segunda-feira, 30 de março de 2015

Capítulo 66²


N
ão deu pra saber quem chorou mais: a Bruna, o Vinícius ou as mães dos noivos.
Pra finalizar, Vinícius estava ajoelhado na frente da amada com as alianças em sua mão direita. Se ele queria nos matar, ele quase conseguiu.
Em um primeiro momento, a namorada do Dr. Vinícius ficou extasiada, parada e parecia nem estar respirando. Depois, ela soluçou e com a voz muito trêmula, respondeu:
- É claro que eu quero!!!
Eles foram simplesmente ovacionados enquanto se beijavam. Eu bati palmas freneticamente e em segundos as palmas de minhas mãos já estavam ardendo.

- Por essa eu não esperava! – ouvi a voz do Rodrigo à minha esquerda.
- Pois eu esperava!
Eu estava pra lá de feliz. Aquele casal era um dos casais mais bonitos que eu conhecia, senão o mais bonito. Os dois mereciam ser muito felizes juntos e estava mais do que na hora daquela oficialização.
Depois do beijo, que durou um tempão, eles enfim trocaram as alianças. Com o rosto molhado, Vinícius pegou a mão direita da noiva, tirou a aliança prata e substituiu pela dourada. As luzes já estavam acesas nessa altura do campeonato.
Depois foi a vez da mulher fazer o mesmo processo com o meu amigo. Ela retirou a aliança prata, colocou a dourada e depois eles se beijaram novamente. Houve mais uma salva de palmas e a música voltou a tocar com força total.
- Que lindo! – meu namorado feioso exclamou.
- Para de olhar pra mim! – eu fiquei arrepiado por causa daqueles olhos brancos.
- Não paro não!
- Feioso! Só vou te beijar quando você estiver sem maquiagem e com os olhinhos azuis novamente.
- Ah, é?
- É! Amei a sua fantasia, mas você está muito feio. E eu não gosto de você feio.
- Não gosta mais de mim? – ele fez um bico enorme, enorme, enorme. Quase chorei.
- Claro que gosto, meu gostoso – tive que abraçar aquele feioso. – Mas não gosto dessa cara feia que você está não. Tenho medo!
- Daqui a pouco eu tiro, tá?
- E eu ainda não esqueci que você está sem nada por baixo dessa capa, viu mocinho!
- Não?
- Não!
- É pra amenizar o calor, sério.
- Uhum. E eu sou o Bozo!
A festa voltou a rolar normalmente depois do pedido de casamento que o Vinícius fez pra Bruna. Eu e meu namorado resolvemos dançar um pouco e só cumprimentamos os noivos quando a maioria dos convidados já havia feito o mesmo.
- Parabéns – eu abracei a Bruna com bastante força. – Te desejo toda a felicidade do mundo!
- Obrigada, Caio! Obrigada mesmo.
- Cuida bem desse doutor, viu?
- Pode deixar que eu vou cuidar sim.
- E você? – eu abracei o Vinícius. – Que clichê pedir a namorada em casamento no dia do aniversário dela, né?
- Pouco me importa se é clichê ou não! O importante é que deu tudo certo.
- Ei, deixa eu ser indiscreto? Você pagou essa festa sozinho?
- Não, não! Os pais e irmãos dela me ajudaram. Por quê?
- Porque seria injusto. Deve ter ficado muito caro!
- Isso não importa, Caio. O importante é ver a felicidade da minha namorada.
- Que fofo! Parabéns, viu? Deus te abençoe nessa nova fase de sua vida. Seja muito feliz.
- Muito obrigado, parceiro.
- Quando vai ser o casamento?
- Nós vamos sentar e conversar, mas eu quero que seja em 2 anos.
- Mas Vini, em 2.012 o mundo vai acabar!

- Aham! E eu sou o presidente dos EUA.
- Palhaço – me afastei e passei a mão no ombro do Bruno. – Parabéns novamente.
- Obrigado!
- Curandeiro?
- Curandeiro é a... – Vinícius deu uma porrada no Rodrigo.
- Vou te inscrever no “Ídolos” pra você gravar um CD, cara. Vai ficar rico!
- Ah, cala a boca!!! – o médico riu.
A festa era realmente bem chique. Até jogo de luzes tinha, igual na minha formatura. Fora isso, havia muita comida, muita bebida e a decoração estava simplesmente impecável. Aquela festa não deveria ter sido barata. De jeito nenhum.

