A
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lmas gêmeas? Eu comecei a desconfiar que o Baralho da mulher estava era com
defeito!
- Almas gêmeas? – eu encarei a criatura. – Seu baralho está com defeito, Do Carmo!

- Não, não está não – ela sorriu. – Vocês são sim almas gêmeas. Vocês não se encontraram por acaso, Caio.
- Como assim? – não entendi o que ela quis falar com aquilo.

- Vocês já viveram juntos em várias encarnações e continuarão vivendo por muitas mais. Você foi feito pra ele e ele foi feito pra você.
- Desculpa, mas aí eu já não acredito mais...
- Você pode até não acreditar, mas que é verdade, é verdade! As histórias de vocês dois são muito parecidas.
- Parecidas?
- Muito preconceito envolve vocês dois.
Puta que pariu! Até nisso ela acertou!
- Hum... – preferi não manifestar as minhas incertezas na frente da minha colega de trabalho. – Quer dizer então que nós vamos voltar? É isso mesmo? Você tem certeza?
- Absoluta.
- E se eu não quiser voltar?
- Você quer.
Filha da puta...
- E se ele não quiser voltar comigo?
- É o que ele mais quer. Volto a repetir que essa separação que ocorreu no passado foi necessária. Estava escrito assim na história de vocês e não tinha como ser diferente.

- Ah, é?
- Claro... Acredite, eu estou certa do que estou falando.
- Quanto tempo nós ainda temos? – perguntei.
- 15 minutos, mas eu te dou mais 5 minutos de cortesia. O que mais você quer saber?
- Ainda sobre esse assunto, o que mais você enxerga aí no nosso passado?
- Espera eu me concentrar mais um pouco, enquanto isso você corta o baralho em cinco partes e tira mais duas cartas pra mim, por favor.
Eu fiz o que ela pediu e notei que a mulher fechou os olhos e se ajeitou na cadeira.

- É isso mesmo que eu te falei, Caio – ela analisou a carta com muita seriedade. – Vocês foram separados, mas precisavam passar por isso, vocês se reencontraram recentemente e ainda vão ser muito felizes juntos. Houve uma traição por parte dele, mas não foi algo muito sério. Procede?
Era isso que eu queria saber.
- Procede. Você é foda, Do Carmo!
- É a minha sensibilidade com as cartas desse oráculo, Caio. Nada mais que isso.
- Podemos falar do meu atual namorado?
- Sim. O que quer saber dele?
- Ele está mesmo me traindo?
- Vou confirmar isso, mas nem precisava.
Pausa. Ela mexeu nas cartas.
- Sim, ele está te traindo sim.
Fiquei calado e depois perguntei:
- Não vai aparecer mais ninguém na minha vida? Um terceiro?
- Não. Existe um...
- Existe? – me surpreendi.
- Existe... Eu preciso analisar isso mais profundamente porque isso não apareceu antes. Pega três cartas pra mim, por favor.
- Deixa ver... Essas!
- Hum... Almas fraternas.
- Almas fraternas?
- Sim... Vejo que ele é uma pessoa muito próxima a você...
- Gente! Quem será?
- Vocês se amam muito também, mas não é amor carnal... É amor fraternal...
- Oi?!
- Nossa... Parece que vocês se salvaram de alguma coisa... Como se um tivesse salvado o outro da...
- Da? – eu fiquei com o coração aceleradíssimo.
- Morte – ela falou baixinho. – Intrigante. Pega mais uma carta...
Engoli em seco. Será que ela estava falando do...
- O nome dele começa com a letra... R... Tem alguém perto de você com a letra R?

- Tem!!! Meu melhor amigo, o Rodrigo!!! – eu sorri.
- Hum... Vocês se conhecem há muito tempo?
- Bastante. Praticamente 4 anos.
- É isso mesmo... 4 anos...
- Por que disse que Rodrigo e eu somos almas fraternas?
- Porque na vida passada de vocês dois, vocês foram irmãos. E voltaram pra resgatar essa relação que foi interrompida.
- Interrompida? Por que foi interrompida?
- Uma morte muito prematura de uma das partes. Provavelmente dele.
O QUÊ?! Isso pra mim já estava virando palhaçada!
- Esse Rodrigo não tem irmãos de sangue nessa vida. Ou tem?
- Não – fiquei pasmo.
- É isso mesmo. Vocês se encontraram pra recuperar todo o tempo que perderam na vida passada. Ele é seu irmão que voltou pra ficar perto de você pra sempre. E esses dois salvamentos – pausa. – Une vocês ainda mais.
- Do Carmo, você me dá medo!
- Procede? – ela sorriu.
- Sim, procede! Um salvou o outro da morte. Mas eu não acreditei que na vida passada ele morreu, isso eu não acreditei.
- É um direito que você tem, mas é o que diz na carta e o Tarô nunca mente. A relação de vocês dois é muito linda, muito abençoada. Aproveite isso. É raro.
- Mas... – engoli em seco. – Nós dois não poderíamos... Ficar juntos, poderíamos?
- Não – a resposta foi rápida. – Ele não é homossexual, embora...
Pausa.
- Embora? – perguntei.
- Embora tenha se sentido confuso com seus sentimentos nos últimos tempos. Mas ele já encontrou a coerência e você também. Vocês dois são irmãos de alma e assim devem permanecer. Um completa o outro, mas não como casal.
Puta que pariu, aquela mulher era porreta!
- Quanto tempo eu ainda tenho?
- Mais 10 minutos contando com os 5 cortesia que eu te dei.
- Deixa eu voltar pro Bruno?
- O que mais você quer saber dele?
- Ele vai me trair caso a gente volte?
- Não gosto de falar de traição, mas vamos lá. Eu quebro o seu galho.
- Por favor!!!
A cartomante mexeu em seu Tarô e suspirou profundamente.
- Não – essa foi a resposta. – Nunca haverá traição por nenhuma das partes. Vocês se amam e é um amor incrivelmente puro, incrivelmente lindo...
- Jura? – me derreti todinho.
- Sim! É fato que vocês vieram pra se amarem nessa vida e que precisam ficar juntos pra enfrentar muitas dificuldades no futuro.
- Quais dificuldades? – nessa altura eu já não duvidava de mais nada.
