ainda pela manhã. Por sorte, ou casualidade, aquele dia estava estupidamente quente e ensolarado. Seria a ocasião perfeita para passar o dia todo brincando na água com meus amigos e meu namorado.
- Ainda bem que eu já vim de sunga – falou Bruno.
- Ainda bem mesmo – concordei. – Não ia deixar você se trocar nesse vestiário não.
O vestiário era amplo e bem arejado, mas sem espaço para privacidade. A maioria dos caras estava se trocando uns na frente dos outros e isso me deixou bem irritado. E se o Bruno ficasse olhando para alguém?
- Estou pronto – Rods apareceu com uma sunga amarela.
- Já não era sem tempo. E o Fabrício?
- Aqui – o cara apareceu. Ele estava andando com certa dificuldade.
- Que houve?
- Esse negócio fica apertando meus “manes”. Odeio usar essas coisas.
Bruno gargalhou. Ele já estava acostumado com a ideia do Fabrício ficar pelado com frequência na minha frente.
- Anda, vamos logo – puxei o gatinho pelo pulso. – Quero conhecer esse parque.
Era enorme e extremamente lindo. Por onde quer que eu olhasse, só tinha natureza. Eu curti muito o local.

- Eu vou subir nesse tobogam – falei.
- Vai? – Bruno me olhou. – Duvido você ter coragem. É muito alto pra você.
- Ah, é? Está duvidando de mim, SILVA?
- É DUARTE, MONTEIRO!
- Pois agora você vai ver o que é bom pra tosse.
Comecei a subir as escadas e não demorei nadinha para chegar ao topo. Era de fato um pouco alto demais.
- Vai! Desce! – Bruno me provocou.
- Eu vou descer – falei a verdade –, mas antes quero ver se você tem coragem!
- Ah, fala sério. Dá licença.
Meu namorado simplesmente sentou e começou a escorregar. Eu fiquei olhando e me diverti com o grito de excitação que ele soltou.
- Tá com medinho, tá? – Rodrigo falou no meu ouvido.
- Claro que não, idiota.
- Então porque você não desce logo?
- É exatamente isso que eu vou fazer.
Sentei e antes mesmo de me preparar para o tombo que eu levaria na água, Rodrigo me empurrou com força e o meu corpo saiu deslizando até chegar debaixo d’água. Foi divertido, mas eu fiquei com raiva do meu irmão.
- Viu só? – falei com o Bruno. – Eu disse que desceria.
- Ah, bom! Pensei que você ia arregar.
- Até parece!
- Agora eu duvido que você pule do negócio de 7 metros.
- Ah, você duvida? Eu aposto que VOCÊ não pula dele!
- Você não me conhece mesmo, né SILVA?
- É MONTEIRO, SILVA!
- É DUARTE, TÁ LEGAL? Vai pular ou tá com medo?
- Vou pular! Agora é questão de honra.
Porém a minha honra foi ferida quando eu cheguei nos 7 metros. Eu andei pela prancha, olhei pra baixo e percebi que o negócio era alto demais.
- Tá com medo, tá com medo, tá com medo – Bruno começou a cantar.
- To não, só estou analisando as pessoas lá embaixo.
- Aham, sei! Vai pular ou vai arregar? Olha que tá valendo a aposta, hein?
- Eu vou pular sim, seu trouxa – provoquei o Bruno e voltei a andar na prancha de 7 metros de altitude, mas em seguida travei novamente.
- Medroso! Sabia que você não ia aguentar.
- Agora é questão de honra.
Fui até a beira do negócio e olhei pra baixo de novo. Um frio enorme tomou conta da minha barriga e eu me preparei para pular, mas antes disso, o Bruno simplesmente me empurrou para o abismo.
- AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAH...
Eu nunca tinha sentido nada tão gostoso em toda a minha vida. Foi uma das melhores sensações que eu tive na vida despencar de 7 metros de altura.