- Vamos embora? – eu perguntei.
- Estava doido pra ouvir isso – ele já foi logo levantando da cadeira.
Nos despedimos de todos e saímos. A madrugada estava friorenta e deliciosamente agradável.
- Não está fazendo calor, olha só – eu falei.
- E?
- E eu quero saber o motivo pelo qual o senhor está pelado!
- Quer saber mesmo? – Bruno virou em uma rua.
- Quero!
- Então você já vai saber, Caio.
Estranhei ele entrar em uma rua que eu não conhecia. O que será que ele queria naquele lugar? Estranhei mais ainda quando meu namorado estacionou o carro e desligou o motor. O que estava acontecendo?
- Por que paramos?
- Pra isso – Bruno abriu a capa e já excitado, começou a me beijar.

Eu abri um sorriso, mordi o lábio do meu namorado e coloquei a mão no meio de suas pernas. Então era aquele o motivo? Por que eu não pensei nisso antes?
- Safado!
- Vai! Cai de boca! – ele forçou a minha cabeça pra baixo.
Eu fiz o que ele pediu. Meu namorado estava com a pele cheirosa de sabonete e isso me fez crer que ele não suou em nenhum momento. Isso porquê ele disse que estava passando calor. Imagina se não estivesse!
- Hum... – ouvi um gemido e isso me fez intensificar o meu sexo oral ainda mais.
- Abre as pernas! – mandei.
Ele obedeceu e eu passei a língua no saco do meu namorado, que ficou enrugado no mesmo momento. Eu amava quando isso acontecia!
Chupei até ele gozar e quando isso aconteceu, eu prendi a cabeça do pau do Bruno suavemente nos meus dentes, só pra ele pirar ainda mais.
- AAAAAAAI... DELÍCIA DO CARALHO!!!
Pronto. Se ele queria sentir prazer ele já tinha conseguido. Eu adorei ele não estar usando nada por debaixo daquela roupa esquisita. Pelo menos para alguma coisa aquela fantasia serviu.
- Vamos pra casa! – falei.
- E você?
- Lá a gente continua! Safadinho!
- Vai dizer que você não gostou?
- Não! Eu amei!!!
O domingo passou voando. Quando eu menos esperei, já era hora de voltar pra minha casa.
- Pode deixar que eu vou de ônibus mesmo – falei.
- De jeito nenhum! Eu faço questão de te levar.
- Mas...
- Eu te levo e ponto final!
- Você tem que estudar!
- Eu preciso descansar um pouco, amor. Já estou ficando com dor de cabeça.
- Deixa eu ir de ônibus, amor...
- Não! De jeito nenhum. Eu te levo e não se fala mais nisso.
- Eu te amo, tá?
- Eu também te amo, minha vida!
Bruno me levou até em casa e na hora de nos despedirmos, ele me abraçou e ficou fungando no meu cangote por um tempão.
- Está me deixando com vontade... – eu me arrepiei todinho.
- Hum, delícia!
- Você precisa estudar, lembra?
- Uhum!
- Já falei que eu te amo hoje?
- Não!
- Não?
- Não!
- Mentiroso!
- Fala de novo, vai?
- Eu te amo – falei bem baixinho no ouvido direito do meu amor.

- Eu te amo mais...
- Não ama não!
- Amo sim!
Mordi a orelha dele e tentei me afastar, mas ele não deixou.
- Eu preciso ir!
- Deixa eu senti mais um pouco o seu cheiro, vai?
Eu deixei e fiz o mesmo. Sentir o perfume do Bruno sempre me deixava tranquilo. Eu adorava ficar cheirando o pescoço e todo o resto do corpo do meu gostoso.
- Delicioso.
- Você que é – falei.
- Eu preciso ir, infelizmente.
- Eu sei! Vai lá, amor. Se cuida e estuda bastante, tá?
- Pode deixar. Obrigado por tudo nesse final de semana.
- Eu que te agradeço. Você estava horrível ontem, mas tudo bem.
- Valeu aí pela parte que me toca.
- Disponha!
Um beijo aconteceu e depois eu abri a porta do carro.
- Ah... Não esquece que no sábado que vem é o show do Víctor e Léo – lembrei.
- Pode deixar que eu não vou esquecer. Boa noite, Caio.
- Boa noite, Bruno. Fica com Deus.
- Amém, você também.
- Eu te amo – a gente falou ao mesmo tempo e em seguida eu saí.

