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e a intenção do Jonas era me irritar ou me tirar do sério, ele
tinha conseguido.
Meu gerente já tinha me perguntado mil vezes se eu queria participar daquele processo e em todas as vezes eu respondi não. Acho que estava bem clara a minha decisão. Eu queria entender por qual motivo o meu nome estava naquela porcaria de papel!
- Senta aí, meu filho.
Eu sentei, bati o pé direito no chão, cruzei os braços, respirei fundo e fiquei esperando uma resposta. Eu bem queria saber qual seria a desculpa do Jonas.
- Eu te indiquei pra vaga, Caio.
- Com autorização de quem?
- Do Tácio.
- Oi? – eu ergui as sobrancelhas.
- Do Tácio – ele repetiu, com a maior calma do mundo. – Eu indiquei todos que ficaram cobrindo férias e não quiseram participar.
- E com que direito você faz uma coisa dessas? Eu já disse que eu não queria participar desse processo seletivo!
- Só que não é uma questão de querer, Caio. É uma questão de agarrar a oportunidade. Até quando você vai ficar nessa zona de conforto?
- Até eu me sentir apto a sair dela.
- Não, não e não. Você não vai ficar nessa zona de conforto, não vai! Eu sou seu chefe, mas sou também seu amigo. Você acabou de se formar na faculdade e tem uma excelente oportunidade para entrar na sua área e está jogando essa oportunidade fora. Eu não vou deixar isso acontecer de jeito nenhum. Você participará do processo seletivo e não se fala mais nisso.
Foi quase 30 minutos de discussão e no meio dela, a Janaína apareceu para fazer os mesmos questionamentos.
- Eu já falo com você. Espera eu terminar aqui com o Caio.
- Eu to preta passada no ferro de passar com o que você fez, hein Jonas? Me aguarde!
- Já falo com você.
- Continuo firme na minha decisão de não participar – bati o pé.
- Mas você vai.
- Me dá um único motivo para eu mudar de ideia?
- Um? Eu tenho vários e você só quer um? Beleza: eu mando e você obedece. Ponto final.
Eu abri a boca pra responder, mas não saiu nada. Depois desse tapa na cara, eu fiquei completamente sem argumento.
- Ótimo. Assim é que eu gosto. Sua entrevista será na segunda-feira às 9 horas. Na verdade será a realização de várias provas. Você precisa vir de social e bem apresentável. Não se atrase.
- Olha só, Jonas... Um dia eu ainda vou devolver na mesma moeda o que você está fazendo comigo, entendeu?
- Isso é uma ameaça?
- Não. É um aviso. Não estou de acordo com o que você fez, mas enfim... Manda quem pode e obedece quem tem juízo. Eu participo, mas contra a minha vontade que fique bem claro.
- Um dia você ainda vai me agradecer por isso. E agora volta pro seu lugar, tá cheio de clientes e a gente já perdeu tempo demais. Não quero ver mais você na minha mesa falando desse assunto, combinado?
Mais uma vez eu fiquei sem argumentos. O Jonas pegou pesado nesse feedback, mas eu mereci. Na hora, eu fiquei com muita raiva dele, mas depois a raiva se atenuou e eu entendi os motivos pelos quais meu superior me indicou para aquela vaga. Ele só queria me ajudar.
- A mesa é toda sua – falei com a Janaína.
- Ele vai me ouvir agora ou eu não me chamo Janaína Santos Encapetada.
Eu fui obrigado a rir. Ela era a única que conseguia aliviar a minha tensão – depois do Bruno, é claro.
Meu gerente já tinha me perguntado mil vezes se eu queria participar daquele processo e em todas as vezes eu respondi não. Acho que estava bem clara a minha decisão. Eu queria entender por qual motivo o meu nome estava naquela porcaria de papel!
- Senta aí, meu filho.
Eu sentei, bati o pé direito no chão, cruzei os braços, respirei fundo e fiquei esperando uma resposta. Eu bem queria saber qual seria a desculpa do Jonas.
- Eu te indiquei pra vaga, Caio.
- Com autorização de quem?
- Do Tácio.
- Oi? – eu ergui as sobrancelhas.
- Do Tácio – ele repetiu, com a maior calma do mundo. – Eu indiquei todos que ficaram cobrindo férias e não quiseram participar.
- E com que direito você faz uma coisa dessas? Eu já disse que eu não queria participar desse processo seletivo!
- Só que não é uma questão de querer, Caio. É uma questão de agarrar a oportunidade. Até quando você vai ficar nessa zona de conforto?
- Até eu me sentir apto a sair dela.
- Não, não e não. Você não vai ficar nessa zona de conforto, não vai! Eu sou seu chefe, mas sou também seu amigo. Você acabou de se formar na faculdade e tem uma excelente oportunidade para entrar na sua área e está jogando essa oportunidade fora. Eu não vou deixar isso acontecer de jeito nenhum. Você participará do processo seletivo e não se fala mais nisso.
Foi quase 30 minutos de discussão e no meio dela, a Janaína apareceu para fazer os mesmos questionamentos.
- Eu já falo com você. Espera eu terminar aqui com o Caio.
- Eu to preta passada no ferro de passar com o que você fez, hein Jonas? Me aguarde!
- Já falo com você.
- Continuo firme na minha decisão de não participar – bati o pé.
- Mas você vai.
- Me dá um único motivo para eu mudar de ideia?
- Um? Eu tenho vários e você só quer um? Beleza: eu mando e você obedece. Ponto final.
Eu abri a boca pra responder, mas não saiu nada. Depois desse tapa na cara, eu fiquei completamente sem argumento.
- Ótimo. Assim é que eu gosto. Sua entrevista será na segunda-feira às 9 horas. Na verdade será a realização de várias provas. Você precisa vir de social e bem apresentável. Não se atrase.
- Olha só, Jonas... Um dia eu ainda vou devolver na mesma moeda o que você está fazendo comigo, entendeu?
- Isso é uma ameaça?
- Não. É um aviso. Não estou de acordo com o que você fez, mas enfim... Manda quem pode e obedece quem tem juízo. Eu participo, mas contra a minha vontade que fique bem claro.
- Um dia você ainda vai me agradecer por isso. E agora volta pro seu lugar, tá cheio de clientes e a gente já perdeu tempo demais. Não quero ver mais você na minha mesa falando desse assunto, combinado?
Mais uma vez eu fiquei sem argumentos. O Jonas pegou pesado nesse feedback, mas eu mereci. Na hora, eu fiquei com muita raiva dele, mas depois a raiva se atenuou e eu entendi os motivos pelos quais meu superior me indicou para aquela vaga. Ele só queria me ajudar.
- A mesa é toda sua – falei com a Janaína.
- Ele vai me ouvir agora ou eu não me chamo Janaína Santos Encapetada.
Eu fui obrigado a rir. Ela era a única que conseguia aliviar a minha tensão – depois do Bruno, é claro.
- Pode não, DEVE! O que você tem, bebê? – ele parecia preocupado.
Expliquei o ocorrido e para a minha surpresa, ele ficou do lado do meu gerente!
- Você é meu namorado, Bruno! Você teria que ficar do meu lado, não do lado do Jonas.
- Não é porquê eu sou seu namorado que eu tenho que concordar com você, Caio. O Jonas está certo. Esse processo seletivo será excelente para você exercer a sua profissão, amor. Pensou nisso já?
- Pensei, Bruno, mas eu não me sinto preparado pra vaga, entende?
- Entendo, amor, mas pensa que é só um teste, tá? Eu tenho certeza que você vai mudar de ideia!
- Sei não.
- Vai sim. Mas então, que horas você vai pro meu apartamento?
- Depois que eu sair da loja. Nem sei se vou mais.
- Por quê?!
- Porque era pra você me consolar, não pra ficar contra mim.
- Eu não estou contra você, anjo – Bruno suspirou. – Eu só concordo com a opinião do Jonas, só isso!
Quase brigamos. Quase.
- Eu vou, eu vou – finalizei o assunto. – Quando eu sair daqui eu vou direto pra lá.
- Não precisa se preocupar com roupa, hein? Tem um monte de roupas suas lá em casa.
- Eu sei. Eu já tenho tudo o que preciso aqui na mochila.
- Então a gente se vê mais tarde. Eu prometo que vou direto pra casa, sem pitstops.
Não quis mesmo ir pra república naquela noite. Eu estava tão irritado, tão chateado com o Jonas que não queria ver ninguém além do meu namorado.
Naquele primeiro momento, eu não ligava para o meu futuro profissional. Tudo o que eu queria era que alguém me compreendesse e que respeitassem a minha decisão. Se eu não queria participar do processo, as pessoas tinham que respeitar a minha decisão acima de tudo.
Não tive problemas para entrar no apartamento do Bruno. Ele sempre deixava uma chave reserva debaixo da porta. Era só pegar uma caneta e puxar. Isso era feito por minha causa, para que eu pudesse entrar sempre que quisesse.
Por várias vezes o Bruno tentou me entregar a chave do apartamento, mas eu não quis ficar. Eu só iria ficar com uma cópia quando nós fossemos morar juntos, se é que isso ia acontecer, né?
- Oi... – os olhinhos dele brilharam quando me viram no sofá.
- Oi.
- Que carinha de triste é essa, hein? Não está feliz em me ver?
- Claro que estou, meu bobinho mais lindo de todo o universo.
Levantei e fui ao encontro do meu príncipe. O coitadinho estava tão cansado que estava cheio de olheiras. Isso partiu o meu coração.
- Saudades de você – ele falou no meu ouvido.
- Eu é que estou com saudades de você.
Rolou o primeiro beijo, mas ele não foi tão longo. O Bruno queria tomar banho.
- Já tomou banho, né?
- Como sabe? – perguntei.
- Você está com cheirinho de sabonete, anjo.
Abri um sorriso. Ele era mais perfeccionista que eu de vez em quando.
- Você arrumou de novo esses quadros?
- Uhum – senti minhas bochechas esquentarem.
- Você nunca fica contente com nada.
Sempre que eu ia no apê do meu namorado, eu arrumava alguma coisa. E normalmente eram os quadros. Quando eu cansava da ordem que eles estavam nas paredes, eu simplesmente os modificava de lugar. Pelo visto isso estava irritando o Bruno...
- Quer jantar?
- O que você fez de bom? – perguntou.
- Frango.
- Quero sim, bebê. Só que eu não vou querer muito porque já está tarde.
Fiz um prato pro meu anjo e coloquei no micro-ondas. Enquanto ele tomava banho, eu levei as roupas dele pra máquina e aproveitei para colocar o eletrodoméstico pra trabalhar. Havia muita roupa suja.
- Ah, obrigado por ter colocado a roupa pra lavar. Eu ia fazer isso mesmo. Não vai comer comigo?
- Desculpa, Bruh. Não consegui te esperar e já comi.
- Sem problemas. Hum... Parece estar bom!
Só em estar no mesmo lugar que o Bruno o meu estresse foi embora. Ele estava sentado na minha frente, comendo calado e estava simplesmente maravilhoso. Só o meu anjo conseguiu me desestressar naquela noite.
- Quer conversar? – ele perguntou.
- Não, amor. Eu já estou bem melhor só em ter te visto, sabia?
- É?
- Sim!
- Que bom que eu sirvo pra alguma coisa – ele brincou.
- Você serve pra muita coisa, amor. Está cansadinho, né?
- Só o pó, amor. Me faz uma massagem, por favor?
- Faço, claro que eu faço! Termina de jantar que a gente já vai deitar.
- É eu vou mesmo. Eu vou aproveitar que você está aqui. Quero ficar com você o máximo de tempo possível.
- Eu também, mas não vou querer te atrapalhar, tá?
- Não vai me atrapalhar. Você nunca me atrapalha, nunca! Entendeu?
Fiquei calado e suspirei. Poderia existir um homem mais lindo que o Bruno? Pra mim não!
- Enquanto você termina de comer, eu vou limpar o banheiro pra te ajudar, tá bom?
- Não, Caio! Não se preocupa não...
- Imagina, Bruh. Eu não vou deixar você se matar, né? É rapidinho.
- Você não existe, sabia?
Lavei o banheiro, sequei e ele não terminou a janta. O Bruno comia devagar, sempre foi assim.
- Agora eu terminei. Estava uma delícia. Muito obrigado!
- Por nadinha, bebê. Vamos deitar?
- Só vou escovar os dentes e já vou. Espero que não passe mal...
- Deus te livre – eu abracei aquele gostoso. – Isso não vai acontecer, não vai!
Bruno e eu dividimos a pia para escovar os dentes e foi nesse momento que eu percebi a presença de um dente novo na minha boca. Era o “dente do juízo” que estava nascendo.
- Está tudo bem? – ele ficou preocupado.
- Sim – eu enxaguei a boca. – Mas está sangrando!
- Por causa da escova que bateu. Está doendo muito? Quer ir ao médico?
- Não, meu anjo – eu ri. – Não precisa se preocupar.
- Tem certeza que é o dente que está nascendo, amor?
- Absoluta. Na hora que a escova bateu eu senti a pontinha do dente saindo. Espero que eu não sofra muito com isso.
- Dizem que é bem complicado o nascimento desses dentes.
- Se doer muito eu vou ao dentista, não se preocupe.
- Você não quer mesmo ir agora? Eu te levo!
- Não, bebê – eu o abracei, no banheiro mesmo. – Não se preocupa. É só um dente!
O meu namorado estava tão cansadinho que ele estava até molenga. Eu fiquei com muita dó do bichinho e não pensei duas vezes em cuidar dele, até ele dormir.
- Você veio aqui pra desabafar comigo e nem falou nada!
- Não preciso desabafar – comecei a massagem. – Bastou te ver, bastou ver esses olhinhos azuis para eu ficar calminho.
- Quer saber de uma coisa?
- Hum?
- Eu acho que o Jonas autorizou você voltar pro período da manhã justamente por causa desse processo seletivo.
- Sim, foi sim. Ele mesmo me disse isso: “por que você acha que eu deixei você vir pro período da manhã?” – eu imitei a voz do Jonas.
- Eu acho que vai ser bom pra você, de verdade. Não deveria reagir assim.
- Por incrível que pareça, eu já estou acostumado com essa novidade. Vou fazer esse processo seletivo, seja o que Deus quiser.
- É isso aí – ele virou e me fitou. – E vai dar tudo certo!
- Não quer mais massagem?
- Quero sim, mas eu quero um beijo também.
Eu dei o beijo, mas fiquei preocupado. E se a minha boca estivesse com gosto de sangue por causa do dente?
- Não está não – ele acariciou meu rosto. – Me beija, por favor...
Meu coração quase explodiu com a voz de dengo que ele fez. Como o Bruno estava carente naquela noite, meu Deus!
- Você me deixou excitado – ele escondeu o rosto no travesseiro.
- Você também me deixou assim.
- Queria tanto, sabia?
- Hoje não – me limitei a beijar o seu pescoço. – Você precisa descansar e descansar bastante, amor.
- Me abraça?
- Aconteceu alguma coisa, amor? Por que você está tão carente assim?
- Não é carência, é saudade. Eu te amo e queria ficar aqui com você todos os dias.
- Eu também, amor. Eu também.
Ele bocejou e suspirou. Eu beijei de novo o pescoço do Bruno e fechei meus olhos. Ele precisava dormir e eu também. A minha raiva do Jonas já tinha passado e eu estava começando a ficar cansado.
Não demorou para ele pegar no sono. O cansaço físico do Bruno era notório, principalmente nas olheiras. Eu fiquei olhando pro rostinho do meu namorado até pegar no sono e foi a melhor coisa que fiz naquela noite. Por causa disso, ganhei um sonho lindo ao lado dele.
Na manhã seguinte, eu acordei e ele estava praticamente de saída.
O rosto do Bruno ainda estava cansado, mas não tanto como na noite anterior.
- Ei... – ele me olhou. – Já acordou, foi?
Demos um selinho.
- Uhum. Bom dia!
- Bom dia, coisa mais linda desse mundo – ele deitou em cima de mim e me beijou.
- Já está atrasado?
- Quase! Se eu soubesse que você ia acordar, teria feito café da manhã pra você!
- Não precisa se preocupar, amor. Eu acordei porque senti a sua falta na cama, mas daqui a pouco eu volto a dormir.
- É pra dormir mesmo, tá bom? Você fica tão lindo com sono, sabia?
- Bobo!
- É verdade! Vai dormir aqui hoje de novo?
- Não, Bruh. Eu não quero te atrapalhar. Sei que você precisa estudar.
- Você nunca me atrapalha!
- Eu venho na sexta, como sempre.
- Então tá bom. Me dá mais um beijo?
- Dou quantos você quiser.
Nos beijamos e depois ele continuou arrumando as coisas. Antes de sair, ele me beijou de novo e me entregou o bilhetinho que iria colocar no espelho do banheiro. Eu quase chorei lendo.
- EU AMO VOCÊ, MEU LINDÃO! – saí da cama e peguei o Bruno no colo.
- Eu adoro ouvir você dizendo que me ama, sabia?
- EU TE AMO, EU TE AMO, EU TE AMO, EU TE AMO, EU TE AMO, EU TE AMO, EU TE AMO MUUUUUUUUUUUUUUITO!!!
Bruno riu.
- Eu também, amor. Pode me colocar no chão? Já estou ficando atrasado!
- Posso, mas só porquê eu não quero te atrapalhar, viu? Senão não soltaria nunca mais.
- Eu bem queria ficar no seu colo pra sempre, pena que não é possível.
- Vai estudar, vai! A gente se fala mais tarde. Obrigado pelo bilhetinho, vou juntar com os outros.
- Se cuida, tá? Bom trabalho e boa academia mais tarde.
- Boa aula, bom trabalho e se cuida também. Juízo.
- Ah!!! E seu dentinho? Está doendo muito? Eu fiquei tão preocupado quando vi aquele sangue...
- Está dormindo, não está doendo. Não é pra se preocupar com isso, tá bom?
- Promete que vai me ligar se voltar a doer?
- Prometo, bobinho – voltei a deitar e me cobri. – Vai pra faculdade senão você se atrasa!
- Bom dia, bom dia e bom dia – ele beijou o meu rosto. – Dorme com os anjos, tá?
- Não eu não vou dormir com o anjo, o anjo está indo pra faculdade!
Ele ficou todo sério e com os olhos marejados.
- Eu te amo, filho da mãe – Bruno voltou a me beijar.
- Vai, vai – eu empurrei ele pra longe de mim. – Eu não quero te atrasar! Bom dia, amor.
- Bom dia, príncipe. Fica com Deus!
- Ei... – ele me olhou. – Já acordou, foi?
Demos um selinho.
- Uhum. Bom dia!
- Bom dia, coisa mais linda desse mundo – ele deitou em cima de mim e me beijou.
- Já está atrasado?
- Quase! Se eu soubesse que você ia acordar, teria feito café da manhã pra você!
- Não precisa se preocupar, amor. Eu acordei porque senti a sua falta na cama, mas daqui a pouco eu volto a dormir.
- É pra dormir mesmo, tá bom? Você fica tão lindo com sono, sabia?
- Bobo!
- É verdade! Vai dormir aqui hoje de novo?
- Não, Bruh. Eu não quero te atrapalhar. Sei que você precisa estudar.
- Você nunca me atrapalha!
- Eu venho na sexta, como sempre.
- Então tá bom. Me dá mais um beijo?
- Dou quantos você quiser.
Nos beijamos e depois ele continuou arrumando as coisas. Antes de sair, ele me beijou de novo e me entregou o bilhetinho que iria colocar no espelho do banheiro. Eu quase chorei lendo.
- EU AMO VOCÊ, MEU LINDÃO! – saí da cama e peguei o Bruno no colo.
- Eu adoro ouvir você dizendo que me ama, sabia?
- EU TE AMO, EU TE AMO, EU TE AMO, EU TE AMO, EU TE AMO, EU TE AMO, EU TE AMO MUUUUUUUUUUUUUUITO!!!
Bruno riu.
- Eu também, amor. Pode me colocar no chão? Já estou ficando atrasado!
- Posso, mas só porquê eu não quero te atrapalhar, viu? Senão não soltaria nunca mais.
- Eu bem queria ficar no seu colo pra sempre, pena que não é possível.
- Vai estudar, vai! A gente se fala mais tarde. Obrigado pelo bilhetinho, vou juntar com os outros.
- Se cuida, tá? Bom trabalho e boa academia mais tarde.
- Boa aula, bom trabalho e se cuida também. Juízo.
- Ah!!! E seu dentinho? Está doendo muito? Eu fiquei tão preocupado quando vi aquele sangue...
- Está dormindo, não está doendo. Não é pra se preocupar com isso, tá bom?
- Promete que vai me ligar se voltar a doer?
- Prometo, bobinho – voltei a deitar e me cobri. – Vai pra faculdade senão você se atrasa!
- Bom dia, bom dia e bom dia – ele beijou o meu rosto. – Dorme com os anjos, tá?
- Não eu não vou dormir com o anjo, o anjo está indo pra faculdade!
Ele ficou todo sério e com os olhos marejados.
- Eu te amo, filho da mãe – Bruno voltou a me beijar.
- Vai, vai – eu empurrei ele pra longe de mim. – Eu não quero te atrasar! Bom dia, amor.
- Bom dia, príncipe. Fica com Deus!
- Eu super quero ver como você vai se sair hoje – provoquei a
minha melhor amiga.
- Eu estou mais dolorida do que a minha conta bancária. Nem sei porquê estou indo pra academia com você.
- Porque você é linda, você é maravilhosa, você é tudo de bom e vai ficar muito gostosa malhando bastante. Pensa o número de bofes que vão ficar aos seus pés quando você ficar toda boa!
- Adoro!!! Eu ficaria contente só em perder meia horinha com o Well. Ele é gato e gostoso demais, meu Deus... Deu até calor!
- E o Alemão?
- Que é que tem ele? Deixa ele quieto na dele. O Wellington é mil e quinhentas vezes mais bonito que ele. Eu troco fácil!
Lembrei que a Janaína havia comentado comigo que a Do Carmo havia dito que ela deveria ficar com aquele tal de Alemão. Será que a cartomante errou com a minha amiga? Comigo ela tinha acertado tudo, absolutamente tudo.
- Preparada para a tortura?
- Como assim tortura? Por que você quer me torturar? Eu vou te denunciar por bullying!
- Porque eu adoro torturar os novatos, já disse – Wellington sorriu. – Caio, hoje é braço. Pode começar sozinho. Eu não vou largar do pé da Janaína por nada hoje.
- Boa sorte amiga.
- Se eu cair dura você chama o IML, tá amigo?
- Pode deixar. Se você morrer eu levo um pé de salsinha no seu velório!!!
- SALSINHA? – a negra ficou louca.
- É o que você vale, Jana. Sinto muito.
- Estou pretérita passada no tempo imperfeito!
- Eu estou mais dolorida do que a minha conta bancária. Nem sei porquê estou indo pra academia com você.
- Porque você é linda, você é maravilhosa, você é tudo de bom e vai ficar muito gostosa malhando bastante. Pensa o número de bofes que vão ficar aos seus pés quando você ficar toda boa!
- Adoro!!! Eu ficaria contente só em perder meia horinha com o Well. Ele é gato e gostoso demais, meu Deus... Deu até calor!
- E o Alemão?
- Que é que tem ele? Deixa ele quieto na dele. O Wellington é mil e quinhentas vezes mais bonito que ele. Eu troco fácil!
Lembrei que a Janaína havia comentado comigo que a Do Carmo havia dito que ela deveria ficar com aquele tal de Alemão. Será que a cartomante errou com a minha amiga? Comigo ela tinha acertado tudo, absolutamente tudo.
- Preparada para a tortura?
- Como assim tortura? Por que você quer me torturar? Eu vou te denunciar por bullying!
- Porque eu adoro torturar os novatos, já disse – Wellington sorriu. – Caio, hoje é braço. Pode começar sozinho. Eu não vou largar do pé da Janaína por nada hoje.
- Boa sorte amiga.
- Se eu cair dura você chama o IML, tá amigo?
- Pode deixar. Se você morrer eu levo um pé de salsinha no seu velório!!!
- SALSINHA? – a negra ficou louca.
- É o que você vale, Jana. Sinto muito.
- Estou pretérita passada no tempo imperfeito!
- Olá, olá – eu entrei no meu quarto e
cumprimentei os três rapazes.
- Quanto tempo, senhor Caio – Rodrigo me fitou.
- Não foi pra faculdade, Digow?
- Hoje eu só tive uma palestra. Acabei de chegar. Dormiu no Bruno ontem?
- Onde mais?
- E o Jonas? Voltou atrás?
- Não. Eu vou participar. Mudei de ideia. O Bruno me convenceu.
- Olha o que o amor me faz... – Vinícius começou a cantar, pra me provocar.
- Cantando Sandy e Júnior, Vini?
- Qual é? É da minha época, e daí?
- É da minha época também. Não sabia que você curtia.
- Não, eu não curto. É que essa música passou na televisão agora há pouco!!!
- Aham, sei.
- Por acaso o senhor não esqueceu que nesse sábado é a festa da Bruna não, né? – Vinícius me lançou um olhar furtivo.