Eu caí na água de bunda e senti um pouco de dor, mas a diversão, a adrenalina e a excitação fizeram com que a dor ficasse em segundo plano. Foi de fato muito gostoso.
- Vai me bater? – ele perguntou quando chegou no chão.
- Que nada, eu vou é de novo!
Conforme as horas foram passando, o sol foi ficando mais forte. Por volta das 13 horas, eu já não estava mais aguentando ficar debaixo do rei do universo.
- Que calor da porra – falei.
- Entra na água, oras – Fabrício resmungou.
- Acabei de sair de lá!
- Volta, ué.
Nesse momento, a Janaína apareceu na nossa frente. Ela estava toda trabalhada na pomposidade.
- Jana?
- Que é, desgraça da minha vida?
- Seu biquíni não está combinando muito não, né?
- Cale-se! Eu não achei a combinação lá em casa.
Minha irmã postiça estava usando um biquíni desregular nas estampas. Na parte de cima, era branco com bolinhas pretas e na parte de baixo, branco com listras pretas na horizontal. Pra finalizar o look da morena, ela usava uma espécie de boina com abas onduladas, como se fosse pétalas de flores. O chapéu era rosa.
- Tá parecendo uma louca – provoquei.
- Eu só não te bato agora porque tem muita gente olhando e eu posso ser presa pela sociedade protetora dos animais, mas espera mais tarde!
- Pra onde você vai? – questionei.
- Pro meu colchão de ar, torrar a minha linda pele morena. Até logo, branquelos.
O colchão a que ela se referia ficava na beira da piscina. Janaína passou a maior parte do tempo deitada nesse lugar. Ela só queria se bronzear.
- Eita calor da porra – reclamei de novo.
- Para de reclamar, seu chato – Rodrigo me bateu.
- Chato é você, lesma branca.
- Olha quem fala.
Eu me distraí. Fiquei olhando as pessoas se divertindo na água e quando menos esperei, Rodrigo segurou nos meus dois tornozelos e Bruno nos meus dois pulsos.
- Ei, que diabo é isso?
Eles começaram a me carregar e eu fiquei todo amedrontado. O que eles iriam fazer comigo?
- ME SOLTA, RODRIGO! ME SOLTA, BRUNO!
- Não está sentindo calor, amor? – Bruno riu. – A gente vai aliviar o seu calor.
- ME SOLTEM!
Rodrigo e Bruno começaram a me balançar no ar e eu fiquei tentando me soltar de todas as formas, mas não consegui.
- SOCORRO!
- No 3 – falou Rodrigo. – 1... 2... TRÊS!
Os meninos simplesmente me jogaram para dentro da piscina, mas fizeram isso com tanta força que eu literalmente voei pelos ares. Confesso que foi divertido.
Foi tudo muito rápido, mas mesmo assim eu consegui ver a cara de pavor que a Janaína estava fazendo. Ela olhou para um lado, olhou para o outro e tentou se proteger de todas as formas, mas foi inevitável. Eu caí deitado em cima do colchão dela.
- SOCOOOOOOOOOOOOOOOOOOOORRO – ouvi o grito da morena.
Conforme o meu corpo bateu no colchão de ar, o dela saiu voando e em seguida caiu dentro d’água. Eu não pude controlar a gargalhada quando ela submergiu, com aquela cara endemoniada que só ela sabia fazer.
- Meu cabelo... – ela choramingou. – Meu lindo cabelinho que eu escovei hoje cedo...
A gargalhada que o Rodrigo soltou foi escandalosa. Ele estava rindo tanto que estava até vermelho.
- BANDO DE “FÉLA DA PUTA” – Janaína esbravejou. – EU VOU MATAR UM POR UM!!!
Com dificuldade, a negra nadou até a beira da piscina e quando saiu da mesma, foi logo tratando de acabar com a raça do meu irmão e do meu namorado.
