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ui direto pro ponto de ônibus e não pensei duas vezes em entrar no primeiro
coletivo que apareceu na minha frente.

Nem sei para onde esse ônibus ia, mas também não me importei com isso. Eu só queria ficar longe do Rodrigo para poder colocar a minha cabeça em ordem.
Não entendi por qual motivo eu estava sentindo tanto ciúme do garoto, sendo que ele era apenas o meu melhor amigo, meu irmão postiço.
Se fosse uma pessoa normal, eu não sentiria absolutamente nada com aquela transa, mas tratando-se do Digow, algo dentro de mim ficou com muita raiva dele e ao mesmo tempo com muito, muito ciúme também.

Claro que eu sabia que nós éramos e sempre seríamos apenas bons amigos, no máximo irmãos, mas mesmo assim foi impossível frear a raiva que eu senti dele ao saber que ele havia levado a namorada lá em casa pra fazer sexo em cima da minha cama.
Ele não estava certo, ele estava errado. O Vinícius sempre foi claro ao dizer que não podíamos levar nenhuma mulher pra república para esse intuito e foi exatamente o que ele fez.
Entretanto, o próprio Vinícius já tinha feito isso no passado e quem poderia me garantir que mais algum dos meninos já não tivesse feito o mesmo?
E tem mais: quem era eu para julgar se eu mesmo já tinha transado com o Kléber naquela casa???
Opa, era melhor eu pensar melhor nas minhas atitudes! Eu não tinha o direito de julgar o Rodrigo, afinal eu mesmo já havia feito o mesmo.
A diferença estava só no local que foi feito. Eu usei a minha cama e não a dele. Ele deveria ter feito o mesmo com a namorada.
Transar com a Marcela na minha cama foi sacanagem, ainda mais sabendo ele que eu tinha ciúmes daquela garota... Mas em contrapartida, ele tinha razão quando dizia que na cama dele seria perigoso. Eles poderiam mesmo cair, uma vez que a cama era de solteiro e ficava literalmente nos ares.
Mas se o Rodrigo fosse outro, ele teria feito em qualquer lugar, menos na minha cama. Acho que no fundo, era esse o motivo da minha raiva. Eu achei isso meio que um desrespeito para comigo. Será que ele entenderia isso?

E por qual motivo ele reagiu tão agressivamente quando eu disse que havia visto a namorada dele pelada?
Ele não precisava ter me dado uma chave de pescoço... Ele podia ter sido muito menos agressivo, já que ele sabia que aquilo pra mim não tinha feito nenhuma diferença. Se eu pudesse, nem teria visto aquela cena horrorosa!
Mas ao mesmo tempo, eu entendi que também estava errado naquela história. Eu podia simplesmente ter ido embora ou ter ficado na minha. Talvez o melhor a ter sido feito naquela situação, era não ter exposto tanto o meu ciúme como eu expus...
Eu queria saber como ficaria a nossa relação daquele dia em diante. O Rodrigo me machucou com aquela agressividade e eu deixaria isso bem claro quando fosse o momento oportuno.
Que raiva eu estava sentindo da Marcela. Eu não queria vê-la nem pintada de ouro na minha frente, senão eu não seria capaz de segurar a fera que existia dentro de mim.
- Vadia! Vacilão!
Eu que pensei que a minha razão só brigava com o meu coração quando tratava-se do Bruno, acabei caindo do cavalo e mais uma vez me vi rodeado de perguntas e contestações. Isso sempre me deixava irritado. Eu odiava quando existia uma guerra dentro de mim, simplesmente odiava e parecia que naquele domingo a guerra não teria trégua nunca!
Por um lado, eu estava fervendo de ciúmes do Rodrigo, mas por outro eu estava era com raiva das minhas atitudes.
Por que diabos eu tinha que ser tão estourado? Por que eu não conseguia controlar os meus sentimentos? Por que eu não conseguia controlar a minha raiva e o meu ciúme?
O mesmo aconteceu com o Bruno. Bastou vê-lo acompanhado por um garoto que eu fui logo tirar satisfação com ele. Por que diabos fiz isso?
Eu não era dono do Rodrigo e ele tinha o direito de transar com quem quisesse. Eu fui imaturo demais com meu melhor amigo e isso não poderia ter acontecido.
Com o Bruno até era diferente. Mesmo que eu não fosse dono dele, eu sentia algo muito forte por ele e isso sim era justificável. Com ele eu poderia sentir ciúmes e era até natural, uma vez que eu o amava com todo o meu coração.
Mas sentir ciúme do Rodrigo? Isso não poderia ser normal. Poderia?
Sim, poderia. Ele era praticamente o meu irmão... Como não poderia sentir ciúme dele? Claro que poderia...
O próprio Digão sentia ciúme de mim também... Qual era a diferença? Eu não estava totalmente errado naquela situação...
Se eu estava errado, ele também estava. O fato era que nós dois tínhamos errado. Ele errou e eu também errei em ter feito aquele barraco sem necessidade.
Mas eu ainda estava com raiva e o certo naquele momento era deixar o tempo passar, a cabeça esfriar para depois falar com o Rodrigo e colocar tudo em pratos limpos. Eu tinha certeza que nós íamos voltar a ser bons amigos. Ou será que eu estava enganado?
Por incrível que pareça, o ônibus que eu peguei me levou ao bairro onde eu estudava e trabalhava. Ainda bem que pelo menos eu fiquei em um canto conhecido.
Desci e resolvi ir pra praia. Já fazia uns dias que eu não via o mar e vê-lo iria acabar me acalmando um pouco. Pelo menos eu ia conseguir colocar a cabeça no lugar.
Fui até a Praia da Barra e como já estava de noite, não tive nenhuma dificuldade para encontrar um lugar para sentar na beira do oceano.
Sentei e fiquei olhando o vai-e-vem das ondas. O barulho e o cheiro da maresia me fizeram refletir ainda mais e eu repensei em tudo o que já havia pensado.
- Rodrigo safado!
Era a hora de colocar tudo na balança. Era hora de saber onde eu estava errando e onde eu estava acertando.
A única coisa que não poderia continuar acontecendo era a minha imaturidade para alguns aspectos da minha vida.

Eu não agi de forma correta com o Rodrigo e precisava me desculpar. Eu precisava conversar com o meu amigo, para enfim colocar tudo no seu devido lugar.
A gente não namorava e nunca iria namorar. Como ele mesmo tinha dito, ele gostava de mulher e eu tinha que respeitar a decisão dele. Não que eu desrespeitasse a sexualidade do Rodrigo, mas acho que no fundo eu ainda deveria ter alguma espécie de esperança que um dia a gente fosse ficar juntos.
O que mais me deixava intrigado e chateado foi a agressividade com a qual ele me atacou. Eu não esperava por aquilo...
Talvez ele só tenha ficado bravo comigo. Na hora da raiva e da emoção, a gente não mede o que fala, nem o que faz. Eu mesmo já tinha agredido várias pessoas... Por que ele não poderia fazer o mesmo comigo?
Acho que talvez pelo fato de nós dois sermos melhores amigos? Quem sabe. E se fosse o contrário? E se ele tivesse me pegado na cama com o Murilo ou quem quer que fosse? Será que eu agiria da mesma forma?
Acho que eu nunca seria capaz de levantar um dedo pro Rodrigo. Por mais que eu tivesse dito que estava com vontade de socar a cara dele, ele deveria saber que aquilo era só da boca pra fora. Era só uma força de expressão.
Ele não me agrediu fisicamente, mas aquela chave de pescoço me deixou mesmo sem ar. Ele poderia ter se controlado um pouco mais.
E eu? Não poderia ter me controlado? Claro que sim, mas em nenhum momento eu o agredi fisicamente.
Mas o agredi com palavras. E sempre agredia a Marcela também. Ia chegar uma hora que o Rodrigo ia cansar de ouvir ofensas para com a namorada e mais cedo ou mais tarde, ele ia acabar tomando satisfações.
Foi o que ele fez. Ele só defendeu o que era dele, não é? E quem era eu para ofender quem quer que fosse? Mesmo que fosse de brincadeira?
Eu ofendia as pessoas e não gostava de ser ofendido? Não gostava de ser chamado de veado, nem de qualquer coisa do tipo, então por que eu estava ofendendo a Marcela?

- Ai que vergonha...
Sim, eu fiquei envergonhado. Bastou pensar um pouco, bastou deixar o sangue esfriar para as ideias ficarem coerentes e eu enxergar o que realmente estava acontecendo.
Quem estava mais errado na situação talvez fosse eu. O Rodrigo apenas se defendeu, apenas defendeu a Marcela e defendeu o relacionamento dos dois. Ele estava certo nesse ponto.
Eu é que estava errado em ter ficado na casa com os dois juntos, mas foi muito mais forte que eu.
Como eu poderia ir embora de casa e deixar de ouvir o que havia acontecido entre os dois? Eu precisava ouvir, eu tinha que ouvir. Eu só não sabia explicar o motivo, mas eu não podia sair daquela casa.
E talvez eu não estivesse tão errado assim; afinal, tudo aconteceu na minha casa, no meu quarto e na minha cama. Eu vi, mas qualquer um dos caras poderia ter visto também.
A culpa era do Rodrigo. Do Rodrigo e da Marcela. Mais dele do que dela. Mais dele do que de mim. Quem mandou eles deixarem tudo aberto e não serem discretos???
Já fazia um tempo que eu tinha saído de casa. O Rodrigo poderia ter juntado 2 + 2 e ter pensado que eu poderia chegar a qualquer momento.
Quem mandou eles não controlarem o tesão e o desejo? Eu não era culpado de nada... O único culpado foi ele!
Suspirei e continuei de olho no oceano, mas segundos depois a minha atenção foi desviada para um barulho esquisito. Parecia tiro!

Mas não era. Era rojão e eu tive a prova disso quando olhei pro céu. Provavelmente alguém tinha feito algum gol ou qualquer coisa do tipo. Ainda bem que não era tiro.
Só assim eu pude ficar mais um tempo na praia e esse tempo me fez muito bem. Eu não só consegui colocar a cabeça no lugar com relação ao que tinha acontecido com o Rodrigo, como também consegui até pensar um pouco no Bruno.
Ele estava me fazendo falta e eu cheguei a cogitar a possibilidade de ir até o apartamento dele. Será que seria uma boa ideia passar a noite lá?
MAS DE JEITO NENHUM! Era melhor passar a noite em um albergue do que dormir no apartamento do Bruno!!!
Eu poderia passar a noite em qualquer lugar, menos na minha casa. Por mais que a minha cabeça já estivesse mais fria, eu ainda estava sentindo um pouco de raiva do Rodrigo e também um pouco de ciúme. Eu não podia simplesmente voltar naquela noite. Eu não ia ser tão fácil daquele jeito.
Mas onde eu ia dormir? Eu só estava com algumas coisas da faculdade e com duas ou três mudas de roupas. Isso não ia dar pra muito tempo...
Pensei na Janaína, mas eu não podia simplesmente me convidar para dormir na casa dela. Isso seria antiético demais. O mesmo aconteceria com a Alexia ou com qualquer outro amigo.
Eu tinha duas opções: ou dormia em casa, ou dormia em algum hotel. E é claro que eu achei melhor a segunda opção, não é mesmo?
Mas qual hotel? Eu tinha dinheiro suficiente para me virar fora de casa por alguns dias, mas não poderia me dar ao luxo de torrar a minha grana por causa do Rodrigo.
Foi por esse motivo que eu decidi voltar ao Catete e me hospedar em algum dos pulgueiros que havia na região. Se fosse o caso eu poderia até procurar o Seu Manollo... Será que tinha quarto naquele lugar?
O jeito era encarar a realidade e ir em busca de um lugar para passar a noite. Eu só não ia voltar pra casa e também não ia atrás do Bruno.
Mas por outro lado, pensando de uma maneira mais materialista, o apartamento do meu ex ia me dar muito aconchego e conforto. A hospedaria do Seu Manollo não ia me oferecer nada disso, mas lá eu pelo menos ficaria em paz e poderia dormir tranquilamente.
Se eu fosse pro Bruno, eu provavelmente iria cair em tentação. Provavelmente nada, eu IRIA cair em tentação e isso eu não queria.
Pelo menos não o meu lado razão, porque o meu lado emoção, o meu lado sentimento estava simplesmente gritando para eu ligar pro Bruno.

Até cheguei a pegar o celular e selecionei o nome dele na agenda, mas a minha cabeça não deixou eu apertar o botão verde. Isso me deixou agradecido.
Ficar com o Bruno iria me desestressar muito, mas por outro lado ia me trazer sentimentos ruins e eu não queria ficar com ódio de mais ninguém.
O melhor seria ficar sozinho em um hotel mesmo. Pelo menos com meus sentimentos eu poderia brigar em paz, sem ninguém me julgar ou qualquer coisa do tipo.
Me despedi do mar, levantei e saí andando até um ponto de ônibus que me deixasse em Copacabana

ou Ipanema. Eu até poderia ir direto pro Catete, mas eu estava sentindo falta de andar de metrô.
Você só pode ser louco, Caio. Tanta coisa pra sentir falta e você sente falta de andar de metrô?
Qual o problema? Eu não tinha o direito de exercer o meu papel de pobre no mundo?
Pobre é sempre pobre e mesmo que fique rico não vai deixar de ser pobre. Tanta coisa pra sentir falta e eu estava sentindo falta do metrô? Eu só podia ser um pobre mesmo, viu?
Não vi problema nenhum nisso. Algo dentro de mim queria andar de metrô e eu ia andar de metrô! Qual o problema nisso?
Melhor seria andar de carro, de limusine, de avião, jatinho ou qualquer coisa do tipo.
E quando na minha vida eu tinha andado de limusine? De jatinho? Ah, eu estava sendo esnobe demais pro meu próprio gosto.
Sonhar sempre é bom e faz bem pra cabeça.
Só pra cabeça mesmo, porque isso nunca iria acontecer. Só eu mesmo pra pensar essas coisas.
Entrei no busão e como sempre, sentei em uma das últimas cadeiras. Eu fiquei no lado do motorista e na mesma fileira, porém no lado do cobrador, havia uma senhora muito, muito gorda. E o pior de tudo era que ela estava com um decote imenso.

- Tem gente feia no mundo, mas que nem essa daí está pra nascer – falei comigo mesmo.
Pelo jeito a mulher era aqueles canhões que se achavam Miss Brasil. Fora o decote enorme, ela também estava com uma saia minúscula, onde era possível ver as suas celulites nitidamente estampadas em sua coxa gorda. Eu fiquei foi pasmo com o que vi.
E pra finalizar o estado crítico da criatura, ela quase não tinha pescoço e todas as vezes que o ônibus passava em uma lombada, ela literalmente era espancada pelos próprios peitos. Será que aquela mulher não estava usando sutiã?
- Isso é o que eu posso chamar de “visão do inferno”!
Desviei a atenção da mulher e voltei a pensar no Digow. Será que ele estava com muita raiva de mim?
Mas ele era culpado também e eu não ia dar o braço à torcer tão facilmente. Eu até ia pedir desculpas, mas ele teria que fazer o mesmo. Só assim a nossa amizade poderia voltar ao normal.
Peguei o meu celular para ver a hora e percebi que este estava desligado. O motivo era falta de bateria. Eu nem sequer percebi que o aparelho precisava ser recarregado. O jeito ia ser ficar sem horas e sem comunicação, até voltar pra minha casa.
E quando eu ia voltar? Na segunda-feira? Não. Eu tinha roupa suficiente para ficar pelo menos dois ou três dias fora. E era o que eu ia fazer.
No fundo, eu estava magoado com o que aconteceu. Além de estar com vergonha, é claro. Era melhor eu sumir por uns dias e só voltar quando a minha cabeça estivesse realmente arejada. Era isso o que eu ia fazer.

Chegando em Copa, eu pude me certificar que já estava um pouco tarde. Já passava das 22 horas e eu fiquei sabendo disso através dos relógios que faziam parte da Nossa Senhora de Copacabana.
Fui pro metrô e finalmente pude matar a minha vontade. O trem estava vazio e eu tive oportunidade de escolher um lugar para sentar. Fiquei próximo da porta, porque assim eu poderia sair mais rápido.
- Próxima Estação: Cantagalo – disse o condutor do trem.
Senti as minha barriga gelar imediatamente. Aquela voz era muito, muito conhecida. Não... Não poderia ser ele...

- Bruno? – eu fiquei perplexo.
Não, não e não!!! Eu não podia acreditar que era ele... Não podia!!!

Como poderia ser ele se o garoto estava no shopping um pouco mais cedo? Será que ele tinha entrado no trabalho depois da saída do shopping? Ou será que ele estava no shopping durante o horário de janta? Provavelmente era isso mesmo.
Será que era esse o motivo pelo qual eu senti vontade de andar de metrô? Será que de alguma forma simplesmente inexplicável, eu fui guiado até aquele trem? Só para eu saber que era ele que estava guiando aquele monstro gigante?
- Não pode ser – eu dei risada. – Não pode ser!
Eu tinha que tirar a prova dos nove. Eu precisava saber se era ou não era o Bruno. Mas como eu ia fazer isso?
O jeito seria ir até a cabine. Eu precisava saber se era meu ex-namorado ou não. Eu tinha certeza que se eu ficasse com aquela dúvida, provavelmente não iria nem dormir naquela noite.
Por esse motivo, assim que o trem parou na Estação Cantagalo, eu saí e corri para entrar em um vagão mais próximo da cabine onde o maquinista ficava. E eu ia fazer isso até chegar onde eu queria.
Fiquei prestando atenção na voz do cara e não tive mais dúvidas quando ele anunciou a Estação Largo do Machado. Era ele. Eu tinha certeza que era ele!!!
Nem ia mais até a cabine pra não dar o gostinho dele saber que eu estava naquele trem, mas bem que eu fiquei com vontade de fazer isso.
- Próxima Estação: Catete.
- Meu Deus... É você mesmo, Bruno – eu abri um sorriso e suspirei em seguida.
O meu Bruno estava guiando o trem onde eu estava. De jeito nenhum que aquilo poderia ser uma simples coincidência. No meu ponto de vista, havia algo por trás daquilo tudo e eu só não sabia o que era exatamente.
Fiquei chateado quando tive que descer. A minha vontade era ficar naquele trem até ele parar na última estação, mas eu não podia fazer aquilo. Eu tinha que procurar um canto pra dormir naquela noite e tinha que procurar rápido.
Então eu fui obrigado a descer na Estação Glória e isso me remeteu ao tempo que eu morava naquela região. Bons tempos...

Andei pela Rua do Catete e fui direto pra hospedaria do Seu Manollo. E não é que ele estava lá?
- Seu Manollo?
- Pois não? – ele me olhou.
Ele estava tão mais velho que antes... Até parecia que já tinha passado uns 10 anos desde que eu saíra daquele lugar.

- Tem um quarto pra mim?
- Tenho sim. Eu te conheço?
- Uhum. Morei aqui por 6 meses mais ou menos em 2.005. O senhor lembra?
- Vagamente. Seu nome é?
- Caio.
- Ah, é verdade. Agora eu me recordo. Voltou por quê?
- Por motivos particulares. Pode me arrumar o quarto, por favor?
- Por quantos dias?
- Uns 3 dias.
- Com televisão ou sem televisão?
- Pode ser com televisão.
Pelo menos se eu ficasse sem sono, eu teria uma distração.
- Perfeito.
Conversei um pouco com o cara e depois ele me levou ao quarto. Era simplesmente mil vezes melhor que o último que eu ocupara naquele estabelecimento.
- Fique à vontade.
- Obrigado, Seu Manollo.


Me acomodei e depois de tomar um banho – gelado – eu me pus a pensar. Só eu mesmo para voltar àquele pulgueiro. Eu não deveria ter feito isso não...
Eu não deveria ter saído da minha casa e ter ido dormir naquele local tão precário por causa de uma discussão tão infantil com o Digão. Era melhor eu ter ido pra casa e ter dormido na sala, não?
Claro que não! Onde estava o meu orgulho?
Orgulho? Orgulho só faz mal pras pessoas. Eu não podia ser orgulhoso, eu tinha que ser humilde!
Eu poderia ser humilde depois de uns dois ou três dias... Era melhor ficar fora esse tempo, pelo menos isso serviria de remédio para mim e também para o Rodrigo.
Rodrigo, Rodrigo, Rodrigo... Eu já estava pensando demais naquele garoto e ele não merecia tanta atenção da minha parte. Ele foi um ogro comigo e merecia sim um gelo. Então que ele ficasse na geladeira por uns dias. Isso faria bem para nós dois. Pelo menos foi o que eu pensei.
Nem sei para onde esse ônibus ia, mas também não me importei com isso. Eu só queria ficar longe do Rodrigo para poder colocar a minha cabeça em ordem.
Não entendi por qual motivo eu estava sentindo tanto ciúme do garoto, sendo que ele era apenas o meu melhor amigo, meu irmão postiço.
Se fosse uma pessoa normal, eu não sentiria absolutamente nada com aquela transa, mas tratando-se do Digow, algo dentro de mim ficou com muita raiva dele e ao mesmo tempo com muito, muito ciúme também.
Claro que eu sabia que nós éramos e sempre seríamos apenas bons amigos, no máximo irmãos, mas mesmo assim foi impossível frear a raiva que eu senti dele ao saber que ele havia levado a namorada lá em casa pra fazer sexo em cima da minha cama.
Ele não estava certo, ele estava errado. O Vinícius sempre foi claro ao dizer que não podíamos levar nenhuma mulher pra república para esse intuito e foi exatamente o que ele fez.
Entretanto, o próprio Vinícius já tinha feito isso no passado e quem poderia me garantir que mais algum dos meninos já não tivesse feito o mesmo?
E tem mais: quem era eu para julgar se eu mesmo já tinha transado com o Kléber naquela casa???
Opa, era melhor eu pensar melhor nas minhas atitudes! Eu não tinha o direito de julgar o Rodrigo, afinal eu mesmo já havia feito o mesmo.
A diferença estava só no local que foi feito. Eu usei a minha cama e não a dele. Ele deveria ter feito o mesmo com a namorada.
Transar com a Marcela na minha cama foi sacanagem, ainda mais sabendo ele que eu tinha ciúmes daquela garota... Mas em contrapartida, ele tinha razão quando dizia que na cama dele seria perigoso. Eles poderiam mesmo cair, uma vez que a cama era de solteiro e ficava literalmente nos ares.
Mas se o Rodrigo fosse outro, ele teria feito em qualquer lugar, menos na minha cama. Acho que no fundo, era esse o motivo da minha raiva. Eu achei isso meio que um desrespeito para comigo. Será que ele entenderia isso?
E por qual motivo ele reagiu tão agressivamente quando eu disse que havia visto a namorada dele pelada?
Ele não precisava ter me dado uma chave de pescoço... Ele podia ter sido muito menos agressivo, já que ele sabia que aquilo pra mim não tinha feito nenhuma diferença. Se eu pudesse, nem teria visto aquela cena horrorosa!
Mas ao mesmo tempo, eu entendi que também estava errado naquela história. Eu podia simplesmente ter ido embora ou ter ficado na minha. Talvez o melhor a ter sido feito naquela situação, era não ter exposto tanto o meu ciúme como eu expus...
Eu queria saber como ficaria a nossa relação daquele dia em diante. O Rodrigo me machucou com aquela agressividade e eu deixaria isso bem claro quando fosse o momento oportuno.
Que raiva eu estava sentindo da Marcela. Eu não queria vê-la nem pintada de ouro na minha frente, senão eu não seria capaz de segurar a fera que existia dentro de mim.
- Vadia! Vacilão!
Eu que pensei que a minha razão só brigava com o meu coração quando tratava-se do Bruno, acabei caindo do cavalo e mais uma vez me vi rodeado de perguntas e contestações. Isso sempre me deixava irritado. Eu odiava quando existia uma guerra dentro de mim, simplesmente odiava e parecia que naquele domingo a guerra não teria trégua nunca!
Por um lado, eu estava fervendo de ciúmes do Rodrigo, mas por outro eu estava era com raiva das minhas atitudes.
Por que diabos eu tinha que ser tão estourado? Por que eu não conseguia controlar os meus sentimentos? Por que eu não conseguia controlar a minha raiva e o meu ciúme?
O mesmo aconteceu com o Bruno. Bastou vê-lo acompanhado por um garoto que eu fui logo tirar satisfação com ele. Por que diabos fiz isso?
Eu não era dono do Rodrigo e ele tinha o direito de transar com quem quisesse. Eu fui imaturo demais com meu melhor amigo e isso não poderia ter acontecido.
Com o Bruno até era diferente. Mesmo que eu não fosse dono dele, eu sentia algo muito forte por ele e isso sim era justificável. Com ele eu poderia sentir ciúmes e era até natural, uma vez que eu o amava com todo o meu coração.
Mas sentir ciúme do Rodrigo? Isso não poderia ser normal. Poderia?
Sim, poderia. Ele era praticamente o meu irmão... Como não poderia sentir ciúme dele? Claro que poderia...
O próprio Digão sentia ciúme de mim também... Qual era a diferença? Eu não estava totalmente errado naquela situação...
Se eu estava errado, ele também estava. O fato era que nós dois tínhamos errado. Ele errou e eu também errei em ter feito aquele barraco sem necessidade.
Mas eu ainda estava com raiva e o certo naquele momento era deixar o tempo passar, a cabeça esfriar para depois falar com o Rodrigo e colocar tudo em pratos limpos. Eu tinha certeza que nós íamos voltar a ser bons amigos. Ou será que eu estava enganado?
Por incrível que pareça, o ônibus que eu peguei me levou ao bairro onde eu estudava e trabalhava. Ainda bem que pelo menos eu fiquei em um canto conhecido.
Desci e resolvi ir pra praia. Já fazia uns dias que eu não via o mar e vê-lo iria acabar me acalmando um pouco. Pelo menos eu ia conseguir colocar a cabeça no lugar.
Fui até a Praia da Barra e como já estava de noite, não tive nenhuma dificuldade para encontrar um lugar para sentar na beira do oceano.
Sentei e fiquei olhando o vai-e-vem das ondas. O barulho e o cheiro da maresia me fizeram refletir ainda mais e eu repensei em tudo o que já havia pensado.
- Rodrigo safado!
Era a hora de colocar tudo na balança. Era hora de saber onde eu estava errando e onde eu estava acertando.
A única coisa que não poderia continuar acontecendo era a minha imaturidade para alguns aspectos da minha vida.
Eu não agi de forma correta com o Rodrigo e precisava me desculpar. Eu precisava conversar com o meu amigo, para enfim colocar tudo no seu devido lugar.
A gente não namorava e nunca iria namorar. Como ele mesmo tinha dito, ele gostava de mulher e eu tinha que respeitar a decisão dele. Não que eu desrespeitasse a sexualidade do Rodrigo, mas acho que no fundo eu ainda deveria ter alguma espécie de esperança que um dia a gente fosse ficar juntos.
O que mais me deixava intrigado e chateado foi a agressividade com a qual ele me atacou. Eu não esperava por aquilo...
Talvez ele só tenha ficado bravo comigo. Na hora da raiva e da emoção, a gente não mede o que fala, nem o que faz. Eu mesmo já tinha agredido várias pessoas... Por que ele não poderia fazer o mesmo comigo?
Acho que talvez pelo fato de nós dois sermos melhores amigos? Quem sabe. E se fosse o contrário? E se ele tivesse me pegado na cama com o Murilo ou quem quer que fosse? Será que eu agiria da mesma forma?
Acho que eu nunca seria capaz de levantar um dedo pro Rodrigo. Por mais que eu tivesse dito que estava com vontade de socar a cara dele, ele deveria saber que aquilo era só da boca pra fora. Era só uma força de expressão.
Ele não me agrediu fisicamente, mas aquela chave de pescoço me deixou mesmo sem ar. Ele poderia ter se controlado um pouco mais.
E eu? Não poderia ter me controlado? Claro que sim, mas em nenhum momento eu o agredi fisicamente.
Mas o agredi com palavras. E sempre agredia a Marcela também. Ia chegar uma hora que o Rodrigo ia cansar de ouvir ofensas para com a namorada e mais cedo ou mais tarde, ele ia acabar tomando satisfações.
Foi o que ele fez. Ele só defendeu o que era dele, não é? E quem era eu para ofender quem quer que fosse? Mesmo que fosse de brincadeira?
Eu ofendia as pessoas e não gostava de ser ofendido? Não gostava de ser chamado de veado, nem de qualquer coisa do tipo, então por que eu estava ofendendo a Marcela?
- Ai que vergonha...
Sim, eu fiquei envergonhado. Bastou pensar um pouco, bastou deixar o sangue esfriar para as ideias ficarem coerentes e eu enxergar o que realmente estava acontecendo.
Quem estava mais errado na situação talvez fosse eu. O Rodrigo apenas se defendeu, apenas defendeu a Marcela e defendeu o relacionamento dos dois. Ele estava certo nesse ponto.
Eu é que estava errado em ter ficado na casa com os dois juntos, mas foi muito mais forte que eu.
Como eu poderia ir embora de casa e deixar de ouvir o que havia acontecido entre os dois? Eu precisava ouvir, eu tinha que ouvir. Eu só não sabia explicar o motivo, mas eu não podia sair daquela casa.
E talvez eu não estivesse tão errado assim; afinal, tudo aconteceu na minha casa, no meu quarto e na minha cama. Eu vi, mas qualquer um dos caras poderia ter visto também.
A culpa era do Rodrigo. Do Rodrigo e da Marcela. Mais dele do que dela. Mais dele do que de mim. Quem mandou eles deixarem tudo aberto e não serem discretos???
Já fazia um tempo que eu tinha saído de casa. O Rodrigo poderia ter juntado 2 + 2 e ter pensado que eu poderia chegar a qualquer momento.
Quem mandou eles não controlarem o tesão e o desejo? Eu não era culpado de nada... O único culpado foi ele!
Suspirei e continuei de olho no oceano, mas segundos depois a minha atenção foi desviada para um barulho esquisito. Parecia tiro!
Mas não era. Era rojão e eu tive a prova disso quando olhei pro céu. Provavelmente alguém tinha feito algum gol ou qualquer coisa do tipo. Ainda bem que não era tiro.
Só assim eu pude ficar mais um tempo na praia e esse tempo me fez muito bem. Eu não só consegui colocar a cabeça no lugar com relação ao que tinha acontecido com o Rodrigo, como também consegui até pensar um pouco no Bruno.
Ele estava me fazendo falta e eu cheguei a cogitar a possibilidade de ir até o apartamento dele. Será que seria uma boa ideia passar a noite lá?
MAS DE JEITO NENHUM! Era melhor passar a noite em um albergue do que dormir no apartamento do Bruno!!!
Eu poderia passar a noite em qualquer lugar, menos na minha casa. Por mais que a minha cabeça já estivesse mais fria, eu ainda estava sentindo um pouco de raiva do Rodrigo e também um pouco de ciúme. Eu não podia simplesmente voltar naquela noite. Eu não ia ser tão fácil daquele jeito.
Mas onde eu ia dormir? Eu só estava com algumas coisas da faculdade e com duas ou três mudas de roupas. Isso não ia dar pra muito tempo...
Pensei na Janaína, mas eu não podia simplesmente me convidar para dormir na casa dela. Isso seria antiético demais. O mesmo aconteceria com a Alexia ou com qualquer outro amigo.
Eu tinha duas opções: ou dormia em casa, ou dormia em algum hotel. E é claro que eu achei melhor a segunda opção, não é mesmo?
Mas qual hotel? Eu tinha dinheiro suficiente para me virar fora de casa por alguns dias, mas não poderia me dar ao luxo de torrar a minha grana por causa do Rodrigo.
Foi por esse motivo que eu decidi voltar ao Catete e me hospedar em algum dos pulgueiros que havia na região. Se fosse o caso eu poderia até procurar o Seu Manollo... Será que tinha quarto naquele lugar?
O jeito era encarar a realidade e ir em busca de um lugar para passar a noite. Eu só não ia voltar pra casa e também não ia atrás do Bruno.
Mas por outro lado, pensando de uma maneira mais materialista, o apartamento do meu ex ia me dar muito aconchego e conforto. A hospedaria do Seu Manollo não ia me oferecer nada disso, mas lá eu pelo menos ficaria em paz e poderia dormir tranquilamente.
Se eu fosse pro Bruno, eu provavelmente iria cair em tentação. Provavelmente nada, eu IRIA cair em tentação e isso eu não queria.
Pelo menos não o meu lado razão, porque o meu lado emoção, o meu lado sentimento estava simplesmente gritando para eu ligar pro Bruno.
Até cheguei a pegar o celular e selecionei o nome dele na agenda, mas a minha cabeça não deixou eu apertar o botão verde. Isso me deixou agradecido.
Ficar com o Bruno iria me desestressar muito, mas por outro lado ia me trazer sentimentos ruins e eu não queria ficar com ódio de mais ninguém.
O melhor seria ficar sozinho em um hotel mesmo. Pelo menos com meus sentimentos eu poderia brigar em paz, sem ninguém me julgar ou qualquer coisa do tipo.
Me despedi do mar, levantei e saí andando até um ponto de ônibus que me deixasse em Copacabana
ou Ipanema. Eu até poderia ir direto pro Catete, mas eu estava sentindo falta de andar de metrô.
Você só pode ser louco, Caio. Tanta coisa pra sentir falta e você sente falta de andar de metrô?
Qual o problema? Eu não tinha o direito de exercer o meu papel de pobre no mundo?
Pobre é sempre pobre e mesmo que fique rico não vai deixar de ser pobre. Tanta coisa pra sentir falta e eu estava sentindo falta do metrô? Eu só podia ser um pobre mesmo, viu?
Não vi problema nenhum nisso. Algo dentro de mim queria andar de metrô e eu ia andar de metrô! Qual o problema nisso?
Melhor seria andar de carro, de limusine, de avião, jatinho ou qualquer coisa do tipo.
E quando na minha vida eu tinha andado de limusine? De jatinho? Ah, eu estava sendo esnobe demais pro meu próprio gosto.
Sonhar sempre é bom e faz bem pra cabeça.
Só pra cabeça mesmo, porque isso nunca iria acontecer. Só eu mesmo pra pensar essas coisas.
Entrei no busão e como sempre, sentei em uma das últimas cadeiras. Eu fiquei no lado do motorista e na mesma fileira, porém no lado do cobrador, havia uma senhora muito, muito gorda. E o pior de tudo era que ela estava com um decote imenso.
- Tem gente feia no mundo, mas que nem essa daí está pra nascer – falei comigo mesmo.
Pelo jeito a mulher era aqueles canhões que se achavam Miss Brasil. Fora o decote enorme, ela também estava com uma saia minúscula, onde era possível ver as suas celulites nitidamente estampadas em sua coxa gorda. Eu fiquei foi pasmo com o que vi.
E pra finalizar o estado crítico da criatura, ela quase não tinha pescoço e todas as vezes que o ônibus passava em uma lombada, ela literalmente era espancada pelos próprios peitos. Será que aquela mulher não estava usando sutiã?
- Isso é o que eu posso chamar de “visão do inferno”!
Desviei a atenção da mulher e voltei a pensar no Digow. Será que ele estava com muita raiva de mim?
Mas ele era culpado também e eu não ia dar o braço à torcer tão facilmente. Eu até ia pedir desculpas, mas ele teria que fazer o mesmo. Só assim a nossa amizade poderia voltar ao normal.
Peguei o meu celular para ver a hora e percebi que este estava desligado. O motivo era falta de bateria. Eu nem sequer percebi que o aparelho precisava ser recarregado. O jeito ia ser ficar sem horas e sem comunicação, até voltar pra minha casa.
E quando eu ia voltar? Na segunda-feira? Não. Eu tinha roupa suficiente para ficar pelo menos dois ou três dias fora. E era o que eu ia fazer.
No fundo, eu estava magoado com o que aconteceu. Além de estar com vergonha, é claro. Era melhor eu sumir por uns dias e só voltar quando a minha cabeça estivesse realmente arejada. Era isso o que eu ia fazer.
Chegando em Copa, eu pude me certificar que já estava um pouco tarde. Já passava das 22 horas e eu fiquei sabendo disso através dos relógios que faziam parte da Nossa Senhora de Copacabana.
Fui pro metrô e finalmente pude matar a minha vontade. O trem estava vazio e eu tive oportunidade de escolher um lugar para sentar. Fiquei próximo da porta, porque assim eu poderia sair mais rápido.
- Próxima Estação: Cantagalo – disse o condutor do trem.
Senti as minha barriga gelar imediatamente. Aquela voz era muito, muito conhecida. Não... Não poderia ser ele...
- Bruno? – eu fiquei perplexo.
Não, não e não!!! Eu não podia acreditar que era ele... Não podia!!!
Como poderia ser ele se o garoto estava no shopping um pouco mais cedo? Será que ele tinha entrado no trabalho depois da saída do shopping? Ou será que ele estava no shopping durante o horário de janta? Provavelmente era isso mesmo.
Será que era esse o motivo pelo qual eu senti vontade de andar de metrô? Será que de alguma forma simplesmente inexplicável, eu fui guiado até aquele trem? Só para eu saber que era ele que estava guiando aquele monstro gigante?
- Não pode ser – eu dei risada. – Não pode ser!
Eu tinha que tirar a prova dos nove. Eu precisava saber se era ou não era o Bruno. Mas como eu ia fazer isso?
O jeito seria ir até a cabine. Eu precisava saber se era meu ex-namorado ou não. Eu tinha certeza que se eu ficasse com aquela dúvida, provavelmente não iria nem dormir naquela noite.
Por esse motivo, assim que o trem parou na Estação Cantagalo, eu saí e corri para entrar em um vagão mais próximo da cabine onde o maquinista ficava. E eu ia fazer isso até chegar onde eu queria.
Fiquei prestando atenção na voz do cara e não tive mais dúvidas quando ele anunciou a Estação Largo do Machado. Era ele. Eu tinha certeza que era ele!!!
Nem ia mais até a cabine pra não dar o gostinho dele saber que eu estava naquele trem, mas bem que eu fiquei com vontade de fazer isso.
- Próxima Estação: Catete.
- Meu Deus... É você mesmo, Bruno – eu abri um sorriso e suspirei em seguida.
O meu Bruno estava guiando o trem onde eu estava. De jeito nenhum que aquilo poderia ser uma simples coincidência. No meu ponto de vista, havia algo por trás daquilo tudo e eu só não sabia o que era exatamente.
Fiquei chateado quando tive que descer. A minha vontade era ficar naquele trem até ele parar na última estação, mas eu não podia fazer aquilo. Eu tinha que procurar um canto pra dormir naquela noite e tinha que procurar rápido.
Então eu fui obrigado a descer na Estação Glória e isso me remeteu ao tempo que eu morava naquela região. Bons tempos...
Andei pela Rua do Catete e fui direto pra hospedaria do Seu Manollo. E não é que ele estava lá?
- Seu Manollo?
- Pois não? – ele me olhou.
Ele estava tão mais velho que antes... Até parecia que já tinha passado uns 10 anos desde que eu saíra daquele lugar.
- Tem um quarto pra mim?
- Tenho sim. Eu te conheço?
- Uhum. Morei aqui por 6 meses mais ou menos em 2.005. O senhor lembra?
- Vagamente. Seu nome é?
- Caio.
- Ah, é verdade. Agora eu me recordo. Voltou por quê?
- Por motivos particulares. Pode me arrumar o quarto, por favor?
- Por quantos dias?
- Uns 3 dias.
- Com televisão ou sem televisão?
- Pode ser com televisão.
Pelo menos se eu ficasse sem sono, eu teria uma distração.
- Perfeito.
Conversei um pouco com o cara e depois ele me levou ao quarto. Era simplesmente mil vezes melhor que o último que eu ocupara naquele estabelecimento.
- Fique à vontade.
- Obrigado, Seu Manollo.
Me acomodei e depois de tomar um banho – gelado – eu me pus a pensar. Só eu mesmo para voltar àquele pulgueiro. Eu não deveria ter feito isso não...
Eu não deveria ter saído da minha casa e ter ido dormir naquele local tão precário por causa de uma discussão tão infantil com o Digão. Era melhor eu ter ido pra casa e ter dormido na sala, não?
Claro que não! Onde estava o meu orgulho?
Orgulho? Orgulho só faz mal pras pessoas. Eu não podia ser orgulhoso, eu tinha que ser humilde!
Eu poderia ser humilde depois de uns dois ou três dias... Era melhor ficar fora esse tempo, pelo menos isso serviria de remédio para mim e também para o Rodrigo.
Rodrigo, Rodrigo, Rodrigo... Eu já estava pensando demais naquele garoto e ele não merecia tanta atenção da minha parte. Ele foi um ogro comigo e merecia sim um gelo. Então que ele ficasse na geladeira por uns dias. Isso faria bem para nós dois. Pelo menos foi o que eu pensei.
Como eu dormi muito tarde na madrugada da segunda e como eu não tinha
celular para me acordar, acabei perdendo a hora da faculdade e não fui pra aula
naquela segunda-feira.
Quando eu acordei já passava das 9 horas da manhã e foi o dono da hospedaria que me deixou ciente deste fato:
- 9:30 quase.
- Puta que pariu... – dei um tapa na minha testa. – Perdi a hora da faculdade!
- E agora? – o velhote até que era simpático.
- E agora que eu perdi a aula, mas tudo bem. Depois eu me viro.
- Ei, onde vai? Tem que deixar a chave, lembra?
- Ah, é. Eu já tinha me esquecido.
Deixei a chave na recepção e fui até uma lanchonete que havia na rua. Eu estava com fome, já que não tinha jantado no dia anterior.