- Não, não esqueci. Já estou com a minha fantasia pronta.
- Está? – Rodrigo me encarou. – E você vai com qual fantasia, posso saber?
- Peter Pan. E vocês?
- Eu vou de Zorro – disse Rodrigo. – Já está tudo no esquema também.
- Eu vou de soldado – Fabrício respondeu, mas não olhou pra mim. Ele estava assistindo televisão.
- E você?
- De médico – Vinícius teve a capacidade de rir.
- Ah, puta que pariu, fala sério?
- É brincadeira – ele riu.
- Ah, bom! Seria o cúmulo da falta de imaginação.
- Eu vou de príncipe, igual a fantasia que o Rodrigo usou naquela festa. É a mesma, inclusive.
- Esse curandeiro é muito invejoso, fala sério – Rodrigo brincou.
- Curandeiro é a... Filho da puta! – Vinícius odiava quando o Rodrigo o chamava de curandeiro. Eu só ria.
- E o Bruno? – perguntou Fabrício.
- Bem, obrigado.
- Não, sua anta! Qual é a fantasia dele?
- Ele disse que vai de morte. Só não sei como ele vai se fantasiar de morte, mas tudo bem. Coisas do Bruno. Já volto!
Os pais, irmãos e namorado da Bruna estavam organizando uma festa surpresa pra ela há meses. E pelo que constava, ela não estava desconfiando de nada até naquele momento. Pelo jeito o evento seria perfeito e bem divertido.
Já no dia seguinte eu liguei pro Bruno e perguntei como ele estava se sentindo, mas a conversa virou e foi ele que me encheu de perguntas:
- Seu dente não está mais doendo? Tem certeza?
- Claro, amor!
- Não sangrou nem nada?
- Não!
- Se acontecer alguma coisa, por favor, me avisa!
- Eu amo quando você fica preocupado comigo, mas não precisa exagerar também, Bruno!
- Não estou exagerando.
- É só um dente, amor. Está tudo bem, de verdade.
- Então está bem. Se acontecer algo me avisa!
- Pode deixar. Como foi sua prova?
- Tranquila. Acho que me saí bem.
- Que bom! Eu fico muito feliz por você.
- Ei, o aniversário da Bruna é nesse final de semana, não?
- Sim! Já arrumou a fantasia?
- Está no esquema. É do João, lembra?
- Lembro sim. Já pede pra ele separar pra você.
- Irei fazer isso sim, pode deixar. Mal posso esperar para te ver de Peter Pan. Vai ficar gatinho!
- Você vai ficar sensacional de morte, eu tenho certeza.
Eu estava certo. Quando eu vi o Bruno completamente fantasiado, eu fiquei foi
assustado. Ele ficou horroroso com aquela maquiagem horripilante no rosto. Eu
nem reconhecia mais o meu namorado.
- CREEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEDO – fiquei arrepiadíssimo! – VOCÊ ESTÁ MUITO FEIO!
- Eu vou te pegar, Caio Monteiro... – e a voz dele também estava horripilante.
- Sai pra lá! Eu, hein!
- Vem aqui, vem?
- Vou nada! Hoje eu não chego perto de você por nada nesse mundo!
- Vem aqui, Caio Monteiro... Vem comigo...
- Nunquinha! Deus é mais, que coisa mais feia! E esses olhos brancos? Virgem Maria, o que fizeram com seus olhos?
- É lente, bobinho!
- Eu sei que é lente, mas quem te deu? Você comprou?
- Não! É do João também. Veio o kit completo pra mim. Não é legal?
- Legal é, mas você está horrível. Sai pra lá!
- Deixa eu te dar um beijo, porra...
- Deixo nada! Eu, hein?
Saí correndo dele, mas ele me pegou e eu fiquei mesmo com medo. O Bruno estava muito zoado com aquela fantasia, muito zoado mesmo.
- Não precisa ter medo de mim! Eu nunca faria mal a você, nunca!
- Eu tenho medo desses seus olhos feios – fiz bico e não olhei pro rosto dele.
- Ô, que lindo esse biquinho, meu Deus! Me dá um beijo, vai?
- Então fecha esses olhos feios!
Ele fechou e eu o beijei, mas não por muito tempo. Nós já estávamos ficando atrasados.
- Ei, o que o senhor está usando por debaixo dessa capa?
- Nada – ele respondeu.
- NADA? – eu parei de chofre.
- É! Nada! Quer conferir?
- Quero! Não acredito que você não está usando nada.
Eu abri a capa da fantasia do Bruno e percebi que ele estava realmente pelado. Eu não acreditei no que os meus olhos viam.
- Pode colocar alguma coisa por baixo, mocinho!
- Não vou não! Essa roupa já é quente pra cacete, se eu colocar alguma coisa eu vou morrer de calor.
- Pelo menos uma cueca!
- Não! Quero assim.
- Bruno Silva, olha a rebeldia!
- Nem vem que não tem – ele sorriu e mostrou os dentes brancos. Era a única coisa em seu rosto que não estava com maquiagem. – Eu vou assim e ponto final! E é Duarte e não Silva.
Quase discutimos. Eu queria entender o motivo daquela decisão. Não tinha motivos plausíveis pro Bruno andar pelado por aí. Eu não estava gostando nada, nada daquela história.
- Boa noite – Bruno cumprimentou alguém na porta do salão.
- Pra você é sempre boa – a mulher saiu quase correndo.
- Pelo visto eu vou me divertir muito nessa noite – meu namorado gargalhou.
- E eu não vou desgrudar de você um minuto sequer – falei.
- Não vai acontecer nada com a minha roupa, pode ficar tranquilo. Eu adorei a sua fantasia, já te falei isso?
- 15 vezes com essa.
- Uma hora eu vou chegar nas cem vezes.
Meu namorado e eu adentramos no local da festa da Bruna e nos deparamos com um salão enorme, cheio de mesas e com uma decoração extremamente impecável.
Por onde quer que eu olhasse eu via fotos da Bruna de todas as idades possíveis até aquele momento da vida dela.
- Boa noite – era sempre ele que falava e com a voz mais horrível que ele conseguia fazer.
- AAAAH – Fabrício quase caiu da cadeira quando viu o meu namorado. Eu quase enfartei de tanto rir.
- Calma, Fabrício! Eu não vou te levar. Ainda!
- SAI PRA LÁ! NÃO FICA PERTO DE MIM!
- Vem, senta aqui – eu falei.
- Perto de mim mesmo não – Rodrigo saiu andando.
- Bando de medrosos – Bruno fez cara feia e ficou ainda mais horrível.
- E esses olhos horríveis? – Rodrigo olhou pro cunhado. – E essas mãos? E essas unhas? E essa cara cheia de marcas? Cruzes!
- São parte da fantasia.
- Cruz credo, menino! Sai pra lá! Isso não é coisa de Deus não.
O rosto do Bruno estava cheio de crostas de maquiagem que pareciam sujeira e ao mesmo tempo cicatrizes. O mesmo acontecia com as mãos e com os pés. Pra finalizar o look, ele estava usando unhas postiças imundas e enormes. Ele era o cara mais perfeito daquela festa, com toda certeza do mundo.
Éverton estava fantasiado de bruxo, Maicon de lenhador, Miguel de Seu Madruga e Kléber de Chapolin Colorado. Até aquele momento eu não tinha visto o Vinícius em lugar nenhum. E nem a Bruna.
- Quem são essas meninas? – eu perguntei pro Rodrigo.
- Uma é namorada do Maicon, essa que está de Chapeuzinho Vermelho. E a outra que está de palhaça é uma das peguete do Éverton. Aquelas outras duas ali que estão perto do Miguel são amigas dele, algo assim. Não sei por qual motivo estão sem fantasia.
- E você veio sem ninguém?
- Não! Eu vim com uma amiga da faculdade. Ela está no banheiro.
- Terminou mesmo com a Larissa?
- Terminei, já te disse. Não aguentava mais aquela menina chata. Não queria sair de casa por nada.
- E essa daí é só amiga? Duvido!
- Por enquanto é. Olha ela chegando aí.
Se eu fosse hétero, eu faria de tudo pra ficar com aquela menina. Ela era simplesmente uma deusa. A garota era branca, alta, tinha os cabelos pretos, os seios fartos e os olhos verdes. Linda até demais. O Rodrigo sabia escolher mulher muito bem!
- Deixa eu te apresentar meu irmão, Giselle. Esse é o Caio, Caio essa é a Gi, minha amiga.
- Oi, tudo bem?
- Tudo bem, Peter Pan e você?
