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ensando na briga que tive com o Rodrigo, resolvi ficar na minha e corri pro
banheiro sem nem olhar pro quarto.
Quando fechei a porta ouvi as vozes do Vinícius e da namorada. É claro que eles perceberam a minha presença na casa.
- Eu falei que alguém tinha aberto a porta!!! – Bruna estava assustada.
- Calma, eu resolvo isso... – dessa vez foi o Vinícius.
Eu ouvi passos apressados e em seguida a porta do quarto foi batida com força. De que adiantava eles fugirem? Eu já tinha visto mesmo!
Será que eles iam continuar a transa no meu quarto? Desacreditei dessa possibilidade. Eu no lugar do Vini, já teria perdido completamente o tesão.
Senti um alívio tão imediato quando comecei a urinar que deu até vontade de dar risada. Como era ruim ficar com a urina presa... Eu, hein?
Fechei meus olhos e o pau imenso do Vini ficou na minha mente. Que delícia era aquela, meu Deus? Pena que fui obrigado a ver a Bruna chupando, mas era só deletá-la da mente e estava tudo certo.
Pensando no Vini pelado, o meu pau ficou duro na hora. Impossível não ficar, tamanha a beleza que aquele deus grego tinha...
Não pensei duas vezes e me masturbei pensando no oncologista. Ele era gato demais e eu não tinha porque esconder a minha vontade. Bati mesmo e gozei com força total. Que delícia ele era...
Bem que ele poderia ser meu, né? Pena que o gato gostava de mulher, senão ele estava frito.
Ou não. Eu gostava tanto do Bruno que acho que nem o Vinícius iria conseguir substituí-lo.
Mas o residente era mil vezes mais bonito que o Bruno...
Isso não era de todo verdade. O Bruno era tão bonito quanto o Vinícius. O que diferenciava os dois, era apenas o físico. Um era magro, o outro era bombado.
E o que me chamava a atenção no Bruno não era apenas a beleza física e no Vinícius muito menos. Os dois tinham qualidades incríveis, os dois eram excelentes pessoas e isso era o que importava!
O Bruno? Onde o desgraçado do Bruno era excelente? Só se fosse nas mentiras que ele contava!
O meu coração ficou calado e sem resposta nesse momento.
Eu não amava o Bruno, eu amava o Murilo.
Murilo? Quem era ele afinal de contas? Que espécie de namorado era aquela que me deixava jogado por aí por vários e vários dias? Se eu fosse ele, não faria isso. Ele teria que me procurar mais...
O foco era o Murilo, o Bruno ou o Vinícius afinal de contas?
É verdade. Eu fugi do foco. O foco naquele instante era única e exclusivamente o médico dotadão. Ele infringiu a regra que ele mesmo criou. Como pode uma coisa dessas?
Aquilo já estava virando mania entre os bofes da casa, né? Vinícius, Rodrigo e depois Vinícius de novo. Eu queria saber se mais alguém já tinha feito isso. O Maicon por exemplo, ele também estava namorando...
Ou melhor, os únicos que não namoravam naquela casa eram o Miguel e o Fabrício. Todos os outros estavam com alguém!
O jeito seria colocar os 8 na mesa e conversar sobre esse assunto. Ou a regra deveria ser cumprida à risca, ou ela deveria ser revogada.
Se não era pra levar namorada pra casa, que ninguém levasse e se levasse pra fazer sexo, que fizesse num momento em que estivessem literalmente a sós.
O Vini e o Rodrigo não pensaram nas consequências disso tudo. Eu peguei os dois no flagra, mas poderia ter sido qualquer outro.
E quem me garantia que algum dos meninos já não tinha passado pela mesma situação? Quem me garantia que eu tinha sido o único?
Coincidentemente, eu fui o felizardo de duas situações distintas, mas semelhantes. Será que os caras não pensavam no constrangimento das namoradas?
Sim, porque era constrangedor para elas. A Marcela não sabia que eu tinha visto, mas a Bruna com certeza percebeu que foi pega com a boca na botija. Como ia ficar a reputação dela dali pra frente?
Dei descarga e fiquei esperando as cenas dos próximos capítulos. Eu não podia sair do banheiro até os dois se resolverem e por isso fui obrigado a ficar lá, parado e sem fazer nada até o casal dar algum sinal de vida.
Mas o que aconteceu foi totalmente o contrário: quem deu sinal de vida foi o Miguel. Ele entrou no banheiro sem mais nem menos e eu acabei levando um susto com essa chegada repentina.
- Que susto – falei baixinho.
- Desculpa... Eu não sabia que você estava aqui... Eu volto depois então...
- Nada, pode ficar. Vem cá...
- Que foi?
- Fala baixo, o Vini está com a namorada aí...
- Sabe quem deixou a porta da rua aberta?
- Fui eu. É que eu estava com muita vontade de fazer xixi, não consegui fechar. Desculpa.
- Toma cuidado, doido. Um ladrão poderia ter entrado. Ainda bem que eu cheguei rapidinho.
Eu ouvi a voz da Bruna alterada no meu quarto. Ela estava brigando com o Vinícius.
- Nunca mais coloco os meus pés aqui, entendeu?
- Calma, Bruna!
- Calma é o caramba! Você falou que não ia chegar ninguém... Olha a vergonha que eu passei por sua culpa...
- Desculpa, amor...
- Vamos sair daqui, eu não tenho coragem pra olhar pra cara do pessoal agora...
- Vamos, vamos. Fica calma, tá bom?
- Como eu vou ficar calma, Vinícius? Olha a vergonha que eu passei por sua culpa...
- A culpa não é só minha. Você também quis!
- Porque pensei que a casa estava vazia.
- Como eu ia saber que os caras iam chegar, Bruna?
- Por isso que não pode fazer aqui, Vini! Vamos embora logo.
- Puta... O que eles estavam fazendo? – Miguel me fitou.
- A Bruna tava chupando ele – falei baixinho.
- E você viu? – ele arregalou os olhos.
- Vi, mas só de relance. Não fiquei olhando, né?
- Caralho... Por que eu não cheguei 5 minutos atrás? Foi onde?
- No meu quarto, ele estava de pé e ela ajoelhada no chão.
- Puta, sério? Ele é louco? Por que não fechou a porta?
- Boa pergunta. Será que eles já foram?
- Acho que já... – Miguel colocou a cabeça no corredor. – Já, já saíram.
- Então deixa eu ir pro quarto pra você usar o banheiro.
- Depois dessa eu vou é fazer outra coisa – o menino abriu um sorriso safado.
- Ah, safadinho – eu dei risada.
- O Vini e a Bruna são muito gostosos, cara. Como eu queria ter visto essa cena, você não tem noção. Eles estavam pelados?
- Não. – ri. – Ele só estava com o negócio pra fora e ela chupando.
- Para, para... Senão eu gozo só de pensar. Vai, sai... Me deixa bater uma...
Gargalhei e fui direto pro meu quarto. Pelo menos não era só eu que batia pensando no Vinícius.
O quarto estava arrumado e cheiroso. Ainda bem que o doctor não foi tão cara de pau como o Rodrigo. E se ele tivesse feito na minha cama também?
Se bem que seria impossível, uma vez que eu tinha trocado de cama com o Rodrigo. Pelo menos o futuro Engenheiro Civil teve a dignidade de aceitar a minha oferta. Eu não conseguiria dormir mais naquela cama não.
Vinícius entrou no quarto depois de uns 10 minutos. Ele parecia frustrado e irritado. E a culpa era toda minha.
- Ah, Caio... Foi você então?
- Vini, me desculpa – eu fui logo me justificando. – Eu não sabia que vocês estavam aí, se soubesse eu não teria atrapalhado.
- Eu sei, não estou te criticando não. Só queria saber quem tinha sido pra pedir desculpas.
Que atitude diferente da do Rodrigo, não?
- Imagina, eu é que tenho que pedir. Eu não queria ter visto, de verdade...
- Não encuca com isso, eu não estou bravo com você. Você que teria que ficar bravo comigo, mais uma vez eu fiz isso aqui em casa... Foi mal...
- Não esquenta. Eu entendo que às vezes é difícil segurar a vontade...
- É cara, é muito difícil, mas o errado fui eu. Não deveria ter feito aqui, não mesmo. É por isso que eu falo que não adianta trazer mulher aqui na república, qualquer um pode chegar na hora H...
- Verdade, mas tudo bem... Já passou e eu não vou contar pra ninguém...
Já tinha contado pro Miguel, mas ele seria o único.
- Poxa, obrigado! Você é foda...
- Mas o Miguel também está aí... Ele ouviu a briga e eu tive que contar, tá?
- Putz... Será que ele viu também?
- Não. Ele chegou quando vocês dois já tinham fechado a porta. Mas eu contei.
- Sem problemas. Eu vou conversar com ele também. E vou reunir todos os caras que namoram pra reforçar que não é pra trazer mais mulher aqui. Eu nunca mais deixo a Bruna subir, de verdade. Só quando vocês estiverem presentes, que aí não vai acontecer nada.
- Relaxa, Vini – eu dei risada. – Eu não vou espalhar. Eu não espalhei da outra vez, por que vou fazer isso agora?
- Você é foda, Caio – o médico deu um tapinha nas minhas costas. – Valeu mesmo.
- Disponha. Não esqueça que nós temos muitos segredinhos um com o outro – dei uma piscadela.
- É verdade – ele riu. – Mas não vamos ficar pensando nisso.
- Por que não? Eu sei que você não terminou com a Bruna, mas se quiser terminar comigo... Estou aqui, viu? – brinquei.
- Safado – ele deu um tapa na minha nuca. – Não é assim que as coisas funcionam.
Vinícius e eu ficamos conversando por um tempão. Ele perguntou como estava a minha vida com o Bruno, me deu vários conselhos e disse que eu deveria perdoá-lo porque o amava de verdade.
É claro que eu não dei ouvidos ao meu amigo. No que dependesse de mim, ou melhor, da minha razão, eu nunca perdoaria o meu ex-namorado.
Porém, o meu coração pensava o contrário e a minha razão estava ficando cada vez mais sem força. A prova disso era o fato do Bruno ser a última pessoa que eu pensava antes de dormir e a primeira que eu pensava quando acordava. E isso se repetia por todos os dias desde que ele voltara do exterior.
