segunda-feira, 2 de março de 2015

Capítulo 12


S
e não fosse pela chegada do Jonas, muito provavelmente eu teria caído na lábia daquele garoto.
- Vamos, Caio? – meu gerente colocou a mão no meu ombro.
- Vamos sim, Jonas – eu falei isso, mas não tirei os olhos do Bruno.




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- Quem é esse cara? – meu ex pareceu, irritado.
- Não é da sua conta. Vamos embora, Jonas.
- Eu atrapalho alguma coisa? – meu patrão fez cara de interrogação.
- Não – falei baixinho. – Você chegou na hora certa.
- Não, Caio – Bruno segurou na minha mão. – Não vai agora, por favor...
- Me solta – eu puxei meu braço com ferocidade. – Eu não tenho nada a falar com você.
- Mas...
- Me deixa em paz!
- Mas...
- Caio eu vou pro carro e te espero lá, tá bom? Não quero atrapalhar aí... – Jonas saiu andando e me deixou sozinho com o Bruno.
Ele poderia ter me esperado. A última coisa que eu queria era ficar sozinho com o meu ex-namorado.
- Por favor, Caio – ele segurou na minha mão de novo. – Conversa um pouco comigo...
- Não – dessa vez eu demorei para puxar a minha mão. Eu queria sentir a textura da pele dele... – Eu não tenho nada pra falar com você, nada.

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- Você sabe que não é bem assim. A gente tem muito o que conversar, nós temos muita coisa pra falar um ao outro.
- Talvez você tenha algo pra falar pra mim, mas eu não tenho nada pra falar pra você. Tudo o que você precisa saber você já sabe: que eu te odeio.
- Mas eu não odeio você, pelo contrário. Eu quero me explicar, me dá só uma chance pra eu falar tudo o que aconteceu, por favor...
- Não.
- Caio, até quando você vai ficar com essa criancice? Até quando você vai ficar fazendo doce? Você sabe muito bem que nós temos que conversar, seja maduro pelo amor de Deus!
- Criancice? Você some do nada, volta e me procura como se nada tivesse acontecido e você ainda tem a coragem de falar que é criancice?
- Chamo sim! Eu já poderia ter falado o que aconteceu mil vezes. Já poderia ter gritado o que aconteceu e te obrigado a ouvir, mesmo que você não queira, porém eu não quero que seja assim. Eu quero que nós dois conversemos como dois adultos, mas tá muito difícil disso acontecer.
- Eu não quero ouvir nada que venha de você, é um direito que eu tenho.
- É seu direito, mas mesmo assim eu não vou desistir! Eu mereço ser ouvido depois de tantas coisas que aconteceram comigo.
- Merece? Você acha que merece alguma coisa depois de tanto tempo, Bruno? Ah, cala a boca!
- Mereço sim! Mereço porque todo ser humano têm direito de resposta, por que comigo teria de ser diferente? Você não está sendo justo! Eu não vou desistir até você me ouvir, não vou! Fique ciente disso!
- Foda-se! Não to nem ai pra você.
- Tem muita coisa da minha vida que você não sabe e eu preciso te explicar tudo... Por favor, me ouve...
- Não. Se existe muita coisa que eu não sei é porque você sempre foi um mentiroso. E eu odeio pessoas mentirosas. Não quero e não vou falar com você. Fica na tua, me deixa em paz, vai viver a sua vida sem me encher mais o saco. Beleza?
Bruno ficou calado, com os olhos azuis fixos nos meus e os lábios entreabertos. Ele estava tão lindo que eu confesso que fiquei balançado com aquela proposta de conversa.
- Fala comigo, Caio... Fala comigo...
- Não, Bruno. Por que você é tão teimoso, hein? Eu já não te falei mil vezes que eu não quero trocar ideia com você?
- Eu insisto porque sinto que uma hora você vai topar. Eu sei que no fundo você quer saber o que aconteceu!
- Se fosse no começo até poderia ser, mas já passou quase dois anos. Eu não quero mais saber de você, não quero mais saber das suas mentiras, das suas histórias e nem de nada que seja relacionado a você. A única coisa que eu quero é paz, entendeu? Paz e nada mais que isso. Tchau!
Eu virei as costas, saí andando e o garoto foi atrás de mim. Quando eu coloquei meu pé na escada rolante, o perfume dele invadiu o meu nariz e meu coração disparou.
Era o mesmo. O mesmo que ele usava na época do nosso namoro. O mesmo que ele me deu de presente... Aquele perfume era tão marcante que eu não conseguia associá-lo a mais ninguém a não ser o Bruno.
- Caio...
Eu sabia que estava agindo errado. Eu sabia que eu já deveria ter falado com ele há muito tempo, mas a minha razão não me deixava fazer isso. Por mais que eu tivesse curiosidade, por mais que eu quisesse sim saber o que motivou aquele desgraçado a me abandonar. Eu não achava que ele merecesse ser ouvido. Pelo menos não naquele momento.