- SEUS INFELIZES, SEUS RETARDADOS, SEUS MALDITOS! OLHA O QUE FIZERAM COM MEU LINDO CABELINHO! AGORA FICOU PIOR DO QUE “BOMBRIL” E A CULPA É DE VOCÊS!!!
Rodrigo, por estar inerte por causa da gargalhada, acabou apanhando primeiro. Janaína deu uma porrada no pobre do Digow e em seguida jogou o menino com tudo dentro da piscina.
- MORRA AFOGADO, CONDENADO! AGORA É VOCÊ, OLHOS DE BOLA DE GUDE!
Eu só fazia rir. A minha barriga já estava até doendo e as pessoas ao meu redor só ficavam nos olhando. Acho que o pessoal pensou que a Janaína era louca.
- Calma, calma... – Bruno recuou rindo.
- CALMA É O CARALHO! OLHOS DE GIZ DE CERA AZUL. VOCÊ ME PAAAAAAAAAAGA!!!
Pobre Bruno. Janaína simplesmente imobilizou o coitadinho do meu anjo e sem nenhuma dificuldade, jogou o menino com tudo para dentro d’água. Ele saiu rindo e nem se importou.
- O que eu vou fazer agora com essa bucha? – Janaína estava quase chorando. – Ai que ódio... O meu lindo cabelinho... Meu lindo cabelinho foi pro beleléu...
Fabrício, Rodrigo, Bruno e eu ficamos o resto do dia zoando a Janaína. Ela ficou de fato muitíssimo brava com o que os caras fizeram, mas no fim das contas levou tudo na brincadeira. Foi um dia muito divertido que garantiu altas gargalhadas. Valeu a pena!

EM JUNHO DE 2.010...

O tempo estava voando e nós já estávamos no meio do ano.
Meu namoro com o Bruno estava muito bem, obrigado. Depois daquela briga em abril, nós nunca mais nos desentendemos e as coisas estavam perfeitamente normais entre nós dois.
- Eu te amo, Bruno...
- Eu te amo, Caio!!!
Com a Janaína, as coisas também estavam indo de vento em poupa. Já fazia dois meses que ela tinha passado no processo seletivo e muita coisa já havia sido mudada na loja através da gestão da minha melhor amiga.
- Caio, me faz um favor?
- Pode falar, Jana!
- Eu vou pedir pra você ligar no depósito e confirmar o remanejamento dessas mercadorias de linha branca pra mim, por favor.
- Ah, beleza!
- Quando acabar vai na minha mesa que eu tenho que te aplicar um feedback.
- Oi? – eu sorri. – Você vai aplicar o meu primeiro feedback? É isso mesmo, chefinha?
- Isso mesmo. Não demora, eu preciso disso pra ontem!
- Pode deixar, Janaína. Eu não vou demorar!
Era assim. Ela era autoritária, mas foi com isso que ninguém montou em cima dela. A Janaína estava fazendo um excelente trabalho na equipe manhã e o Tácio estava orgulhoso do trabalho que ela vinha executando.
- Pronto. Todos confirmadíssimos pra hoje.
- Obrigada, querido. Senta aí que eu tenho que te posicionar sobre alguns quesitos.
- Ai, ai, ai...
- Nada demais, só coisas boas.
Eu sentei e fiquei esperando ela falar alguma coisa, mas a Janaína só mexia no computador e não falava nada.
- E aí?
- Calma aí, inferno. Eu to procurando o seu rendimento de Maio. Que porra apressada!
- Olha a boca!
- Ah, é mesmo. Desculpa aí, amigo. Esqueci que eu to no meu local de trabalho. Cadê esse cabrunco dessa planilha “véia”? ACHEI!
A postura da Jana era outra, mas ela continuava louca como sempre. Pelo menos nisso ela não tinha mudado em nada, absolutamente nada.