Já fazia mais de 1 ano que ele tinha voltado e nós só tínhamos transado duas vezes. Em questão de proporção, esse número foi bem pequeno, visto o fogo que nós dois tínhamos juntos... O que será que estava acontecendo?
Pronto. Bastou pensar no Bruno pra ele me ligar. Naqueles últimos dias era isso que acontecia. Eu pensava e ele ligava. Era incrível.
- Oi? – atendi.
- Oi! Finalmente me atendeu, hein?
- Só atendi porque cansei de ver seu nome no visor do meu celular.
- Quem manda você fazer jogo duro? Enquanto não atendesse eu não ia desistir.
- Não esqueça que eu já mudei o número do meu celular duas vezes. Eu posso mudar de novo se for o caso.
- Que bobagem, Caio. Você não precisa fazer isso.
- Eu só não faço porque dá muito trabalho. O que quer?
- Saber notícias suas... De repente eu senti uma vontade imensa de te ligar...
Será que ele sentiu vontade de me ligar porque eu estava pensando nele?
- Eu sempre estou bem, muito obrigado. E você como está?
- Melhor agora. Eu sempre fico bem quando falo com você.
Que bonitinho...
Deitei na cama e fiquei olhando pro teto. Era bom poder olhar pro teto e não pras madeiras da beliche, como acontecia no passado.
Bruno e eu ficamos trocando ideia por um tempinho, até a chegada do Rodrigo. Ele entrou no quarto, me olhou e disse:
- Caio, tenho uma coisa pra te entregar.
- Depois a gente se fala, Bruno. Eu preciso desligar.
- Ah, já?
- Uhum. Até mais, tchau.
- Então tá, né? Tchau, se cuida...
- Você também.
- Até quando você vai ficar falando com esse idiota, Caio? – Rodrigo bufou.
- O que você quer me entregar?
- Eu te fiz uma pergunta!
- E eu não quero responder. Vai dizer o que tem pra me entregar ou não?
- Quer saber de uma coisa? Quero que você se foda! Eu não falo mais nada. Você quer sofrer? Então vai sofrer.
- Ei... Eu não te dou o direito de me ofender não, beleza?
- Você é muito burro! Sofreu pacas na mão desse desgraçado e agora está aí todo derretidinho por ele... Só sendo muito burro mesmo!
- Escuta aqui, Rodrigo... Você não é nada meu pra ficar se metendo na minha vida, entendeu? Em nenhum momento eu pedi a sua opinião, então por favor, não enche o saco. O que você quer me entregar? Fala logo, senão eu vou embora!
- Toma – ele jogou uma carta em cima da minha cama. – Estava debaixo da porta essa semana. Eu esqueci de te entregar. Já que eu não sou nada seu, então nem fala mais comigo. Cansei de gente trouxa na minha vida.
- O único trouxa daqui é você. Idiota!
- Na boa? Eu não sou obrigado a dividir o quarto com você não, sabia?
- Nem eu com você – peguei a minha carta e desci da beliche o mais rápido que pude. – Fica com ele pra você. O quarto é todo seu!
Saí correndo e fui pra laje da minha casa. Que raiva eu estava sentindo do Rodrigo... Ele não tinha o direito de me ofender daquele jeito, não tinha!!!
Fiquei próximo a luz do poste, sentei no chão e percebi que era uma carta da Dona Elvira. Ela tinha mandado já fazia uns dias. Por que o Rodrigo não me entregou no dia que ele pegou a correspondência???
Suspirei. Ele estava um chato, um verdadeiro chato naqueles últimos dias. Parei pra pensar e cheguei a conclusão que ele merecia era a minha total indiferença. E era o que ele teria.
Abri o envelope e percebi que a carta era um tanto extensa. Havia duas folhas grandes de caderno escritas na frente e no verso. Eu comecei a ler e automaticamente lembrei do rosto da Dona Elvira.
Ela me relatou tudo o que estava acontecendo na vida dela, o que não era muita coisa e por fim, me deu vários conselhos com relação aos meus problemas sentimentais.
Assim como os outros, Dona Elvira pediu para eu perdoar o Bruno. Ela disse que eu tinha que acreditar no arrependimento das pessoas e que o perdão era divino; ela disse que se eu perdoasse os erros do Bruno, eu iria acabar me aproximando de Deus.
A mulher disse ainda que ficou emocionada com o sonho que tive com a Virgem Maria. Ela disse que isso foi a prova que eu precisava para saber que não estava andando sozinho e que eu sempre deveria lembrar desse sonho.
- Mas eu nunca esqueço dele, Dona Elvira!
E era verdade mesmo. Sempre que eu me sentia sozinho, sempre que eu me sentia abandonado, automaticamente eu lembrava do sonho que tive e acabava ficando mais calmo, mais tranquilo... Pelo menos eu tinha certeza que eu nunca mais iria ficar sozinho na vida. Nunca mais!
A Dona Elvira relatou em poucas palavras a felicidade em saber da minha faculdade e disse que eu deveria avisar quando seria a minha formatura, pois ela fazia questão de estar presente nessa data.
E a recíproca era verdadeira. Eu também fazia questão dela estar presente na minha formatura e obviamente que ela seria convidada. A minha convidada de honra.
Com relação a minha família, ela disse que iria orar por todos eles e disse que eu tinha que fazer o mesmo. Muito sabiamente, Dona Elvira pediu para eu pedir sabedoria aos meus pais e ao meu irmão e disse que tinha certeza que com o tempo, todos eles iam cair em si e iam acabar me perdoando.
Perdoando o quê? Eu não tinha feito nada de errado. Os errados na história eram meu pai, minha mãe e meu irmão gêmeo.
Foi meu pai que me expulsou, foi minha mãe que não me apoiou e foi meu irmão que me humilhou. Eu não tinha feito absolutamente nada de errado para com eles, mas eles sim tinham acabado com a minha vida.
Então, se tivesse que ter perdão, teria que ser da minha parte. Não da parte deles. E eu duvidava um bocado que isso fosse acontecer.
Resolvi responder aquela carta imediatamente. Eu tinha selos e seria possível colocar a carta na caixa dos Correios ainda naquela noite. Aproveitei que estava ocioso e escrevi de novo pra Dona Elvira.
Perguntei se a mulher não tinha e-mail, porque mandar cartas era coisa do século passado, mas eu tinha certeza que ela não tinha correio eletrônico. O jeito seria voltar a era antiga e continuar mandando cartas mesmo para a minha querida amiga Dona Elvira, minha mãe do coração.
- Onde você estava, Caio? – perguntou Vinícius.
- Na laje, escrevendo uma carta para uma amiga.
- Eu te procurei e não te achei...
- Eu estou lá já faz um tempinho. Desci para pegar meu fichário e não te vi também. Enfim, vou sair e já volto.
- Onde vai?
- Colocar a carta na caixa dos Correios.
- Hum... Acho que vou com você, preciso esfriar a cabeça.
- Ainda está bravo?
- Comigo mesmo, sabe? Eu não deveria ter feito isso.
- Já falei pra você relaxar.
- Mas é tão ruim saber que a gente fez coisa errada...
- Isso é verdade. Você não vai residir hoje?
- Não. Estou de folga. Esqueceu que eu trabalho 12 por 36?
- Ah, é verdade. Esqueci que você é gente.
- Quem dera eu fosse. Vamos tomar um sorvete?
- Ai, não trouxe minha carteira...
- Eu estou convidando, eu pago!
- Não, Vini... Não precisa, imagina...
- Ai, pelo amor, né Caio? Acha que eu vou negar um sorvete pra você, garoto?
Fiquei sem graça. Ele era legal demais comigo.
- Ah, obrigado então! Prometo que depois eu te pago uma cerveja.
- Olha que eu cobro, hein?
- Pode cobrar – eu dei risada.
Coloquei a carta na caixa e em seguida a gente seguiu até a sorveteria, que não ficava longe da nossa casa.
- Quer de quê?
- Eu quero de abacaxi com vinho...
- Eu também. É meu preferido. Monta o seu então.
Montei meu sorvete, mas não caprichei para não parecer abusado. Eu nunca gostei de parecer interesseiro para ninguém.
Vinícius e eu sentamos em uma mesinha afastada do caixa e ficamos trocando ideia por um tempo. Para a minha total surpresa, o gato tocou no nome do Rodrigo e perguntou:
- Vocês brigaram ou é impressão minha?
- Está tão evidente assim, é?
- É que vocês nem estão se olhando direito...
- Brigamos e feio. Por isso que naqueles dias eu dormi fora de casa.
- Sério? Mas o que aconteceu?
- Ih, Vini... É algo tão fútil, mas eu não posso te contar.
- Não confia em mim?
- Confio, claro que eu confio, mas é que eu prometi segredo ao Rodrigo...
Por mais que eu tivesse falado para o Digão que ia contar pra todo mundo o que ele fez com a Marcela, é claro que eu estava blefando. Eu não ia abrir a boca e não ira revelar nada do que aconteceu naquele dia. Esse seria um segredo que eu levaria pro túmulo.
- Ah, entendi. Eu não vou ficar insistindo, porque nós dois também temos segredos e eu sei que você não falou pra ninguém.
- E nem falarei.
- Caio, você é foda. Parabéns por ser tão amigo assim da gente.
- Eu prezo muito por minhas amizades, acredite.
- Eu sei e isso é muito bom. Eu tiro o meu chapéu pra você, cara.
- Obrigado, Vini.
- Você tem uma força incrível. É tão novinho, já passou por tanta coisa nessa vida... Foi expulso de casa e deu a volta por cima, foi largado pelo namorado e deu a volta por cima... Trabalha, ganha razoavelmente bem, faz faculdade, faz inglês, faz academia, namora... Meu... Você é foda!
- Para, Vini – eu senti minhas bochechas queimarem. – Assim eu fico sem graça...
- Mas é que você é um exemplo pra muita gente, Caio! Sério mesmo...
- Ah, valeu. Eu tento dar o meu melhor sempre. E não me entrego facilmente.
- Percebi.
- Então, eu briguei com ele sim e acho até que vou mudar de quarto, viu?
- Por que? Não vai não...
- Ah, vou sim. Eu quero dar um tempo com o Rodrigo. Ele me ofende demais.
- Te ofende?
