C
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omo ele sabia que eu estava mentindo? Será que eu era tão transparente
assim?
Ou estava estampado na minha cara que eu ainda sentia alguma coisa por ele?
- Eu não deveria ter aparecido aqui – tornei a falar. – É melhor eu ir embora!
- Mas você veio... Você está aqui... O que custa ficar?
- Acontece que eu me arrependi. Eu nem sei porque eu vim! É melhor eu ir pra casa, de verdade!
- Por que não aproveita pra gente colocar o papo em dia, hein?
- Não, Bruno – eu fiquei indeciso. – É melhor não!
- Eu não te entendo, sabia? Você veio até aqui, ficou parado na porta do barzinho e agora não quer ficar? O que está acontecendo com você?
Fiquei calado contemplando aqueles olhos lindos que eu tanto gostava. Por que eu tinha feito aquilo?
- Eu não... – falei baixinho e abaixei a cabeça. – Isso não é da sua conta!
De uma hora pra outra a raiva tomou conta de mim e daquela vez não era raiva do Bruno. Era raiva de mim.
Eu estava sendo inconsequente demais, eu estava sendo precipitado demais, eu estava fazendo as coisas sem pensar e estava ali o resultado da minha precipitação!
- Feliz aniversário – falei, mas sem olhar pra ele. – Curta bastante a sua festa, eu vou embora!
- Fica? Por favor?
- Não posso – voltei a encarar aqueles olhos azuis. – Eu não deveria estar aqui. Boa noite, Bruno.
- Espera, Caio – ele falou quando eu já tinha me virado pra voltar pra casa.
- Não adianta falar mais nada, eu não vou ficar aqui – falei.
- Eu não vou pedir pra você ficar. Eu só quero te pedir uma coisa...
- Que coisa? – não olhei para ele e não me virei em nenhum momento.
- Um presente de aniversário...
Presente? Eu não tinha comprado absolutamente nada pra ele. O Bruno me pegou de calças curtas.
- Eu não trouxe presente – fui ingênuo.
- O presente que eu quero está bem aqui na minha frente e está lindo demais...
Engoli em seco e continuei parado, olhando para frente.
- Me dá um abraço, Caio? – a voz do Bruno quase não saiu.
Engoli em seco novamente. Um abraço? Então era esse o presente?
- Um... Abraço? – perguntei.
- Um abraço... – ele falou de novo.
- Eu não... Eu não sei se é uma boa ideia – minha voz saiu em um silvo.
- Eu prometo que é só um abraço... Por favor, me dá esse presente? Eu estou te pedindo...
Respirei fundo. Eu queria aquele abraço tanto quanto ele. Para que negar?
Virei devagar. Ele estava me olhando com a fisionomia muito séria. E estava pra lá de lindo. Pelo menos era isso que eu achava... Eu me aproximei mais um pouco e o abraço aconteceu simultaneamente.
Cair nos braços do Bruno e sentir o calor da pele dele me deixou ainda mais confuso do que eu já estava. Eu nunca poderia imaginar que a minha razão brigaria tanto com o meu coração. Eu tinha uma ligeira sensação que iria enlouquecer a qualquer momento.
Nenhum de nós dois falou alguma coisa. O silêncio reinou e só o que eu conseguia ouvir era o barulho do meu coração. Nem os meus pensamentos eu escutava mais.
O que me deixava mais intrigado é que toda as vezes em que eu ficava próximo ao Bruno, todas as coisas ao meu redor pareciam ficar mudas.
Eu estava no meio de uma avenida imensamente movimentada, a cidade estava fervilhando de pessoas, o barulho estava rolando solto e eu não ouvia nada. Era como se nós dois estivéssemos dentro de uma cápsula, dentro de uma bolha... Isso era esquisito demais e me deixava muito pensativo.
- Eu preciso ir agora – falei por fim. – Um feliz aniversário pra você.
- Obrigado, meu...
Quando nos separamos eu notei a minha excitação. Estava muito excitado e fiz de tudo para ele não perceber nada.
Ele estava com os olhos marejados e parecia feliz, mas ao mesmo tempo triste.
- Boa noite – falei e saí andando sem olhar pra trás.
Como eu fui irresponsável e idiota. Eu estava sendo um completo imbecil naquela situação toda. Daquele dia em diante eu ia tomar muito cuidado, muito cuidado mesmo. Eu não ia, de forma alguma, ceder aos caprichos da minha emoção. Daquele dia em diante eu só ia dar ouvidos a minha razão, ao meu cérebro. Ia fazer o possível e o impossível para não pensar mais no Bruno. Eu só queria saber se isso seria ou não seria possível.
Eu tinha que pensar era no Murilo. A gente já tinha voltado com o nosso namoro e eu fiz uma promessa a ele dizendo que nunca mais iria trocá-lo pelo Bruno. E essa sim seria uma promessa que deveria ser cumprida.
Pensei muito no garoto, muito mesmo. Tentei fazer de tudo para não deixar o Bruno na minha mente e fiz tanto esforço pra isso acontecer que acabei ficando com dor de cabeça novamente.
- Eu não vou pensar mais em você, Bruno Duarte. Eu não vou mais pensar em você!
Nesse momento eu quis até ficar com aminésia. Se eu perdesse a memória e esquecesse de tudo, o Bruno não faria mais parte da minha vida e tudo ficaria mais fácil. Mas infelizmente isso seria algo praticamente impossível de se conseguir.
Ou estava estampado na minha cara que eu ainda sentia alguma coisa por ele?
- Eu não deveria ter aparecido aqui – tornei a falar. – É melhor eu ir embora!
- Mas você veio... Você está aqui... O que custa ficar?
- Acontece que eu me arrependi. Eu nem sei porque eu vim! É melhor eu ir pra casa, de verdade!
- Por que não aproveita pra gente colocar o papo em dia, hein?
- Não, Bruno – eu fiquei indeciso. – É melhor não!
- Eu não te entendo, sabia? Você veio até aqui, ficou parado na porta do barzinho e agora não quer ficar? O que está acontecendo com você?
Fiquei calado contemplando aqueles olhos lindos que eu tanto gostava. Por que eu tinha feito aquilo?
- Eu não... – falei baixinho e abaixei a cabeça. – Isso não é da sua conta!
De uma hora pra outra a raiva tomou conta de mim e daquela vez não era raiva do Bruno. Era raiva de mim.
Eu estava sendo inconsequente demais, eu estava sendo precipitado demais, eu estava fazendo as coisas sem pensar e estava ali o resultado da minha precipitação!
- Feliz aniversário – falei, mas sem olhar pra ele. – Curta bastante a sua festa, eu vou embora!
- Fica? Por favor?
- Não posso – voltei a encarar aqueles olhos azuis. – Eu não deveria estar aqui. Boa noite, Bruno.
- Espera, Caio – ele falou quando eu já tinha me virado pra voltar pra casa.
- Não adianta falar mais nada, eu não vou ficar aqui – falei.
- Eu não vou pedir pra você ficar. Eu só quero te pedir uma coisa...
- Que coisa? – não olhei para ele e não me virei em nenhum momento.
- Um presente de aniversário...
Presente? Eu não tinha comprado absolutamente nada pra ele. O Bruno me pegou de calças curtas.
- Eu não trouxe presente – fui ingênuo.
- O presente que eu quero está bem aqui na minha frente e está lindo demais...
Engoli em seco e continuei parado, olhando para frente.
- Me dá um abraço, Caio? – a voz do Bruno quase não saiu.
Engoli em seco novamente. Um abraço? Então era esse o presente?
- Um... Abraço? – perguntei.
- Um abraço... – ele falou de novo.
- Eu não... Eu não sei se é uma boa ideia – minha voz saiu em um silvo.
- Eu prometo que é só um abraço... Por favor, me dá esse presente? Eu estou te pedindo...
Respirei fundo. Eu queria aquele abraço tanto quanto ele. Para que negar?
Virei devagar. Ele estava me olhando com a fisionomia muito séria. E estava pra lá de lindo. Pelo menos era isso que eu achava... Eu me aproximei mais um pouco e o abraço aconteceu simultaneamente.
Cair nos braços do Bruno e sentir o calor da pele dele me deixou ainda mais confuso do que eu já estava. Eu nunca poderia imaginar que a minha razão brigaria tanto com o meu coração. Eu tinha uma ligeira sensação que iria enlouquecer a qualquer momento.
Nenhum de nós dois falou alguma coisa. O silêncio reinou e só o que eu conseguia ouvir era o barulho do meu coração. Nem os meus pensamentos eu escutava mais.
O que me deixava mais intrigado é que toda as vezes em que eu ficava próximo ao Bruno, todas as coisas ao meu redor pareciam ficar mudas.
Eu estava no meio de uma avenida imensamente movimentada, a cidade estava fervilhando de pessoas, o barulho estava rolando solto e eu não ouvia nada. Era como se nós dois estivéssemos dentro de uma cápsula, dentro de uma bolha... Isso era esquisito demais e me deixava muito pensativo.
- Eu preciso ir agora – falei por fim. – Um feliz aniversário pra você.
- Obrigado, meu...
Quando nos separamos eu notei a minha excitação. Estava muito excitado e fiz de tudo para ele não perceber nada.
Ele estava com os olhos marejados e parecia feliz, mas ao mesmo tempo triste.
- Boa noite – falei e saí andando sem olhar pra trás.
Como eu fui irresponsável e idiota. Eu estava sendo um completo imbecil naquela situação toda. Daquele dia em diante eu ia tomar muito cuidado, muito cuidado mesmo. Eu não ia, de forma alguma, ceder aos caprichos da minha emoção. Daquele dia em diante eu só ia dar ouvidos a minha razão, ao meu cérebro. Ia fazer o possível e o impossível para não pensar mais no Bruno. Eu só queria saber se isso seria ou não seria possível.
Eu tinha que pensar era no Murilo. A gente já tinha voltado com o nosso namoro e eu fiz uma promessa a ele dizendo que nunca mais iria trocá-lo pelo Bruno. E essa sim seria uma promessa que deveria ser cumprida.
Pensei muito no garoto, muito mesmo. Tentei fazer de tudo para não deixar o Bruno na minha mente e fiz tanto esforço pra isso acontecer que acabei ficando com dor de cabeça novamente.
- Eu não vou pensar mais em você, Bruno Duarte. Eu não vou mais pensar em você!
Nesse momento eu quis até ficar com aminésia. Se eu perdesse a memória e esquecesse de tudo, o Bruno não faria mais parte da minha vida e tudo ficaria mais fácil. Mas infelizmente isso seria algo praticamente impossível de se conseguir.
ALGUNS DIAS DEPOIS...
Eu me olhei no espelho da academia e percebi as olheiras na minha face.
Naqueles últimos dias eu não estava tendo boas noites de sono e isso já estava
se refletindo no meu físico.
O motivo da insônia tinha nome, sobrenome e um par de olhos incrivelmente lindos e azuis. Prometi para mim mesmo que não ia mais pensar nele, mas não consegui cumprir a promessa.
Eu não entendia porquê o meu coração era tão mais forte que a minha razão. Deveria ser o contrário. Se o meu cérebro mandasse nos meus pensamentos, certamente eu já teria esquecido o meu ex-namorado. Por que isso não acontecia?
- Vamos lá, força nesses movimentos – Felipe me incentivou.
- ARGH – eu deixei os pesos caírem e senti um alívio imediato nos meus músculos do tórax e braços.
- Descansa! – mandou o instrutor.
Bebi um gole do meu suplemento alimentar e respirei fundo. Como dava trabalho ficar com o corpo em dia!
- Bora mais uma série?
- Vamos – reposicionei os meus braços na máquina e iniciei a 2ª série de repetições do exercício.
- Muito bom, muito bom – Felipe me elogiou.
- ARGH – deixei cair os pesos e uma gota de suor escorreu pelas minhas costas. – Como isso dói!
- Dói, né? Sinal que os músculos estão sendo trabalhados.
- O que eu faço agora?
- Vamos finalizar o treino com bike?
- Bike? – estranhei.
- Sim. Vamos dar uma aquecida e depois você estará liberado.
- Beleza. Você que manda!
Fiz o que o instrutor mandou e depois de 20 minutos eu já estava debaixo do chuveiro gelado.
Resolvi tomar uma ducha fria porque o calor no Rio naquele começo de tarde de quinta-feira estava simplesmente insuportável.
Deixei a água lavar todo o meu corpo e senti um relaxamento imensamente delicioso. Se eu pudesse, ficaria naquela ducha o resto do dia.
Bastou eu sair para um cara entrar na cabine onde eu estava. Ele estava peladão e me olhou nos olhos na hora que abandonei a ducha.
- Opa, valeu – falou ele.
Aquela olhadinha deixou o meu gaydar piscando. Ele só poderia ser do babado e o melhor de tudo era que ele era um gato...
Mas eu não podia dar trela. Eu namorava e tinha que ser fiel ao meu novinho. Ele gostava de mim e eu tinha que corresponder a esse sentimento. O difícil era gostar dele da mesma forma que ele gostava de mim.
- Temos um vampiro na filial? – perguntou Jonas.
- Por que diz isso? – já fiquei irritado.
- Por causa das suas olheiras. Não tem dormido bem?
- O pior é que não – suspirei.
- Problemas? É algo aqui na loja?
- Nada! Meu problema tem nome e sobrenome...
- Deixa eu adivinhar? É o ex-namorado?
- É ele mesmo. Mas enfim, melhor deixar isso pra lá.
- Se precisar de um ombro pra desabafar... Conta comigo.
- Valeu, Jonas. Alguma tarefa específica para mim hoje?
- Mesma rotina de sempre. Não esqueca de acompanhar os seus pedidos de montagem.
- Pode deixar.
Cumprimentei a Duda e os meus colegas. A última que eu fui falar foi a Janaína:
- Amiga – eu a abracei.
- Que cara de acabado é essa? Parece que você envelheceu uns 10 anos!
- Sério? – me preocupei. – Estou tão feio assim?
- Você já é feio por natureza, mas com essas olheiras aí...
- Porra, valeu Janaína Santos! Com uma amiga como você eu não preciso de inimigas!
- É brincadeira – a morena riu. – Está acontecendo alguma coisa?
- Não.
- Então qual o motivo dessas olheiras horríveis?
- Bruno da Silva Duarte. Isso é suficiente pra você?
- O que foi dessa vez? – minha best suspirou.
- Nada demais. Eu só tenho pensado muito nele.
- E até quando você vai ficar pensando? Quando você vai tomar uma atitude e conversar com ele pra colocar tudo em pratos limpos?
- Conversar com ele? Talvez no dia 30 de fevereiro de 5.874.
- Eu nem falo mais nada – a vendedora revirou os olhos. – Esse assunto me deixa estressada. Você é imaturo demais.
O motivo da insônia tinha nome, sobrenome e um par de olhos incrivelmente lindos e azuis. Prometi para mim mesmo que não ia mais pensar nele, mas não consegui cumprir a promessa.
Eu não entendia porquê o meu coração era tão mais forte que a minha razão. Deveria ser o contrário. Se o meu cérebro mandasse nos meus pensamentos, certamente eu já teria esquecido o meu ex-namorado. Por que isso não acontecia?
- Vamos lá, força nesses movimentos – Felipe me incentivou.
- ARGH – eu deixei os pesos caírem e senti um alívio imediato nos meus músculos do tórax e braços.
- Descansa! – mandou o instrutor.
Bebi um gole do meu suplemento alimentar e respirei fundo. Como dava trabalho ficar com o corpo em dia!
- Bora mais uma série?
- Vamos – reposicionei os meus braços na máquina e iniciei a 2ª série de repetições do exercício.
- Muito bom, muito bom – Felipe me elogiou.
- ARGH – deixei cair os pesos e uma gota de suor escorreu pelas minhas costas. – Como isso dói!
- Dói, né? Sinal que os músculos estão sendo trabalhados.
- O que eu faço agora?
- Vamos finalizar o treino com bike?
- Bike? – estranhei.
- Sim. Vamos dar uma aquecida e depois você estará liberado.
- Beleza. Você que manda!
Fiz o que o instrutor mandou e depois de 20 minutos eu já estava debaixo do chuveiro gelado.
Resolvi tomar uma ducha fria porque o calor no Rio naquele começo de tarde de quinta-feira estava simplesmente insuportável.
Deixei a água lavar todo o meu corpo e senti um relaxamento imensamente delicioso. Se eu pudesse, ficaria naquela ducha o resto do dia.
Bastou eu sair para um cara entrar na cabine onde eu estava. Ele estava peladão e me olhou nos olhos na hora que abandonei a ducha.
- Opa, valeu – falou ele.
Aquela olhadinha deixou o meu gaydar piscando. Ele só poderia ser do babado e o melhor de tudo era que ele era um gato...
Mas eu não podia dar trela. Eu namorava e tinha que ser fiel ao meu novinho. Ele gostava de mim e eu tinha que corresponder a esse sentimento. O difícil era gostar dele da mesma forma que ele gostava de mim.
- Temos um vampiro na filial? – perguntou Jonas.
- Por que diz isso? – já fiquei irritado.
- Por causa das suas olheiras. Não tem dormido bem?
- O pior é que não – suspirei.
- Problemas? É algo aqui na loja?
- Nada! Meu problema tem nome e sobrenome...
- Deixa eu adivinhar? É o ex-namorado?
- É ele mesmo. Mas enfim, melhor deixar isso pra lá.
- Se precisar de um ombro pra desabafar... Conta comigo.
- Valeu, Jonas. Alguma tarefa específica para mim hoje?
- Mesma rotina de sempre. Não esqueca de acompanhar os seus pedidos de montagem.
- Pode deixar.
Cumprimentei a Duda e os meus colegas. A última que eu fui falar foi a Janaína:
- Amiga – eu a abracei.
- Que cara de acabado é essa? Parece que você envelheceu uns 10 anos!
- Sério? – me preocupei. – Estou tão feio assim?
- Você já é feio por natureza, mas com essas olheiras aí...
- Porra, valeu Janaína Santos! Com uma amiga como você eu não preciso de inimigas!
- É brincadeira – a morena riu. – Está acontecendo alguma coisa?
- Não.
- Então qual o motivo dessas olheiras horríveis?
- Bruno da Silva Duarte. Isso é suficiente pra você?
- O que foi dessa vez? – minha best suspirou.
- Nada demais. Eu só tenho pensado muito nele.
- E até quando você vai ficar pensando? Quando você vai tomar uma atitude e conversar com ele pra colocar tudo em pratos limpos?
- Conversar com ele? Talvez no dia 30 de fevereiro de 5.874.
- Eu nem falo mais nada – a vendedora revirou os olhos. – Esse assunto me deixa estressada. Você é imaturo demais.
Murilo me puxou para um beijo e foi logo arrancando a minha roupa.
- Nossa, que apressadinho... – eu sorri.
- Preciso de você!
Quem me dera ele precisasse em um sentido mais amplo, mas eu tinha certeza que isso não ia acontecer.
E eu estava certo. Como sempre, não rolou nada mais a não ser sexo oral. Até quando ele ia ficar só nas preliminares?
- Posso fazer uma pergunta?
- O que foi, gatão? – ele deu um selinho nos meus lábios.
- Até quando a gente vai ficar só nas preliminares?
- Caio... Eu estou criando coragem...
- Ah... Então tá... – deixei o assunto morrer.
É claro que eu sabia que ele já tinha feito ativo, até mesmo porque o Vítor já tinha me contado isso, mas ele não podia saber que eu sabia. O jeito era deixar tudo acontecer naturalmente mesmo.
- Vamos viajar no final do ano? – ele perguntou.
- Viajar? Pra onde?
- Pra Angra.
- Angra dos Reis?
- Aham! Já foi lá?
- Não, mas tenho vontade.
- E aí, vamos?
- Só nós dois?
- Não, né. Toda a minha família vai pra lá.
- A sua família seria?
- Eu, minha mãe, meu pai, meus tios, meus primos e minha avó.
- Hã... E onde ficaríamos?
- Na casa dos meus tios.
- Hã... E esses seus tios são?
- Você quer saber se esses tios são os pais do Bruno?
- É... – confirmei.
- Sim. São eles mesmo.
- Então a minha resposta é não.
- Por quê?
- Porque eu simplesmente não posso estar no mesmo lugar que eles. Eu não quero me lembrar do Bruno!
- Para de bobagem, Caio!
- Não, não – eu balancei a cabeça negativamente. – Não vai rolar.
- Mas, Caio...
- Eu não vou. Por favor, não insista.
- O Bruno não vai estar lá...
- Mesmo assim. É a família dele e isso será suficiente para eu me lembrar de tudo o que aconteceu. Melhor não tocar mais nesse assunto.
- Você é que sabe. Mas que ia ser legal, ah isso ia!
- Nossa, que apressadinho... – eu sorri.
- Preciso de você!
Quem me dera ele precisasse em um sentido mais amplo, mas eu tinha certeza que isso não ia acontecer.
E eu estava certo. Como sempre, não rolou nada mais a não ser sexo oral. Até quando ele ia ficar só nas preliminares?
- Posso fazer uma pergunta?
- O que foi, gatão? – ele deu um selinho nos meus lábios.
- Até quando a gente vai ficar só nas preliminares?
- Caio... Eu estou criando coragem...
- Ah... Então tá... – deixei o assunto morrer.
É claro que eu sabia que ele já tinha feito ativo, até mesmo porque o Vítor já tinha me contado isso, mas ele não podia saber que eu sabia. O jeito era deixar tudo acontecer naturalmente mesmo.
- Vamos viajar no final do ano? – ele perguntou.
- Viajar? Pra onde?
- Pra Angra.
- Angra dos Reis?
- Aham! Já foi lá?
- Não, mas tenho vontade.
- E aí, vamos?
- Só nós dois?
- Não, né. Toda a minha família vai pra lá.
- A sua família seria?
- Eu, minha mãe, meu pai, meus tios, meus primos e minha avó.
- Hã... E onde ficaríamos?
- Na casa dos meus tios.
- Hã... E esses seus tios são?
- Você quer saber se esses tios são os pais do Bruno?
- É... – confirmei.
- Sim. São eles mesmo.
- Então a minha resposta é não.
- Por quê?
- Porque eu simplesmente não posso estar no mesmo lugar que eles. Eu não quero me lembrar do Bruno!
- Para de bobagem, Caio!
- Não, não – eu balancei a cabeça negativamente. – Não vai rolar.
- Mas, Caio...
- Eu não vou. Por favor, não insista.
- O Bruno não vai estar lá...
- Mesmo assim. É a família dele e isso será suficiente para eu me lembrar de tudo o que aconteceu. Melhor não tocar mais nesse assunto.
- Você é que sabe. Mas que ia ser legal, ah isso ia!
O movimento na loja estava imenso. Como o final de ano estava se
aproximando, houve um aumento considerável nas vendas, principalmente no meu
setor.
- A sua entrega será realizada no dia 17 de novembro em horário comercial – informei ao meu cliente.
- E a minha montagem?
- Ela ocorre de 3 à 5 dias úteis após a entrega, mas o senhor pode ligar no SAC para obter maiores informações.
- E quando eu ligo?
- No próprio dia da entrega, após às 18 horas.
- E qual o telefone?
- O telefone estará na nota fiscal. Agora eu vou pedir pro senhor dirigir-se ao crediário com esse papel e seus documentos para a impressão do seu carnê.
- Tudo bem. Muito obrigado, sim?
- Eu é que agradeço! Boa noite e volte sempre.
- Obrigado. Boa noite.
- Caio? – uma das vendedoras de som e imagem apareceu atrás de mim.
- OI, Do Carmo? – eu encarei a mulher.
A moça se chamava Maria do Carmo, mas nós a chamávamos carinhosamente de “Do Carmo”.
- Eu posso te fazer uma pergunta?
- Claro!
- Mas não é de cunho profissional, tem problema?
- Não... O que é?
- Você está passando por algum problema pessoal?
Por que ela estava me fazendo aquela pergunta?
- Não, por quê?!
- Serei sincera. Porque ultimamente eu tenho percebido você um pouco estressado demais.
- Ah... Isso é normal, né?
- A palavra não seria nem estressado, seria perturbado.
- Perturbado? Você está me achando perturbado?
- Estou. Você está com algum problema sentimental?
- Não! – menti. – Por quê?
- Você promete guardar segredo?
- Uhum – eu não estava entendendo nada.
- É que eu sou terapeuta holística e sensitiva. Eu sinto que você está com problemas e gostaria de te ajudar...
- Hã? – não entendi porcaria nenhuma.
- Qual a sua religião?
- Católico – cada vez eu ficava mais perdido no assunto.
- Você acredita em Tarô?
- Não e eu não estou entendendo nada do que você está me falando, Do Carmo – dei risada.
- Caio, eu sou terapeuta holística, sou sensitiva. Eu sinto as coisas ao meu redor e vejo uma energia muito densa em você... Você precisa de ajuda!
- Que energia? Que espécie de ajuda?
- Eu posso jogar o Tarô pra você para você ter um direcionamento. Você quer?
- Ah, Do Carmo – fiquei arrepiado. – Não acredito nessas coisas não...
- Não precisa acreditar. Faça uma consulta comigo que eu vou te ajudar com seus problemas sentimentais.
- Consulta? Você é médica?
- Não – a mulher riu. – Uma consulta com o Tarô ou com o Baralho Cigano.
- Ah, não... Valeu, Do Carmo, mas eu não acredito nessas coisas, de verdade.
- Bom o meu recado foi dado. Se você mudar de ideia, é só me procurar.
- Beleza... Valeu por se preocupar comigo.
- E pra você eu faço um desconto, viu? Metade do preço.
- Muito obrigado – eu ri –, mas não quero mesmo.
- Quando mudar de ideia é só me procurar.
- Do Carmo, eu vou atender os clientes, depois a gente conversa mais.
- Vou atender os meus também. Já sabe: é só me procurar.
- A sua entrega será realizada no dia 17 de novembro em horário comercial – informei ao meu cliente.
- E a minha montagem?
- Ela ocorre de 3 à 5 dias úteis após a entrega, mas o senhor pode ligar no SAC para obter maiores informações.
- E quando eu ligo?
- No próprio dia da entrega, após às 18 horas.
- E qual o telefone?
- O telefone estará na nota fiscal. Agora eu vou pedir pro senhor dirigir-se ao crediário com esse papel e seus documentos para a impressão do seu carnê.
- Tudo bem. Muito obrigado, sim?
- Eu é que agradeço! Boa noite e volte sempre.
- Obrigado. Boa noite.
- Caio? – uma das vendedoras de som e imagem apareceu atrás de mim.
- OI, Do Carmo? – eu encarei a mulher.
A moça se chamava Maria do Carmo, mas nós a chamávamos carinhosamente de “Do Carmo”.
- Eu posso te fazer uma pergunta?
- Claro!
- Mas não é de cunho profissional, tem problema?
- Não... O que é?
- Você está passando por algum problema pessoal?
Por que ela estava me fazendo aquela pergunta?
- Não, por quê?!
- Serei sincera. Porque ultimamente eu tenho percebido você um pouco estressado demais.
- Ah... Isso é normal, né?
- A palavra não seria nem estressado, seria perturbado.
- Perturbado? Você está me achando perturbado?
- Estou. Você está com algum problema sentimental?
- Não! – menti. – Por quê?
- Você promete guardar segredo?
- Uhum – eu não estava entendendo nada.
- É que eu sou terapeuta holística e sensitiva. Eu sinto que você está com problemas e gostaria de te ajudar...
- Hã? – não entendi porcaria nenhuma.
- Qual a sua religião?
- Católico – cada vez eu ficava mais perdido no assunto.
- Você acredita em Tarô?
- Não e eu não estou entendendo nada do que você está me falando, Do Carmo – dei risada.
- Caio, eu sou terapeuta holística, sou sensitiva. Eu sinto as coisas ao meu redor e vejo uma energia muito densa em você... Você precisa de ajuda!
- Que energia? Que espécie de ajuda?
- Eu posso jogar o Tarô pra você para você ter um direcionamento. Você quer?
- Ah, Do Carmo – fiquei arrepiado. – Não acredito nessas coisas não...
- Não precisa acreditar. Faça uma consulta comigo que eu vou te ajudar com seus problemas sentimentais.
- Consulta? Você é médica?
- Não – a mulher riu. – Uma consulta com o Tarô ou com o Baralho Cigano.
- Ah, não... Valeu, Do Carmo, mas eu não acredito nessas coisas, de verdade.
- Bom o meu recado foi dado. Se você mudar de ideia, é só me procurar.
- Beleza... Valeu por se preocupar comigo.
- E pra você eu faço um desconto, viu? Metade do preço.
- Muito obrigado – eu ri –, mas não quero mesmo.
- Quando mudar de ideia é só me procurar.
- Do Carmo, eu vou atender os clientes, depois a gente conversa mais.
- Vou atender os meus também. Já sabe: é só me procurar.
- Já podemos ir? – perguntou Jonas.
- Estou terminando de me trocar – falei.
- Então anda logo.
O meu gerente sempre entrava no mesmo banheiro e sempre fazia xixi com a porta aberta, mas sempre ficava de costas e eu nunca conseguia ver nada.
A única vez que eu vi alguma coisa foi no dia em que ele ficou com o zíper da calça aberta, mas eu não vi muita coisa. Só um monte de pelos pretos por todos os lados.
- Cadê o Kléber? – Jonas saiu e lavou as mãos.
- Hoje ele não vai com a gente, hoje ele vai sair com não sei quem.
- Hum... Namorada nova no pedaço?
O certo seria namorado, mas acho que o Jonas não sabia da homossexualidade do cara.
- Acho que deve ser isso – lavei o meu rosto várias vezes.
- Eu te espero lá fora, beleza?
- Combinado.
Continuei me arrumando sem pressa e um pouco antes de sair do vestiário, dei de cara com o Gabriel:
- E aí, Gabo? – dei um tapa no ombro do gostosão. – E as suas filhas como estão?
- Lindas como o pai – o moleque riu.
- E as mães? Já estão se dando bem?
- Elas se odeiam, se ofendem e não se suportam.
- Posso ser indiscreto?
- Pode.
- Você está com uma das duas?
- Não – ele respondeu de imediato. – Não estou com nenhuma das duas.
- E está com outra?
- Não também. Estou solteirinho.
- Cuidado, hein Gabo? Não vai arrumar mais filho por aí...
- Vou nada, cara – o menino suspirou. – Agora eu só faço com o júnior encapado.
Nós dois demos risada, nos despedimos e eu saí do vestiário. Qualquer dia eu ia querer conhecer as meninas de perto. Elas eram umas gracinhas.
- Vamos? – perguntou Jonas.
- Vamos sim – bocejei.
- Já está conseguindo dormir melhor?
- Já sim. Nada como a exaustão para nos fazer dormir.
- Isso é uma grande verdade.
Enquanto eu estava no caminho pra casa, fiquei pensando no que a Do Carmo me disse. Como ela tinha noção que eu estava passando por problemas sentimentais? Será que ela era uma espécie de vidente ou qualquer coisa do tipo?
Obviamente eu não ia aceitar o convite que ela me fez. Nunca fui o tipo de cara que acreditava em coisas místicas ou o que quer que fosse. Eu me achava até cético demais com relação a esses assuntos.
- Você vai querer trabalhar no feriado do dia 15 não é? – meu gerente me desviou dos meus pensamentos.
- Quero. Claro que eu quero.
- Então amanhã eu coloco o seu nome na lista. E os domingos também?
- Os domingos também.
- Só falta mais 1 pra você completar sua cota de 5 folgas, hein? Já vai programando os dias aí.
- Vou deixar para a semana de provas na faculdade.
- E quando vai ser? – Jonas parou no semáfaro.
- Vai ser na última semana do mês.
- O ano já acabou, hein?
- Verdade – concordei. – Parece que foi ontem que ele começou e já está acabando de novo.
- E assim nós vamos vivendo.
- E assim nós vamos vivendo – concordei com o meu patrão.
- Estou terminando de me trocar – falei.
- Então anda logo.
O meu gerente sempre entrava no mesmo banheiro e sempre fazia xixi com a porta aberta, mas sempre ficava de costas e eu nunca conseguia ver nada.
A única vez que eu vi alguma coisa foi no dia em que ele ficou com o zíper da calça aberta, mas eu não vi muita coisa. Só um monte de pelos pretos por todos os lados.
- Cadê o Kléber? – Jonas saiu e lavou as mãos.
- Hoje ele não vai com a gente, hoje ele vai sair com não sei quem.
- Hum... Namorada nova no pedaço?
O certo seria namorado, mas acho que o Jonas não sabia da homossexualidade do cara.
- Acho que deve ser isso – lavei o meu rosto várias vezes.
- Eu te espero lá fora, beleza?
- Combinado.
Continuei me arrumando sem pressa e um pouco antes de sair do vestiário, dei de cara com o Gabriel:
- E aí, Gabo? – dei um tapa no ombro do gostosão. – E as suas filhas como estão?
- Lindas como o pai – o moleque riu.
- E as mães? Já estão se dando bem?
- Elas se odeiam, se ofendem e não se suportam.
- Posso ser indiscreto?
- Pode.
- Você está com uma das duas?
- Não – ele respondeu de imediato. – Não estou com nenhuma das duas.
- E está com outra?
- Não também. Estou solteirinho.
- Cuidado, hein Gabo? Não vai arrumar mais filho por aí...
- Vou nada, cara – o menino suspirou. – Agora eu só faço com o júnior encapado.
Nós dois demos risada, nos despedimos e eu saí do vestiário. Qualquer dia eu ia querer conhecer as meninas de perto. Elas eram umas gracinhas.
- Vamos? – perguntou Jonas.
- Vamos sim – bocejei.
- Já está conseguindo dormir melhor?
- Já sim. Nada como a exaustão para nos fazer dormir.
- Isso é uma grande verdade.
Enquanto eu estava no caminho pra casa, fiquei pensando no que a Do Carmo me disse. Como ela tinha noção que eu estava passando por problemas sentimentais? Será que ela era uma espécie de vidente ou qualquer coisa do tipo?
Obviamente eu não ia aceitar o convite que ela me fez. Nunca fui o tipo de cara que acreditava em coisas místicas ou o que quer que fosse. Eu me achava até cético demais com relação a esses assuntos.
- Você vai querer trabalhar no feriado do dia 15 não é? – meu gerente me desviou dos meus pensamentos.
- Quero. Claro que eu quero.
- Então amanhã eu coloco o seu nome na lista. E os domingos também?
- Os domingos também.
- Só falta mais 1 pra você completar sua cota de 5 folgas, hein? Já vai programando os dias aí.
- Vou deixar para a semana de provas na faculdade.
- E quando vai ser? – Jonas parou no semáfaro.
- Vai ser na última semana do mês.
- O ano já acabou, hein?
- Verdade – concordei. – Parece que foi ontem que ele começou e já está acabando de novo.
- E assim nós vamos vivendo.
- E assim nós vamos vivendo – concordei com o meu patrão.
Receber telefonemas do Bruno já não era algo tão constante na minha vida,
mas de vez em quando isso ainda acontecia:
- Vamos nos ver? – ele insistiu no assunto.
- Não – fui fiel ao meu pensamento.
- Por favor? O que custa?
- Pra mim custa muito. Não quero perder o meu tempo com você. Ele é precioso demais pra ser gasto com algo tão...
- Tão o quê?
- Pequeno – eu mudei a palavra.
- Só dessa vez?
- Nem pensar. Aliás, isso me faz lembrar que você prometeu me deixar em paz. Está na hora de cumprir a sua promessa.
- Vou carregar esse pecado nas costas, porque eu não vou te deixar em paz. Eu te amo, eu te amo demais e eu não vou desistir de ter o seu perdão.
- Bruno, eu não vou te perdoar!
- Vai sim. Eu sei que vai. Eu tenho certeza disso. É só dar tempo ao tempo.
- Não. Nem que se passem 1 milhão de anos eu te perdoarei.
- Eu já te expliquei o que aconteceu, não foi?
- Explicar você até explicou, mas eu não acreditei. Essa que é a verdade.
- Beleza. Eu tenho como provar que estou falando a verdade.
- Tem? E como?
- Basta você falar com os meus sobrinhos e a minha cunhada. Eles vão te confirmar tudo o que eu te falei.
- Sua cunhada? – dei risada. – Seus sobrinhos? Ah, me conta outra... Eles no mínimo serão comprados por você!
- Assim você me ofende, Caio!
- Ofendo é? – continuei rindo. – Pouco me importa. Você que me ligou, eu não pedi pra você fazer isso. Se quiser desliga. Os incomodados que se mudem.
- Uma hora você me trata bem, outra hora você me trata mal... Está sofrendo de transtorno bipolar?
- Eu te trato mal porque é isso que você merece. A minha vontade é de te socar todas as vezes em que eu te encontro.
- Uhum – foi a vez do Bruno rir. – Lembro bem dos socos que você me deu na boate naquela noite.
- Eu não sabia que era você! Não sabia, porque se eu soubesse... Nunca teria ficado com você, entendeu? Nunca!
- Faz assim, Caio: você finge que isso é verdade e eu finjo que acredito. Está bom assim?
- Você se sente demais, não é, garoto?
- Não, não é isso. É só olhar nos seus olhos pra perceber que você ainda sente algo por mim.
- Aí você foi longe demais. Eu sinto mesmo algo por você: nojo. Nojo e ódio.
- Vamos ou não vamos nos encontrar?
- Não vamos – falei de novo.
- Vamos sim. Eu não desligo enquanto você não topar.
- Não desliga é? – comecei a ficar irritado. – Pois muito bem, desligo eu!
Apertei o botão vermelho do celular propositalmente. É claro que ele não deixou barato e voltou a me ligar, mas eu não atendi.
Contudo, o menino insistiu e insistiu muito. O meu celular não parou de se esguelar um segundo sequer e eu fui obrigado a desligar o aparelho. Só dessa forma ele ia me deixar em paz.
Bastou fazer isso e o telefone da minha casa começou a tocar. Eu esperava que fosse qualquer pessoa, menos o Bruno:
- Alô? – atendi.
- Esqueceu que eu tenho o telefone da sua casa?
Gelei.
- ME DEEEEEEEIXA EM PAAAAAAAAAAZ, BRUUUUUNO! CARALHO, VOCÊ É MUITO CHATO!
- Não te deixo não. Eu quero te ver e eu vou te ver. Quando a gente pode se encontrar?
- NUNCA, INFELIZ! NUNCA!
- Não tem problema, eu espero. Mais cedo ou mais tarde você vai ter que aceitar o meu convite.
- Eu não sou obrigado a fazer isso, desgraçado!
- Pode xingar, eu não ligo mais. Quando a gente se vê?
- Dia 31 de fevereiro – bati o telefone na cara do garoto e em seguida tirei o fio da parede. Daquela forma ele não ia me incomodar mais.
E não incomodou mesmo, mas não incomodou porque eu desliguei o celular e o telefone fixo. Só assim eu consegui ter paz para estudar um pouco.
Porém as matérias não entravam na minha cabeça. Por mais que eu tentesse, por mais que eu lesse os livros, nada entrava na minha mente e a culpa era toda dele.
Várias horas passaram e eu não consegui finalizar nenhum capítulo do livro do Profº Chong. Se eu continuasse daquele jeito, ia me dar muito mal em todas as provas.
Quando anoiteceu e os meninos voltaram para casa, logo eles perceberam que o telefone estava sem fio:
- Caio por que o telefone está sem o fio? – perguntou éverton.
- Porque eu precisei desligar.
- Por quê?
- Por motivos particulares.
- Motivos particulares? Que frescura é essa? E se alguém da minha família me ligou?
- Frescura nada... Você não sabe o que aconteceu, então não fica falando besteira!
- Então fala o que aconteceu, porra. E se minha mãe ligou? E se meu filho ligou?
- Você tem celular não tem? Eles podem ligar no seu celular. Agora me deixa em paz que eu preciso estudar.
O nanico saiu falando sozinho e eu ouvi algo como “viado” saindo da boca dele. Não ia demorar muito para eu falar umas verdades praquele garoto idiota!
- Vamos nos ver? – ele insistiu no assunto.
- Não – fui fiel ao meu pensamento.
- Por favor? O que custa?
- Pra mim custa muito. Não quero perder o meu tempo com você. Ele é precioso demais pra ser gasto com algo tão...
- Tão o quê?
- Pequeno – eu mudei a palavra.
- Só dessa vez?
- Nem pensar. Aliás, isso me faz lembrar que você prometeu me deixar em paz. Está na hora de cumprir a sua promessa.
- Vou carregar esse pecado nas costas, porque eu não vou te deixar em paz. Eu te amo, eu te amo demais e eu não vou desistir de ter o seu perdão.
- Bruno, eu não vou te perdoar!
- Vai sim. Eu sei que vai. Eu tenho certeza disso. É só dar tempo ao tempo.
- Não. Nem que se passem 1 milhão de anos eu te perdoarei.
- Eu já te expliquei o que aconteceu, não foi?
- Explicar você até explicou, mas eu não acreditei. Essa que é a verdade.
- Beleza. Eu tenho como provar que estou falando a verdade.
- Tem? E como?
- Basta você falar com os meus sobrinhos e a minha cunhada. Eles vão te confirmar tudo o que eu te falei.
- Sua cunhada? – dei risada. – Seus sobrinhos? Ah, me conta outra... Eles no mínimo serão comprados por você!
- Assim você me ofende, Caio!
- Ofendo é? – continuei rindo. – Pouco me importa. Você que me ligou, eu não pedi pra você fazer isso. Se quiser desliga. Os incomodados que se mudem.
- Uma hora você me trata bem, outra hora você me trata mal... Está sofrendo de transtorno bipolar?
- Eu te trato mal porque é isso que você merece. A minha vontade é de te socar todas as vezes em que eu te encontro.
- Uhum – foi a vez do Bruno rir. – Lembro bem dos socos que você me deu na boate naquela noite.
- Eu não sabia que era você! Não sabia, porque se eu soubesse... Nunca teria ficado com você, entendeu? Nunca!
- Faz assim, Caio: você finge que isso é verdade e eu finjo que acredito. Está bom assim?
- Você se sente demais, não é, garoto?
- Não, não é isso. É só olhar nos seus olhos pra perceber que você ainda sente algo por mim.
- Aí você foi longe demais. Eu sinto mesmo algo por você: nojo. Nojo e ódio.
- Vamos ou não vamos nos encontrar?
- Não vamos – falei de novo.
- Vamos sim. Eu não desligo enquanto você não topar.
- Não desliga é? – comecei a ficar irritado. – Pois muito bem, desligo eu!
Apertei o botão vermelho do celular propositalmente. É claro que ele não deixou barato e voltou a me ligar, mas eu não atendi.
Contudo, o menino insistiu e insistiu muito. O meu celular não parou de se esguelar um segundo sequer e eu fui obrigado a desligar o aparelho. Só dessa forma ele ia me deixar em paz.
Bastou fazer isso e o telefone da minha casa começou a tocar. Eu esperava que fosse qualquer pessoa, menos o Bruno:
- Alô? – atendi.
- Esqueceu que eu tenho o telefone da sua casa?
Gelei.
- ME DEEEEEEEIXA EM PAAAAAAAAAAZ, BRUUUUUNO! CARALHO, VOCÊ É MUITO CHATO!
- Não te deixo não. Eu quero te ver e eu vou te ver. Quando a gente pode se encontrar?
- NUNCA, INFELIZ! NUNCA!
- Não tem problema, eu espero. Mais cedo ou mais tarde você vai ter que aceitar o meu convite.
- Eu não sou obrigado a fazer isso, desgraçado!
- Pode xingar, eu não ligo mais. Quando a gente se vê?
- Dia 31 de fevereiro – bati o telefone na cara do garoto e em seguida tirei o fio da parede. Daquela forma ele não ia me incomodar mais.
E não incomodou mesmo, mas não incomodou porque eu desliguei o celular e o telefone fixo. Só assim eu consegui ter paz para estudar um pouco.
Porém as matérias não entravam na minha cabeça. Por mais que eu tentesse, por mais que eu lesse os livros, nada entrava na minha mente e a culpa era toda dele.
Várias horas passaram e eu não consegui finalizar nenhum capítulo do livro do Profº Chong. Se eu continuasse daquele jeito, ia me dar muito mal em todas as provas.
Quando anoiteceu e os meninos voltaram para casa, logo eles perceberam que o telefone estava sem fio:
- Caio por que o telefone está sem o fio? – perguntou éverton.
- Porque eu precisei desligar.
- Por quê?
- Por motivos particulares.
- Motivos particulares? Que frescura é essa? E se alguém da minha família me ligou?
- Frescura nada... Você não sabe o que aconteceu, então não fica falando besteira!
- Então fala o que aconteceu, porra. E se minha mãe ligou? E se meu filho ligou?
- Você tem celular não tem? Eles podem ligar no seu celular. Agora me deixa em paz que eu preciso estudar.
O nanico saiu falando sozinho e eu ouvi algo como “viado” saindo da boca dele. Não ia demorar muito para eu falar umas verdades praquele garoto idiota!
NO DIA SEGUINTE...
Só fiz ligar meu aparelho e recebi várias mensagens do Bruno. Nem terminei
de ler as mensagens e ele já voltou a me ligar:
- O que é, Bruno? O que é? Porra, me deixa em paz, caralho!
- Vamos nos ver?
- NÃO!
- Por favor?
- Será que eu vou ter que trocar o meu número de novo?
- Troca. Eu descubro!
- Não sabia que você era agente do SIA, Bruno.
- Eu não desito tão facilmente, já percebeu isso?
- Já, já percebi. Será que você não entende que eu não quero falar com você? É difícil de entender isso?
- Sim é difícil sim, porque eu sei que no fundo você quer conversar comigo sim. Pode ser hoje à noite?
- Não, não pode!
- Eu vou te buscar no trabalho, tá bom?
- Não, não vem não! Eu não vou sair com você.
- Vai sim. Você sai às 22 não é isso?
- Bruno, eu to falando sério... Não é pra vir aqui no shopping!
- Vai me proibir de ir ao shopping agora? Você não é o dono do Barra Shopping e muito menos dono das minhas vontades. Eu te pego às 22 horas, boa tarde.
Foi a vez dele desligar. Eu passei a manhã toda com o aparelho desligado e quando liguei ainda fui obrigado a ouvir tudo aquilo. Era demais para minha cabeça...
- O que é, Bruno? O que é? Porra, me deixa em paz, caralho!
- Vamos nos ver?
- NÃO!
- Por favor?
- Será que eu vou ter que trocar o meu número de novo?
- Troca. Eu descubro!
- Não sabia que você era agente do SIA, Bruno.
- Eu não desito tão facilmente, já percebeu isso?
- Já, já percebi. Será que você não entende que eu não quero falar com você? É difícil de entender isso?
- Sim é difícil sim, porque eu sei que no fundo você quer conversar comigo sim. Pode ser hoje à noite?
- Não, não pode!
- Eu vou te buscar no trabalho, tá bom?
- Não, não vem não! Eu não vou sair com você.
- Vai sim. Você sai às 22 não é isso?
- Bruno, eu to falando sério... Não é pra vir aqui no shopping!
- Vai me proibir de ir ao shopping agora? Você não é o dono do Barra Shopping e muito menos dono das minhas vontades. Eu te pego às 22 horas, boa tarde.
Foi a vez dele desligar. Eu passei a manhã toda com o aparelho desligado e quando liguei ainda fui obrigado a ouvir tudo aquilo. Era demais para minha cabeça...
- Caio e Kléber, hoje eu vou sair e não poderei
levá-los, tudo bem? – Jonas mostrou-se preocupado conosco.
- Sem problemas, chefe – Kléber respondeu por nós dois.
- Boa saída – eu o incentivei.
Voltar de ônibus seria cansativo. Eu já estava mais que acostumado a voltar pra casa de carro. Só voltava de ônibus uma vez por semana, mas mesmo assim eu não gostava.
- Eu te espero lá fora – falou Kléber.
- Beleza – continuei me arrumando.
Nem sequer lembrei do telefonema do Bruno. Eu tive um dia tão turbulento na loja que esqueci até de pensar nele. Pelo menos o trabalho me distraía...
Mas bastou sair para lembrar que ele disse que ia me buscar. E foi mesmo. O meu ex estava perto da entrada da loja, usando uma regata branca, uma bermuda preta e um boné da mesma cor. Lindo por demais da conta.
- Boa noite – ele foi falar comigo.
- Estava boa até agora – fiz cara feia e bufei.
- Eu disse que viria te buscar.
- Vamos, Caio? – Kléber me chamou.
- Vamos, Kléber – eu saí andando.
- Não, não vai não – Bruno me puxou pela mochila. – Você vai comigo!
- Não vou pra lugar nenhum com você, garoto! – me soltei e continuei andando.
- Nós vamos conversar e vamos conversar agora! – Bruno estava muito decidido e me puxou de novo.
- Você vem ou não, Caio?
- Claro que vou, Kléber...
- Não ele não vai! Ele fica. Pode ir embora.
- Então tá – meu amigo deu de ombros e desceu as escadas rolantes.
- KLÉBER...
- Vamos pro meu apartamento. Eu quero falar com você.
- Mas eu não quero falar com você, Bruno!
- Quer sim e eu sei muito bem disso. Vamos logo!
- Você não é dono das minhas vontades – refiz a frase que ele me disse mais cedo. – E você não manda em mim!
- Mas você manda em você, então vamos logo conversar e colocar um ponto final nessa discussão.
- Ponto final? – eu vi uma luz no fim do túnel. – Você quer dizer que se eu for conversar com você essa história vai ter um ponto final?
- Vai. Vamos logo?
- Eu só vou porque você disse que vai ter um ponto final!
Na minha cabeça, ele quis dizer que a nossa história finalmente acabaria. E foi pensando nisso que eu topei conversar com aquele garoto. Ele ia ter que cumprir aquela promessa.
- Podemos conversar aqui mesmo – falei.
- Não. Nós vamos pro meu apartamento.
- Eu não sei se é uma boa ideia.
- Por que? Tem medo de querer ficar comigo?
Fiquei calado, engoli em seco e depois de alguns segundos dei risada.
- Claro que não. Isso nunca vai acontecer!
- Então qual o seu medo? Eu não vou fazer nada contra você, fique tranquilo.
- Você não seria capaz.
- Não seria mesmo. Nunca vou erguer um dedo contra você. Já você... Não pode dizer a mesma coisa, não é?
Fiquei sem resposta e com muita vergonha. Ele tinha razão. Eu não poderia dizer que não ergueria um dedo contra ele, porque eu poderia fazer muito mais que aquilo.
- Vem, Caio – Bruno suspirou e começou a andar na minha frente. – O meu carro está no estacionamento.
- CARRO? – fiquei simplesmente estupefato.
- Uhum. Qual o espanto? Não posso ter um carro?
- Não é isso... Eu só fiquei surpreso.
- Isso é uma história que eu te conto daqui a pouco – ele me puxou pela mão. – Vamos logo.
- Eu posso andar sozinho, me solta.
A cada passo que ele dava eu sentia o perfume invadindo o meu nariz. Era o mesmo de sempre... Era o perfume mais gostoso que eu conhecia...
Quando vi o Celta preto do Bruno quase caí pra trás. Era lindo, lindo demais. Eu nunca poderia imaginar que o meu ex tivesse um carro como aquele. E parecia ser 0 km.
- É 0 km? – perguntei.
- Não. Entra aí – ele destravou as portas.
Fiquei receoso.
- Entra logo!
Mas entrei. Entrei e coloquei o cinto. Será que ele dirigia bem?
A resposta foi um belo SIM. Confesso que fiquei curioso em saber há quanto tempo ele tinha aquele carro e há quanto tempo ele estava dirigindo.
- Eu tirei a minha carta faz 2 meses e eu comprei esse carro ontem. Você é a primeira pessoa que anda nele. Além de mim, é claro.
- Está ganhando bem, hein?
- Não é questão disso. Eu comprei com o restinho da herança que recebi do meu pai.
- Herança? – achei aquilo estranho.
- É. Esqueceu que eu descobri que o meu pai morreu? Quando fiz 18 anos tive acesso aos bens que ele me deixou. Juntando tudo eu consegui comprar o meu apartamento e o meu carro, mas também não sobrou mais nenhum centavo.
- Desculpa aí se sua família é rica.
- A gente não é rico, Caio – Bruno deu risada. – Só meu pai que era, mas depois que ele morreu ninguém é mais. Os bens foram divididos igualmente entre todos os filhos e não deu uma grana muito alta não.
- Aham, to vendo. Comprou um carro e um apartamento no Recreio e não é grana alta.
- E eu disse que paguei tudo? Só dei a entrada em ambos. Estou pagando as prestações com meu salário.
- Falando nisso – eu me arrumei no banco do carro. – Fiquei perplexo com essa história de você ser condutor no Metrô Rio.
- Pois é. Sou sim.
- Deus me livre de pegar um metrô com você guiando.
- Sou bom nisso, rapaz – ele riu. – Qualquer dia desses eu te levo pra andar comigo.
- Quero não, obrigado. Eu tenho amor à minha vida.
- Rá, rá, rá muito engraçado.
A surpresa pelo carro foi tanta que eu não fiz outra coisa a não ser prestar atenção no Bruno enquanto ele dirigia. O menino era muito concentrado, muito atento e fazia as coisas bem direitinho. Quem diria que um dia eu iria vê-lo com um carro?
- Entra, Caio – ele abriu a porta do apartamento. – Fica à vontade.
- Valeu.
Entrei e percebi que tudo estava igualzinho à última vez que pisei ali.
- Quer um suco? Água? Drinque?
- Não quero nada. Fala logo o que você tem pra me falar.
- Senta. Coloca a mochila num canto aí... Relaxa!
- Eu quero que você me fale logo o que você tem pra me falar porque eu preciso ir embora. Amanhã eu acordo cedo e tenho prova na faculdade. Eu nem deveria estar aqui.
- Você está fazendo qual curso na facul?
- RH.
- Bacana. Eu estou fazendo um curso pra virar peão de montadora. Dá muito dinheiro.
- Acho que não foi pra isso que você me chamou, Bruno. O que você quer me falar? A mesma ladainha de sempre?
- Não é ladainha. É a mais pura verdade. Quer que eu repita tudo?
- Quero! – cruzei meus braços e fiquei só ouvindo.
Ele repetiu tintim por tintim e eu só pedi para ele repetir a mesma história para ver se ele entrava em contradição, mas isso não aconteceu.
- ... e então eu fui obrigado a sair do país.
- Eu não sei te explicar o motivo, mas isso não me parece ser verdade.
- Mas é – ele me garantiu. – É a mais pura verdade.
- Então vamos aos fatos – eu bufei.
- Que fatos?
- Por que não me contou que estava sofrendo chantagem por parte do seu pai?
- Porque eu não quis te preocupar com isso...
- Ah, é? Boa resposta. E a aliança? Por que pediu pro Vítor me entregar a porcaria da aliança?
- Porque foi a minha única alternativa.
- Sua única alternativa... Legal... E por que ela estava impecável? Sem nenhum arranhão e brilhando como se fosse nova? Por acaso você não a usava?
- Usava sim! É claro que eu usava... Eu só tomei cuidado com ela e limpei a prata todos os dias...
- Acredito... E o Léo? Por que me traiu com o Léo?
- Porque fui fraco – nesse momento ele abaixou a cabeça. – Porque eu fui um idiota!
- VOCÊ NÃO FOI UM IDIOTA, BRUNO! VOCÊ É UM IDIOTA! – eu fiquei puto da vida.
- Eu te disse que naquele dia eu estava...
- Drogado! Essa é a resposta... Você estava drogado! Você usava drogas, seu infeliz!!!
- Isso não é verdade! Eu não usava drogas, eu usei uma vez só e por causa da pressão que eu sofria na minha casa!
- Isso não justifica seu erro!
- Eu sei que não justifica, mas eu era fraco! Eu era fraco, Caio! Eu errei, ME PERDOA!
- Não te perdoo porcaria nenhuma! Você me magoou, você quase colocou um ponto final na minha vida, você me machucou... E agora vem com essas historinhas? EU NÃO ACREDITO EM VOCÊ!
- MAS É A VERDADE!
- É a SUA verdade. E eu não acredito nela.
- Não acredita por que? Não acredita por que? Qual é a SUA verdade?
- A minha verdade é bem diferente da sua... Você saiu do país porque quis!
- NÃO! EU NÃO QUERIA TER IDO EMBORA!
- MAS FOI!
- FUI PORQUE NÃO TINHA ALTERNATIVA!
- AH... – eu levantei do sofá e comecei a andar por todos os lados. – JÁ ESTÁ MUDANDO A VERSÃO DOS FATOS!
- NÃO ESTOU MUDANDO NADA, CAIO – ele andou até onde eu estava. – Não estou mudando nada!
- Está sim! Você acabou de falar que não teve alternativa! ENTÃO VOCÊ FOI PORQUE VOCÊ QUIS!
- NÃO FUI! VOCÊ TEM NOÇÃO DO QUE É SER OBRIGADO A FAZER O QUE NÃO QUER? VOCÊ TEM NOÇÃO DISSO?
- Tenho noção sim – minha garganta embargou. – Esqueceu que eu fui expulso de casa?
- Não, não esqueci. E é justamente por isso que eu pensei que você iria me entender.
- Entender o quê, Bruno? Você tinha alternativas! Você poderia ter me falado, poderia ter me contado a verdade... EU teria te ajudado, EU!
- Eu tinha medo, Caio... Eu tinha medo de você não acreditar em mim!
- Do mesmo jeito que eu não acredito agora, Bruno.
- Justamente por isso que não te contei nada... Eu te amava demais e eu não queria fazer você sofrer...
- Mas você fez. Você me fez sofrer demais...
- Mas... – ele começou a chorar. – Eu não queria que isso tivesse acontecido...
- Você já percebeu que você faz tudo errado? Já percebeu que você não faz nada certo? Primeiro você me trai com meu melhor amigo... Depois me esconde a verdade e simplesmente foge do país...
- EU NÃO FUGI DO PAÍS – ele urrou e as lágrimas caíram sem parar.
- MAS FOI ISSO QUE ME PARECEU! – foi a minha vez de soltar o choro.
- Me escuta... Me escuta... – ele foi até mim e segurou na minha cintura. – Eu te amo... Eu te amo tento...
- Me solta!
- Eu te amo muito, Caio... Acredita em mim, por favor...
- Me solta, Bruno! – as minhas lágrimas continuaram caindo.
- Me perdoa, Caio... Me perdoa, por favor?
- Não! Eu não vou te perdoar. Eu quero colocar um ponto final nisso tudo!
- NÃO, POR FAVOR... ME PERDOA!
- Não vou te perdoar... Não vou! – continuei chorando e me soltei.
Dei dois ou três passos e senti as mãos dele segurarem novamente na minha cintura.
- ME SOLTA!
Bruno me puxou com muita força e com rapidez e maestria, me jogou com vontade contra a parede. Eu fiquei morrendo de ódio e poucos segundos depois, senti os lábios dele tocarem os meus.
Tentei gritar um “ME SOLTA”, bati várias e várias vezes com a minha mão esquerda no peito dele, mas de repente, a minha força de exauriu e a minha mão ficou parada no meio daquele tórax.
Nesse mesmo instante, a minha outra mão voou até a nuca do meu ex-namorado e meu penis começou a criar vida. Eu não podia lutar contra aquele beijo. O Bruno soube me pegar com vontade!
Senti meu pênis crescer cada vez mais. A onda elétrica de 220 volts percorreu todo o meu corpo, eu senti as minhas pernas ficarem mortas e o meu coração explodir de tanta emoção.
Nós dois ainda estávamos chorando e as nossas lágrimas já estavam misturadas em nossos rostos. Eu não sabia mais quem era eu, não sabia mais o que estava fazendo e não sabia mais onde eu estava. Naquele momento só existia o Bruno e eu.
Ele começou a andar e me empurrou lentamente por dentro do apartamento. Eu não sabia o que ele queria e nem para onde ele estava me levando, por isso, parei e prendi as minhas pernas com toda a minha força, porém de nada adiantou.
Sem cessar o beijo, Bruno passou um dos braços por trás dos meus joelhos, me pegou no colo e quando eu menos esperei, ele me jogou em cima de sua cama.
O cara ficou por cima de mim e não parou de me beijar um segundo sequer. Eu não queria que nada acontecesse entre nós dois e eu precisava ser forte.
- Nã-não – falei no meio do beijo.
- Não fala nada – ele interrompeu o nosso beijo e olhou nos meus olhos. – E deixa acontecer!
Puxei o Bruno para outro beijo. Eu não tinha mais como lutar. Eu queria que aquilo acontecesse, eu estava rendido e não iria ser os meus pensamentos idiotas que iriam interromper o que estava para acontecer.
- Sem problemas, chefe – Kléber respondeu por nós dois.
- Boa saída – eu o incentivei.
Voltar de ônibus seria cansativo. Eu já estava mais que acostumado a voltar pra casa de carro. Só voltava de ônibus uma vez por semana, mas mesmo assim eu não gostava.
- Eu te espero lá fora – falou Kléber.
- Beleza – continuei me arrumando.
Nem sequer lembrei do telefonema do Bruno. Eu tive um dia tão turbulento na loja que esqueci até de pensar nele. Pelo menos o trabalho me distraía...
Mas bastou sair para lembrar que ele disse que ia me buscar. E foi mesmo. O meu ex estava perto da entrada da loja, usando uma regata branca, uma bermuda preta e um boné da mesma cor. Lindo por demais da conta.
- Boa noite – ele foi falar comigo.
- Estava boa até agora – fiz cara feia e bufei.
- Eu disse que viria te buscar.
- Vamos, Caio? – Kléber me chamou.
- Vamos, Kléber – eu saí andando.
- Não, não vai não – Bruno me puxou pela mochila. – Você vai comigo!
- Não vou pra lugar nenhum com você, garoto! – me soltei e continuei andando.
- Nós vamos conversar e vamos conversar agora! – Bruno estava muito decidido e me puxou de novo.
- Você vem ou não, Caio?
- Claro que vou, Kléber...
- Não ele não vai! Ele fica. Pode ir embora.
- Então tá – meu amigo deu de ombros e desceu as escadas rolantes.
- KLÉBER...
- Vamos pro meu apartamento. Eu quero falar com você.
- Mas eu não quero falar com você, Bruno!
- Quer sim e eu sei muito bem disso. Vamos logo!
- Você não é dono das minhas vontades – refiz a frase que ele me disse mais cedo. – E você não manda em mim!
- Mas você manda em você, então vamos logo conversar e colocar um ponto final nessa discussão.
- Ponto final? – eu vi uma luz no fim do túnel. – Você quer dizer que se eu for conversar com você essa história vai ter um ponto final?
- Vai. Vamos logo?
- Eu só vou porque você disse que vai ter um ponto final!
Na minha cabeça, ele quis dizer que a nossa história finalmente acabaria. E foi pensando nisso que eu topei conversar com aquele garoto. Ele ia ter que cumprir aquela promessa.
- Podemos conversar aqui mesmo – falei.
- Não. Nós vamos pro meu apartamento.
- Eu não sei se é uma boa ideia.
- Por que? Tem medo de querer ficar comigo?
Fiquei calado, engoli em seco e depois de alguns segundos dei risada.
- Claro que não. Isso nunca vai acontecer!
- Então qual o seu medo? Eu não vou fazer nada contra você, fique tranquilo.
- Você não seria capaz.
- Não seria mesmo. Nunca vou erguer um dedo contra você. Já você... Não pode dizer a mesma coisa, não é?
Fiquei sem resposta e com muita vergonha. Ele tinha razão. Eu não poderia dizer que não ergueria um dedo contra ele, porque eu poderia fazer muito mais que aquilo.
- Vem, Caio – Bruno suspirou e começou a andar na minha frente. – O meu carro está no estacionamento.
- CARRO? – fiquei simplesmente estupefato.
- Uhum. Qual o espanto? Não posso ter um carro?
- Não é isso... Eu só fiquei surpreso.
- Isso é uma história que eu te conto daqui a pouco – ele me puxou pela mão. – Vamos logo.
- Eu posso andar sozinho, me solta.
A cada passo que ele dava eu sentia o perfume invadindo o meu nariz. Era o mesmo de sempre... Era o perfume mais gostoso que eu conhecia...
Quando vi o Celta preto do Bruno quase caí pra trás. Era lindo, lindo demais. Eu nunca poderia imaginar que o meu ex tivesse um carro como aquele. E parecia ser 0 km.
- É 0 km? – perguntei.
- Não. Entra aí – ele destravou as portas.
Fiquei receoso.
- Entra logo!
Mas entrei. Entrei e coloquei o cinto. Será que ele dirigia bem?
A resposta foi um belo SIM. Confesso que fiquei curioso em saber há quanto tempo ele tinha aquele carro e há quanto tempo ele estava dirigindo.
- Eu tirei a minha carta faz 2 meses e eu comprei esse carro ontem. Você é a primeira pessoa que anda nele. Além de mim, é claro.
- Está ganhando bem, hein?
- Não é questão disso. Eu comprei com o restinho da herança que recebi do meu pai.
- Herança? – achei aquilo estranho.
- É. Esqueceu que eu descobri que o meu pai morreu? Quando fiz 18 anos tive acesso aos bens que ele me deixou. Juntando tudo eu consegui comprar o meu apartamento e o meu carro, mas também não sobrou mais nenhum centavo.
- Desculpa aí se sua família é rica.
- A gente não é rico, Caio – Bruno deu risada. – Só meu pai que era, mas depois que ele morreu ninguém é mais. Os bens foram divididos igualmente entre todos os filhos e não deu uma grana muito alta não.
- Aham, to vendo. Comprou um carro e um apartamento no Recreio e não é grana alta.
- E eu disse que paguei tudo? Só dei a entrada em ambos. Estou pagando as prestações com meu salário.
- Falando nisso – eu me arrumei no banco do carro. – Fiquei perplexo com essa história de você ser condutor no Metrô Rio.
- Pois é. Sou sim.
- Deus me livre de pegar um metrô com você guiando.
- Sou bom nisso, rapaz – ele riu. – Qualquer dia desses eu te levo pra andar comigo.
- Quero não, obrigado. Eu tenho amor à minha vida.
- Rá, rá, rá muito engraçado.
A surpresa pelo carro foi tanta que eu não fiz outra coisa a não ser prestar atenção no Bruno enquanto ele dirigia. O menino era muito concentrado, muito atento e fazia as coisas bem direitinho. Quem diria que um dia eu iria vê-lo com um carro?
- Entra, Caio – ele abriu a porta do apartamento. – Fica à vontade.
- Valeu.
Entrei e percebi que tudo estava igualzinho à última vez que pisei ali.
- Quer um suco? Água? Drinque?
- Não quero nada. Fala logo o que você tem pra me falar.
- Senta. Coloca a mochila num canto aí... Relaxa!
- Eu quero que você me fale logo o que você tem pra me falar porque eu preciso ir embora. Amanhã eu acordo cedo e tenho prova na faculdade. Eu nem deveria estar aqui.
- Você está fazendo qual curso na facul?
- RH.
- Bacana. Eu estou fazendo um curso pra virar peão de montadora. Dá muito dinheiro.
- Acho que não foi pra isso que você me chamou, Bruno. O que você quer me falar? A mesma ladainha de sempre?
- Não é ladainha. É a mais pura verdade. Quer que eu repita tudo?
- Quero! – cruzei meus braços e fiquei só ouvindo.
Ele repetiu tintim por tintim e eu só pedi para ele repetir a mesma história para ver se ele entrava em contradição, mas isso não aconteceu.
- ... e então eu fui obrigado a sair do país.
- Eu não sei te explicar o motivo, mas isso não me parece ser verdade.
- Mas é – ele me garantiu. – É a mais pura verdade.
- Então vamos aos fatos – eu bufei.
- Que fatos?
- Por que não me contou que estava sofrendo chantagem por parte do seu pai?
- Porque eu não quis te preocupar com isso...
- Ah, é? Boa resposta. E a aliança? Por que pediu pro Vítor me entregar a porcaria da aliança?
- Porque foi a minha única alternativa.
- Sua única alternativa... Legal... E por que ela estava impecável? Sem nenhum arranhão e brilhando como se fosse nova? Por acaso você não a usava?
- Usava sim! É claro que eu usava... Eu só tomei cuidado com ela e limpei a prata todos os dias...
- Acredito... E o Léo? Por que me traiu com o Léo?
- Porque fui fraco – nesse momento ele abaixou a cabeça. – Porque eu fui um idiota!
- VOCÊ NÃO FOI UM IDIOTA, BRUNO! VOCÊ É UM IDIOTA! – eu fiquei puto da vida.
- Eu te disse que naquele dia eu estava...
- Drogado! Essa é a resposta... Você estava drogado! Você usava drogas, seu infeliz!!!
- Isso não é verdade! Eu não usava drogas, eu usei uma vez só e por causa da pressão que eu sofria na minha casa!
- Isso não justifica seu erro!
- Eu sei que não justifica, mas eu era fraco! Eu era fraco, Caio! Eu errei, ME PERDOA!
- Não te perdoo porcaria nenhuma! Você me magoou, você quase colocou um ponto final na minha vida, você me machucou... E agora vem com essas historinhas? EU NÃO ACREDITO EM VOCÊ!
- MAS É A VERDADE!
- É a SUA verdade. E eu não acredito nela.
- Não acredita por que? Não acredita por que? Qual é a SUA verdade?
- A minha verdade é bem diferente da sua... Você saiu do país porque quis!
- NÃO! EU NÃO QUERIA TER IDO EMBORA!
- MAS FOI!
- FUI PORQUE NÃO TINHA ALTERNATIVA!
- AH... – eu levantei do sofá e comecei a andar por todos os lados. – JÁ ESTÁ MUDANDO A VERSÃO DOS FATOS!
- NÃO ESTOU MUDANDO NADA, CAIO – ele andou até onde eu estava. – Não estou mudando nada!
- Está sim! Você acabou de falar que não teve alternativa! ENTÃO VOCÊ FOI PORQUE VOCÊ QUIS!
- NÃO FUI! VOCÊ TEM NOÇÃO DO QUE É SER OBRIGADO A FAZER O QUE NÃO QUER? VOCÊ TEM NOÇÃO DISSO?
- Tenho noção sim – minha garganta embargou. – Esqueceu que eu fui expulso de casa?
- Não, não esqueci. E é justamente por isso que eu pensei que você iria me entender.
- Entender o quê, Bruno? Você tinha alternativas! Você poderia ter me falado, poderia ter me contado a verdade... EU teria te ajudado, EU!
- Eu tinha medo, Caio... Eu tinha medo de você não acreditar em mim!
- Do mesmo jeito que eu não acredito agora, Bruno.
- Justamente por isso que não te contei nada... Eu te amava demais e eu não queria fazer você sofrer...
- Mas você fez. Você me fez sofrer demais...
- Mas... – ele começou a chorar. – Eu não queria que isso tivesse acontecido...
- Você já percebeu que você faz tudo errado? Já percebeu que você não faz nada certo? Primeiro você me trai com meu melhor amigo... Depois me esconde a verdade e simplesmente foge do país...
- EU NÃO FUGI DO PAÍS – ele urrou e as lágrimas caíram sem parar.
- MAS FOI ISSO QUE ME PARECEU! – foi a minha vez de soltar o choro.
- Me escuta... Me escuta... – ele foi até mim e segurou na minha cintura. – Eu te amo... Eu te amo tento...
- Me solta!
- Eu te amo muito, Caio... Acredita em mim, por favor...
- Me solta, Bruno! – as minhas lágrimas continuaram caindo.
- Me perdoa, Caio... Me perdoa, por favor?
- Não! Eu não vou te perdoar. Eu quero colocar um ponto final nisso tudo!
- NÃO, POR FAVOR... ME PERDOA!
- Não vou te perdoar... Não vou! – continuei chorando e me soltei.
Dei dois ou três passos e senti as mãos dele segurarem novamente na minha cintura.
- ME SOLTA!
Bruno me puxou com muita força e com rapidez e maestria, me jogou com vontade contra a parede. Eu fiquei morrendo de ódio e poucos segundos depois, senti os lábios dele tocarem os meus.
Tentei gritar um “ME SOLTA”, bati várias e várias vezes com a minha mão esquerda no peito dele, mas de repente, a minha força de exauriu e a minha mão ficou parada no meio daquele tórax.
Nesse mesmo instante, a minha outra mão voou até a nuca do meu ex-namorado e meu penis começou a criar vida. Eu não podia lutar contra aquele beijo. O Bruno soube me pegar com vontade!
Senti meu pênis crescer cada vez mais. A onda elétrica de 220 volts percorreu todo o meu corpo, eu senti as minhas pernas ficarem mortas e o meu coração explodir de tanta emoção.
Nós dois ainda estávamos chorando e as nossas lágrimas já estavam misturadas em nossos rostos. Eu não sabia mais quem era eu, não sabia mais o que estava fazendo e não sabia mais onde eu estava. Naquele momento só existia o Bruno e eu.
Ele começou a andar e me empurrou lentamente por dentro do apartamento. Eu não sabia o que ele queria e nem para onde ele estava me levando, por isso, parei e prendi as minhas pernas com toda a minha força, porém de nada adiantou.
Sem cessar o beijo, Bruno passou um dos braços por trás dos meus joelhos, me pegou no colo e quando eu menos esperei, ele me jogou em cima de sua cama.
O cara ficou por cima de mim e não parou de me beijar um segundo sequer. Eu não queria que nada acontecesse entre nós dois e eu precisava ser forte.
- Nã-não – falei no meio do beijo.
- Não fala nada – ele interrompeu o nosso beijo e olhou nos meus olhos. – E deixa acontecer!
Puxei o Bruno para outro beijo. Eu não tinha mais como lutar. Eu queria que aquilo acontecesse, eu estava rendido e não iria ser os meus pensamentos idiotas que iriam interromper o que estava para acontecer.
3 comentários:
Esse conto é literalmente foda.
Melhor conto dos últimos tempos tanto na CDC, Wattpad e qualquer outro site esse destoa além de ser viciante.
Mas e o Murilo? :v
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