- Aqui, meu filho... Eu só queria te parabenizar pelo resultado de Maio, tá? Eu fiz um comparativo com relação aos meses anteriores e você teve um aumento no percentual de vendas de 0,79%. Estou orgulhosa de você, querido!
- Obrigado, Jana...
- Continua assim nessa pegada que a tendência é só melhorar. Vamos ver como anda a sua meta de vendas pra Junho...
- Acho que bem, hein?
- Você acha? Tem que ter certeza. Não se esqueça que a comissão da negra aqui depende do seu rendimento, hein? Eu não quero ficar pobre, Caio lindo meu amor!
- Olha aí, meu... Eu to dentro da meta!
- Mas pode melhorar sempre mais. Vamos ver em Maio como você estava nessa época do mês... Hum... A mesma coisa. Me lasquei! Nem tem como eu cobrar nada agora. Puta merda...
- Bem feito! – caí na risada.
- Mas deixa estar. Eu vou fazer um acompanhamento mega efetivo em cima de você, viu mocinho?
- Pode acompanhar, chefa. Eu não tenho medo!
- Assim que eu gosto. Ei, você vai na academia hoje comigo, né?
- Claro que vou. Alguma vez eu já desmarquei?
- Não!
- Então pronto. A gente se encontra na saída.
- Está chovendo? É isso mesmo, produção?
- É sim, Janaína Santos – eu respondi a pergunta da minha melhor amiga.
- Ai, espera! Você sabe que quando chove eu tenho que fazer todo um processo para não molhar o meu cabelo, né?
- Lá vai ela começar a colocar capuz na cabeça...
Não foi só o capuz. Mais uma vez ela colocou uma touca de banho, o capuz e ainda por cima abriu o guarda-chuva cor-de-rosa berrante que ela tinha. Eu achava isso um exagero.
- Me ajuda a passar essa poça, onde está o seu cavalheirismo, menino?
- Minha filha, é só você pular essa merda!
Ela ficou reclamando consigo mesma e nós continuamos andando pelas ruas da Barra da Tijuca. A noite estava muito chuvosa.
- Finalmente nós chegamos – ela suspirou e começou a se livrar das coisas que estavam em seu cabelo. – Continuo linda e morena?
- Continua, mas seu cabelo ficou meio molhado!
- MENTIROSO! NÃO FALA ISSO NEM DE BRINCADEIRA!
- Calma, criança... Eu só estou brincando!
- Quer me matar do coração? Meu gatinho não pode me ver com o cabelo ruim!
O “gatinho” a que ela se referia era o Wellington. O meu personal e a minha amiga já estavam tendo um trelelê há um tempinho. E ela estava bem contente por causa disso.
- Só você mesmo. Vou me trocar. Não demora.
- Pode deixar.
Quando entrei no vestiário, encontrei o Wellington peladão na frente dos armários. Será que ele estava indo embora?
- Indo embora já, professor?
- Aham. Hoje eu entrei mais cedo.
- Ah, sim. Que chato!
- Eu sei que você me ama, mas amanhã eu to no meu horário normal.
O Wellington era lindo de rosto e perfeito de corpo. O cara não tinha nada fora do lugar e isso dava até raiva. A parte mais deliciosa do corpo dele, com certeza era a bunda. Redonda e dura. Uma delícia...
- Até amanhã, parça – falei. – Se cuida.
- Você também. Manda um beijo pra Jana, tá?
- Pode deixar!

- Cadê meu gatinho que não to vendo por aqui?
- Ele já vai sair, porque ele entrou mais cedo hoje. Te mandou um beijo.
- E ele nem me fala nada? Eu não tenho moral mesmo nesse lugar, viu?
- Ele estava peladinho, sabia?
- OI? MENTIRAAAAAAAAAAAA??? DIZ QUE VOCÊ TIROU UMA FOTO?
- Tirei uma não, tirei dez! Até parece, né Janaína?
- Nem pra isso você serve, idiota! Me conta, criatura? Como é, como é?