A minha sorte foi o fato da minha mochila ter itens de higiene pessoal, senão eu teria que comprar. Ainda bem que eu tinha tudo reservado por causa da academia.
Nem lembrava que tinha uma padaria na Rua do Catete. Foi lá que eu tirei a barriga da miséria: comi um pão na chapa com um chocolate quente. E só isso também.

Depois voltei pra hospedaria e fiquei assistindo televisão até a hora de sair pro trabalho.

Quando eu acordei já passava das 9 horas da manhã e foi o dono da hospedaria que me deixou ciente deste fato:
- 9:30 quase.
- Puta que pariu... – dei um tapa na minha testa. – Perdi a hora da faculdade!
- E agora? – o velhote até que era simpático.
- E agora que eu perdi a aula, mas tudo bem. Depois eu me viro.
- Ei, onde vai? Tem que deixar a chave, lembra?
- Ah, é. Eu já tinha me esquecido.
Deixei a chave na recepção e fui até uma lanchonete que havia na rua. Eu estava com fome, já que não tinha jantado no dia anterior.
A minha sorte foi o fato da minha mochila ter itens de higiene pessoal, senão eu teria que comprar. Ainda bem que eu tinha tudo reservado por causa da academia.
Nem lembrava que tinha uma padaria na Rua do Catete. Foi lá que eu tirei a barriga da miséria: comi um pão na chapa com um chocolate quente. E só isso também.
Depois voltei pra hospedaria e fiquei assistindo televisão até a hora de sair pro trabalho.
- Que carinha de bravo é essa? – perguntou Janaína.
- Estou bravo mesmo. Como você sabe?
- Porque você não consegue disfarçar. Só por isso.
E eu não conseguia mesmo. Às vezes eu tinha a impressão que as pessoas conseguiam até ler a minha alma. Isso me deixava bem irritado.
- O que houve? – ela perguntou.
- Briguei com o Rodrigo.
- Por quê?
- Por motivos bestas. Eu não posso contar.
- Não pode? Por quê?
- Porque é algo que é íntimo demais pra ele e eu não quero ser responsável por abrir a intimidade dele com quem ele praticamente não conhece.
- Ah, entendi... Mas quem errou?
- Nós dois. Eu errei por um lado e ele por outro.
- E por que não pedem desculpas e fica tudo certo?
- É isso que eu vou fazer, mas só daqui uns dias.
- Como assim?
- Fiquei chateado demais com a situação. Não estou nem dormindo em casa.
- E está dormindo aonde, criatura?
- Num hotelzinho nojento lá da Lapa...
- Criatura do céu – ela me balançou pelos ombros. – Qual a chance de você continuar naquele lugar? Vai dormir lá em casa hoje!

- Não, Jana! Imagina que eu vou te dar esse trabalho.
- Trabalho é o cacete, você vai pra lá e acabou!!!
- Mas...
- Não tem essa de “mas”. Eu quero você lá em casa hoje ou não me chamo Janaína Santos. Espera aí, já volto.
- Onde você vai?
Ela saiu e me deixou falando sozinho. Eu bati o ponto e fui atrás dos meus superiores para desejar-lhes boa tarde.
Quando cheguei perto da Duda, a Jana estava lá falando com ela:
- Deixa eu ficar até o fim do turno hoje?
- Por que? – Eduarda perguntou.
- Porque quero fazer extra. Por que mais seria?
- Deixo, ué. Só me lembra mais tarde.
- Pode deixar. Obrigada!
Quando a Jana virou e me viu ali, ela foi logo dizendo:
- Cabrunco, eu não pedi pra você me esperar lá?
- Vim falar com a minha gerente, posso?
- Não, não pode. Ela não é sua gerente. O seu gerente é o Jonas!
- A Duda sempre vai ser minha gerente, né Duda?
- Verdade. Tudo bom, Caio?
- Indo e você?
- Bem, obrigada!
Falei com o Jonas, com a Alexia e com mais alguns funcionários e enfim voltei para o meu setor. Bastou chegar lá pro Kléber me encher de perguntas:
- Ei, Caio? Onde você passou a noite, cara?
- Por aí. Por quê?
- Porque o Vini está bem preocupado contigo. Ele ficou ligando, mas seu celular está desligado...
- Eu estou sem bateria. Me faz um favor?
- Qual?
- Diz pra ele e pra quem mais quiser saber que eu estou muito bem e que vou passar uns dias fora de casa.
- Por que você vai fazer isso?
- Porque sim. Só avisa isso, tá bom?
- Mas a gente está preocupado! Está tudo bem mesmo?
- Tudo ótimo, melhor impossível. Se puder falar pro Vini e pro Fabrício, eu agradeço.
- E pro Rodrigo não?
- Pra ele também, ué. Pra quem quer que seja. Eu só volto daqui uns dias.
- Se você quer assim – ele concordou e saiu andando.
- Curioso... – falei para mim mesmo.
- Estou bravo mesmo. Como você sabe?
- Porque você não consegue disfarçar. Só por isso.
E eu não conseguia mesmo. Às vezes eu tinha a impressão que as pessoas conseguiam até ler a minha alma. Isso me deixava bem irritado.
- O que houve? – ela perguntou.
- Briguei com o Rodrigo.
- Por quê?
- Por motivos bestas. Eu não posso contar.
- Não pode? Por quê?
- Porque é algo que é íntimo demais pra ele e eu não quero ser responsável por abrir a intimidade dele com quem ele praticamente não conhece.
- Ah, entendi... Mas quem errou?
- Nós dois. Eu errei por um lado e ele por outro.
- E por que não pedem desculpas e fica tudo certo?
- É isso que eu vou fazer, mas só daqui uns dias.
- Como assim?
- Fiquei chateado demais com a situação. Não estou nem dormindo em casa.
- E está dormindo aonde, criatura?
- Num hotelzinho nojento lá da Lapa...
- Criatura do céu – ela me balançou pelos ombros. – Qual a chance de você continuar naquele lugar? Vai dormir lá em casa hoje!
- Não, Jana! Imagina que eu vou te dar esse trabalho.
- Trabalho é o cacete, você vai pra lá e acabou!!!
- Mas...
- Não tem essa de “mas”. Eu quero você lá em casa hoje ou não me chamo Janaína Santos. Espera aí, já volto.
- Onde você vai?
Ela saiu e me deixou falando sozinho. Eu bati o ponto e fui atrás dos meus superiores para desejar-lhes boa tarde.
Quando cheguei perto da Duda, a Jana estava lá falando com ela:
- Deixa eu ficar até o fim do turno hoje?
- Por que? – Eduarda perguntou.
- Porque quero fazer extra. Por que mais seria?
- Deixo, ué. Só me lembra mais tarde.
- Pode deixar. Obrigada!
Quando a Jana virou e me viu ali, ela foi logo dizendo:
- Cabrunco, eu não pedi pra você me esperar lá?
- Vim falar com a minha gerente, posso?
- Não, não pode. Ela não é sua gerente. O seu gerente é o Jonas!
- A Duda sempre vai ser minha gerente, né Duda?
- Verdade. Tudo bom, Caio?
- Indo e você?
- Bem, obrigada!
Falei com o Jonas, com a Alexia e com mais alguns funcionários e enfim voltei para o meu setor. Bastou chegar lá pro Kléber me encher de perguntas:
- Ei, Caio? Onde você passou a noite, cara?
- Por aí. Por quê?
- Porque o Vini está bem preocupado contigo. Ele ficou ligando, mas seu celular está desligado...
- Eu estou sem bateria. Me faz um favor?
- Qual?
- Diz pra ele e pra quem mais quiser saber que eu estou muito bem e que vou passar uns dias fora de casa.
- Por que você vai fazer isso?
- Porque sim. Só avisa isso, tá bom?
- Mas a gente está preocupado! Está tudo bem mesmo?
- Tudo ótimo, melhor impossível. Se puder falar pro Vini e pro Fabrício, eu agradeço.
- E pro Rodrigo não?
- Pra ele também, ué. Pra quem quer que seja. Eu só volto daqui uns dias.
- Se você quer assim – ele concordou e saiu andando.
- Curioso... – falei para mim mesmo.
- Não acredito que você ficou até as 22 horas por minha causa!
- E vou ficar amanhã de novo – Janaína pegou no meu braço e me levou até o vestiário. – Anda, se troca logo pra gente ir embora.
- Misericórdia, precisa me empurrar desse jeito?
A negra me empurrou tão forte que eu quase caí de cara no chão do vestiário masculino.
- É pra você ir logo.
- Já vou, Jana; já vou!

