- Não chora mais por quem não te merece! Pensa em tudo, menos nele. Eu vou cuidar de você como sempre fiz, Cacs!
- Eu te amo, sabia?
- Eu também te amo, meu pestinha! Agora vamos pra cama, vamos? Já está muito tarde e daqui a pouco nós dois temos que acordar.
- Eu não sei o que seria da minha vida sem você, Rodrigo!
- Eu também não sei o que seria da minha sem você. Você me salvou da morte!
- Ainda fala nisso?
- Sempre – ele beijou meu rosto. – Te devo a vida, moço! Vem, vamos dormir, vamos. Já está tarde demais!
- Você ficou bravo comigo?
- Não, Caio – ele me olhou. – Eu só estou com...
- Com o quê? – tive que perguntar porque ele parou a frase antes de finalizá-la.
- Ciúmes – a voz dele saiu quase inaudível.
- É sério?
- Sim – Digow ficou corado.
- Pensei que você fosse me matar quando soubesse da verdade.
- Não quero matar você, mano! Quero matar aquele filho da puta! Mas um dia eu acerto as minhas contas com ele. Eu nunca vou deixar ele se aproximar de você, nunca!
- Casa comigo? – eu falei isso com seriedade.
Digow ficou calado. Ele não soube o que responder.
- Casa?
- Não posso – essa foi a resposta. – Mas nem por isso eu vou deixar de cuidar de você, tá bom? Agora vamos dormir, já passou das 2 da madrugada!
Ele entrou no quarto e nós não falamos mais nada. Naquela noite eu tive dois protagonistas em meus sonhos: Bruno e Rodrigo. O meu eterno cafajeste e o meu infinito anjo da guarda.
Acordei na manhã seguinte me sentindo extremamente cansado. É claro que eu não tive uma boa noite de sono e eu tinha certeza que isso ia acabar me influenciando na hora de realizar a minha prova.
- Como está se sentindo? – perguntou Rodrigo.
- Cansado. Apenas cansado – respondi.
- E com relação ao que aconteceu entre vocês dois?
- Não quero nem pensar nisso.
Mas eu estava pensando. Como eu ia conseguir esquecer uma noite tão perfeita como aquela?
- E o seu namorado? Como fica?
- Não sei. Isso é algo que eu ainda não pensei.
- Pois então pense. É nele que você tem que pensar e não no Bruno. Aquele nojento...
Eu suspirei inúmeras vezes e com o chacoalhar do ônibus acabei adormecendo. Acordei com o Rodrigo me cutucando e me puxando incansavelmente.
- É hora de descer, moleque – ele deu um beliscão no meu braço.
- Ai – reclamei de dor.
- Acorda!
Levantamos e descemos. A faculdade estava muito barulhenta e movimentada. Eu estava me sentindo um peixinho fora d’água porque só eu estava com o ritmo lento naquela manhã.
- Pega, pestinha – Digow apareceu depois de alguns minutos com uma latinha na mão.
- O que é isso? – perguntei entre um bocejo e outro.
- Em energético. Comprei pra você.
- Putz... Você não existe! Te amo!
- Existo sim e eu faço tudo isso por você, pestinha!
Engoli a bebida aos poucos.
- Boa prova – ele me falou. – Cuidado pra não dormir e manda um beijo pro meu amor.
- Vou mandar é um tiro na cara daquela vaca.
Rodrigo só dava risada das minhas brincadeiras. Ainda bem que ele não as levava a sério, porque se fosse outro não toleraria aquele tipo de coisa.
- É? E eu vou matar o maldito do Bruno com um tiro de canhão! Estamos quites?
- Estamos! – bocejei. – Tchau, obrigado pelo energético!
- Se cuida, meu pestinha favorito!
- Você também, meu anjo da guarda!
Quando coloquei os meus pés na sala de aula, notei logo o clima tenso que estava no ar.
- Bom dia, pessoal – cumprimentei os meus amigos.
- Preparado pra prova? – perguntou Jéssica.
- Não – fui sincero.
Eu adoraria que aquela prova fosse realizada em uma das últimas aulas. Pelo menos eu teria podido descansar um pouco mais, mas não tive sorte e a prova foi realizada logo no 1º horário. O mesmo aconteceu com o Rodrigo.
Quando a professora me entregou o exame, eu fui logo lendo a 1ª pergunta e para a minha surpresa, eu sabia a resposta.
Pelo menos foi uma prova de alternativas e não houve nenhuma questão dissertativa. Sendo assim tornou-se muito mais fácil realizar o exame e em um contexto geral, eu acreditei que me saí bem.
Quando terminei a minha P2, entreguei o sulfite para a mestra e em seguida fui pra academia. Nem esperei o Rodrigo porque ele me disse que ia esperar a namorada para eles ficarem um pouco juntos. Isso me deixou um pouco irritado.
Fui obrigado a tomar outro energético, senão não ia ficar em pé de tão cansado que eu estava. Cansado era pouco. Eu estava me sentido exausto.
Além do cansaço físico, eu também estava sentindo um cansaço mental, de tanto que eu estava pensando nos meus problemas com o Bruno e o Murilo.
O que estava me deixando mais irritado naquele momento, foi com a minha traição e com os meus próprios pensamentos.
Mas eu não tive culpa. Foi impossível controlar os meus sentimentos pelo Bruno. O que eu vivi com aquele crápula na noite anterior foi forte demais. Foi como se um vulcão tivesse entrado em erupção dentro do meu corpo.
De uma hora pra outra eu me senti mergulhado em uma paixão enlouquecedora por aqueles olhos azuis. Quem no meu lugar conseguiria se segurar? Eu duvido que alguém conseguisse dizer não ao que eu estava sentindo por aquele garoto.
Pra que negar? Pra que me enganar mais? Eu queria sentir raiva, ódio e o que quer que fosse pelo Bruno, mas o que eu sentia mesmo era amor...
Foi impossível controlar os meus sentimentos e os meus pensamentos não tiveram força suficiente para mandar em mim. Fui fraco? Talvez, mas eu não tinha culpa se o meu coração era mais forte do que eu.
Quem manda no coração? Quem manda nos sentimentos? É claro que se eu pudesse escolher, eu não escolheria o Bruno e não o escolheria por muitos motivos, mas eu não podia escolhar.
Eu não mandava em meus sentimentos e eles tinham a força sobre as minhas decisões. É claro que nem sempre eles tomavam as rédeas das coisas, mas quando isso acontecia eu tinha que obedecer. Eu não era louco de não obedecer. Talvez depois eu pudesse me arrepender amargamente por não ter cedido.
Não que eu não estivesse arrependido. Eu estava arrependido sim, mas aquela culpa eu ia ter que carregar pro resto da vida. Já estava feito e não tinha como voltar atrás e muito menos como negar que foi bom.
Aliás, não foi bom. Foi perfeito. Foi incrível. Foi mágico. Foi sublime. Foi divino. Foi único. Aquela noite nunca vai sair da minha cabeça e eu tenho certeza que nunca vai sair da cabeça do Bruno também.
Nós nos amávamos e isso era fato, mas infelizmente não podíamos viver aquele amor. E não podíamos viver única e exclusivamente pela falta da verdade da parte do Bruno.
Eu não conseguia acreditar que ele estivesse falando a verdade e mesmo que estivesse, algo dentro de mim não me deixava perdoá-lo. Era mais uma vez a razão influenciando a minha vida.
E talvez fosse melhor a razão mandar em mim, porque dessa forma eu sabia que a probabilidade para me meter em outra enrascada seria muito pequena.
Era melhor eu sofrer por não ter o Bruno do que sofrer por qualquer coisa errada que ele viesse a fazer no futuro.
O que estava faltando da minha parte era confiança. Como eu podia confiar em uma pessoa que mentiu pra mim no passado? Isso era meio humanamente impossível de acontecer.
E se eu voltasse com ele naquele momento, com certeza eu desconfiaria de qualquer coisa que ele fosse fazer. Então, se fosse pra ficar com desconfiança, era melhor a gente ficar separado.
Algo dentro de mim estava dizendo que a gente talvez pudesse voltar, mas não naquele momento. Eu ainda precisava acreditar naquela história e eu ainda precisava perceber as mudanças no caráter do meu ex-namorado. Se isso acontecesse, talvez eu pudesse perdoá-lo e quem sabe aí sim a gente pudesse reatar a nossa relação.
Eu já estava fazendo ideias do futuro que provavelmente não iriam acontecer. Eu pensava tanto no Bruno, mas tanto que às vezes até me confundia com meus próprios pensamentos. O meu próprio cérebro me deixava confuso...
Entrei na academia, passei na catraca, fui pro vestiário, me troquei e enfim falei com o Felipe:
- Bom dia!
- Você? Cedo assim?
- Tive prova hoje, saí mais cedo. O que eu faço?
- Opa, então tem algumas horinhas hoje, né?
- 2 horinhas para ser mais exato – falei.
- Então alonga e vamos direto pra musculação. Hoje você fará pernas e braços. Aliás, fará o corpo todo.
- Que Deus me ajude.
Nem mesmo os exercícios me desvencilharam de meu ex-namorado. Ele tomou conta dos meus pensamentos o dia inteiro e não era pra menos, né? O que tinha acontecido entre nós dois não mexeu apenas com meus sentimentos, mexeu também com a minha índole e com os meus princípios.
Eu sempre fui contra qualquer tipo de traição e nunca me imaginei traindo uma pessoa, até encontrar o Bruno. Mais uma vez eu o responsabilizei por tudo de ruim que estava acontecendo na minha vida e mais uma vez eu tornei a pensar que seria muito melhor nunca tê-lo conhecido.
- Nossa Senhora – Alexia me olhou nos olhos. – Que olhar brilhante é esse? Viu um passarinho verde?
- Não – respondi de imediato. – Meus olhos estão brilhando?
- O quê? Parece até que você passou cera neles. O que houve, hein?
- Nada, Alexia – eu omiti a verdade.
- Não mente pra mim! O que aconteceu?
Suspirei. Eu não sabia mentir tão bem quanto eu gostaria.
- Eu fiquei com meu ex ontem à noite.
- Mentira? Com o Bruno?
- Ele mesmo!
- Que bafo é esse? Pode me contar tudinho...
- Agora não dá, a Duda está vindo aqui.
- Caio! – minha gerente me abraçou e beijou meu rosto. – Como você está lindo hoje!
- Obrigado.
- Tudo bem?
- Uhum. Alguma tarefa pra mim?
- Não, tarefa pra Alexia.
- Pra mim?
- Sim senhora. Pode me acompanhar em uma audiência?
- Em uma audiência?
- Sim senhora. Eu preciso de uma testemunha que possa contar como é a rotina da loja.
- Ah, tudo bem – minha amiga deu de ombros.
- Então vamos agora que já estamos atrasadas.
- Vai lá, amiga – eu sorri. – Você está ficando chique no “úrtimo”.
- Mais tarde a gente conversa, hein? Eu quero saber direitinho essa história aí.
- Pode deixar que eu te conto tudo.
Saí andando e fui direto pra mesa do meu chefe. Naquele dia ele estava todo de preto e pela primeira vez me chamou a atenção. O Jonas estava bonito.
- Boa tarde – estendi a mão.
- Boa tarde, tudo bom? – ele me olhou e apertou a minha mão. – O que houve?
- Nada. Por quê?
- Você está diferente hoje... Parece feliz...
- Feliz eu? Eu estou tudo hoje, menos feliz.
- Não é o que parece, mas enfim. Senta aí pra gente acompanhar os seus pedidos.
- Ah, beleza.
Recebi um feedback onde o Jonas me expôs alguns pontos que eu precisava melhorar. Entendi tudo o que ele quis me dizer e me comprometi em mudar o que ele tinha pedido. Uma das coisas era evitar conversar tanto com os meus colegas de trabalho.
- Prometo que vou melhorar nisso.
- É só um toque pra você se policiar nos dias em que o Tácio estiver aqui ou quando tiver algum cliente no setor. Salvo essas particularidades, você pode agir normalmente até mesmo porque eu não quero que você seja um robô.
- Pode deixar. Eu entendi o recado. Agora deixa eu trabalhar que hoje eu vou vender muito.
- É isso aí. É assim que eu gosto! Arrepia aí, Caiô!
- Boa tarde, Caio – eu ia passando e os funcionários me cumprimentavam.
- Boa tarde, Do Carmo.
- Sua aura hoje está diferente. Fez as pazes com o amor?
- Minha aura? O que é aura? Como assim de outra cor?
Do Carmo falou umas coisas esquisitas pra mim e eu acabei não entendendo nada. Só saí de perto dela porque ela teve que atender a um cliente. Eu fiquei “boiando” naquele assunto de aura.
- Seu lindo – a Jana me agarrou no meio da loja.
- Sua linda – eu suspirei.
- O que você tem, hein? Nossa, que olhos brilhantes são esses? E essa pele sedosa? O que você aprontou, Caio Monteiro?
- Preciso te contar uma coisa.
- Que coisa?
- Transei com o Bruno.
- OI?! STOP?! Que babado fortíssimo é esse, gato?
- Foi... Não resisti, amiga...
- TO PRETA PASSADA NA CHAPINHA! Me conta isso nos mínimos detalhes!!!
- Ah, tá! – eu ri. – Até parece... Eu só posso falar que ontem eu fui ao apartamento dele e lá aconteceu. Não consegui me segurar, acredita?
- Que bafão! Quero saber de tudo, pode abrir o bico.
- Acontece que ele estava me ligando direto e simplesmente disse que ontem vinha me buscar aqui na loja e veio mesmo...
- Mandou bem. Garoto de atitude esse daí. E aí?
- Aí que ele me buscou, me levou ao apê dele e lá a gente conversou. Ele repetiu tudo o que já tinha me contado, não entrou em contradição e disse que se arrepende e blá, blá, blá...
- E aí?
- Aí ele me puxou pra um beijo, literalmente me jogou na parede, eu bati no peito dele um pouco, mas não resisti. Algo dentro de mim me bloqueou e mandou eu calar a boca e eu só correspondi a tudo o que aconteceu.
- Mentira?
- Nada! Verdade. Aí ele me pegou no colo, me levou pra cama e já viu, né? Aconteceu – suspirei.
- To preta passada três vezes na chapinha!!! Que babado... Gostou?
- Se eu gostei?
- É, idiota...
- Depende. Quer a versão da cabeça ou do coração?
- As duas.
- Pela cabeça eu odiei. Isso não deveria ter acontecido.
- E pelo coração?
- Pelo coração... EU AMEEEEEEEEEEEEEEI!
Ela me abraçou e deu risada. Eu gostava de me abrir com a Jana porque ela sempre me dava conselhos bons. E daquela vez não foi diferente.
- Quer saber de uma coisa, Caio?
- O quê, Jana?
- Deixa as coisas acontecerem naturalmente. Uma hora você vai acreditar nele e uma hora vocês vão voltar.
- Quero não, amiga.
- Quer não é o caralho, quer sim que eu sei. Dê tempo ao tempo, as coisas vão voltar ao normal em breve, você vai ver.
- Eu não sei nem o que pensar mais, sabia?
- Pense em você, pense na sua felicidade e deixa o resto do mundo se foder sozinho.
- E o Murilo? Como fica nessa história?
- Ah, faz favor... Termina logo com esse garoto que nem sabe fazer sexo direito. Fica com quem você ama e ponto final.
- Caralho, Janaína! Você acabou com o Murilo!
- Ah, vai pro inferno! Cheira a leite, tem o pau pequeno, não sabe chupar direito e ainda por cima quer botar banca? Manda ele pra puta que pariu!!!
Eu gargalhei. A Janaína era biruta, totalmente biruta.
- É ou não é? – ela riu bastante. – O Bruno sabe fazer as coisas?
- Ai, Jana – eu suspirei. – Ele arrasa!
- Dá uma nota de 0 à 10.
- De novo eu te pergunto: com a cabeça, ou com o coração?
- Com os dois, inferno!
- Com a cabeça eu dou mil abaixo de 0. Com o coração deu dou o infinito!
- Aí, ó... Tá vendo? Ainda fala que não ama esse garoto!
- Quer saber de uma coisa, Janaína?
- O quê?!
- Eu AMO esse filho da puta com todas as forças do meu coração, com todas as forças da minha alma, com todas as forças do meu corpo e com todas as forças que existem nesse mundo!!!
29 DE NOVEMBRO DE 2.008...
Por motivos adversos, eu só consegui encontrar com o Murilo no final de novembro e bastou vê-lo para a minha consciência ficar latejando sem parar.
- Oi, garotão – ele abriu um sorriso enorme. – Entra aí...
