quinta-feira, 19 de março de 2015

Capítulo 42 Narrado Pelo Bruno



C
aio parou com a mão direita na maçaneta da porta e ficou com o corpo paralisado feito uma estátua.
A dor daquele trauma voltou com a força de uma erupção vulcânica e eu mais uma vez senti vontade de sumir do mapa. Estava feito. Se era aquilo que o Caio queria saber, finalmente ele havia descoberto a verdade sobre o meu drama de infância.
O meu ex-namorado virou e jogou os olhos em cima de mim. Consegui perceber um misto de sentimentos naquele olhar incrivelmente intenso que ele me lançou.

- Você pode repetir? Acho que eu não entendi!
- Entendeu sim – eu estava quase tendo um ataque do coração. – É isso mesmo que você ouviu.
Fiquei esperando alguma reação. Não era possível que ele fosse continuar imóvel como estava, era? Isso não aconteceu. Caio entrou no meu apartamento e fechou a porta. Ele voltou até o sofá, sentou ao meu lado e começou a se justificar:
- Bruno... Eu não falei aquilo no intuito de você revelar isso, tá? Se eu soubesse que era algo tão grave, eu não teria te provocado desse jeito... Desculpa?
Mentiroso! Mentiroso!!! Quantas vezes eu falei que o maldito do Márcio acabou com a minha adolescência?
- Você sabia que era grave sim, Caio! Quantas vezes eu te falei que o Márcio acabou com a minha vida?
Muitas vezes. Inúmeras vezes, mas a sua desconfiança sempre fala mais alto, né Caio?
Só de relembrar aquele fato tenebroso, eu não consegui segurar a minha emoção. Abaixei a cabeça e fiquei morrendo de vergonha. Eu não queria que o Caio, o meu Caio, o meu único e verdadeiro amor, soubesse daquela história. Era humilhante demais pra mim. Eu me sentia envergonhado, me sentia sujo, me sentia podre e ele não precisava saber disso. Ele não precisava...

Fiquei surpreso com o abraço que recebi do meu príncipe encantado, que na verdade não passava de um ogro! Ele me segurou com força e ao mesmo tempo com uma proteção imensa... E com esse gesto eu fiquei ainda mais emocionado.
- Me perdoa... Me perdoa, Bruno... Eu não queria te fazer lembrar disso... Eu juro que se eu soubesse que era isso eu não teria te provocado! Eu pensei que era só uma briga de irmãos, ou de tio e sobrinho! Nunca imaginei que fosse um... Crime...
Preferi não emitir a minha opinião. Eu sempre disse pro Caio o quanto o Márcio tinha me feito mal. Eu não sabia dizer se ele estava fazendo aquilo propositalmente ou não, mas também não quis me preocupar com esses detalhes.
Eu já tinha falado. Por um lado, me senti leve como uma pluma. Finalmente eu tinha contado o meu maior segredo e a minha maior desgraça, mas por outro lado, eu estava morrendo de vergonha e não queria que ele soubesse daquela história.
- Está tudo bem – continuei abraçado com o meu ex-namorado. Era mentira. Não estava tudo bem. O meu peito doía muito. Meu coração estava estraçalhado com aquela erupção vulcânica que houve dentro do meu tórax.
- Desculpa, por favor... Não chora, Bruno... Se você quiser, pode contar o que aconteceu. Às vezes é bom desabafar...
Por mais que eu estivesse me sentindo o pior de todos os homens, eu tinha que falar. Eu comecei, eu ia terminar. Querendo ou não, o Caio merecia saber de toda a verdade. Eu me coloquei no lugar dele e entendi o que ele estava sentindo naquele momento.
- Eu... – tentei achar as palavras certas. – Eu tinha 10 anos de idade...
Foi como um filme. Um verdadeiro filme. Um filme de terror. Eu ia falando e as cenas apareciam na minha mente.