- A separação física que eu te falei – pausa. – Dificuldades financeiras também... E pelo que vejo aqui, vão ter que enfrentar muito, mas muito preconceito lá na frente, bem lá na frente...
- Sério?
- Sim... Acredito que em 7, 8 anos mais ou menos. Vocês passarão por muitas provações e serão apedrejados de todos os lados, mas vão passar por cima de tudo isso, vão dar a volta por cima e serão felizes do jeito que vocês merecem.
- Ai, Do Carmo – eu suspirei. – Como ele pode ser a minha alma gêmea se a gente é tão jovem assim?
- E daí? Vocês se encontraram cedo pra ficarem juntos até a morte. É isso!
- Ai, Deus...
- Caio, amolece esse coração! Se entrega pro seu amor, meu lindo! Não adianta você ficar sofrendo desse jeito, não adianta!
- Você disse – mudei de assunto – que eu fui traído, muito traído. Por quem?
- Deixa ver aqui...
Mais uma vez ela mexeu no Tarô, pegou três cartas e disse:
- Vejo que você teve três namorados. Um é o que você está atualmente, aquele que começa com a letra M se não me engano...
- Isso!
- Outro é o que é a sua alma gêmea... E o terceiro é um que não faz mais parte de sua vida...
Carlos Henrique!
- Exatamente – confirmei.
- Esses três te traíram, mas também... Houve uma traição de um quarto homem...
- Quarto homem?
- Mas eu não vejo envolvimento amoroso entre vocês dois... É como se ele fosse... Uma espécie de inimigo...
- Inimigo?
- As cartas dizem que ele tinha inveja de você. Hoje em dia ele também não faz mais parte da sua vida.
- Inveja de mim? Quem será, meu Deus?
- Pelo que me parece – mais uma pausa –, ele queria ficar com seu namorado...
- Espera aí! – de repente veio uma luz na minha mente. – Eu acho que sei de quem você está falando! Deve ser do Leonardo.
- Ele não faz mais parte de sua vida, essa alma ainda vai aprender muito nessa vida.
- Que Deus o abençoe e que ele fique longe de mim!
- É isso... Não consigo ver mais nenhuma traição.
- Que bom! Pelo menos isso.
- Pra finalizar a sua consulta, diga-me a sua data de nascimento?
- 31 de agosto – por que ela queria essa informação?
- Você é médium.
- OI? – fiquei pasmo.
- Você é médium!

- Médium? – soltei um risinho. – Não acredito.
- Já disse que você pode não acreditar, mas que você é, você é.
- E como você sabe disso?
- Porque isso está muito claro pra mim. Eu também sou médium e agora eu entendi por qual motivo eu precisava te ajudar.
- Não acredito nessas coisas de mediunidade, Do Carmo. Desculpa.
- Não, tudo bem. Um dia você vai acreditar e vai entender o que estou falando. Você é muito intuitivo e ao mesmo tempo você absorve muito as energias das pessoas. Tome cuidado.
- Sério?
- Sim. Você atrai coisas boas pra você, mas também atrai coisas ruins. É por isso que às vezes você tem a sensação que nada dá certo pra você. Você precisa se resguardar das energias negativas das pessoas e também dos ambientes.
- E como eu posso fazer isso?
- Basta orar. O seu mentor está sempre do seu lado, ele está sempre te ajudando e continuará te ajudando até você desencarnar.
- Hum...
- Posso te dar um conselho?
- Pode sim...
- Acenda uma vela pro seu anjo da guarda!

- Vela? Nunca pensei em fazer isso não.
- Acenda para Arcanjo Rafael. Ele também está sempre contigo. Ele é seu protetor.
- Arcanjo Rafael? Eu sempre gostei dele...

- Pois é. Acenda uma velinha verde pra ele, com seu nome escrito à lápis em um papel branco. Te fará muito bem,
- Hum... Muito obrigado pelo conselho, Do Carmo.
- E assim nós finalizamos a sua consulta. Mais alguma pergunta?
Pensei um pouco.
- Hã... Acho que não.
- Então muito obrigada, Caio. Espero que eu tenha te ajudado de alguma forma. Talvez neste primeiro momento não, mas mais pra frente eu tenho certeza que alguma coisa que eu te falei vai ter serventia.
- Como te disse, eu não acredito muito nessas coisas, mas tudo bem. Eu vim mais pela curiosidade mesmo.
- Não, não foi pela curiosidade. Você foi guiado pelo seu mentor. Ele está contigo neste exato momento.
Senti um super arrepio em todo o meu corpo e ao mesmo tempo um calor muito anormal. Ouvir essa frase me deixou completamente assustado.
- Só mais uma coisa, Caio...
- O quê? – fiquei curioso.
- Tome muito, muito cuidado com as suas amizades. Não confie em todos os que te cercam.
Por que ela estava dizendo aquilo? Será que sabia de algo e não queria me falar?
- Por que está me dizendo isso?
- Não sou eu que estou falando, é o seu mentor. Abra bem os seus olhos e preste atenção em quem é e quem não é seu amigo de verdade.
Engoli em seco. De quem será que ela estava falando?
- De quem você está falando?
- Não sei. Isso é você que vai ter que descobrir. Vamos voltar pra loja?
Confesso que fiquei preocupado. Quem seria esse amigo que eu teria que tomar cuidado?
- Vamos sim. Obrigado pelas informações, pelos conselhos e pela consulta, Do Carmo.
- Eu que te agradeço. Se precisar de outra eu estou à disposição.
- Muito agradecido.
- Só uma dúvida?
- Qual? – me voltei para ela.
- Eu errei muito?
- Não, Do Carmo. Você acertou absolutamente tudo! Acertou todas as iniciais, que fui traído pelo Léo, que amo o Bruno e logo de cara descobriu que sou gay sem que eu precisasse falar nada! Estou arrepiado!!!
- Que bom que eu acertei. Sinal que meu dom está evoluindo muito. No começo eu não sabia ler as cartas tão bem assim.
- Você foi ótima! Me deixou surpreso!
- Que bom. Fico muito feliz!
Nós dois voltamos pra loja e é claro que eu fiquei pensando em tudo o que ela me disse, né?
A mulher acertou tudo sobre a minha vida. Acertou a inicial do nome do Murilo, a inicial do nome do Bruno, a inicial do nome do Digow disse que eu estava dividido entre dois HOMENS, sendo que ela não sabia que eu era gay e disse que o Bruno e eu éramos almas gêmeas...