Mais um final de semana perfeito tinha passado. Nós estávamos adentrando em uma nova semana e aquela seria a semana que o processo seletivo para o substituto da Eduarda iria acontecer. A minha entrevista seria realizada no dia seguinte pela manhã.
- Está ansioso? – perguntou Rodrigo.
- Não. Nem um pouco.
- Assim que é bom! Eu tenho certeza que vai dar tudo certo.
- Seja o que Deus quiser!!!
O noivo da república não estava presente em casa. Com certeza ele estava aproveitando a novidade ao máximo e não iria voltar pro convívio do nosso lar tão cedo. Pelo menos era isso que eu imaginava.
Mas eu caí do cavalo, porque ainda naquela noite ele apareceu, com uma face tranquila e serena. O Vinícius parecia estar bem feliz.
- Essa aliança dourada está ofuscando a minha visão – brincou o futuro papai da república. – Quer virar essa mão pra lá?
- Não mesmo. Problema é seu se está ofuscante. Eu nem ligo!
A aliança de compromisso do Vinícius era linda! Era larga, lisa e muito brilhante. Só eu e ele estávamos usando aliança naquela época na república.
- Eu não sei mais viver sem a minha aliança – comentei. – Sempre que eu tiro tenho a sensação que estou pelado.
- Comigo acontece a mesma coisa – ele comentou. – Já estou sentindo falta da outra. Ainda não acostumei com essa. Essa é mais leve.
- É porque é de ouro. Acho que ouro é mais leve que prata.
- É deve ser isso.
- Já marcaram a data? – perguntou Rodrigo.
- Calma!!! A gente acabou de noivar! Não tem data ainda. Já quer se livrar de mim?
- Um a menos no quarto seria muito bom – meu melhor amigo brincou.
- Se eu sair virá outro. O que você prefere?
- Nem brinca. Não quero que comece tudo de novo não. Pode ficar, parça. Eu deixo.
Acordar mais cedo do que o normal na manhã da segunda-feira foi mais difícil do que eu imaginava.
Já fazia meses que eu não levantava cedo como na época em que eu fazia faculdade e por causa disso, o meu organismo não estava mais acostumado com aquela rotina esquisita de acordar com as galinhas.
Depois do banho, eu escolhi um dos modelitos que usei na época em que cobri as férias do Jonas e depois comecei a me arrumar. Todos os meninos já estavam acordados e de pé.
- Coloca essa gravata aqui – Vinícius abriu o guarda-roupa, mexeu nas minhas coisas e pegou uma gravata preta listrada que eu havia comprado no ano anterior.
- Não gosto muito dessa.
- Mas ela é bonita. Vai ficar legal. Vai por mim.
- Se você está dizendo.
Resolvi atender a sugestão do médico e mesmo não curtindo muito aquele adereço, eu resolvi usá-lo.
- Boa sorte – os três disseram ao mesmo tempo.
- Obrigado, tios.

Peguei um ônibus lotado para ir ao trabalho naquela manhã e com isso, eu tive dificuldades para deixar a minha roupa social intacta. Seria melhor ter ido com ela na mochila e ter me trocado na loja. O incidente serviu como experiência de vida.
Cheguei no shopping e fui direto pra loja. Fui pro vestiário, guardei as minhas coisas, me arrumei e depois saí para ver como seria a realização daquele tal processo seletivo. A maioria dos meus colegas de trabalho já havia chegado, inclusive a Janaína.
- Eu já disse que amo te ver usando social?
- Não!
- Você fica tão lindo! Fica até com carinha de homem.
- Vaca!
- Olha o respeito, veado.
- E esse cabelo escorrido?