- Gostoso! Delícia de corpo ele tem...
- Ai que deu até calor agora... Eu to doida pra ver ele peladinho na minha frente... Meu sonho!
- Vale a pena. Vai fundo, eu te dou todo apoio do mundo!
Treinamos juntos e saímos juntos da academia. Quando colocamos os pés na rua, percebemos que a chuva ainda não tinha passado.

- Ei, o que vai comprar pro Bruno no dia dos namorados?
- Acho que um celular novo. E você, o que vai comprar pro Well?
- Ainda não decidi, mas acho que chocolate.
- Clichê.
- Você poderia sondar com ele o que ele quer ganhar, né?
- Posso tentar. Eu tento e te aviso.
- Beleza, amigo. Obrigada!
- Pelo jeito hoje não vai parar de chover, né?
- Chovendo desde ontem, duvido que pare hoje. Deixa assim que está bom. O problema é só com o meu cabelo, mas tudo bem.
- Você e esse cabelo! CUIDADO, JANA!
A mulher estava tirando o excesso de água de sua sombrinha e, devido o objeto ser grande demais e devido também ela não estar olhando para onde apontava a ponta daquele guarda-chuva, minha amiga acabou enfiando o ferro que ficava em cima da sombrinha nas nádegas de um senhor de idade. Eu quase tive um infarto de vontade de dar risada.
- Misericórdia, que diabo é isso? – o velho quase caiu na rua devido a desatenção da minha amiga.
- SENHOR, ME DESCULPA, POR FAVOR...
Eu não aguentei e caí na gargalhada. A Jana estava muito, muito, muito vermelha e o velho estava todo irritado com ela. Foi uma cena impagável, épica e memorável. Só a Janaína pra fazer uma coisa dessas no meio da rua!
- Me perdoa mesmo, me perdoa... E você cala a boca!
- Desculpa, amiga... Não consigo!
- Graças a Deus, meu ônibus!!!
A louca estava tão desesperada pra sair de perto daquele senhor que esticou o braço feito uma desesperada para pedir parada pro coletivo e foi assim que ela derrubou o óculos do mesmo velhinho no chão.
- Ai, JESUS ME ACODE...
- Mas será o Benedito? – o velho abaixou pra pegar o óculos.
- Tchau, amigo, tchau!!!
Eu quase caí no chão de tanto que eu estava rindo. De todas as cenas que eu tinha vivido junto da Jana, aquela até então tinha sido a melhor. Eu estava pra conhecer uma pessoa tão estabanada como ela!!!
- Quebrou o óculos, senhor? – eu sequei uma lágrima.
- Não. Ainda bem. Que mulher desastrada!
- Desculpa, tá? Ela é desastrada mesmo. O senhor quer ajuda com alguma coisa?
- Não, meu filho. Obrigado.
Continuei rindo comigo mesmo. Eu não era o único que ria no ponto de ônibus. Naquele momento, a Jana provavelmente estava roxa de tanta vergonha no meio do ônibus. Essa era a Janaína Santos!!!

- Que bom que você chegou – Rodrigo estava muito preocupado.
- Que foi, Digow? Aconteceu alguma coisa?
- Infelizmente sim, Caio. Eu não tenho uma notícia boa para te dar.
Senti as minhas pernas bambearem. O que será que tinha acontecido?
- Fala! O que aconteceu.
- O bebê do Fabrício nasceu, Caio!
Estranhei. Que história era aquela? O Nícolas ia nascer só em agosto, mais ou menos na época do meu aniversário.
- Espera aí, ele não ia nascer em agosto?
- Ia... Mas houve um acidente...
- Acidente? Que acidente?
- Caio, a mãe do Nícolas e a mãe dela foram... Vítimas de bala perdida na favela e...
Eu senti todo o meu corpo ficar mais leve que uma pluma.
- E elas infelizmente não resistiram aos ferimentos. Elas foram assassinadas.

Nenhum comentário: