- N
|
Ao!
Eu sei que não era essa a resposta que ele queria ouvir, senão não teria me pedido em namoro, mas foi o que eu consegui responder.
- Não quer? – Murilo pareceu decepcionado.
- Não... Não é isso... Eu quis dizer que não estava esperando por esse pedido assim do nada...
- Então isso quer dizer que você aceita? – Murilo sorriu.
- Não, não é isso também...
- Porra, tu tá me deixando confuso, caralho! Tu quer ou não quer namorar comigo? Fala a verdade!
- Eu não sei – respondi com sinceridade. — A verdade é que eu não sei!
- Como não sabe? Está tão ligado no meu primo assim? Mesmo depois de tanto tempo? Ou tu tem outro e não quer me falar?
- Não eu não tenho ninguém, eu só estou surpreso com esse pedido!
- Surpreso? Sinceramente? Até eu estou – ele abriu um sorriso amarelo.
- Você é muito rápido! Nós nem nos conhecemos direito e você já quer namorar... Não é assim que as coisas funcionam.
- Eu sou decidido, cara. Eu não fico perdendo tempo quando quero alguma coisa. Eu gostei de você, quero ficar com você e pra quê eu vou perder tempo? Vou deixar outro cara te levar? Eu não!
Fiquei vermelho. Ele era direto demais e isso me deixava sem saber o que responder. Ele pelo menos podia ser um pouco menos apressado, né?
- Eu... Nem sei o que te responder – as ondas estavam cada vez mais altas.
- Pô – ele coçou a nuca. – Responde que sim.
- Primeiro eu preciso pensar no assunto. Você me dá um tempo?
- Tempo? Pra aceitar um pedido de namoro? Nunca vi isso, mano. Que eu saiba as pessoas pedem um tempo pra decidir se vão terminar. Como tu é esquisito!
Esquisito? Ele que era apressado demais e eu que recebia nome de esquisito?
- Eu preciso pensar no assunto, oras – dei de ombros. – Ou você pensa que eu sou fácil assim? Pensa que eu vou aceitar o pedido logo de cara, é?
- Algum problema nisso, moleque? Não gostou de mim?
- Gostei sim. Você é bem gatinho, mas é apressadinho demais, né Murilo?
- E o que tem de errado nisso, Caio? Eu já disse que não curto perder tempo com nada.
Eu olhei pro mar e do nada soltei um espirro. Só era o que me faltava: ficar gripado.
- Saúde – ele colocou a mão em cima da minha.
- Obrigado.
Ficamos quietos por mais um tempo. Eu estava com muita coisa na mente e nem sabia por onde deveria começar a pensar.
O Murilo disse que o Bruno teve um problema sério no passado e que isso era segredo de família. Que problema seria esse?
Disse também que sabia o motivo pelo qual ele saiu do Brasil, mas que não poderia me falar. Que motivo seria esse?
O Bruno por sua vez estava no meu pé e aparentemente ficou muito enciumado quando soube que eu conhecia o ex-primo dele...
E pra finalizar a história, veio aquele pedido de namoro totalmente inesperado.
É, eu queria namorar, mas aquele pedido me deixou confuso ao extremo porque não esperava por isso tão de repente.
Não que eu quisesse um clima todo especial, jantar à luz de velas nem nada do gênero. Eu só queria que fosse em um momento diferente, em um momento que eu estivesse esperando e não tão de repente como foi.
Acho que foi por isso que fiquei chocado. Nunca alguém foi com tanta sede ao pote com relação a mim e aos meus sentimentos.
O Murilo era diferente dos outros. Ele tinha atitude e só por isso ganhou pontos comigo.
- Está pensando na minha proposta? – ele colocou a mão na minha de novo.
- Mais ou menos.
- Pô, se tu tiver pensando no ex eu te jogo no mar, mano...
- Nâo – sorri. – Não estou pensando exatamente nele. Relaxa.
- Você quer esquecê-lo, não quer?
- Quero sim – confessei.
- Então me deixa te ajudar... Eu te faço esquecer em um minuto.
- Como se fosse fácil assim.
- É fácil sim, basta você querer. Aceita meu pedido, Caio!
- Eu prometo que pensarei no assunto. Juro.
- Quanto tempo você precisa?
- Hum... – parei pra pensar. Um mês? – Alguns dias. Talvez uma semana mais ou menos.
- Beleza. Uma semana. Eu te dou essa semana aí, mas domingão eu quero a minha resposta e espero que seja um sim, hein?
- Você já namorou um cara antes? – questionei.
- Não. Você vai ser o primeiro. Eu me relaciono mais com “minas” do que com caras.
- E por que quer namorar logo comigo?
- Já te disse. Eu te curti desde o começo e quero ficar contigo. O que tem de errado nisso?
- Nada. Não tem nada de errado.
- Ah, bom. Eu já estava pensando que você era daqueles caras conservadores, tá ligado? Aqueles tiozinhos que nasceram no século XX e que pensam como se estivessem na década de 50?
- É impressão minha ou você me chamou de “tiozinho”? – fiquei em estado de choque.
- Claro que não, caralho. Você tem quase a minha idade!
- Faço 20 anos daqui 2 meses – suspirei. – E você acabou de fazer 16. Existe uma diferença aí.
- Eu não ligo. Sempre curti caras mais velhos e quer saber de uma coisa? Tu cabe direitinho na minha fôrma – Murilo abriu um sorriso safado.
Eu fiquei na minha e continuei pensando no assunto. Só depois de uns minutos eu fui olhar o celular e me espantei com as horas. Era o momento de voltar pra casa.
- Cacete, eu preciso ir. Já está tarde!
- Já? Não quer mesmo ir na minha casa?
- Quero não. Fica pra outra oportunidade.
- Tem certeza?
- Aham. A última coisa que eu quero nesse momento é encontrar com o Bruno.
- A essa hora ele já deve ter voltado pro apartamento dele. Pelo que sei fica na Zona Oeste, algo assim.
- Não quero saber onde esse cara mora. Por mim ele pode morar no Japão que ainda está perto.
- Puta merda, tu tem mesmo muita raiva do cara, né?
- Tenho ódio. Acho que esse é o sentimento certo, mas enfim. Eu preciso ir embora.
Levantei do banco de cimento e limpei a minha bunda, que estava suja de areia. Antes de seguir o meu rumo, eu dei mais uma olhada pro mar e suspirei. Ele conseguiu me acalmar.
- Eu te levo ao ponto de ônibus.
O novinho e eu caminhamos lentamente pelas ruas de Copacabana. Fazia uma noite nublada, mas quente e os cariocas estavam alegres e felizes pelas calçadas do bairro. Quem será que tinha ganho o jogo de futebol naquela noite?
- A gente se fala durante a semana? – Murilo me encarou.
- Sim senhor. Eu ligo pra você qualquer dia desses.
- Como assim qualquer dia desses? Pensei que iria me ligar amanhã!
- Não seja apressado e me deixe pensar no que você me propôs. Menininho precoce você, viu?
- Sempre fui precoce. Aquele ali não é seu busão?
Olhei pro ônibus e comecei a pular no meio da calçada com o braço esticado. Mais um pouco eu tinha perdido.
- Valeu por ter me falado. Abraço, a gente se fala e obrigado por tudo!
- Beleza, moleque. Promete que pensa com carinho na minha proposta?
- Prometo! Tchau, Murilo.
- Até mais ver, Caio.
Eu entrei e como de costume fui direto pro fundão. Sempre gostei do fundão, fosse em ônibus, em sala de aula ou em qualquer lugar do tipo.
Sentei na janelinha e fiquei pensando nos últimos acontecimentos daquela noite. Por que será que a minha vida estava tão turbulenta daquele jeito?
Em um único dia aconteceram milhares de acontecimentos só pra me deixar louco. Se as coisas continuassem daquele jeito eu ia acabar ficando louco no sentido literal da palavra. Isso não poderia acontecer!
Não fiz mais nada a não ser pensar no Bruno e no Murilo durante todo o trajeto até a minha casa.
Quando estava prestes a descer, o meu celular começou a tocar e eu percebi que era o novinho:
- Oi. Já me ligando?
- Como você sabia que o Bruno estava na rua?
- Ele estava? – sorri. – Não falei que ele ia estar lá?
- A gente brigou!
- Sério? – arregalei os olhos.
- Sério. Ele me deu um soco na cara!
- Mentira? – fiquei chocado. – Mas... Por quê?!
- Porque ele está com ciúmes, mas eu não deixei barato. Eu revidei e soquei a cara dele também. Se o Vítor não tivesse nos separado a gente ainda estaria brigando.
- Ai, Murilo... – fiquei com dó. – Que coisa mais chata... Está vendo porque eu odeio aquele idiota?
- Não tem problema não. Ele já foi embora e eu coloquei ele no lugar dele. Ele não vai ser louco de olhar pra mim de novo.
- Você se machucou muito? – eu estava mesmo com dó do Murilo.
- Que nada. Só vou ficar com um hematoma, mas a minha mãe vai cuidar de mim.
- Affe... Como o Bruno é ridículo...
- Não esquenta. Eu só queria te comunicar o que aconteceu.
- Ele falou alguma coisa?
- Disse que não era pra me aproximar de você. Só isso.
- Ah, só porque ele quer. Idiota!
- Nem liga, Caio. Deixa o Bruno pra lá. Ei, você já pensou na minha proposta?
Eu sorri.
- Estou pensando, seu apressadinho!
- Então pensa com muito carinho, falou?
- Falou – concordei.
- Preciso desligar. Boa noite.
- Boa noite. Se cuida!
- Você também.
O ex-primo do meu ex-namorado desligou e eu fiquei pensando no assunto. De repente os meus dedos começaram a coçar e eu não consegui resistir. Tive que mandar uma mensagem pro Bruno pra esclarecer as coisas:

Eu sei que não era essa a resposta que ele queria ouvir, senão não teria me pedido em namoro, mas foi o que eu consegui responder.
- Não quer? – Murilo pareceu decepcionado.
- Não... Não é isso... Eu quis dizer que não estava esperando por esse pedido assim do nada...
- Então isso quer dizer que você aceita? – Murilo sorriu.
- Não, não é isso também...
- Porra, tu tá me deixando confuso, caralho! Tu quer ou não quer namorar comigo? Fala a verdade!
- Eu não sei – respondi com sinceridade. — A verdade é que eu não sei!
- Como não sabe? Está tão ligado no meu primo assim? Mesmo depois de tanto tempo? Ou tu tem outro e não quer me falar?
- Não eu não tenho ninguém, eu só estou surpreso com esse pedido!
- Surpreso? Sinceramente? Até eu estou – ele abriu um sorriso amarelo.
- Você é muito rápido! Nós nem nos conhecemos direito e você já quer namorar... Não é assim que as coisas funcionam.
- Eu sou decidido, cara. Eu não fico perdendo tempo quando quero alguma coisa. Eu gostei de você, quero ficar com você e pra quê eu vou perder tempo? Vou deixar outro cara te levar? Eu não!
Fiquei vermelho. Ele era direto demais e isso me deixava sem saber o que responder. Ele pelo menos podia ser um pouco menos apressado, né?
- Eu... Nem sei o que te responder – as ondas estavam cada vez mais altas.
- Pô – ele coçou a nuca. – Responde que sim.
- Primeiro eu preciso pensar no assunto. Você me dá um tempo?
- Tempo? Pra aceitar um pedido de namoro? Nunca vi isso, mano. Que eu saiba as pessoas pedem um tempo pra decidir se vão terminar. Como tu é esquisito!
Esquisito? Ele que era apressado demais e eu que recebia nome de esquisito?
- Eu preciso pensar no assunto, oras – dei de ombros. – Ou você pensa que eu sou fácil assim? Pensa que eu vou aceitar o pedido logo de cara, é?
- Algum problema nisso, moleque? Não gostou de mim?
- Gostei sim. Você é bem gatinho, mas é apressadinho demais, né Murilo?
- E o que tem de errado nisso, Caio? Eu já disse que não curto perder tempo com nada.
Eu olhei pro mar e do nada soltei um espirro. Só era o que me faltava: ficar gripado.
- Saúde – ele colocou a mão em cima da minha.
- Obrigado.
Ficamos quietos por mais um tempo. Eu estava com muita coisa na mente e nem sabia por onde deveria começar a pensar.
O Murilo disse que o Bruno teve um problema sério no passado e que isso era segredo de família. Que problema seria esse?
Disse também que sabia o motivo pelo qual ele saiu do Brasil, mas que não poderia me falar. Que motivo seria esse?
O Bruno por sua vez estava no meu pé e aparentemente ficou muito enciumado quando soube que eu conhecia o ex-primo dele...
E pra finalizar a história, veio aquele pedido de namoro totalmente inesperado.
É, eu queria namorar, mas aquele pedido me deixou confuso ao extremo porque não esperava por isso tão de repente.
Não que eu quisesse um clima todo especial, jantar à luz de velas nem nada do gênero. Eu só queria que fosse em um momento diferente, em um momento que eu estivesse esperando e não tão de repente como foi.
Acho que foi por isso que fiquei chocado. Nunca alguém foi com tanta sede ao pote com relação a mim e aos meus sentimentos.
O Murilo era diferente dos outros. Ele tinha atitude e só por isso ganhou pontos comigo.
- Está pensando na minha proposta? – ele colocou a mão na minha de novo.
- Mais ou menos.
- Pô, se tu tiver pensando no ex eu te jogo no mar, mano...
- Nâo – sorri. – Não estou pensando exatamente nele. Relaxa.
- Você quer esquecê-lo, não quer?
- Quero sim – confessei.
- Então me deixa te ajudar... Eu te faço esquecer em um minuto.
- Como se fosse fácil assim.
- É fácil sim, basta você querer. Aceita meu pedido, Caio!
- Eu prometo que pensarei no assunto. Juro.
- Quanto tempo você precisa?
- Hum... – parei pra pensar. Um mês? – Alguns dias. Talvez uma semana mais ou menos.
- Beleza. Uma semana. Eu te dou essa semana aí, mas domingão eu quero a minha resposta e espero que seja um sim, hein?
- Você já namorou um cara antes? – questionei.
- Não. Você vai ser o primeiro. Eu me relaciono mais com “minas” do que com caras.
- E por que quer namorar logo comigo?
- Já te disse. Eu te curti desde o começo e quero ficar contigo. O que tem de errado nisso?
- Nada. Não tem nada de errado.
- Ah, bom. Eu já estava pensando que você era daqueles caras conservadores, tá ligado? Aqueles tiozinhos que nasceram no século XX e que pensam como se estivessem na década de 50?
- É impressão minha ou você me chamou de “tiozinho”? – fiquei em estado de choque.
- Claro que não, caralho. Você tem quase a minha idade!
- Faço 20 anos daqui 2 meses – suspirei. – E você acabou de fazer 16. Existe uma diferença aí.
- Eu não ligo. Sempre curti caras mais velhos e quer saber de uma coisa? Tu cabe direitinho na minha fôrma – Murilo abriu um sorriso safado.
Eu fiquei na minha e continuei pensando no assunto. Só depois de uns minutos eu fui olhar o celular e me espantei com as horas. Era o momento de voltar pra casa.
- Cacete, eu preciso ir. Já está tarde!
- Já? Não quer mesmo ir na minha casa?
- Quero não. Fica pra outra oportunidade.
- Tem certeza?
- Aham. A última coisa que eu quero nesse momento é encontrar com o Bruno.
- A essa hora ele já deve ter voltado pro apartamento dele. Pelo que sei fica na Zona Oeste, algo assim.
- Não quero saber onde esse cara mora. Por mim ele pode morar no Japão que ainda está perto.
- Puta merda, tu tem mesmo muita raiva do cara, né?
- Tenho ódio. Acho que esse é o sentimento certo, mas enfim. Eu preciso ir embora.
Levantei do banco de cimento e limpei a minha bunda, que estava suja de areia. Antes de seguir o meu rumo, eu dei mais uma olhada pro mar e suspirei. Ele conseguiu me acalmar.
- Eu te levo ao ponto de ônibus.
O novinho e eu caminhamos lentamente pelas ruas de Copacabana. Fazia uma noite nublada, mas quente e os cariocas estavam alegres e felizes pelas calçadas do bairro. Quem será que tinha ganho o jogo de futebol naquela noite?
- A gente se fala durante a semana? – Murilo me encarou.
- Sim senhor. Eu ligo pra você qualquer dia desses.
- Como assim qualquer dia desses? Pensei que iria me ligar amanhã!
- Não seja apressado e me deixe pensar no que você me propôs. Menininho precoce você, viu?
- Sempre fui precoce. Aquele ali não é seu busão?
Olhei pro ônibus e comecei a pular no meio da calçada com o braço esticado. Mais um pouco eu tinha perdido.
- Valeu por ter me falado. Abraço, a gente se fala e obrigado por tudo!
- Beleza, moleque. Promete que pensa com carinho na minha proposta?
- Prometo! Tchau, Murilo.
- Até mais ver, Caio.
Eu entrei e como de costume fui direto pro fundão. Sempre gostei do fundão, fosse em ônibus, em sala de aula ou em qualquer lugar do tipo.
Sentei na janelinha e fiquei pensando nos últimos acontecimentos daquela noite. Por que será que a minha vida estava tão turbulenta daquele jeito?
Em um único dia aconteceram milhares de acontecimentos só pra me deixar louco. Se as coisas continuassem daquele jeito eu ia acabar ficando louco no sentido literal da palavra. Isso não poderia acontecer!
Não fiz mais nada a não ser pensar no Bruno e no Murilo durante todo o trajeto até a minha casa.
Quando estava prestes a descer, o meu celular começou a tocar e eu percebi que era o novinho:
- Oi. Já me ligando?
- Como você sabia que o Bruno estava na rua?
- Ele estava? – sorri. – Não falei que ele ia estar lá?
- A gente brigou!
- Sério? – arregalei os olhos.
- Sério. Ele me deu um soco na cara!
- Mentira? – fiquei chocado. – Mas... Por quê?!
- Porque ele está com ciúmes, mas eu não deixei barato. Eu revidei e soquei a cara dele também. Se o Vítor não tivesse nos separado a gente ainda estaria brigando.
- Ai, Murilo... – fiquei com dó. – Que coisa mais chata... Está vendo porque eu odeio aquele idiota?
- Não tem problema não. Ele já foi embora e eu coloquei ele no lugar dele. Ele não vai ser louco de olhar pra mim de novo.
- Você se machucou muito? – eu estava mesmo com dó do Murilo.
- Que nada. Só vou ficar com um hematoma, mas a minha mãe vai cuidar de mim.
- Affe... Como o Bruno é ridículo...
- Não esquenta. Eu só queria te comunicar o que aconteceu.
- Ele falou alguma coisa?
- Disse que não era pra me aproximar de você. Só isso.
- Ah, só porque ele quer. Idiota!
- Nem liga, Caio. Deixa o Bruno pra lá. Ei, você já pensou na minha proposta?
Eu sorri.
- Estou pensando, seu apressadinho!
- Então pensa com muito carinho, falou?
- Falou – concordei.
- Preciso desligar. Boa noite.
- Boa noite. Se cuida!
- Você também.
O ex-primo do meu ex-namorado desligou e eu fiquei pensando no assunto. De repente os meus dedos começaram a coçar e eu não consegui resistir. Tive que mandar uma mensagem pro Bruno pra esclarecer as coisas:
“Já
soube o que aconteceu entre você e o Murilo. Só quero que saiba que você não
passa de um nojento, de um ridículo. É isso que você é! Deixa a gente em paz.
Some da nossa vida.”
Não
sei se a mensagem surtiu algum efeito ou se ele estava sem crédito, mas o fato
foi que eu não obtive resposta do SMS. Isso me deixou outra vez encucado.
Desci do veículo e rapidamente cheguei na minha casa. A residência estava absolutamente silenciosa e isso significava que os meninos tinham saído ou estavam dormindo.
Mais uma vez dos dois um pouco. Fabrício era o único que estava no quarto, mas já tinha pegado no sono, pelado e de bruços.

- Sem vergonha – eu abri um sorriso safado e fiquei olhando pro cara.
Ainda bem que ele era desencanado e não tinha preconceito, não é? Se fosse outro teria até trocado de quarto por causa da minha homossexualidade.
Suspirei e caí de costas na minha cama. Como a janela estava aberta, eu consegui ficar olhando pro lastro da cama do Rodrigo e tentei colocar a cabeça em ordem, mas não consegui.
Bruno e Murilo brigando por minha causa... Era só o que faltava... Até quando isso ia acontecer? Até quando o Bruno ia ficar assombrando a minha vida? Por que ele não ia embora de uma vez por todas?
Desci do veículo e rapidamente cheguei na minha casa. A residência estava absolutamente silenciosa e isso significava que os meninos tinham saído ou estavam dormindo.
Mais uma vez dos dois um pouco. Fabrício era o único que estava no quarto, mas já tinha pegado no sono, pelado e de bruços.
- Sem vergonha – eu abri um sorriso safado e fiquei olhando pro cara.
Ainda bem que ele era desencanado e não tinha preconceito, não é? Se fosse outro teria até trocado de quarto por causa da minha homossexualidade.
Suspirei e caí de costas na minha cama. Como a janela estava aberta, eu consegui ficar olhando pro lastro da cama do Rodrigo e tentei colocar a cabeça em ordem, mas não consegui.
Bruno e Murilo brigando por minha causa... Era só o que faltava... Até quando isso ia acontecer? Até quando o Bruno ia ficar assombrando a minha vida? Por que ele não ia embora de uma vez por todas?
Mais
uma vez eu dormi de roupa. Acordei na manhã seguinte sentindo uma puta dor nas
costas, porque dormi de qualquer jeito na cama.
- Droga – bufei e me estiquei todo.
Olhei no celular e vi que já passava das 7 da manhã. Não quis dormir mais porque queria ir mais cedo pra academia, mas será que o Diguinho ia comigo?
Me aproximei dele e chamei pelo seu nome. O menino estava dormindo de barriga pra cima e estava com o rosto muito sereno. Parecia até um anjinho...
- Digow? – chamei de novo.
Deslizei meus olhos pelo corpo do cara e percebi que ele estava excitado de novo. Será que era uma ereção matinal ou ele estava tendo algum sonho picante com a namorada? Preferi pensar que era uma ereção matinal.
- Rodrigo? – cutuquei as costelas dele e o moço se remexeu.
- Hum? – ele deu um gemidinho grave.
- Você vai pra academia, mano?
- Academia? – ele perguntou baixinho. – O que tem a academia?
- Você vai treinar hoje?
- Vou... Que horas são?
- Quase 8.
- Como assim quase 8? – ele sentou na cama e me olhou com a cara feia. – Puta que pariu, você me acorda às 7 da madrugada pra perguntar se eu vou pra academia? É isso que eu entendi?
Parece que não, mas ele ficou bravo de verdade.
- Calma...
- Calma é o cacete! Me acordou no melhor do meu sono pra isso? Vai se foder, Caio! Que merda, hein?
- Querem me deixar dormir? – Fabrício reclamou.
- Que porra... Se eu perder o sono por sua causa você me pega! – Rodrigo me fuzilou.
- Desculpa... Eu pensei que você ia mais cedo comigo...
- Francamente... Eu mereço uma coisa dessas...
Ele deitou de costas pra mim e bufou de raiva. Eu me senti culpado por ter acordado o garoto, mas relevei e fui pro meu banho.

- Droga – bufei e me estiquei todo.
Olhei no celular e vi que já passava das 7 da manhã. Não quis dormir mais porque queria ir mais cedo pra academia, mas será que o Diguinho ia comigo?
Me aproximei dele e chamei pelo seu nome. O menino estava dormindo de barriga pra cima e estava com o rosto muito sereno. Parecia até um anjinho...
- Digow? – chamei de novo.
Deslizei meus olhos pelo corpo do cara e percebi que ele estava excitado de novo. Será que era uma ereção matinal ou ele estava tendo algum sonho picante com a namorada? Preferi pensar que era uma ereção matinal.
- Rodrigo? – cutuquei as costelas dele e o moço se remexeu.
- Hum? – ele deu um gemidinho grave.
- Você vai pra academia, mano?
- Academia? – ele perguntou baixinho. – O que tem a academia?
- Você vai treinar hoje?
- Vou... Que horas são?
- Quase 8.
- Como assim quase 8? – ele sentou na cama e me olhou com a cara feia. – Puta que pariu, você me acorda às 7 da madrugada pra perguntar se eu vou pra academia? É isso que eu entendi?
Parece que não, mas ele ficou bravo de verdade.
- Calma...
- Calma é o cacete! Me acordou no melhor do meu sono pra isso? Vai se foder, Caio! Que merda, hein?
- Querem me deixar dormir? – Fabrício reclamou.
- Que porra... Se eu perder o sono por sua causa você me pega! – Rodrigo me fuzilou.
- Desculpa... Eu pensei que você ia mais cedo comigo...
- Francamente... Eu mereço uma coisa dessas...
Ele deitou de costas pra mim e bufou de raiva. Eu me senti culpado por ter acordado o garoto, mas relevei e fui pro meu banho.
- Cadê Rodrigo? – perguntou Felipe.
- Ele não quis vir e ainda brigou comigo porque eu o acordei mais cedo – expliquei.
- Aquele garoto é muito molenga. Hoje você começa pela bike, viu?
- Quanto tempo?
- Meia hora. Ainda é cedo e você tem tempo suficiente pra todos os exercícios hoje.
- Como quiser, professor.
Eu estava animado. Mesmo sendo uma segunda-feira eu estava com o pique total. Depois do alongamento eu sentei na bike, arrumei os meus pés nos pedais e comecei a pedalar com força total.
Tocava uma música animada na academia e isso me motivou a pedalar ainda mais rápido. Em pouco tempo as minhas coxas adormeceram.
- Pronto, “Felipón” – anunciei o fim da meia hora.
- Agora vamos direto pros abdominais. Hoje você vai fazer só isso.
- O dia todo?
- O dia todo – Felipe confirmou.
Ele queria me matar, né? Abdominal é a pior parte do treino na academia...
Peguei um colchonete e me esparramei na frente do espelho. Em questão de segundos o meu personal apareceu perto de mim e já começou a me instruir:
- Primeiro o tradicional. 3 séries de cem repetições.
- Hoje você quer me matar, né?
- Essa é a intenção. Não, mentira. Se eu te matar a academia perde um cliente e é prejuízo pra gente.
- Palhaço – eu comecei a série.
- Ele não quis vir e ainda brigou comigo porque eu o acordei mais cedo – expliquei.
- Aquele garoto é muito molenga. Hoje você começa pela bike, viu?
- Quanto tempo?
- Meia hora. Ainda é cedo e você tem tempo suficiente pra todos os exercícios hoje.
- Como quiser, professor.
Eu estava animado. Mesmo sendo uma segunda-feira eu estava com o pique total. Depois do alongamento eu sentei na bike, arrumei os meus pés nos pedais e comecei a pedalar com força total.
Tocava uma música animada na academia e isso me motivou a pedalar ainda mais rápido. Em pouco tempo as minhas coxas adormeceram.
- Pronto, “Felipón” – anunciei o fim da meia hora.
- Agora vamos direto pros abdominais. Hoje você vai fazer só isso.
- O dia todo?
- O dia todo – Felipe confirmou.
Ele queria me matar, né? Abdominal é a pior parte do treino na academia...
Peguei um colchonete e me esparramei na frente do espelho. Em questão de segundos o meu personal apareceu perto de mim e já começou a me instruir:
- Primeiro o tradicional. 3 séries de cem repetições.
- Hoje você quer me matar, né?
- Essa é a intenção. Não, mentira. Se eu te matar a academia perde um cliente e é prejuízo pra gente.
- Palhaço – eu comecei a série.
Saí
da academia com muita dor na barriga. O Felipe judiou de mim numas condições...
Mas eu sabia que era pra eu atingir o meu objetivo e não briguei com o cara.

- Boa tarde, Duda – cumprimentei a minha gerente.
- Boa tarde, querido. Tudo bom?
- Melhor agora e você?
- Bem. Que ânimo é esse em plena segundona?
- Dia 30, dia de receber... Sabe como é, né?
- Se sei. Meu salário todo já foi embora. Já deu uma olhada na sua comissão?
- Ainda não. Acabei de chegar.
- Então loga e vê o seu holerite. Se tiver qualquer divergência você me fala que eu mando e-mail pro RH.
- Sim senhora. Já faço isso já!
- Demorou então.
Fiz o que minha chefe pediu. Loguei na minha máquina e tratei logo de abrir o meu holerite, mas não tive nenhuma surpresa negativa. E nem positiva. A minha comissão estava dentro dos limites das minhas vendas do mês de maio.
- Tudo normal, patroa.
- Ah, belezinha. Obrigada, Caio.
- Onde está o Jonas?
- Hoje ele só virá mais tarde. Está em uma audiência.
- Coisa chata isso, né?
- Você não tem noção.
- Boa tarde, Duda – cumprimentei a minha gerente.
- Boa tarde, querido. Tudo bom?
- Melhor agora e você?
- Bem. Que ânimo é esse em plena segundona?
- Dia 30, dia de receber... Sabe como é, né?
- Se sei. Meu salário todo já foi embora. Já deu uma olhada na sua comissão?
- Ainda não. Acabei de chegar.
- Então loga e vê o seu holerite. Se tiver qualquer divergência você me fala que eu mando e-mail pro RH.
- Sim senhora. Já faço isso já!
- Demorou então.
Fiz o que minha chefe pediu. Loguei na minha máquina e tratei logo de abrir o meu holerite, mas não tive nenhuma surpresa negativa. E nem positiva. A minha comissão estava dentro dos limites das minhas vendas do mês de maio.
- Tudo normal, patroa.
- Ah, belezinha. Obrigada, Caio.
- Onde está o Jonas?
- Hoje ele só virá mais tarde. Está em uma audiência.
- Coisa chata isso, né?
- Você não tem noção.
QUASE
NO FINAL DE SEMANA...
Eu
já estava quase no final do meu expediente. Estava contando os segundos para ir
embora, mas a hora estava demorando a passar.
Nesse dia a Janaína trocou de horário com uma colega do nosso setor e por esse motivo nós ficamos um ao lado do outro durante todo o expediente.
- Não vejo a hora de ir embora – bocejei.
- Eu também – Janaína bocejou também.
- Espero que não apareça nenhum cliente nesse horário.
- Sempre tem um desgraçado que inventa de vir na hora que o shopping está fechando.
Nesse dia o Jonas estava de folga e a coitada da Eduarda teve que ficar conosco até o fim do turno. A pobrezinha estava parecendo um zumbi de tão cansada.
- Agilizem com essa arrumação, meninos. Eu quero ir embora logo!
A Janaína estava sentada na cadeira, olhando alguma coisa no computador e eu estava de pé em frente a ela e não percebi quando um cliente se aproximou:
- Boa noite...
- Boa noite – eu me virei e quase caí de costas quando dei de cara com o Bruno – O que você está fazendo aqui, idiota?
- Caio! – Janaína arregalou os olhos.
- Eu vim comprar uma cama...
- Ah, conta outra, Bruno! Conta outra – eu fiquei extremamente irritado.
- Bruno? – Janaína repetiu o nome do meu ex. – Esse é o Bruno?
- Isso. Sou eu mesmo. Você é a?
- Janaína. Muito prazer. Eu já ouvi falar muito de você!
- JANAÍNA! – esbravejei.
- Mal, né? Eu sei. Pode falar... Eu já estou me acostumando com isso...
- Vou deixá-los a sós para vocês conversarem. Até amanhã, Caio.
- Janaína, fica aqui – eu segurei a menina pela mão.
- Não. Eu preciso ir, tenho que ir na minha tia cuidar dela e do bebê.
- Muito amiga você – bufei.
- Pode me ajudar com a cama? – ele me olhou.
- Não. Não posso. O meu expediente acabou de acabar e eu não vou te atender. Se vira com outro vendedor. Boa noite.
Eu saí andando, mas ele foi atrás de mim:
- Se você não me atender eu vou chamar o gerente, Caio!
- Chama – eu me virei e o fitei com muita raiva. – Chama! Pode chamar. Eu não tenho medo das suas ameaças, seu verme!
- Não vai me atender mesmo? Tem certeza disso? Isso pode dar justa causa, não pode?
- Foda-se! Foda-se, eu to pouco me lichando! O problema é meu e não seu!
- Então tá bom. Eu vou falar com o gerente. Quem é o gerente? – Bruno passou os olhos azuis pela loja.
- Se vira e encontra – eu voltei a andar.
- Algum problema, Caio? – Eduarda apareceu na hora que eu ia sair pro vestiário.
- Nenhum, Duda. Por quê?
- Percebi que você estava meio alterado com aquele cliente. Algum problema, querido?
- Esse idiota é meu ex-namorado. Ele veio atrás de mim com a desculpa que quer comprar uma cama.
- Então vai atendê-lo. Qual o problema?
- Você ainda me pergunta? Você entendeu que ele é meu ex-namorado? O Bruno? Aquele que quase acabou com a minha vida?
- Entendi sim. E o que tem nisso? Aqui dentro ele não é seu ex, ele é um cliente e você é obrigado a atendê-lo da melhor forma possível. Pode voltar e fazer a venda.
- Não vou,
- Não vai? Está se recusando a fazer o seu papel de vendedor, Caio? – a mulher cruzou os braços.
- Eu não vou atender esse cara. Não vou!
- Então vamos na minha mesa que eu vou te suspender. Você está se recusando a fazer o seu papel e isso é passível a suspensão de até 3 dias.
Engoli em seco.
- Duda... Por favor... Pelo amor de Deus... Pede pra outro atender ele... Por favor...
- Não. Quem vai atender é você e eu já falei que se não fizer vai ser suspenso. Estou te dando direito de escolha.
- Droga! Droga – eu bufei e voltei para onde ele estava.
Eu só resolvi atender o infeliz para não ser suspenso. Se a Duda não tivesse me ameaçado com a sanção, eu não teria atendido nem por 1 milhão de reais.
- Me acompanha – eu não olhei pra cara dele e fiquei com o rosto fechado.
Que ódio, que ódio, que ódio!!! Por que aquilo tinha que acontecer logo comigo?
- Você me ajuda com o modelo? – ele perguntou.
- Qual modelo você quer? – continuei sem olhar pra cara dele.
- Tem que ser de casal.
- De casal nós temos esses modelos aí.
- Mas qual é o melhor?
- O mais caro.
- Vocês parcelam?
- Em até 12 vezes no cartão de crédito ou no carnê.
- E tem jurus?
- No carnê sim, no cartão não.
Eu peguei o meu ramal e liguei no crediário.
- Ana? Caio, tudo bom?
- Oi, Caio. O que houve? Eu já estava de saída...
- Tem um cliente, amor. Você pode esperar, por favor?
- Ah, espero sim. Obrigada pelo toque.
- Eu que te agradeço.
Em seguida eu liguei no ramal dos caixas.
- Mara? É o Caio, tudo bom?
- O que foi, menino? Isso é hora de ligar?
- Tem um cliente. Você pode esperar, por favor?
- Agora? Cacete, quem é o filho da puta sem noção que vem na loja nessa hora? – ela bufou.
- Pois é. Você espera?
- Espero, né? Fazer o quê!
- Obrigado. Beijo.
- Outro.
- Já escolheu? – perguntei com a cara feia.
- Vocês tem cama box?
- Sim. É no outro departamento. Me acompanha, por favor.
Eu andei pelo meio da loja e vi todo mundo indo embora. Pelo jeito só íamos ficar eu, a menina do crediário, a menina do caixa, a Eduarda e o Bruno.
- Os boxes são esses daqui – informei.
Em nenhum momento eu olhei pro Bruno. Enquanto ele analisava os produtos eu olhava pra um lado, pro outro, mas nunca pra ele.
- E demora muito pra entregar, Caio?
- Depende da sua região.
- Como assim?
- Ah, pelo amor... Não estou com paciência pra explicar essas coisas pra você. Vai levar o produto ou não?
- Calma. Eu só fiz uma pergunta e eu mereço a resposta. Afinal eu sou o cliente nesse momento.
Bufei duas vezes, respirei fundo e expliquei o procedimento.
- Na boa, Bruno? – só aí eu olhei nos olhos azuis dele. – Vai levar essa birosca ou não? Se não for levar me avisa que eu vou embora!
- Vou levar sim, mas quero uma cabeceira e o colchão também.
CA-RA-LHO! Por que ele estava fazendo aquilo comigo?
- As cabeceiras ficam do outro lado. Me acompanha.
- Será um prazer – o filho da puta ainda debochou de mim.
- São esses daí. Escolhe logo que eu não tenho todo o tempo do mundo.
- Não quer vender? Se não quer trabalhar é melhor pedir as contas!
- Não preciso que você se intrometa na minha vida. Qual você vai levar?
- AI... Estou em dúvida...
Bufei de novo. Eu precisava de muita paciência com aquele garoto!
- Qual você quer, Bruno? – eu perguntei de novo.
- Acho que essa daqui – ele mostrou o mdelo que desejava.
- Senta lá que eu já vou finalizar a sua compra.
Anotei o código da cabeceira da cama do meu ex e por fim sentei. Ainda bem que a Jana tinha deixado o computador ligado.
- Já é cliente? – perguntei com a cara fechada.
- Não.
- Preciso do RG e CPF.
Ele passou os documentos e eu comecei a abrir o cadastro.
- Endereço?
Bruno disse todo o endereço. Ele estava morando em um prédio no Recreio.
- Telefones de contato?
Ele passou os números. Tinha um fixo e o celular.
- Está trabalhando?
- Sim.
- Qual o nome da empresa?
Para a minha total surpresa, ele tinha entrado no Metrô Rio. Isso me deixou espantado.
- Função?
- Maquinista.
MAQUINISTA? Eu não esperava por isso.
- Qual o endereço da empresa?
Eu inseri os dados do endereço e em seguida peguei o telefone do local.
- Você pode informar qual a sua renda mensal?
- Posso sim.
Ele ganhava bem, muito bem. isso também me deixou espantado.
- Qual vai ser a forma de pagamento?
- Cartão de crédito.
- Quer parcelar em quantas vezes?
- 12.
- Entrega nesse endereço mesmo?
- Sim.
Não falei mais nada. Inseri os códigos nos pedidos e por fim, finalizei com a venda.
- Leva esse papel no caixa pra efetuar o pagamento.
- Quando vai entregar?
- Dia 8 de julho em horário comercial.
- Mas eu trabalho... Não tem como agendar um horário?
- Não.
- E agora?
- Deixa alguém no local.
- Quem?
- Isso não é da minha conta. Passar bem.
Desliguei o computador e saí quase que correndo pro vestiário, mas lembrei que não tinha ligado pra Ana pra falar que ele não ia pro crediário.
- Oi, Caio – ela me atendeu.
- Ele vai passar no cartão. Pode ir embora. Obrigado amor.
- Louvado seja Deus. Boa noite, querido.
- Boa noite.
- Viu só? Custou atender o menino? Acabou fazendo duas vendas – disse Eduarda.
- Custou e muito. Eu não queria ter feito isso. Boa noite.
Saí e não falei com mais ninguém. Na hora que eu estava no ponto ele apareceu e foi falar novamente comigo:
- Obrigado por me atender. Faltou o colchão, mas eu levo depois.
Não respondi nada. Será possível que eu não ia mais ter paz?
- E você fica lindo demais com aquele uniforme.
- Vai... Se... Foder!

Nesse dia a Janaína trocou de horário com uma colega do nosso setor e por esse motivo nós ficamos um ao lado do outro durante todo o expediente.
- Não vejo a hora de ir embora – bocejei.
- Eu também – Janaína bocejou também.
- Espero que não apareça nenhum cliente nesse horário.
- Sempre tem um desgraçado que inventa de vir na hora que o shopping está fechando.
Nesse dia o Jonas estava de folga e a coitada da Eduarda teve que ficar conosco até o fim do turno. A pobrezinha estava parecendo um zumbi de tão cansada.
- Agilizem com essa arrumação, meninos. Eu quero ir embora logo!
A Janaína estava sentada na cadeira, olhando alguma coisa no computador e eu estava de pé em frente a ela e não percebi quando um cliente se aproximou:
- Boa noite...
- Boa noite – eu me virei e quase caí de costas quando dei de cara com o Bruno – O que você está fazendo aqui, idiota?
- Caio! – Janaína arregalou os olhos.
- Eu vim comprar uma cama...
- Ah, conta outra, Bruno! Conta outra – eu fiquei extremamente irritado.
- Bruno? – Janaína repetiu o nome do meu ex. – Esse é o Bruno?
- Isso. Sou eu mesmo. Você é a?
- Janaína. Muito prazer. Eu já ouvi falar muito de você!
- JANAÍNA! – esbravejei.
- Mal, né? Eu sei. Pode falar... Eu já estou me acostumando com isso...
- Vou deixá-los a sós para vocês conversarem. Até amanhã, Caio.
- Janaína, fica aqui – eu segurei a menina pela mão.
- Não. Eu preciso ir, tenho que ir na minha tia cuidar dela e do bebê.
- Muito amiga você – bufei.
- Pode me ajudar com a cama? – ele me olhou.
- Não. Não posso. O meu expediente acabou de acabar e eu não vou te atender. Se vira com outro vendedor. Boa noite.
Eu saí andando, mas ele foi atrás de mim:
- Se você não me atender eu vou chamar o gerente, Caio!
- Chama – eu me virei e o fitei com muita raiva. – Chama! Pode chamar. Eu não tenho medo das suas ameaças, seu verme!
- Não vai me atender mesmo? Tem certeza disso? Isso pode dar justa causa, não pode?
- Foda-se! Foda-se, eu to pouco me lichando! O problema é meu e não seu!
- Então tá bom. Eu vou falar com o gerente. Quem é o gerente? – Bruno passou os olhos azuis pela loja.
- Se vira e encontra – eu voltei a andar.
- Algum problema, Caio? – Eduarda apareceu na hora que eu ia sair pro vestiário.
- Nenhum, Duda. Por quê?
- Percebi que você estava meio alterado com aquele cliente. Algum problema, querido?
- Esse idiota é meu ex-namorado. Ele veio atrás de mim com a desculpa que quer comprar uma cama.
- Então vai atendê-lo. Qual o problema?
- Você ainda me pergunta? Você entendeu que ele é meu ex-namorado? O Bruno? Aquele que quase acabou com a minha vida?
- Entendi sim. E o que tem nisso? Aqui dentro ele não é seu ex, ele é um cliente e você é obrigado a atendê-lo da melhor forma possível. Pode voltar e fazer a venda.
- Não vou,
- Não vai? Está se recusando a fazer o seu papel de vendedor, Caio? – a mulher cruzou os braços.
- Eu não vou atender esse cara. Não vou!
- Então vamos na minha mesa que eu vou te suspender. Você está se recusando a fazer o seu papel e isso é passível a suspensão de até 3 dias.
Engoli em seco.
- Duda... Por favor... Pelo amor de Deus... Pede pra outro atender ele... Por favor...
- Não. Quem vai atender é você e eu já falei que se não fizer vai ser suspenso. Estou te dando direito de escolha.
- Droga! Droga – eu bufei e voltei para onde ele estava.
Eu só resolvi atender o infeliz para não ser suspenso. Se a Duda não tivesse me ameaçado com a sanção, eu não teria atendido nem por 1 milhão de reais.
- Me acompanha – eu não olhei pra cara dele e fiquei com o rosto fechado.
Que ódio, que ódio, que ódio!!! Por que aquilo tinha que acontecer logo comigo?
- Você me ajuda com o modelo? – ele perguntou.
- Qual modelo você quer? – continuei sem olhar pra cara dele.
- Tem que ser de casal.
- De casal nós temos esses modelos aí.
- Mas qual é o melhor?
- O mais caro.
- Vocês parcelam?
- Em até 12 vezes no cartão de crédito ou no carnê.
- E tem jurus?
- No carnê sim, no cartão não.
Eu peguei o meu ramal e liguei no crediário.
- Ana? Caio, tudo bom?
- Oi, Caio. O que houve? Eu já estava de saída...
- Tem um cliente, amor. Você pode esperar, por favor?
- Ah, espero sim. Obrigada pelo toque.
- Eu que te agradeço.
Em seguida eu liguei no ramal dos caixas.
- Mara? É o Caio, tudo bom?
- O que foi, menino? Isso é hora de ligar?
- Tem um cliente. Você pode esperar, por favor?
- Agora? Cacete, quem é o filho da puta sem noção que vem na loja nessa hora? – ela bufou.
- Pois é. Você espera?
- Espero, né? Fazer o quê!
- Obrigado. Beijo.
- Outro.
- Já escolheu? – perguntei com a cara feia.
- Vocês tem cama box?
- Sim. É no outro departamento. Me acompanha, por favor.
Eu andei pelo meio da loja e vi todo mundo indo embora. Pelo jeito só íamos ficar eu, a menina do crediário, a menina do caixa, a Eduarda e o Bruno.
- Os boxes são esses daqui – informei.
Em nenhum momento eu olhei pro Bruno. Enquanto ele analisava os produtos eu olhava pra um lado, pro outro, mas nunca pra ele.
- E demora muito pra entregar, Caio?
- Depende da sua região.
- Como assim?
- Ah, pelo amor... Não estou com paciência pra explicar essas coisas pra você. Vai levar o produto ou não?
- Calma. Eu só fiz uma pergunta e eu mereço a resposta. Afinal eu sou o cliente nesse momento.
Bufei duas vezes, respirei fundo e expliquei o procedimento.
- Na boa, Bruno? – só aí eu olhei nos olhos azuis dele. – Vai levar essa birosca ou não? Se não for levar me avisa que eu vou embora!
- Vou levar sim, mas quero uma cabeceira e o colchão também.
CA-RA-LHO! Por que ele estava fazendo aquilo comigo?
- As cabeceiras ficam do outro lado. Me acompanha.
- Será um prazer – o filho da puta ainda debochou de mim.
- São esses daí. Escolhe logo que eu não tenho todo o tempo do mundo.
- Não quer vender? Se não quer trabalhar é melhor pedir as contas!
- Não preciso que você se intrometa na minha vida. Qual você vai levar?
- AI... Estou em dúvida...
Bufei de novo. Eu precisava de muita paciência com aquele garoto!
- Qual você quer, Bruno? – eu perguntei de novo.
- Acho que essa daqui – ele mostrou o mdelo que desejava.
- Senta lá que eu já vou finalizar a sua compra.
Anotei o código da cabeceira da cama do meu ex e por fim sentei. Ainda bem que a Jana tinha deixado o computador ligado.
- Já é cliente? – perguntei com a cara fechada.
- Não.
- Preciso do RG e CPF.
Ele passou os documentos e eu comecei a abrir o cadastro.
- Endereço?
Bruno disse todo o endereço. Ele estava morando em um prédio no Recreio.
- Telefones de contato?
Ele passou os números. Tinha um fixo e o celular.
- Está trabalhando?
- Sim.
- Qual o nome da empresa?
Para a minha total surpresa, ele tinha entrado no Metrô Rio. Isso me deixou espantado.
- Função?
- Maquinista.
MAQUINISTA? Eu não esperava por isso.
- Qual o endereço da empresa?
Eu inseri os dados do endereço e em seguida peguei o telefone do local.
- Você pode informar qual a sua renda mensal?
- Posso sim.
Ele ganhava bem, muito bem. isso também me deixou espantado.
- Qual vai ser a forma de pagamento?
- Cartão de crédito.
- Quer parcelar em quantas vezes?
- 12.
- Entrega nesse endereço mesmo?
- Sim.
Não falei mais nada. Inseri os códigos nos pedidos e por fim, finalizei com a venda.
- Leva esse papel no caixa pra efetuar o pagamento.
- Quando vai entregar?
- Dia 8 de julho em horário comercial.
- Mas eu trabalho... Não tem como agendar um horário?
- Não.
- E agora?
- Deixa alguém no local.
- Quem?
- Isso não é da minha conta. Passar bem.
Desliguei o computador e saí quase que correndo pro vestiário, mas lembrei que não tinha ligado pra Ana pra falar que ele não ia pro crediário.
- Oi, Caio – ela me atendeu.
- Ele vai passar no cartão. Pode ir embora. Obrigado amor.
- Louvado seja Deus. Boa noite, querido.
- Boa noite.
- Viu só? Custou atender o menino? Acabou fazendo duas vendas – disse Eduarda.
- Custou e muito. Eu não queria ter feito isso. Boa noite.
Saí e não falei com mais ninguém. Na hora que eu estava no ponto ele apareceu e foi falar novamente comigo:
- Obrigado por me atender. Faltou o colchão, mas eu levo depois.
Não respondi nada. Será possível que eu não ia mais ter paz?
- E você fica lindo demais com aquele uniforme.
- Vai... Se... Foder!
-
Que cara é essa, criança? – perguntou Vinícius.
- O Bruno. É o Bruno. Eu não aguento mais o Bruno!!!
- O que foi dessa vez?
- Acredita que ele teve a capacidade de ir na loja comprar uma cama bem na hora do final do meu expediente? O pior de tudo foi que eu fui obrigado a atendê-lo... Quis morrer de tanta raiva.
- Ele está insistindo muito, hein?
- Nem sei mais o que fazer.
- Conversa com ele. É o jeito que tem. Acho que só assim ele vai te deixar em paz.
Será? Será que ele ia me deixar em paz se eu falasse com ele?
- O Bruno. É o Bruno. Eu não aguento mais o Bruno!!!
- O que foi dessa vez?
- Acredita que ele teve a capacidade de ir na loja comprar uma cama bem na hora do final do meu expediente? O pior de tudo foi que eu fui obrigado a atendê-lo... Quis morrer de tanta raiva.
- Ele está insistindo muito, hein?
- Nem sei mais o que fazer.
- Conversa com ele. É o jeito que tem. Acho que só assim ele vai te deixar em paz.
Será? Será que ele ia me deixar em paz se eu falasse com ele?
NO
SÁBADO À NOITE...
-
Estou esperando uma resposta ainda, hein? – Murilo brincou.
- Ai, Murilo... Eu estou com tantos problemas ultimamente que nem sequer pensei em você nesses dias. Desculpa.
- Sério? Não pensou em mim?
- Pensei, mas não como gostaria de pensar.
- Já tem uma resposta?
- Acho que não ainda. Espera só mais alguns dias?
- E laia... Você me prometeu uma resposta amanhã, Caio...
- Vou continuar pensando no assunto, tá bom? Eu prometo que penso com carinho!
- Quero só ver, hein?
- Confia em mim. Eu não vou te decepcionar.
- Assim espero.
O menino e eu continuamos conversando por um tempo e depois de finalizar a ligação eu fiquei pensando um pouco nele.
Lembrei da história que ele me disse a respeito do infeliz do meu ex-namorado e confesso que uma pulga ficou atrás da minha orelha.
- O que será que aconteceu com ele no passado? – me perguntei.
Será mesmo que tinha sido alguma coisa grave? Será mesmo que foi algo que mudou a vida dele completamente?
Mas o que era, meu Deus? O quê?! Tantas coisas passaram pela minha cabeça, tantas possibilidades, tantas hipóteses...
E foi impossível não pensar também no motivo pelo qual ele saiu do país. Será que fora um motivo grave também? Ou ele simplesmente tinha saído por sair?
Isso ficou na minha cabeça. O rosto do Bruno invadiu a minha cabeça e ela chegou até a doer.
Como era lindo... Como era cheiroso... Que olhos perfeitos... Que sorriso encantador... Que pele sedosa ele tinha...
Ele era um verdadeiro encanto. Se não fosse tão ruim, se não tivesse sido tão mau comigo a ponto de me abandonar eu poderia jurar que nós estaríamos juntos naquele momento...
Mas ele me abandonou. Me largou e foi embora. Mas por que ele foi embora? Por quê?!
Lembrei dos beijos que ele me dava e isso me deixou com muita, muita saudade do Bruno. Eu senti o meu coração doer e automaticamente lembrei de tudo o que nós vivemos juntos. Foi impossível controlar a minha vontade de chorar.
Não queria que ele tivesse ido embora, não queria! Eu queria ter continuado com ele, queria ter ficado com ele pra sempre... Pra sempre...
O Bruno foi meu primeiro amor, meu primeiro homem, minha primeira desilusão amorosa... Com ele eu conheci o céu, mas também conheci o inferno. Com ele eu passei os melhores dias da minha vida, mas também passei os piores.
Percebi que com ele ou era 8, ou 80. Ou era tudo um mar de rosas, ou um verdadeiro inferno e a saudade acabou mesmo falando mais alto.

Eu peguei o meu celular, procurei o número dele em uma mensagem qualquer e quando eu menos esperei o número já estava no visor do aparelho.
Ligar ou não ligar? Eis a questão... Nós já estávamos em julho e já fazia alguns meses que ele havia voltado ao Brasil.
Desde então eu não dei oportunidade pro garoto se explicar e ele vivia correndo atrás de mim. Será que se ele não gostasse de mim ele faria tudo aquilo? Fiquei em dúvida.
Fiquei em dúvida também se deveria ou não ligar, mas a minha curiosidade, minha saudade e minha vontade de falar com ele falaram mais alto. Com medo, eu apertei o botão verde e coloquei o celular no ouvido. Será que ele ia me atender?
- Alô? – que voz grave ele tinha pelo telefone... – Alô?
Eu demorei pra responder.
- Alô?
- Bruno? – falei baixinho.
- Caio? – ele se espantou.
- É sou eu... Tudo... Bom?
- É você mesmo? – a voz dele parecia incrédula.
- Si-sim.
- Caraca... Por essa eu não esperava. Tudo bem com você?
- Bem sim... E você?
- Agora eu estou muito melhor, de verdade.
- Hum...
- Que milagre você me ligando...
- Pois... É...
- Eu sinto tanta a sua falta, Caio...
Fiquei calado e fechei meus olhos. Eu também sentia saudade dele.
- Bruno? Será que a gente pode conversar?
- Vai querer falar comigo?
- Vou – eu suspirei profundamente.
- Lógico que a gente pode conversar. Quando?
- Não sei... Quando você pode?
- Bom, eu tô livre agora. Se quiser por mim pode ser agora...
- Agora? – mordi meu lábio e abri meus olhos. – Que horas são?
- Vai dar 19 horas – meu ex respondeu.
Ai Jesus... Eu não ia mais resistir a nada... Não ia...
- Pode ser – falei baixinho.
- Perfeito. Você quer jantar comigo?
- Jantar? Onde?
- Onde você quiser. Pode ser no mesmo restaurante que a gente se encontrou naquele dia, por exemplo.
Tentei ficar calmo e tentei não desligar o celular. Eu não podia ter um ataque de raiva naquele momento. Não podia!
- No Leblon?
- Isso. Ou você prefere outro?
- Se puder ser um pouco mais perto...
- Não vai ser mais perto, mas o que acha de vir aqui pro meu apartamento?
- Pro seu apartamento? – suspirei.
- É... Aqui a gente vai poder conversar um pouco melhor...
- Não. Aí eu não quero ir.
- Sem problemas então. Escolhe você o local.
- Pode ser na praia?
- Por mim tudo bem. Que praia? Copa?
- Não. Enjoei de Copa. Pode ser na Barra?
- Melhor ainda. Pra mim é melhor ainda. A gente se encontra em quanto tempo?
- 1 hora e meia. Pode ser?
- Pode ser sim. Eu vou estar te esperando.
- Combinado então. Até lá.
- Até lá, Caio.
Desligamos. Não sei de onde eu tirei coragem pra fazer isso, mas já estava feito.
Fiquei deitado por um tempo pensando em tudo o que tinha acontecido e um filme rodou na minha cabeça.
Pensei em quando nós nos conhecemos... Pensei em quando eu tive a certeza que estava apaixonado por ele... Pensei no nosso primeiro beijo, na nossa primeira transa...
Pensei em tudo o que aconteceu entre nós dois e as lágrimas começaram a rolar.
Era inegável: eu estava com saudades daquele infeliz. Ele tinha acabado com a minha vida, mas eu estava com saudade. Eu precisava falar com ele, precisava entender o que motivou a saída dele do país... Precisava saber tudo o que tinha acontecido...
Pulei da cama e fui pro banho. Caprichei na ducha e nem nesse momento eu parei de pensar nele. O que será que ele ia me falar?
Peguei a minha melhor roupa e me entupi de perfume. Eu queria estar no mínimo apresentável...
Saí de casa às pressas e fiquei impaciente pela demora do ônibus. Quando esse passou, eu entrei, sentei e fiquei contando os minutos para chegar na Barra da Tijuca.

Fazia uma noite extremamente linda e calorenta no Rio de Janeiro. Quando eu cheguei na praia, tratei logo de encontrar um lugar bacana pra sentar e em seguida o meu celular tocou:
- Você já chegou? – ele perguntou.
- Acabei de chegar.
- Onde você está?
- Perto do mar – informei.
- Vou te procurar então.
- Uhum.
Desliguei e fiquei de olho no oceano. Eu não sabia como não me cansava de tanto olhar para aquelas águas das praias da Cidade Maravilhosa.
- Caio? – a voz dele entrou pelos meus ouvidos e um calafrio percorreu toda a minha espinha dorsal.
Eu virei e o encarei. O garoto estava simplesmente deslumbrante! Bruno usava uma camiseta azul-clara, uma bermuda de tactel branca e um chinelo da mesma cor. Ele deixou o cabelo arrepiado e estava com o rosto totalmente indecifrável. Lindo até demais...
- Oi... – eu murmurei.
- Eu posso... Sentar?
- Uhum – voltei a fitar o mar.
Bruno sentou ao meu lado e eu senti o perfume dele invadir o meu nariz quando os nossos corpos ficaram na mesma altura.
Como era cheiroso... Além de lindo era cheiroso... Não tive coragem para encará-lo, mas era essa a minha vontade.
- Que bom que você decidiu conversar comigo...
- Decidi sim, mas isso não quer dizer nada. Eu só quero me livrar de você e espero que depois de falar o que você tem pra me falar você suma da minha vida.
- Se for essa a sua decisão, é isso que eu vou fazer.
- Você promete? – eu virei e olhei para aqueles olhos lindos.
- Prometo – ele suspirou e fechou os olhos.
- Ótimo. Era isso que eu queria ouvir. Então você já pode começar a falar.
- Eu tenho muita, muita coisa pra te contar, Caio.
- Eu estou te ouvindo, Bruno!
Eu só não sabia dizer se estava preparado pra ouvir a verdade. Será que eu ia me machucar ainda mais com aquela conversa? Isso era o que eu ia saber naquele exato momento!
- Ai, Murilo... Eu estou com tantos problemas ultimamente que nem sequer pensei em você nesses dias. Desculpa.
- Sério? Não pensou em mim?
- Pensei, mas não como gostaria de pensar.
- Já tem uma resposta?
- Acho que não ainda. Espera só mais alguns dias?
- E laia... Você me prometeu uma resposta amanhã, Caio...
- Vou continuar pensando no assunto, tá bom? Eu prometo que penso com carinho!
- Quero só ver, hein?
- Confia em mim. Eu não vou te decepcionar.
- Assim espero.
O menino e eu continuamos conversando por um tempo e depois de finalizar a ligação eu fiquei pensando um pouco nele.
Lembrei da história que ele me disse a respeito do infeliz do meu ex-namorado e confesso que uma pulga ficou atrás da minha orelha.
- O que será que aconteceu com ele no passado? – me perguntei.
Será mesmo que tinha sido alguma coisa grave? Será mesmo que foi algo que mudou a vida dele completamente?
Mas o que era, meu Deus? O quê?! Tantas coisas passaram pela minha cabeça, tantas possibilidades, tantas hipóteses...
E foi impossível não pensar também no motivo pelo qual ele saiu do país. Será que fora um motivo grave também? Ou ele simplesmente tinha saído por sair?
Isso ficou na minha cabeça. O rosto do Bruno invadiu a minha cabeça e ela chegou até a doer.
Como era lindo... Como era cheiroso... Que olhos perfeitos... Que sorriso encantador... Que pele sedosa ele tinha...
Ele era um verdadeiro encanto. Se não fosse tão ruim, se não tivesse sido tão mau comigo a ponto de me abandonar eu poderia jurar que nós estaríamos juntos naquele momento...
Mas ele me abandonou. Me largou e foi embora. Mas por que ele foi embora? Por quê?!
Lembrei dos beijos que ele me dava e isso me deixou com muita, muita saudade do Bruno. Eu senti o meu coração doer e automaticamente lembrei de tudo o que nós vivemos juntos. Foi impossível controlar a minha vontade de chorar.
Não queria que ele tivesse ido embora, não queria! Eu queria ter continuado com ele, queria ter ficado com ele pra sempre... Pra sempre...
O Bruno foi meu primeiro amor, meu primeiro homem, minha primeira desilusão amorosa... Com ele eu conheci o céu, mas também conheci o inferno. Com ele eu passei os melhores dias da minha vida, mas também passei os piores.
Percebi que com ele ou era 8, ou 80. Ou era tudo um mar de rosas, ou um verdadeiro inferno e a saudade acabou mesmo falando mais alto.
Eu peguei o meu celular, procurei o número dele em uma mensagem qualquer e quando eu menos esperei o número já estava no visor do aparelho.
Ligar ou não ligar? Eis a questão... Nós já estávamos em julho e já fazia alguns meses que ele havia voltado ao Brasil.
Desde então eu não dei oportunidade pro garoto se explicar e ele vivia correndo atrás de mim. Será que se ele não gostasse de mim ele faria tudo aquilo? Fiquei em dúvida.
Fiquei em dúvida também se deveria ou não ligar, mas a minha curiosidade, minha saudade e minha vontade de falar com ele falaram mais alto. Com medo, eu apertei o botão verde e coloquei o celular no ouvido. Será que ele ia me atender?
- Alô? – que voz grave ele tinha pelo telefone... – Alô?
Eu demorei pra responder.
- Alô?
- Bruno? – falei baixinho.
- Caio? – ele se espantou.
- É sou eu... Tudo... Bom?
- É você mesmo? – a voz dele parecia incrédula.
- Si-sim.
- Caraca... Por essa eu não esperava. Tudo bem com você?
- Bem sim... E você?
- Agora eu estou muito melhor, de verdade.
- Hum...
- Que milagre você me ligando...
- Pois... É...
- Eu sinto tanta a sua falta, Caio...
Fiquei calado e fechei meus olhos. Eu também sentia saudade dele.
- Bruno? Será que a gente pode conversar?
- Vai querer falar comigo?
- Vou – eu suspirei profundamente.
- Lógico que a gente pode conversar. Quando?
- Não sei... Quando você pode?
- Bom, eu tô livre agora. Se quiser por mim pode ser agora...
- Agora? – mordi meu lábio e abri meus olhos. – Que horas são?
- Vai dar 19 horas – meu ex respondeu.
Ai Jesus... Eu não ia mais resistir a nada... Não ia...
- Pode ser – falei baixinho.
- Perfeito. Você quer jantar comigo?
- Jantar? Onde?
- Onde você quiser. Pode ser no mesmo restaurante que a gente se encontrou naquele dia, por exemplo.
Tentei ficar calmo e tentei não desligar o celular. Eu não podia ter um ataque de raiva naquele momento. Não podia!
- No Leblon?
- Isso. Ou você prefere outro?
- Se puder ser um pouco mais perto...
- Não vai ser mais perto, mas o que acha de vir aqui pro meu apartamento?
- Pro seu apartamento? – suspirei.
- É... Aqui a gente vai poder conversar um pouco melhor...
- Não. Aí eu não quero ir.
- Sem problemas então. Escolhe você o local.
- Pode ser na praia?
- Por mim tudo bem. Que praia? Copa?
- Não. Enjoei de Copa. Pode ser na Barra?
- Melhor ainda. Pra mim é melhor ainda. A gente se encontra em quanto tempo?
- 1 hora e meia. Pode ser?
- Pode ser sim. Eu vou estar te esperando.
- Combinado então. Até lá.
- Até lá, Caio.
Desligamos. Não sei de onde eu tirei coragem pra fazer isso, mas já estava feito.
Fiquei deitado por um tempo pensando em tudo o que tinha acontecido e um filme rodou na minha cabeça.
Pensei em quando nós nos conhecemos... Pensei em quando eu tive a certeza que estava apaixonado por ele... Pensei no nosso primeiro beijo, na nossa primeira transa...
Pensei em tudo o que aconteceu entre nós dois e as lágrimas começaram a rolar.
Era inegável: eu estava com saudades daquele infeliz. Ele tinha acabado com a minha vida, mas eu estava com saudade. Eu precisava falar com ele, precisava entender o que motivou a saída dele do país... Precisava saber tudo o que tinha acontecido...
Pulei da cama e fui pro banho. Caprichei na ducha e nem nesse momento eu parei de pensar nele. O que será que ele ia me falar?
Peguei a minha melhor roupa e me entupi de perfume. Eu queria estar no mínimo apresentável...
Saí de casa às pressas e fiquei impaciente pela demora do ônibus. Quando esse passou, eu entrei, sentei e fiquei contando os minutos para chegar na Barra da Tijuca.
Fazia uma noite extremamente linda e calorenta no Rio de Janeiro. Quando eu cheguei na praia, tratei logo de encontrar um lugar bacana pra sentar e em seguida o meu celular tocou:
- Você já chegou? – ele perguntou.
- Acabei de chegar.
- Onde você está?
- Perto do mar – informei.
- Vou te procurar então.
- Uhum.
Desliguei e fiquei de olho no oceano. Eu não sabia como não me cansava de tanto olhar para aquelas águas das praias da Cidade Maravilhosa.
- Caio? – a voz dele entrou pelos meus ouvidos e um calafrio percorreu toda a minha espinha dorsal.
Eu virei e o encarei. O garoto estava simplesmente deslumbrante! Bruno usava uma camiseta azul-clara, uma bermuda de tactel branca e um chinelo da mesma cor. Ele deixou o cabelo arrepiado e estava com o rosto totalmente indecifrável. Lindo até demais...
- Oi... – eu murmurei.
- Eu posso... Sentar?
- Uhum – voltei a fitar o mar.
Bruno sentou ao meu lado e eu senti o perfume dele invadir o meu nariz quando os nossos corpos ficaram na mesma altura.
Como era cheiroso... Além de lindo era cheiroso... Não tive coragem para encará-lo, mas era essa a minha vontade.
- Que bom que você decidiu conversar comigo...
- Decidi sim, mas isso não quer dizer nada. Eu só quero me livrar de você e espero que depois de falar o que você tem pra me falar você suma da minha vida.
- Se for essa a sua decisão, é isso que eu vou fazer.
- Você promete? – eu virei e olhei para aqueles olhos lindos.
- Prometo – ele suspirou e fechou os olhos.
- Ótimo. Era isso que eu queria ouvir. Então você já pode começar a falar.
- Eu tenho muita, muita coisa pra te contar, Caio.
- Eu estou te ouvindo, Bruno!
Eu só não sabia dizer se estava preparado pra ouvir a verdade. Será que eu ia me machucar ainda mais com aquela conversa? Isso era o que eu ia saber naquele exato momento!





2 comentários:
ACHOO QUE JA TA NA HORA DE POSTAR O PROXIMOO!!! POXAA!
letras brancas e fundo preto deixa extremamente desconfortável pra ler, cansa as vistas, queria ler aqui mas não vai dar voltando pra casa dos contos :(
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