- Você viu? – Janaína tentou balançar o cabelo, mas ele não saiu do lugar. – Estou me sentindo uma japonesa.
- Está longe, hein amiga?
- Quer fazer o favor de me deixar ser feliz pelo menos uma vez na vida? – ela tentou balançar o cabelo de novo.
- Está tentando balançar o cabelo?
- Estou!
- Pois você não está conseguindo, é melhor não tentar mais.
Eu quase fui assassinado. A mulher foi pra cima de mim e quase me bateu. Ela deu um de seus shows e todo mundo ficou rindo da cara dela.
- Fala isso de novo que eu esfrego a sua cara na areia da praia de Ipanema. Cachorro!
- Eu só falei a verdade!
Uma moça entrou na loja. Ela estava acompanhada do Tácio e de um outro cara que até então eu não conhecia. A mulher pediu que nós entrássemos na sala de reunião e depois de alguns minutos começou a apresentação:
- Eu me chamo Érica e faço parte do Recrutamento & Seleção. Estarei com vocês até o final do processo seletivo. Vocês conhecem o Tácio e o Sr. Antony?
O Tácio sim, mas esse tal de Antony não. Quem seria ele?
- Bom dia – o homem começou a falar. – Para quem não me conhece, meu nome é Antony e eu sou o diretor das lojas do Estado do Rio de Janeiro.
Então ele era o famoso Antony? Eu já havia ouvido falar muito nele, mas até então não o conhecia. O cara tinha meia idade e usava cavanhaque. Até que não era de se jogar fora.
Após a apresentação do pessoal que iria ministrar a seleção, chegou a nossa vez de nos apresentar. Eu odiava fazer esse tipo de coisa.
- Bom dia – falei, ficando de pé. – Eu me chamo Caio, tenho 21 anos, moro no Realengo e sou formado em Gestão de Recursos Humanos.
Os três não tiraram os olhos de mim.
- Trabalho na empresa há 3 anos, faço parte da equipe de linha branca, já passei pelo setor de móveis, colchões e estofados e também tive a oportunidade de cobrir as férias do Jonas no final do ano passado. Acho que é isso.
- Perfeito. Obrigada! – Érica sorriu pra mim e fez algumas anotações em seguida.
- Por nada.
Eu não sei se tinha falado pouco ou muito, mas aparentemente falei o suficiente. Teve gente que falou mais do que a velha do leite. Eu tinha certeza que estes seriam descartados.

Naquele primeiro dia do processo seletivo, nós fizemos a apresentação pessoal, uma prova de português, uma prova de matemática, uma redação e uma prova de conhecimentos dos procedimentos. Esta foi a maior de todas, com 40 questões. E foi a única que eu tive certeza que acertei todas as perguntas.
- Pronto, Érica – eu entreguei as provas e a redação. – Acabei.
- Perfeito, Caio. Obrigada! A resposta sai amanhã.
- Tudo bem. Obrigado. Com licença.
- Toda.
Foi mais fácil do que eu imaginava. Pensei que haveria a realização de uma dinâmica em grupo ou qualquer coisa do tipo, mas me enganei redondamente.
- E aí, e aí? – Jonas foi falar comigo. – Me conta! Como foi?
- Acho que deu tudo certo. Só foi prova hoje. Eu acho que me saí bem.
- O resultado sai amanhã?
- Isso. São 3 fases.
- Na próxima é a dinâmica em grupo. E espero que você se saia muito bem.
- A Janaína já está trabalhando?
- Foi tomar café. Você pode ir também se quiser.
- Obrigado, Jonas. Eu vou me trocar primeiro e já vou. Se bem que já está quase no horário de almoço, mas tudo bem.
- Você pode ir mais tarde pro almoço, não tem problema. É só me sinalizar.
- Perfeito.
- Estou muito feliz que você tenha mudado de ideia, viu?
- Eu não mudei de ideia, eu mudei a minha postura. Por mim não participaria, mas já que todo mundo insiste tanto eu resolvi ceder.
- Você vai ver como esse processo vai ser importante pra sua carreira na sua área.
- E foi por isso também que eu resolvi participar. Enfim, seja o que Deus quiser. Eu estou bem tranquilo e com os meus pés no chão.
Independentemente do que acontecesse, eu tinha a certeza que tinha feito o meu melhor. Talvez eu não tivesse falado muito na apresentação pessoal, mas pra mim tinha sido suficiente. Se a vaga tivesse que ser minha, seria minha. Eu deixei tudo nas mãos de Deus.

- E aí, amor? Como foi o processo?
- Foi tranquilo, amor. Só fiz algumas provinhas bobas. Acho que deu tudo certo.
- Que bom! E quando sai o resultado?
- Amanhã.
- Me conta, hein?
- Claro que eu conto, pode ficar sossegado. E você está bem?
- Muito bem. Dormi bastante essa noite, estou renovado.
- E as provas?
- Hoje eu não tive nenhuma não.
- Ah, sim. Está tudo em ordem por aí?
- Uhum.
- Então tá bom. Eu vou desligar, tá? Já tenho que voltar pra loja, meu horário de almoço está acabando.
- Beleza, bebê. Fica com Deus.
- Amém! Você também. Eu te amo, tá?
- Eu também te amo. Beijo.
- Outro.
Voltei pra filial e retomei as minhas atividades normais. A Janaína ainda estava com cara de poucos amigos.
- Que foi, hein?
- Essas dores no meu corpo não passam! Parece que eu fui atropelada por um elefante.
- Que horror. Ei, ficou sabendo que a Duda vai vir aqui com a bebê?
- MENTIRA? Que horas?
- Mais tarde, lá pelas 17 horas eu acho. Mal posso esperar para ver a neném!
- Eu também!!! Deve ser a coisinha mais linda de todo o universo.
- Verdade.
A Daniela tinha nascido poucos dias depois do nascimento da filha da Alexia. As meninas tinham menos de uma semana de diferença de vida e isso me fez lembrar das filhas do Gabriel. Esse povo adorava fazer filho na mesma época!