Entrei e fui logo tirando a roupa. Logo o Jonas falou comigo e mais uma vez eu dispensei a carona.
- Qual é? Por que não está querendo andar comigo nesses últimos dias?
- Não é nada em particular, é que eu não vou dormir em casa hoje.
- Hum... Safadinho!
- Quem me dera fosse por isso – abri um sorriso amarelo. – Boa noite, Jonas.
- Boa noite, Caio. Bom descanso. Ou não, né?
- Palhaço!
Ele deu risada e eu saí. A Jana já estava me esperando.
- Não acredito que eu ainda vou ter que ir na Lapa pra você dar baixa no pulgueiro...
- Vai sim. E a ideia foi sua.
- Às vezes eu tenho vontade de bater a minha cabeça numa pedra pra ver se eu crio juízo – Janaína suspirou. – Vamos logo então!
Minha amiga e eu fomos até a hospedaria do Seu Manollo, eu dei baixa na minha ficha, paguei a minha diária e logo em seguida nós pegamos um ônibus até a casa da Janaína. Eu nem me lembrava mais onde ela morava.
- Aqui é a minha house – ela abriu o portão. – Pode entrar.
- Obrigado!
Nós entramos e eu notei que a casa estava deserta. Será que não tinha ninguém naquele lugar?
- Onde está a sua família? Desculpa a curiosidade.
- Viajando. Só a minha irmã que está na cidade, mas ela está na minha tia.
- Ah. Então é por isso que você me trouxe aqui...
- Que nada. Se eles estivessem aqui eu teria trago do mesmo jeito. Quer jantar?
- Quero não. Não estou com fome.
- Mas vai jantar do mesmo jeito, senão eu vou dar meia hora de tapa na sua cara!
- Agressiva!
- Experimenta ficar sem a minha comida que você vai ver.
- A comida é sua? É você que vai fazer?
- Claro, meu bem. Hoje você vai ver como eu sou boa “cozinhadora”.
- Você quis dizer cozinheira? – eu ri.
- Ah, isso aí. Vamos ver... O que faço? Gosta de ovos?
- Eu curto sim – na casa dos outros eu não podia escolher comida, né?
A vendedora de móveis fez ovos mexidos e não é que ficou bom? Eu me surpreendi com o sabor do rango da Jana, mas fingi que não gostei só pra zoar com a cara dela:

- Ficou com gosto de queimado, sem sal e cru, mas tá valendo.
- Olha só, franguinho de macumba... Eu só não te dou 15 tapas na cara porque to cansada demais, mas me aguarde amanhã...
- Ai, Jana... Eu me divirto demais com você.
- Tenho cara de palhaça? Não sou paga pra te fazer rir não, pivete!
- Cara, jeito e tamanho de palhaça, isso sim.
Depois de um bom papo na mesa da cozinha, eu ajudei a Jana com a louça e por fim nós fomos para o quarto. Ela colocou um colchão no chão, eu tomei banho e depois nós fomos dormir, mas antes ela fez questão de me contar sobre os bofes dela. Eu ri demais naquela noite.
- Então você simplesmente vai trocar um bofe pelo outro? – perguntei.
- Lógico! Não sou obrigada a ouvir reclamações, nem cobranças. Vou ficar com o galego dos olhos azuis. Ele faz mais o meu tipo!
- Se ele tem olhos azuis eu te apoio em tudo. Vai fundo!
- Ah, é... Eu até tinha esquecido que você tem uma tara por olhos azuis.
- Janaína! – me ofendi. – Não é tara!
- E é o quê então?
- Eu só me apaixonei, oras...
- Ah, tá. Sei.
- Verdade, peste...
- Peste é você, moleque.
- Ai... Vamos dormir?
- Vamos, mas só porque você tem aula amanhã cedo.
- Janaína? Já passa das 2, eu não vou conseguir acordar pra aula!
- Vai sim, nem que eu tenha que jogar um balde de água fria em cima de você.
- Malvada!
- Adoro ser má, principalmente na cama.
- É?! Por isso que a periquita ficou em chamas.
- Ai, nem me lembra! Ainda bem que está passando essa coceira do caramba. Parecia até que eu estava com sarna!

- E vou ficar amanhã de novo – Janaína pegou no meu braço e me levou até o vestiário. – Anda, se troca logo pra gente ir embora.
- Misericórdia, precisa me empurrar desse jeito?
A negra me empurrou tão forte que eu quase caí de cara no chão do vestiário masculino.
- É pra você ir logo.
- Já vou, Jana; já vou!
Entrei e fui logo tirando a roupa. Logo o Jonas falou comigo e mais uma vez eu dispensei a carona.
- Qual é? Por que não está querendo andar comigo nesses últimos dias?
- Não é nada em particular, é que eu não vou dormir em casa hoje.
- Hum... Safadinho!
- Quem me dera fosse por isso – abri um sorriso amarelo. – Boa noite, Jonas.
- Boa noite, Caio. Bom descanso. Ou não, né?
- Palhaço!
Ele deu risada e eu saí. A Jana já estava me esperando.
- Não acredito que eu ainda vou ter que ir na Lapa pra você dar baixa no pulgueiro...
- Vai sim. E a ideia foi sua.
- Às vezes eu tenho vontade de bater a minha cabeça numa pedra pra ver se eu crio juízo – Janaína suspirou. – Vamos logo então!
Minha amiga e eu fomos até a hospedaria do Seu Manollo, eu dei baixa na minha ficha, paguei a minha diária e logo em seguida nós pegamos um ônibus até a casa da Janaína. Eu nem me lembrava mais onde ela morava.
- Aqui é a minha house – ela abriu o portão. – Pode entrar.
- Obrigado!
Nós entramos e eu notei que a casa estava deserta. Será que não tinha ninguém naquele lugar?
- Onde está a sua família? Desculpa a curiosidade.
- Viajando. Só a minha irmã que está na cidade, mas ela está na minha tia.
- Ah. Então é por isso que você me trouxe aqui...
- Que nada. Se eles estivessem aqui eu teria trago do mesmo jeito. Quer jantar?
- Quero não. Não estou com fome.
- Mas vai jantar do mesmo jeito, senão eu vou dar meia hora de tapa na sua cara!
- Agressiva!
- Experimenta ficar sem a minha comida que você vai ver.
- A comida é sua? É você que vai fazer?
- Claro, meu bem. Hoje você vai ver como eu sou boa “cozinhadora”.
- Você quis dizer cozinheira? – eu ri.
- Ah, isso aí. Vamos ver... O que faço? Gosta de ovos?
- Eu curto sim – na casa dos outros eu não podia escolher comida, né?
A vendedora de móveis fez ovos mexidos e não é que ficou bom? Eu me surpreendi com o sabor do rango da Jana, mas fingi que não gostei só pra zoar com a cara dela:
- Ficou com gosto de queimado, sem sal e cru, mas tá valendo.
- Olha só, franguinho de macumba... Eu só não te dou 15 tapas na cara porque to cansada demais, mas me aguarde amanhã...
- Ai, Jana... Eu me divirto demais com você.
- Tenho cara de palhaça? Não sou paga pra te fazer rir não, pivete!
- Cara, jeito e tamanho de palhaça, isso sim.
Depois de um bom papo na mesa da cozinha, eu ajudei a Jana com a louça e por fim nós fomos para o quarto. Ela colocou um colchão no chão, eu tomei banho e depois nós fomos dormir, mas antes ela fez questão de me contar sobre os bofes dela. Eu ri demais naquela noite.
- Então você simplesmente vai trocar um bofe pelo outro? – perguntei.
- Lógico! Não sou obrigada a ouvir reclamações, nem cobranças. Vou ficar com o galego dos olhos azuis. Ele faz mais o meu tipo!
- Se ele tem olhos azuis eu te apoio em tudo. Vai fundo!
- Ah, é... Eu até tinha esquecido que você tem uma tara por olhos azuis.
- Janaína! – me ofendi. – Não é tara!
- E é o quê então?
- Eu só me apaixonei, oras...
- Ah, tá. Sei.
- Verdade, peste...
- Peste é você, moleque.
- Ai... Vamos dormir?
- Vamos, mas só porque você tem aula amanhã cedo.
- Janaína? Já passa das 2, eu não vou conseguir acordar pra aula!
- Vai sim, nem que eu tenha que jogar um balde de água fria em cima de você.
- Malvada!
- Adoro ser má, principalmente na cama.
- É?! Por isso que a periquita ficou em chamas.
- Ai, nem me lembra! Ainda bem que está passando essa coceira do caramba. Parecia até que eu estava com sarna!
Mas mais uma vez eu perdi a hora e não foi propositalmente. Eu perdi mesmo.
Na verdade, nós perdemos. Porque até a Jana acordou atrasada pra ir pro
trabalho.
- Me ajuda aqui com essa chapinha, menino – ela estava com os olhos super inchados.

- Eu não sei fazer isso não, menina...
- Burro. É só passar no cabelo, diabos...
- Eu não. Vai que eu queimo seu cabelo aí...
-É verdade. Olhando por esse lado... Melhor ficar com o cabelo duro do que ficar careca. Deixa que eu passo. Sabe fazer maquiagem?
- Nem em defunto, quanto mais em gente viva.
- Pelo amor de Deus, Caio. Nem pra isso você serve!
- Me ajuda aqui com essa chapinha, menino – ela estava com os olhos super inchados.
- Eu não sei fazer isso não, menina...
- Burro. É só passar no cabelo, diabos...
- Eu não. Vai que eu queimo seu cabelo aí...
-É verdade. Olhando por esse lado... Melhor ficar com o cabelo duro do que ficar careca. Deixa que eu passo. Sabe fazer maquiagem?
- Nem em defunto, quanto mais em gente viva.
- Pelo amor de Deus, Caio. Nem pra isso você serve!
NO DIA SEGUINTE...

Depois de 2 dias eu finalmente consegui voltar pra faculdade, mas não falei
com o Rodrigo.
- Bom dia – cumprimentei os meus amigos.
- Bom dia – responderam todos.
- Caio, está tudo bem? – a Marcela me fitou. – Por que você faltou esses 2 dias?
- Por motivos particulares. Perdi alguma coisa de importante, Jéssica?
- Não, nada demais. Só algumas matérias pra prova.
- Você me empresta?
- Claro!
- Está bravo comigo? – a namorada do Digão abaixou o tom de voz.
- Não.
- Não é o que parece.
- Eu tenho motivos pra estar bravo com você?
- Não!
- Então?
- Ah, deixa pra lá.
Enquanto estava na aula, eu só prestei atenção nos professores. Não quis ir para o intervalo pra não correr o risco de encontrar o Rodrigo. Aproveitei a oportunidade para colocar as matérias que perdi em ordem, mas não tive tempo de copiar tudo.
- Posso levar pra casa?
- Claro – Jéssica concordou.
- Obrigado, flor.
- De nadinha!
Na saída eu fiz de tudo para não encontrá-lo, mas foi inútil. Quando eu desci as escadas para ir até a rua, ele estava lá me esperando.
- Posso falar com você? – Rodrigo pegou no meu braço, da mesma forma que o Bruno fazia.
- Sim? – eu o encarei pela primeira vez.
- O que está acontecendo? Por que você sumiu esses dias?
- Você ainda pergunta?
- Podemos falar sobre o assunto?
- Você tem tempo?
- Quanto tempo você quiser.
- Não vai pra academia?
- Não. Você vai?
- Não. Eu não tenho roupa.
- Foi o que imaginei. Vamos almoçar?
- Pode ser.
- Só espera eu me despedir da Marcela?
- Espero sim.
Andei uns passos e fiquei longe do casal. Eles se despediram e rapidamente o Rodrigo saiu ao meu encontro.
- Pronto. Onde você quer comer?
- Qualquer lugar – eu não estava sentindo fome.
- Vamos no shopping onde você trabalha?
- Perfeito.
Durante o caminho nós não trocamos uma palavra sequer. Eu estava disposto a perdoá-lo se ele também fizesse o mesmo comigo.