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Burro. Eu era burro mesmo. Eu tinha que ouvi-lo, mas por causa da maldita da minha consciência, eu não fazia isso. Eu gostava de sofrer, só podia! Precisava complicar as coisas daquele jeito?
Não falei mais nada, só fiquei pensando naquele perfume. Lembrei de vários momentos que a gente passou juntos e lembrei de como eu gostava daquele perfume... Aquela fragrância marcante, aquele cheiro extremamente delicioso que era marca registrada daquele filho da puta...
- Caio... – ele segurou na minha mão e entrelaçou os dedos aos meus. – Por favor...
Que vontade que eu senti de abraçar o meu ex. Que vontade que eu senti de dar um cheiro no pescoço dele, de sentir aquele perfume delicioso, de sentir a pele dele na minha, o corpo dele no meu...
Como eu queria abraçá-lo novamente, deitar a cabeça no ombro dele e não falar nada... Só curtir... Curtir o corpo dele e nada mais que isso...
Como aquilo era bom, como aquilo me acalmava... O perfume dele teve o poder de me deixar ainda mais em crise do que eu já estava, ainda mais confuso do que eu já estava... Se ele continuasse com aquela insistência toda, eu não iria conseguir me segurar por muito mais tempo.
Como assim não ia me segurar? Eu ia me segurar SIM! Quem disse que ele merecia ser ouvido?
Claro que ele merecia ser ouvido! Até o pior de todos os criminosos têm direito à resposta e eu não estava dando esse direito ao Bruno!
Foda-se! Quem mandou ele sair do Brasil sem falar nada pra mim? Quem mandou ele sumir, desaparecer faltando apenas uma semana para meu aniversário de 18 anos?
Com certeza ele teve algum motivo pra isso!
E com certeza ele mentiria de novo. Ele sempre fez isso! Por que naquele momento seria diferente?
Como eu estava sendo injusto! Eu não podia ser assim, meu Deus!
Injusto? Eu estava sendo era justo! Justo com o meu sofrimento, justo com a minha dor, justo com a minha raiva, justo com a minha indignação! Eu tinha que pensar em mim, EM MIM e não no desgraçado do Bruno. Ele que se explodisse com suas explicações!!!
- Eu posso te ligar depois? -  ele ia falando, mas eu nada respondia.

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Continuei o meu caminho e fiquei grato quando encontrei o carro do Jonas. Quase que saí correndo para enfim me livrar daquele garoto insuportável.
- Vamos, Jonas – eu falei.
- Está tudo bem?
- Uhum.
- Caio... – Bruno suspirou.
Não falei nada, entrei e o meu chefe deu a partida. Ainda bem que ele não estava com o Fusca naquele dia.
- Quem é esse? – perguntou o meu patrão.
- É meu ex – suspirei.
- Hum. Pelo jeito estão brigados?
- Uhum.
- Essas crianças...
Nem me dei ao trabalho de responder nada. Eu olhei pela janela do carona e fiquei pensando no infeliz. Até quando ele ia ficar pegando no meu pé, meu Deus? Até quando?
Até quando eu ia deixar de viver plenamente a minha vida para ficar pensando nele? Até quando ele ia mexer comigo daquele jeito? Até quando eu ia ficar balançado?
ATÉ EU FALAR COM ELE, BICHO BURRO!
Será que todo o sofrimento tinha sido em vão? Será que o Bruno tinha tanta influência na minha vida que só pelo perfume eu ficava literalmente em dúvida com relação ao que fazer???
Eu não ia ceder, não ia voltar atrás na minha decisão. Eu ia me vingar, ele ia sofrer tanto ou mais do que eu sofri por ele e isso teria que acontecer logo.
Eu não podia cair em tentação, não podia voltar atrás na minha decisão e não podia dar chance pra ele se explicar. Ele ia sofrer ou eu não me chamaria Caio Monteiro.
- Está calado hoje – Jonas me analisou.
- Pensando nos meus problemas – suspirei.
- Pensando no ex?
- Infelizmente.
- Acho que esse ex não é tão ex assim, hein?
- É ex e vai continuar sendo pro resto da minha vida.
- Estou achando que ele está mais pra ex-futuro namorado do que futuro ex-namorado. Enfim.
Por que ele disse aquilo? Será que o Jonas pensou que eu gostava do Bruno?
Porque eu não gostava dele. Ele mexia comigo, é verdade, mas eu não gostava mais dele. Eu o odiava! Era isso que eu sentia quando o via: ódio. O mais profundo e verdadeiro ódio e nada, nada além disso.
O que eu tinha que fazer naquele momento era refazer a minha vida. De alguma forma – que eu não sabia qual era – eu precisava mudar, precisava me renovar, me reinventar... Eu precisava encontrar um caminho que me fizesse voltar a esquecê-lo. Mas qual caminho seria esse?
Um trabalho? Não porque eu já tinha. Um curso? Já estava fazendo dois: a faculdade e o inglês. Academia também eu já fazia. Então o que me restava?
Um namorado. Era apenas isso que me restava e era somente isso que ia me fazer esquecer do Bruno.
Na época em que fiquei com o Carlos Henrique, eu meio que o esqueci e isso poderia muito bem acontecer de novo. Por que não?
Ah, de fato! Eu esqueci mesmo do Bruno com o Carlos. Nem pensei nele quando transava com o vendedor. Nem pensei!
Meu coração e minha razão viviam em um eterno conflito e nenhuma das duas se calava por tempo suficiente. Naquele momento, quem vencia era a razão.

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Eu tinha todo o direito do mundo de refazer a minha vida sentimental. Embora eu tivesse pensado que nunca mais queria um namorado, naquele momento eu cheguei a conclusão que isso nunca foi verdade.
Nunca foi verdade pelo simples fato que ninguém nessa vida vive só e comigo não seria diferente. Mais cedo ou mais tarde eu ia acabar precisando de alguém.
Eu ia precisar de alguém que me socorresse nas horas difíceis; eu ia precisar de alguém que me aconselhasse; eu ia precisar de alguém que me ajudasse; eu ia precisar de alguém que me acolhesse... Eu ia precisar de alguém que fosse só meu e de mais ninguém...
E talvez aquele fosse o momento. Já fazia algum tempo que eu tinha terminado o namoro com o Carlos e desde então eu não havia me relacionado com muitas pessoas... Por que não encarar um novo relacionamento? Por que não dar a minha cara à tapa em busca de um novo amor?
Mas e se desse errado de novo? O primeiro e o segundo não deram certo. Será que com o terceiro também seria assim? Será que com o terceiro eu também não daria sorte?
Ou será que seria o contrário? Será que com o terceiro seria diferente? Será que com esse possível namorado as coisas dariam certo? Será que ele iria me amar? Me respeitar? Me aceitar com meus defeitos e qualidades? Ser fiel?
Eram tantas e tantas perguntas que meu cérebro até deu um nó e eu acabei ficando com dor de cabeça.
- Se importa se eu parar no posto para abastecer? – Jonas me encarou.
- Imagina. É claro que não.

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Jonas reduziu a velocidade do automóvel, ligou o piscalerta e parou em frente ao tanque de combustível de um posto de gasolina que ficava na esquina de uma rua sem muito movimento.
- Completa pra mim, por favor – ele pediu ao frentista. – Caio, eu vou na conveniência. Quer vir ou você vai ficar aí?
- Acho que vou com você. Fiquei com vontade de tomar um sorvete.
- Então vamos.
Saímos e andamos até a lojinha de conveniência. Eu entrei e fui direto na parte dos sorvetes. Comprei um “Magnum” e depois fui direto pro caixa. A guloseima estava com a cara ótima.

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- Crédito ou débito?
- Débito – informei.
- A senha?
Digitei a minha senha de 6 dígitos e quando a maquininha processou o pagamento eu retirei o meu cartão e disse:
- Pode cancelar a 2ª via. Obrigado.
- Eu é que agradeço – disse a moça do caixa. – Boa noite.
Esperei o Jonas próximo da porta de vidro do estabelecimento comercial. Ele saiu com uma sacolinha e eu fiquei me perguntando o que havia em seu interior, mas obviamente eu não sanei a minha curiosidade.
- Passa no débito pra mim, por favor – ele entregou o cartão do banco ao frentista. O cartão era igualzinho ao meu.
- Quer “Magnum”, Jonas?
- Não, Caio. Obrigado.
Após o pagamento do combustível, meu chefe e eu voltamos pro carro e cerca de 10 minutos depois, eu já estava na frente da minha casa.
- Obrigado pela carona, chefe.
- Por nada, Caio. Se cuida, hein? Amanhã é dia.
- É eu sei. Se cuide também.
Apertamos as mãos e por fim eu desci do automóvel e abri a porta da minha casa. Tudo o que eu mais queria e precisava naquela noite era da minha cama.

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A casa estava absolutamente silenciosa. Será que todo mundo já estava dormindo ou será que tinham saído de casa?
Um pouco dos dois. No quarto ao lado do meu eu não sabia quem estava ou não em seu interior, mas no meu só estava o Fabrício. Onde será que estava o Rodrigo?
- Tudo bom, Caio? – ele me olhou com o rosto cansado.
- Indo e você? Parece cansado.
- Estou mesmo.
- E o Digão? Onde está?
- Disse qua ia sair com a Marcela.
- Hum...
Meu ciúme aflorou e eu fiquei ainda mais irritado. Será mesmo que a minha amizade com o Rodrigo ia ficar estremecida? E se isso acontecesse? Eu não queria que isso ocorresse, não mesmo!
Tomei banho, comi alguma coisa na cozinha e caí na cama em seguida. Como já estava praticamente de férias da faculdade, já não tinha mais lição nem trabalhos para serem feitos. Pelo menos isso para me alegrar.


DIAS DEPOIS...Resultado de imagem para dias depois


Eu estava prestando atenção na aula de Matemática quando do nada ouço um suspiro longo e profundo.
Apertei minhas pálpebras e sem girar a minha cabeça olhei para o meu lado direito. Meus olhos pousaram na Marcela e muito lentamente eu desci até o celular e em seguida para o rosto dela. A cretina estava com cara de idiota e parecia toda encantada com alguma coisa que estava vendo no aparelho.
- Vadia dos infernos – falei mais para mim mesmo.
Ainda bem que a aula estava no fim e rapidamente o sinal informando o término de mais um dia de aula soou nos meus ouvidos.
Arrumei as minhas coisas e saí da sala quase que correndo. Como de costume, encontrei com o Rodrigo nas escadas que davam acesso a rua.

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- Oi – falei.
- OI – ele respondeu, mas não olhou diretamente pra mim. Ele estava olhando pra multidão na busca da namorada.
- Como foram as suas aulas?
- Boas.
- Hum...
Pausa.
- Você vai treinar?
- Não – Rodrigo continuou com o pescoço estirado para a multidão.
- Hum...
Outra pausa.
- Cadê ela?
- Você vai sair hoje à noite? – tentei puxar assunto.
- Acho que não. Por quê?
- Por nada. E não vai mesmo pra academia?
- Não, não. Já disse que não. Ficou surdo?
- Então eu vou sozinho.
- Vai!
- Então tá.
- Uhum. Cadê ela, Deus?
- Tchau então.
- Até logo!
Fiquei parado e com a cabeça baixa. Ele estava muito seco comigo e quase não olhava mais na minha cara. E tudo isso por causa daquela rapariga de nome Marcela.
Não sei por quanto tempo eu fiquei parado naquele degrau, só sei que de repente eu ouvi um barulho nojento de beijo e em seguida ele falou:
- Que saudade...
- Eu também, seu fofo... Amei a sua mensagem...
- Gostou? – Rodrigo abriu um sorriso enorme.
- Muito, muito. Você é muito lindo – Marcela deu um beijo no namorado e este a segurou pela cintura e a levantou no ar.
- Te amo sabia? – Rodrigo grudou a testa na testa da nojenta e ficou com uma cara de idiota, idêntica a que ela fez na sala de aula.
- Eu te amo também, meu fofinho lindo...
Engoli em seco. Estava com vontade de puxar o Rodrigo dos braços daquela prostituta e ao mesmo tempo estava com vontade de esfregar a cara dela no asfalto quente da Barra da Tijuca... Que menina insuportável!
- Vem, vem comigo – ele desceu o degrau de costas e acabou pisando no meu pé. – Desculpa... Ah,
Caio é você? O que está fazendo aí? Você não ia pra academia?

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- Eu vou pra academia – falei isso com vontade de chorar de raiva e ciúmes.
- Então vai, cara.
Abaixei mais uma vez a cabeça e desci os degraus correndo. Pra mim ainda era inacreditável que ele estivesse me tratando daquele jeito e eu não conseguia me acostumar. Não conseguia mesmo.
Bastou entrar na loja pra sentir um clima estranho no ar. O que será que havia acontecido?

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- Oi, amiga – abracei a Jana. Ela estava com a fisionomia pesada. – Tudo bem?

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- Mais ou menos, Caio.
- O que houve? Por que todo mundo está com uma fisionomia esquisita?
- É que o tio da Alexia faleceu, Caio.
Senti uma faca entrar no meu estômago e fiquei arrasado.
- Ô, Deus..> E quando foi?
- Agora há pouco.
- E como ela está?
- Saiu daqui aos prantos.
- Ô, meu Deus... Coitadinha da minha amiga...
- Mas vai ficar tudo bem. Ela sabia que era questão de tempo e o homem estava sofrendo muito. Foi melhor assim.
- Deus sabe o que faz. Já sabem onde vai ser o velório e o enterro?
- Ainda não sabemos de nada. A Eduarda vai entrar em contato com a família mais tarde para obter maiores informações. Porém independente de onde e quando seja, eu vou para prestar a minha solidariedade.
- Eu vou com você, amiga. Não vou deixar a Alexia sozinha nessa hora.
A Eduarda só ficou sabendo das informações praticamente no final do expediente. Descobrimos que o sepultamento ia ser somente no dia seguinte às 10 horas da manhã. Isso significava que ainda haveria tempo para a Jana e eu darmos uma força pra Alexia.
- Amanhã cedinho eu te ligo e a gente se encontra – Jana colocou a mão no meu ombro. – Você não sabe onde é o cemitério, né?
- Sei não – confessei.
- Então a gente se encontra.
- Meninos, eu levo vocês de carro – falou Eduarda. – Eu preciso estar lá de qualquer jeito.
- Ah, se não for pedir muito – Janaína suspirou.
- Imagina. Vamos todos juntos, é melhor.
- E o cemitério é muito longe?
- Não é longe não – falou Duda. – Mas é bom a gente ir junto. Ela vai se sentir acolhida assim.
- Alguém mais vai? – perguntei.
- O Jonas e mais algumas pessoas da loja – respondeu Eduarda.

Acordei mais cedo do que o normal no dia seguinte e isso despertou a curiosidade do Rodrigo:

- Já está de pé? Que milagre é esse?
- Milagre nenhum – estava com raiva dele. – Ou você acha que eu não posso acordar sem você me chamar?
- Nossa... Calma... Era só brincadeira...
- Hum... – terminei de colocar o meu tênis.
- Eu já vou tomar banho e a gente já sai pra faculdade, beleza?
- Não vou pra faculdade hoje.
- Não? – Digão estranhou. – Por quê?
- Porque o tio da Alexia morreu, Rodrigo. Só por isso.
- Sério? Caramba que chato... Manda os meus sentimentos pra ela...
- Se quiser mandar sentimentos ligue pra ela. Eu não vou dar nenhum recado.
- Caralho, Caio! O que você tem hoje? Por que está me tratando assim?
- Sei lá. Pensa um pouco nas suas últimas atitudes.
Ao dizer isso eu abandonei o quarto e fui forrar o estômago. A Eduarda ia me pegar em casa pra gente poder ir ao cemitério. Ela era uma fofa.
- Caio... – Rodrigo me procurou na cozinha.
- Já estou de saída. Bom dia.
Desci as escadas correndo e ele não falou mais nada. Eu estava pra lá de chateado com o Rodrigo. Ele me prometeu que não ia mudar comigo, mas não cumpriu a promessa.

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- Bom dia, Caio – Eduarda abriu a porta do carro. – Entra aí.
- Bom dia, Duda. Dá licença, viu?
- Toda querido.
Nós nos beijamos duas vezes.
- Foi difícil achar a minha casa?
- Que nada. A minha cunhada mora aqui perto. Já conheço a região.
- Bom dia, Jana – cumprimentei a minha amiga.
- Bom dia, lindo.
Como o clima não estava dos mais alegres, não houve espaço para brincadeiras durante o caminho até o cemitério. Assim que o carro entrou no estacionamento do local, eu me senti ainda mais péssimo do que já estava.
Ao sair do carro foi envolvido por uma atmosfera muito pesada e isso me deixou com o corpo meio pesado. Será que isso era normal?
- Onde será que eles estão? – eu perguntei.
- As salas de velório ficam pra lá – disse Janaína.
- Então vai na frente, Jana. Eu nunca vim nesse cemitério e to toda perdida – falou Eduarda.
Minha gerente e eu seguimos a Jana e rapidamente encontramos o local onde o corpo do tio da Alexia estava sendo velado.
A sala estava extremamente lotada e logo de cara eu percebi que várias pessoas estavam chorando. Uma mulher ainda jovem estava inconsolável ao lado do caixão.
Alexia estava sentada em uma cadeira. Os olhos dela estavam inchados e muito vermelhos. A primeira a abraçar a minha amiga foi a Janaína.

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- Meus sentimentos – Jana falou baixinho.
- Obrigada – Alexia respondeu e fungou.
Em seguida foi a vez da Duda e por fim a minha. Eu nem sabia o que falar.
- Meus pêsames... – suspirei.
- Obrigada – foi o que ela me respondeu.
Tudo o que eu pudesse falar naquele momento seria pouco para consolá-la. Eu sabia que nada tiraria a dor da Alexia e de sua família. Aquele era um momento realmente muito difícil.
O mais doloroso foi ver a viúva e os filhos chorando. O resto da família também estava triste, mas nada se comparava a dor da mulher e dos adolescentes. Eu não queria estar no lugar deles, embora soubesse que um dia isso ia acontecer.
Em questão de minutos os outros funcionários e o Jonas também chegaram ao velório do tio da Alexia. Eles a abraçaram e todos nós ficamos próximos a nossa amiga.
O tio dela era muito jovem. Por mais que eu quisesse resistir, não consegui ficar sem olhar pro defunto. Ele era bonito e aparentava ter no máximo 30 e poucos anos.
Uma verdadeira lástima. Uma morte muito precipitada, mas totalmente esperada. Ele teve câncer por muito tempo e a doença foi a vencedora da batalha. Infelizmente.
Na hora que os agentes funerários foram fechar o caixão eu não consegui ficar na sala porque o desespero da viúva e de alguns familiares foi tão grande que eu comecei a passar mal.

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- Está tudo bem, Caio? – Jonas me segurou.
- Não aguento ver o sofrimento dessa mulher. Eu me sinto sufocado!
Sufocado. Era assim que eu estava me sentindo. Sem ar, com um nó na garganta. Como se algo quisesse me enforcar.
Pouco tempo depois o corpo saiu da sala rumo ao sepultamento. Eu e as meninas ficamos no fim do cortejo. Se eu ficasse próximo do enterro provavelmente iria passar mal com o choro das pessoas e eu não queria que isso acontecesse.
Mas mesmo de longe eu me senti esquisito. A mulher do morto desmaiou e foi aquele tumulto em cima da coitada. Eu e a Janaína saímos de lá muito rapidamente.
- Que dó meu Deus – ela começou a chorar.
- Nem me fala. Coitada da Alexia.
Passado o sepultamento, nós encontramos a nossa amiga próximo a saída do cemitério. Ela estava extremamente arrasada.
Janaína e eu a abraçamos e só ai ela caiu no choro. Eu fiquei com o meu coração partido ao meio ao ver o sofrimento da minha amiga.
- Vai ficar tudo bem, tá bom? – eu grudei a minha testa na dela. – Vai ficar tudo bem.
- Meu tio, Caio... Meu tio...
- Eu sei, amor. Eu sei! Ele está descansando agora.
- Dói muito, Caio... Dói muito...
- Eu sei, amor. Mas vai ficar tudo bem – eu a abracei com muita força e deixei a coitada desabafar. Era daquilo que ela estava precisando naquele momento.
- Vamos, Alexia – um cara chamou a minha amiga. – Vamos para casa agora.
- Vai, amiga. Vai com ele. A gente se fala depois. Se você precisar de alguma coisa, qualquer coisa, é só me ligar. Tá bom?
- Obrigada, meu lindo. Muito obrigada.
Alexia abraçou todo o pessoal da loja e em seguida entrou em um carro branco. Não pensei que houvessem tantas pessoas no velório do cara. O cemitério ficou abarrotado de pessoas. Pelo jeito ele era uma pessoa muito querida por todos.
- Vou te levar pra casa, Caio – anunciou Jonas. – Entra aí no carro.
- E as meninas? – eu perguntei. – Eu vim com a Duda e com a Jana...
- Elas vão direto pra loja. Já começou o expediente delas.
Eu nem tinha me tocado. Já havia passado das 10 da manhã e a loja já estava aberta. Fiquei me perguntando quem estava tomando conta da filial.

UM DIA DEPOIS...

Alexia voltou com o rosto mais calmo. Ela ainda estava triste, mas não tanto como no dia anterior.
- Você precisa de alguma coisa? – perguntei. – Se precisar de dinheiro pra alguma coisa do funeral você me avisa, viu?
- Preciso não, amor. Obrigada. O meu tio tinha plano funerário e eles arcaram com todas as despesas.
- Ah, então tá bom. Mas se precisar você já sabe.
- Muito obrigada.
Eu queria animar a minha amiga, mas não era o momento para isso. Aquele era o momento pra ela curtir o luto pelo tio e por esse motivo eu não fiquei fazendo gracinhas nem nada do tipo. Só me mostrei solidário a dor dela e isso foi o suficiente.





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- Eu quero falar com você – Rodrigo estava sério.
- Fala? – falei sem olhar pra ele.
- Por que me tratou tão mal ontem de manhã?
- Eu? Te tratei mal? Impressão sua, RODRIGO.
- Impressão minha é o caralho! O que está acontecendo?
- Que eu saiba nada. Está acontecendo alguma coisa?
- Não se faça de cínico, Caio – ele bufou.
- Cínico eu? Acho que o cínico aqui é você, Rodrigo – foi a minha vez de bufar.
- Eu não sou cínico, garoto!
- Não é? Imagina se fosse.
- Quando eu fui cínico com você, Caio? Me diz?
- À partir do momento que você disse aqui nessa cama, abraçado comigo, que não mudaria comigo por causa da porcaria do seu namoro. Você disse isso, não disse?
- Claro que eu disse!
- Mas não é isso que está acontecendo.
- Como não? Você está louco por acaso?
- Louco? A última coisa que eu estou nesse momento é louco, Rodrigo – bufei de novo. – Vou pro banho. Já volto.
- Não vai não – ele pulou da cama e foi ao meu encontro. – A gente precisa conversar.
- Ah, já quer conversar comigo? Lembrou que eu existo afinal de contas? – fui sarcástico.
- Eu nunca esqueci de você, seu idiota.
- Mas não é isso que parece, Rodrigo. Não é isso que parece.
- Você está com coisas na cabeça, meu.
- Não estou com porra nenhuma na cabeça. Só estou falando a verdade.
- Verdade essa que não existe!
- Ah, existe. Existe sim senhor... Você disse que a nossa amizade seria a mesma, mas não é mais a mesma. Não é.
- Para de bobagem, Caio!!!
- Bobagem uma ova, RODRIGO. Bobagem uma ova. Você nem olha mais na minha cara, você não fala mais direito comigo, você não conversa mais comigo no intervalo, não vai mais pra academia, não me espera mais acordado... A gente parece dois estranhos debaixo do mesmo teto. É isso que a gente tá parecendo.
- Sem exageros, por favor.
- Exageros? Você acha mesmo que eu estou exagerando?
- Acho!
- Então vamos aos fatos: quem é que me larga na hora do intervalo? VOCÊ. Quem é que me dispensa na hora da saída? VOCÊ. Quem é que não me manda mais mensagem? VOCÊ. Quem é que não me liga mais? VOCÊ. Quem é que mal fala comigo? VOCÊ. Quem é que está dormindo na hora que eu chego do trabalho? VOCÊ. Ainda acha que eu estou exagerando?
Nesse momento ele ficou calado e não soube o que responder.
- Responde! – eu exclamei. – Eu estou exagerando? Que espécie de amigo é essa? Melhor a gente redefinir o que é ser melhor amigo pra você, RODRIGO.
- Desculpa – foi o que ele se restringiu a falar.
- Ah, desculpa? E você acha que isso é suficiente? Você vivia alimentando as minhas esperanças, vivia me abraçando, me beijando, fazendo cafuné, vivia dormindo na mesma cama que eu, vivia me mandando mensagens lindas e agora você faz isso? NÃO! E ainda vem com essa de desculpas?
- Desculpa, Caio! Me perdoa... Eu não percebi que você está se sentindo mal por causa do meu namoro...
- Estou me sentindo mal sim e não é pelo fato do seu namoro. É simplesmente pelo fato de você ter me excluído da sua vida. Confesso que estou sim com muito ciúmes da Marcela, mas eu sei que não tenho como fazer nada a respeito disso; embora eu devesse porque até alguns dias atrás eu servia pra muita coisa e agora não sirvo pra mais nada, mas isso são outros quinhentos e nós deixamos na conta da sua dualidade. O problema são as suas atitudes comigo. Ou melhor, a falta delas.
- Desculpa, mano – ele suspirou, segurou a minha mão, entrelaçou os nossos dedos e abaixou a cabeça. – Me perdoa. Eu sou um idiota.

Foi a minha vez de ficar calado. Um nó tomou conta da minha garganta.
- Eu não quero perder a sua amizade, Cacs...

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- E eu também não quero perder a sua, Digow... Mas assim fica difícil, sabe?
- Me perdoa? – ele me olhou com os olhos molhados.
- Só se você voltar a ser meu melhor amigo – meus olhos também ficaram molhados.
Nos abraçamos bem forte.
- É claro que eu volto, mano. É claro que eu volto... Eu sempre vou ser seu melhor amigo, sempre. Sempre serei seu irmão... Seu irmão entendeu?
- Te amo tanto, garoto – suspirei e sequei uma lágrima teimosa que caiu do meu olho. Eu não queria chorar. – Não me larga, por favor... Não me larga por aquela quenga desdentada e caolha...
- Eu não vou te largar, bobo. Eu te amo muito e nunca vou te substituir por ninguém – Rodrigo prometeu. – Você é único. É o irmão que eu nunca tive. Não esquece disso.
- Não me larga nunca mais. Promete?
- Prometo. Juro por Deus que eu não vou te tratar mais do jeito que eu te tratei. Você me perdoa?
- Perdoo, mas não deixa isso acontecer de novo. Eu fiquei muito triste.
- Me desculpa, tá? – Rodrigo beijou a minha bochecha. – De verdade.
- Tudo bem. Posso tomar meu banho agora?
- Pode sim, mas volta pra gente dormir na mesma cama, tá? Posso dormir com você hoje?
- Só não pode como deve!
Voltar às boas com o Rodrigo tirou uma tonelada das minhas costas. Eu estava me sentindo mais leve, parecia até que eu estava flutuando...
- Vem, mano – ele me chamou com a mão. – Vem dormir comigo.
Deitei ao lado dele e ele me abraçou com muito carinho. Não falamos mais nada e eu adormeci muito rapidamente. Aquela foi uma das poucas noites em que eu me senti totalmente protegido e livre de qualquer perigo que fosse.

TRÊS DIAS DEPOIS...

Cheguei em casa me sentindo exausto. Tudo o que eu mais queria naquela noite era um banho, um prato de comida e uma cama quentinha.
- Boa noite, velhinhos, velhos e anciões – falei quando entrei no quarto.
- Boa noite – os três responderam ao mesmo tempo.
- Quem seria o ancião do quarto? – Vinícius me olhou com cara de curiosidade enquanto coçava a nuca.
- Você – respondi de imediato.
- Filho da puta – o gostosão me atacou com o travesseiro.
- Cacs, Cacs... Olha as suas notas – Rodrigo me fitou. – A Marcela disse que saiu a nota de Matemática no site.
- Sério? – fiquei ansioso e apreensivo. – Ah, então eu vou olhar.
Nem fui pro banho. Sentei na cama, abri o notebook, loguei na internet, abri o site da faculdade, entrei na área do aluno e cliquei no boletim. Meus olhos voaram pra matéria de Matemática e quando eu vi o número 9 quase tive um troço de tanta felicidade.
- AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAH – gritei.
- O que foi? – Vinícius pulou da cama. – Você não passou?
- EU... ESTOU... DE FÉRIAS!!!


Um comentário:

Anônimo disse...

Caiô!!!

O Jonas foi sensato ao deixá-lo sozinho, mesmo você não querendo, pois ficando sozinho, cederia ao Bruno, mas foi o certo, pena que não surtiu efeito que deveria à época.

O Bruno parece ser o tipo do cara que não desiste nunca. Tipico Brasileiro, não é?! Mas uma coisa é certa, o Bruno está tentando, e tentando da forma certa. Como ele mesmo disse, poderia obrigar você a ouvir gritando tudo que queria, mas assim seria da forma errada. Ele queria se explicar com calma, e sem alarde, não envolvendo ninguém.
Como o algo pode nos afetar tanto. Apenas o perfume fez você baixar quase toda a sua guarda.
Parece até que você era dois Caio's na época, o que queria ceder e ouvir o Bruno, abraça-lo e voltar a mil maravilhas, e o outro que queria se vingar de tudo que ele fez, e pode fazer se vocês voltarem. Parece que você estava sofrendo de Bipolaridade. "Ah, de fato! Esqueceu mesmo o Bruno enquanto namorava o Carlos." Não convenceu ninguém. Acho que o que aconteceu com o Bruno e você, e depois com o Carlos abriu uma ferida em ti que o medo de tentar se relacionar novamente, sempre com medo de se machucar novamente, com um novo relacionamento.

Não há o que falar da atitude do Rodrigo. Nunca ninguém que começasse a namorar, permanecia igual com os amigos. Sempre há mudança. Até parece que o Rodrigo estava pensando com outra cabeça. Deu muita dó ler esta parte Caiô. Senti muita pena de ti, pois ele estava te trocando muito facilmente, e você estava começando a perceber que estaria perdendo sem melhor amigo. A DR sua e do Rodrigo, foi decisiva. De fato você não mencionou que este era O capítulo para nos #TeamRodrigo em que vocês se pegaram de verdade. Mas tudo bem, deu para entender.
Concordo em gênero, número e grau. O Rodrigo foi um cínico e hipócrita, falar que não mudaria e na manhã seguinte ignorar e ser grosso, sem mais nem menos. Quando a verdade é jogada na nossa cara é que percebemos a burrada que fizemos. E acho que foi o mesmo com o Rodrigo quando percebeu as atitudes para cima de ti. Acho que o peso de tudo que estava acontecendo contigo, o mais pesado (excluindo o Bruno) fosse o fato do Rodrigo estar agindo como um cretino contigo. Pois vejo o Rodrigo como um alicerce para você. Ele te dá suporte, e com tudo que estava acontecendo, sem este alicerce, esta base, você sucumbiria.

Não gosto de comentar muito sobre enterros velórios, pois não gosto. Me sinto estranho em ambientes assim, e posso dizer eu me sinto parecido contigo.

Dann Oliver