Nos primeiros momentos de reflexão, eu fiquei em dúvida de tudo o que ela disse, mas depois eu pensei mais detalhadamente e percebi que ela não poderia saber o que tinha acontecido entre eu e o Bruno... Mas como ela sabia de tudo aquilo?
Fiquei pra lá de balançado. Ao mesmo tempo que fiquei com medo, fiquei também espantado. Ela acertou muitas coisas ao meu respeito, acertou tudo na verdade...
E aquela história que eu era médium? Eu é que não queria ouvir, muito menos ver espíritos. Na verdade, eu nem sabia se espíritos existiam de verdade ou não. É claro que a gente sempre acredita, mas eu acreditava desacreditando. Acho que daquele momento em diante eu não desconfiei mais.
E o lance que ela disse à respeito da minha volta com o Bruno? Será que isso ia mesmo acontecer? E a história do Murilo ter uma mulher? Será que era mesmo verdade? Eu achava que não...
Mas o mais intrigante foi a última coisa que ela me disse. Com quem eu deveria ter cuidado?
Rodrigo? Duvidava muito. Ele era uma boa pessoa e nunca havia me feito nenhum mal, até mesmo porque a própria Do Carmo disse que ele era o meu irmão, que nós tínhamos sido irmãos em vidas passadas e que a gente se completava. Não, não era ele.
Vinícius? Ele era tão boníssimo, assim como o Digão. Ele também nunca tinha me feito mal algum e eu tinha certeza que nunca seria capaz de fazer.
Fabrício? Não. Ele era gente boa e jamais me faria algum mal. Eu tinha certeza disso.
Kléber? Era fato que nós estávamos nos aproximando cada vez mais, mas eu nunca percebi nenhuma má intenção por parte dele. Ou eu estava enganado?
E se fosse o Miguel? Eu não tinha nada contra o irmão do Kléber, pelo contrário. Ele era gente boa, nunca me desrespeitou e sempre me tratou muito bem.
Seria o Maicon? Não sei. Poderia ser. Nós dois não éramos “amissíssemos”, mas também não éramos inimigos declarados.
E o Everton? Ele sim, até poderia ser. Pelo que me parecia, o garotão não curtia muito os homossexuais e às vezes ele parecia saber da minha orientação sexual. Só por esse motivo eu cogitei sim a possibilidade do recado ser com relação a ele. Será?
E se fosse o Jonas? Além dele ser meu chefe, ele era também o meu amigo. Porém eu não conseguia enxergar o Jonas como uma pessoa ruim e que quisesse o meu mal. Não, não. Não era o Jonas.
A Do Carmo disse amigo, mas e se fosse uma amiga?
Janaína? De jeito nenhum!!! Minha melhor amiga era quase a minha irmã mais velha. É claro que eu poderia confiar plenamente nela.
Alexia? Não também. Nós éramos bons amigos, bons amigos mesmo... Eu duvidava muito que a Alexia fosse me causar algum transtorno.

Eduarda? Nããão. A Duda foi uma das pessoas que me ajudou na vida e eu confiava cegamente nela. Ela não ia me fazer nada de ruim.
Marcela? Bem capaz. Na verdade, eu não considerava a Marcela uma “amiga”; a garota não passava de uma colega de faculdade e era a namorada do meu melhor amigo. Se fosse ver, ela não passava de uma espécie de cunhada. Talvez o recado fosse pra ela... Eu ia abrir os meus olhos.
Não pensei em mais ninguém, porque os meus amigos mais próximos eram esses. Só que eu esqueci um detalhe e só lembrei depois de um tempão.
Víctor??? Será que era ele??? Será que era com o meu best friend paulistano que eu tinha que abrir meus olhos? Mas fazia tanto tempo que eu não o via... Como poderia ser ele? Fiquei encafifado.
- Segui o seu conselho, Jana – fui até a minha amiga. – Eu me consultei com a Do Carmo.

- E aí? – ela agarrou meus braços. – Conta, conta.
- Ela acertou tudo, meu... Tudo mesmo. Até a cor da cueca que eu vou usar daqui 87 anos!
- Não disse? E aí, o que ela falou?
- Disse primeiro do Murilo. Acertou a letra do nome dele e disse que ele não é confiável. Disse que ele tem uma mulher...
- O QUÊÊÊÊÊÊÊ? – a negra ficou até branca.
- Foi o que ela disse. Daí disse que eu tenho que terminar com ele.
- E tem mesmo, menino! Se ele tiver outra você tem que dar um chute no saco dele!!!
- Nossa, que maldade – eu ri. – Você sabe o quanto dói um chute no saco?
- Já chutaram o seu saco?
- Não, mas eu já levei uma bolada na escola. Quase desmaiei de tanta dor, mas enfim. O foco da conversa não é esse.
- Ela não disse nada sobre o... Bruno?
- Uhum. Disse que nós somos... Almas gêmeas.
- PAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAARA TUDO! ALMAS GÊMEAS?
- É... Foi o que ela disse.
- Ai que emoção!!! Fiquei branca Parmalat agora... Que liiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiindo, Caio...
- Lindo é o cacete – bufei. – Eu não acreditei nisso.
- E o que mais ela disse? O que mais?
- Disse que a nossa separação já estava escrita. Ela disse que eu e o Bruno precisávamos passar por essa separação. E disse que nós... Vamos voltar!
- Fiquei preta passada na chapa de pão. Que incrível isso...
- Incrível nada. Eu não acreditei em nada.
- Não, é? Sei...
- Ela disse que existe um terceiro homem na minha vida...
- OI?! – a negra ficou paralisada. – QUE HOMEM É ESSE, CAIO MONTEIRO?
}- O Rodrigo. Disse que nós dois somos almas fraternas e que fomos irmãos em vidas passadas. Vê se pode!
- Pode, claro que pode! Eu super acredito nessas coisas.
- E falou para eu tomar cuidado com as minhas amizades.
- Falou? Então abre seus olhos. Quem é seu anjo?
- Arcanjo Rafael.
- O meu é o Gabriel. Acho que é por isso que eu queria pegar o bombadão do Gabo.
- Ai, Deus... Só você mesmo.
- E aí? O que vai fazer daqui pra frente?