- Por onde a gente começa? – perguntei.
- De onde a gente parou?
- Por mim...
- Eu estou muito triste com você, viu?
- A recíproca é verdadeira, Rodrigo.
- Você não precisava ter feito aquele escarcel não.
- E você não precisava ter me puxado daquele jeito. Eu fiquei chateado.
- Você me deixou irritado!
- Você também me deixou irritado transando com a Marcela na minha cama.
- Já disse que não ia dar pra fazer na minha, Caio...
- E eu já disse que isso não é problema meu, Rodrigo!
- Posso te fazer uma pergunta?
- Faz – eu remexi o meu prato, mas não comi.
- O que sente por mim de verdade?
- Como assim? – eu o encarei.
- Você é apaixonado por mim, Caio?
Não esperava por aquela pergunta.
- Apaixonado? Não! Por quê?
- Porque você é muito ciumento, cara... Só quem é apaixonado sente um ciúme assim...
- Apaixonado eu não sou, mas eu te amo e você sabe disso.
- Eu te amo também, Caio... Mas o que você fez não foi legal. Tem certeza que você não sente nada a mais por mim?
- Tenho! Você mais do que ninguém sabe que eu sou apaixonado pelo Bruno...
A fisionomia do Digão mudou da água pro vinho.
- Não fala nesse desgraçado... Eu não gosto nem de lembrar que ele existe...
- Por que não?
- Porque ele te fez muito mal e eu sinto ódio desse garoto. Enfim, o assunto não é ele.
- Sei disso.
- Então não fala nele, por favor!
- Beleza... Eu não falo!
- Você entende o quanto eu estou chateado com você, Caio?
- Entendo sim. E eu lamento muito.
- Sério?
- Sério sim, Rodrigo. Eu sei que eu errei, mas você errou também.

- Eu errei? – ele riu.
- Sabe muito bem que sim.
- Onde eu errei, Caio?
- Primeiro em transar com ela na minha cama. Segundo em me prender daquele jeito e terceiro por não ter pensado que eu poderia ficar chateado sabendo do que aconteceu naquele quarto.
- Chateado por quê?
- Porque eu tenho ciúme de você. Você sabe muito bem disso.
- Não entendo esse ciúme, de verdade.
- É ciúme de irmão, Rodrigo. Não posso ter ciúme de você?
- Poder até pode, mas fazer um escândalo daquele só por uma transa?
- Não foi pela transa em si, foi pelas circunstâncias.
- Quais circunstâncias?
- Eu não achei legal, só isso!
- O que você não achou legal, meu querido?
- O que aconteceu. Você poderia ter feito em outro lugar, né?
- Qual o problema, Caio? A casa estava vazia, eu não tinha dinheiro pra motel e não consegui me segurar... Me entende, porra!
- Pior é que eu entendo...
- E então por qual motivo está com essa frescura?
- Não é frescura – eu comecei a me irritar. – Mas enfim...
- E agora, como a gente fica?
- Sei lá. Isso depende de você!
- Depende de mim? Quer dizer que a nossa amizade é uma mão de via única? Que eu saiba não é assim que tem que ser...
- Eu disse isso?
- Mas é o que parece.
- Olha, vamos aos fatos: eu errei em ter ficado em casa, você errou por ter transado com ela na minha cama. Eu errei em ter feito aquela cena, você errou por ter retribuído. Me desculpa?
Ele ficou calado e me olhou.
- Me desculpa ou não?
- Depende. Vai continuar chamando a Marcela de vadia e tudo mais?
- Não – suspirei. – Já pensei sobre isso e cheguei a conclusão que isso não é legal.
- Finalmente.
- Vai me desculpar ou não vai?
- Sim, desde que não aconteça novamente.
- Não vai acontecer. De hoje em diante eu não vou mais me meter no seu namoro, pode ficar tranquilo.
- Também não é assim...
- É assim sim, eu sei reconhecer quando eu erro. E eu errei, oras. Desculpa!
- Tudo bem.
- E você não vai falar nada?
- Falar o quê?!
Como o quê?! Ele não ia ficar calado, ia?
- Nada... Deixa pra lá – eu bebi o meu suco de uma vez.
- Você... Me perdoa também?
Ah... Ainda bem que ele caiu em si.
- Uhum.
- Mas me perdoa de coração?
- De coração. Eu to falando que perdoo é porque perdoo.
- Hum...
Ficamos calados por um segundo.
- Seu ciumento – ele fez um bico lindo.
- Ogro! – eu suspirei.
- Eu não sou ogro!
- É sim...
- Eu não era um príncipe até pouco tempo atrás?
- Acho que você na verdade é o Shrek
Meu amigo abriu um sorriso.
- Ai, Caio... Me desculpa por tudo, tá bom?
- Desde que você me desculpe também...
- Amigos? – ele estendeu a mão direita.
Suspirei e quase fiquei emocionado.
- Claro que sim – apertei a mão dele.
- Então vem e me dá um abraço de urso, igual aos que você me dá todas as noites?
- Aqui? – me surpreendi. – Na praça de alimentação do shopping?
- Algum problema?
- Claro que não...
Nós dois levantamos ao mesmo tempo e caímos um nos braços do outro. Sentir o peso e o cheiro do Rodrigo me deixou muito, muito aliviado.

- Seu chato – falei.
- Você que é!
- Sou nada. Eu só te amo, sacou?
- Eu te amo também, seu idiota...

Que bom. Pelo menos estava tudo resolvido. Dali em diante era só tocar o barco e não cometer mais os mesmos erros.
- Só que tem uma coisa – falei.
- O quê?
- Eu não deito mais naquela cama não. Quero ficar com a sua.
- Tranquilo. Eu imaginei que você fosse dar piti com relação a isso. Que besteira.
E era besteira mesmo, mas algo não me deixava ficar naquela cama.
- Cachorro – eu suspirei baixinho.
- Au, au – Rodrigo latiu. Eu dei risada.