- Bem, Sininho. Obrigado!
- Vocês vão fazer par hoje – Rodrigo riu.
- Né? – ela sentou ao lado do amigo.
- A Gí é gêmea também, Caio!
- Ah, é? – eu sorri. – Que legal! Eu também sou!
- E cadê seu gêmeo? Não me diga que é esse daí ao seu lado?
- Não, não. Esse é meu namorado! Meu gêmeo está em Sampa. E a sua?
- A minha não veio. O Rodrigo não a convidou.
- Claro! Eu não a conheço! Ainda.
- Como chama o seu namorado?
- Bruno.
- Com todo respeito, ele está horrível!
- Obrigado – Bruno falou com a voz muito grossa.
- Credo!!! Fiquei toda arrepiada!
- Vou te levar comigo...
- DEUS ME LIVRE! – a mulher se benzeu.
O Rodrigo estava de Drácula, mas a fantasia dele não estava muito legal. Não foi nada original e nem maquiagem ele fez direito.
- Tinha que ter feito umas olheiras mais profundas e tinha que ter passado maquiagem nesse rosto, pra ficar um pouco mais branco.
- Não. Depois ia dar muito trabalho pra sair. Deixa pra lá.
A festa estava animada. Depois de meia hora da minha chegada, a aniversariante e o namorado chegaram e a reação da Bruna não poderia ter sido melhor.
- SURPRESA! – todos os convidados berraram.
- EU TE MATO, VINÍCIUS! – ela caiu no choro no meio do salão.
Nesse momento nós começamos a cantar “parabéns” pra ela e foi aí que ela chorou de verdade. A mesma estava lindíssima, usando uma fantasia de princesa quase igual à do namorado.
- AAAAAH – ela recuou duas vezes quando viu o Bruno. Ele fez cara feia pra ela.
- Vem cá, minha filha!
- NÃO!
- Vai lá, amor – Vinícius estava se divertindo e empurrou a namorada pra perto do meu Bruno. Ela quase caiu em cima dele.
- Paaaara, Vini! Eu estou com medo desse homem!
- Calma – eu ri. – Daqui a pouco você acostuma!
- Quem é você?
- Seu xará – respondeu a morte. – Vem aqui me dar um abraço, vem?
- Não! Obrigada! Eu estou bem aqui.
- Vai lá! – Vinícius a empurrou de novo e aí sim ela caiu em cima do Bruno.
- Socorro!!!
- Eu vou te levar hoje à noite – ele fez questão de falar no ouvido dela.
- Para, Bruno! Deu até vontade de ir no banheiro agora...
Nós gargalhamos e cumprimentamos a aniversariante. Eu entreguei os nossos presentes, ela agradeceu e depois saiu agarrada com o príncipe dela pra cima e pra baixo. Pelo visto ela já estava recuperada do susto.
- Posso tirar uma foto com você? – Kléber apareceu do lado do meu namorado.
- Pode, mas eu vou te levar comigo também!
- Pode me levar pra onde você quiser, Seu Morte. Eu não tenho medo do senhor.
- Pois deveria!
Eu revirei meus olhos e olhei pro outro lado. Todo mundo estava querendo fotos com o Bruno. Eu já estava começando a querer cobrar.
O meu pressentimento estava certo. Aquela festa não foi uma festa comum, foi uma festa de arromba. Havia muitos convidados e a animação estava rolando solta. Eu perdi as contas de quantas vezes me serviram salgados e bebidas. Quem quer que fosse que tivesse financiado aquela festa, tinha gastado muito dinheiro.
- Olha lá o Fabrício catando mais uma – Bruno falou no meu ouvido.
- É que as meninas têm fetiche por caras fardados.
- Só as meninas?
- E os meninos também – dei risada.
- Ele está um arraso naquela fantasia!
- BRUNO SILVA!
- Desculpa, mas é a verdade. Duarte, please.
Fiquei puto com meu namorado. Eu nunca senti tanto ciúmes como naquele momento. Ele poderia ter ficado calado e guardado aquele comentário pra ele mesmo.
- Não fica com essa carinha, vai?
- Sai – eu tirei a mão dele do meu rosto.
- Está bravo?
- O que você acha?
- Desculpa, amor!
- Agora é tarde.
- Me perdoa, por favor?
- Eu perdoo – me virei pra ele. – Mas não faz mais isso. Fiquei bravo de verdade com você.
- Relaxa, amor. Você sabe que eu não tenho olhos pra mais ninguém, poxa vida, só falei que ele está bonito porque está bonito. Só que isso não muda em nada a minha vida, entende?
- Mesmo assim eu fiquei com ciúmes.
- Você fica lindo quando fica bravo assim, sabia?
Fiz bico e ele apertou meu nariz.
- Seu feioso! – exclamei.
- Seu lindão!
- Olá, meninos!!! – a mãe do Vinícius foi nos cumprimentar. – Credo! Que fantasia mais feia!
- Eu vou te levar, hein? – Bruno repetiu a frase pela milésima vez.
- Está amarrado na barra da saia de Nossa Senhora das Graças!
Quase morri de rir da mãe do Vini. Ela estava fantasiada de empregada doméstica. A mulher era uma senhorinha muito simpática e engraçada. Eu gostava dela.
De repente a música parou e todo o salão ficou num breu total. A gente ficou sem entender nada e nos perguntamos o que estava acontecendo.
- Acho que acabou a luz – falou Rodrigo.
- Sei não, hein? – disse a amiga dele.
Não. Não tinha acabado a luz. Aquela situação foi criada propositalmente pelo Vinícius. Ele estava aprontando alguma coisa.
Ao fundo, uma música lenta começou a tocar e nas laterais do salão começaram a aparecer fotos da Bruna projetadas nas paredes. Eu achei aquele truque o máximo!
- Isso é coisa do Vinícius!
- Será? – Rodrigo não acreditou.
- Tenho certeza que sim.
- Bruna... – a voz dele apareceu em algum lugar.
- Não falei?
Nesse instante todos ficaram calados. Uma luz apareceu no meu amigo e outra na namorada.
- Vem aqui, por favor?
- O que você está aprontando, Vinícius?
- Eu? Não estou aprontando nada, amor!!!
Ele estava usando um microfone e todos, absolutamente todos estavam prestando atenção neles.
- Eu só queria falar algumas coisas pra você...
- Ih... – abri um sorriso e levantei da cadeira.
- Bruna... Desde o primeiro instante em que eu te vi, eu soube que você seria a mulher da minha vida...
Eu prendi a respiração.
- No começo você não queria ficar comigo, lembra?
Ela ficou calada e não tirou os olhos do rosto do namorado. Eles ainda estavam longe um do outro.
- Mas eu insisti até conseguir ganhar um beijo seu!
Um filme começou a passar na minha cabeça. Eu imaginei tudo o que o Vinicius estava falando pra namorada.
- Daí nós começamos a namorar e desde então eu sou o homem mais feliz do mundo...
- Ôôô... – Bruno se derreteu.
- Nós fizemos planos, estipulamos metas e tivemos sonhos juntos... Sonhos esses que eu sei que um dia se tornarão realidade...
Ela começou a chorar.
- Sabe, amor... Talvez eu não seja o homem ideal pra você...
Vinícius saiu da frente do salão e começou a andar lentamente até a namorada.
- Eu sei que tenho meus defeitos, eu sei que sou um chato, que sou implicante, que sou teimoso, que sou irritante de vez em quando... Mas eu te amo!
Meu coração foi parar na boca.
- Eu te amo como nunca amei outra mulher em toda a minha vida e eu quero que esse amor dure pro resto da minha vida...
Será que...?
- Eu quero ficar com você hoje, amanhã, depois de amanhã, por um mês, por um ano, por dez anos, por vinte... Pela vida inteira!
Ela só chorava.
- Eu te quero com seus defeitos, com suas qualidades, com sua beleza, com sua determinação, com sua força de vontade...
Nesse momento ele chegou perto da amada.
- Eu te quero assim, do jeitinho que você é e sabe por quê?!
- Não – ela respondeu.
- Porque você é a minha...
Pausa. Vinícius estava sério.
- Dona – para a surpresa geral da nação, Vinícius Meirelles começou a cantar a música do Roupa Nova. – Desses traiçoeiros...
Simplesmente desacreditei no que estava acontecendo. Ele não estava fazendo aquilo, estava?
- Sonhos sempre verdadeiros...
Ao fundo, começou a tocar os arranjos de Dona do Roupa Nova. O Vini pensou em tudo, absolutamente tudo!
- Ô, dona... Desses animais...