- Licença... – nem consegui olhar nos olhos dele.
- Vem, vamos logo pro meu quarto que eu estou morrendo de saudades – ele me puxou pela mão direita.
Entrei e suspirei. Nós dois precisávamos conversar e eu não sabia nem como ia tocar no assunto da traição...
Mas quem disse que eu tive tempo? Assim que coloquei os pés no quarto do meu namoradinho, ele foi logo me beijando com suavidade e eu não tive oportunidade para falar nada.
- Espera – eu o empurrei quando ele me levou pra cama. – A gente precisa conversar...
- Conversar? – ele me encarou. – O que foi?
Fiquei calado e ponderei como deveria começar o assunto. Não tive coragem e fiquei calado tempo demais.
- O que foi? – Murilo perguntou de novo.
- Não é nada, deixa pra lá – puxei ele para um beijo.
- Agora você vai falar – ele parou o beijo. – O que é?
- Sabe o que é? Eu te amo!
Puxei o menino para um beijo e ele se deu por satisfeito. Não sei se ele acreditou no que eu falei ou não, mas esse “eu te amo” foi suficiente para ele não me perguntar mais nada o resto da noite.
- Eu te amo também, cara – Murilo me fitou com curiosidade.
Que dor na minha cabeça, que peso na minha consciência. Ele me amava e eu o tinha traído com o próprio “primo” dele. Que espécie de ser humano eu era?
- Não – eu não deixei ele tirar a minha roupa. – Hoje não.
- Por que não? Eu estou com saudades...
- Eu também estou, mas hoje eu quero ficar só abraçadinho com você? Pode ser?
- Está carente, é?
- Muito...
- Então deita aqui comigo, deita?
Deixei o Murilo me abraçar. Essa foi a forma que eu encontrei para não rolar nada além de beijo. Eu não queria ficar com ele, eu queria ficar com o Bruno e eu precisava falar isso pro garoto.
Não era justo ele não saber da verdade. Aliás, era até direito dele saber tudo o que tinha acontecido e mais cedo ou mais tarde ele ia ter que saber de tudo.
- Preciso te falar uma coisa – a voz dele tomou conta do quarto.
- Que foi?
- Eu viajo pra Angra amanhã.
- Já?!
- Sim. Já estou de férias na escola e eu quero curtir cada dia. Então eu já vou nessa madrugada.
- Ah, bacana... E quando você volta?
- Eu só volto em fevereiro.
- Tão longe assim?
- Pois é. Por isso que eu queria que você fosse pra lá no final de ano, né?
- Vai dar não – falei. – Não quero mesmo.
- Eu respeito a sua decisão, mas vamos ficar tempo demais longe.
- Verdade – analisei.
- Vai lembrar de mim durante esse tempo?
- Lógico que vou – prometi. – E você vai lembrar de mim?
- Não só vou lembrar como te ligo todos os dias. Posso?
- Deve!
- Então estamos combinados. Me dá um beijo?
Atendi ao pedido do menino, mas logo voltei a deitar a minha cabeça no travesseiro. Eu estava pensando no Bruno.
- Sentirei saudades – falei.
- Eu também, Caio!
Ainda bem que Murilo e eu não fizemos nada, porque pouco tempo depois a mãe e a tia dele chegaram na casa. Nós dois ficamos jogando vídeo-game e eu só saí de lá quando a tia dele foi embora.
- Então boa viagem – falei.
- Obrigado, cara. Se comporta aí, hein?
- Você também. Se comporta nesse tempo aí.
- Pode deixar. Eu vou ser um santo.
- Espero que não seja do pau oco.
A gente se abraçou, eu me despedi do menino e segui o meu rumo. Então era isso que ia acontecer. Eu ia ficar mais de 2 meses sem ver o meu namorado e não estava nem um pouco chateado com isso.
NA PRIMEIRA SEMANA DE DEZEMBRO...
A maioria das notas das provas já estava disponibilizada no site da faculdade e mais uma vez só faltava a de Matemática.
Eu estava feliz porque na maioria das matérias eu tirei notas boas. A única disciplina que fechei com 7 foi a do Profº Chong. Aquele coreano desgraçado nem para me dar um 7,5 ou 8...
Só no dia 3 de dezembro que a nota de Matemática foi lançada no sistema. Fechei a matéria com 7,5. Pelo menos foi acima da média e eu não peguei nenhum exame ou DP.
- Isso significa que eu estou de férias – respirei aliviado, mas não fiquei muito entusiasmado.
E a minha falta de entusiasmo se dava por ainda estar me sentindo culpado por ter transado com o Bruno. O Rodrigo já nem falava mais nada sobre o assunto para evitar o estresse, todavia, ele sempre me animava, sempre me trazia algum doce, alguma lembrancinha pra tentar fazer com que eu esquecesse do Bruno e algumas vezes até funcionou.
Encontrar o Fabrício e o Vinícius chorando no quarto me deixou preocupado. Eu nem me lembrei que o motivo do choro era pelo fim dos estudos.
- Que chororô é esse? – perguntei e me preocupei.
- A GENTE PASSOU! – Vinícius gritou.
- Nós terminamos a faculdade, Caio! – Fabrício era o mais desesperado dos dois.
- PARABÉÉÉÉÉÉÉÉÉÉÉÉÉÉÉNS – eu fui ao encontro dos meninos e fiz questão de abraçá-los com o máximo de força que eu consegui. Isso sim me deixou muito feliz.
E isso também foi motivo de comemoração. Ninguém dormiu antes das 3 da madrugada naquele dia. Todos fizemos questão de comemorar com os meninos e acabamos secando mais de 2 caixas de cerveja.
- Eu to tão cansado... – Vinícius subiu na cama e deitou em seguida.
- Então descansa doutor Vinícius – Rodrigo deu risada.
- Eu nem acredito que amanhã é o meu último dia de aula... Eu nem acredito nisso...
Aquele também seria o meu último dia de aula do 2º semestre. Eu deitei na minha cama e fiquei pensando sobre o assunto...
Fui tão resistente em fazer o Enem e no fim das contas já estava finalizando o 2º semestre da faculdade. Faltava só 1 ano para eu me formar e é claro que eu devia tudo aquilo ao meu melhor amigo. Eu pensei seriamente em dar um presente ao Rodrigo por ele ter me incentivado tanto.
Eu estava quase pegando no sono quando ouvi um barulho ensurdecedor ao lado da minha cama. Não só eu como o Rodrigo e o Fabrício ficamos assustados.
- O que foi isso? – sentei com o meu coração na boca.
- Ai... – ouvi a voz do Vinícius vindo do chão.
- Vini? – Rodrigo chamou pelo amigo.
- Ui... – o médico formado gemeu de dor.
- Ele caiu da cama? – eu me preocupei. – Fabrício, acende a luz aí...
- O que houve, Vini? – Fabrício estava pelado e com o pau meia bomba. Ele enrolou o lençol na cintura.
Meu amigo estava estatelado no chão. Ele tinha sim caído da cama.
- Acho que eu caí – o gostosão estava de barriga pra cima, olhando pro teto.
- Minha nossa... – levantei e olhei pra ele. – Você está bem?
- A minha bunda tá doendo, Caio...
Foi inevitável. Eu não consegui segurar a risada. Ele estava muito sem graça. Como aquilo pôde acontecer?
- Consegue levantar? – Rodrigo também estava rindo.
- Claro que eu consigo, só deixa a minha bunda parar de doer...
- Será que quebrou a bacia? – até o Fabrício ria.
- Não – Vinícius estava vermelho. – Só está doendo a bunda mesmo.
Eu gargalhei. Nunca imaginei que aquilo fosse acontecer. Acho que ele bebeu demais, ou deve ter ficado emocionado demais pelo fim da faculdade...
- Ai, Deus – o marmanjo conseguiu levantar numa boa.
- Como você caiu? – perguntou Rodrigo.
- Eu estava sonhando que estava voando... Só acho que tudo poderia ter ficado em sonho mesmo...
DIAS DEPOIS...
Naquele ano o primeiro a viajar foi o Fabrício. Na hora em que eu fui me despedir do meu amigo, fui logo tratando de falar:
- Você volta, né?
- Claro que eu volto! Tem a formatura agora em março!
- Ah, então tá bom! Pensei que a gente não ia mais se ver.
- Relaxa que a gente vai se ver muito ainda nessa vida. Boas festas, Caio – ele me deu um abraço bem apertado.
- Boas festas, Fabrício. Curte bastante essa sua nova fase e mais uma vez meus parabéns por ter finalizado e alcançado o seu sonho.
- Obrigado, cara. A gente vai se falando pelo Orkut ou Twitter.
- Com certeza, boa viagem!!!
O segundo a viajar foi o Éverton, mas eu não fiz muita questão de me despedir do garoto. Ele era legal, mas às vezes tinha umas brincadeirinhas idiotas demais para o meu gosto.
O Miguel viajou um dia depois do Éverton. E assim a casa foi ficando vazia.
Não sei se foi proposital ou não, mas o Digow só viajou perto do natal e eu fiquei me perguntando porque ele adiou tanto aquela viagem. Seria por minha causa?
- Você promete que vai ficar bem?
- Claro que eu vou ficar bem – sorri.
- Tem certeza?
- Absoluta.
- Não quer mesmo ir comigo?
- Sabe que eu não posso, não sabe?
- Dá um jeito! Pega atestado...
- Não é assim que a coisa funciona, Digow!
- Não quero te deixar sozinho...
- Não ficarei sozinho. O Vini e o Kléber não vão viajar esse ano, você esqueceu?
- Mas mesmo assim... Sei que você não se sente à vontade com eles...
- Eu me sinto muito à vontade com o Vini, Rodrigo!
- É? Ele faz isso aqui com você? – ele me abraçou com carinho.
- Não...
- Ele faz isso? – ele deu um beijo no meu rosto.
- Não...
- E isso? – ele grudou as nossas testas.
- Também não!
- Ele fala que te ama como eu falo?
- Não...
- Ele dorme na sua cama abraçadinho com você?
- Lógico que não!
- Ele fala que você é o único homem que ele pode amar nessa vida além do pai?
- Não, seu bobo!
- Então não me compara ao Vinícius, por favor!
- Seu lindo! – eu ri. – Você fica fofo demais com ciúmes!
- Você promete que vai me ligar todos os dias?
- Prometo, mano – sorri de novo. – Pode confiar.
- E promete também que não vai correr atrás do Bruno?
- Prometo, Digow, prometo...
- Promete que vai sentir a minha falta? – ele brincou.
- Isso eu nem preciso prometer! Pode viajar tranquilo, amor meu...
Nos abraçamos com mais força.
- Eu te amo, tá bom? – ele falou baixinho.
- Eu te amo também, mano. Boa viagem, vai com Deus e manda lembranças aos seus pais.
- Pode deixar. Eu te ligo todos os dias, tá?
- Ué... Não era eu que ia ligar?
- Melhor eu ligar por causa do roaming.
- Ah, é verdade. Eu não havia pensado nisso.
- Se comporta, tá? – ele me deu um super beijo no rosto. – Bom final de ano.
- Pra você também! Beijo, boa viagem.
- Obrigado, Cacs!
Naquele ano o Vini não pôde viajar porque assim que terminou a faculdade ele já começou a trabalhar em um hospital do Rio de Janeiro como residente. Ele conseguiu esse emprego através de um dos professores dele, que era diretor de alguma coisa nesse hospital da região sul da cidade.
O Kléber também não conseguiu viajar; afinal, ele estava trabalhando comigo. Pelo que me parecia, ele também estava namorando e não quis ficar longe do namorado naquela época de festança.
Como a Bruna tinha viajado com a família, o coitado do Vinícius também ficou abandonado no Rio de Janeiro. Dessa forma, a nossa única alternativa foi comemorar o natal juntos em casa e era isso mesmo que a gente ia fazer. Pelo menos eu não ia passar a festa sozinho como no ano anterior...
O amigo secreto da loja naquele ano foi no dia 23 de dezembro e eu achei muito melhor, porque assim ninguém ficou responsável pelo presente de ninguém.
Naquele ano o meu amigo secreto não poderia ter sido melhor: a Janaína. Eu fiquei feliz demais por ter tirado a minha melhor amiga e comprei uma agenda de pelúcia cor-de-rosa e um sapato de salto alto de 20 centímetros para ela. Gastei mais do que o preço estipulado, mas ela merecia.
- AI QUE LINDOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOO – ela ficou toda serelepe. – OBRIGADA, OBRIGADA, SEU LINDOOOOOOOO!!!
Nunca recebi um abraço tão forte como o que ela me deu em toda a minha vida. Eu me senti tão relaxado com aquele abraço...
- De nada, sua linda! Eu te amo, tá bom?
- Eu te amo mais, branquelo azedo!
Quem me tirou foi a Eduarda e isso também me deixou feliz por demais da conta. Ela me deu uma camiseta linda e mesmo não gostando de ganhar roupas, aquela camiseta eu adorei e ia usá-la com muita frequência.
- Obrigado, chefa. Eu amei!
- Feliz natal, Caio!
- Feliz natal, Duda!
- Ai, Senhor Deus! Nada supera a minha agenda de pelúcia cor-de-rosa! – Janaína estava muito entusiasmada.
- Isso daí é mais gay que carnavalesco com chilique pelo atraso do carro alegórico – Eduarda gargalhou.
- Deixa, eu nem ligo! É linda! Obrigada, amigo!
- Por nada, amor.
- Caio, deixa eu ver sua camiseta? – Kléber apareceu ao meu lado de repente.
- Claro, mano!
Eu mostrei meu presente pro meu amigo e ele mostrou o dele pra mim. O rapaz ganhou um óculos de sol bem estiloso. Eu gostei do presente dele.
Minha ceia de natal com o Vinícius não foi nada convencional. Nòs não fizemos nada daquelas comidas de natal e cozinhamos apenas uma carne assada, um arroz branco, um feijão com carne seca e de sobremesa fizemos um pudim de côco. Como era só nós dois, aquela comida seria mais que suficiente. E foi mesmo.
- Feliz natal, Caio – o médico formado fez questão de me dar um abraço.
- Feliz natal, Vini!
Claro que nós trocamos presentes. Eu comprei uma calça branca para o meu amigo e ele me deu um óculos de sol lindíssimo, bem parecido com o do Kléber.
- Adorei, adorei, adorei – gamei no objeto. – Muito obrigado!
- Gostou mesmo?
- Amei! Como fiquei?
- Ficou gatão – ele deu risada.
E assim foi passando o meu final de ano. Vinícius e eu ficamos sozinhos em casa no dia 25 e quase não conversamos. O Kléber por sua vez não ficou em casa e com certeza deveria estar com o tal do namorado cujo nome eu ainda não conhecia.
Meu natal foi incompleto demais. Estava faltando alguma coisa e não era o Murilo. Nem mesmo quando este me ligou eu fiquei mais contente...
- Obrigado, Murilo. Feliz natal pra você também.
- Obrigado, garotão. Como estão as festas por aí?
- Normais demais. E por aí?
- Aqui também.
- Está curtindo as suas férias?
- Demais, garotão. Já renovei a marquinha da minha sunga. Quer ver?
Dei risada.
- Quero!
- Quer que te mande uma foto?
- Manda aí...
- Quando eu desligar eu mando...
Pensei que era brincadeira, mas não é que ele mandou mesmo? A marca da sunga do Murilo estava muito evidente e eu confesso que isso me deixou com um pouquinho de tesão, mas nada muito extravagante demais.
Rodrigo também me ligou e com ele eu fiquei falando mais de meia hora. Ele disse que a Marcela ia chegar lá no dia 2 de janeiro e isso me deixou enciumado:
- Ah, quer dizer que ela vai aí?
- Vem sim... A gente já está morrendo de saudades...
- E quer dizer então que finalmente vai rolar? – me rasguei de ciúmes.
- Sim, finalmente vai rolar...
Isso foi mais do que suficiente para eu sentir vontade de quebrar a cara daquela piranha nojenta... Ela ia ficar com o meu Digow e eu não...
- Seu cachorro, seu safado, sem sem vergonha! Eu vou quebrar sua cara quando você colocar as patas aqui no Rio de Janeiro!
- Ficou com ciúmes?
- MUITO!
- É? Benfeito! Eu também fiquei com ciúmes quando você foi pra cama com aquele filho da puta!
- Digow, por que você não larga a Marcela e fica comigo, hein?
- Cacs, Cacs, Cacs – ele suspirou. – Isso é tão complicado!
- Complicado nada, Digow! É só você parar de brigar contra a sua razão!
- Você para de brigar com a sua por acaso?
- Às vezes sim!
- Hum...
Sempre que eu tocava nesse assunto, ele ficava um pouco recuado. Eu sabia que esse era um terreno que eu tinha que pisar com muito cuidado
- Cacs, tenho que desligar, minha bateria já está no finalzinho.
- Então tá! Até amanhã, meu anjinho da guarda que tanto amo!
- Até amanhã, meu pestinha! Manda um salve pro médico da casa.
- Deixa comigo! Um beijo!
- Outro, Cacs.
Pensei que ele não fosse me ligar, mas me ligou. Quando eu peguei o celular e vi o nome do Bruno, meu coração deu um pulo de alegria e os meus olhos ficaram cheios de lágrimas.
- Alô? – atendi de imediato.
- Caio?
Aquela era a primeira vez que nós conversávamos desde que a nossa transa acontecera.
- Oi, Bruno!!! Tudo bem?
- Eu estou indo e você?
- Indo também – suspirei.
- Feliz natal – a gente falou em uníssono. – Obrigado!
Demos risada.
- Que saudade que eu estava dessa voz... – ele falou.
- Estava é? – mordi meu lábio e senti meu pau endurecer.
- Muita saudade, muita mesmo...
- Hum... Como estão as coisas? Trabalhando muito?
- Um pouco e você?
- Hoje eu estou de folga...
- Acabei de chegar do trabalho – ele suspirou.
- Ah, é? Você está no seu apartamento?
- Estou sim. E você está em casa?
- Uhum. Não tem ninguém aí?
- Não. E com você?
- Meu amigo está aqui em casa...
- Ah, entendi. Eu atrapalho?
- Nã-não – gaguejei. Na verdade eu queria falar sim, mas meu coração não deixou.
- O que vai fazer no final de ano? – ele perguntou.
- Ah, ficar por aqui mesmo e você?
- Vou passar em Copacabana.
- É eu também vou passar por lá – falei.
- Verdade?
- Sim. Não tem pra onde ir, eu vou pra lá...
- É que nem eu... Vou sozinho mesmo...
- Sozinho?
- É!
- E o Vítor?
- Nós brigamos esses dias aí... Não estou falando com ele.
- Ah, é? E por que brigaram?
- Por uma besteira. Qualquer dia eu te conto.
- Hum – percebi que ele não queria falar sobre o assunto. – Caio?
- Oi?
- Será que a gente... Poderia se encontrar no ano novo?
Engoli em seco.
- Bruno... Não sei se é uma boa ideia...
- Ah... Tudo bem então...
Jurava pela minha mãe que ele ia insistir no assunto, mas isso não aconteceu. Eu nem soube mais o que falar.
- Então tá... Eu liguei só pra te desejar um feliz natal...
- Feliz natal, Bruno!
- Feliz natal, Caio!
Silêncio. Eu ouvia o barulho da respiração do meu ex.
- Então tchau – ele falou.
- Tchau – eu suspirei, mas não desliguei.
Ele também não desligou e nós ficamos como dois idiotas, esperando alguém desligar. Isso só aconteceu depois de um tempo e foi ele que desligou.
31 DE DEZEMBRO DE 2.008...
Como eu tinha um acréscimo de folgas na loja, fiz questão de pegar o natal e o ano novo para descansar. Já tinha ultrapassado em mais de 15 mil reais a minha meta de vendas e já estava mais do que satisfeito com isso. Portanto, resolvi pensar um pouco em mim e tirei esses dias para descansar. Ainda bem que o Jonas e a Eduarda não se opuseram ao meu pedido.
A praia de Copacabana como sempre estava abarrotada de pessoas. Vinícius, Kléber e eu chegamos lá por volta das 22 horas e já não havia mais lugar na areia para a gente ficar.
Eu não fazia questão disso e meus amigos também não, por esse motivo, nós ficamos do outro lado da avanida, apenas para acompanhar os fogos da passagem de ano, afinal era isso que era importante.
Como no ano anterior, eu estava cheio de metas para serem cumpridas em 2.009. Aquele foi o momento para eu colocar o meu 2.008 na balança e perceber o que eu tinha tirado de proveito naquele ano e o que não tinha sido tão bom para a minha vida.
Lembrei que pedi estudos e realmente consegui estudar. Estava fazendo faculdade e curso de inglês e isso era suficiente para mim.
Pedi um amor e consegui o Murilo. Não que ele fosse o meu verdadeiro amor, mas era ele que eu tinha que considerar.
Acabei levando o Rodrigo nesse pacote. 2.008 definitivamente foi um ano que mudou as estruturas da nossa amizade.
Não que nós dois tenhamos engatado um relacionamento, mas isso também não foi necessário.
Naquele ano o Digow mostrou-se outro para mim e a nossa relação se estreitou ainda mais. Eu poderia considerá-lo como um amor.
Mas e o Bruno? O Bruno tinha sido bom ou ruim no meu ano que estava acabando?
Essa foi uma pergunta que ficou sem resposta. Como de costume, a minha razão brigou com o meu coração e eu não soube me responder se ele tinha sido bom ou ruim.
Em um contexto geral, ele tinha sido ruim porque despertou sentimentos horríveis na minha vida, mas em um contexto menos abrangente, ele tinha sido bom porque trouxe de volta um sentimento que estava simplesmente adormecido na minha vida...
- Pensando? – Vinícius me encarou.
- Pesando na balança o que foi bom e o que foi ruim no meu ano...
- Também estou fazendo isso. Você quer uma bebida?
- Quero! Você vai comprar?
- Vou comprar sim. Quer o quê?
- Uma Smirnoff, por favor.
- E você, Kléber?
- Também, Vini. Obrigado!
Enquanto o bonitão foi comprar as nossas bebidas, eu voltei a pensar no meu ex. Já fazia um tempo que ele tinha voltado e nós ainda estávamos brigados... Até quando isso ia ficar desse jeito?
- Por que não foi ficar com o namorado, Kléber?
- Ele vai ficar com a família dele, Caio. Não me senti à vontade para isso.
- Entendo. Como ele se chama, afinal?
- O nome dele é Eduardo.
- Bonito o nome. Xará da Duda.
- É sim! Eu estou gostando muito dele.
- É da faculdade?
- Sim!
- Hum. Parabéns de novo pelo namoro.
- Obrigado, Caio!
E o que eu ia pedir para 2.009? Cheguei a conclusão que eu não ia pedir absolutamente nada, nada mesmo, a não ser saúde. Eu só ia agradecer...
Agradecer primeiramente à Deus por Ele ter me dado a vida e por eu estar alcançando mais um ano, o 21º da minha existência. Ia agradecer também pelos meus estudos, por tudo estar dando certo na minha vida profissional e por eu ter encontrado amigos verdadeiros como o Digow, o Fabrício, a Janaína, a Alexia e o Vinícius... Ia agradecer pela minha saúde, pela minha disposição e pela minha força de vontade... Era daquilo que eu precisava naquele ano novo que estava iniciando.
Paz. Eu ia pedir paz e tranquilidade. De certa forma, o meu 2.008 foi um ano turbulento demais e cheio de emoções. Eu queria que 2.009 fosse mais calmo, que 2.009 fosse menos agitado e que 2.009 fosse cheio de paz em todos os sentidos da minha vida...
Então era isso que eu ia pedir. Saúde e paz. Saúde para eu continuar vivendo da melhor forma possível e paz para eu encarar mais 365 dias pela frente.
E que 2.009 fosse um ano de vitórias e realizações. Eu literalmente entreguei a minha vida nas mãos de Deus e Nossa Senhora e pedi para Ambos me guiarem da melhor forma possível.
Depois de pensar em tudo isso, meu celular começou a tocar e eu notei que se tratava da Dona Elvira, o que me deixou muito feliz:
- Dona Elvira! Que saudade da senhora!
- Oi, meu filho! Tudo bem?
- Bem sim e a senhora?
- Muito bem, obrigada! Está na Praia de Copacabana, é? O barulho aí está bom, hein?
- Estou sim! Vim ver a virada de ano! A senhora está bem mesmo, mãe?
- Bem, amor! Amo quando você me chama assim, sabia?
- A senhora é uma mãe pra mim! Sinto tanto a sua falta!
- Eu também, meu filho! Eu nem vou falar muito, viu? Estou ligando só pra desejar um feliz ano novo...
Minha mãe postiça e eu falamos pouco, mas falamos o suficiente para ambos matarmos as saudades um do outro. Dona Elvira me fazia muita, muita falta. Ela sempre me dava ótimos conselhos e esses conselhos poderiam dar um direcionamento diferente na minha vida e poderiam colocar um pouco de juízo na minha cabeça desmiolada. Pena que ela estava em Minas Gerais...
Quando o Vini voltou, o relógio estava perto da meia noite. Eu queria entender por que ele demorou tanto a voltar daquele jeito.
- A fila está muito grande, Caio! Se soubesse eu nem teria ido...
Eu bebi minha bebida, fechei os meus olhos e comecei a rezar:
“Meu Deus, eu entrego a minha vida ao Senhor... Me guia pelo melhor caminho, me ilumina com a Vossa luz e cobre a minha vida com as Suas Bênçãos, Pai...
Minha Nossa Senhora, eu entrego a minha vida a Senhora... Me envolve com o Seu Manto Sagrado e me abençoa como uma verdadeira Mãe que Tu és. Mostra o melhor caminho a seguir, minha Mãe... Me guia pelo melhor caminho... Assim seja, assim se faça e assim já está acontecendo... Amém...”
Quando abri os meus olhos eu comecei a ouvir a contagem regressiva.
Vinícius passou o braço direito pelas minhas costas, eu passei o meu esquerdo pelas costas dele, o direito pelas costas do Kléber e juntos, nós esperamos a chegada de mais um ano novo.
- 5...
E que esse ano fosse diferente...
- 4...
E que esse ano fosse cheio de paz...
- 3...
E que esse ano fosse cheio de saúde...
- 2...
E que naquele ano eu resolvesse todos os problemas da minha vida... Inclusive e principalmente os meus problemas com o Bruno...
- 1...
E que 2.009 me reconciliasse com o Bruno...
1º DE JANEIRO DE 2.009...




3 comentários:
Chorei litros com esse capítulo
Olá Caio como vai,espero que bem né,leio a sua história a um tempinho mas só agora pude comentar leio aki no seu blogg ou na cdc vc realmente é um vencedor passar por tdo isso e ainda deu a volta por cima isso e pra poucos vc é simplesmente d+++++++ sua história e linda me indentifico um pouco com ela em partes. Embora sei que vc ficará com o bruno mas ñ sei até quando rsrs tenho uma esperançinha que lá no fundinho vc e Digow vão ter um trelêle,agora eu ñ esqueço de um comentário que vc fez que vc ia perder alguns leitores pela decisão que vc ia tomar ou escolha ñ me recordo direito mas eu imagino oq que seja tomara que eu esteja errado te falarei si oq penso acontecer mas informo que continuarei lendo lindo te adoro Caio Monteiro vc e sua história bjkasss fique com Deus até amanha cedo com mais um cap😍😘❤❤❤🙏
Caio não fique com o Bruno não fique com o Rodrigo ���������� eu quero o Digoow para mim ����
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