E quando a Duda chegou com a menina nos braços, praticamente todos os funcionários ficaram ao redor delas para conhecer a pequena recém-nascida. O Jonas teve que ser enérgico com todos nós:
- Vão já para os seus postos!
- Posso só ver a neném? – perguntei.
- 1 minuto! – ele respondeu.
- Ô, meu Deus... – eu me derreti todinho. – Como ela é linda, Duda!

- Obrigada, Caio! Fiquei sabendo que você está no processo seletivo?
- Contra a minha vontade, mas estou. Hoje foi a primeira fase.
- Tenho certeza que dará tudo certo, amor. Boa sorte!
- Obrigado, Duda. Eu não quero ficar no seu lugar!
- Calma! Quando eu voltar as coisas se ajeitam, você vai ver. Dê o seu melhor sempre!
- Posso segurar um pouquinho?
- Claro!!!
Eu segurei a filha da minha superiora e fiquei encantado por aquele pequeno anjinho de Deus. A menina era linda e cabeluda. Uma verdadeira princesa.
- Oi, Dani! – eu falei baixinho. – Você é muito linda, viu?
- Se ela te responder eu saio correndo – Eduarda deu risada.
- Eu também!
- Seu tempo acabou – Jonas me cutucou.
- Pega a sua filha, chefa. Hoje o Jonas está impossível.
- Eu percebi. Vem com a mamãe, amor.
- Ela é muito, muito, muito, muito linda! Parabéns!
- Obrigada, Caio. Muito obrigada!!!

- Força, Janaína, força! – Wellington tentou animar a minha amiga.
- Se eu colocar mais força vai acontecer um acidente fisiológico, gato. Não consigo mais. Preciso de férias!
- Férias? Uma semana de academia e você quer férias? Não senhora! Vamos continuar, senão eu serei obrigado a aumentar o peso novamente!
- Se eu pegar uma grama a mais do que isso daqui eu desmonto, sério mesmo.
- Só não é mais exagerada porque só é uma – eu saí da máquina e parti pro próximo exercício.
- Só não é mais entrometido porque só é um!
Mostrei a língua pra morena e foquei no meu treino. Era bom demais ter a Janaína por perto na academia. Eu ria demais e isso me alegrava bastante. Nada melhor que encarar a vida com bom humor!
Quando fui pro banho, percebi que dois carinhas não tiravam os olhos de mim. Era um branco e outro negro e eles não estavam nem ligando e me olhavam na cara larga.
- Acho que eles querem o meu corpo – falei comigo mesmo.  – E vão ficar querendo!
Tomei meu banho em paz, mas quando saí, os dois estavam me esperando e foram logo mexendo comigo:
- Ei, como você se chama?
- Caio. Por quê?!
- Você treina aqui faz tempo? – perguntou o negro.
- Sim. Qual o interesse? O que vocês querem?
- Calma! A gente só quer ser seu amigo! – disse o branco.
- Hum – mas meu sexto sentido dizia o contrário. Eu não gostei dos garotos. – Entendi.
Me troquei e não dei mais bola pra eles. Os marmanjos tentaram me fazer mais algumas perguntas, mas eu não respondi e saí do vestiário assim que pude. Eles não me pareciam ser coisa boa.
- Toma cuidado – Janaína me aconselhou. – Eles podem querer alguma coisa com você. Vai que são ladrões?
- É, eu pensei a mesma coisa. Não curti os dois não. Pode ser só um pré-conceito, mas sei lá. O meu sexto sentido está querendo me dizer alguma coisa.
- Então tome muito cuidado, por favor.
- É eu vou tomar.
- Se quiser, troca de vestiário comigo. Eu to cansada de ver aquelas velhas com o tabaco murcho. Queria ver uns bofes bombados, sabe? Eles ficam pelados?
- Alguns. As minas também?
- Pior que ficam aquelas nojentas. Odeio ver mulher pelada. Odeio ver aqueles peitos caídos, aquelas bundas cheias de celulite... É a visão do inferno. É a treva, amigo!