- Como assim, Jana?
- O que vai fazer? Vai terminar com o Murilo e voltar com o Bruno?
- Lógico que não! Até parece...
- Será que você não aprende nunca?
- Aprender o quê? Não é porque o Tarô disse que eu vou seguir isso. Eu, hein?
- Então o problema é seu, menino chato. Tomara que o Murilo coloque um belo par de chifres na sua testa. Só assim você vai ver que é verdade o que a Do Carmo falou.
- Aham. Muito obrigado pela parte que me toca, Janaína.
Se o Murilo fizesse isso, eu com certeza ia terminar o namoro, mas eu simplesmente não podia confiar no que me disseram. Se fosse o caso e se isso realmente acontecesse, eu agiria da forma correta, mas não ia sofrer por antecipação.
- Almas gêmeas? – eu encarei a criatura. – Seu baralho está com defeito, Do Carmo!
- Não, não está não – ela sorriu. – Vocês são sim almas gêmeas. Vocês não se encontraram por acaso, Caio.
- Como assim? – não entendi o que ela quis falar com aquilo.
- Vocês já viveram juntos em várias encarnações e continuarão vivendo por muitas mais. Você foi feito pra ele e ele foi feito pra você.
- Desculpa, mas aí eu já não acredito mais...
- Você pode até não acreditar, mas que é verdade, é verdade! As histórias de vocês dois são muito parecidas.
- Parecidas?
- Muito preconceito envolve vocês dois.
Puta que pariu! Até nisso ela acertou!
- Hum... – preferi não manifestar as minhas incertezas na frente da minha colega de trabalho. – Quer dizer então que nós vamos voltar? É isso mesmo? Você tem certeza?
- Absoluta.
- E se eu não quiser voltar?
- Você quer.
Filha da puta...
- E se ele não quiser voltar comigo?
- É o que ele mais quer. Volto a repetir que essa separação que ocorreu no passado foi necessária. Estava escrito assim na história de vocês e não tinha como ser diferente.
- Ah, é?
- Claro... Acredite, eu estou certa do que estou falando.
- Quanto tempo nós ainda temos? – perguntei.
- 15 minutos, mas eu te dou mais 5 minutos de cortesia. O que mais você quer saber?
- Ainda sobre esse assunto, o que mais você enxerga aí no nosso passado?
- Espera eu me concentrar mais um pouco, enquanto isso você corta o baralho em cinco partes e tira mais duas cartas pra mim, por favor.
Eu fiz o que ela pediu e notei que a mulher fechou os olhos e se ajeitou na cadeira.
- É isso mesmo que eu te falei, Caio – ela analisou a carta com muita seriedade. – Vocês foram separados, mas precisavam passar por isso, vocês se reencontraram recentemente e ainda vão ser muito felizes juntos. Houve uma traição por parte dele, mas não foi algo muito sério. Procede?
Era isso que eu queria saber.
- Procede. Você é foda, Do Carmo!
- É a minha sensibilidade com as cartas desse oráculo, Caio. Nada mais que isso.
- Podemos falar do meu atual namorado?
- Sim. O que quer saber dele?
- Ele está mesmo me traindo?
- Vou confirmar isso, mas nem precisava.
Pausa. Ela mexeu nas cartas.
- Sim, ele está te traindo sim.
Fiquei calado e depois perguntei:
- Não vai aparecer mais ninguém na minha vida? Um terceiro?
- Não. Existe um...
- Existe? – me surpreendi.
- Existe... Eu preciso analisar isso mais profundamente porque isso não apareceu antes. Pega três cartas pra mim, por favor.
- Deixa ver... Essas!
- Hum... Almas fraternas.
- Almas fraternas?
- Sim... Vejo que ele é uma pessoa muito próxima a você...
- Gente! Quem será?
- Vocês se amam muito também, mas não é amor carnal... É amor fraternal...
- Oi?!
- Nossa... Parece que vocês se salvaram de alguma coisa... Como se um tivesse salvado o outro da...
- Da? – eu fiquei com o coração aceleradíssimo.
- Morte – ela falou baixinho. – Intrigante. Pega mais uma carta...
Engoli em seco. Será que ela estava falando do...
- O nome dele começa com a letra... R... Tem alguém perto de você com a letra R?
- Tem!!! Meu melhor amigo, o Rodrigo!!! – eu sorri.
- Hum... Vocês se conhecem há muito tempo?
- Bastante. Praticamente 4 anos.
- É isso mesmo... 4 anos...
- Por que disse que Rodrigo e eu somos almas fraternas?
- Porque na vida passada de vocês dois, vocês foram irmãos. E voltaram pra resgatar essa relação que foi interrompida.
- Interrompida? Por que foi interrompida?
- Uma morte muito prematura de uma das partes. Provavelmente dele.
O QUÊ?! Isso pra mim já estava virando palhaçada!
- Esse Rodrigo não tem irmãos de sangue nessa vida. Ou tem?
- Não – fiquei pasmo.
- É isso mesmo. Vocês se encontraram pra recuperar todo o tempo que perderam na vida passada. Ele é seu irmão que voltou pra ficar perto de você pra sempre. E esses dois salvamentos – pausa. – Une vocês ainda mais.
- Do Carmo, você me dá medo!
- Procede? – ela sorriu.
- Sim, procede! Um salvou o outro da morte. Mas eu não acreditei que na vida passada ele morreu, isso eu não acreditei.
- É um direito que você tem, mas é o que diz na carta e o Tarô nunca mente. A relação de vocês dois é muito linda, muito abençoada. Aproveite isso. É raro.
- Mas... – engoli em seco. – Nós dois não poderíamos... Ficar juntos, poderíamos?
- Não – a resposta foi rápida. – Ele não é homossexual, embora...
Pausa.
- Embora? – perguntei.
- Embora tenha se sentido confuso com seus sentimentos nos últimos tempos. Mas ele já encontrou a coerência e você também. Vocês dois são irmãos de alma e assim devem permanecer. Um completa o outro, mas não como casal.
Puta que pariu, aquela mulher era porreta!
- Quanto tempo eu ainda tenho?
- Mais 10 minutos contando com os 5 cortesia que eu te dei.
- Deixa eu voltar pro Bruno?
- O que mais você quer saber dele?
- Ele vai me trair caso a gente volte?
- Não gosto de falar de traição, mas vamos lá. Eu quebro o seu galho.
- Por favor!!!
A cartomante mexeu em seu Tarô e suspirou profundamente.
- Não – essa foi a resposta. – Nunca haverá traição por nenhuma das partes. Vocês se amam e é um amor incrivelmente puro, incrivelmente lindo...
- Jura? – me derreti todinho.
- Sim! É fato que vocês vieram pra se amarem nessa vida e que precisam ficar juntos pra enfrentar muitas dificuldades no futuro.
- Quais dificuldades? – nessa altura eu já não duvidava de mais nada.
- A separação física que eu te falei – pausa. – Dificuldades financeiras também... E pelo que vejo aqui, vão ter que enfrentar muito, mas muito preconceito lá na frente, bem lá na frente...
- Sério?
- Sim... Acredito que em 7, 8 anos mais ou menos. Vocês passarão por muitas provações e serão apedrejados de todos os lados, mas vão passar por cima de tudo isso, vão dar a volta por cima e serão felizes do jeito que vocês merecem.
- Ai, Do Carmo – eu suspirei. – Como ele pode ser a minha alma gêmea se a gente é tão jovem assim?
- E daí? Vocês se encontraram cedo pra ficarem juntos até a morte. É isso!
- Ai, Deus...
- Caio, amolece esse coração! Se entrega pro seu amor, meu lindo! Não adianta você ficar sofrendo desse jeito, não adianta!
- Você disse – mudei de assunto – que eu fui traído, muito traído. Por quem?
- Deixa ver aqui...
Mais uma vez ela mexeu no Tarô, pegou três cartas e disse:
- Vejo que você teve três namorados. Um é o que você está atualmente, aquele que começa com a letra M se não me engano...
- Isso!
- Outro é o que é a sua alma gêmea... E o terceiro é um que não faz mais parte de sua vida...
Carlos Henrique!
- Exatamente – confirmei.
- Esses três te traíram, mas também... Houve uma traição de um quarto homem...
- Quarto homem?
- Mas eu não vejo envolvimento amoroso entre vocês dois... É como se ele fosse... Uma espécie de inimigo...
- Inimigo?
- As cartas dizem que ele tinha inveja de você. Hoje em dia ele também não faz mais parte da sua vida.
- Inveja de mim? Quem será, meu Deus?
- Pelo que me parece – mais uma pausa –, ele queria ficar com seu namorado...
- Espera aí! – de repente veio uma luz na minha mente. – Eu acho que sei de quem você está falando! Deve ser do Leonardo.
- Ele não faz mais parte de sua vida, essa alma ainda vai aprender muito nessa vida.
- Que Deus o abençoe e que ele fique longe de mim!
- É isso... Não consigo ver mais nenhuma traição.
- Que bom! Pelo menos isso.
- Pra finalizar a sua consulta, diga-me a sua data de nascimento?
- 31 de agosto – por que ela queria essa informação?
- Você é médium.
- OI? – fiquei pasmo.
- Você é médium!
- Médium? – soltei um risinho. – Não acredito.
- Já disse que você pode não acreditar, mas que você é, você é.
- E como você sabe disso?
- Porque isso está muito claro pra mim. Eu também sou médium e agora eu entendi por qual motivo eu precisava te ajudar.
- Não acredito nessas coisas de mediunidade, Do Carmo. Desculpa.
- Não, tudo bem. Um dia você vai acreditar e vai entender o que estou falando. Você é muito intuitivo e ao mesmo tempo você absorve muito as energias das pessoas. Tome cuidado.
- Sério?
- Sim. Você atrai coisas boas pra você, mas também atrai coisas ruins. É por isso que às vezes você tem a sensação que nada dá certo pra você. Você precisa se resguardar das energias negativas das pessoas e também dos ambientes.
- E como eu posso fazer isso?
- Basta orar. O seu mentor está sempre do seu lado, ele está sempre te ajudando e continuará te ajudando até você desencarnar.
- Hum...
- Posso te dar um conselho?
- Pode sim...
- Acenda uma vela pro seu anjo da guarda!
- Vela? Nunca pensei em fazer isso não.
- Acenda para Arcanjo Rafael. Ele também está sempre contigo. Ele é seu protetor.
- Arcanjo Rafael? Eu sempre gostei dele...
- Pois é. Acenda uma velinha verde pra ele, com seu nome escrito à lápis em um papel branco. Te fará muito bem,
- Hum... Muito obrigado pelo conselho, Do Carmo.
- E assim nós finalizamos a sua consulta. Mais alguma pergunta?
Pensei um pouco.
- Hã... Acho que não.
- Então muito obrigada, Caio. Espero que eu tenha te ajudado de alguma forma. Talvez neste primeiro momento não, mas mais pra frente eu tenho certeza que alguma coisa que eu te falei vai ter serventia.
- Como te disse, eu não acredito muito nessas coisas, mas tudo bem. Eu vim mais pela curiosidade mesmo.
- Não, não foi pela curiosidade. Você foi guiado pelo seu mentor. Ele está contigo neste exato momento.
Senti um super arrepio em todo o meu corpo e ao mesmo tempo um calor muito anormal. Ouvir essa frase me deixou completamente assustado.
- Só mais uma coisa, Caio...
- O quê? – fiquei curioso.
- Tome muito, muito cuidado com as suas amizades. Não confie em todos os que te cercam.
Por que ela estava dizendo aquilo? Será que sabia de algo e não queria me falar?
- Por que está me dizendo isso?
- Não sou eu que estou falando, é o seu mentor. Abra bem os seus olhos e preste atenção em quem é e quem não é seu amigo de verdade.
Engoli em seco. De quem será que ela estava falando?
- De quem você está falando?
- Não sei. Isso é você que vai ter que descobrir. Vamos voltar pra loja?
Confesso que fiquei preocupado. Quem seria esse amigo que eu teria que tomar cuidado?
- Vamos sim. Obrigado pelas informações, pelos conselhos e pela consulta, Do Carmo.
- Eu que te agradeço. Se precisar de outra eu estou à disposição.
- Muito agradecido.
- Só uma dúvida?
- Qual? – me voltei para ela.
- Eu errei muito?
- Não, Do Carmo. Você acertou absolutamente tudo! Acertou todas as iniciais, que fui traído pelo Léo, que amo o Bruno e logo de cara descobriu que sou gay sem que eu precisasse falar nada! Estou arrepiado!!!