Eu vi a casa branca da fazenda do irmão do meu pai, vi as árvores frutíferas que ele tinha no pomar, vi o açude onde os animais bebiam água, vi as vacas pastando, vi os cachorros e as crianças correndo por todos os lados, vi o céu e as nuvens brancas e vi também a cara do desgraçado que acabou com a minha vida.
Márcio. Meu irmão que eu achava ser meu tio. 8 anos mais velho que eu. Eu tinha 10 e ele 18.
Toda a minha família estava reunida na casa desse meu tio, que eu pensava que fosse tio-avô, mas que era tio; uma vez que eu era filho daquele que eu julgava que fosse meu avô.
Era um domingo e todos se aprontavam para ir à missa. Menos o Márcio e meu pai e eu. Nós não queríamos ir e a família respeitou essa decisão.
Estava muito quente naquele dia, muito quente mesmo. Por causa disso, eu fiquei a maior parte do tempo sentado nos galhos das árvores.

Eu adorava subir em árvores, ainda mais se essas estivessem dando frutos.
Eu fazia isso sempre que queria pensar na vida, sempre que queria fugir de tudo e de todos e naquele dia não foi diferente.
Enquanto eles saíam, eu fiquei lá, trepado em uma macieira, olhando pro céu que começava a ficar alaranjado devido ao entardecer e para as galinhas que começavam a se recolher em seus puleiros.

Foi então que ele apareceu. Todo imponente com seu jeito de macho alpha. Até que era bonito, até que me chamava a atenção, porém era estúpido demais.
Márcio pediu que eu descesse. Ele queria que eu fosse tomar banho e disse que já estava ficando tarde para eu ficar fora da casa. Poderia ser perigoso.
Eu fui, contudo não porquê ele pediu. Fui porque precisava de uma ducha gelada, já que o calor estava acima do normal para aquela época do ano.
Entrei, tomei minha ducha e procurei pelo então meu avô. Ele estava dormindo na cadeira de balanço e eu resolvi não acordá-lo.
Eu gostava muito do meu avô. Muito mesmo. Mais do que qualquer pessoa nesse mundo.
Ele era um doce comigo. Fazia todos os meus gostos. Ou melhor, quase todos. Como todo bom avô, ele não me dava bronca e sempre me tratava muito bem. Por isso eu o amava muito. Com todas as forças da minha alma.
Como não tinha nada pra fazer dentro daquela casa monótona e como meus então irmãos e primos não estavam lá porque tinham ido à missa, resolvi voltar pra fora e fiquei perto do açude, jogando pedras em seu interior.

Sentei em uma pedra e mais uma vez me perdi em meus pensamentos. Naquela época, eu estava descobrindo a minha homossexualidade e por causa disso, vivia perdido em um conflito interno.
Por ser muito jovem, eu não entendia direito o que estava acontecendo. Eu não sabia o que era ser gay, o que era gostar de garotos e não de garotas e isso só fazia as coisas piorarem e muito.
Não sei quanto tempo fiquei sentado naquela pedra perdido em um mar de pensamentos. Só sei que de repente a voz autoritária do desgraçado soou nos meus ouvidos.
Ele ordenou que eu entrasse. Disse que não era hora de criança ficar fora de casa, no entanto eu não obedeci. Quem ele pensava que era pra falar comigo daquele jeito?
Entramos em uma discussão. Márcio ameaçou me bater e eu gritei com ele. Ele não era meu pai! Nem meu pai que era meu pai batia em mim! Quanto mais um tio que nem era muito chegado à minha pessoa.
Foi por isso que tudo aconteceu. Ele me deu um soco que me fez desmoronar no chão e à partir desse momento eu não tive mais como reagir.
Márcio arrancou a minha roupa e me deixou apenas de camiseta e sem precisar fazer muitos esforços, me violentou.

Eu gritei, chorei, tentei fugir, mas de nada adiantou. Foi tudo muito rápido, foi tudo muito de repente e ele tinha muito, muito mais força do que eu.
Eu era apenas um garoto magricela e indefeso e o filho da puta era um marmanjão de 18 anos lutador de judô. Como eu poderia me defender daquele troglodita? A única coisa que eu pude fazer foi gritar. Gritar, gritar e gritar, porém de nada adiantou.
Nós dois estávamos um pouco afastados da casa do sítio e isso dificultou o meu pedido de ajuda. Ninguém me ouviu. Ninguém.
Entretanto, em um determinado momento o meu pedido de clemência foi escutado pelo meu pai biológico. Preocupado com meu sumiço, ele saiu à minha procura e acabou me encontrando ainda enquanto o estupro acontecia.
Só então eu consegui me livrar daquele monstro. Com a aparição de nosso pai, o Márcio saiu correndo e assim eu fiquei livre dele.
Foi horrível. Eu nunca vi meu pai tão nervoso como naquele começo de noite de domingo. O pobrezinho tentou sair correndo atrás do demônio do filho dele, mas de nada adiantou. Ele fugiu.
As coisas pioraram quando a minha família voltou da missa. Meu pai estava passando Mal e eu estava totalmente sem reação. Não sabia o que fazer, não conseguia reagir.
Abalado emocionalmente falando, fui obrigado a contar o que tinha acontecido e aí sim o negócio pegou fogo.
O Márcio foi denunciado e o crime foi comprovado através de um exame que eu fui obrigado a me submeter. Ou era isso, ou ele ficaria impune e isso eu não queria que acontecesse.
Vergonha. Medo. Tristeza. Constrangimento. Amargura. Raiva. Ódio. Tudo isso me resumia. Era tudo isso que eu sentia naquele momento.
E tudo piorou de vez quando meu pai faleceu, duas semanas depois vítima de um ataque cardíaco. Foram quatro no total. Ele morreu de desgosto. Ele morreu por causa do Márcio. Ele morreu por causa desse crime. E isso é outra coisa que pra mim não tem perdão.
De uma vez só aquele asqueroso cometeu dois crimes. Abusou sexualmente de mim e matou nosso pai. MEU pai. Porque ele não é mais filho da pessoa que eu mais amei em toda a minha vida. Não dá pra considerar isso de um monstro!

Depressão. Eu fiquei em depressão por muito tempo e não era pra menos. Fiz mais de 5 anos de acompanhamento psicológico e isso me ajudou muito, mas não me fez esquecer.
Como eu poderia esquecer algo assim? Algo tão tenebroso? Algo que literalmente acabou com a minha adolescência?
Não tinha como esquecer. Não TEM como esquecer. Doía muito. Ainda dói muito. Embora quase 10 anos tivessem passado, pra mim ainda era muito recente. Nem que se passassem mil. Milhares de anos. Eu não seria capaz de esquecer.
Nem de perdoar. Porque pra mim isso não tinha perdão. Ele me estuprou! Ele matou o meu pai de desgosto! Como eu poderia perdoar uma coisa como essas? Eu não tinha essa capacidade.

Difícil relembrar tudo isso. Eu ia falando, as lágrimas iam caindo, a voz ia falando, o pulmão ia ficando sem ar e o peito doía sem parar.
Foi difícil reviver todas aquelas lembranças malditas. Foi difícil colocar tudo pra fora. Mas o Caio merecia saber da verdade.
Talvez sabendo daquele acontecimento ele pudesse entender que eu não tive alternativa a não ser acatar à ordem do Luciano e sair do país. Ou eu saía, ou eu convivia com o demônio do Márcio. Eu não conseguiria morar debaixo do mesmo teto daquele crápula. Não mesmo!
Será que ele ia me entender? Será que finalmente ele ia compreender os motivos pelos quais eu tive que sair do Brasil?
Será que pra ele era suficiente? Ou será que ele ainda ia desconfiar da minha palavra? E se isso acontecesse?
Não! Não ia acontecer. Não era possível que depois de tanta coisa que eu contei ele ainda fosse desconfiar da minha palavra...
- Foi isso que aconteceu – falei. – A CULPA É DELE! SEMPRE FOI DELE E SEMPRE VAI SER DELE!!! Por isso eu não pude ficar debaixo do mesmo teto que aquele monstro!!!