- Uhum. Ele briga comigo só porque eu estou falando de novo com o Bruno e quase me deixou surdo no dia que soube que eu dormi com ele.
- Você dormiu com o Bruno?
- Duas vezes – abaixei a cabeça.
- Está mais que certo. Não te julgo não!
- Viu só? Como vocês dois são diferentes? Eu queria que você fosse meu melhor amigo, não ele!
- Eu posso ser se você quiser – Vinícius riu. – A gente sempre vai ser amigo, você sabe disso.
- Eu sei, Vini. Eu gosto muito de você.
- Obrigado, obrigado. Eu sei que eu sou foda.
- Metido – sorri.
- Embora eu seja um pouquinho mais velho que você, pode confiar em mim e me contar suas coisas quando quiser, tá bom?
- O que tem você ser mais velho? Nada demais não, meu.
- Ah, são 7 anos e meio anos de diferença, Caio. Eu vivo um momento, você vive outro. Acho que é por isso que você fica mais com o Digão, porque ele tem mais ou menos a mesma faixa de idade que você.
- São quase 4 anos de diferença entre nós dois, não temos a mesma faixa etária.
- Mas 4 anos não são 8 anos.
- Isso pra mim é o de menos. O fato é que o Digow está me tirando do sério ultimamente. Eu não quero mais ficar no quarto com ele não.
- Pelo jeito não é só essa história do Bruno, né?
- Não, tem mais coisa. Eu só posso te dizer que é relacionado com a Marcela.
- Ah, é? Brigaram por causa da Marcela? Não me diga que foi por ciúmes?
- Mais ou menos, mas enfim. Ele me maltrata muito e eu quero dar um fora com isso. Vou trocar de quarto ainda hoje se possível.
- Eu acho que é uma atitude muito apressada, mas você é que sabe. Já tentou falar com o Rodrigo?
- Com ele não tem diálogo ultimamente. Depois de tudo o que ele me disse com relação ao Bruno, eu prefiro nem falar nada. Acho que a nossa amizade nunca mais será a mesma.
- Bobagem. Ele está com ciúmes do Bruno, deve ser isso.
- Ciúmes? Que nada. O Digow é só um amigo, ele não precisa sentir ciúmes do Bruno.
- Do mesmo jeito que você não precisa sentir da Marcela.
Fiquei calado. Ele tinha razão.
- Conversa com ele, Caio. Coloca tudo em pratos limpos. É o melhor que você tem a fazer.
- Será?
- Eu acho. De que adianta trocar de quarto? Vai só ser birra da sua parte.
- Ai, sei lá...
- Vamos voltar pra casa e lá vocês dois vão conversar. Eu não quero saber de brigas entre vocês dois não.
- Ai eu não sei. Ele está um chato ultimamente.
- Pois a gente vai resolver isso e é já! Vamos lá?
Aceitei. Eu não queria ficar brigado com ele, afinal ele era meu melhor amigo, né?
- Eu vou pra laje. Vai ser melhor a gente conversar lá em particular.
- Concordo – Vinícius assentiu. – Eu vou pedir pra ele ir falar com você.
- Beleza, Vini. Obrigado pela força.
- Disponha e conte comigo sempre que precisar.
Já estava esfriando. Eu olhei pro céu e fiquei encantado com a lua. Ela estava praticamente em cima da minha cabeça.
- Queria falar comigo? – a voz do Rodrigo apareceu atrás de mim de repente. Eu me assustei tanto que quase caí na rua.
- Que susto!
- Desculpa. Não foi a minha intenção. O que você quer?
- Conversar com você.
- Sobre?
- Você ainda me pergunta? Sobre tudo o que está acontecendo entre nós dois.
- Hum. Eu estou te ouvindo!
- Por que está me tratando tão mal ultimamente?
- Porque eu não aguento te ver com o Bruno. Simples assim.
- Já ouviu falar que a gente não manda no coração?
- Já, mas o seu coração é burro demais...
- Não vou admitir ofensas, Rodrigo!
- Só estou falando a minha opinião.
- Então guarde a sua opinião pra você, eu não quero ser xingado. Não mereço isso.
- Vocês voltaram?
- Não. E não vamos voltar.
- Então por que dormiu com ele naquele dia?
- Porque simplesmente eu não consegui me segurar. Foi mais forte do que eu, entende?
- Não. Não entendo como você pode gostar dele depois de tudo o que ele te fez, Caio.
- Eu também não, Rodrigo, mas eu não mando no meu coração, poxa vida!!!
- Você tem que aprender a dizer não pra ele. Simples assim.
- Eu tento, mas não é tão fácil como parece.
- É fácil sim, basta você querer.
- Você não entende o que eu sinto por ele, cacete.
- Não mesmo. Não sei como você pode gostar dele desse jeito.
- Eu gosto mesmo. E assumo. Eu amo o Bruno e se for o caso eu vou voltar com ele!
- Porque você é um burro, isso sim!
- Não me xinga de burro, eu não admito isso!
- Xingo sim, porque é isso que você é!
- Para com isso, caralho! – eu me irritei de verdade. – Eu quero colocar tudo em pratos limpos, não quero estragar a nossa amizade de vez!
- Eu também não queria, mas prefiro estragar a amizade ao ver você sofrer tudo de novo por causa daquele nojento...
- Cala a boca, Rodrigo! Não chama o Bruno de nojento!
- Por que não? Ele é um completo imbecil, é isso que ele é!
- E a Marcela é uma completa vaca!
- NÃO FALA O NOME DA MARCELA!
- ENTÃO NÃO FALA O NOME DO BRUNO!
A gente bufou ao mesmo tempo e um fuzilou o outro com os olhos. Se olhar matasse, eu estaria morto naquele momento.
- Idiota – falei.
- Imbecil.
- Melhor ser imbecil do que transar na cama alheia, né? Pelo menos eu transei com o Bruno na cama dele, não na sua!
- Transei mesmo e não me arrependo! Transaria de novo se tivesse a oportunidade!
- Então transa! Quem está te impedindo? Por mim você usa as 8 camas que tem na casa, o problema é todo seu!
- Seu ridículo!
- Ridículo é você, Rodrigo. Eu venho aqui na maior humildade tentar resolver tudo entre nós dois e você me trata desse jeito? Belo melhor amigo que você é, hein?
- Que culpa que eu tenho se você não sabe fazer as coisas?
- EU NÃO MANDO NO MEU CORAÇÃO, CARALHO!
- Pois deveria mandar. Se seu coração é burro desse jeito, dá um jeito pra ele virar inteligente!
- EU NÃO ESCOLHO QUEM AMO, ENTENDEU?
- Percebi, Caio. Percebi direitinho...
- Pelo jeito você nunca se apaixonou de verdade, né? Pelo visto você não sabe o que é amor de verdade, Rodrigo. Se soubesse você não iria me julgar desse jeito.
- Está falando que eu não sei amar, Caio?
- Se foi isso que você entendeu, o problema não é meu!
Ele ficou calado.
- Vai parar de falar do Bruno?
- Vai parar de sair com ele?
- Eu não saio com ele, Rodrigo. Que coisa!
- Então com quem você transou? Só se foi com outro Bruno...
- Eu vou direto ao ponto: você vai querer continuar sendo meu amigo ou não?
Rodrigo mais uma vez ficou calado.
- Pelo jeito não, né? – eu suspirei. – Beleza então. Eu vou pegar as minhas coisas e vou pro outro quarto. Eu durmo no chão se for o caso, mas com você eu não durmo mais.
Saí andando e quando eu ia descer o primeiro degrau para voltar pra lavanderia o Rodrigo me chamou.
- Espera, Caio...
Eu parei, mas não olhei pra trás.
- Vem aqui, por favor...
- O que é? Vai me chamar de burro de novo?
- Não... Eu não quero que você saia do quarto...
- Então saia você!
- Não, eu também não vou sair. Não precisa disso, né?
Pelo menos naquele momento ele foi maduro.
- Acho que a gente está sendo criança demais, Caio – Rodrigo abriu um sorriso amarelo.
- Eu também acho – concordei, com a cabeça baixa.
- Eu não tenho que me meter na sua vida, cara.
Fiquei calado.
- A vida é sua, você fica com quem você quiser.
- Eu não vou ficar com o Bruno, pode ficar tranquilo.
- Isso me deixa muito aliviado. Caio, eu só quero o seu bem, acredite em mim...
Voltei a encará-lo.
- Eu gosto de você, moleque... Eu te amo, você sabe disso. Eu não quero te ver sofrer novamente, entende? Só eu sei o quanto você sofreu quando ele foi embora...
- Eu sei, Digow...
- Você quase se matou, se não fosse eu, você estaria morto agora...
- Eu sei disso e serei eternamente grato por você ter salvo a minha vida.
- Você salvou a minha também, lembra?
- Como eu ia esquecer?
- Escuta bem, Caio: a última coisa que eu quero nesse mundo é ver o seu sofrimento de novo, entendeu? Não volta com o Bruno, ele pode te fazer mal, muito mal.
- Eu não vou voltar, fica tranquilo.
- Eu sinto muita raiva só de pensar que você fala com ele, só de pensar que você o vê, que você fica com ele, que você transa com ele... Isso me dá uma raiva que você não tem noção!
- Eu te entendo, isso me deixa enfurecido também.
- Então não sai mais com ele, não fica mais com ele, por favor! Não deixa o sofrimento voltar tudo de novo, logo agora que você está bem.
- Mas... Ele mudou...
- Não mudou não! Uma vez cafajeste, sempre cafajeste. Ele quase acabou com a sua vida e eu não quero que isso aconteça de novo. Eu te amo, eu te amo muito e não quero que você sofra por causa dele, Cacs...
Só nesse momento eu me derreti todinho.
- Eu te amo também, seu cachorro!
- Me perdoa por ter te xingado?
- Você está sendo um ogro ultimamente.
- Eu sei que estou sendo chato, eu não estou tendo dias legais nesses últimos tempos e estou descontando em quem menos merece. Me perdoa, por favor?
- Não sei se você merece...
- Por favor? – ele segurou a minha mão.
- Tudo bem, eu perdoo. Desde que você nunca mais me xingue assim.
- Prometo que vou tentar me controlar.
- Tentar?
- E quero que você prometa que vai tentar não cair na lábia do Bruno.
- Eu já estou tentando, eu estou tentando...
