quinta-feira, 26 de março de 2015

Capítulo 56²

N
ão. Isso definitivamente não poderia acontecer.

O que seria da minha vida sem o Rodrigo naquela cidade? Claro que eu tinha o meu Bruno, mas o Rodrigo também era crucial e de suma importância na minha vida.
Ele era mais que um amigo, era um irmão. Foi graças a ele que eu consegui muitas coisas naquela cidade e como ele poderia simplesmente ir embora de uma hora para outra?

- Não...
- Não o quê? – ele me olhou.
- Não... Você não pode ir embora!
- Como não? Claro que eu posso.
- Não você não pode. O que vai ser da minha vida sem você?
- Você tem o Bruno e os meninos.
- Nenhum deles é meu irmão postiço. Eu não vou deixar você ir não.
- E você tem que deixar alguma coisa? – ele riu.
- Claro! Sou seu amigo e quero que você fique. De jeito nenhum que você vai embora assim do nada.
- Como “do nada”, Caio? Eu estou me preparando pra essa volta já tem 4 anos. Eu sinto falta da minha família, sinto falta dos meus amigos, da minha cidade, da minha vida no Paraná...
- Aqui você também tem amigos, você tem trabalho, você tem namorada e você tem a mim. Não vai não, fica?
- Eu já pesei tudo isso na balança. Eu quero voltar se a empresa não renovar o meu contrato. Se ela renovar, eu fico. Se não, eu vou embora sim.
- Eu vou começar a rezar pra eles te efetivarem então. Eles não podem te mandar embora. Qual o e-mail do seu chefe? Eu vou mandar um e-mail pra ele, pedindo a sua efetivação.
- Bobo – ele deu risada e passou o braço pelos meus ombros. – Mesmo que eu vá, eu nunca vou esquecer de você.
- Mas eu não quero que você vá!
- Caio... Eu tenho que seguir a minha vida, né? Você também vai seguir a sua.
- Mas não quero seguir sem você por perto, mano.
- Vem cá, vamos falar sério sobre o assunto agora.
E a gente estava brincando?
- Caio, mais cedo ou mais tarde a gente vai se separar, mano. Eu não vou ficar morando no Rio pra sempre, você não vai ficar morando no Rio pra sempre. Uma hora eu vou ter que voltar, uma hora talvez você também volte pra São Paulo...
- Eu não quero voltar pra São Paulo!
- Não quer agora, mas um dia talvez você mude de ideia. Eu já fiz tudo o que queria fazer aqui, agora eu quero voltar, quero continuar meus estudos lá no Paraná, quero ficar perto da minha família, entende?
- Uhum...
- E tem mais: você está firme com o Bruno e eu tenho certeza absoluta que não vai demorar muito pra você mudar pro apartamento dele. Ou seja, de uma forma ou de outra, a nossa separação está cada dia mais próxima.
Eu fiquei calado e parei para pensar. Ele estava certo. A nossa separação estava cada dia mais próxima.

- Mas eu não estou preparado pra te dizer adeus, Rodrigo!
- E quem disse que a gente vai dizer adeus? A gente vai dizer um até logo e nada mais que isso. Eu nunca vou perder o contato com você, entendeu?
- Espero que não perca mesmo.
- Não, eu não vou perder. É uma promessa que eu te faço. Eu serei para sempre o seu amigo.
- Só me resta te desejar boa sorte, não é?
- Não é pra ficar triste, viu? Eu vou ligar pra você todos os dias.
- Não vai ser a mesma coisa, mas tudo bem. Eu entendo a sua necessidade de ficar perto da sua família.

Nós conversamos mais um pouco sobre esse assunto e depois ele me levou até a porta da loja onde eu trabalhava.
- Bom trabalho pra você.
- Obrigado. Pra você também.
- Gente... Aquela é a Alexia?
Eu segui o giro dos olhos do Rodrigo e respondi que sim.
- Caraca! Que gorda...
- Ela está grávida, lembra?
- Lembro, mas ela engordou tanto assim já? Está de quantos meses? Que barrigão! No dia da pista de gelo ela não estava assim.
- Ela vai fazer 6 meses de gestação. Não estava mesmo, ela engorda fácil, né?
- Minha nossa... Como o tempo passa rápido!
- Pra você ver.
- Em pensar que... Se o meu bebê tivesse vingado, numa hora dessas ele estaria mais ou menos com a mesma idade...
- Vamos mudar de assunto? Vamos deixar esse assunto triste pra lá?
- É melhor – ele suspirou. – É melhor mesmo. Bom, vou nessa. Boa tarde, Caio. Fica com Deus.
- Amém, você também. Boa tarde.
Nos abraçamos rapidinho e eu entrei. A loja estava movimentada, a música estava alta e o Jonas não parava de anunciar as promoções para os clientes.
- Jana... – eu agarrei a minha amiga no meio da loja.
- Que foi, amor?
- Eu terminei a facul, Jana... Estou tão feliz...
- SÉRIO? QUE LIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIINDO!!!

Janaína me abraçou e me balançou de um lado para o outro pelo menos trinta vezes.
- Jana?
- Ai, que coisa mais linda... Ele agora não é mais um “universiotário”!
- “Janá”?!
- Que orgulho de você, espiga de milho mal-cozida!
- Janaína?
- Parabéns, criança! Finalmente você se livrou dessa vida...
- JANAÍNA, EU ESTOU FICANDO SEM AR E TONTO!
- Ai... – ela parou, se afastou e ficou me olhando com o rosto sério. – Eu aqui te dando parabéns e é assim que você me trata?
- Tá pensando que eu sou o quê pra você me balançar desse jeito?
Eu perdi as contas de quantos parabéns eu recebi. A Janaína fez questão de me arrastar por toda a loja e contar a novidade para todo mundo:
- Parabéns, amor – Alexia me abraçou. – Eu não poderia esperar menos de você.
- Obrigado, mamãe. Obrigado mesmo. E esse bebê?
- Crescendo e me deixando cansada. As minhas pernas estão doendo demais.
- Elas estão meio inchadas – comentou Janaína.
- É de tanto ficar em pé, mas minha médica disse que faz bem andar.
- Essa barriga não pesa não? – perguntei.
- Às vezes.
- Vem, ex-universitário. Vamos dar a boa nova para os nossos patrões.
- Ai, Jana... Eu tenho que vender...
- Já, já você vende.

- Não creio – a outra grávida saiu da mesa e foi me abraçar. – Que orgulho de você!!!
- Obrigado...
- Que lindo, que lindo, que lindo. Parabéns!!!
- Muito obrigado.
- É, parabéns – Jonas também me abraçou. – Você lutou duro. Parabéns mesmo.
- Obrigado, Jonas.
- Viu só como o tempo passou rápido? – comentou Eduarda.
- Passou rápido mesmo, nem acredito que já estou praticamente formado.
- Pra você ver como são as coisas. parabéns, Caio. Você é um menino muito batalhador.
- Obrigado, Duda. E o bebê?
- A bebê – ela me corrigiu.
- Ué... Não era um menino? – perguntou Janaína.
- Acredita que o meu médico disse que errou? Achei hiper suspeito porque uma das primeiras coisas que se forma no bebê é o útero no caso das meninas. Ele já poderia ter visto isso há mais tempo, mas enfim. Eu fiquei feliz com a notícia.
- E como vai se chamar essa linda? – eu perguntei.
- Janaína, obviamente – Jana me bateu. – Qual a sua dúvida?
- Rá, rá, rá – falei. – Só porquê você quer.
- Não vai ser Janaína, chefa?
- Claro que não! Minha filha não merece um nome desses.
- Dá licença, to me retirando – a negra fingiu ficar ofendida e começou a andar.
- Boba! – eu ri. – Volta aqui! Como ela vai se chamar, Duda?
- Manoela, eu acho. A gente ainda não decidiu o nome.
- Bonito nome, mas é uma pena que ela não possa se chamar “Caia”.
- Se fecha no casulo, bicho da seda – Janaína me deu um tapa na cabeça. – Ela poderia se chamar Janaína, igual a mim. Ela iria ser muito feliz com esse nome.
- Alguém sabe qual é o feminino de Jonas? – perguntou o próprio Jonas.
- Jonas Fêmea – respondeu Janaína.
Eu dei risada. Ela era uma palhaça aquela mulher.
- Não, não gente. Deixa Manoela mesmo que está muito melhor. “Caia” não existe, Janaína é nome de velha e “Jonas Fêmea” eu não gostei – falou a mamãe gerente.
- Duda, eu só não esfrego a sua cara na parede porque você é minha superiora, senão você estava frita. Desde quando o meu nome é nome de velha?
- Ah, desculpa, Jana – Duda brincou. – É nome de anciã mesmo.
É claro que ela falou tudo isso propositalmente, só pra ver a Jana fora do sério e funcionou. A morena sabia que era brincadeira e levou na esportiva, mas ficou fingindo que ficou ofendida e deu o piti de sempre. Todos nós demos risada.

Quando o final de semana chegou e eu me encontrei com o Bruno, nós enfim pudemos matar toda a saudade que estávamos sentindo um do outro.
- Eu te amo, bebê – falei.
- Eu te amo muito mais.



Ainda bem que eu estava de folga no sábado e no domingo, senão eu não iria conseguir trabalhar. A gente transou tanto, que mais uma vez eu cheguei a imaginar que algum vizinho iria reclamar dos ruídos, mas isso por sorte não aconteceu.
Já no domingo, nós levantamos depois das 16 horas e não tivemos mais coragem pra fazer sexo. A gente jantou e ficou o resto do dia na cama, vendo televisão, um curtindo a presença do outro. E isso também era muito válido pra mim.
- Amor?
- Oi, bebê? – fiz carinho no cabelo dele.
- Posso fazer uma pergunta?
- Claro! Quantas você quiser, amor.
- Você não tem mesmo nenhum tio? Nenhum primo?
- Não tenho. Na verdade, tenho tios-avós e primos de segundo e terceiro grau por parte dos meus pais.
- Seus pais são filhos únicos, né? Você já tinha comentado isso antes, desculpa.
- É são sim. Não tenho tios e primos de primeiro grau não. Isso é tão esquisito.
- Verdade. Eu tenho tios lá em Minas ainda. Às vezes eu ligo pra eles.
- E seus primos? Você tem contato?
- Uhum. A gente se fala pela internet de vez em quando. Nada muito rotineiro não.
- Uhum.
- Caio?
- Oi, amor?
- Você tem parentes na Itália? Isso eu nunca perguntei antes.


- Não mesmo. Eu tenho sim!
- Sério? E você os conhece?
- Não, não conheço.
- Mas quem são? Se quiser me contar, é claro.
- Lógico que eu te conto! Pra falar a verdade, eu não sei muito bem quem está lá na Itália ainda.
- Não? Por quê?
- Toda a família do meu pai é italiana, sabe? Só quem nasceu aqui no Brasil foi ele. Todo o resto é

 de lá, mas a gente não tem contato.
- Entendi.
- Quando a minha avó engravidou do meu pai, ela tinha apenas 15 anos de idade. Só que meu avô era bem mais velho do que ela e naquela época imagina como foi aceitar isso, né?
- Mas a diferença é muito grande?
- Pelo que ela me contava, ela tinha 15 e ele 40 e poucos. Algo assim.
- Só idade pra ser pai dela, né? Só isso.
- Exatamente. Ele tinha mais idade que a mãe da minha avó, minha bisa. Por causa disso, a gravidez não foi aceita e eles fugiram pro Brasil.
- Jura?!
- Uhum. Foi isso que ela me contou quando eu era criança.
- Que legal, parece até história de livros de romance.
- Verdade. Aí eles vieram pra cá e aqui o meu pai nasceu. Meu avô conseguiu trabalho, eles se erradicaram por aqui e ficaram juntos até meu avô morrer.
- Ele morreu faz tempo?
- Faz. Eu não era nem nascido.
- Sério? Que triste. E sua avó? Morreu faz tempo?
-Alguns anos. Eu tinha 8 quando ela partiu.
- Mas então ela faleceu jovem, não?
- Muito. Ela só tinha 50 anos.
- E do que ela morreu?
- Tumor maligno no cérebro. Ela descobriu numa semana, na outra ela faleceu.
- Jura?! Credo.
- É! Foi bem triste.
- Imagino. Coitadinha.
- Foi ela que te ensinou a fazer esse bolo maravilhoso que você faz?

- Não – eu ri. – Quem me ensinou foi a minha outra avó.
- Que também já faleceu, né?
- Sim! 2 anos depois da minha avó paterna.
- Que triste, anjo.
- É sim! Mas eu sei que elas estão bem onde estão agora.
- Verdade. Mas volta a falar da Itália que está interessante.
- Então, aí não sei dizer quem está vivo ou quem já morreu lá na Itália. Nunca convivi ninguém de lá, nem mesmo pela internet.
- Nem procurou por pura curiosidade?
- Procurei sim. Encontrei muita gente pelo Orkut, mas não falei com ninguém porque eles nem devem saber da nossa existência.
- Sério?
- Aham.
- Mas quem você sabe que está lá?
- Tios-avós, primos do meu pai e pelo que sei, tenho até bisavós vivos.
- Jura? – nesse momento ele me olhou.
- É sim! Parece que a mãe da minha nona ainda está viva.
- E você não tem vontade de conhecê-la?
- Sim. É minha bisa!
- Que legal. E quem mais você sabe?
- São só rumores, mas parece que o meu bisavô também é vivo. Algo assim.
- E como você sabe de tudo isso?
- Quem contava era a minha vó, Bruh. Depois que ela morreu, a gente não sabe se eles ainda estão vivos. Eu acredito que estejam, porque vi fotos do aniversário de 70 anos de casamento dos dois.
- Puta que pariu! 70 anos?
- É! Dá pra acreditar?
- Caralho! É tempo demais.
- Verdade. imagina a gente juntos por 70 anos?
- Imagino bem mais que isso, sabia? – ele me olhou no fundo dos olhos.
- É?
- É! Nós dois bem velhinhos, bem velhinhos mesmo. E juntos.
- No que depender de mim, isso acontece fácil.
- De mim também.
Falei a verdade. no que dependesse de mim, isso de fato aconteceria.
- Mas se seus avós vieram da Itália pra cá, como eles se viraram? Acho que eles não sabiam falar português, né?
- Não sabiam. Minha avó falava muito mal a nossa língua, tadinha.
- E como eles fizeram, Caio?
- Aprenderam com outros italianos, Bruh.
- Eles encontraram outros italianos aqui no Brasil?
- Sim. Imigrantes como eles. Aí aos poucos foram aprendendo. Muito mal, mas deu pro gasto.
- Eles foram direto pra São Paulo?
- Não. Pro Rio Grande do Sul. Meu pai que mudou pra cá quando meu avô morreu. Minha avó veio junto.
- Aí seu pai conheceu a sua mãe?
- Isso. Clichê, né?
- Muito clichê, desculpa. Parece coisa de novela, aquela “Terra Nostra”.

- E quem disse que a vida não é uma grande novela, Bruno?
- Agora você falou uma verdade, Caio.
- A sua história daria um bom enredo, sabia?
- É, eu sei. A sua também.
Silêncio. Eu fiquei pensando em tudo o que nós conversamos. Será que meus bisavós estavam mesmo vivos?
A julgar pela foto que eu encontrei no perfil de uma pessoa com o mesmo sobrenome que eu, sim. A foto foi postada no ano de 2.008, 1 ano tinha se passado. Será que algum dos dois tinha morrido naquele período?
Era estranho saber que eu tinha raízes no exterior e que não as conhecia. Será que algum dia eu iria destrinchar essa parte da minha vida?
- Eu estou tão ansioso para a gente viajar – ele comentou.
- Eu também estou, amor. Não vejo a hora.
- Vai ser muito bom ficar com você 20 dias seguidos.
- Só 20? E os outros 10?
- Também, mas na viagem eu quis dizer.
- Hum sim.

- Anjo?
- Oi, príncipe?
- Você pode me ajudar a montar a minha árvore de natal?
- Claro, amor! Por que não falou antes?
- Só lembrei agora. Eu comprei essa semana, estava esperando você vir aqui pra gente montar juntos.
- Que lindinho... – eu fiquei todo derretido, como sempre.
Bruno e eu fomos até a sala do apartamento e começamos a trabalhar imediatamente. Era uma árvore muito simples, de mais ou menos 1 metro e com toda certeza ia ficar perfeita.
- O que é pra mim fazer? – perguntei.
- Me ajudar, oras. Quer colocar o pisca-pisca?
- Quero. Onde ele está?
- Aqui...
Era um pisca-pisca enorme. Eu sempre gostei de montar árvores de natal e sempre tive um olhar muito detalhista para essas coisas. Eu não sossegava enquanto a árvore não ficasse do meu jeito.
- Por que está tirando? – ele perguntou.
- Porque não ficou legal.
- Ficou sim, anjo...
- Não ficou, espera aí que você vai ver a diferença. Pode me fazer um favor?
- Uhum.
- Desliga a luz, por favor.
- Ah, beleza.
E com a luz apagada eu pude ver com mais perfeição a forma que as lâmpadas estavam distribuídas. E eu estava certo. Da forma que eu imaginava, ficou muito melhor.
- Agora sim.
- Como você distribuiu tão bem as lâmpadas assim?
- Sei lá – dei risada. – Simplesmente fiz.
- Caraca. Ficou show!
- Vamos colocar os enfeites?
- Uhum. Por onde a gente começa?
- Pelas bolas. As grandes primeiro.
Bruno e eu colocamos os enfeites na árvore de natal e quando tudo ficou pronto, nós olhamos para ver se não faltava nenhum detalhe, mas não faltava. A árvore ficou realmente muito perfeita.

- Não sabia que você mandava tão bem assim, amor – ele me abraçou por trás e beijou o meu pescoço.
- Eu sempre gostei de montar árvores de natal. Acho que a da república já deve ter sido montada. Deve ter ficado uma porcaria.
- Por que diz isso?
- Porque os caras lá não sabem montar direito. Fica tudo misturado, muito brega.
- Bobinho. Tinha que ser virginiano.
- Algo contra, senhor escorpiano?

- Não. Muito pelo contrário.
Girei e a gente se beijou. Foi um beijo longo e apaixonado, mas não nos deixou com tesão, Acho que a gente estava cansado de tanto sexo.
- Ah, lembrei que falta uma coisa...
- O quê? – eu perguntei.
- A meia. Eu vou colocar na porta lá fora...
- Ah, legal. Boa ideia.
- Me ajuda?
- Claro que eu te ajudo!
Ele teve que bater um prego na porta. Eu segurei o prego e ele foi com o martelo. Eu fiquei com medo dele acertar os meus dedos, mas isso felizmente não aconteceu.
- Agora é só colocar a meia e pronto.
- Perfeito – eu comentei. – Uma boa ideia. Eu acho bonito.
- Eu também acho.

E assim o nosso final de semana foi chegando ao fim. A cada dia que passava, o natal estava mais próximo e consecutivamente, as nossas férias também. E eu realmente não via a hora de chegar janeiro para me dedicar única e exclusivamente ao Bruno e a mais nada nem ninguém.
Quando cheguei na república naquela segunda-feira à noite, me deparei com uma árvore horrorosamente mal-montada. E como eu tinha uma agonia imensa com coisas mal-feitas, eu tive que desmontar tudo pra colocar tudo no lugar certo.

- Ei... Por que está desmontando a árvore? – perguntou Éverton.
- Não estou desmontando, eu só vou mudar a ordem dos enfeites. Quem montou isso?
- Eu!
- Ah, meu filho. Um serviço muito mal-feito, vamos combinar?
Pronto. Começou a briga. Ele me xingou de tudo quanto foi nome e ficou todo bravinho, mas eu nem dei bola. Os meninos do meu quarto ficaram do meu lado.
- Pronto. Terminei!
- Éverton, na boa. A dele ficou muito melhor que a sua – falou Vinícius. – Eu bem quis ajudar, mas você não deixou.
- Frescura de vocês – o nanico ficou bravo. – Isso é frescura.
- Não. Isso é bom gosto – eu provoquei.
- Isso é coisa de quem não tem mais o que fazer.
- Verdade – concordei. – Eu não tenho mais o que fazer mesmo. Já terminei a faculdade, já estou quase de férias na loja... Sobrou tempo pra arrumar a árvore.
- Chega de briga – Fabrício se meteu entre nós dois. – Vão ficar brigando por uma bobagem dessas?
- Ele que começou – falou Éverton.
- Que coisa de criança, hein Éverton? “Ele que começou”... Isso faz jus ao seu tamanho de meio metro. Atitude infantil, pelo amor de Deus.
- Como se você fosse um grande adulto, né Caio?
- Pelo menos eu não sou infantil como você. Posso ter menos idade que você, mas garanto que sou muito mais amadurecido, em todos os sentidos.
Só que não. Exagerei.
- CHEGA – foi a vez do Vinícius entrar no meio. – Parem com essa discussão idiota!
- Caio, vem comigo – Rodrigo me empurrou. – Eu tenho uma novidade pra você.
- Que novidade?
- Eu já te conto.
Nós entramos no quarto e ele pegou o meu notebook. Eu fiquei sem entender nada. O que será que ele ia me falar? Que novidade era aquela?
- Vem cá, olha isso.
- O que é isso?
Eu passei os olhos pela tela do note e fiquei boiando no assunto.
- Não entendi nada.
- Não? Então eu te explico: eu não vou mais embora do Rio. Ano que vem eu vou fazer a minha pós-graduação!!!

- SÉRIO? – eu dei um grito e abri um sorriso enorme.
- Sério sim – ele retribuiu o sorriso. – Eu não ia fazer, mas mudei de ideia. Eu vou aproveitar que ainda estou com a matéria no cérebro pra fazer a pós. É melhor assim. Meu pai me apoiou.
- Então você não vai mais?
- Não. Pelo menos não agora.
- Eu não podia receber uma notícia melhor que essa, Rodrigo!
Eu abracei o meu amigo com tanta rapidez que a gente caiu na cama e eu fiquei por cima dele.
- Que felicidade!
- É... Eu também estou. Você pode sair de cima de mim, por favor?
- Ah, desculpa! Foi a emoção.
- Nem acredito que já vou fazer a pós...
Ficamos falando sobre esse assunto. Em questão de dias ele havia dito que ia embora, que precisava da família por perto e de uma hora pra outra mudou de ideia.
Não que eu estivesse reclamando, não é isso, mas a mudança foi rápida demais. Bom, pelo menos eu teria a presença do meu amigo por mais algum tempo e isso realmente me deixou feliz. Eu não queria me separar do Rodrigo tão cedo!

24 DE DEZEMBRO DE 2.009...

O clima de natal estava presente por todos os lados. E naquela véspera de natal, o movimento no shopping cresceu mais que o dobro. Eu não sentei um segundo sequer na loja e vendi mais do que eu poderia imaginar em um único dia.
- Sua entrega será realizada no dia 5 de janeiro, em horário comercial.
Naquele ano, a minha amiga secreta foi uma moça do setor de telefonia. Ela se chamava Vanessa. Quem me tirou foi a Nataly. Eu ganhei um boné e um óculos de sol. Fiquei contente com os meus presentes.
- Feliz natal, Jana!
- Feliz natal, Caio!
- Feliz natal, Alexia!
- Feliz natal, amor!
- Feliz natal, Duda e Manoela!
- Faliz natal, Caio!
- Feliz natal, Jonas!
- Feliz natal, parceiro!
- Feliz natal, Gabo!
- Feliz natal, maninho!
Eu estava contando os segundos para sair daquela loja e quando isso finalmente aconteceu, eu quase saí correndo pro carro do meu namorado.
- Como é bom ver você – eu o abracei com força.
- Digo o mesmo. Já podemos ir?
- Podemos sim!
Bruno e eu íamos passar a noite de natal na república, porque o Fabrício, o Vini e o Rodrigo estavam lá e nós não queríamos ficar sozinhos no apartamento do meu namorado.
Por incrível que pareça, os pais do Digão foram para o Rio naquele ano. O Rodrigo até quis ir pro Paraná, mas a mãe dele queria ver o réveillon em Copacabana e foi este o motivo pelo qual os pais dele resolveram ficar com a gente.
Os outros 4 meninos foram viajar e eu não senti a menor falta deles. Passar o natal com o Bruno, com os meninos e com os pais do Rodrigo pra mim era mais do que suficiente.
O Kléber conseguiu férias na loja, por isso ele não ficou com a gente naquele ano.
- Dona Inês, este é o Bruno, meu namorado.
- Muito prazer, Bruno.
- O prazer é meu, Dona Inês.
- Nossa, Caio... Que boa escolha, hein? – ela falou na cara larga.
- Obrigado – eu agradeci rindo e percebi que o Bruno ficou todo sem graça.
- Seus olhos são lindos, parabéns.
- Obrigado – o bichinho ficou todo sem graça.
E para completar a turma, a Bruna chegou acompanhada de uma amiga, que estava ficando com o Fabrício. Era essa a tal garota com quem ele vivia saindo. Não era namorada como eu imaginava que fosse.
- Xará? – ela deu risada. – Tudo bom?
- Bem, xará e você? – meu namorado perguntou à namorada do Vini.
- Ótima!
- A Bruna é namorada do Vini, você lembra, né?
A Larissa, minha nova cunhadinha, não passou o natal com a gente. Eu ainda não a conhecia, mas uma vez que os pais do Digão estavam na cidade, com certeza esse encontro não iria tardar a acontecer.
E como fazia uma noite linda, nós colocamos a mesa na laje e fizemos um churrasco por lá mesmo. Quando o relógio marcou meia noite, todos nós assistimos os fogos de artifício e em seguida nos cumprimentamos.

- Feliz natal, amor – eu abracei o Bruno.
- Feliz natal, minha vida. O primeiro que a gente passa juntos, né?
- Sim. E é o primeiro de muitos, eu tenho certeza disso.
- Te amo!
- Eu te amo também.
Se alguma pessoa não sabia que ele era meu namorado, à partir daquele momento ficou sabendo. O que mais nos denunciava, eram as nossas alianças.
- Bonita a aliança de vocês – falou a namorada do Vinícius.
- Obrigado – eu fiquei sem graça.
- Quando será que eu vou ganhar uma nova, hein?
Vinícius simplesmente começou a assoviar e saiu de perto da amada.
Eu achei essa atitude estranha, ainda mais após o longo suspiro da Bruna. Será que eles estavam estremecidos?
Coincidentemente ou não, Bruno e eu trocamos um presente naquela noite e a maior surpresa foi perceber que o presente era o mesmo: um par de tênis.
- Não acredito – a gente falou e riu.
Ainda bem que os tênis não eram iguais. O que ele me deu, era muito mais bonito do que eu dei pra ele.
- Amei... Obrigado, anjo.
- Eu também amei. Eu é que te agradeço! – ele exclamou.
E assim o dia 25 foi passando. Por volta das 4 da manhã, Bruno e eu fomos pro apartamento dele e só voltamos pra república na hora do almoço. A mãe do Rodrigo ficou responsável por essa parte.
Eu olhava pro relógio de 5 em 5 minutos. A hora parecia estar rastejando naquele 30 de dezembro e eu já estava ficando agoniado.
- 18:40 ainda?
- Calma. Falta pouco para você ficar de férias! – disse Janaína.
- Pra você também, louca.
- Pra mim faltam apenas 20 minutos, pra você faltam algumas horinhas. Falando nisso, pega um chocolate.
- Eu tenho um pra você também. Acho que já vou entregar pro pessoal da manhã.
- Uma ótima ideia. Podemos fazer isso juntos.
- Beleza.
E assim nós fizemos. Eu comprei várias caixas de bombons e entreguei um para cada funcionário. Os únicos privilegiados em ganhar mais foram a Duda, a Alexia, a Jana, o Gabo e o Jonas. E não poderia ser diferente.
- Você fica com três – falei.
- Sério? – Gabriel me olhou com ar de surpresa.
- Um pra você e os outros dois para as suas filhas.
- Aí sim, hein?
Gabo estava na linha branca comigo. A nossa amizade estava consolidada novamente. Eu gostava muito dele.
- Valeu, “parca”.
- Pode pegar dois, Jonas.
- Ah, muito obrigado.
- Puxa saco – Janaína falou no meu ouvido.
- Cala a boca.
- Jonas, amor... – ela se aproximou. – Pode pegar três!
- E eu é que sou puxa saco, né?
- Calado!
- Duda, pode pegar dois. Um pra você e outro para a Manoela.
- Obrigada, Caio.
- Alexia, dois pra você também. Um pra você e outro pra “Dilexia” ou pro “Alêgo”.
- Para de chamar meu bebê com esses nomes feios, Caio!
- Você não se decide!
- Ainda é cedo.
- Cedo, é? Já está quase com 7 meses, querida. E se ele ou ela for que nem eu e quiser vir ao mundo antes do tempo?
- Ele ou ela não está com pressa, né bebê? – ela olhou pra barriga.
- Ai Deus...
- Deixa eu me despedir de vocês que eu tenho que ir pra Salvador – Janaína se aproximou.
- Boa viagem então, coração – eu a abracei. – Muito boa viagem.
- Pra ti também. Boa lua de mel com seu bofe.
- Pra você também. Se cuida. E feliz ano novo, né?
- Pra nós. Muitas realizações pra gente.
- Em todos os sentidos!!!
- Eu também vou nessa, Caio – Alexia me cutucou. – Deixa eu te dar um abraço...
Eu a abracei, mas aquela barriga imensa atrapalhou o nosso contato.
- Boas férias, descansa bastante, namora bastante, curte bastante e volta com a cabeça bem arejada.
- Pode deixar, Alexia.
- Um feliz ano novo pra você, com muitas realizações e muita luz.
- Pra ti também amor.
Em seguida a Duda foi se despedir de mim. Ela também me abraçou, me desejou boas férias, um feliz ano novo e enfim eu fiquei sozinho.
Quando o meu expediente acabou, senti uma vontade louca de gritar, mas me controlei ao máximo.
- Eu estou de férias... Eu estou de férias...
- Que inveja de você, Caio – Kléber suspirou.
- Ah, cala a boca! Você voltou de férias ontem e ainda ficou 5 dias a mais por causa das folgas!
- Mas eu já quero mais.
- Espertinho!
- Muito injusto isso. Eu voltei de férias logo no dia 29 de dezembro. Isso é errado!
- Verdade. Mas manda quem pode, obedece quem tem juízo.
- É. Infelizmente.
Jonas nos levou pra casa e quando nós chegamos, eu me despedi do magricela:
- Até fevereiro, chefe.
- Até fevereiro. Se cuida, boas férias e feliz ano novo pra você!
- Pra ti também. Boa noite.
- Boa noite, Caio.

Para ser bem sincero, eu já estava cansado de passar a virada de ano em Copacabana. Por isso, naquele ano o Bruno e eu resolvemos ficar na Barra da Tijuca com os amigos e sobrinhos dele.
- Mais um ano, né? – ele comentou.
- Mais um ano.

- Já fez os seus pedidos?
- Uhum e você?
- Ainda não. Eu vou fazer só à meia noite.
- Ah, sim. Eu também vou firmar nesse horário.
- Nosso primeiro ano novo juntos, amor.
- Sim... E vai ser o primeiro de muitos, se Deus quiser.
- Se Deus quiser – ele me abraçou.
- Querem parar de melação, por favor? – Vítor reclamou.
- Não mesmo – falei. – A gente ficou tempo demais longe um do outro.
- Verdade – Bruno concordou.
- Tio? – Léo chamou pelo Bruno.
- Oi, Léo?
Era tão esquisito ouvir um adolescente chamando o Bruno de tio!
- Tem um besouro na sua camiseta!
- Onde? – Bruno olhou para todos os lados.
- Bem aqui – Leonardo deu um tabefe nas costas do Bruno.
- Porra, Léo! Precisa me bater desse jeito?
- Desculpa, titio.
- Titio não, hein? Titio não!!!
- Pensando? – puxei assunto com a Pâmela.
- É. Pensando na vida.
- Hum. Cadê as suas amigas? Elas não vão vir?
- Vão, elas já estão chegando.
- Ah, sim!
Os sobrinhos do Bruno eram muito legais e os amigos não ficavam atrás. Até o Vítor estava me surpreendendo positivamente.
- Que foi, Caio? – ele perguntou quando me viu olhando para seu rosto.
- Pensando que você tem mudado comigo. Isso me deixa feliz.
- Você também tem mudado comigo e isso também me deixa feliz. Espero que ano que vem nós possamos ser bons amigos.
- Eu também espero isso, Vitinho.

2.009 estava indo embora. Como o tempo estava voando, meu Deus. Parecia até mentira, mas já iria fazer 5 anos que eu estava naquela cidade.
Eu ponderei muito sobre o meu ano. Como acontecia nos anos anteriores, eu coloquei na balança os meus ganhos, as minhas perdas, as minhas conquistas, os meus aprendizados, as minhas tristezas, minhas mágoas, minhas dores, meus problemas e tudo mais o que aconteceu naquele ano de 2.009.
E pensando nisso, eu cheguei a conclusão que foi um dos melhores anos da minha vida.
Primeiro, pela volta do meu relacionamento com o Bruno e segundo, pelo término da minha faculdade.
Pensando em uma maneira superficial, eu não tive perdas em 2.009. Talvez a única perda que eu tive foi com o Murilo.
E foi pura perca de tempo o meu namoro com ele. Aquele garoto não acrescentou nada na minha vida, mas a culpa não era inteiramente dele.
Eu aceitei o namoro, eu entrei nessa jogada e eu quebrei a cara. Enfim, o Murilo foi uma das poucas coisas ruins, uma das poucas perdas que eu tive naquele ano.
No âmbito profissional, eu tive ganhos com a substituição do Jonas e no âmbito acadêmico então nem se fala.
O término da faculdade foi a minha segunda maior conquista, perdendo apenas para o Bruno.
Este sim foi o meu maior presente em 2.009. A retomada da nossa relação com certeza me fez muito bem, me tornou um ser humano melhor, me fez ter outras atitudes e me deixou bem mais feliz do que eu era.
Outro ganho que eu tive naquele ano, foi o amadurecimento. Eu era sim uma pessoa imatura, mas quando soube do que tinha acontecido com o Bruno no passado, simplesmente enxerguei o quanto eu julgava as pessoas, o quanto eu as fazia sofrer e o quanto eu era injusto com os que me cercavam.
Naquele ano, eu aprendi que a gente tem que ouvir, que a gente tem que escutar e que não podemos julgar ninguém. Não temos esse direito. Não podemos fazer isso.
Quem era eu para julgar os outros? Ninguém! E eu tinha teto de vidro em muitos aspectos.
Em 2.009 eu aprendi a perdoar. E aprendi que esse é o melhor sentimento, que essa é a melhor sensação. O perdão é capaz de mudar a nossa vida por completo.
E mudou a minha. Mudou em todos os sentidos. Depois de ter perdoado o Bruno, eu não senti mais mágoas e rancores dentro do meu peito. A minha vida parecia mais leve, parecia plena, parecia completa.
Eu não me arrependi de ter feito isso. Não me arrependi porque o Bruno de fato mudou. Ele não era mais aquele carinha escroto pelo qual eu tinha me apaixonado.
É claro que ele deu muita mancada no passado. Me traiu, me abandonou e não deu nenhuma satisfação na época, mas isso era passado.
Quanto a traição, eu sabia que não aconteceria mais e sabia porquê tinha certeza que ele era apaixonado por mim e que acima disso, ele me amava.
Eu confiava no Bruno. Confiava inteiramente e eu tinha certeza que nada disso voltaria a acontecer. Nada disso!
Algo dentro do meu peito me fazia sentir que ele não iria mais me trair e que muito menos me abandonaria.
O meu amor pelo Bruno, era algo que dispensava explicações. Era imenso. Gigantesco. Do tamanho do universo.
Por causa disso, por mais que ele tivesse errado no passado, por mais que ele tivesse sido um cafajeste, eu não tinha como não passar uma borracha em tudo e só pensar no presente e no futuro.
E quanto aos julgamentos dos outros, eu não me importava. Só o que valia para mim era a nossa relação, o nosso sentimento e saber que de fato ele era uma outra pessoa, um novo homem. Isso sim era o que importava. A opinião dos outros não fazia a menor diferença, porque só nós dois sabíamos o que um sentia pelo outro.
É, 2.009 estava acabando, mas este ano ia deixar saudade. Porém, como nada na vida é para sempre, que viesse 2.010.
E que este ano fosse um milhão de vezes melhor que o que estava acabando.
E ia ser. Eu tinha certeza que ia ser melhor. Uma porque eu estava com o Bruno, outra porque eu tinha terminado a faculdade.
Que esse novo ano que iria começar em minutos, trouxesse boas novas. Novos amigos, novas oportunidades, novos aprendizados, novos lugares... Enfim, que este fosse um ano diferente.
Foram esses os meus pedidos. Eu fiquei abraçado com o Bruno por um tempo, até um cara começar a caçoar da gente.
- É melhor a gente ir embora daqui – eu puxei o Bruno pelo braço. – Vamos pra perto do mar, é melhor.
- Você tem razão.
- Ei, onde vocês vão? – perguntou Matheus.
- Pro mar!
Acabou que todos resolveram nos acompanhar. Até as amigas da Brit que já haviam chegado.
A gente se aproximou da água e eu fiquei de olho no horizonte. É claro que o réveillon na Barra não seria igual ao de Copa, mas eu tinha certeza que mesmo assim seria bonito.
Mesmo a praia estando cheia e mesmo a gente correndo o risco de sofrer preconceito, quando o relógio marcou 23:59, o Bruno me abraçou por trás e nós ficamos olhando a queima de fogos juntos e abraçados.
10...
Eu estava tão feliz por ele estar presente ao meu lado...
9...
Que o melhor que eu podia fazer naquele momento era agradecer...
8...
Agradecer por a vida ter nos juntado novamente...
7...
Agradecer por eu ter caído na real e ter corrido atrás do grande amor da minha vida...
6...
Agradecer por ter dado tempo de encontrá-lo no apartamento...
5...
Agradecer por nosso namoro estar dando certo...
4...
Agradecer por tudo de bom que me aconteceu naquele ano...
3...
O fim da faculdade...
2..
O reconhecimento profissional...
1...
E pedir para que em 2.010 toda a minha felicidade se multiplicasse. E que o meu amor com o Bruno aumentasse cada dia mais...