- Só você mesmo. Beijo, amiga. Meu busão chegou. A gente se vê amanhã!
- Até amanhã então, coisa mais linda. Se cuida.
- Idem.
O ônibus que me levou de volta pra casa também estava lotado, mas não tanto como no período da manhã. Pelo menos naquela hora eu consegui sentar, depois de alguns minutos em pé.
- E aí? Como foi? – Rodrigo estava se trocando.
- Foi tranquilo. Eu fiz umas provas lá e pronto. Não foi pra faculdade de novo?
- Acabei de chegar, não está vendo eu trocando de roupa?
- Grosso!
- Nem fui.
- Imagina se tivesse sido. Dá meu notebook pra cá que eu quero entrar na internet.
- Eu ia usar também...
- Você usa depois que eu terminar de postar as fotos da festa da Bruna.
Entrei na internet e fui direto pro MSN, porque queria saber se meu namorado ou alguém importante estava conectado. Só quem estava por lá era o Víctor e mais ninguém. Eu fiquei conversando com ele.
- Digow?
- Hum?
- Já ouviu falar nesse tal de Twitter?

- Uhum. Por quê?
- Sabe se é legal? Ou melhor, sabe mexer?
- Dizem que é. Eu ainda não abri a minha conta.
- Eu tenho uma, mas não sei mexer direito nisso não. O Víctor não para de falar nesse site. Vamos ver como é?
Eu parecia uma criança fuçando no brinquedo novo. Eu já tinha a minha conta do Twitter há alguns meses e fiz porquê os caras falaram que era legal, mas nunca consegui mexer com facilidade na rede social.
Praticamente entrei na tela do computador e de tanto fuçar, acabei aprendendo como era o funcionamento do site. Até que era legal.
Foi à partir desse dia que eu me rendi aos encantos do Twitter. Desse dia pra cá, o meu Orkut passou a ficar cada dia mais esquecido. Hoje em dia eu não me conformo pela desativação do site. Eu tinha mais de 10 mil fotos naquela rede social. O Google não podia ter feito isso com o Orkut, mas tudo bem.

- É legal?
- Mais ou menos – respondi. – É em inglês, mas parece ser legal.
- Deixa eu com o meu velho e bom Orkut mesmo.
Naquela época o Facebook ainda não estava em alta. Eu nem sabia que essa rede social existia e só fui passar a utilizá-la no ano seguinte, em meados de 2.011. A Jana já usava.

- Pronto. Acho que finalizei com as atualizações do meu perfil. Faz um também, mano. Eu só tenho doze seguidores, que coisa mais triste.
- Pelo menos você tem – ele deu risada e mudou a televisão de canal. – Já postou as fotos da festa?
- Acabando de postar aqui.
- Depois eu vou roubar o seu álbum pra mim.
- Beleza, pode roubar.
- Já tem algum comentário?
- Não sei, Digow. As fotos ainda estão carregando.
Só depois que todas as fotos foram parar na internet que eu fui dar uma olhada nos comentários. A grande maioria era do Víctor e ele só estava falando mal do meu namorado.
- Quer parar de falar mal do meu Bruno? – reclamei, com a webcam ligada.
- Não! Ele ficou horroroso!
- Pior que ficou mesmo – tive que concordar. – Mas mesmo horroroso ele é lindo.
- Uh! Bota lindo nisso.
- E cadê o Rian?
- Na casa dele, oras.
- Ah. Manda um salve pra ele, tá?
- Pode deixar.
- Eu já posso usar, Caio Monteiro? Quero falar com as gêmeas!
- Vou ter que sair, tá Víctor? O Digow quer usar aqui.
- Beleza. Se cuida, amigo.
- Você também – desliguei tudo e passei o note pro Rodrigo. – Usa aí.
- Valeu, parça. Você é nota 10!