- Então me desculpa? De coração?
- Desde que você me desculpe também por qualquer coisa...
- Eu já te desculpei, bobão...
- Sei lá... Às vezes eu te acho tão frio comigo...
- E eu acho você frio comigo!
- Então vamos esquentar a nossa amizade de novo? – propus.
- Desde que ela nunca mais esfrie, sim.
- Da minha parte eu farei o possível para isso acontecer.
- Da minha parte também!
Nos abraçamos com muita força.
- Ah, Cacs...
- Digow...
- Te amo, filho da puta!
- Te amo, cachorro sarnento.
- Au, au!
Eu sempre dava risada quando ele latia desse jeito. Que bom. Pelo menos um de meus problemas estava resolvido...
Eu tinha certeza que de minha parte a amizade nunca mais iria balançar, mas restava saber se da parte dele aconteceria a mesma coisa.
Ficar brigado com o Rodrigo era algo que me deixava vazio. Parecia que faltava uma parte de mim, parecia que eu vivia sem uma parte do meu corpo... Fazer as pazes com ele trouxe essa parte de volta e me fez voltar a viver praticamente por completo.
Eu só não voltei a viver por completo, porque faltava outra parte que vivia dentro de mim: o Bruno.
Quando fechei a porta ouvi as vozes do Vinícius e da namorada. É claro que eles perceberam a minha presença na casa.
- Eu falei que alguém tinha aberto a porta!!! – Bruna estava assustada.
- Calma, eu resolvo isso... – dessa vez foi o Vinícius.
Eu ouvi passos apressados e em seguida a porta do quarto foi batida com força. De que adiantava eles fugirem? Eu já tinha visto mesmo!
Será que eles iam continuar a transa no meu quarto? Desacreditei dessa possibilidade. Eu no lugar do Vini, já teria perdido completamente o tesão.
Senti um alívio tão imediato quando comecei a urinar que deu até vontade de dar risada. Como era ruim ficar com a urina presa... Eu, hein?
Fechei meus olhos e o pau imenso do Vini ficou na minha mente. Que delícia era aquela, meu Deus? Pena que fui obrigado a ver a Bruna chupando, mas era só deletá-la da mente e estava tudo certo.
Pensando no Vini pelado, o meu pau ficou duro na hora. Impossível não ficar, tamanha a beleza que aquele deus grego tinha...
Não pensei duas vezes e me masturbei pensando no oncologista. Ele era gato demais e eu não tinha porque esconder a minha vontade. Bati mesmo e gozei com força total. Que delícia ele era...
Bem que ele poderia ser meu, né? Pena que o gato gostava de mulher, senão ele estava frito.
Ou não. Eu gostava tanto do Bruno que acho que nem o Vinícius iria conseguir substituí-lo.
Mas o residente era mil vezes mais bonito que o Bruno...
Isso não era de todo verdade. O Bruno era tão bonito quanto o Vinícius. O que diferenciava os dois, era apenas o físico. Um era magro, o outro era bombado.
E o que me chamava a atenção no Bruno não era apenas a beleza física e no Vinícius muito menos. Os dois tinham qualidades incríveis, os dois eram excelentes pessoas e isso era o que importava!
O Bruno? Onde o desgraçado do Bruno era excelente? Só se fosse nas mentiras que ele contava!
O meu coração ficou calado e sem resposta nesse momento.
Eu não amava o Bruno, eu amava o Murilo.
Murilo? Quem era ele afinal de contas? Que espécie de namorado era aquela que me deixava jogado por aí por vários e vários dias? Se eu fosse ele, não faria isso. Ele teria que me procurar mais...
O foco era o Murilo, o Bruno ou o Vinícius afinal de contas?
É verdade. Eu fugi do foco. O foco naquele instante era única e exclusivamente o médico dotadão. Ele infringiu a regra que ele mesmo criou. Como pode uma coisa dessas?
Aquilo já estava virando mania entre os bofes da casa, né? Vinícius, Rodrigo e depois Vinícius de novo. Eu queria saber se mais alguém já tinha feito isso. O Maicon por exemplo, ele também estava namorando...
Ou melhor, os únicos que não namoravam naquela casa eram o Miguel e o Fabrício. Todos os outros estavam com alguém!
O jeito seria colocar os 8 na mesa e conversar sobre esse assunto. Ou a regra deveria ser cumprida à risca, ou ela deveria ser revogada.
Se não era pra levar namorada pra casa, que ninguém levasse e se levasse pra fazer sexo, que fizesse num momento em que estivessem literalmente a sós.
O Vini e o Rodrigo não pensaram nas consequências disso tudo. Eu peguei os dois no flagra, mas poderia ter sido qualquer outro.
E quem me garantia que algum dos meninos já não tinha passado pela mesma situação? Quem me garantia que eu tinha sido o único?
Coincidentemente, eu fui o felizardo de duas situações distintas, mas semelhantes. Será que os caras não pensavam no constrangimento das namoradas?
Sim, porque era constrangedor para elas. A Marcela não sabia que eu tinha visto, mas a Bruna com certeza percebeu que foi pega com a boca na botija. Como ia ficar a reputação dela dali pra frente?
Dei descarga e fiquei esperando as cenas dos próximos capítulos. Eu não podia sair do banheiro até os dois se resolverem e por isso fui obrigado a ficar lá, parado e sem fazer nada até o casal dar algum sinal de vida.
Mas o que aconteceu foi totalmente o contrário: quem deu sinal de vida foi o Miguel. Ele entrou no banheiro sem mais nem menos e eu acabei levando um susto com essa chegada repentina.
- Que susto – falei baixinho.
- Desculpa... Eu não sabia que você estava aqui... Eu volto depois então...
- Nada, pode ficar. Vem cá...
- Que foi?
- Fala baixo, o Vini está com a namorada aí...
- Sabe quem deixou a porta da rua aberta?
- Fui eu. É que eu estava com muita vontade de fazer xixi, não consegui fechar. Desculpa.
- Toma cuidado, doido. Um ladrão poderia ter entrado. Ainda bem que eu cheguei rapidinho.
Eu ouvi a voz da Bruna alterada no meu quarto. Ela estava brigando com o Vinícius.
- Nunca mais coloco os meus pés aqui, entendeu?
- Calma, Bruna!
- Calma é o caramba! Você falou que não ia chegar ninguém... Olha a vergonha que eu passei por sua culpa...
- Desculpa, amor...
- Vamos sair daqui, eu não tenho coragem pra olhar pra cara do pessoal agora...
- Vamos, vamos. Fica calma, tá bom?
- Como eu vou ficar calma, Vinícius? Olha a vergonha que eu passei por sua culpa...
- A culpa não é só minha. Você também quis!
- Porque pensei que a casa estava vazia.
- Como eu ia saber que os caras iam chegar, Bruna?
- Por isso que não pode fazer aqui, Vini! Vamos embora logo.
- Puta... O que eles estavam fazendo? – Miguel me fitou.
- A Bruna tava chupando ele – falei baixinho.
- E você viu? – ele arregalou os olhos.
- Vi, mas só de relance. Não fiquei olhando, né?
- Caralho... Por que eu não cheguei 5 minutos atrás? Foi onde?
- No meu quarto, ele estava de pé e ela ajoelhada no chão.
- Puta, sério? Ele é louco? Por que não fechou a porta?
- Boa pergunta. Será que eles já foram?
- Acho que já... – Miguel colocou a cabeça no corredor. – Já, já saíram.
- Então deixa eu ir pro quarto pra você usar o banheiro.
- Depois dessa eu vou é fazer outra coisa – o menino abriu um sorriso safado.
- Ah, safadinho – eu dei risada.
- O Vini e a Bruna são muito gostosos, cara. Como eu queria ter visto essa cena, você não tem noção. Eles estavam pelados?
- Não. – ri. – Ele só estava com o negócio pra fora e ela chupando.
- Para, para... Senão eu gozo só de pensar. Vai, sai... Me deixa bater uma...
Gargalhei e fui direto pro meu quarto. Pelo menos não era só eu que batia pensando no Vinícius.
O quarto estava arrumado e cheiroso. Ainda bem que o doctor não foi tão cara de pau como o Rodrigo. E se ele tivesse feito na minha cama também?
Se bem que seria impossível, uma vez que eu tinha trocado de cama com o Rodrigo. Pelo menos o futuro Engenheiro Civil teve a dignidade de aceitar a minha oferta. Eu não conseguiria dormir mais naquela cama não.
Vinícius entrou no quarto depois de uns 10 minutos. Ele parecia frustrado e irritado. E a culpa era toda minha.
- Ah, Caio... Foi você então?
- Vini, me desculpa – eu fui logo me justificando. – Eu não sabia que vocês estavam aí, se soubesse eu não teria atrapalhado.
- Eu sei, não estou te criticando não. Só queria saber quem tinha sido pra pedir desculpas.
Que atitude diferente da do Rodrigo, não?
- Imagina, eu é que tenho que pedir. Eu não queria ter visto, de verdade...
- Não encuca com isso, eu não estou bravo com você. Você que teria que ficar bravo comigo, mais uma vez eu fiz isso aqui em casa... Foi mal...
- Não esquenta. Eu entendo que às vezes é difícil segurar a vontade...
- É cara, é muito difícil, mas o errado fui eu. Não deveria ter feito aqui, não mesmo. É por isso que eu falo que não adianta trazer mulher aqui na república, qualquer um pode chegar na hora H...
- Verdade, mas tudo bem... Já passou e eu não vou contar pra ninguém...
Já tinha contado pro Miguel, mas ele seria o único.
- Poxa, obrigado! Você é foda...
- Mas o Miguel também está aí... Ele ouviu a briga e eu tive que contar, tá?
- Putz... Será que ele viu também?
- Não. Ele chegou quando vocês dois já tinham fechado a porta. Mas eu contei.
- Sem problemas. Eu vou conversar com ele também. E vou reunir todos os caras que namoram pra reforçar que não é pra trazer mais mulher aqui. Eu nunca mais deixo a Bruna subir, de verdade. Só quando vocês estiverem presentes, que aí não vai acontecer nada.
- Relaxa, Vini – eu dei risada. – Eu não vou espalhar. Eu não espalhei da outra vez, por que vou fazer isso agora?
- Você é foda, Caio – o médico deu um tapinha nas minhas costas. – Valeu mesmo.
- Disponha. Não esqueça que nós temos muitos segredinhos um com o outro – dei uma piscadela.
- É verdade – ele riu. – Mas não vamos ficar pensando nisso.
- Por que não? Eu sei que você não terminou com a Bruna, mas se quiser terminar comigo... Estou aqui, viu? – brinquei.
- Safado – ele deu um tapa na minha nuca. – Não é assim que as coisas funcionam.
Vinícius e eu ficamos conversando por um tempão. Ele perguntou como estava a minha vida com o Bruno, me deu vários conselhos e disse que eu deveria perdoá-lo porque o amava de verdade.
É claro que eu não dei ouvidos ao meu amigo. No que dependesse de mim, ou melhor, da minha razão, eu nunca perdoaria o meu ex-namorado.
Porém, o meu coração pensava o contrário e a minha razão estava ficando cada vez mais sem força. A prova disso era o fato do Bruno ser a última pessoa que eu pensava antes de dormir e a primeira que eu pensava quando acordava. E isso se repetia por todos os dias desde que ele voltara do exterior.
Já fazia mais de 1 ano que ele tinha voltado e nós só tínhamos transado duas vezes. Em questão de proporção, esse número foi bem pequeno, visto o fogo que nós dois tínhamos juntos... O que será que estava acontecendo?
Pronto. Bastou pensar no Bruno pra ele me ligar. Naqueles últimos dias era isso que acontecia. Eu pensava e ele ligava. Era incrível.
- Oi? – atendi.
- Oi! Finalmente me atendeu, hein?
- Só atendi porque cansei de ver seu nome no visor do meu celular.
- Quem manda você fazer jogo duro? Enquanto não atendesse eu não ia desistir.
- Não esqueça que eu já mudei o número do meu celular duas vezes. Eu posso mudar de novo se for o caso.
- Que bobagem, Caio. Você não precisa fazer isso.
- Eu só não faço porque dá muito trabalho. O que quer?
- Saber notícias suas... De repente eu senti uma vontade imensa de te ligar...
Será que ele sentiu vontade de me ligar porque eu estava pensando nele?
- Eu sempre estou bem, muito obrigado. E você como está?
- Melhor agora. Eu sempre fico bem quando falo com você.
Que bonitinho...
Deitei na cama e fiquei olhando pro teto. Era bom poder olhar pro teto e não pras madeiras da beliche, como acontecia no passado.
Bruno e eu ficamos trocando ideia por um tempinho, até a chegada do Rodrigo. Ele entrou no quarto, me olhou e disse:
- Caio, tenho uma coisa pra te entregar.
- Depois a gente se fala, Bruno. Eu preciso desligar.
- Ah, já?
- Uhum. Até mais, tchau.
- Então tá, né? Tchau, se cuida...
- Você também.
- Até quando você vai ficar falando com esse idiota, Caio? – Rodrigo bufou.
- O que você quer me entregar?
- Eu te fiz uma pergunta!
- E eu não quero responder. Vai dizer o que tem pra me entregar ou não?
- Quer saber de uma coisa? Quero que você se foda! Eu não falo mais nada. Você quer sofrer? Então vai sofrer.
- Ei... Eu não te dou o direito de me ofender não, beleza?
- Você é muito burro! Sofreu pacas na mão desse desgraçado e agora está aí todo derretidinho por ele... Só sendo muito burro mesmo!
- Escuta aqui, Rodrigo... Você não é nada meu pra ficar se metendo na minha vida, entendeu? Em nenhum momento eu pedi a sua opinião, então por favor, não enche o saco. O que você quer me entregar? Fala logo, senão eu vou embora!
- Toma – ele jogou uma carta em cima da minha cama. – Estava debaixo da porta essa semana. Eu esqueci de te entregar. Já que eu não sou nada seu, então nem fala mais comigo. Cansei de gente trouxa na minha vida.
- O único trouxa daqui é você. Idiota!
- Na boa? Eu não sou obrigado a dividir o quarto com você não, sabia?
- Nem eu com você – peguei a minha carta e desci da beliche o mais rápido que pude. – Fica com ele pra você. O quarto é todo seu!
Saí correndo e fui pra laje da minha casa. Que raiva eu estava sentindo do Rodrigo... Ele não tinha o direito de me ofender daquele jeito, não tinha!!!
Fiquei próximo a luz do poste, sentei no chão e percebi que era uma carta da Dona Elvira. Ela tinha mandado já fazia uns dias. Por que o Rodrigo não me entregou no dia que ele pegou a correspondência???
Suspirei. Ele estava um chato, um verdadeiro chato naqueles últimos dias. Parei pra pensar e cheguei a conclusão que ele merecia era a minha total indiferença. E era o que ele teria.
Abri o envelope e percebi que a carta era um tanto extensa. Havia duas folhas grandes de caderno escritas na frente e no verso. Eu comecei a ler e automaticamente lembrei do rosto da Dona Elvira.
Ela me relatou tudo o que estava acontecendo na vida dela, o que não era muita coisa e por fim, me deu vários conselhos com relação aos meus problemas sentimentais.
Assim como os outros, Dona Elvira pediu para eu perdoar o Bruno. Ela disse que eu tinha que acreditar no arrependimento das pessoas e que o perdão era divino; ela disse que se eu perdoasse os erros do Bruno, eu iria acabar me aproximando de Deus.
A mulher disse ainda que ficou emocionada com o sonho que tive com a Virgem Maria. Ela disse que isso foi a prova que eu precisava para saber que não estava andando sozinho e que eu sempre deveria lembrar desse sonho.
- Mas eu nunca esqueço dele, Dona Elvira!
E era verdade mesmo. Sempre que eu me sentia sozinho, sempre que eu me sentia abandonado, automaticamente eu lembrava do sonho que tive e acabava ficando mais calmo, mais tranquilo... Pelo menos eu tinha certeza que eu nunca mais iria ficar sozinho na vida. Nunca mais!
A Dona Elvira relatou em poucas palavras a felicidade em saber da minha faculdade e disse que eu deveria avisar quando seria a minha formatura, pois ela fazia questão de estar presente nessa data.
E a recíproca era verdadeira. Eu também fazia questão dela estar presente na minha formatura e obviamente que ela seria convidada. A minha convidada de honra.
Com relação a minha família, ela disse que iria orar por todos eles e disse que eu tinha que fazer o mesmo. Muito sabiamente, Dona Elvira pediu para eu pedir sabedoria aos meus pais e ao meu irmão e disse que tinha certeza que com o tempo, todos eles iam cair em si e iam acabar me perdoando.
Perdoando o quê? Eu não tinha feito nada de errado. Os errados na história eram meu pai, minha mãe e meu irmão gêmeo.
Foi meu pai que me expulsou, foi minha mãe que não me apoiou e foi meu irmão que me humilhou. Eu não tinha feito absolutamente nada de errado para com eles, mas eles sim tinham acabado com a minha vida.
Então, se tivesse que ter perdão, teria que ser da minha parte. Não da parte deles. E eu duvidava um bocado que isso fosse acontecer.
Resolvi responder aquela carta imediatamente. Eu tinha selos e seria possível colocar a carta na caixa dos Correios ainda naquela noite. Aproveitei que estava ocioso e escrevi de novo pra Dona Elvira.
Perguntei se a mulher não tinha e-mail, porque mandar cartas era coisa do século passado, mas eu tinha certeza que ela não tinha correio eletrônico. O jeito seria voltar a era antiga e continuar mandando cartas mesmo para a minha querida amiga Dona Elvira, minha mãe do coração.
- Onde você estava, Caio? – perguntou Vinícius.
- Na laje, escrevendo uma carta para uma amiga.
- Eu te procurei e não te achei...
- Eu estou lá já faz um tempinho. Desci para pegar meu fichário e não te vi também. Enfim, vou sair e já volto.
- Onde vai?
- Colocar a carta na caixa dos Correios.
- Hum... Acho que vou com você, preciso esfriar a cabeça.
- Ainda está bravo?
- Comigo mesmo, sabe? Eu não deveria ter feito isso.
- Já falei pra você relaxar.
- Mas é tão ruim saber que a gente fez coisa errada...
- Isso é verdade. Você não vai residir hoje?
- Não. Estou de folga. Esqueceu que eu trabalho 12 por 36?
- Ah, é verdade. Esqueci que você é gente.
- Quem dera eu fosse. Vamos tomar um sorvete?
- Ai, não trouxe minha carteira...
- Eu estou convidando, eu pago!
- Não, Vini... Não precisa, imagina...
- Ai, pelo amor, né Caio? Acha que eu vou negar um sorvete pra você, garoto?
Fiquei sem graça. Ele era legal demais comigo.
- Ah, obrigado então! Prometo que depois eu te pago uma cerveja.
- Olha que eu cobro, hein?
- Pode cobrar – eu dei risada.
Coloquei a carta na caixa e em seguida a gente seguiu até a sorveteria, que não ficava longe da nossa casa.
- Quer de quê?
- Eu quero de abacaxi com vinho...
- Eu também. É meu preferido. Monta o seu então.
Montei meu sorvete, mas não caprichei para não parecer abusado. Eu nunca gostei de parecer interesseiro para ninguém.
Vinícius e eu sentamos em uma mesinha afastada do caixa e ficamos trocando ideia por um tempo. Para a minha total surpresa, o gato tocou no nome do Rodrigo e perguntou:
- Vocês brigaram ou é impressão minha?
- Está tão evidente assim, é?
- É que vocês nem estão se olhando direito...
- Brigamos e feio. Por isso que naqueles dias eu dormi fora de casa.
- Sério? Mas o que aconteceu?
- Ih, Vini... É algo tão fútil, mas eu não posso te contar.
- Não confia em mim?
- Confio, claro que eu confio, mas é que eu prometi segredo ao Rodrigo...
Por mais que eu tivesse falado para o Digão que ia contar pra todo mundo o que ele fez com a Marcela, é claro que eu estava blefando. Eu não ia abrir a boca e não ira revelar nada do que aconteceu naquele dia. Esse seria um segredo que eu levaria pro túmulo.
- Ah, entendi. Eu não vou ficar insistindo, porque nós dois também temos segredos e eu sei que você não falou pra ninguém.
- E nem falarei.