1º DE JANEIRO DE 2.010...

A queima de fogos de artifício da Barra não chegava aos pés do espetáculo de Copacabana!
Pra falar a verdade, eu pensei que seria mais bonito. Não que estivesse sendo feio, mas não era nada impactante como eu imaginava que seria.
De toda forma, nada disso fez diferença na minha vida. Os fogos de artifício eram apenas um detalhe, o que valia mesmo era a presença do Bruno ao meu lado e nada mais que isso.
Já estávamos em 2.010. A década tinha mudado. Será que isso interferiria em alguma coisa? Será que supersticiosamente, isso mudaria algo em nossas vidas?
Será que essa década teria algum significado para os místicos? Eu nunca acreditei nisso, até me consultar com a Do Carmo, a terapeuta holística que trabalhava comigo.
Querendo ou não, não dava pra negar que ela acertou 100% de tudo o que estava acontecendo na minha vida.
Até sobre o Rodrigo ela acertou. Como desconfiar que ela tinha alguma espécie de poder? Eu não podia ser tão cético assim. Era bom prestar atenção em todos os sinais que as pessoas falassem sobre a década de 2.010-2.020.
Mas independentemente disso, eu tinha que planejar como seria o meu ano novo. Meus objetivos, minhas metas e meus sonhos.
Objetivos? Continuar trabalhando, dando o meu melhor e consecutivamente, amadurecer no âmbito profissional.
Metas? Apenas manter as que eu já havia alcançado. Naquele ano eu não queria estudar, apenas fazer o curso de inglês. Isso já seria suficiente.
Sonhos? Ah, muitos! Mas o mais importante, eu já tinha realizado que era ficar ao lado do Bruno. Eu só precisava viver esse sonho. Só isso.
- Feliz ano novo, amor – sussurrei no ouvido dele.
- Feliz ano novo, anjo!!!
Acho que nós dois esquecemos o local onde estávamos, porque nos beijamos ali na praia mesmo.
O barulho ao nosso redor era ensurdecedor. Fogos, gritos, saudações, música, as ondas no mar... Tudo se misturou ao clima do novo ano que estava iniciando. Era uma energia simplesmente maravilhosa que circulava ao nosso redor.
Mas o fato foi que nós não nos importamos com o que poderia nos acontecer. Da minha parte, eu não me importei. Quando eu estava com o Bruno, tudo o que estava ao meu redor simplesmente sumia. Quando eu estava com o Bruno, éramos só nós dois. Ele e eu e mais nada. Ou melhor: ele, eu e o nosso amor. Precisava de mais alguma coisa? A resposta é não!


Nosso beijo durou um tempo significativo e quando a gente se separou, nada nos aconteceu a não ser uma cotovelada que o Vítor deu nas costas do coitado do meu namorado. Eu fiquei feliz em saber que as pessoas não se importavam mais com os gays como no passado.
É claro que ainda havia preconceito, mas ele não era tão forte como antigamente. A cada dia que passava, eu sentia que as pessoas a minha volta estavam mais receptivas às adversidades e isso era muito bom.
Novamente nós dois ficamos nos olhando e este olhar foi ainda mais longo que o anterior. Ele arrumou uma mecha do meu cabelo que estava fora do lugar e disse:
- Obrigado por estar aqui comigo. Eu te amo!
- Eu é que te agradeço, amor. Obrigado por me perdoar...
- Eu é que tenho que falar isso, Caio...
- Não senhor – eu apertei o nariz dele. – Eu é que tenho que falar isso.
Nos abraçamos, mas dessa vez da forma tradicional. Eu senti o perfume delicioso dele invadir o meu nariz e isso me deixou entontecido.
- Eu te amo!!! – nós dois falamos ao mesmo tempo.
Ele sempre falava isso, mas eu nunca me cansava de ouvir. Saber que o meu amor pelo Bruno era correspondido, era simplesmente incrível.
Eu sofri tanto por aquele garoto e naquele momento ele estava ali, comigo. E o melhor de tudo era saber que dali há algumas horas, nós estaríamos embarcando naquela que seria a nossa primeira viagem após a volta do nosso namoro.
- Me promete uma coisa? – eu perguntei baixinho.
- O que você quiser – Bruh respondeu imediatamente.
- Me promete que a gente nunca mais vai se separar?
- É claro que eu prometo! E você promete que nunca mais vai ficar longe de mim?
- Eu vou ficar ao seu lado pra sempre, Bruno. Pra sempre!!!
Selamos a nossa promessa com um beijo. E o beijo foi esquentando, esquentando, esquentando até chegar ao ponto de acender de vez a minha vontade em ficar a sós com o garoto dos olhos azuis.
- Podemos ir pro meu apartamento? – perguntou no meu ouvido.
- Ainda não. Olha seus sobrinhos e seus amigos aqui.
Ah, é! Eu me esqueci deles.
- Podemos cumprimentar os pombinhos? – perguntou Vítor.
- Podem – Bruno ficou vermelho.
Recebi um abraço de cada pessoa que ali estava. O mais gostoso de todos, foi o da Pâmela. Eu não sabia explicar o motivo, mas algo me ligava àquela menina.
- Obrigado, lindona!
- Eu é que agradeço por você fazer o Bruh feliz! Já te adoro, viu?
- E eu à você!
- Posso te chamar de tio também? – ela riu.
- Ah. Nem vem! Não tenho idade pra ser seu tio, você tem quase a mesma idade que eu!
- E daí? O tio Bruno também tem quase a minha idade e é meu tio! Eu vou te chamar de tio sim!
- Eu mereço! No auge dos meus 21 aninhos ganhar uma sobrinha deslumbrante que nem você!
- Nossa, obrigada pelo deslumbrante! Amei!
Bruno, os amigos, sobrinhos dele e eu ficamos na Praia da Barra até altas horas da madrugada. Só saímos de lá quando de fato nos sentimos exaustos e isso se deu por volta das 4 da madrugada.
- A gente se vê, tio – Léo abraçou o Bruno.
- Se cuida, hein moleque?
- Pode deixar. Depois eu quero falar com você em particular, pode ser?
- Em particular? O que foi? Problemas em casa?
- Não! Depois te explico.
Não nego que fiquei curioso.
- Eu passo lá em Ipanema mais tarde antes de viajar e a gente conversa, pode ser?
- Aham. Pode. Mas você vai lá em casa?
- Não mesmo! A gente se encontra.
- Falou então.
- Tchau Monteiro – Vítor colocou as duas mãos nos meus ombros e deu um pulo.
- Eu tenho cara de pula-pula?
- Alto do jeito que você é, tem mais cara de bambu do que de pula-pula.
- Que culpa eu tenho se você tem 1 metro e 20 e eu 1 e 80?
- Rá, rá, rá! To morrendo de rir.
E assim nos despedimos. Bruno e eu seguimos pro apê dele e no caminho ele me perguntou:
- Agora a gente pode matar a vontade? Hum?
- Você tem alguma dúvida disso, safadinho?
Era tudo o que eu queria ouvir. Eu já estava pra lá de excitado e senti vergonha quando tive que caminhar no meio daquela multidão que estava na avenida da Barra. E se alguém percebesse a minha animação?
Resolvi não ligar para mais nada. O importante era estar ao lado dele e nada mais que isso.
Bruh e eu caminhamos pelas ruas de mãos dadas. Somente neste momento eu pude notar alguns olhares atravessados para nós, mas nada além disso.
- Anjo?
- Oi, bebê? – ele virou e me encarou.
- Posso só comprar uma caipirinha de saquê?
- Lógico! Eu quero uma também.
Uma bebidinha naquela hora ia cair bem. Além de estar um pouco quente, uma bebida ia cair bem para começar o ano com um brinde. Não que fosse possível brindar no meio daquela muvuca, até mesmo porque a bebida vinha em um saquinho, mas mesmo assim valeria a pena.
- Um brinde – Bruno propus. – À nós dois, ao ano novo e à tudo o que vamos conseguir em 2.010!
- Saúde – ele falou, olhando nos meus olhos.
- Saúde!
Bebemos as caipirinhas. Estava forte, mas deliciosa. Depois disso, voltamos a caminhar de mãos dadas e não nos separamos mais.
O prédio estava muito barulhento e isso me deixou feliz. Pelo menos Bruno e eu poderíamos namorar em paz, sem precisar controlar os nossos impulsos. E seria exatamente isso que nós iríamos fazer.


Subimos e no mesmo momento em que colocamos os pés dentro do apê, já começamos a nos beijar.
Ele tirou a minha camiseta, tirou a camiseta dele e começou a me empurrar com muita tranquilidade até a cama.
Eu deitei e ele foi por cima. Soltei os meus chinelos e prendi as minhas pernas às dele. Seria a nossa primeira noite de amor de 2.010. Primeira de muitas, é verdade, mas aquela seria especial porque daria o pontapé inicial no nosso ano novo e era justamente por isso, que eu ia caprichar e ia amá-lo como nunca havia feito desde que a gente começou a se relacionar.
Bruno e eu nos beijamos por muito, muito tempo.
Ele fez carinho no meu rosto e de vez em quando puxou o meu cabelo com certa força, só para me deixar ainda mais excitado.
- Eu já disse que te amo nesse ano? – indaguei.
- Não sei... – mentiu.
- Eu te amo... Eu te amo... Eu te amo... Eu te amo muito, muito, muito!!!
- Eu te amo muito mais, minha vida...
- Meu presente de Deus...
- Me beija? – a voz do Bruh foi um sussurro. – Meu presente de Deus...
Meu coração foi parar na nuca com aquela declaração! Eu não esperava por aquilo... Não mesmo...
Eu o amava tanto, mas tanto que eu seria capaz de fazer qualquer coisa por ele, mas por mais que eu soubesse que a recíproca era verdadeira, sempre que eu ouvia as declarações do Bruno, eu ficava completamente derretido e sem fôlego.
Ouvir aqueles “eu te amo” era como receber um bálsamo, que me renovava física e espiritualmente falando. Quando eu estava com o Bruno, todos os meus problemas iam pro espaço e eu não sentia mais nada a não ser a felicidade por estar ao lado dele.
Depois de um longo beijo, ele deitou ao meu lado e a gente trocou um longo olhar. Não foi preciso falar nada. O silêncio reinou absoluto e falou qualquer coisa que a gente quisesse falar um pro outro.
Eu abracei o meu gato e mais uma vez senti o delicioso perfume dele invadir as minhas narinas. Eu ainda estava pra lá de excitado e quando ele finalmente colocou a mão em mim, eu não pude deixar de abrir um sorriso safado.
- Que delícia! – exclamei.
- Safado.
- Quer saber de uma coisa? – montei no Bruno.
- O que é?
- Eu sei que você gosta!
Nos beijamos e sorrimos no beijo. Ele estava todo lindo, todo maravilhoso naquela madrugada de 1º de janeiro e eu não ia medir esforços para fazê-lo feliz na cama.
Não que eu precisasse disso. Bruno e eu nos completávamos em tudo, mas na cama a gente tinha uma química especial. Em todos os meus relacionamentos, eu nunca tive uma química tão perfeita como eu tinha com ele.
- Tira essa roupa logo, Caio!
Ele ordenou. Às vezes o meu namorado tinha uma voz autoritária que me deixava arriado. E é claro que eu obedecia, né?
Fiz o que ele pediu, mas tirei também a dele. E ver aquele corpinho saradinho nu me deixou todo arrepiado. Ele era muito gostoso, embora fosse magro!
- Gostoso – tive que falar.
- Então vem experimentar o seu gostoso, vem?
Claro que eu fui. Beijei os lábios daquele garoto lindo e depois disso fui descendo a minha boca por toda a extensão daquele corpo saradinho.
Quando cheguei lá e coloquei tudo na minha boca, ele foi logo soltando um gemido baixo. Eu sempre gostava de ouvir os gemidos do Bruno, porque isso me deixava com mais vontade de proporcionar prazer àquele garoto que eu tanto amava.
- Calma, príncipe – ele sentou e colocou a mão no meu queixo.
- O que foi? – estranhei.
Ele não falou, apenas agiu. O meu anjo dos olhos azuis e cabelos castanhos virou na cama e começou a me chupar também. Entendi o recado e continuei o que eu já havia começado.
Não paramos até ambos chegarmos ao prazer, o que aconteceu ao mesmo tempo. Eu gozei na boca dele, ele gozou na minha e em seguida a gente trocou um beijo apaixonado.
- Delicioso – eu falei.
- Você que é.
Caímos exaustos na cama, mas é claro que a noite não ia parar por ali. Eu queria mais e tinha certeza que ele também queria. Por isso, depois de poucos minutos, ambos já estávamos a ponto de bala novamente e aí sim, as coisas começaram a rolar pra valer.
Primeiro ele penetrou em mim. O Bruno me pegou de ladinho, de frente, de costas e em várias outras posições. Eu quase gozei novamente sem nem encostar a mão no meu pênis.
- Quer vara? – ouvi a voz dele entrar pelos meus ouvidos.
- Quero! Quero, vem aqui vai...
- É? É, safado? É, cachorro? – meu namorado deu um tapa na minha bunda. – Gostoso!
- Eu te amo, Bruno – soltei todo o ar. Uma gota de suor escorreu pelo rosto do meu namorado.
- Não. Eu é que te amo, Caio.
Nos beijamos e os nossos corpos ficaram grudados por causa do suor. E chegou a minha vez. Eu também penetrei no Bruno em várias posições e só cheguei ao orgasmo depois de muito tempo.
- Eu te amo, Caio – Bruno jogou a cabeça pra trás e gemeu, totalmente sem ar.
- Eu é que te amo, Bruno!
Conforme eu ia investindo, as nossas peles se tocavam e aquele famoso barulinho tomava conta do quarto. Meti com força, com vontade, com ferocidade e nem me importei com o que pudesse acontecer. Eu estava gostando, Bruno estava gostando então nada mais fazia diferença para mim.
- Putinho gostoso do caralho – falei e dei um tapa na bunda dele, do mesmo jeito que ele fez comigo.
- Vem aqui, cachorro!
- Ah, é?! Agora você vai ver o que é bom pra tosse!
Nem sei como consegui fazer isso, mas aumentei a velocidade mil vezes e automaticamente o Bruno começou a gemer pra valer. Isso me deixou louco!
- AAAAAAH, DELÍCIA! – gritei de prazer.
- Filho da puta gostoso do caralho...
- Você que é gostoso, seu safado!
E assim as coisas foram acontecendo. Naquela madrugada, nós transamos 3 vezes, fora a primeira rodada de sexo oral. Foi uma noite incrível, cheia de amor e prazer.
- Meu príncipe – disse Bruno, enquanto nós nos abraçamos.
- Meu presente de Deus – repeti a mesma frase e mais uma vez ele ficou sem ar.
- Não fala assim, senão eu choro!
- É verdade – afastei e grudei nossas testas. – Você é meu presente de Deus!
- Você que é meu presente de Deus, Caio. Obrigado por me aceitar do jeitinho que eu sou...
- Eu é que tenho que falar isso. Eu agradeço todos os dias a Deus por você ter voltado, sabia?
- Agradece? – os olhos do Bruh ficaram cheios de lágrimas.
- Uhum – o abracei de novo. – Todos os dias, antes de dormir e na hora que eu acordo. É sério. Eu faço isso mesmo.
E fazia mesmo. Fazia porque eu era mesmo grato por ele ter voltado e por a gente ter se acertado.
Eu nunca deixei de amar o Bruno. Em nenhum momento sequer fui capaz de esquecê-lo por completo e não teve um dia na minha vida em que eu não tenha pensado nele, depois que nos conhecemos em 2.005, é claro.
Obviamente que, em alguns momentos, eu pensei nele com saudade, em outros com ódio, em outros com desejo, mas nunca deixei de pensar. O Bruno nunca saiu da minha vida por completo.
Por ser o meu primeiro amor, nunca fui capaz de esquecê-lo e tampouco conseguirei excluí-lo da minha vida até o final dos meus dias.


O primeiro amor sempre fica marcado na vida da gente e o Bruno, além de ser o meu primeiro amor, ele foi meu primeiro tudo. Foi com ele o meu primeiro beijo gay, foi com ele a minha primeira vez, foi com ele a minha primeira briga, foi com ele a minha primeira desilusão amorosa, foi com ele o meu primeiro sofrimento por amor... Ele simplesmente inaugurou todos os sentimentos possíveis em meu coração. Como esquecê-lo? Impossível!!!
- Você é tão lindo... Tão lindo...
- E peço também para a gente ficar cada dia mais unido, cada dia mais forte, cada dia mais feliz...
- Eu também peço isso, amor – senti sinceridade nas palavras do Bruno. – Eu peço pra Deus proteger você, proteger a mim e proteger nós dois.
- E Ele vai proteger pra sempre...
- Pra sempre...
Não poderia querer mais nada a não ser proteção. Bruno e eu já tínhamos passado por tantas coisas juntos, já tínhamos passado por tantos momentos turbulentos, que a gente merecia paz. Paz e proteção divina. E eu tinha certeza que Deus estava ao nosso lado, nos protegendo sempre.
- Sabe, Bruno?
- O que foi, amor?
- Eu quero ficar com você pra sempre!
- Eu também quero ficar com você pra sempre, Caio!
- Pelo resto dos meus dias...
- Por muitos e muitos anos...
- Por muitas e muitas décadas...
- Por um século...
- Por um milênio...
- Por todo o sempre...
- Pela eternidade...
- Além da eternidade...


- Eu nunca vou deixar de te amar, meu amor...
- Eu também nunca vou deixar de te amar, meu príncipe encantado, nem mesmo depois da minha morte!!!
- Nem depois da morte!!!
Intensificamos o nosso abraço. Que promessa linda que nós fizemos um pro outro! E da minha parte seria verdade. Da minha parte eu nunca, nunca, nunca deixaria de amar o Bruno!
Poderiam passar dias, meses, anos, décadas, séculos, ou milênios. O meu amor por aquele garoto era algo completamente indescritível. Quando eu encontrava o meu namorado, todo o mundo desaparecia e restava só nós dois.
Quando a gente ficava junto e isso não quer dizer somente na cama, a minha felicidade era tão grande que poderia ser capaz de jurar que ela era tangível.
E quando a gente ficava na cama, o meu prazer era tão intenso que eu não consigo juntar palavras suficientes para descrever o que eu sentia.
Eu não conseguia explicar o que me unia ao Bruno. E não conseguia entender como aquele sentimento poderia ser tão forte, poderia ser tão intenso.
Desde o primeiro dia em que o vi, no Call Center, esse sentimento imenso passou a existir dentro do meu peito. Era algo inimaginável, algo incontrolável e muito, muito forte. E eu tinha mais do que certeza que aquele sentimento iria durar por toda a minha vida ou além disso.
Talvez o que a Do Carmo disse fosse mesmo verdade. talvez aquele amor que eu sentia pelo Bruno viesse de outras existências. Se é que isso existia, é claro.
Se existisse vida após a morte, se existisse outras encarnações, eu ainda seria capaz de sentir
 aquele amor que sentia pelo Bruno. Ele era único pra mim e não existia nenhuma outra pessoa na face da Terra que pudesse substituí-lo.
Almas gêmeas? Sim. Com certeza. Talvez até mais do que isso. Talvez nossa definição fosse diferente que almas gêmeas.
Eu acreditava nisso. Disso eu não tinha dúvidas, pra falar a verdade. eu desacreditei sim quando a cartomante falou que Bruno e eu éramos almas gêmeas, mas desacreditei porque naquela época a minha razão ainda tomava conta de mim. Entretanto, no meu coração eu sempre soube disso.
Muitas pessoas podem não acreditar em Tarô, vidência, mediunidade ou qualquer coisa do tipo. Eu mesmo não acreditava. Até a Do Carmo ler toda a minha vida e não errar nada, absolutamente nada.

Almas gêmeas. Eu sorri comigo mesmo ao pensar nisso. Como era bom saber que ele estava ali comigo, que não estávamos separados e que nada conseguia abalar o nosso amor.
- Eu te amo, amor – ele falou.
- Eu também te amo, vida!
- Além da eternidade...
- Além da eternidade...
Até queria que rolasse tudo de novo, todavia naquele momento não foi possível.
Já estava tarde – já tinha até amanhecido – e dentro de algumas horas a gente ia viajar. Nós precisávamos estar descansados para encarar algumas horas de avião.
- Estou tão feliz, sabia? – comentei.
- Eu também estou, amor! Às vezes sinto que vou explodir de tanta felicidade.
- Quando eu estou com você, não me falta mais nada, Bruno.
- Eu digo a mesma coisa. Eu me sinto completo ao seu lado, mesmo faltando algumas coisas.
- Que coisas?
- Ah, minha família...
- Eu te entendo tanto...
- A gente se entende nesse assunto, né?
- Eu entendo a sua dor, você entende a minha...
- Acho que é por isso que a gente se ama tanto!
- Será?
- Ah, sei lá. Eu acho que o nosso amor supre a falta das nossas famílias.
- Eu também acho isso.
Existia verdade nesse pensamento do Bruno. Acredito eu que ele tenha transferido todo o amor que sentia pela família pra mim e vice-versa. É claro que eu ainda gostava da minha família, ele ainda gostava da família dele, mas naquela altura do campeonato, com nós dois unidos do jeito que estávamos, a falta das famílias era muito menor do que fora no passado. Pelo menos era essa a minha opinião.
- É melhor a gente não falar mais sobre isso – ele ficou apoiado no cotovelo e deu um beijo no meu rosto.
- Concordo com você.
- Me dá um beijo?
- Só um?
Rolaram vários. Ao fundo, eu ainda ouvia barulhos de alguns fogos de artifício e o barulho das famílias comemorando o ano novo.
- Melhor a gente dormir – eu tirei o cabelo do rosto do meu anjo.
- Verdade. A gente precisa descansar.
- Está pronto pra ficar longe de tudo e de todos?
- Com certeza!
Seríamos só nós dois e isso era o que estava me deixando mais ansioso. Eu queria muito descansar, mas queria ficar ao lado do Bruno também. E ficar mais de um mês ao lado dele, seria bom demais.
- Boa noite, amor – ele falou e deu um selinho nos meus lábios.
- Boa noite não, bom dia – ri. – Dorme com os anjos.
- Eu vou dormir com um bem ao meu lado.
- Seu lindo! Eu te amo!!!
- Eu te amo muito, muito mais!!!

Me remexi na cama e notei que o Bruno não estava ao meu lado. Isso me deixou preocupado.
- Bruno? – chamei por ele. Será que havia acontecido alguma coisa?
- Já vou! – a voz dele vinha da cozinha.
O que será que ele estava aprontando? Eu olhei pela vidraça do quarto e notei um 1º de janeiro nublado. Será que havia chovido?
- Bom dia, meu bebê – o meu namorado entrou no quarto com uma bandeja enorme nas mãos.


- Eu não acredito – abri o maior sorriso que pude.
- Café da manhã na cama pro homem da minha vida – ele colocou a bandeja ao meu lado, sentou e em seguida me deu um beijo.
- Você não existe!
- Existo sim. Olha eu aqui.
- Como você é lindo, senhor Duarte! Você que fez tudo isso?
- Claro! Eu não comprei nada, eu juro! Só os industrializados e as frutas porque isso não dá pra fazer.
- Como você é lindo, muito lindo! Vou acabar ficando mal-acostumado.
Havia pães, bolo, café com leite, suco, geleia, iogurte, bolachas e salada de frutas.
- Não sou não, você que é!
- Não precisava ter se preocupado, meu amorzão mais lindo do mundo!
- Claro que precisava.
Ele sempre fazia o café da manhã e levava na cama. Estava na hora de virar aquele jogo. Eu precisava fazer isso também.
- Anda, come pra gente ir pra sua casa.
- Eu não vou conseguir comer tudo isso sozinho não. Além do mais, tem churrasco esperando pela gente lá na república!
- Eu te ajudo!
Ele ajudou mesmo. O melhor de tudo não foi o fato do meu namorado ter levado o café na cama, foi o fato dele praticamente colocar as coisas na minha boca. Eu me senti mimado naquela manhã de janeiro.
- Bebe esse café com leite, filho da Regina Duarte. Eu não gosto!
- Vou beber, chato. E quem me dera eu ser filho da Regina Duarte!
- Do Lima Duarte?
- Até parece! Bobo.
Era brincadeira.
- Olha o aviãozinho... – ele sorriu.
- Seu bobo – eu falei de boca cheia.
- Não posso mimar o meu namorado?
- Assim eu vou ficar mal-acostumado, hein?
- É pra ficar mal-acostumado mesmo, você pode!
- Ah, até parece.
Terminamos o café e depois trocamos um longo beijo apaixonado. Não rolou sexo porque a gente não tinha tempo pra essas coisas, mas bem que deu vontade.
- Mais tarde – ele apertou o meu nariz. – Na nossa viagem.
- A nossa primeira viagem juntos – eu segurei na cintura dele.
- Primeira de inúmeras, eu espero.
- Pode acreditar que sim. Pelo menos uma vez por ano a gente vai viajar, nem que seja por perto mesmo.
- Combinadíssimo. Já arrumou tudo? Tem certeza?
- Sim senhor, não tem mais nada no meu armário não.
- Pegou as passagens?
- Peguei.
- Então vamos, eu ainda preciso arrumar as minhas coisas.
- A gente ainda volta pra cá, né?
- Volta sim, pode ficar tranquilo.
- Então tudo bem.
Saímos do apê, rumamos pro carro e partimos pro Realengo. Chegando lá, eu o convidei para subir, mas ele não pareceu à vontade com o convite.
- Não seja bobo, vem comigo!
- Eu fico sem graça, seus amigos estão aí...
- E qual o problema? Você passou o natal aqui, lembra? E tem churrasco!
- Sim, mas eu fico sem graça!
- Meu lindo – eu sorri e o agarrei. – Ninguém vai falar nada, eu prometo.
- Mesmo assim. O Rodrigo nem gosta de mim!
- Ele gosta sim, para de ser bobinho. Vem, eu estou te convidando. A gente aproveita o “churras”.
- Já está querendo comer de novo, seu guloso?
- Agora não, mas daqui a pouco sim – não segurei a gargalhada. – Vem, entra. É sério!
- Caiô? – ouvi a voz do Rodrigo vindo de algum lugar, mas ele não estava em canto nenhum.
- CREDO, OUVI A VOZ DO RODRIGO E ELE NÃO ESTÁ AQUI! É UM FANTASMA!!!
- Se você olhar pra laje você vai vê-lo, Caio – Bruno riu.
- Ah, oi! – eu fiquei sem graça.
- Vão entrar ou vão ficar aí olhando pra porta?
- Vamos entrar. Cuidado, hein? Se você der mais um passinho você vai voar.
- Rá, rá! Palhaço.
Sorri. Nós entramos na casa e a mesma estava barulhenta ao extremo. Com certeza todo mundo estava festejando a chegada do ano novo.
- Caio! Bruno! – Vinícius exclamou. – Feliz ano novo!
- Obrigado, Vini – abracei o médico. – Feliz ano novo pra você também.
- Bruno, feliz ano novo – o bonitão foi falar com meu gatinho.
- Obrigado, Vinícius! Pra ti também.
- Mano...

Rodrigo me agarrou e quase não me largou mais. Foi um abraço apertado, daqueles que só ele sabia dar.
- Eu tentei te ligar, mas você não atendeu.
- Desculpa, Digow... Eu não vi o celular tocando. Eu te mandei uma mensagem, você viu?
- Claro. Obrigado pelas palavras.
- De nada! Que seu ano novo seja incrível, hein?
- Desejo tudo em dobro, triplo, quádruplo, quíntuplo, sêxtuplo, sétuplo pra você, irmão!
Que lindo! Fiquei todo bobo.
- Que a nossa amizade seja a mesma esse ano.
- Assim seja!!! – eu falei.
- Bruno... – meu irmão olhou pro Bruno, que estava com a cara bem fechadinha.
- Rodrigo... – ele sibilou.
- Feliz ano novo, CUNHADO!
- Igualmente, CUNHADO!
Eles apertamos as mãos e se mataram com o olhar por um segundo. Era notório o ciúme do Bruno. Que fofo!
- Você já vai viajar? – Digow indagou.
- Só mais tarde. Eu vim arrumar as minhas coisas.
- Hum... E quando voltam?
- Dia 22.
- Ainda? Que demora!
- Eu preciso de férias, não seja estraga prazeres. Onde estão seus pais? Cadê o churrasco? Cadê o Fabrício?
- Minha mãe está na cozinha, preparando o almoço. Meu pai está lá em cima, preparando a churrasqueira.
- E o Fabrício?
- Saiu cedinho e ainda não voltou.
- A Bruna está aí?
- Ela e a Larissa vêm mais tarde.
- E o Kléber? Ainda não voltou também?
- Não. Esse daí eu não vejo desde o ano passado – brincou Rodrigo.
- Hum. Vou lá falar com os seus pais. Vem, amor.
O cheiro da comida da Dona Inês estava delicioso. Porém, antes de falar com ela, eu tive que falar com o Bruno. Ele parecia irritado.
- Ei... Que carinha é essa? – perguntei, com o tom de voz mega baixo.
- O que você andou mandando pro Rodrigo, hein?
- Uma mensagem de ano novo, por quê?
- Estou com ciúmes desse trouxa. Não gostei do jeito que ele te agarrou.
- Bobo! Ele é meu irmão, Bruh!
- Não me importa. Não gostei e acabou.
- Eu já te disse que você fica lindo quando fica com ciúme?
- Sem graça. Depois eu vou querer ver essa mensagem!
- Eu mostro. Vem, vamos falar com os pais dele.
Bruno e eu falamos com os pais do Rodrigo e logo em seguida seguimos pro quarto, para enfim começar a arrumar a mala.
- Me dá seu celular – ele pediu.
- Pode fuçar. Eu não tenho nada pra esconder de você.
E não tinha mesmo. A mensagem que eu mandei ao Digow era apenas uma mensagem de feliz ano novo, que acabava com um “eu te amo”, mas era amor de irmãos, só isso.
- Eu te AMO?
- É. Não posso? – provoquei.
- TÁ LOUCO?! QUE HISTÓRIA É ESSA DE “EU TE AMO”?
- Mas eu amo o Digow! É amor de irmãos, oras!
- Eu tenho ciúmes – o rapaz fez bico.
- Mas eu amo o Digow, amor.
- Mas eu fico com ciúmes.
- Não precisa ter ciúmes dele, tá bom? – larguei a mala e fui abraçá-lo. – Eu amo o Rodrigo como irmão, mas eu amo você como homem!
- Eu sei, amor. Eu sinto ciúmes porque é inevitável. Espero que você entenda e não fique bravo comigo.
- Claro que eu te entendo. Eu também tenho ciúmes de você. E acho lindo o seu bico de raiva.
- Meu príncipe!
A gente se abraçou e eu fechei meus olhos. Eu estava de pé e ele sentado na cama do Rodrigo.
- Eu te amo!
- Eu também – respondeu o ciumento.
A porta foi aberta e o Fabrício deu o ar da graça. Não sei qual de nós três ficou mais encabulado.
- Fabrício...
- Desculpem, meninos. Eu não sabia que vocês estavam aqui.
- Não tem problema – me afastei. – A gente não estava fazendo nada demais. Feliz ano novo, Fabrício!
- Obrigado, Caio – trocamos um abraço rápido. – Feliz ano novo também.
Nesse momento, algo dentro de mim me disse que aquele ano seria diferente pro Fabrício e eu não sei explicar o porquê dessa sensação.
- Algo me diz que seu 2.010 será diferente.
- Deus queira. Não aguento mais monotonia.
Fabrício – que não é o Melgaço, ou seria Melgasso? – foi ao encontro do Bruno com a mão direita erguida no ar.
- Feliz ano novo, Bruno.
- Pra você também, Fabrício.
- Já vão viajar?
- Daqui a pouco – respondi.
- Bacana. Fortaleza, não é?
- Isso – respondeu Bruno.
- Boa viagem pra vocês.
- Obrigado – meu amor e eu respondemos ao mesmo tempo.
Troquei ideia com o Engenheiro Químico até terminar de arrumar a minha bagagem, que ficou tão ou maior que a do Bruno.
- Vai passar um ano fora, Caio? – brincou Fabrício.
- Não. Nem tem tanta coisa assim, para de ser desagradável.
- Não está esquecendo nada, Caio? – perguntou meu namorado.
- Sim. Ainda falta algumas coisas que estão no banheiro. Eu Já volto, Bruno.
- Eu posso mexer no seu notebook? – perguntou.
- Claro – entreguei o computador ao niño.
- Obrigado.
- Já volto, viu?
- Uhum.
Antes de ir ao banheiro pegar meu creme de barbear, meu antiacne e meu xampu, fui até a cozinha para beber um pouco de água. A Dona Inês ainda estava entretida no meio das panelas.
- Que cheirinho bom, hein?
- Já, já fica pronto, filho.
Eu adorava quando ela me chamava de filho, mas ficava todo sem graça.
- Já volto pra experimentar. Se bem que nem estou com muita fome.
- Mas vai comer assim mesmo!
Ela me tratava como se eu fosse de fato o seu filho. Deus foi generoso ao extremo ao me dar duas mães postiças no lugar da minha mãe de sangue.
Enquanto separei as minhas coisas no banheiro, fiquei pensando na Dona Elvira. Eu já tinha falado com ela mais cedo pelo celular. Eu sentia falta dela.
- Desculpa a demora, Bruh.
- Não tem problema. Amor, vem cá...
- O que foi?
- Meu cunhado entrou no meu perfil, olha...
Achei estranho. O que será que o Cauã queria no perfil do Bruno?
- Entrou é? Provavelmente ele te viu no meu perfil e ficou com curiosidade pra saber quem é o cunhado dele. Relaxa!
- Eu estou relaxado, só achei atípica a visita dele. Por mim não tem problema não.
- Entra aí no perfil dele, eu quero dar uma olhada em como estão as coisas.
Ele obedeceu. Sentei ao lado do gato e fiquei olhando o perfil do meu gêmeo. Sempre que eu o via pelas redes sociais, ficava espantado com a semelhança que ainda mantínhamos, mesmo estando separados há quase 5 anos.
É claro que não podia ser diferente, já que éramos gêmeos, né? Contudo, o corpo dele estava muito parecido com o meu, o cabelo simplesmente idêntico, o rosto também com uma barba fina... Era incrível, simplesmente incrível que até nessas particularidades a gente se parecesse.
- Pelo amor de Deus, até barba vocês dois usam ao mesmo tempo – Bruno se espantou.
- É! Pode sair, amor. Não tem nada de diferente.
- Tudo bem...
Bruno saiu do perfil do Cauã e em seguida desligou o notebook. Meu anjinho parecia um pouco entediado naquele 1º de janeiro.
- Agora eu estou pronto. Não estou esquecendo mais nada.
- Pegou o protetor solar?
- Sim. Estou levando 10.
- Creio em Deus Pai – Fabrício se meteu. – Pra que tudo isso?
- Lá deve ser um sol lascado – dei de ombros. – E como a gente é bem branquelo, vamos usar muito.
- Eu comprei 10 também – confessou o jovem dos olhos azuis. – Melhor sobrar do que faltar.
- É verdade.
- Meninos, vamos almoçar? – a mãe do Rodrigo entrou no quarto. – O almoço já está pronto e o meu marido já está assando o churrasco!
- É pra já, Dona Inês – Fabrício deu um pulo da cama e saiu dos aposentos.
- Vocês não vêm? – a mulher perguntou.
- Vamos sim, Dona Inês – respondeu meu namorado. – A gente já vai.
- Estamos esperando, hein? A Bruna e a Larissa já chegaram!
Será que a gente tinha ficado tanto tempo assim no quarto? O Rodrigo disse que as meninas iriam “mais tarde”, eu não pensei que fosse tão rápido assim.
- Vamos almoçar, bebê? – fui até ele e o beijei.
- Só se você me der mais um beijo!
- Ah, mas isso é muito fácil!
Nos beijamos e eu fui ficando animado. Se ele não tivesse parado o beijo, provavelmente eu não teria me segurado e a gente teria transado ali mesmo.
- Mais tarde – ele riu e apertou meu nariz. – Seu safadinho!
- Eu sei que você gosta, amor.
- Eu não gosto, eu amo!
Sorri.
- Vem, vamos comer. Eu já estou com fome.
E estava mesmo. Por mais que o café da manhã no Bruno tivesse sido reforçado, eu já estava quase faminto. Mas existe uma justificativa: eu estava em fase de crescimento. SÓ QUE NÃO!
Confesso que fiquei com fome muito rápido, mas tampouco me importei com isso. Eu queria é ser feliz e aproveitar o ano novo, isso sim!
Bruno e eu subimos até a laje. Fazia um dia nublado, não estava tão calor e isso favoreceu a nossa estadia naquele lugar.
Quando chegamos lá, notei a presença da Bruna e de uma garota desconhecida. Esta deveria ser a namorada do Digow, minha nova cunhadinha.
- Caio, essa é a Lari. Lari, esse é o Caio, meu maninho mais novo.
- Prazer – ela beijou o meu rosto.
- Prazer – respondi, com um pouco de ciúmes.
- E esse é o Bruno, meu cunhado – completou Rodrigo.
- Olá, muito prazer – Larissa também beijou meu namorado.
- Igualmente.
Sentei e Bruno sentou ao meu lado. Fiquei analisando a Larissa e foi inevitável compará-la à Marcela.
A nova namorada do Rodrigo era loirinha, tinha a pele bem branquinha, o rosto um tanto quanto juvenil, traços bem femininos, olhos castanhos bem clarinhos e o corpo magro e um tanto quanto atraente. Era bonita, não dava pra negar; no entanto, eu ainda preferia a Marcela fisicamente falando.