Ele estava cantando muito, muito bem. Eu nunca imaginei que o médico fosse tão afinado do jeito que ele estava demonstrando ser.
- Dona dos seus ideais...
Eu percebi que praticamente todos os convidados estavam boquiabertos.
- Pelas ruas onde andas, onde mandas todos nós...
Nessa parte ele começou a cantar pra valer, em ritmo acelerado e eu deixei o meu queixo cair.
- Somos sempre mensageiros, esperando tua voz...
- Caralho – Rodrigo soltou o palavrão.
- Teus desejos, uma ordem; nada é nunca, nunca é não...
Eu nem sabia mais o que pensar. Como o Vini cantava bem, meu Deus!
- Porque tens essa certeza dentro do teu coração...
Eu amava essa música!
- Tan, tan, tan, batem na porta...
Nessa hora a melodia ao fundo ficou mais acelerada.
- Não precisa ver quem é...
A Bruna estava quase soluçando.
- Pra sentir a impaciência do teu pulso de mulher...
Que coisa mais linda!!!
- Um olhar me atira à cama...
Ele diminuiu o tom de voz.
- Um beijo me faz amar...
Eu fiquei inerte. Totalmente inerte.
- Não levanto, não me escondo porque sei que és minha... Dona...
Quando ele finalmente se calou, foi automático. Simplesmente todos os convidados que ali estavam presentes começaram a aplaudir o Vinícius e ele foi ovacionado. Surpresa me definia naquele momento.
- Dona, desses traiçoeiros...
O burburinho se calou quando ele voltou a cantar.
- Sonhos sempre verdadeiros...
O sotaque carioca do Vini ficou ainda mais acentuado quando naquela melodia linda!
- Dona, desses animais...
Como ele teve coragem?
- Dona, dos seus ideais...
E por que aquela música?
- Não há pedra em teu caminho, não há ondas no teu mar...
De novo ele acelerou e soltou a voz.
- Não há vento ou tempestade que te impeçam de voar...
Eu queria saber o que a Bruna estaria pensando naquele momento.
- Entre a cobra e o passarinho, entre a pomba e o gavião...
Emoção. Era muita emoção!
- Ou teu ódio, ou teu carinho nos carregam pela mão...
A mãe do Vini estava vermelha de tanto que chorava.
- É a moça da cantiga, a mulher da Criação...
Fabrício só fazia sorrir, sorrir e sorrir. Será que ele sabia?
- Umas vezes nossa amiga, outras nossa perdição...
Éverton estava com uma cara de pastel tão engraçada que eu tive que rir.
- O poder que nos levanta...
Vinícius secou as lágrimas da namorada.
- A força que nos faz cair...
Eu segurei um grito de adrenalina.
- Qual de nós ainda não sabe que isso tudo te faz...
- Puta merda, o cara me surpreendeu – Rodrigo falou para si mesmo.
- Dona...
Pronto. A algazarra se consolidou quando ele baixou o microfone e eles começaram a se beijar. Nós aplaudimos, gritamos, assoviamos e comemoramos aquele acontecimento. Surpresa definia não só a mim, como todos os demais daquele salão.
- Me perdoa - ele voltou a falar –, pelos meus erros, me perdoa pelas minhas mancadas, pela minha teimosia... Me perdoa por não ser perfeito pra você, por favor...
- Para, Vini... – ela secou as lágrimas.
- Eu quis fazer essa festa pra você pra te mostrar o quanto eu te amo, o quanto você é especial pra mim e pra te dizer também que eu não vivo sem você, Bruna! Eu não vivo sem você... Você já é parte da minha vida, você já é parte do meu passado, do meu presente e do meu futuro...
Acho que ninguém estava respirando nesse momento. Meu coração bateu na minha cabeça.
- E pra te provar o quanto eu te amo, Bruna, eu vou perguntar aqui na frente dos nossos familiares, na frente dos nossos pais e dos nossos amigos...
- Rã! – abri a boca.
- Bruna... Quer casar comigo?
- Quanto tempo, senhor Caio – Rodrigo me fitou.
- Não foi pra faculdade, Digow?
- Hoje eu só tive uma palestra. Acabei de chegar. Dormiu no Bruno ontem?
- Onde mais?
- E o Jonas? Voltou atrás?
- Não. Eu vou participar. Mudei de ideia. O Bruno me convenceu.
- Olha o que o amor me faz... – Vinícius começou a cantar, pra me provocar.
- Cantando Sandy e Júnior, Vini?
- Qual é? É da minha época, e daí?
- É da minha época também. Não sabia que você curtia.
- Não, eu não curto. É que essa música passou na televisão agora há pouco!!!
- Aham, sei.
- Por acaso o senhor não esqueceu que nesse sábado é a festa da Bruna não, né? – Vinícius me lançou um olhar furtivo.
- Não, não esqueci. Já estou com a minha fantasia pronta.
- Está? – Rodrigo me encarou. – E você vai com qual fantasia, posso saber?
- Peter Pan. E vocês?
- Eu vou de Zorro – disse Rodrigo. – Já está tudo no esquema também.
- Eu vou de soldado – Fabrício respondeu, mas não olhou pra mim. Ele estava assistindo televisão.
- E você?
- De médico – Vinícius teve a capacidade de rir.
- Ah, puta que pariu, fala sério?
- É brincadeira – ele riu.
- Ah, bom! Seria o cúmulo da falta de imaginação.
- Eu vou de príncipe, igual a fantasia que o Rodrigo usou naquela festa. É a mesma, inclusive.
- Esse curandeiro é muito invejoso, fala sério – Rodrigo brincou.
- Curandeiro é a... Filho da puta! – Vinícius odiava quando o Rodrigo o chamava de curandeiro. Eu só ria.
- E o Bruno? – perguntou Fabrício.
- Bem, obrigado.
- Não, sua anta! Qual é a fantasia dele?
- Ele disse que vai de morte. Só não sei como ele vai se fantasiar de morte, mas tudo bem. Coisas do Bruno. Já volto!
Os pais, irmãos e namorado da Bruna estavam organizando uma festa surpresa pra ela há meses. E pelo que constava, ela não estava desconfiando de nada até naquele momento. Pelo jeito o evento seria perfeito e bem divertido.
Já no dia seguinte eu liguei pro Bruno e perguntei como ele estava se sentindo, mas a conversa virou e foi ele que me encheu de perguntas:
- Seu dente não está mais doendo? Tem certeza?
- Claro, amor!
- Não sangrou nem nada?
- Não!
- Se acontecer alguma coisa, por favor, me avisa!
- Eu amo quando você fica preocupado comigo, mas não precisa exagerar também, Bruno!
- Não estou exagerando.
- É só um dente, amor. Está tudo bem, de verdade.
- Então está bem. Se acontecer algo me avisa!
- Pode deixar. Como foi sua prova?
- Tranquila. Acho que me saí bem.
- Que bom! Eu fico muito feliz por você.
- Ei, o aniversário da Bruna é nesse final de semana, não?
- Sim! Já arrumou a fantasia?
- Está no esquema. É do João, lembra?
- Lembro sim. Já pede pra ele separar pra você.
- Irei fazer isso sim, pode deixar. Mal posso esperar para te ver de Peter Pan. Vai ficar gatinho!
- Você vai ficar sensacional de morte, eu tenho certeza.
- CREEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEDO – fiquei arrepiadíssimo! – VOCÊ ESTÁ MUITO FEIO!
- Eu vou te pegar, Caio Monteiro... – e a voz dele também estava horripilante.
- Sai pra lá! Eu, hein!
- Vem aqui, vem?
- Vou nada! Hoje eu não chego perto de você por nada nesse mundo!
- Vem aqui, Caio Monteiro... Vem comigo...
- Nunquinha! Deus é mais, que coisa mais feia! E esses olhos brancos? Virgem Maria, o que fizeram com seus olhos?
- É lente, bobinho!
- Eu sei que é lente, mas quem te deu? Você comprou?
- Não! É do João também. Veio o kit completo pra mim. Não é legal?
- Legal é, mas você está horrível. Sai pra lá!
- Deixa eu te dar um beijo, porra...
- Deixo nada! Eu, hein?
Saí correndo dele, mas ele me pegou e eu fiquei mesmo com medo. O Bruno estava muito zoado com aquela fantasia, muito zoado mesmo.
- Não precisa ter medo de mim! Eu nunca faria mal a você, nunca!
- Eu tenho medo desses seus olhos feios – fiz bico e não olhei pro rosto dele.