Eu simplesmente não aguentei mais de tanta emoção. Caí sentado no chão, juntei os meus joelhos e fiquei com a cabeça baixa. A dor que eu sentia era imensa, simplesmente imensa.
- Bruno... – Caio sentou ao meu lado, me puxou para um abraço e ficou chorando comigo. – Ô, Bruno...
Nós ficamos lá, abraçados e eu despejei tudo aquilo que estava preso na minha garganta e no meu peito. Só Deus e eu sabíamos a dor que eu estava sentindo naquele instante.
Humilhado. Era assim que eu me sentia. Não por culpa do Caio, daquela vez a culpa não era dele. A culpa era do Márcio. Sempre que eu lembrava de tudo aquilo, a minha vontade era de sumir e nunca mais aparecer, porque mesmo depois de quase 10 anos, aquilo tudo ainda me machucava e me envergonhava muito.
- Fica calmo, tá? – ele beijou o meu rosto e eu senti uma onda elétrica em todo o meu corpo. – Vai ficar tudo bem.
- Agora você entende, Caio? – eu me recompus. – Agora você entende por qual motivo eu não podia ficar na mesma casa que aquele desgraçado? Agora você entende por qual motivo eu odeio tanto esse homem?
Houve um enorme período de silêncio. Ele se afastou de mim e eu passei e me sentir carente de novo.
Relembrar aquele acontecimento com o Márcio realmente não foi fácil, mas foi um mal extremamente necessário. Eu sabia que faria bem pra nossa relação aquela verdade e confesso que me senti aliviado abrindo o jogo pro meu ex, embora eu ainda estivesse morrendo de vergonha.
Mesmo estando me sentindo péssimo como ser humano, mesmo estando me sentindo podre, acabei também me sentindo leve revelando o meu maior segredo pro Caio. Eu tirei um peso das minhas costas e fiquei feliz em saber que naquele momento já não existia mais nenhum segredo que ele não soubesse.
Eu queria saber no que o Caio estava pensando. Em nenhum momento ele dirigiu a palavra a mim e tampouco me olhou. Os olhos dele estavam perdidos, provavelmente mais uma vez mergulhados em um oceano de pensamentos; pensamentos esses que eu não sabia quais eram, mas que eu torcia que enfim estivessem ao meu favor.

Fiquei vagando no tempo. Não sei se passaram minutos ou horas, e enquanto ele não falou nada, eu fiquei relembrando toda aquela maldita história que me fez tão mal no passado.
Fiquei com sede. Peguei água gelada na geladeira e coloquei em um copo. Notei que minhas mãos estavam trêmulas. Esse foi o momento que eu encontrei para puxar assunto com meu ex-namorado:
- Caio? Quer água? Suco? Ou alguma coisa?
- Hum? – ele virou o rosto lentamente e direcionou os olhos aos meus. Eu ainda não tinha coragem para encará-lo por causa da vergonha – Ah, não. Obrigado...
Bebi a minha água. Eu não estava aguentando mais. Ele precisava tomar uma decisão. E teria que ser naquele momento.
- Agora você entende por qual motivo eu sinto tanto ódio do meu irmão? – perguntei.
- Uhum. Sinceramente? Isso tudo parece até coisa de novela!
Novela? Quem me dera fosse novela! Era verdade, a mais pura verdade, a verdade da minha vida, a MINHA verdade, mas que eu queria que fosse mentira!
- Agora você entende que mesmo não querendo sair do país, essa era a minha única solução? Entende que eu fui obrigado a ir pra Europa, Caio?
Esperei um “sim”, mas isso não aconteceu. Nesse momento eu consegui enxergar dúvida no olhar do Caio e isso simplesmente me deixou fora do sério. Fiquei esperando uma reação, mas ela não aconteceu.
- Não... Mesmo assim você não acredita em mim, não é?
- Bruno...
- Mesmo assim você ainda acha que eu estou mentindo? É isso? Então espera aí, Caio! Espera aí...
Sem nem pensar duas vezes, entrei no meu quarto e comecei a jogar as coisas das minhas gavetas pro alto até encontrar a cópia da denúncia que minha cunhada fez contra o Márcio e quando eu encontrei, simplesmente voltei pra sala e quase fiz o Caio engolir aquele papel:
- Tá vendo isso daqui, Caio? É a cópia da denúncia que minha cunhada fez contra o Márcio na polícia. Consegue ler? Consegue ler o que está escrito aí? Consegue ENTENDER que é VERDADE agora, Caio?
Silêncio. Ele não falou absolutamente nada.
- Quer saber de uma coisa, Caio? – perdi totalmente as minhas esperanças. – Vai embora do meu apartamento!
Não sei o que deu em mim, mas sem mais nem menos eu me transtornei. Eu não queria mais olhar pro Caio sendo que ele não acreditava na minha palavra!
- Oi? – ele ficou desnorteado.
- Vai embora! Vai embora... Eu cansei, Caio... EU CANSEI! – a minha voz ainda estava rouca, mas mesmo assim eu consegui gritar.
Deixei o meu coração de lado e passei a agir com seriedade. Estava na hora de virar aquele jogo. Estava na hora de pensar em mim e deixar aquele garoto de lado. Se ele não acreditava em mim, era melhor eu não tentar mais nada com ele.
- Bruno...
- VAI EMBORA, CAIO! EU CANSEI DE TE FALAR A VERDADE E VOCÊ NÃO ACREDITAR EM MIM, EU CANSEI DE SER TRATADO COMO LIXO, EU CANSEI DE SER PISADO COMO SE EU FOSSE UM PANO DE CHÃO, EU CANSEI DE SER JULGADO COMO SE EU FOSSE O PIOR DE TODOS OS CRIMINOSOS, EU CANSEI DE SER CHUTADO COMO SE FOSSE UMA LATINHA VELHA, EU CANSEI DE SER TRATADO COMO UM MONTE DE MERDA!!!
Ele foi ficando vermelho aos poucos. Uma lágrima escapoliu pelo meu rosto e eu senti uma vontade enorme de quebrar alguma coisa.
- Chega! – meu coração doeu muito. – Chega, Caio, chega... Eu cansei, entendeu? Eu cansei! Estou há MAIS DE UM ANO te contando a mesma história, te contando a VERDADE e você não dá um segundo de trégua! Você ouviu a minha conversa com o Vítor, você conversou com a minha sobrinha, você ficou sabendo que o Márcio me violentou e mesmo assim você não acredita em mim? ENTÃO VAI PRO INFERNO! EU NÃO SOU TROUXA, CAIO MONTEIRO! EU TENHO SENTIMENTOS, EU TENHO UM CORAÇÃO AQUI DENTRO DESSE PEITO E ELE NÃO AGUENTA MAIS SER PISOTEADO!
Ele não falou nada e abaixou a cabeça. Ouvi um suspiro profundo e isso me deixou ainda mais enfurecido do que eu já estava.
- Você me trata como se eu tivesse cometido um crime que não fosse merecedor de perdão, mas sabe o que não merece perdão de verdade, Caio? UM ESTUPRO NÃO MERECE PERDÃO! UM ASSASSINATO NÃO MERECE PERDÃO! ISSO NÃO MERECE PERDÃO! EU APENAS SAÍ DO PAÍS PRA NÃO FICAR DEBAIXO DO TETO DA PESSOA QUE EU MAIS ODEIO NESSA VIDA, ERA A MINHA ÚNICA ALTERNATIVA, MAS ISSO VOCÊ NÃO ENXERGA E SABE POR QUE, CAIO C. MONTEIRO DA SILVA? PORQUE VOCÊ SE ACHA ACIMA DO BEM E DO MAL, VOCÊ SE ACHA ACIMA DA VERDADE E DA MENTIRA E VOCÊ SE ACHA MELHOR DO QUE OS OUTROS! VOCÊ SOFREU, EU SEI DISSO E ME SINTO PÉSSIMO, MAS EU TAMBÉM SOFRI, EU AINDA SOFRO SE É QUE VOCÊ NÃO PERCEBEU!
Eu fiquei completamente sem ar. O meu coração estava batendo muito acelerado, a minha cabeça doía demais e eu não queria fazer mais nada a não ser chorar, chorar e chorar. Ele me magoou muito!
- Eu não aguento mais correr atrás de alguém que não quer saber de mim. Eu tentei, Caio... Eu juro que tentei... Eu fiz de tudo pra tentar voltar com você, mas agora chega... CHEGA! VAI EMBORA DAQUI!
O Caio voltou a me encarar, dessa vez com os olhos imensamente tristonhos. Ele chorava muito. Muito mesmo.
- Calma... Calma, vamos conversar... Eu juro que...
- CONVERSAR? MAIS? NÃO, NÃO VAMOS! VAI EMBORA DAQUI, EU CANSEI DE VOCÊ, CAIO! CANSEI! VOCÊ É UM IDIOTA, GAROTO!
Não queria ter xingado o meu amor, mas não tive alternativa. Eu já tinha me humilhado demais por ele e não podia deixar que aquilo continuasse. Não podia!
- Por favor, Bruno... Vamos resolver tudo?
- Eu CANSEI, você entendeu? Pra mim CHEGA! Eu já me humilhei demais por você, já sofri demais por você, já fui humilhado demais por você, ofendido demais por você, agredido demais por você... NÃO DÁ MAIS, VAI EMBORA DAQUI!
- E você acha que eu não sofri, né? – ele voltou com aquela história. – Você acha que você não me machucou, né? Você foi um imbecil. Bruno!
- VOCÊ, VOCÊ, VOCÊ, VOCÊ, VOCÊ... É SEMPRE VOCÊ, CAIO! E EU? E EU? ONDE EU FICO NESSA HISTÓRIA?
- EU SOFRI MUITO, BRUNO DUARTE! VOCÊ ACABOU COM A MINHA VIDA, SEU DESGRAÇA...
Mais uma vez não sei o que deu em mim. Eu uni todas as forças do meu corpo e dei um tapa no rosto do Caio. Ele não ia me ofender mais... Não ia me ofender mais...
No entanto, bastou a minha mão tocar na face do meu garoto lindo para eu me arrepender. Meu coração doeu muito quando eu o vi com o pescoço virado para a esquerda. Em questão de segundos a bochecha dele ficou com a marca dos meus dedos e isso me deixou ainda mais desesperado.
Chorei, mas ele também chorou. Caio voltou a me encarar e colocou a mão onde eu tinha batido. A palma da minha mão ardia muito. Isso me fez ficar mais do que desesperado, mas eu não ia demonstrar nada. Ele não podia mais me ofender daquele jeito!
Vê-lo chorando me maltratou, mas a minha dor estava falando mais alto. Eu já tinha feito de tudo por ele e ele não soube dar valor aos meus sentimentos, então era melhor sofrer sozinho do que sofrer com as humilhações daquele desgraçado!
- Vai... Embora... Caio...
- Bruno... Por favor...
- VAI EMBORA, CAIO! EU NÃO QUERO MAIS SABER DE VOCÊ... NÃO QUERO! Nunca mais... – esse “nunca mais” saiu em um sussurro.