- Que bom que eu acertei. Sinal que meu dom está evoluindo muito. No começo eu não sabia ler as cartas tão bem assim.
- Você foi ótima! Me deixou surpreso!
- Que bom. Fico muito feliz!
Nós dois voltamos pra loja e é claro que eu fiquei pensando em tudo o que ela me disse, né?
A mulher acertou tudo sobre a minha vida. Acertou a inicial do nome do Murilo, a inicial do nome do Bruno, a inicial do nome do Digow disse que eu estava dividido entre dois HOMENS, sendo que ela não sabia que eu era gay e disse que o Bruno e eu éramos almas gêmeas...
Nos primeiros momentos de reflexão, eu fiquei em dúvida de tudo o que ela disse, mas depois eu pensei mais detalhadamente e percebi que ela não poderia saber o que tinha acontecido entre eu e o Bruno... Mas como ela sabia de tudo aquilo?
Fiquei pra lá de balançado. Ao mesmo tempo que fiquei com medo, fiquei também espantado. Ela acertou muitas coisas ao meu respeito, acertou tudo na verdade...
E aquela história que eu era médium? Eu é que não queria ouvir, muito menos ver espíritos. Na verdade, eu nem sabia se espíritos existiam de verdade ou não. É claro que a gente sempre acredita, mas eu acreditava desacreditando. Acho que daquele momento em diante eu não desconfiei mais.
E o lance que ela disse à respeito da minha volta com o Bruno? Será que isso ia mesmo acontecer? E a história do Murilo ter uma mulher? Será que era mesmo verdade? Eu achava que não...
Mas o mais intrigante foi a última coisa que ela me disse. Com quem eu deveria ter cuidado?
Rodrigo? Duvidava muito. Ele era uma boa pessoa e nunca havia me feito nenhum mal, até mesmo porque a própria Do Carmo disse que ele era o meu irmão, que nós tínhamos sido irmãos em vidas passadas e que a gente se completava. Não, não era ele.
Vinícius? Ele era tão boníssimo, assim como o Digão. Ele também nunca tinha me feito mal algum e eu tinha certeza que nunca seria capaz de fazer.
Fabrício? Não. Ele era gente boa e jamais me faria algum mal. Eu tinha certeza disso.
Kléber? Era fato que nós estávamos nos aproximando cada vez mais, mas eu nunca percebi nenhuma má intenção por parte dele. Ou eu estava enganado?
E se fosse o Miguel? Eu não tinha nada contra o irmão do Kléber, pelo contrário. Ele era gente boa, nunca me desrespeitou e sempre me tratou muito bem.
Seria o Maicon? Não sei. Poderia ser. Nós dois não éramos “amissíssemos”, mas também não éramos inimigos declarados.
E o Everton? Ele sim, até poderia ser. Pelo que me parecia, o garotão não curtia muito os homossexuais e às vezes ele parecia saber da minha orientação sexual. Só por esse motivo eu cogitei sim a possibilidade do recado ser com relação a ele. Será?
E se fosse o Jonas? Além dele ser meu chefe, ele era também o meu amigo. Porém eu não conseguia enxergar o Jonas como uma pessoa ruim e que quisesse o meu mal. Não, não. Não era o Jonas.
A Do Carmo disse amigo, mas e se fosse uma amiga?
Janaína? De jeito nenhum!!! Minha melhor amiga era quase a minha irmã mais velha. É claro que eu poderia confiar plenamente nela.
Alexia? Não também. Nós éramos bons amigos, bons amigos mesmo... Eu duvidava muito que a Alexia fosse me causar algum transtorno.
Eduarda? Nããão. A Duda foi uma das pessoas que me ajudou na vida e eu confiava cegamente nela. Ela não ia me fazer nada de ruim.
Marcela? Bem capaz. Na verdade, eu não considerava a Marcela uma “amiga”; a garota não passava de uma colega de faculdade e era a namorada do meu melhor amigo. Se fosse ver, ela não passava de uma espécie de cunhada. Talvez o recado fosse pra ela... Eu ia abrir os meus olhos.
Não pensei em mais ninguém, porque os meus amigos mais próximos eram esses. Só que eu esqueci um detalhe e só lembrei depois de um tempão.
Víctor??? Será que era ele??? Será que era com o meu best friend paulistano que eu tinha que abrir meus olhos? Mas fazia tanto tempo que eu não o via... Como poderia ser ele? Fiquei encafifado.
- Segui o seu conselho, Jana – fui até a minha amiga. – Eu me consultei com a Do Carmo.
- E aí? – ela agarrou meus braços. – Conta, conta.
- Ela acertou tudo, meu... Tudo mesmo. Até a cor da cueca que eu vou usar daqui 87 anos!
- Não disse? E aí, o que ela falou?
- Disse primeiro do Murilo. Acertou a letra do nome dele e disse que ele não é confiável. Disse que ele tem uma mulher...
- O QUÊÊÊÊÊÊÊ? – a negra ficou até branca.
- Foi o que ela disse. Daí disse que eu tenho que terminar com ele.
- E tem mesmo, menino! Se ele tiver outra você tem que dar um chute no saco dele!!!
- Nossa, que maldade – eu ri. – Você sabe o quanto dói um chute no saco?
- Já chutaram o seu saco?
- Não, mas eu já levei uma bolada na escola. Quase desmaiei de tanta dor, mas enfim. O foco da conversa não é esse.
- Ela não disse nada sobre o... Bruno?
- Uhum. Disse que nós somos... Almas gêmeas.
- PAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAARA TUDO! ALMAS GÊMEAS?
- É... Foi o que ela disse.
- Ai que emoção!!! Fiquei branca Parmalat agora... Que liiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiindo, Caio...
- Lindo é o cacete – bufei. – Eu não acreditei nisso.
- E o que mais ela disse? O que mais?
- Disse que a nossa separação já estava escrita. Ela disse que eu e o Bruno precisávamos passar por essa separação. E disse que nós... Vamos voltar!
- Fiquei preta passada na chapa de pão. Que incrível isso...
- Incrível nada. Eu não acreditei em nada.
- Não, é? Sei...
- Ela disse que existe um terceiro homem na minha vida...
- OI?! – a negra ficou paralisada. – QUE HOMEM É ESSE, CAIO MONTEIRO?
}- O Rodrigo. Disse que nós dois somos almas fraternas e que fomos irmãos em vidas passadas. Vê se pode!
- Pode, claro que pode! Eu super acredito nessas coisas.
- E falou para eu tomar cuidado com as minhas amizades.
- Falou? Então abre seus olhos. Quem é seu anjo?
- Arcanjo Rafael.
- O meu é o Gabriel. Acho que é por isso que eu queria pegar o bombadão do Gabo.
- Ai, Deus... Só você mesmo.
- E aí? O que vai fazer daqui pra frente?
- Como assim, Jana?
- O que vai fazer? Vai terminar com o Murilo e voltar com o Bruno?
- Lógico que não! Até parece...
- Será que você não aprende nunca?
- Aprender o quê? Não é porque o Tarô disse que eu vou seguir isso. Eu, hein?
- Então o problema é seu, menino chato. Tomara que o Murilo coloque um belo par de chifres na sua testa. Só assim você vai ver que é verdade o que a Do Carmo falou.
- Aham. Muito obrigado pela parte que me toca, Janaína.
Se o Murilo fizesse isso, eu com certeza ia terminar o namoro, mas eu simplesmente não podia confiar no que me disseram. Se fosse o caso e se isso realmente acontecesse, eu agiria da forma correta, mas não ia sofrer por antecipação.
DIAS DEPOIS...
Eu aproveitei um dia de folga para ir ao salão de beleza. Eu precisava
cortar urgentemente o meu cabelo e precisava também fazer uma limpeza de pele.
Meu rosto estava cheio de cravos e meus cremes antiacne já não estavam mais tão
potentes por falta de uma limpeza mais profunda.

- Pode passar a tesoura, Jane – dei carta branca à minha cabeleireira.
- Oi? Como assim? Você está me dando carta branca?
- Total – até fechei meus olhos. – Quero mudar. Não corta mais desse jeito.
- E quer que eu corte como?
- Pode fazer o que você quiser, só não me deixa careca.
- Nossa... Aí eu gostei. Vou fazer algo muito bacana, você vai ver.
- E eu to pensando também em dar uma clareada. O que você acha?
- Bom, mas isso vai te dar um trabalhinho extra.
- Que trabalhinho seria esse?
- Vai precisar fazer uma hidratação mais profunda de 15 em 15 dias, vai ter que tomar alguns cuidados com água do mar, com piscina...

- Hum... Pode ser. Fica caro?
- Não, fica não... – ela disse o valor.
- Ah, faz aí vai.
- As luzes também?
- Sim, sim. Pode fazer.
Eu nem sei onde estava com a minha cabeça. Depois de 5 minutos, me arrependi totalmente por ter deixado a Jane fazer luzes e cortar o meu cabelo sem as minhas instruções, mas já que estava feito... Que fosse o que Deus quisesse!
- Vou puxar os fios, vai doer um pouquinho, tá?
- Vai? AI!
- Eu disse que ia doer – a mulher riu.
Mas foi uma dor suportável. Depois do sexto ou sétimo puxão, eu me acostumei e não liguei mais para a dor.
- Agora eu vou passar a química e depois a gente deixa agir por uma meia hora. Você quer muito loiro, meio loiro ou só castanho-claro?
- Ah, deixa loirinho... Acho que vai ficar legal.
- Beleza. Uns 30, 35 minutos eu acho que já vai estar bom.
Depois de passar a química, a mulher colocou uma touca de banho na minha cabeça e eu fiquei lá moscando. Enquanto eu esperava o produto agir, a minha cabeleireira atendeu mais duas oessoas. Eu acabei ficando com sono.

Quando a Jane lavou o meu cabelo e eu me vi no espelho, fiquei espantado com a mudança no meu cabelo. Eu estava loiro, loiro mesmo...
- Caraca! – fiquei olhando pro meu cabelo.
- Ficou show. Agora senta aí que eu vou cortar tudo.
- Não – olhei pra ela. – Negativo. Quero deixar maiorzinho, gostei das luzes!
- Gostou?
- Muito – voltei a me olhar. – Ficou da hora!
- O que posso fazer? Quer arrepiar?
- Quero. Arrepia aí.
- É pra já!
Fiquei de olho nas mãos da mulher e determinei o momento que ela tinha que parar. A minha intenção era contrária, eu ia deixar ela fazer o que quisesse na minha cabeça, mas vendo o resultado daquelas luzes eu mesmo queria escolher o meu novo penteado.
E quando ela chegou na altura que eu queria, eu solicitei de imediato que ela parasse. Não queria que ficasse muito curto, mas também não queria grande demais.
- Ficou ótimo nesse tamanho. Arrepia pra mim ver como fica, por favor?
- Só no topete?
- Não, arrepia o cabelo todo.
- Desse jeito você vai gastar um vidro de gel todo dia, mas tudo bem. É você que manda.
Isso era uma grande verdade. Como as minhas madeixas são lisas demais, eu ia gastar muito gel mesmo, mas isso era o de menos. O importante seria mudar o meu look e renovar o meu estilo.
- Perfect, Jane – eu aprovei. – Ficou o máximo!
- Que bom que gostou.
- Obrigado pela paciência, hein? E quanto tempo vai durar essas luzes?
- Acho que uns 3, 4 meses no máximo.
- Ah, tranquilo. Pensei que ia durar menos. Então eu vou ter que hidratar uma vez por semana?
- De 15 em 15 dias – ela me corrigiu. – Passe um bom creme e faça uma hidratação profunda. Nesses primeiros dias você vai perceber que seu cabelo está com aspecto de palha, mas depois ele volta ao normal.
- Beleza, Jane. Muito obrigado por tudo!
- De nadinha, querido – ela me deu dois beijos. – Até a próxima.
- Até!
Mas a minha ida ao salão não estava finalizada. Eu ainda tinha a bendita da limpeza de pele. E essa ia ser a parte mais demorada do dia.
- Tudo bom, Rose?
- Finalmente apareceu, hein Caio?
- Pois é. Falta de tempo.
- Vamos lá?
- Sim, sim.
Eu entrei na sala da esteticista, esperei ela limpar a maca e em seguida me deitei. A moça colocou uma música leve e eu me senti sonolento de repente.