- Ô, que lindo esse biquinho, meu Deus! Me dá um beijo, vai?
- Então fecha esses olhos feios!
Ele fechou e eu o beijei, mas não por muito tempo. Nós já estávamos ficando atrasados.
- Ei, o que o senhor está usando por debaixo dessa capa?
- Nada – ele respondeu.
- NADA? – eu parei de chofre.
- É! Nada! Quer conferir?
- Quero! Não acredito que você não está usando nada.
Eu abri a capa da fantasia do Bruno e percebi que ele estava realmente pelado. Eu não acreditei no que os meus olhos viam.
- Pode colocar alguma coisa por baixo, mocinho!
- Não vou não! Essa roupa já é quente pra cacete, se eu colocar alguma coisa eu vou morrer de calor.
- Pelo menos uma cueca!
- Não! Quero assim.
- Bruno Silva, olha a rebeldia!
- Nem vem que não tem – ele sorriu e mostrou os dentes brancos. Era a única coisa em seu rosto que não estava com maquiagem. – Eu vou assim e ponto final! E é Duarte e não Silva.
Quase discutimos. Eu queria entender o motivo daquela decisão. Não tinha motivos plausíveis pro Bruno andar pelado por aí. Eu não estava gostando nada, nada daquela história.
- Boa noite – Bruno cumprimentou alguém na porta do salão.
- Pra você é sempre boa – a mulher saiu quase correndo.
- Pelo visto eu vou me divertir muito nessa noite – meu namorado gargalhou.
- E eu não vou desgrudar de você um minuto sequer – falei.
- Não vai acontecer nada com a minha roupa, pode ficar tranquilo. Eu adorei a sua fantasia, já te falei isso?
- 15 vezes com essa.
- Uma hora eu vou chegar nas cem vezes.
Meu namorado e eu adentramos no local da festa da Bruna e nos deparamos com um salão enorme, cheio de mesas e com uma decoração extremamente impecável.
Por onde quer que eu olhasse eu via fotos da Bruna de todas as idades possíveis até aquele momento da vida dela.
- Boa noite – era sempre ele que falava e com a voz mais horrível que ele conseguia fazer.
- AAAAH – Fabrício quase caiu da cadeira quando viu o meu namorado. Eu quase enfartei de tanto rir.
- Calma, Fabrício! Eu não vou te levar. Ainda!
- SAI PRA LÁ! NÃO FICA PERTO DE MIM!
- Vem, senta aqui – eu falei.
- Perto de mim mesmo não – Rodrigo saiu andando.
- Bando de medrosos – Bruno fez cara feia e ficou ainda mais horrível.
- E esses olhos horríveis? – Rodrigo olhou pro cunhado. – E essas mãos? E essas unhas? E essa cara cheia de marcas? Cruzes!
- São parte da fantasia.
- Cruz credo, menino! Sai pra lá! Isso não é coisa de Deus não.
O rosto do Bruno estava cheio de crostas de maquiagem que pareciam sujeira e ao mesmo tempo cicatrizes. O mesmo acontecia com as mãos e com os pés. Pra finalizar o look, ele estava usando unhas postiças imundas e enormes. Ele era o cara mais perfeito daquela festa, com toda certeza do mundo.
Éverton estava fantasiado de bruxo, Maicon de lenhador, Miguel de Seu Madruga e Kléber de Chapolin Colorado. Até aquele momento eu não tinha visto o Vinícius em lugar nenhum. E nem a Bruna.
- Quem são essas meninas? – eu perguntei pro Rodrigo.
- Uma é namorada do Maicon, essa que está de Chapeuzinho Vermelho. E a outra que está de palhaça é uma das peguete do Éverton. Aquelas outras duas ali que estão perto do Miguel são amigas dele, algo assim. Não sei por qual motivo estão sem fantasia.
- E você veio sem ninguém?
- Não! Eu vim com uma amiga da faculdade. Ela está no banheiro.
- Terminou mesmo com a Larissa?
- Terminei, já te disse. Não aguentava mais aquela menina chata. Não queria sair de casa por nada.
- E essa daí é só amiga? Duvido!
- Por enquanto é. Olha ela chegando aí.
Se eu fosse hétero, eu faria de tudo pra ficar com aquela menina. Ela era simplesmente uma deusa. A garota era branca, alta, tinha os cabelos pretos, os seios fartos e os olhos verdes. Linda até demais. O Rodrigo sabia escolher mulher muito bem!
- Deixa eu te apresentar meu irmão, Giselle. Esse é o Caio, Caio essa é a Gi, minha amiga.
- Oi, tudo bem?
- Tudo bem, Peter Pan e você?
- Bem, Sininho. Obrigado!
- Vocês vão fazer par hoje – Rodrigo riu.
- Né? – ela sentou ao lado do amigo.
- A Gí é gêmea também, Caio!
- Ah, é? – eu sorri. – Que legal! Eu também sou!
- E cadê seu gêmeo? Não me diga que é esse daí ao seu lado?
- Não, não. Esse é meu namorado! Meu gêmeo está em Sampa. E a sua?
- A minha não veio. O Rodrigo não a convidou.
- Claro! Eu não a conheço! Ainda.
- Como chama o seu namorado?
- Bruno.
- Com todo respeito, ele está horrível!
- Obrigado – Bruno falou com a voz muito grossa.
- Credo!!! Fiquei toda arrepiada!
- Vou te levar comigo...
- DEUS ME LIVRE! – a mulher se benzeu.
O Rodrigo estava de Drácula, mas a fantasia dele não estava muito legal. Não foi nada original e nem maquiagem ele fez direito.
- Tinha que ter feito umas olheiras mais profundas e tinha que ter passado maquiagem nesse rosto, pra ficar um pouco mais branco.
- Não. Depois ia dar muito trabalho pra sair. Deixa pra lá.
A festa estava animada. Depois de meia hora da minha chegada, a aniversariante e o namorado chegaram e a reação da Bruna não poderia ter sido melhor.
- SURPRESA! – todos os convidados berraram.
- EU TE MATO, VINÍCIUS! – ela caiu no choro no meio do salão.
Nesse momento nós começamos a cantar “parabéns” pra ela e foi aí que ela chorou de verdade. A mesma estava lindíssima, usando uma fantasia de princesa quase igual à do namorado.
- AAAAAH – ela recuou duas vezes quando viu o Bruno. Ele fez cara feia pra ela.
- Vem cá, minha filha!
- NÃO!
- Vai lá, amor – Vinícius estava se divertindo e empurrou a namorada pra perto do meu Bruno. Ela quase caiu em cima dele.
- Paaaara, Vini! Eu estou com medo desse homem!
- Calma – eu ri. – Daqui a pouco você acostuma!
- Quem é você?
- Seu xará – respondeu a morte. – Vem aqui me dar um abraço, vem?
- Não! Obrigada! Eu estou bem aqui.
- Vai lá! – Vinícius a empurrou de novo e aí sim ela caiu em cima do Bruno.
- Socorro!!!
- Eu vou te levar hoje à noite – ele fez questão de falar no ouvido dela.
- Para, Bruno! Deu até vontade de ir no banheiro agora...
Nós gargalhamos e cumprimentamos a aniversariante. Eu entreguei os nossos presentes, ela agradeceu e depois saiu agarrada com o príncipe dela pra cima e pra baixo. Pelo visto ela já estava recuperada do susto.
- Posso tirar uma foto com você? – Kléber apareceu do lado do meu namorado.
- Pode, mas eu vou te levar comigo também!
- Pode me levar pra onde você quiser, Seu Morte. Eu não tenho medo do senhor.
- Pois deveria!
Eu revirei meus olhos e olhei pro outro lado. Todo mundo estava querendo fotos com o Bruno. Eu já estava começando a querer cobrar.
O meu pressentimento estava certo. Aquela festa não foi uma festa comum, foi uma festa de arromba. Havia muitos convidados e a animação estava rolando solta. Eu perdi as contas de quantas vezes me serviram salgados e bebidas. Quem quer que fosse que tivesse financiado aquela festa, tinha gastado muito dinheiro.
- Olha lá o Fabrício catando mais uma – Bruno falou no meu ouvido.
- É que as meninas têm fetiche por caras fardados.
- Só as meninas?
- E os meninos também – dei risada.
- Ele está um arraso naquela fantasia!
- BRUNO SILVA!
- Desculpa, mas é a verdade. Duarte, please.
Fiquei puto com meu namorado. Eu nunca senti tanto ciúmes como naquele momento. Ele poderia ter ficado calado e guardado aquele comentário pra ele mesmo.