- Bom dia – cumprimentei os meus amigos.
- Bom dia – responderam todos.
- Caio, está tudo bem? – a Marcela me fitou. – Por que você faltou esses 2 dias?
- Por motivos particulares. Perdi alguma coisa de importante, Jéssica?
- Não, nada demais. Só algumas matérias pra prova.
- Você me empresta?
- Claro!
- Está bravo comigo? – a namorada do Digão abaixou o tom de voz.
- Não.
- Não é o que parece.
- Eu tenho motivos pra estar bravo com você?
- Não!
- Então?
- Ah, deixa pra lá.
Enquanto estava na aula, eu só prestei atenção nos professores. Não quis ir para o intervalo pra não correr o risco de encontrar o Rodrigo. Aproveitei a oportunidade para colocar as matérias que perdi em ordem, mas não tive tempo de copiar tudo.
- Posso levar pra casa?
- Claro – Jéssica concordou.
- Obrigado, flor.
- De nadinha!
Na saída eu fiz de tudo para não encontrá-lo, mas foi inútil. Quando eu desci as escadas para ir até a rua, ele estava lá me esperando.
- Posso falar com você? – Rodrigo pegou no meu braço, da mesma forma que o Bruno fazia.
- Sim? – eu o encarei pela primeira vez.
- O que está acontecendo? Por que você sumiu esses dias?
- Você ainda pergunta?
- Podemos falar sobre o assunto?
- Você tem tempo?
- Quanto tempo você quiser.
- Não vai pra academia?
- Não. Você vai?
- Não. Eu não tenho roupa.
- Foi o que imaginei. Vamos almoçar?
- Pode ser.
- Só espera eu me despedir da Marcela?
- Espero sim.
Andei uns passos e fiquei longe do casal. Eles se despediram e rapidamente o Rodrigo saiu ao meu encontro.
- Pronto. Onde você quer comer?
- Qualquer lugar – eu não estava sentindo fome.
- Vamos no shopping onde você trabalha?
- Perfeito.
Durante o caminho nós não trocamos uma palavra sequer. Eu estava disposto a perdoá-lo se ele também fizesse o mesmo comigo.
- Por onde a gente começa? – perguntei.
- De onde a gente parou?
- Por mim...
- Eu estou muito triste com você, viu?
- A recíproca é verdadeira, Rodrigo.
- Você não precisava ter feito aquele escarcel não.
- E você não precisava ter me puxado daquele jeito. Eu fiquei chateado.
- Você me deixou irritado!
- Você também me deixou irritado transando com a Marcela na minha cama.
- Já disse que não ia dar pra fazer na minha, Caio...
- E eu já disse que isso não é problema meu, Rodrigo!
- Posso te fazer uma pergunta?
- Faz – eu remexi o meu prato, mas não comi.
- O que sente por mim de verdade?
- Como assim? – eu o encarei.
- Você é apaixonado por mim, Caio?
Não esperava por aquela pergunta.
- Apaixonado? Não! Por quê?
- Porque você é muito ciumento, cara... Só quem é apaixonado sente um ciúme assim...
- Apaixonado eu não sou, mas eu te amo e você sabe disso.
- Eu te amo também, Caio... Mas o que você fez não foi legal. Tem certeza que você não sente nada a mais por mim?
- Tenho! Você mais do que ninguém sabe que eu sou apaixonado pelo Bruno...
A fisionomia do Digão mudou da água pro vinho.
- Não fala nesse desgraçado... Eu não gosto nem de lembrar que ele existe...
- Por que não?
- Porque ele te fez muito mal e eu sinto ódio desse garoto. Enfim, o assunto não é ele.
- Sei disso.
- Então não fala nele, por favor!
- Beleza... Eu não falo!
- Você entende o quanto eu estou chateado com você, Caio?
- Entendo sim. E eu lamento muito.
- Sério?
- Sério sim, Rodrigo. Eu sei que eu errei, mas você errou também.
- Eu errei? – ele riu.
- Sabe muito bem que sim.
- Onde eu errei, Caio?
- Primeiro em transar com ela na minha cama. Segundo em me prender daquele jeito e terceiro por não ter pensado que eu poderia ficar chateado sabendo do que aconteceu naquele quarto.
- Chateado por quê?
- Porque eu tenho ciúme de você. Você sabe muito bem disso.
- Não entendo esse ciúme, de verdade.
- É ciúme de irmão, Rodrigo. Não posso ter ciúme de você?
- Poder até pode, mas fazer um escândalo daquele só por uma transa?
- Não foi pela transa em si, foi pelas circunstâncias.
- Quais circunstâncias?
- Eu não achei legal, só isso!
- O que você não achou legal, meu querido?
- O que aconteceu. Você poderia ter feito em outro lugar, né?
- Qual o problema, Caio? A casa estava vazia, eu não tinha dinheiro pra motel e não consegui me segurar... Me entende, porra!
- Pior é que eu entendo...
- E então por qual motivo está com essa frescura?
- Não é frescura – eu comecei a me irritar. – Mas enfim...
- E agora, como a gente fica?
- Sei lá. Isso depende de você!
- Depende de mim? Quer dizer que a nossa amizade é uma mão de via única? Que eu saiba não é assim que tem que ser...
- Eu disse isso?
- Mas é o que parece.
- Olha, vamos aos fatos: eu errei em ter ficado em casa, você errou por ter transado com ela na minha cama. Eu errei em ter feito aquela cena, você errou por ter retribuído. Me desculpa?
Ele ficou calado e me olhou.
- Me desculpa ou não?
- Depende. Vai continuar chamando a Marcela de vadia e tudo mais?
- Não – suspirei. – Já pensei sobre isso e cheguei a conclusão que isso não é legal.
- Finalmente.
- Vai me desculpar ou não vai?
- Sim, desde que não aconteça novamente.
- Não vai acontecer. De hoje em diante eu não vou mais me meter no seu namoro, pode ficar tranquilo.
- Também não é assim...
- É assim sim, eu sei reconhecer quando eu erro. E eu errei, oras. Desculpa!
- Tudo bem.
- E você não vai falar nada?
- Falar o quê?!
Como o quê?! Ele não ia ficar calado, ia?
- Nada... Deixa pra lá – eu bebi o meu suco de uma vez.
- Você... Me perdoa também?
Ah... Ainda bem que ele caiu em si.
- Uhum.
- Mas me perdoa de coração?
- De coração. Eu to falando que perdoo é porque perdoo.
- Hum...
Ficamos calados por um segundo.
- Seu ciumento – ele fez um bico lindo.
- Ogro! – eu suspirei.
- Eu não sou ogro!
- É sim...
- Eu não era um príncipe até pouco tempo atrás?
- Acho que você na verdade é o Shrek
Meu amigo abriu um sorriso.
- Ai, Caio... Me desculpa por tudo, tá bom?
- Desde que você me desculpe também...
- Amigos? – ele estendeu a mão direita.
Suspirei e quase fiquei emocionado.
- Claro que sim – apertei a mão dele.
- Então vem e me dá um abraço de urso, igual aos que você me dá todas as noites?
- Aqui? – me surpreendi. – Na praça de alimentação do shopping?
- Algum problema?
- Claro que não...
Nós dois levantamos ao mesmo tempo e caímos um nos braços do outro. Sentir o peso e o cheiro do Rodrigo me deixou muito, muito aliviado.
- Seu chato – falei.
- Você que é!
- Sou nada. Eu só te amo, sacou?
- Eu te amo também, seu idiota...
Que bom. Pelo menos estava tudo resolvido. Dali em diante era só tocar o barco e não cometer mais os mesmos erros.
- Só que tem uma coisa – falei.
- O quê?
- Eu não deito mais naquela cama não. Quero ficar com a sua.
- Tranquilo. Eu imaginei que você fosse dar piti com relação a isso. Que besteira.
E era besteira mesmo, mas algo não me deixava ficar naquela cama.
- Cachorro – eu suspirei baixinho.
- Au, au – Rodrigo latiu. Eu dei risada.
- Caio do céu, deixa eu te contar um babado – Janaína me puxou pela gola da
camisa.
- Calma, quenga. Você vai amassar minha camisa!
- Menino do céu, você não sabe da maior...
- O quê???
- Sabe a Do Carmo?
- Uhum.
- Ela lê o Tarô, né?
- Sim eu sei. Lembra que eu falei pra você que ela tá no meu pé pra eu me consultar?
- Então, eu fui me consultar com ela...
- E?
- E daí que a mulher acertou até os milímetros do meu útero, Caio!!!
- OI?
- É sério, criatura!. Ela acertou tudo sobre a minha vida, tudo mesmo... Gato, vai se consultar com ela!
- Eu não... Nunca acreditei nessas coisas...
- Pois eu acredito e acredito muito. Fiquei pasma, ala acertou tudo. Até disse como eu estava me sentindo atualmente... É sério, sem brincar, faz uma consulta com ela pra você ver.
- E quanto é?
- Eu fiz uma de meia hora. Paguei R$ 40,00.
- Tudo isso? Deeeus é mais. Caro demais!
- Caro nada, Caio... Ela te dá altos conselhos, altas dicas e te explica um monte de coisa. Meu, é sério... Vai fazer essa consulta...
- Sei não, hein?
- Para de ser bobo, eu to falando sério... Ela acertou até as iniciais dos meus três bofes... E disse com quem eu deveria ficar no momento. Vai fundo, se consulta que você vai entender o que eu to falando!
- Pensarei sobre o assunto.
- Pensa sim e se você for, depois me conta como foi, hein?
- Não sei se vou não, mas enfim. Vou pensar. Deixa eu falar com o povo agora.
- Vai lá. E pensa bem sobre o assunto, de verdade.
Que coisa mais esquisita. Confesso que a Janaína me deixou instigado em conhecer o trabalho da Do Carmo, mas eu não sabia se era certo ou não fazer a tal da consulta.
- Boa tarde, Jonas. Boa tarde, Duda!
- Oi, Caio – eles falaram ao mesmo tempo.
- Tudo bem por aqui?
- Tudo em ordem – Jonas me fitou. – Hoje é dia do Tácio, hein? Não esquece daquele feedback.
- Pode deixar. Vou cumprimentar meus pares. Bom trabalho.
- Pra nós – eles falaram de novo ao mesmo tempo.
- Que cútis maravilhosa é essa? – brinquei com a Alexia.
- Ai, dá pra ver? Acho que é o amor...
- Ih, apaixonou foi? – a abracei.
- Muito, Caio... Ele é incrível...
- Sério? O que houve?
- Nossa primeira noite foi ontem. Ai, amigo... Eu estou muito apaixonada!
- Sério, amiga? – eu sorri. – Ai que bom... Faço votos que dê tudo certo!
- Obrigada, obrigada! Eu nunca vou cansar de te agradecer por ter me ajudado com ele...
- Nada que agradecer não, cabeçuda. É claro que eu ia te ajudar. Parabéns pelo namoro e por estar tão feliz assim. Que essa felicidade se multiplique cada vez mais.
- Calma, quenga. Você vai amassar minha camisa!
- Menino do céu, você não sabe da maior...
- O quê???
- Sabe a Do Carmo?
- Uhum.
- Ela lê o Tarô, né?
- Sim eu sei. Lembra que eu falei pra você que ela tá no meu pé pra eu me consultar?
- Então, eu fui me consultar com ela...
- E?
- E daí que a mulher acertou até os milímetros do meu útero, Caio!!!
- OI?
- É sério, criatura!. Ela acertou tudo sobre a minha vida, tudo mesmo... Gato, vai se consultar com ela!
- Eu não... Nunca acreditei nessas coisas...
- Pois eu acredito e acredito muito. Fiquei pasma, ala acertou tudo. Até disse como eu estava me sentindo atualmente... É sério, sem brincar, faz uma consulta com ela pra você ver.
- E quanto é?
- Eu fiz uma de meia hora. Paguei R$ 40,00.
- Tudo isso? Deeeus é mais. Caro demais!
- Caro nada, Caio... Ela te dá altos conselhos, altas dicas e te explica um monte de coisa. Meu, é sério... Vai fazer essa consulta...
- Sei não, hein?
- Para de ser bobo, eu to falando sério... Ela acertou até as iniciais dos meus três bofes... E disse com quem eu deveria ficar no momento. Vai fundo, se consulta que você vai entender o que eu to falando!
- Pensarei sobre o assunto.
- Pensa sim e se você for, depois me conta como foi, hein?
- Não sei se vou não, mas enfim. Vou pensar. Deixa eu falar com o povo agora.
- Vai lá. E pensa bem sobre o assunto, de verdade.
Que coisa mais esquisita. Confesso que a Janaína me deixou instigado em conhecer o trabalho da Do Carmo, mas eu não sabia se era certo ou não fazer a tal da consulta.
- Boa tarde, Jonas. Boa tarde, Duda!
- Oi, Caio – eles falaram ao mesmo tempo.
- Tudo bem por aqui?
- Tudo em ordem – Jonas me fitou. – Hoje é dia do Tácio, hein? Não esquece daquele feedback.
- Pode deixar. Vou cumprimentar meus pares. Bom trabalho.
- Pra nós – eles falaram de novo ao mesmo tempo.
- Que cútis maravilhosa é essa? – brinquei com a Alexia.
- Ai, dá pra ver? Acho que é o amor...
- Ih, apaixonou foi? – a abracei.
- Muito, Caio... Ele é incrível...
- Sério? O que houve?
- Nossa primeira noite foi ontem. Ai, amigo... Eu estou muito apaixonada!
- Sério, amiga? – eu sorri. – Ai que bom... Faço votos que dê tudo certo!
- Obrigada, obrigada! Eu nunca vou cansar de te agradecer por ter me ajudado com ele...
- Nada que agradecer não, cabeçuda. É claro que eu ia te ajudar. Parabéns pelo namoro e por estar tão feliz assim. Que essa felicidade se multiplique cada vez mais.
Pensei tanto no assunto da tal consulta que a minha curiosidade acabou
falando mais alto.
- Do Carmo?
- Pode ser na hora do almoço? – ela me fitou.
- Oi?
- A consulta. Pode ser no almoço?
- Po... De...
- Então está combinado.
Fiquei perplexo. Como ela sabia que eu queria me consultar? Ao mesmo tempo que fiquei surpreso, fiquei também amedrontado. Ela parecia até uma bruxa que lia os pensamentos da gente...
Voltei pro meu canto e fiquei esperando a minha hora de almoçar. O Jonas e a Eduarda haviam mudado o horário de almoço de toda a equipe e o meu era só às 17 horas. Coincidentemente ou não, o da Do Carmo era no mesmo horário que eu. Cansei de ver a fulana na praça de alimentação, mas nós nunca havíamos almoçado juntos.
Quando chegou a hora, eu passei o crachá no ponto e fui direto pra praça de alimentação. Eu precisava primeiro me alimentar, já que tinha almoçado por volta do meio dia. Já estava sentindo muita fome.
Na verdade aquilo seria a minha janta. Por conta da dieta da academia, eu comia de 3 em 3 horas e somente naquele dia eu pude jantar às 17 horas e isso porque eu já tinha almoçado com o Rodrigo mais cedo. Se fosse em um dia comum, aquele seria o meu almoço e eu só teria me alimentado de frutas e barras de cereais durante todo o dia. Ainda bem que o horário de almoço era alterado de 15 em 15 dias.
- Olá, Caio – a mulher foi até onde eu estava. – Posso comer aqui com você?
- Claro, Do Carmo! Fica à vontade.
- Obrigada.
A mulher colocou a comida na mesa, sentou, colocou a bolsa no colo e começou a almoçar.