- Caio, você é foda. Parabéns por ser tão amigo assim da gente.
- Eu prezo muito por minhas amizades, acredite.
- Eu sei e isso é muito bom. Eu tiro o meu chapéu pra você, cara.
- Obrigado, Vini.
- Você tem uma força incrível. É tão novinho, já passou por tanta coisa nessa vida... Foi expulso de casa e deu a volta por cima, foi largado pelo namorado e deu a volta por cima... Trabalha, ganha razoavelmente bem, faz faculdade, faz inglês, faz academia, namora... Meu... Você é foda!
- Para, Vini – eu senti minhas bochechas queimarem. – Assim eu fico sem graça...
- Mas é que você é um exemplo pra muita gente, Caio! Sério mesmo...
- Ah, valeu. Eu tento dar o meu melhor sempre. E não me entrego facilmente.
- Percebi.
- Então, eu briguei com ele sim e acho até que vou mudar de quarto, viu?
- Por que? Não vai não...
- Ah, vou sim. Eu quero dar um tempo com o Rodrigo. Ele me ofende demais.
- Te ofende?
- Uhum. Ele briga comigo só porque eu estou falando de novo com o Bruno e quase me deixou surdo no dia que soube que eu dormi com ele.
- Você dormiu com o Bruno?
- Duas vezes – abaixei a cabeça.
- Está mais que certo. Não te julgo não!
- Viu só? Como vocês dois são diferentes? Eu queria que você fosse meu melhor amigo, não ele!
- Eu posso ser se você quiser – Vinícius riu. – A gente sempre vai ser amigo, você sabe disso.
- Eu sei, Vini. Eu gosto muito de você.
- Obrigado, obrigado. Eu sei que eu sou foda.
- Metido – sorri.
- Embora eu seja um pouquinho mais velho que você, pode confiar em mim e me contar suas coisas quando quiser, tá bom?
- O que tem você ser mais velho? Nada demais não, meu.
- Ah, são 7 anos e meio anos de diferença, Caio. Eu vivo um momento, você vive outro. Acho que é por isso que você fica mais com o Digão, porque ele tem mais ou menos a mesma faixa de idade que você.
- São quase 4 anos de diferença entre nós dois, não temos a mesma faixa etária.
- Mas 4 anos não são 8 anos.
- Isso pra mim é o de menos. O fato é que o Digow está me tirando do sério ultimamente. Eu não quero mais ficar no quarto com ele não.
- Pelo jeito não é só essa história do Bruno, né?
- Não, tem mais coisa. Eu só posso te dizer que é relacionado com a Marcela.
- Ah, é? Brigaram por causa da Marcela? Não me diga que foi por ciúmes?
- Mais ou menos, mas enfim. Ele me maltrata muito e eu quero dar um fora com isso. Vou trocar de quarto ainda hoje se possível.
- Eu acho que é uma atitude muito apressada, mas você é que sabe. Já tentou falar com o Rodrigo?
- Com ele não tem diálogo ultimamente. Depois de tudo o que ele me disse com relação ao Bruno, eu prefiro nem falar nada. Acho que a nossa amizade nunca mais será a mesma.
- Bobagem. Ele está com ciúmes do Bruno, deve ser isso.
- Ciúmes? Que nada. O Digow é só um amigo, ele não precisa sentir ciúmes do Bruno.
- Do mesmo jeito que você não precisa sentir da Marcela.
Fiquei calado. Ele tinha razão.
- Conversa com ele, Caio. Coloca tudo em pratos limpos. É o melhor que você tem a fazer.
- Será?
- Eu acho. De que adianta trocar de quarto? Vai só ser birra da sua parte.
- Ai, sei lá...
- Vamos voltar pra casa e lá vocês dois vão conversar. Eu não quero saber de brigas entre vocês dois não.
- Ai eu não sei. Ele está um chato ultimamente.
- Pois a gente vai resolver isso e é já! Vamos lá?
Aceitei. Eu não queria ficar brigado com ele, afinal ele era meu melhor amigo, né?
- Eu vou pra laje. Vai ser melhor a gente conversar lá em particular.
- Concordo – Vinícius assentiu. – Eu vou pedir pra ele ir falar com você.
- Beleza, Vini. Obrigado pela força.
- Disponha e conte comigo sempre que precisar.
Já estava esfriando. Eu olhei pro céu e fiquei encantado com a lua. Ela estava praticamente em cima da minha cabeça.
- Queria falar comigo? – a voz do Rodrigo apareceu atrás de mim de repente. Eu me assustei tanto que quase caí na rua.
- Que susto!
- Desculpa. Não foi a minha intenção. O que você quer?
- Conversar com você.
- Sobre?
- Você ainda me pergunta? Sobre tudo o que está acontecendo entre nós dois.
- Hum. Eu estou te ouvindo!
- Por que está me tratando tão mal ultimamente?
- Porque eu não aguento te ver com o Bruno. Simples assim.
- Já ouviu falar que a gente não manda no coração?
- Já, mas o seu coração é burro demais...
- Não vou admitir ofensas, Rodrigo!
- Só estou falando a minha opinião.
- Então guarde a sua opinião pra você, eu não quero ser xingado. Não mereço isso.
- Vocês voltaram?
- Não. E não vamos voltar.
- Então por que dormiu com ele naquele dia?
- Porque simplesmente eu não consegui me segurar. Foi mais forte do que eu, entende?
- Não. Não entendo como você pode gostar dele depois de tudo o que ele te fez, Caio.
- Eu também não, Rodrigo, mas eu não mando no meu coração, poxa vida!!!
- Você tem que aprender a dizer não pra ele. Simples assim.
- Eu tento, mas não é tão fácil como parece.
- É fácil sim, basta você querer.
- Você não entende o que eu sinto por ele, cacete.
- Não mesmo. Não sei como você pode gostar dele desse jeito.
- Eu gosto mesmo. E assumo. Eu amo o Bruno e se for o caso eu vou voltar com ele!
- Porque você é um burro, isso sim!
- Não me xinga de burro, eu não admito isso!
- Xingo sim, porque é isso que você é!
- Para com isso, caralho! – eu me irritei de verdade. – Eu quero colocar tudo em pratos limpos, não quero estragar a nossa amizade de vez!
- Eu também não queria, mas prefiro estragar a amizade ao ver você sofrer tudo de novo por causa daquele nojento...
- Cala a boca, Rodrigo! Não chama o Bruno de nojento!
- Por que não? Ele é um completo imbecil, é isso que ele é!
- E a Marcela é uma completa vaca!
- NÃO FALA O NOME DA MARCELA!
- ENTÃO NÃO FALA O NOME DO BRUNO!
A gente bufou ao mesmo tempo e um fuzilou o outro com os olhos. Se olhar matasse, eu estaria morto naquele momento.
- Idiota – falei.
- Imbecil.
- Melhor ser imbecil do que transar na cama alheia, né? Pelo menos eu transei com o Bruno na cama dele, não na sua!
- Transei mesmo e não me arrependo! Transaria de novo se tivesse a oportunidade!
- Então transa! Quem está te impedindo? Por mim você usa as 8 camas que tem na casa, o problema é todo seu!
- Seu ridículo!
- Ridículo é você, Rodrigo. Eu venho aqui na maior humildade tentar resolver tudo entre nós dois e você me trata desse jeito? Belo melhor amigo que você é, hein?
- Que culpa que eu tenho se você não sabe fazer as coisas?
- EU NÃO MANDO NO MEU CORAÇÃO, CARALHO!
- Pois deveria mandar. Se seu coração é burro desse jeito, dá um jeito pra ele virar inteligente!
- EU NÃO ESCOLHO QUEM AMO, ENTENDEU?
- Percebi, Caio. Percebi direitinho...
- Pelo jeito você nunca se apaixonou de verdade, né? Pelo visto você não sabe o que é amor de verdade, Rodrigo. Se soubesse você não iria me julgar desse jeito.
- Está falando que eu não sei amar, Caio?
- Se foi isso que você entendeu, o problema não é meu!
Ele ficou calado.
- Vai parar de falar do Bruno?
- Vai parar de sair com ele?
- Eu não saio com ele, Rodrigo. Que coisa!
- Então com quem você transou? Só se foi com outro Bruno...
- Eu vou direto ao ponto: você vai querer continuar sendo meu amigo ou não?
Rodrigo mais uma vez ficou calado.
- Pelo jeito não, né? – eu suspirei. – Beleza então. Eu vou pegar as minhas coisas e vou pro outro quarto. Eu durmo no chão se for o caso, mas com você eu não durmo mais.
Saí andando e quando eu ia descer o primeiro degrau para voltar pra lavanderia o Rodrigo me chamou.
- Espera, Caio...
Eu parei, mas não olhei pra trás.
- Vem aqui, por favor...
- O que é? Vai me chamar de burro de novo?
- Não... Eu não quero que você saia do quarto...
- Então saia você!
- Não, eu também não vou sair. Não precisa disso, né?
Pelo menos naquele momento ele foi maduro.
- Acho que a gente está sendo criança demais, Caio – Rodrigo abriu um sorriso amarelo.
- Eu também acho – concordei, com a cabeça baixa.
- Eu não tenho que me meter na sua vida, cara.
Fiquei calado.
- A vida é sua, você fica com quem você quiser.
- Eu não vou ficar com o Bruno, pode ficar tranquilo.
- Isso me deixa muito aliviado. Caio, eu só quero o seu bem, acredite em mim...
Voltei a encará-lo.
- Eu gosto de você, moleque... Eu te amo, você sabe disso. Eu não quero te ver sofrer novamente, entende? Só eu sei o quanto você sofreu quando ele foi embora...
- Eu sei, Digow...
- Você quase se matou, se não fosse eu, você estaria morto agora...
- Eu sei disso e serei eternamente grato por você ter salvo a minha vida.
- Você salvou a minha também, lembra?
- Como eu ia esquecer?
- Escuta bem, Caio: a última coisa que eu quero nesse mundo é ver o seu sofrimento de novo, entendeu? Não volta com o Bruno, ele pode te fazer mal, muito mal.
- Eu não vou voltar, fica tranquilo.
- Eu sinto muita raiva só de pensar que você fala com ele, só de pensar que você o vê, que você fica com ele, que você transa com ele... Isso me dá uma raiva que você não tem noção!