- Não fica com essa carinha, vai?
- Sai – eu tirei a mão dele do meu rosto.
- Está bravo?
- O que você acha?
- Desculpa, amor!
- Agora é tarde.
- Me perdoa, por favor?
- Eu perdoo – me virei pra ele. – Mas não faz mais isso. Fiquei bravo de verdade com você.
- Relaxa, amor. Você sabe que eu não tenho olhos pra mais ninguém, poxa vida, só falei que ele está bonito porque está bonito. Só que isso não muda em nada a minha vida, entende?
- Mesmo assim eu fiquei com ciúmes.
- Você fica lindo quando fica bravo assim, sabia?
Fiz bico e ele apertou meu nariz.
- Seu feioso! – exclamei.
- Seu lindão!
- Olá, meninos!!! – a mãe do Vinícius foi nos cumprimentar. – Credo! Que fantasia mais feia!
- Eu vou te levar, hein? – Bruno repetiu a frase pela milésima vez.
- Está amarrado na barra da saia de Nossa Senhora das Graças!
Quase morri de rir da mãe do Vini. Ela estava fantasiada de empregada doméstica. A mulher era uma senhorinha muito simpática e engraçada. Eu gostava dela.
De repente a música parou e todo o salão ficou num breu total. A gente ficou sem entender nada e nos perguntamos o que estava acontecendo.
- Acho que acabou a luz – falou Rodrigo.
- Sei não, hein? – disse a amiga dele.
Não. Não tinha acabado a luz. Aquela situação foi criada propositalmente pelo Vinícius. Ele estava aprontando alguma coisa.
Ao fundo, uma música lenta começou a tocar e nas laterais do salão começaram a aparecer fotos da Bruna projetadas nas paredes. Eu achei aquele truque o máximo!
- Isso é coisa do Vinícius!
- Será? – Rodrigo não acreditou.
- Tenho certeza que sim.
- Bruna... – a voz dele apareceu em algum lugar.
- Não falei?
Nesse instante todos ficaram calados. Uma luz apareceu no meu amigo e outra na namorada.
- Vem aqui, por favor?
- O que você está aprontando, Vinícius?
- Eu? Não estou aprontando nada, amor!!!
Ele estava usando um microfone e todos, absolutamente todos estavam prestando atenção neles.
- Eu só queria falar algumas coisas pra você...
- Ih... – abri um sorriso e levantei da cadeira.
- Bruna... Desde o primeiro instante em que eu te vi, eu soube que você seria a mulher da minha vida...
Eu prendi a respiração.
- No começo você não queria ficar comigo, lembra?
Ela ficou calada e não tirou os olhos do rosto do namorado. Eles ainda estavam longe um do outro.
- Mas eu insisti até conseguir ganhar um beijo seu!
Um filme começou a passar na minha cabeça. Eu imaginei tudo o que o Vinicius estava falando pra namorada.
- Daí nós começamos a namorar e desde então eu sou o homem mais feliz do mundo...
- Ôôô... – Bruno se derreteu.
- Nós fizemos planos, estipulamos metas e tivemos sonhos juntos... Sonhos esses que eu sei que um dia se tornarão realidade...
Ela começou a chorar.
- Sabe, amor... Talvez eu não seja o homem ideal pra você...
Vinícius saiu da frente do salão e começou a andar lentamente até a namorada.
- Eu sei que tenho meus defeitos, eu sei que sou um chato, que sou implicante, que sou teimoso, que sou irritante de vez em quando... Mas eu te amo!
Meu coração foi parar na boca.
- Eu te amo como nunca amei outra mulher em toda a minha vida e eu quero que esse amor dure pro resto da minha vida...
Será que...?
- Eu quero ficar com você hoje, amanhã, depois de amanhã, por um mês, por um ano, por dez anos, por vinte... Pela vida inteira!
Ela só chorava.
- Eu te quero com seus defeitos, com suas qualidades, com sua beleza, com sua determinação, com sua força de vontade...
Nesse momento ele chegou perto da amada.
- Eu te quero assim, do jeitinho que você é e sabe por quê?!
- Não – ela respondeu.
- Porque você é a minha...
Pausa. Vinícius estava sério.
- Dona – para a surpresa geral da nação, Vinícius Meirelles começou a cantar a música do Roupa Nova. – Desses traiçoeiros...
Simplesmente desacreditei no que estava acontecendo. Ele não estava fazendo aquilo, estava?
- Sonhos sempre verdadeiros...
Ao fundo, começou a tocar os arranjos de Dona do Roupa Nova. O Vini pensou em tudo, absolutamente tudo!
- Ô, dona... Desses animais...
Ele estava cantando muito, muito bem. Eu nunca imaginei que o médico fosse tão afinado do jeito que ele estava demonstrando ser.
- Dona dos seus ideais...
Eu percebi que praticamente todos os convidados estavam boquiabertos.
- Pelas ruas onde andas, onde mandas todos nós...
Nessa parte ele começou a cantar pra valer, em ritmo acelerado e eu deixei o meu queixo cair.
- Somos sempre mensageiros, esperando tua voz...
- Caralho – Rodrigo soltou o palavrão.
- Teus desejos, uma ordem; nada é nunca, nunca é não...
Eu nem sabia mais o que pensar. Como o Vini cantava bem, meu Deus!
- Porque tens essa certeza dentro do teu coração...
Eu amava essa música!
- Tan, tan, tan, batem na porta...
Nessa hora a melodia ao fundo ficou mais acelerada.
- Não precisa ver quem é...
A Bruna estava quase soluçando.
- Pra sentir a impaciência do teu pulso de mulher...
Que coisa mais linda!!!
- Um olhar me atira à cama...
Ele diminuiu o tom de voz.
- Um beijo me faz amar...
Eu fiquei inerte. Totalmente inerte.
- Não levanto, não me escondo porque sei que és minha... Dona...
Quando ele finalmente se calou, foi automático. Simplesmente todos os convidados que ali estavam presentes começaram a aplaudir o Vinícius e ele foi ovacionado. Surpresa me definia naquele momento.
- Dona, desses traiçoeiros...
O burburinho se calou quando ele voltou a cantar.
- Sonhos sempre verdadeiros...
O sotaque carioca do Vini ficou ainda mais acentuado quando naquela melodia linda!
- Dona, desses animais...
Como ele teve coragem?
- Dona, dos seus ideais...
E por que aquela música?
- Não há pedra em teu caminho, não há ondas no teu mar...
De novo ele acelerou e soltou a voz.
- Não há vento ou tempestade que te impeçam de voar...
Eu queria saber o que a Bruna estaria pensando naquele momento.
- Entre a cobra e o passarinho, entre a pomba e o gavião...
Emoção. Era muita emoção!
- Ou teu ódio, ou teu carinho nos carregam pela mão...
A mãe do Vini estava vermelha de tanto que chorava.
- É a moça da cantiga, a mulher da Criação...
Fabrício só fazia sorrir, sorrir e sorrir. Será que ele sabia?
- Umas vezes nossa amiga, outras nossa perdição...
Éverton estava com uma cara de pastel tão engraçada que eu tive que rir.
- O poder que nos levanta...
Vinícius secou as lágrimas da namorada.
- A força que nos faz cair...
Eu segurei um grito de adrenalina.
- Qual de nós ainda não sabe que isso tudo te faz...
- Puta merda, o cara me surpreendeu – Rodrigo falou para si mesmo.
- Dona...
Pronto. A algazarra se consolidou quando ele baixou o microfone e eles começaram a se beijar. Nós aplaudimos, gritamos, assoviamos e comemoramos aquele acontecimento. Surpresa definia não só a mim, como todos os demais daquele salão.
- Me perdoa - ele voltou a falar –, pelos meus erros, me perdoa pelas minhas mancadas, pela minha teimosia... Me perdoa por não ser perfeito pra você, por favor...
- Para, Vini... – ela secou as lágrimas.
- Eu quis fazer essa festa pra você pra te mostrar o quanto eu te amo, o quanto você é especial pra mim e pra te dizer também que eu não vivo sem você, Bruna! Eu não vivo sem você... Você já é parte da minha vida, você já é parte do meu passado, do meu presente e do meu futuro...
Acho que ninguém estava respirando nesse momento. Meu coração bateu na minha cabeça.
- E pra te provar o quanto eu te amo, Bruna, eu vou perguntar aqui na frente dos nossos familiares, na frente dos nossos pais e dos nossos amigos...
- Rã! – abri a boca.
- Bruna... Quer casar comigo?





















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