A mesa estava cheia de coisas gostosas, mas eu foquei apenas no arroz, na maionese, na farofa e no churrasco. Isso era suficiente. Pelo menos no almoço. Ainda faltaria a sobremesa.
- Pra onde vai tudo isso, Caio? – perguntou Vinícius.
- Pro meu bucho, oras bolas.
Notei que o Bruno colocou menos comida que eu. Ele parecia estar cada vez mais entrosado com meus amigos e estava até batendo um papo com a mãe do meu irmão postiço.
- Que comida deliciosa, Dona Inês – comentou Larissa. – A senhora cozinha muito bem!
- Obrigada, Lari. Que bom que você gostou.
Realmente. Estava tudo muito bom. Há tempos eu não comia uma comida caseira tão saborosa como aquela. O melhor de tudo foi o churrasco.
- Ficou ótimo sim, Seu Renato – garanti. – Do jeitinho que eu gosto.
- Que bom que gostou, Caio.
- E você curtiu o réveillon em Copacabana?
- É lindo, hein? Só que tem muita gente. Pisaram umas mil vezes nos meus pés. Rodrigo que o diga, né filho?
- Desculpa aí, pai – meu irmão riu.
- Vou descontar nada não, sua peste! Vai ver só depois.
Era lindo a forma como pai e filho se amavam. Eu sentia um pouco de inveja desse relacionamento dos dois. Queria que meu pai me amasse do jeito que o Renato amava o Rodrigo.
Percebi que o Bruno realmente não estava muito a fim de se esbaldar na comida como eu estava fazendo, até que chegou a hora da sobremesa.


Quando os olhos azuis bateram na mousse de maracujá que o Vini preparou, estes brilharam como se fossem diamantes.
- Não creio que é mousse de maracujá! – exclamou.
- Não gosta? – perguntou Vinícius.
- Ele ama – respondi pelo Bruno, que já estava se servindo.
Ainda bem que tinha muito, porque o Bruno não se contentou com uma taça. Ele repetiu por três vezes a sobremesa e não se fez de rogado.
- Que delícia. Muito bom mesmo – ele elogiou.
- Pô, valeu! – Vini ficou sem graça.
- Delícia está esse pudim de leite condensado que o Caio fez antes de ir pra sua casa – falou Rodrigo.


- Verdade, Caio! – concordou Bruna. – Me passa a receita?
- Você guarda de cabeça?
- Fácil!
- Eu também quero! – exclamou Dona Inês.
- Pra fazer esse grandão aí eu usei 8 latas de creme de leite com soro, 8 latas de leite condensado, 4 xícaras de leite e 4 envelopinhos de gelatina sem sabor dissolvidos em 4 xícara de água morna.
- Tudo isso?! – Bruna arregalou os olhos.
- Ah, minha filha... Olha o tanto de gente!
- Bem light isso, né? – Larissa riu.
- Isso é só um detalhe à parte, cunhada – dei risada.
- E como faz? – perguntou minha mãe postiça.
- Junta tudo, bate no liquidificador por 3 minutinhos, põe numa fôrma com calda de caramelo e deixa na geladeira por 3 horas. E está pronto!
- Não vai ovos? – Bruna estranhou.
- Não. Nenhuma receita que eu faço uso ovos porque não gosto do cheiro que fica.
- Somos dois – Larissa concordou.
- Ficou muito bom! Quem te ensinou? – indagou Dona Inês.
- Minha vó. Que Deus a tenha!
- Amém!
- Mas e se eu não quiser um pudim tão grande assim? Como faço? – questionou Bruna.
- Ah, aí você usa metade de tudo isso que eu te falei. Pra ser sincero, a receita original são 2 latas de creme de leite, 2 de leite condensado, 1 xícara de leite e 1 envelopinho da gelatina sem sabor dissolvido em 1 xícara de água morna.
- Hum... Agora ficou mais light – Larissa riu.
Após o almoço, nós tivemos que ir embora. Já estava ficando tarde e Bruno e eu ainda precisávamos tomar um banho e nos arrumar.
Bruno se despediu de todo mundo e desceu pro carro com a minha mala nas mãos. Eu fiquei mais um pouco pra me despedir de todos os meus amigos com a devida atenção.
- Manda fotos pra gente – falou Fabrício.
- Pode deixar. Eu trago lembrancinhas pra vocês.
- Se cuida – Vinícius bagunçou meu cabelo. – E aproveita Fortaleza por mim.
- Pode deixar! Beijo, Bruna. Cuida desse chato aí.
- Deixa comigo!
- Tchau, Seu Renato!
- Já vai, filho?
- Uhum.
- Então boa viagem pra você. Se cuida lá no nordeste e aproveita muito as suas férias. Queremos te ver lá no Paraná em breve, hein?
- Eu to com vontade de ir no inverno. Amo o frio.
- Faça isso! Te receberemos de braços abertos.
Que fofo! Eu gostava dele.
- Obrigado. Boa viagem de volta.
- Valeu, meu filho. Nunca esqueça que você já é da família, literalmente falando.
- Muito obrigado. Eu sou grato à isso.
- Ganhei um filho à partir do momento que você salvou o Rodrigo. Eu nunca vou esquecer isso.
- Não fiz mais do que a minha obrigação.
- Vai com Deus! – meu pai de consideração me abraçou. – E a gente se vê em março, se Deus quiser.
- E Ele quer!
Em seguida, me despedi de minha cunhada e minha mãe de consideração. Elas estavam lavando louça com o Digow.
- Tchau, Lari. Prazer em te conhecer. Cuida bem do meu irmão, hein?
- Deixa comigo! Prazer foi todo meu, Caio.
- Tchau, Dona Inês. Obrigado por toda essa comida deliciosa. E espero vê-la em março.
- Com fé em Jesus! Não perco essa formatura por nada.
- Que bom!
- Boa viagem, meu lindo. Cuidado, viu?
- Pode deixar. E você, seu cachorro? Não vai se despedir de mim não?
- Não deveria – Rodrigo me encarou. – Você vai ficar tempo demais fora daqui, mas vou te dar um desconto.
- Acho bom!
- Mas com uma condição.
- Qual condição?
- Que você deixe o notebook aqui! – ele sorriu.
- Interesseiro!
Dona Inês gargalhou.
- Vai deixar ou não? Acho bom deixar porque eu vou precisar muito dele.
- Vai nada, seu mentiroso! Nem tem mais nada da faculdade pra fazer.
- Chato! – ele fechou a cara.
- To brincando. Eu deixo sim. O Bruno vai levar o dele mesmo.
- Ah, assim que tem que ser! Agora eu posso me despedir.
Nos abraçamos.
- Vai com Deus, pulguento!
- Fica com Ele, sarnento.
- Juízo lá, hein?
- Você também, espiga de milho!
- Quanto amor – Lari riu.
Era amor mesmo. Amor de irmãos!
- Bom, tchau! Até a volta.
- Eu vou te acompanhar até o carro.
Que fofo! Nós dois descemos até a rua e Rodrigo foi falar com o Bruno enquanto eu entrava no Corsa.
- Boa viagem e se cuida, viu? – Rodrigo deu um tapa na cabeça do Bruno. – Cuida do Cacs!
- Não tenha dúvidas disso, idiota!
- Olha o respeito, magrelo!
- Não mesmo!
Que bonitinho os dois com ciúmes um do outro. Eu adorava vê-los juntos desse jeito.
- Podemos ir? Não está esquecendo nada? – Bruno questionou.
- Celular aqui, carteira aqui, roupas aqui... Acho que não esqueci nada. Podemos ir, amor!
- Então vamos.
- Tchau pra vocês. Juízo!
- Tchau, mano – coloquei a cabeça pra fora. – Eu te ligo!
- Liga mesmo! Vou esperar. Cuidado pra não caírem do avião.
- Vira essa boca pra lá, agourento! – Bruno ficou bravo.
- Eu quero um presente, hein?
- Eu trago! – garanti. – Tchau, até a volta!
- Até, Cacs. Boa viagem!
- Obrigado, mano!
Suspirei quando o carro saiu. Eu não ia vê-lo por no mínimo 3 semanas e ficaria com saudades,
 mas estava em boa companhia ao lado do Bruno e ele em boa companhia ao lado da nova namorada. Eu gostei dela.
Voltar para o apartamento foi mais difícil do que ir para a minha casa. O trânsito estava mais carregado, mesmo sendo feriado.
- Que trânsito, hein? – ele reclamou.
- Pois é. Ainda bem que a gente não está atrasado.
- Verdade.
- Queria dar um pulo na praia. Será que dá tempo?
- Melhor não arriscar, anjo. Mais tarde a gente vai na praia em Fortaleza.
- É mesmo. Melhor não arriscar. Você não ia falar com seu sobrinho?
- Ia, mas não vai dar não. Ficou pra volta.
- O que será que ele quer falar com você?
- Acho que ele deve estar com alguma dúvida sobre alguma coisa. O Léo está entrando na puberdade. Que bonitinho!
- Está? Como você sabe disso?
- Não é difícil de sacar isso, Caio! O moleque já está na idade para isso. Deve ser algo do tipo.
- E por que ele não pergunta isso pro pai dele?
- Deve ter vergonha. Como eu era o irmão mais velho dele até 3 anos atrás, ele se sente mais à vontade comigo!
- Que fofo! Vocês se dão muito bem, né?
- Muito! Eu amo o Léo.
- Que lindo isso! Será que um dia eu vou ter sobrinhos?
- Lógico que vai! Você tem dúvidas disso?
- Não – ri. – Só não sei quando vai ser e se terei contato com eles.
- Seu irmão já está na idade de ter filhos. Quer dizer, ele já pode ter filhos. Não que ele seja obrigado, é claro.
- Eu entendi. Enfim, deixa isso pra lá.
Um percurso que durava mais ou menos 40, 45 minutos, nós fizemos em 1 hora e 10. Isso me deixou irritado.
- Odeio trânsito!
- Calma. Nós já chegamos.
Assim que coloquei meus pés no apartamento, puxei meu namorado para um beijo.
- Vem cá, vem? Eu já estava morrendo de saudades.
- Eu também estava.
Olhando dessa forma, até parecia que a gente estava sem se ver há anos, mas não nos desgrudamos um segundo sequer naquele dia. Era o tesão que estava falando mais alto.