- Caio, Caio, Caio – Janaína me puxou pelo pulso.
- Que foi, menina?
- Saiu a lista de aprovados pra próxima fase! Vem, vamos ver!
- Que ansiedade é essa? Pelo que me lembro você também não queria fazer esse processo!
- Mas depois da bronca que eu recebi do Jonas, eu mudei de ideia. Vem, vamos ver!
Eu cheguei no quadro de avisos e comecei a ler a lista de selecionados para a 2ª fase do processo seletivo para a vaga de gerente. E não demorei para encontrar o meu nome.
- Passei – suspirei.
- Eu também!!! – ela exclamou.
- Que bom pra você.
- Bom pra nós – ela me corrigiu.
- A entrevista é amanhã!!! – me surpreendi.
- Que rápido, hein? Será que vai ser difícil?
- Não sei, não faço ideia e também não estou preocupado com isso. Seja o que Deus quiser.
E era verdade mesmo. Deixei tudo nas mãos de Deus e preferi não me preocupar muito com aquele processo seletivo. Se a vaga tivesse que ser minha, ela seria minha e ninguém tiraria de mim. Se não fosse pra ser minha, não teria problema nenhum. Eu encararia o resultado sendo positivo ou negativo. Essa era a verdade.
- Eu sabia que você ia passar, amor meu!!! – Bruno ficou todo feliz do outro lado do telefone.
- A entrevista é amanhã pela manhã. Me deseja sorte?
- Claro que eu desejo!!! Boa sorte! Estarei torcendo por você, você sabe disso.
- Obrigado, anjo! Você está bem? E essa voz grossa?
- Estou ficando rouco. Dor de garganta...
- Quer ir ao médico? – eu fiquei todo preocupado.
- Não, bebê! É só um resfriado, logo passa.
- Tem certeza? Não está sentindo febre? Se quiser eu saio daqui agora e vou te levar ao pronto socorro!!!
- Que lindo ele preocupadinho comigo... Eu te amo, sabia?
- Eu também! É claro que eu me preocupo com você, Bruno! Tem certeza que está tudo bem?
- Está sim! E o seu dente? Ainda está sangrando?
- Não, já parou. Nem dói mais.
- Graças a Deus! Você tem que ir ao dentista, viu? Às vezes tem que tirar esses dentes.
- Mais pra frente eu vou, amor. Pode deixar.
- Já fez a sua lição de inglês, senhor Caio?

- Putz!!! – eu bati na testa e fechei os olhos. – Eu sabia que estava esquecendo alguma coisa!
- É, né bonito? Deixando a lição de lado? Pode fazer hoje à noite, viu?
- Eu vou fazer mesmo, amor. Eu vou fazer! E você já se matriculou no inglês?
- Já sim. Começo no começo de maio.
- No mesmo horário que eu? – eu sorri.
- No mesmo horário que você, mas em turma diferente.
- Isso é uma pena, mas só de ter você no curso pra mim já é muita coisa.
- Eu espero que eu consiga dar conta de tudo.
- Você vai conseguir, você vai ver. Eu te ajudo em tudo, pode deixar.
- Obrigado, anjo!

Mais da metade dos funcionários que participaram da 1ª fase do processo seletivo para ocupar o lugar da Duda não havia passado para a fase seguinte. Pelo menos a concorrência seria menor à partir daquele momento.
- Adorei essa sua camisa branca – falei.
- Obrigada. Eu adoro quando você fica assim todo de preto. Poderia ter colocado uma gravata vermelha ou branca. Seria legal.