- Hum... Estou faminta!
- Eu também estava.
- Então você finalmente decidiu?
- É, decidi sim...
- Graças a Janaína, não?
- Como você sabe? – mais uma vez eu me espantei.
- Já disse que eu sou sensitiva, querido – ela riu.
- Desculpe, mas eu não entendo muito sobre o assunto.
A minha colega de trabalho explicou um pouco o trabalho sensitivo dela, mas eu continuei sem entender nada.
Depois que ela terminou de comer, nós levamos as coisas até o lixo e sentamos em outra mesa para começar a tal consulta.
- Então, como funciona? Quanto é? Quanto tempo é?
- Eu tenho consultas de 15, 30, 45 minutos e 1 hora. Qual você quer?
- Acho que a de 30 minutos é suficiente...
- Então é só R$ 30,00. Eu te prometi metade do preço.
- Ah, perfeito...
A Janaína tinha pago 10 reais a mais. Vai ver que pra minha melhor amiga ela deu um desconto menor.
Eu abri a carteira e tirei o dinheiro. Era melhor pagar antes do que ficar devendo.
- Aqui...
- Obrigada. Você quer o Tarô ou as Cartas Ciganas?
- Eu deixo ao seu critério.
- Quem escolhe é você!
- Hum... Pode ser o Tarô então.
- Perfeito. Eu tenho 72 cartas, vou dividir o baralho em 3 partes e você escolhe qual lado quer. Direita, meio ou esquerda, OK?
- OK!
- Só deixa eu pegar aqui e me preparar, um segundo só.
Eu prestei atenção em tudo o que ela fez. A mulher abriu a bolsa, tirou o baralho, respirou fundo duas ou três vezes e depois disse:
- Podemos começar?
- Podemos – dei de ombros.
- Qual a pergunta que você vai querer fazer pro baralho?
- Ah, sei lá... – dei risada.
- Tenho certeza que é sobre o amor, correto?
- É... Correto sim – ri de novo.
- Então vamos ver como vai ficar a sua vida sentimental daqui pra frente?
- Uhum, pode ser...
- Direita, meio ou esquerda?
- Hum... – eu olhei as cartas. – Esquerda.
- Vamos lá... Vejo que você está dividido entre 2 homens...
Arregalei meus olhos numas condições que até escorreu uma lágrima. Como ela sabia que eu era gay?
- E você está com um deles atualmente...
Murilo?
- Mas é do outro que você gosta... Vejo também que você já foi muito traído na sua vida...
Caraca... Como ela sabia de tudo isso, meu Deus?
- Fui mesmo...
- E ainda vai ser...
- Oi?
- E ainda vai ser traído, querido! Sinto muito, é o que as cartas falam...
- Vou ser traído? Por quem?
- Deixa eu tirar mais uma carta... É pelo garoto que está com você atualmente!
- Hããããã? – eu fiquei chocado.
- O nome dele começa coma letra... M...
MISERICÓRDIA... ELA SÓ PODERIA SER UMA BRUXA...
- Co-começa...
- Não fica com ele não. É roubada. Ele já está com outra.
- Com outra?
- Sim... Eu vejo uma mulher no caminho dele. E ele já está com ela. E com você ao mesmo tempo. Caia fora o quanto antes.
- Sério?
- Seríssimo... As cartas não mentem.
Eu até estava acreditando, mas nesse momento não acreditei. Eu não podia acreditar que o Murilo estava com outra!
- E tem outro garoto na sua vida... O nome dele começa com B...
BRUNO!
- Vocês se amam muito...
- Eu não o amo não – menti.
- Ama, ama sim. Ama com todas as forças do seu coração. Vejo muitas nuvens entre vocês dois... Muitas brigas, muitos desentendimentos, muito sofrimento em ambas as partes...
- Verdade!
- Vejo uma separação que aconteceu no passado, estou certa?
- Sim...
Vou embaralhar aqui pra você escolher a carta agora...
Meu Deus, aquilo não podia estar acontecendo!
- Corta em três partes e tira três cartas pra mim, Caio, por favor.
Eu fiz o que ela me pediu.
- Ele saiu de perto de você... Foi para longe, muito longe...
- Espanha.
- Espanha... Deixa eu tirar mais uma carta... Hum! Ele não queria ir não, viu?
- Não queria? – meu coração pulou.
- Não, ele não queria. Ele queria ficar com você, mas não conseguiu... Era uma situação que fugia do controle dele...
- Como assim?
- Na verdade, Caio, vocês dois precisavam passar por essa separação. Já estava escrito na história de vocês. Só assim vocês iam amadurecer e perceber o quanto se amam...
- Ah, é?
- Sim! Mas eu vejo volta.
- Volta? – meu coração bateu mais forte ainda.
- Sim. Vocês vão voltar ainda esse ano.
- Vamos? – fiquei chocado.
- Vão. Só precisa de mais um tempo pra você perceber que ele está falando a verdade e quando você entender que ele te ama de verdade, nada mais vai deter vocês dois.
- Desculpa, mas nisso eu não acredito.
- Seu coração está voltando ao normal, querido... – ela tirou mais duas cartas. – E vocês vão voltar sim.
- Será?
- Vão. Eu tenho mais do que certeza disso. E vocês vão ser finalmente felizes juntos.
- Felizes?
- Muito felizes. Mas veja bem, lá na frente vocês vão passar por mais uma provação.
- Que provação?
- Deixa eu ver aqui... – Do Carmo tirou outra carta. – Você vai receber uma proposta de trabalho e isso vai ser o motivo de uma breve separação física.
- Nós vamos terminar de novo? – fiquei bravo.
- Não, não vão terminar. Vocês vão continuar juntos, mas a distância será um problema a ser contornado.
- Distância?
- Sim. Vejo vocês separados fisicamente, mas o amor ainda permanecerá o mesmo. Vocês não vão ficar separados espiritualmente falando
.

- Como assim, Do Carmo?
- O amor de vocês dois vai superar a distância.
- Vai, é? – eu não acreditei nisso.
- Vai... Vocês dois estão bem espiritualmente falando, mas você precisa confiar mais nele.
- Impossível.
- Não, não é. Ele está falando a verdade.
- Não consigo acreditar nele.
- Mas deveria. A felicidade de vocês dois depende unicamente disso.
- Hum...
- Deixa eu ver o que une vocês dessa forma...
- Como assim? Não entendi?
- Caio, escolhe uma carta do baralho, por favor.
Ela embaralhou o Tarô e colocou um monte de cartas na minha frente. Eu bati o olho em uma e coloquei o meu dedo em cima.
- Essa aqui!
- Rá! – Do Carmo riu. – Agora eu entendi por que vocês dois vão ficar juntos.
- Por que? – eu quis saber.
- Porque vocês dois são almas gêmeas, Caio!

- Do Carmo?
- Pode ser na hora do almoço? – ela me fitou.
- Oi?
- A consulta. Pode ser no almoço?
- Po... De...
- Então está combinado.
Fiquei perplexo. Como ela sabia que eu queria me consultar? Ao mesmo tempo que fiquei surpreso, fiquei também amedrontado. Ela parecia até uma bruxa que lia os pensamentos da gente...
Voltei pro meu canto e fiquei esperando a minha hora de almoçar. O Jonas e a Eduarda haviam mudado o horário de almoço de toda a equipe e o meu era só às 17 horas. Coincidentemente ou não, o da Do Carmo era no mesmo horário que eu. Cansei de ver a fulana na praça de alimentação, mas nós nunca havíamos almoçado juntos.
Quando chegou a hora, eu passei o crachá no ponto e fui direto pra praça de alimentação. Eu precisava primeiro me alimentar, já que tinha almoçado por volta do meio dia. Já estava sentindo muita fome.
Na verdade aquilo seria a minha janta. Por conta da dieta da academia, eu comia de 3 em 3 horas e somente naquele dia eu pude jantar às 17 horas e isso porque eu já tinha almoçado com o Rodrigo mais cedo. Se fosse em um dia comum, aquele seria o meu almoço e eu só teria me alimentado de frutas e barras de cereais durante todo o dia. Ainda bem que o horário de almoço era alterado de 15 em 15 dias.
- Olá, Caio – a mulher foi até onde eu estava. – Posso comer aqui com você?
- Claro, Do Carmo! Fica à vontade.
- Obrigada.
A mulher colocou a comida na mesa, sentou, colocou a bolsa no colo e começou a almoçar.
- Hum... Estou faminta!
- Eu também estava.
- Então você finalmente decidiu?
- É, decidi sim...
- Graças a Janaína, não?
- Como você sabe? – mais uma vez eu me espantei.
- Já disse que eu sou sensitiva, querido – ela riu.
- Desculpe, mas eu não entendo muito sobre o assunto.
A minha colega de trabalho explicou um pouco o trabalho sensitivo dela, mas eu continuei sem entender nada.
Depois que ela terminou de comer, nós levamos as coisas até o lixo e sentamos em outra mesa para começar a tal consulta.
- Então, como funciona? Quanto é? Quanto tempo é?
- Eu tenho consultas de 15, 30, 45 minutos e 1 hora. Qual você quer?
- Acho que a de 30 minutos é suficiente...
- Então é só R$ 30,00. Eu te prometi metade do preço.
- Ah, perfeito...
A Janaína tinha pago 10 reais a mais. Vai ver que pra minha melhor amiga ela deu um desconto menor.
Eu abri a carteira e tirei o dinheiro. Era melhor pagar antes do que ficar devendo.
- Aqui...
- Obrigada. Você quer o Tarô ou as Cartas Ciganas?
- Eu deixo ao seu critério.
- Quem escolhe é você!
- Hum... Pode ser o Tarô então.
- Perfeito. Eu tenho 72 cartas, vou dividir o baralho em 3 partes e você escolhe qual lado quer. Direita, meio ou esquerda, OK?
- OK!
- Só deixa eu pegar aqui e me preparar, um segundo só.
Eu prestei atenção em tudo o que ela fez. A mulher abriu a bolsa, tirou o baralho, respirou fundo duas ou três vezes e depois disse:
- Podemos começar?
- Podemos – dei de ombros.
- Qual a pergunta que você vai querer fazer pro baralho?
- Ah, sei lá... – dei risada.
- Tenho certeza que é sobre o amor, correto?
- É... Correto sim – ri de novo.
- Então vamos ver como vai ficar a sua vida sentimental daqui pra frente?
- Uhum, pode ser...
- Direita, meio ou esquerda?
- Hum... – eu olhei as cartas. – Esquerda.
- Vamos lá... Vejo que você está dividido entre 2 homens...
Arregalei meus olhos numas condições que até escorreu uma lágrima. Como ela sabia que eu era gay?
- E você está com um deles atualmente...
Murilo?
- Mas é do outro que você gosta... Vejo também que você já foi muito traído na sua vida...
Caraca... Como ela sabia de tudo isso, meu Deus?
- Fui mesmo...
- E ainda vai ser...
- Oi?
- E ainda vai ser traído, querido! Sinto muito, é o que as cartas falam...
- Vou ser traído? Por quem?
- Deixa eu tirar mais uma carta... É pelo garoto que está com você atualmente!
- Hããããã? – eu fiquei chocado.
- O nome dele começa coma letra... M...
MISERICÓRDIA... ELA SÓ PODERIA SER UMA BRUXA...
- Co-começa...
- Não fica com ele não. É roubada. Ele já está com outra.
- Com outra?
- Sim... Eu vejo uma mulher no caminho dele. E ele já está com ela. E com você ao mesmo tempo. Caia fora o quanto antes.
- Sério?
- Seríssimo... As cartas não mentem.
Eu até estava acreditando, mas nesse momento não acreditei. Eu não podia acreditar que o Murilo estava com outra!
- E tem outro garoto na sua vida... O nome dele começa com B...
BRUNO!
- Vocês se amam muito...
- Eu não o amo não – menti.
- Ama, ama sim. Ama com todas as forças do seu coração. Vejo muitas nuvens entre vocês dois... Muitas brigas, muitos desentendimentos, muito sofrimento em ambas as partes...
- Verdade!
- Vejo uma separação que aconteceu no passado, estou certa?
- Sim...
Vou embaralhar aqui pra você escolher a carta agora...
Meu Deus, aquilo não podia estar acontecendo!
- Corta em três partes e tira três cartas pra mim, Caio, por favor.
Eu fiz o que ela me pediu.
- Ele saiu de perto de você... Foi para longe, muito longe...
- Espanha.
- Espanha... Deixa eu tirar mais uma carta... Hum! Ele não queria ir não, viu?
- Não queria? – meu coração pulou.
- Não, ele não queria. Ele queria ficar com você, mas não conseguiu... Era uma situação que fugia do controle dele...
- Como assim?
- Na verdade, Caio, vocês dois precisavam passar por essa separação. Já estava escrito na história de vocês. Só assim vocês iam amadurecer e perceber o quanto se amam...
- Ah, é?
- Sim! Mas eu vejo volta.
- Volta? – meu coração bateu mais forte ainda.
- Sim. Vocês vão voltar ainda esse ano.
- Vamos? – fiquei chocado.
- Vão. Só precisa de mais um tempo pra você perceber que ele está falando a verdade e quando você entender que ele te ama de verdade, nada mais vai deter vocês dois.
- Desculpa, mas nisso eu não acredito.
- Seu coração está voltando ao normal, querido... – ela tirou mais duas cartas. – E vocês vão voltar sim.
- Será?
- Vão. Eu tenho mais do que certeza disso. E vocês vão ser finalmente felizes juntos.
- Felizes?
- Muito felizes. Mas veja bem, lá na frente vocês vão passar por mais uma provação.
- Que provação?
- Deixa eu ver aqui... – Do Carmo tirou outra carta. – Você vai receber uma proposta de trabalho e isso vai ser o motivo de uma breve separação física.
- Nós vamos terminar de novo? – fiquei bravo.
- Não, não vão terminar. Vocês vão continuar juntos, mas a distância será um problema a ser contornado.
- Distância?
- Sim. Vejo vocês separados fisicamente, mas o amor ainda permanecerá o mesmo. Vocês não vão ficar separados espiritualmente falando
.
- Como assim, Do Carmo?
- O amor de vocês dois vai superar a distância.
- Vai, é? – eu não acreditei nisso.
- Vai... Vocês dois estão bem espiritualmente falando, mas você precisa confiar mais nele.
- Impossível.
- Não, não é. Ele está falando a verdade.
- Não consigo acreditar nele.
- Mas deveria. A felicidade de vocês dois depende unicamente disso.
- Hum...
- Deixa eu ver o que une vocês dessa forma...
- Como assim? Não entendi?
- Caio, escolhe uma carta do baralho, por favor.
Ela embaralhou o Tarô e colocou um monte de cartas na minha frente. Eu bati o olho em uma e coloquei o meu dedo em cima.
- Essa aqui!
- Rá! – Do Carmo riu. – Agora eu entendi por que vocês dois vão ficar juntos.
- Por que? – eu quis saber.
- Porque vocês dois são almas gêmeas, Caio!
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