Ele abaixou a cabeça e saiu andando lentamente até a porta do meu apartamento. Eu o segui com os olhos e senti uma vontade muito grande de sair correndo até onde ele estava, senti uma vontade muito grande de abraçá-lo, de beijá-lo, de amá-lo... Mas não dava mais... Eu tinha que me contentar com a solidão e com a ausência daquele garoto que eu tanto amava...
Meu ex abriu a porta, saiu e bateu com a mesma em seguida. Eu mergulhei em um universo de dor, mágoa, tristeza, saudade e ao mesmo tempo raiva e ressentimento.
Naquele instante, ou era ele, ou eu. Eu preferi optar pela minha própria sobrevivência. O nosso amor não dava mais. O nosso amor já tinha morrido pra mim. Ele me humilhou muito, me ofendeu muito, me fez sofrer muito...
Definitivamente, eu já não sabia mais o que fazer. Eu não via alternativas, não via como eu podia parar de sofrer daquele jeito...
Em um único dia, no dia que eu pensei que finalmente tudo ficaria bem entre o Caio e eu, eu acabei perdendo o amor da minha vida de vez e ainda por cima tive que relembrar de todo aquele sofrimento do passado.
Por que isso acontecia comigo? Será que eu era tão ruim assim pra sofrer tanto? Será que eu tinha feito alguma coisa, cometido um pecado tão grave que Deus não viu outra alternativa a não ser me castigar daquele jeito?
Como eu amava aquele filho da puta! Mesmo ele me maltratando daquele jeito, mesmo ele não acreditando em mim, mesmo ele desconfiando da minha palavra, eu ainda o amava. E como o amava!
- EU TE AMO, DESGRAÇADO!
Sem mais nem menos, peguei o copo que estava em cima da mesa e joguei contra a porta do meu apartamento.
Voou caco de vidro para tudo quanto foi lado, mas eu não me importei. Tudo o que eu queria naquele momento era chorar, chorar e curtir a minha dor. Dor essa que eu sabia que nunca mais, NUNCA MAIS, sairia de dentro do meu peito.
E a culpa era dele. Todinha dele. Só dele. Dele e de mais ninguém.
A culpa era daquele desgraçado. A culpa era daquele mestre em teimosia. A culpa era daquele chato de galochas. A culpa era daquele branquelo extremamente lindo. A culpa era daquele anjo de cabelos e olhos castanhos. A culpa era daquele príncipe de sotaque paulistano, mas metido à caiçara. A culpa era daquela delícia que fazia as minhas pernas tremerem. A culpa era daquela voz que me deixava arrepiado. A culpa era daquele corpo que pertencia à mim. A culpa era daquela boca que encaixava perfeitamente na minha. A culpa era dequele homem que me enlouquecia em todos os sentidos possíveis e imagináveis. O Caio. Caio C. Monteiro da Silva. Ou só Caio Monteiro, como ele preferia ser chamado. O grande e ÚNICO amor da minha vida!

2 comentários:

Anônimo disse...

Eu esperei mto por esse momento!
O momento que o Bruno pensasse mais nele do que em você Caio. Eu sei que vc perdeu toda a confiança no cara, mais ele se humilhou de mais já. Chega! Como ele mesmo disse rsrs Agora é a vez do Caio mostrar que merece o amor do Bruno. Eu tinha muita raiva do Bruno não vou negar, mais ele me ganhou na insistência rsrs Ele me fez sentir o amor que sente por vc. Entende? Na insistência, nas palavras de carinho e tais. E olha que sempre torce pra que vc ficasse com o Rodrigo. Mais agora estou totalmente dividido. Sua História de vida mexe com nossos sentimentos rsrs
Admiro vc Caio. Fica bem �� Júnior M.

Thyago R.R disse...

Eu estou emocionado....mais um vez de olhos marejados. Gostei demais desse capitulo,principalmente por ter sido todo narrado pelo Bruno. E gostei ainda mais da atitude dele,uma dose de orgulho nunca vez mal a ninguém,depois de tanto sofrimento e o caio ainda duvida,desdenhar...putsss,acho que agora ta na hora do Caio mandar essa razão pro raio da silibrina e escutar o coração!!!