- Não, não. Assim está bem.
- Parece até que está de luto.
- Credo! Vira essa boca pra lá.
Naquele dia foi feita uma dinâmica em grupo e depois seria realizada uma entrevista individual com a Érica. Eu e a Janaína ficamos em grupos separados, por sorte.
Passada a dinâmica em grupo, onde eu fui o porta-voz do meu time, a Érica foi chamando participante por participante para a realização da entrevista individual com ela. Eu fui o quarto a ser chamado.
- Pode sentar, por favor.
- Obrigado.
- Vamos lá?
- Sim!
- Você disse que tem 21 anos, é isso?
- Isso mesmo.
- Mora em que bairro aqui do Rio?
- No Realengo.
- Mora com sua família?
- Não. Eu moro com alguns amigos.
- Entendi. Quando você se formou na faculdade?
- Em março.
- Por qual motivo escolheu RH?
- Porque eu gosto de trabalhar com pessoas. E é por isso que eu estou participando desse processo seletivo. Se eu passar, essa será uma excelente oportunidade para exercer o minha formação acadêmica. Eu quero muito trabalhar na minha área, trabalhar gerindo pessoas, trabalhar liderando equipes, trabalhar e focar em gestão, porque é disso que eu gosto.
- Se você gosta de pessoas, por qual motivo não fez Psicologia?
- Eu gosto de fazer gestão de pessoas, Érica. Eu gosto de desenvolver potenciais, de acompanhar o desenvolvimento do funcionário, de aplicar feedback, de cobrar metas... É disso que eu gosto, é dessa dinâmica, é dessa interatividade... Psicologia restringiria minhas áreas de atuação. Eu amo grupos, equipes, gosto de resultados, de desafios, de liderança!
- E você teve oportunidade de ficar no lugar do Jonas?
- Sim. E foi maravilhoso! Foi uma experiência única que eu levarei pro resto da minha vida. Enquanto eu estive no lugar do Jonas, eu aprendi muito. Foi realmente uma excelente oportunidade e isso me fez mudar a minha postura como profissional e me fez amadurecer em vários sentidos.
- E sendo tão novo você se acha capaz de ficar com a vaga?
- Claro que sim. Independentemente da minha idade, eu sei que tenho todo o potencial para exercer o cargo. Eu nasci para liderar, Érica. Eu simplesmente sou apaixonado por gestão de pessoas
- Por quê?!
- Porque eu tenho o conhecimento técnico e prático da função. Eu sei que eu consigo, eu confio no meu potencial, eu acredito em mim mesmo e sei que vou dar conta.
- Perfeito. Um defeito?
- Eu sou crítico demais de vez em quando.
- Por qual motivo?
- Essa é uma característica que eu tenho desde pequeno. Eu me sinto muito incomodado quando vejo alguma coisa errada, por exemplo. E às vezes eu critico demais e as pessoas ficam irritadas.
- E isso é ruim?
- Sim, isso é ruim. Porque nem sempre as pessoas entendem que eu estou falando as coisas pro bem delas e tampouco compreendem que se eu não falar, isso vai ficar me incomodando demais. É algo meu, entende?
- Não acho que isso seja ruim.
- Eu acho, porque não é raro as pessoas se irritarem com minhas críticas e reclamações.
- Seja mais específico, por favor.
- Um exemplo: quando eu vejo alguma coisa na minha casa que está fora do lugar e brigo com quem bagunçou, as pessoas normalmente não gostam. Eu sou perfeccionista demais.
- Entendi. Uma qualidade?
- Perseverança. Eu não desisto jamais daquilo que eu desejo alcançar e muito menos abaixo a cabeça para as adversidades da vida. Eu não tenho medo de lugar, não tenho medo de correr atrás e não tenho medo de buscar aquilo que eu desejo, custe o que custar, mas sempre fazendo as coisas da melhor forma possível, sem passar por cima de ninguém. Eu apenas persevero para o meu bem.
- E você quer alcançar a gerência da filial?
- Com certeza sim.
- Cite um exemplo de perseverança, por favor.
- Ah, posso falar sem medo de errar que o meu maior exemplo de perseverança foi trabalhar, fazer faculdade, fazer inglês e ainda por cima encontrar tempo para fazer academia. Por muitas vezes eu tive vontade de desistir da faculdade porque diga-se de passagem, não é fácil trabalhar e fazer faculdade ao mesmo tempo, mas eu não desisti e me formei agora em março.
- Perfeito, Caio! Muito obrigada! A resposta dos selecionados para a última fase sai amanhã. É só aguardar.
- Perfeito, Érica. Muito obrigado!
- Eu é que agradeço e boa sorte.
- Obrigado!

Bruno, Rodrigo, Jonas, Vinícius, Fabrício e até mesmo a Janaína ficaram na torcida para que eu passasse naquela fase do processo seletivo. Eu estava confiante e extremamente ansioso. Algo estava me dizendo que ia dar tudo certo. Será que eu estava pensando da forma correta ou será que eu estava enganado?

24 HORAS DEPOIS...


Quando Janaína e eu vimos o Jonas colocando um sulfite no quadro de avisos, ficamos apreensivos.
- Saiu! – falou a negra.
- Ai, Jesus! – senti um frio enorme na espinha.
- Vamos ver, amigo...
Nós quase corremos pelo meio da loja. Não sei quem estava mais ansioso: eu ou ela. Nós chegamos no quadro de avisos e eu fui logo passando meus olhos pelo letreiro que estava impresso na folha de sulfite:
“Processo de Recrutamento Interno para a Vaga de Gerente.
Segue abaixo o nome dos colaboradores que passaram para a última fase do Processo de Recrutamento Interno para a Vaga de Gerente, juntamente com a data e o horário das entrevistas:
09/04/2.010 – 09:00
Caio Monteiro
09/04/2.010 – 09:30
Janaína dos Santos

Os colaboradores devem procurar o Gerente Regional Tácio e o diretor Antony para a realização das entrevistas, que serão realizadas na sala da gerência regional. Boa sorte.



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