O beijo aconteceu de uma maneira lenta, mas provocativa. Eu fiquei excitado e percebi que ele também ficou, mas rolar algo mais profundo seria humanamente impossível naquela altura do campeonato.
- Eu preciso tomar um banho – comentei.
- Eu também. Podemos ir juntos?
- Bruh... Não vai dar tempo pra isso, anjo...
- Sei que não, a gente só toma banho, oras.
- Não vou conseguir me segurar!
- Não? – ele mordeu meu lábio.
- Não!
- Eu aposto que vai!
- Não vou. Eu me conheço.
- Então eu pago pra ver, vem comigo, vem?
Bruno me puxou pela mão direita e me levou ao banheiro. Chegando lá, ele tirou a minha roupa, tirou a roupa dele e nós corremos pra debaixo do chuveiro.
- Não me provoca, Bruno Silva!
- Pô, Silva não! Nada contra, mas Duarte é mais interessante.
- Não me provoca Bruno Duarte – reformulei a frase.
- Eu não estou fazendo nada – o safado se defendeu e ligou a ducha.
A água estava fria, mas nem isso serviu para diminuir o nosso tesão. Ele estava excitado, mas eu estava mais do que ele.
- Você é muito delicioso – notei que Bruno passou os olhos por todo o meu corpo.
- Você que é – o abracei.
Nos beijamos e eu senti uma mão veloz chegar no meio das minhas pernas. Abri um sorriso no meio do beijo e fiz a mesma coisa. Estava muito, muito duro.
- Não pode! – ele me deu bronca.
- Não? Não era você que queria?
- Não! Agora não!
- Só um pouquinho?
- Não senhor. Não pode!
- Isso é o que nós vamos ver.
Eu não resisti. Tive que ajoelhar e colocar aquela delícia na minha boca. E quando eu fiz isso, o Bruno ficou rendido e forçou a minha cabeça pra baixo.
- Safado. Já que começou agora vai até o fim!
É claro que eu ia, né? Chupei meu namorado com muito carinho, mas confesso que aquela água gelada que caía em cima de mim estava me deixando irritado. Ainda bem que ele conseguiu chegar ao orgasmo muito rapidamente.
- Pô... – eu falei, quando já estava de pé. – Que rápido!
- A gente não pode perder tempo, seu safadinho. Me passa o xampu, deixa eu lavar seus cabelinhos.
E assim aconteceu. Eu ensaboei o Bruno, ele me ensaboou e depois que terminamos o banho, um secou o corpo do outro.
- Eu também fiquei com vontade agora – ele colocou a mão no meu pau.
- Ficou, foi?
- Uhum, mas não dá mais tempo – Bruh fez um bico lindo.
- Mais tarde – foi a minha vez de apertar o nariz dele.
- Prometo te compensar, tá bom?
- Relaxa. Eu não estou falando nada.
Fomos para o quarto e nos trocamos. Eu escolhi um jeans e uma pólo e ele resolveu ir de camiseta regata só para me deixar enlouquecido.
- Puta que pariu, você fica gostoso demais com essas regatas...
- Você gosta? – ele abriu um sorriso lindo.
- Eu amo! Adoro quando você usa camiseta colada ao corpo.
Por ser magrinho, porém sarado, quando o cachorro do Bruno colocava essas camisetas, ele ficava lindo. Ficaria muito mais se fosse um pouco musculoso, mas eu não tinha do que reclamar.
- Bom saber. À partir de hoje eu só vou usar baby look!
Ia ser perfeito pra mim, mas com certeza ele ia ser bem assediado e isso ia me deixar enciumado. Para que eu fui abrir a boca?
- Posso usar seu perfume? O meu está bem difícil.
- Claro que pode – autorizou.
- Eu amo quando você fica com essas pólos, sabia?
- Ah, é?
- É sim. Fica com cara de marrentinho. A coisa mais linda desse mundo – ele borrifou meu perfume em todo o corpo.
- Eu não sou marrento, amor – achei graça.
- É sim! É todo bravinho, todo marrentinho, é a coisinha mais linda que Deus já inventou!
- Ai, ai. Meu garoto mais fofo do mundo – eu suspirei.
Eu amava quando o Bruno ficava fofo daquele jeito. Ele me fazia me sentir muito bem demonstrando todo aquele amor que ele sentia por mim.
- Já estou pronto – ele falou.
- Só falta eu arrepiar o cabelo. Não vai arrepiar o seu?
- Não. Eu vou de boné.
- Só pra ficar ainda mais lindo, né? Vai deixar ele pra trás?
- Eu deixo do jeito que você quiser, príncipe.
- Eu te amo, anjo!
- Eu te amo muito mais.
Depois de ajeitar o meu cabelo, conferi se não estava esquecendo nada, coloquei as passagens no bolso da frente da mochila, e enfim comecei a fechar as janelas do apartamento do moço.
- Amor? – eu chamei.
- Oi?
- Está levando camisinha?
- Não! Você está?
- Eu tenho algumas. Posso colocar as que você tem na mochila? É melhor do que a gente comprar lá em cima da hora.
- Pode, claro. Tem um monte no criado mudo.
Bruno falou que não estava esquecendo nada e estava esquecendo o mais importante. Aquela viagem seria praticamente a nossa lua de mel e definitivamente, não poderia faltar preservativos.
- Tem bastante – me surpreendi.
- Eu comprei mais – Bruno ficou vermelho.
- Desse jeito a gente vai falir a fábrica – senti minhas bochechas esquentarem.
- Quer saber de uma coisa? – ele se aproximou.
- O quê? – fiquei curioso.
- Pouco me importa. O que importa pra mim é ser feliz ao seu lado!
- Que lindo, amor...
Nos beijamos e quase esquecemos da nossa viagem.
- Para – ele me empurrou. – Hora de sair.
- Então vamos. Eu já estou pronto.
- Também estou. Está levando o barbeador elétrico, né?
- Sim. Você está levando o seu?
- Estou. Protetor já tem, camisinha também, perfume está aqui... Não estou esquecendo de nada, tenho certeza.
- Eu também não estou. As passagens já estão na mochila.
- Então já podemos ir?
- Podemos sim.
Por via das dúvidas, mais uma vez conferi todas as janelas e enfim peguei a mala para sair do apartamento. O Bruno me esperou dentro do elevador, eu fechei a porta do apê dele, guardei a chave na minha mala e fui ao encontro do meu namorado.
- Enfim, vamos viajar!
- Vamos viajar – ele suspirou e fechou os olhos.
Queria saber no que ele estava pensando. Eu apertei o botão do térreo e fiquei perdido nos meus próprios pensamentos. Um mês ao lado do meu Bruno. Eu não poderia querer nada melhor do que aquilo.
O elevador parou no 4º andar e uma das moradoras do prédio entrou, acompanhada do filho que tinha mais ou menos a minha idade.
- Boa tarde – ela nos cumprimentou. – Feliz ano novo!
- Boa tarde, Maria – Bruno respondeu. – Igualmente.
- Vai viajar, Bruno?
- É vou sim – isso não era meio óbvio? – Vou aproveitar as férias.
- Que bom. Faça uma boa viagem então.
- Obrigado, Maria.
Quando o elevador chegou ao térreo, os vizinhos do Bruh saíram e não se despediram. Isso é coisa típica de carioca mal-educado. Desceu primeiro e ele foi logo atrás. A gente ia ter que pegar um táxi, já que Bruno não ia poder dirigir até o aeroporto. Quem ia trazer o carro pro condomínio?
- Quer ajuda, amor? – eu perguntei.
- Não. Você quer?
- Não, obrigado.
- Olá, Bruno – o porteiro cumprimentou. – Feliz ano novo.
- Olá, Manoel. Obrigado, pra você também!
- Boa viagem! Quando volta?
- Daqui 20 dias mais ou menos.
- Ah, que bom. Descanse bastante.
- Sim, vou descansar. Por favor, você pode cortar a eletricidade do meu apartamento? Assim a conta vem mais barata no final do mês.
- Posso sim, deixa comigo. A água não tem como.
- Eu sei, não tem problema.
- Vou pedir já pra desligarem.
- Obrigado, bom trabalho.
- Valeu!
- Amor? – virei e o encarei, quando nós já estávamos na rua.
- Oi, anjo?
- Quantos porteiros têm no seu prédio?
- 4. Não conhecia o Manoel?
- Não!
- Caraca. Ele sempre está aí.
- Nunca vi mais gordo. Ele é legal?
- É sim. Todos eles são gente boa.
- Hum. Nós vamos de táxi, não é?
- Claro! Até parece que eu vou de ônibus com toda essa bagagem.
Nem precisamos correr atrás de um táxi, pois rapidamente um passou na rua dele e para a nossa sorte, ele estava vazio.

- Parte pro aeroporto, por favor.
Enquanto o motorista dirigiu, eu fiquei olhando pela janela. Mais uma vez ia ficar um tempo fora da minha cidade, mas daquela vez era por um bom motivo.
Eu sempre fui apaixonado pelo Rio de Janeiro e mesmo saindo de férias, algo dentro de mim ficou apertado. Eu ia sentir saudades do município.
Mas Fortaleza deveria ser tão bonita quanto o Rio de Janeiro. Eu não poderia dizer que seria mais bonita, afinal nenhuma cidade do país, quiçá do mundo, é mais linda que a Cidade Maravilhosa, mas Fortaleza deveria sim ser bonita. Eu não tinha motivos para sentir falta do Rio.
Na metade do caminho começou a chover e isso me deixou preocupado. Não que eu tivesse medo, mas eu não gostava de voar quando estava chovendo.
- Precisava chover logo agora? – pensei em voz alta.
- Está precisando, Caio. Está muito calor – meu love deu a opinião dele.
- Mas e o nosso voo?
- Ele não vai ser cancelado, relaxa. Nem está chovendo forte.
Eu nem tinha pensando nessa possibilidade. E se chovesse forte? E se o voo fosse cancelado? Eu não queria perder aquela viagem por nada. Eu ia viajar com o meu namorado naquele dia, nem que fosse de jegue!!!

- Pronto, chegamos – falou o motorista.
- Eu pago – falei, porque vi que ele tinha pegado a carteira.
- Mas...
- Você paga lá em Fortaleza, pode ser?
- Sendo assim – ele deu de ombros.
Paguei a rodada, abri a porta e a chuva começou a molhar o meu corpo. Fiquei bravo.
- Trouxe guarda-chuva? – indaguei.
- Claro que não, amor – ele riu. – Não está com medo dessa chuvinha, está?
- Não. Eu só não queria me molhar.
- Para de ser reclamão, garoto. Nós já estamos dentro do aeroporto!
E estávamos mesmo. Nem precisei andar muito para chegar à área coberta do local.
- Onde a gente faz o check-in? – perguntei.
- Vem comigo. Eu sei onde é.

Nós fizemos o check-in muito rapidamente. Não sei se era devido ao feriado, mas não havia muitas pessoas que iam viajar naquele dia. Eu achei isso meio estranho.
- Agora é só esperar o voo ser anunciado – ele explicou.
- Você já andou muito de avião?
- Algumas vezes. Você não?
- Algumas vezes também. Poucas, não muitas.
- Eu já perdi as contas – confessou. – Eu adoro, menos quando chove muito forte.
- Sente medo, né? E depois fica tirando o sarro de mim!
- Um pouco. Eu não quero morrer agora, logo agora que eu estou tão feliz ao seu lado!
- A gente não vai morrer, amor – fiz carinho no rosto dele. – Não fica pensando nisso, que atrai coisas negativas.
- Você tem razão!
Questão de 5 ou 10 minutos depois, o nosso voo foi anunciado e nós tivemos que nos dirigir a um dos portões de embarque. O meu coração começou a bater acelerado.

Rapidamente nós entramos no avião. E que avião imenso. Procuramos os nossos lugares, sentamos e ficamos esperando a aeronave sair do chão.
- É agora ou nunca – falei.
- É. Não está com medo não, né?
- Claro que não – falei a verdade. – Eu estou é ansioso! Você está com medo?
- Não. Mas não estou porque a chuva é fraca.
Quando o avião decolou, eu senti um frio imenso na minha barriga, mas não de medo. Era adrenalina.
- Delícia – comecei a rir e olhei para o céu. – Olha a cidade que minúscula, Bruno!
- Bem que eu queria sentar aí, mas você não deixa!
- Não senhor. A janelinha é minha! A não ser que você queira sentar no meu colo!
- Eu ia adorar – ele falou no meu ouvido. – Mas aqui não é possível.
E eu ainda recebi uma mordidinha na orelha.
- Provoca mesmo! Que eu te levo pro banheiro e lá você vai ver o que é bom pra tosse!
- Posso falar uma coisa?
- O quê?!
- Eu sempre quis transar em um avião!
Eu arregalei meus olhos e fiquei boquiaberto. Ele era doido ou o quê? Para a minha surpresa, eu fiquei excitado e me deu muita vontade de atender as vontades do meu namorado. Será que aquilo era um convite?
- Isso é um convite, Bruno Silva e Silva?
- Não sei... Entenda como você quiser!!!

Nenhum comentário: