Capítulo 32²

E

u fiquei dividido entre entrar ou não entrar naquele quarto.

Se eu entrasse, iria colocar um fim na brincadeirinha do meu casal de amigos.
Se eu não entrasse, eles iriam continuar o que já tinham começado e tudo transcorreria normalmente entre nós três.
Resolvi optar pela segunda opção por dois motivos básicos. O primeiro era que eles já haviam iniciado o ato sexual e o segundo era que se eu entrasse ali e acabasse com aquela pequena farra, iria acabar causando um clima muito chato entre nós três e isso eu não queria que acontecesse. Sem contar também que eu poderia causar uma briga entre o casal e isso não seria nada legal.
Pelo sim e pelo não, eu fiquei na minha e continuei assistindo de camarote o que o Rodrigo e a Marcela estavam fazendo. Pelo menos eu iria ter uma chance de analisar a performance do Digow. Esse era o lado bom nessa situação.

O lado ruim era o ciúme que já estava dentro de mim e o fato deles estarem usando a minha cama. Isso seria algo que o Rodrigo ia ter que me explicar e muito bem explicado.
- Amor, tem certeza que não vai vir ninguém? – Marcela perguntou.
- Claro que eu tenho, amor!
- E se o Caio chegar?
- Ele não vai chegar agora, fica tranquila.
- Não sei... Eu não estou confortável.
- Relaxa, tá bom? Aproveita a oportunidade que a gente tem pra ficar junto e deixa essa paranoia de lado!
- Você trancou bem a porta do quarto?
- Não, Marcela. Ela está aberta!
- Ficou louco, Rodrigo? E se algum dos moleques chegar? Tranca essa porta, senão eu vou embora!
- Espera aí...
Só tive tempo pra colar o meu corpo na parede, porque se eu corresse até o quarto ao lado, provavelmente o Rodrigo ouviria os meus passos e iria atrás de mim. Por sorte ele só fez fechar a porta e voltou para onde estava.

- Droga! – me lamentei.
Tudo bem que eu não teria uma visão completa dos dois, mas eu estava conseguindo ver perfeitamente a bunda do Rodrito e só isso já tinha me deixado satisfeito. Aquela cachorra da Marcela cortou todo o meu barato.
O jeito era ouvir o que eles iam falar e eu tinha que me dar por satisfeito com isso.

Colei meu ouvido na porta e ouvi um gemido do Rodrigo. Quase não ouvi nada e pelo visto isso se deu pelo fato deles terem controlado os grunhidos de prazer.
Mas foi questão de tempo para o casal se soltar. Eu ouvi a Marcela gemer um pouco mais alto e em seguida ouvi um barulho de tapa. Será que o Rodrigo tinha batido nela?
- Minha safadinha...
Provavelmente sim. Que inveja eu estava sentindo dela!
- Fica de 4 pra mim, fica? – a voz dele entrou pelos meus ouvidos e me fez ficar excitado.
Então ele gostava de comer a namorada de 4? E se fosse comigo? Também seria daquele jeito?
- Empina, empina...
- Safado – mordi meu lábio.
- Agora rebola...
Fechei meus olhos e coloquei o pau pra fora. Por mais ciúmes que eu estivesse sentindo do Rodrigo, eu não podia ignorar o tesão que ele me fez sentir e resolvi bater uma sem nem pensar duas vezes.

- O que você quer? – ele perguntou.
- Quero você! – ela respondeu.
- O que você quer? Eu não ouvi...
- Eu quero você, Rodrigo.
- Quer rola, safada?
- Quero... – ela soltou um gemido muito horroroso.
- Então pede!
- Vai, amor... Mete bem gostoso, vai...
- É, safada? É isso aqui que você quer, hum?
- Isso... Isso... – ela iniciou uma série de gemidos e eu fiquei cada vez mais puto de raiva...
- Desgraçada!
Ouvi o barulho das peles se tocando e tive mais do que certeza que o Rodrigo estava metendo com muita força e rapidez, porque a Marcela não parava de gemer e as peles não paravam de bater uma na outra.
- Quer rola, não quer? Então é rola que você vai ter... Safada!
Mas o mais safado era ele. Ele é que estava vonduzindo a relação e ela só estava gostando e gostando cada vez mais.
Lembrei novamente da transa do Vinícius e não consegui comparar os dois. Pelo jeito, o Rodrigo estava sendo muito mais safado que o Vinícius. Será que ele era sempre daquele jeito?
- Deixa eu deitar no chão, safadona...
No chão? Então ele não estava usando a minha cama?
- Vem... Senta aqui bem gostoso...
Naquele momento eu não ouvi mais o barulho das peles se batendo e ouvi o barulho das pernas do Rodrigo batendo na cerâmica do chão do meu quarto. Isso me deixou completamente alucinado.
- Vai safada, senta na minha vara...
Ela gemia mais do que ele, mas em um determinado momento, ele também passou a soltar vários grunhidos e gemidos de prazer.
- Você é muito deliciosa, amor...
Continuei com a minha punheta e continuei imaginando o Rodrigo fazendo aquilo comigo. Eu ainda não estava acreditando que aquilo estava acontecendo...
- Sobe na cama, safada!

Na minha cama... NA MINHA CAMA!

- Vira de ladinho pra mim, vira?
Ela só obedecia... Como ele era mandão...
- Abre bem essas pernas pra mim, vai? Isso, safadona...
Será que esse era o apelido pelo qual ele a chamava sempre? Safadona não era algo muito romântico, não é mesmo?
- Que delícia de bocetinha...
- Você gosta?
- Eu adoro... Me beija, vem?
Novamente o barulho das peles se tocando. Eu fiquei com muito ódio dos dois e acima de tudo fiquei com nojo por eles estarem na minha cama!
- Vou gozar... Vou gozar, amor... – a voz da piranha entrou nas minhas orelhas.
- Vai gozar, vai safada?
- Vou... – ela gemeu.
- Então goza na minha boca, minha putinha gostosa...
Na boca dele? Eu fiquei com muito nojo da boca do Rodrigo!!!
- Então chupa, gostoso... Chupa, vai... – foi a vez dela mandar.
Ouvi um barulho de sucção muito forte e em seguida a Marcela gritou de prazer. Que raiva, que ciúme, que ódio do Rodrigo!
Eu não sei se foi bom ou ruim o fato deles terem feito tudo em um volume totalmente audível. Talvez se eles tivessem se controlado, eu não tivesse ficado com tanta raiva como fiquei.
- Gozou, gostosa? Delícia de bocetinha, hein?
- Gozei... – ela estava sem ar.
Pelo visto eles voltaram a transar, porque mais uma vez eu ouvi barulho das peles unidas e se batendo. Que fôlego era aquele do Rodrigo?
Porém não tardou e ele também anunciou o gozo. Rodrigo gemeu feito um desesperado e não ficou preocupado com o barulho que estava fazendo. Acho que mesmo se eu estivesse na rua, eu teria ouvido o que eles estavam fazendo.
Ouvindo aquele desespero de prazer do meu melhor amigo, foi impossível controlar o meu gozo. Eu cheguei ao orgasmo, fechei os olhos e a imagem do Bruno veio na minha cabeça, mas não era nele que eu queria pensar. Era no Rodrigo.
- Rodrigo safado...
- Gostosa.., Deliciosa... Safada...
- Vadio! – eu abri meus olhos e fui direto pro banheiro. Sequei meu esperma no papel higiênico, lavei as mãos e depois eu fui direto pro quarto dos meninos. Entrei e deixei a porta entreaberta. Eu queria só ouvir o que ia acontecer dali em diante.
Não ouvi quase nada do que eles estavam falando no quarto, mas não precisei ouvir. Eu vi. Eles saíram do quarto e foram pra cozinha. Ambos estavam suados e a Marcela estava toda descabelada. O melhor de tudo foi ver o meu amigo completamente pelado.
- Gostoso – eu falei para mim mesmo.
Ele era lindo de tudo quanto era jeito, mas pelado era ainda mais. Essa foi a primeira vez que eu vi o Digão completamente nu e é claro que isso me deixou novamente excitado, mas logo eu broxei. Ver a Marcela nua foi a pior cena de toda a minha vida.
- Nojenta!
Eles entraram no banheiro com a porta aberta e foram direto pro chuveiro. Eu não consegui ver mais nada e resolvi ir para uma das camas. Escolhi a que ficava na parede da janela. De quem seria?

Eu teria que conversar com o Rodrigo naquela noite. Ele não poderia ter feito aquilo. Não na nossa casa, não no nosso quarto, não na minha cama. Logo na minha cama...
Logo ele! Com tanta gente naquela casa tinha que ter sido logo ele! E eu que pensei que colocaria a minha mão no fogo por aquele cachorro!!!
Apurei os meus ouvidos e tentei ouvir alguma coisa no banheiro, mas só ouvi o barulho da água caindo no chão. Logo eles desligaram a ducha e voltaram pro quarto. Será que ela ia embora?
Será que era a hora de aparecer? Ou seria melhor deixar a Marcela ir embora de casa? Achei melhor ficar com a segunda opção. Se eu aparecesse naquele instante, ficaria na cara que eu tinha ouvido tudo e eu não queria que ela percebesse que eu sabia o que tinha acontecido.
Por isso, fui obrigado a esperar a saída da vagabunda e isso só aconteceu depois de uma meia hora.
Quando eles saíram, eu averiguei se a barra estava limpa e fui logo pro meu quarto.
Que nojo eu senti. O quarto estava impregnado com o cheiro do sexo dos dois. Eu fiquei com meu estômago embrulhado.
Olhei tudo e não encontrei nenhuma prova que incriminasse os meus amigos. Eles tinham limpado tudo, mas o cheiro estava la do mesmo jeito. Eu ia matar o Rodrigo. Simplesmente matar!
E não é que o dito cujo apareceu no quarto rapidinho? Ele estava cantarolando e ficou mudo, branco e parado feito uma estátua quando me viu.

- Ca-Caio?
- Muito bonito, né Rodrigo?
- Ca-Caio? Faz te-tempo que você chegou, cara?
- Faz – esse “faz” eu deixei bem alongado. – Faz sim, Rodrigo. Lindo o que você fez com a Marcela. Muito bonito mesmo. Parabéns!
- Caio, Caio... Eu posso explicar...
- EXPLICAR O QUÊ, SEU CACHORRO? EU VI E OUVI TUDINHO!
- Vo-você viu? E ouviu? – ele ficou mais branco do que já estava.
- Vi sim e ouvi sim... Como eu não ia ouvir? Acho que até um surdo ia conseguir ouvir os seus gemidinhos... CACHORRO!
- Caio, não fala nada pros caras, por favor... Eu te peço!
- NA MINHA CAMA, RODRIGO? LOGO NA MINHA CAMA, SEU NOJENTO?
- Desculpa, desculpa... Me perdoa, me perdoa, Caio... A gente não conseguiu resistir...
- Você é um nojento! – eu quis bater nele, mas não tive coragem. – Logo na minha cama... Por que não fez na sua, cacete?

- Porque a minha é muito alta, a gente podia cair...
- O problema não é meu! Foda-se se vocês caíssem... Ah, que ódio... QUE ÓDIO QUE EU ESTOU SENTINDO DE VOCÊ!
Rodrigo abaixou a cabeça e ficou muito, muito sem graça mesmo. Eu xinguei o moleque de tudo quanto foi nome e ele não abriu a boca um segundo sequer.
- Desculpa, Caio!
- Desculpa é o caralho! Eu é que não vou mais querer ficar nessa imundice de cama...
- Não fala assim, por favor...

- Falo assim sim! Dois nojentos vocês... Ai que vontade de esganar aquela rapariga!
- Não fala assim da Marcela! – ele começou a ficar irritado.
- Falo sim porque eu não gosto dela. Você não deveria namorar com aquela menina!
- E deveria namorar com quem? Com você? Se toca, Caio! Eu gosto é de mulher, caralho...
Isso doeu!
- Você não podia ter trazido essa garota aqui, Rodrigo!
- Mas eu trouxe! E aí, o que você vai fazer? Vai falar pros caras? Nem se preocupa, eu mesmo falo!
- Era o que eu deveria fazer mesmo... O Vini não ia ficar feliz em saber o que aconteceu aqui.
- Fala então! Pode falar... Eu sou homem o suficiente para assumir os meus erros!
- Isso é o que eu quero ver!
- Então fala, Caio! Quer que eu ligue pra eles agora ou você prefere esperar pra falar pessoalmente?
- Cachorro... Ai que vontade de socar a sua cara!
- Vem socar então... Você se faz de machão, mas não é!
- Vai mostrar as garras agora? Vai mostrar o preconceito que existe aí dentro de você? É isso mesmo que eu entendi?
- Você sabe muito bem que eu não sou preconceituoso!
- Acho bom não ter mesmo, porque se um dia você fizer qualquer coisa que seja preconceituosa na minha frente, a nossa amizade vai acabar na mesma hora.
- Eu não quero que a nossa amizade acabe.
- Nem eu. Mas que eu estou com raiva de você, ah eu estou.
- Está com ciúmes, né? – ele foi até onde eu estava. – Me dá um abraço?
- Não encosta em mim! – eu recuei. – Senão eu soco a sua cara!
- Então vem me socar, Caio – Rodrigo me puxou e me deu um abraço de urso. – Eu sei que você não tem coragem.
Amoleci. Não tinha mesmo. É claro que eu não tinha.
- Cachorro!
- Desculpa, vai?
- Não! Na minha cama? Isso é imperdoável!
- Eu não tinha como fazer na minha, de verdade...
- Problema é seu, cachorro!
- Au, au – Rodrigo latiu.
Eu senti vontade de rir. Ele sabia como amolecer o meu coração.
- E se eu te der um beijo? Você me perdoa?
- Um beijo? Na boca?
- Não. Na bochecha.
- Acha que eu vou querer que você encoste essa boca em mim depois do que você fez, Rodrigo? – dei risada. – Me solta. Eu não vou te perdoar tão fácil assim.
- Não vai não, é?
- Claro que não! Isso foi inadimissivel!
- E se eu dormir essa noite com você?
- Não sou fácil assim não, meu filho!
- E se eu te der uma caixa de bombons?
- Não!
- Um perfume?
- Não, não!
- O que você quer para me perdoar?
- Não quero nada. Eu não vou te perdoar e vou te denunciar pros meninos. Tomara que você seja expulso da república!
- Vai mesmo fazer isso? – ele fez bico.
- Vou! Não gostei do que vi e odiei o que ouvi.
- Bem que eu desconfiei daquela porta aberta – Rodrigo parou pra pensar. – Foi você que abriu, né?
- Claro! Eu queria me certificar do que estava acontecendo. E não gostei do que vi!
- O que você viu?
- Você pelado de costas pra porta... Bela bunda, hein?
- IDIOTA! – Rodrigo me empurrou com força e eu caí sentado na cama.
- Nunca mais me empurra desse jeito, entendeu?
- Quem mandou você ficar me olhando, seu polha?
- Olhei mesmo. A culpa é sua. Ninguém mandou você fazer isso aqui em casa!
- Era o único lugar que eu tinha, cacete!
- Problema é seu. Fosse num motel ou fizesse no meio da rua. Aí já não é problema meu.
- Não tenho dinheiro pra motel. Preferia mil vezes ter feito no meio da Avenida Brasil, se soubesse que você estava vendo tudo!
- Pena que você trancou a porta, senão eu teria visto tudo mesmo!
- Por acaso você não viu a minha namorada pelada não, viu?
- Infelizmente eu vi sim... Na hora que vocês foram tomar banho eu estava no quarto dos meninos. Foi a pior visão do mundo!
Eu nunca pensei que o Rodrigo fosse me puxar pelo braço do jeito que ele me puxou. O garoto me deu uma chave de pescoço e eu fiquei totalmente imobilizado.

- Eu deveria quebrar os seus dentes, Caio – ele falou com os próprios dentes fechados. – Você é muito sem noção, garoto!
- Me solta – eu fiquei sem ar.
- Agora sou eu que estou com ódio de você, seu trouxa...
- Me... Solta!
- Não vou te soltar não... Queria te socar até você perder a consciência só por ter ficado bisbilhotando a minha transa!

- ME SOLTA! – foi a minha vez de empurrar o Rodrigo. Ele apertou tanto o meu pescoço que eu tossi sem parar.
- QUE ÓDIO DE VOCÊ!
- EU É QUE ESTOU COM ÓDIO DE VOCÊ, RODRIGO!
- CURIOSO DO CACETE! 

- O QUE VOCÊ QUERIA QUE EU FIZESSE? VOCÊS ESTAVAM NA MINHA CAMA, NO MEU QUARTO E NA MINHA CASA!
- VOCÊ PODERIA MUITO BEM TER SAÍDO E VOLTADO DEPOIS!
- EU? SAIR? – dei risada e tossi. – A CASA TAMBÉM É MINHA, RODRIGO CARVALHO!
- FODA-SE! EU NÃO QUERO MAIS SABER DE NADA...
- EU É QUE NÃO QUERO SABER DE NADA, ENTENDEU?
- ÓTIMO! ENTÃO SOME DA MINHA FRENTE E ME DEIXA EM PAZ!!!
Ouvir essa frase foi o mesmo que sentir uma faca entrando no meu peito.
- Ótimo! É exatamente isso o que eu vou fazer...
Abri o meu guarda-roupa e peguei algumas peças de roupa. Eu não ia dormir no mesmo quarto que o Rodrigo, não ia mesmo.

- Então vai embora e não fala mais comigo. Eu prefiro não ter a sua amizade e ter privacidade a ter a sua amizade e ser bisbilhotado na hora da minha intimidade.
- Cachorro... Ai que ÓDIO!
Rodrigo deu um chute na cama e bufou de raiva. Eu coloquei as minhas roupas dentro da mochila e em seguida saí do quarto.
- Onde você vai? – ele perguntou.
- ISSO NÃO É DA SUA CONTA!
Bati a porta com toda a força que tive e em seguida desci as escadas correndo. Eu precisava ir para algum lugar, mas para onde eu poderia ir???