- Eu te entendo, isso me deixa enfurecido também.
- Então não sai mais com ele, não fica mais com ele, por favor! Não deixa o sofrimento voltar tudo de novo, logo agora que você está bem.
- Mas... Ele mudou...
- Não mudou não! Uma vez cafajeste, sempre cafajeste. Ele quase acabou com a sua vida e eu não quero que isso aconteça de novo. Eu te amo, eu te amo muito e não quero que você sofra por causa dele, Cacs...
Só nesse momento eu me derreti todinho.
- Eu te amo também, seu cachorro!
- Me perdoa por ter te xingado?
- Você está sendo um ogro ultimamente.
- Eu sei que estou sendo chato, eu não estou tendo dias legais nesses últimos tempos e estou descontando em quem menos merece. Me perdoa, por favor?
- Não sei se você merece...
- Por favor? – ele segurou a minha mão.
- Tudo bem, eu perdoo. Desde que você nunca mais me xingue assim.
- Prometo que vou tentar me controlar.
- Tentar?
- E quero que você prometa que vai tentar não cair na lábia do Bruno.
- Eu já estou tentando, eu estou tentando...
- Então me desculpa? De coração?
- Desde que você me desculpe também por qualquer coisa...
- Eu já te desculpei, bobão...
- Sei lá... Às vezes eu te acho tão frio comigo...
- E eu acho você frio comigo!
- Então vamos esquentar a nossa amizade de novo? – propus.
- Desde que ela nunca mais esfrie, sim.
- Da minha parte eu farei o possível para isso acontecer.
- Da minha parte também!
Nos abraçamos com muita força.
- Ah, Cacs...
- Digow...
- Te amo, filho da puta!
- Te amo, cachorro sarnento.
- Au, au!
Eu sempre dava risada quando ele latia desse jeito. Que bom. Pelo menos um de meus problemas estava resolvido...
Eu tinha certeza que de minha parte a amizade nunca mais iria balançar, mas restava saber se da parte dele aconteceria a mesma coisa.
Ficar brigado com o Rodrigo era algo que me deixava vazio. Parecia que faltava uma parte de mim, parecia que eu vivia sem uma parte do meu corpo... Fazer as pazes com ele trouxe essa parte de volta e me fez voltar a viver praticamente por completo.
Eu só não voltei a viver por completo, porque faltava outra parte que vivia dentro de mim: o Bruno.
VÁRIOS DIAS DEPOIS...
Depois de 2 semanas, era a hora de rever o meu
namorado. Naquele dia, ele estava completando 17 aninhos de vida. O auge dos
hormônios, o auge da puberdade, o auge da adolescência. E é claro que eu não
pude deixar a data passar em branco.
Eu fiquei em dúvida com relação ao presente que ia dar pro Murilo e no fim das contas acabei comprando uma roupa especial para surfistas.
Como ele era fanático por surf, aquele seria o presente ideal, eu só não imaginava que ele fosse gostar tanto como aparentou gostar:
- MEU, EU AMEI! VALEU MESMO!
- Calma, não precisa gritar – eu dei risada.
- Eu nem acredito numa coisa dessas, cara... Pô, valeu mesmo, “Caiô”!
- De nada, “Murilô”. Mas eu ainda estou inconformado por você ter mentido a data do seu aniversário! – reclamei.
- Desculpa aí, eu só tava zoando naquele dia...
Murilo disse que fazia aniversário em junho, mas na verdade fazia em maio. 12 de maio. Eu fiquei puto da vida com ele quando descobri a verdade.
- Coisa de criança isso, mas beleza. Que bom que você curtiu o presente.
- Eu amei, amei, amei. Como sabia que eu precisava de uma dessas?
- Ah, sei lá... Você surfa tanto...
- Cara, vou inaugurar agora. Vamos pra praia?
- Está louco? Surfar essa hora? Já está de noite...
- Não tem problema, eu sou acostumado... Topa ir pra praia comigo?
- Ah, topar eu topo, mas não é meio tarde pra você pegar onda?
- É nada! Não vai acontecer nada... Sério, vamos?
- Então vamos, né?
- Mas antes eu vou te agradecer.
Pela primeira vez desde que eu aceitara o pedido de namoro do Murilo, ele me pegou com força de verdade.
Não que isso não tivesse acontecido antes, até aconteceu, mas não com tanta intensidade igual aquele momento. O beijo dele foi tão bom que eu fiquei até com meu pênis duro.
- Uau! – exclamei. – Que beijo bom!
- Você merece. Muito obrigado pelo presente. Eu amei!
- Por nada, lindinho. Fico feliz em ter acertado.
- Vamos inaugurar, vem comigo.
Murilo e eu descemos até a Praia de Ipanema e bastou ver o mar para ele ficar mais elétrico ainda.
O menino tirou a camiseta e colocou a roupa que eu dei pra ele. Esta caiu como uma luva e o bofinho mirim ficou bem charmoso.
- Ficou gatinho, hein?
- Obrigado, Caio! Culpa sua...
- Culpa minha nada, quem manda ser gato?
- Besta. Quer que eu te ensine a surfar?
- Numa hora dessas? Quero não, meu filho. Muito obrigado. Prefiro ficar assistindo você se divertir.
- Bobão, Eu vou te ensinar qualquer dia desses, você vai ver.
- Em um dia lindo e ensolarado eu posso até pensar, mas de noite não. Vai, vai surfar. Eu quero ver você em ação.
- Eu não demoro.
Murilo saiu correndo com a prancha e eu fiquei meio preocupado. Será que não era tarde demais para ele cair no mar?
Não, não era. Passava das 19 horas, o céu já estava escuro, mas ele não era o único que estava no mar. Havia outras pessoas e isso me deixou mais tranquilo. Ele deveria saber o que estava fazendo.
Sentei e fiquei olhando. O gatinho pegou a primeira onda e se saiu muito bem. Pelo jeito ele era experiente mesmo no assunto.
Ver o mar me deixou pensativo. Eu pensei no Bruno e quis saber como ele estava. Será que era legal ligar pra ele? Não. Era melhor não.
Fazia 1 ano. Exatamente 1 ano que a gente se reencontrou. Eu não pude esquecer aquela data. 11 de maio. Mesmo estando no dia 12, eu ainda estava sentindo a energia daquela data na minha vida.
1 ano... O tempo estava passando rápido demais... Rápido demais...
Se fosse outro, naquela altura do campeonato nós já teríamos voltado, mas como eu era teimoso, burro e não acreditava nele, nós sequer tínhamos nos resolvido.
Droga! Ficar pensando nele me deixou saudoso e a vontade de ligar acabou aumentando...
Tentei focar no Murilo. Ele pegou várias e várias ondas e não pareceu cansar um segundo sequer. O menino parecia até um peixinho dentro d’água. Até aquele momento, ele era a pessoa que eu conhecia que mais curtia ficar dentro do mar.
De repente eu parei de ver o Murilo e fiquei prestando a atenção em um jogo de vôlei que acontecia perto de mim. Era um homem, uma mulher e um casal de adolescentes. E eu parecia conhecer aqueles adolescentes.
Fiquei olhando, olhando, olhando e sem mais nem menos me lembrei dos irmãos mais novos do Bruno, que na verdade eram sobrinhos e cheguei a conclusão que eram eles.
Eles estavam mudados, estavam crescidos, mas eu tinha certeza que se tratava deles. E aqueles adultos provavelmente eram os pais deles.
Então aquele cara era o tal do Luciano? O irmão mais velho do Bruno que tinha feito tanto mal a ele?
Eles se pareciam e pareciam muito. O Luciano era um Bruno envelhecido e isso me fez crer que tanto ele quanto o irmão, deveriam parecer muito com o pai, visto que eram filhos de mães diferentes.
E o menino mais novo, o tal do Leonardo, também parecia com os dois, porém em menos aspectos. A menina não, Ela era a cara da mãe, mas tinha os olhos do pai e do tio. Malditos olhos azuis...
Olhei tanto pra eles que esqueci até do Murilo. Só depois de um tempão eu voltei a fitar o mar e não vi mais o meu namorado. Onde ele estaria?
Dei de ombros. Ele deveria estar em algum lugar na praia, por isso voltei a encarar o jogo de vôlei que a família do Bruno estava fazendo e não parei mais de fitar o tal do Luciano.
Aquele desgraçado foi o responsável pela minha separação com o irmão dele. Se eu pudesse, daria um soco na cara dele ali na praia mesmo, mas é claro que eu não podia fazer isso.
Encarei tanto aquelas pessoas que acabei sendo notado. A menina chamou o irmão e cochichou alguma coisa no ouvido dele. Ele também me encarou.
Voltei a olhar pro mar e nada do Murilo. A ausência dele me deixou preocupado. Será que tinha acontecido alguma coisa?
- Oi? – uma voz feminina soou no meu ouvido.
Eu virei e vi a sobrinha do Bruno à centímetros de distância.
- Tudo bem? Você é o Caio, não é?
- Sou. E você é a irmã do Bruno, não é?
- Sobrinha – ela me corrigiu com um sorriso.
- Hum... Sobrinha...
Isso só me fazia acreditar mais uma vez na história da adoção.
- Aceita jogar vôlei com a gente? – ela perguntou.
- Não... Como você se chama mesmo? – me fiz de sonso. Eu sabia o nome dela.
- Pâmela, mas pode me chamar de Brit.
- Brit?
- É porque eu sou muito fã da Britney Spears... – ela ficou vermelha.
- Ah, entendi – eu sorri e voltei a olhar pro mar. – Não, Brit. Muito obrigado pelo convite. Eu não quero jogar vôlei.
- Tudo bem então. É que eu vi você olhando... Pensei que estivesse com vontade de jogar.
- Desculpe ter olhado. Eu só estava me perguntando se você era você mesmo, entende?
- Entendi – ela riu. – Sou eu sim, a sobrinha do seu namorado.
- O Bruno não é meu namorado – respondi de imediato.
- Ah, desculpa... Eu não sabia que vocês tinham terminado...
- Faz tempo. Desde que ele me largou sozinho e foi morar na Espanha com quem quer que seja.
- Com o padrinho dele. Você não sabia que ele foi com o padrinho?
- Acho que ele me contou, mas eu não acreditei.
- Se ele disse isso, ele disse a verdade. Meu pai que chamou o padrinho dele pra vir buscá-lo. E ele não queria ir, diga-se de passagem.
- Por que está me dizendo isso? Foi o Bruno que mandou você falar?
- Não. Eu quase não tenho falado com o meu tio, ele não está mais próximo da minha família como antes, infelizmente.
- Não está?
- Não. Desde que meu pai o expulsou de casa, ele nunca mais foi lá. Eu só falo com ele por telefone e muito esporadicamente. Se você o vir ou falar com ele, por favor, avisa que eu e o Léo ainda estamos vivos?
Meu coração foi pras cucuias.
- A-aviso – falei, olhando para a menina.
- Obrigada! Boa noite!
- Boa noite...
Então era verdade mesmo? A sobrinha dele confirmou a mesma versão que ele me contou, a mesma versão que ele disse pro Vítor no banheiro do shopping e a mesma versão que a Do Carmo falou quando leu o Tarô...
Será que... Será que o Bruno... Falou a verdade o tempo todo???
Será que eu estava sendo... Injusto com o meu ex-namorado? Será que eu estava desacreditando dele quando ele estava falando a verdade??? Será que o Bruno saiu do país sem querer como ele mesmo me disse várias e várias vezes??? Será que eu estava cometendo a maior, a maior injustiça da minha vida e estava sofrendo à toa???
Eu fiquei em dúvida com relação ao presente que ia dar pro Murilo e no fim das contas acabei comprando uma roupa especial para surfistas.
Como ele era fanático por surf, aquele seria o presente ideal, eu só não imaginava que ele fosse gostar tanto como aparentou gostar:
- MEU, EU AMEI! VALEU MESMO!
- Calma, não precisa gritar – eu dei risada.
- Eu nem acredito numa coisa dessas, cara... Pô, valeu mesmo, “Caiô”!
- De nada, “Murilô”. Mas eu ainda estou inconformado por você ter mentido a data do seu aniversário! – reclamei.
- Desculpa aí, eu só tava zoando naquele dia...
Murilo disse que fazia aniversário em junho, mas na verdade fazia em maio. 12 de maio. Eu fiquei puto da vida com ele quando descobri a verdade.
- Coisa de criança isso, mas beleza. Que bom que você curtiu o presente.
- Eu amei, amei, amei. Como sabia que eu precisava de uma dessas?
- Ah, sei lá... Você surfa tanto...
- Cara, vou inaugurar agora. Vamos pra praia?
- Está louco? Surfar essa hora? Já está de noite...
- Não tem problema, eu sou acostumado... Topa ir pra praia comigo?
- Ah, topar eu topo, mas não é meio tarde pra você pegar onda?
- É nada! Não vai acontecer nada... Sério, vamos?
- Então vamos, né?
- Mas antes eu vou te agradecer.
Pela primeira vez desde que eu aceitara o pedido de namoro do Murilo, ele me pegou com força de verdade.
Não que isso não tivesse acontecido antes, até aconteceu, mas não com tanta intensidade igual aquele momento. O beijo dele foi tão bom que eu fiquei até com meu pênis duro.
- Uau! – exclamei. – Que beijo bom!
- Você merece. Muito obrigado pelo presente. Eu amei!
- Por nada, lindinho. Fico feliz em ter acertado.
- Vamos inaugurar, vem comigo.
Murilo e eu descemos até a Praia de Ipanema e bastou ver o mar para ele ficar mais elétrico ainda.
O menino tirou a camiseta e colocou a roupa que eu dei pra ele. Esta caiu como uma luva e o bofinho mirim ficou bem charmoso.
- Ficou gatinho, hein?
- Obrigado, Caio! Culpa sua...
- Culpa minha nada, quem manda ser gato?
- Besta. Quer que eu te ensine a surfar?
- Numa hora dessas? Quero não, meu filho. Muito obrigado. Prefiro ficar assistindo você se divertir.
- Bobão, Eu vou te ensinar qualquer dia desses, você vai ver.
- Em um dia lindo e ensolarado eu posso até pensar, mas de noite não. Vai, vai surfar. Eu quero ver você em ação.
- Eu não demoro.
Murilo saiu correndo com a prancha e eu fiquei meio preocupado. Será que não era tarde demais para ele cair no mar?
Não, não era. Passava das 19 horas, o céu já estava escuro, mas ele não era o único que estava no mar. Havia outras pessoas e isso me deixou mais tranquilo. Ele deveria saber o que estava fazendo.
Sentei e fiquei olhando. O gatinho pegou a primeira onda e se saiu muito bem. Pelo jeito ele era experiente mesmo no assunto.
Ver o mar me deixou pensativo. Eu pensei no Bruno e quis saber como ele estava. Será que era legal ligar pra ele? Não. Era melhor não.
Fazia 1 ano. Exatamente 1 ano que a gente se reencontrou. Eu não pude esquecer aquela data. 11 de maio. Mesmo estando no dia 12, eu ainda estava sentindo a energia daquela data na minha vida.
1 ano... O tempo estava passando rápido demais... Rápido demais...
Se fosse outro, naquela altura do campeonato nós já teríamos voltado, mas como eu era teimoso, burro e não acreditava nele, nós sequer tínhamos nos resolvido.
Droga! Ficar pensando nele me deixou saudoso e a vontade de ligar acabou aumentando...
Tentei focar no Murilo. Ele pegou várias e várias ondas e não pareceu cansar um segundo sequer. O menino parecia até um peixinho dentro d’água. Até aquele momento, ele era a pessoa que eu conhecia que mais curtia ficar dentro do mar.
De repente eu parei de ver o Murilo e fiquei prestando a atenção em um jogo de vôlei que acontecia perto de mim. Era um homem, uma mulher e um casal de adolescentes. E eu parecia conhecer aqueles adolescentes.
Fiquei olhando, olhando, olhando e sem mais nem menos me lembrei dos irmãos mais novos do Bruno, que na verdade eram sobrinhos e cheguei a conclusão que eram eles.
Eles estavam mudados, estavam crescidos, mas eu tinha certeza que se tratava deles. E aqueles adultos provavelmente eram os pais deles.
Então aquele cara era o tal do Luciano? O irmão mais velho do Bruno que tinha feito tanto mal a ele?
Eles se pareciam e pareciam muito. O Luciano era um Bruno envelhecido e isso me fez crer que tanto ele quanto o irmão, deveriam parecer muito com o pai, visto que eram filhos de mães diferentes.
E o menino mais novo, o tal do Leonardo, também parecia com os dois, porém em menos aspectos. A menina não, Ela era a cara da mãe, mas tinha os olhos do pai e do tio. Malditos olhos azuis...
Olhei tanto pra eles que esqueci até do Murilo. Só depois de um tempão eu voltei a fitar o mar e não vi mais o meu namorado. Onde ele estaria?
Dei de ombros. Ele deveria estar em algum lugar na praia, por isso voltei a encarar o jogo de vôlei que a família do Bruno estava fazendo e não parei mais de fitar o tal do Luciano.
Aquele desgraçado foi o responsável pela minha separação com o irmão dele. Se eu pudesse, daria um soco na cara dele ali na praia mesmo, mas é claro que eu não podia fazer isso.
Encarei tanto aquelas pessoas que acabei sendo notado. A menina chamou o irmão e cochichou alguma coisa no ouvido dele. Ele também me encarou.
Voltei a olhar pro mar e nada do Murilo. A ausência dele me deixou preocupado. Será que tinha acontecido alguma coisa?
- Oi? – uma voz feminina soou no meu ouvido.
Eu virei e vi a sobrinha do Bruno à centímetros de distância.
- Tudo bem? Você é o Caio, não é?
- Sou. E você é a irmã do Bruno, não é?
- Sobrinha – ela me corrigiu com um sorriso.
- Hum... Sobrinha...
Isso só me fazia acreditar mais uma vez na história da adoção.
- Aceita jogar vôlei com a gente? – ela perguntou.
- Não... Como você se chama mesmo? – me fiz de sonso. Eu sabia o nome dela.
- Pâmela, mas pode me chamar de Brit.
- Brit?
- É porque eu sou muito fã da Britney Spears... – ela ficou vermelha.
- Ah, entendi – eu sorri e voltei a olhar pro mar. – Não, Brit. Muito obrigado pelo convite. Eu não quero jogar vôlei.
- Tudo bem então. É que eu vi você olhando... Pensei que estivesse com vontade de jogar.
- Desculpe ter olhado. Eu só estava me perguntando se você era você mesmo, entende?
- Entendi – ela riu. – Sou eu sim, a sobrinha do seu namorado.
- O Bruno não é meu namorado – respondi de imediato.
- Ah, desculpa... Eu não sabia que vocês tinham terminado...
- Faz tempo. Desde que ele me largou sozinho e foi morar na Espanha com quem quer que seja.
- Com o padrinho dele. Você não sabia que ele foi com o padrinho?
- Acho que ele me contou, mas eu não acreditei.
- Se ele disse isso, ele disse a verdade. Meu pai que chamou o padrinho dele pra vir buscá-lo. E ele não queria ir, diga-se de passagem.
- Por que está me dizendo isso? Foi o Bruno que mandou você falar?
- Não. Eu quase não tenho falado com o meu tio, ele não está mais próximo da minha família como antes, infelizmente.
- Não está?
- Não. Desde que meu pai o expulsou de casa, ele nunca mais foi lá. Eu só falo com ele por telefone e muito esporadicamente. Se você o vir ou falar com ele, por favor, avisa que eu e o Léo ainda estamos vivos?
Meu coração foi pras cucuias.
- A-aviso – falei, olhando para a menina.
- Obrigada! Boa noite!
- Boa noite...
Então era verdade mesmo? A sobrinha dele confirmou a mesma versão que ele me contou, a mesma versão que ele disse pro Vítor no banheiro do shopping e a mesma versão que a Do Carmo falou quando leu o Tarô...
Será que... Será que o Bruno... Falou a verdade o tempo todo???
Será que eu estava sendo... Injusto com o meu ex-namorado? Será que eu estava desacreditando dele quando ele estava falando a verdade??? Será que o Bruno saiu do país sem querer como ele mesmo me disse várias e várias vezes??? Será que eu estava cometendo a maior, a maior injustiça da minha vida e estava sofrendo à toa???
 

















 
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