- Vamos ver como está essa pele... Quanto cravo!
- Pois é, por isso que eu vim.
- O que andou comendo? Cravo da Índia?
- Claro que não – eu sorri. – Boba.
- Vai tirar a sobrancelha também, né?
- Vou. Pode fazer uma bela faxina nessas taturanas aí.
- Deixa comigo. Eu adoro judiar de você.
- Obrigado, Rose. Eu amo você também.
Foi mais de uma hora e meia de espera, mas a limpeza ficou impecável. Quando eu me olhei no espelho, me senti até parente do Gasparzinho de tão branquelo que eu estava.
- Pareço até anêmico desse jeito, mas ficou bom. Obrigado, Rose.
- Eu te machuquei demais?
- Na hora de tirar os cravos sim, mas não tem problema.
- Gostou da sobrancelha?
- Sim, gostei sim. Ficou bom. Obrigado, querida. Daqui há 3 meses eu volto.
- Estarei te esperando. Beijo e obrigada.
- Eu é que te agradeço!
- Pode passar a tesoura, Jane – dei carta branca à minha cabeleireira.
- Oi? Como assim? Você está me dando carta branca?
- Total – até fechei meus olhos. – Quero mudar. Não corta mais desse jeito.
- E quer que eu corte como?
- Pode fazer o que você quiser, só não me deixa careca.
- Nossa... Aí eu gostei. Vou fazer algo muito bacana, você vai ver.
- E eu to pensando também em dar uma clareada. O que você acha?
- Bom, mas isso vai te dar um trabalhinho extra.
- Que trabalhinho seria esse?
- Vai precisar fazer uma hidratação mais profunda de 15 em 15 dias, vai ter que tomar alguns cuidados com água do mar, com piscina...
- Hum... Pode ser. Fica caro?
- Não, fica não... – ela disse o valor.
- Ah, faz aí vai.
- As luzes também?
- Sim, sim. Pode fazer.
Eu nem sei onde estava com a minha cabeça. Depois de 5 minutos, me arrependi totalmente por ter deixado a Jane fazer luzes e cortar o meu cabelo sem as minhas instruções, mas já que estava feito... Que fosse o que Deus quisesse!
- Vou puxar os fios, vai doer um pouquinho, tá?
- Vai? AI!
- Eu disse que ia doer – a mulher riu.
Mas foi uma dor suportável. Depois do sexto ou sétimo puxão, eu me acostumei e não liguei mais para a dor.
- Agora eu vou passar a química e depois a gente deixa agir por uma meia hora. Você quer muito loiro, meio loiro ou só castanho-claro?
- Ah, deixa loirinho... Acho que vai ficar legal.
- Beleza. Uns 30, 35 minutos eu acho que já vai estar bom.
Depois de passar a química, a mulher colocou uma touca de banho na minha cabeça e eu fiquei lá moscando. Enquanto eu esperava o produto agir, a minha cabeleireira atendeu mais duas oessoas. Eu acabei ficando com sono.
Quando a Jane lavou o meu cabelo e eu me vi no espelho, fiquei espantado com a mudança no meu cabelo. Eu estava loiro, loiro mesmo...
- Caraca! – fiquei olhando pro meu cabelo.
- Ficou show. Agora senta aí que eu vou cortar tudo.
- Não – olhei pra ela. – Negativo. Quero deixar maiorzinho, gostei das luzes!
- Gostou?
- Muito – voltei a me olhar. – Ficou da hora!
- O que posso fazer? Quer arrepiar?
- Quero. Arrepia aí.
- É pra já!
Fiquei de olho nas mãos da mulher e determinei o momento que ela tinha que parar. A minha intenção era contrária, eu ia deixar ela fazer o que quisesse na minha cabeça, mas vendo o resultado daquelas luzes eu mesmo queria escolher o meu novo penteado.
E quando ela chegou na altura que eu queria, eu solicitei de imediato que ela parasse. Não queria que ficasse muito curto, mas também não queria grande demais.
- Ficou ótimo nesse tamanho. Arrepia pra mim ver como fica, por favor?
- Só no topete?
- Não, arrepia o cabelo todo.
- Desse jeito você vai gastar um vidro de gel todo dia, mas tudo bem. É você que manda.
Isso era uma grande verdade. Como as minhas madeixas são lisas demais, eu ia gastar muito gel mesmo, mas isso era o de menos. O importante seria mudar o meu look e renovar o meu estilo.
- Perfect, Jane – eu aprovei. – Ficou o máximo!
- Que bom que gostou.
- Obrigado pela paciência, hein? E quanto tempo vai durar essas luzes?
- Acho que uns 3, 4 meses no máximo.
- Ah, tranquilo. Pensei que ia durar menos. Então eu vou ter que hidratar uma vez por semana?
- De 15 em 15 dias – ela me corrigiu. – Passe um bom creme e faça uma hidratação profunda. Nesses primeiros dias você vai perceber que seu cabelo está com aspecto de palha, mas depois ele volta ao normal.
- Beleza, Jane. Muito obrigado por tudo!
- De nadinha, querido – ela me deu dois beijos. – Até a próxima.
- Até!
Mas a minha ida ao salão não estava finalizada. Eu ainda tinha a bendita da limpeza de pele. E essa ia ser a parte mais demorada do dia.
- Tudo bom, Rose?
- Finalmente apareceu, hein Caio?
- Pois é. Falta de tempo.
- Vamos lá?
- Sim, sim.
Eu entrei na sala da esteticista, esperei ela limpar a maca e em seguida me deitei. A moça colocou uma música leve e eu me senti sonolento de repente.
- Vamos ver como está essa pele... Quanto cravo!
- Pois é, por isso que eu vim.
- O que andou comendo? Cravo da Índia?
- Claro que não – eu sorri. – Boba.
- Vai tirar a sobrancelha também, né?
- Vou. Pode fazer uma bela faxina nessas taturanas aí.
- Deixa comigo. Eu adoro judiar de você.
- Obrigado, Rose. Eu amo você também.
Foi mais de uma hora e meia de espera, mas a limpeza ficou impecável. Quando eu me olhei no espelho, me senti até parente do Gasparzinho de tão branquelo que eu estava.
- Pareço até anêmico desse jeito, mas ficou bom. Obrigado, Rose.
- Eu te machuquei demais?
- Na hora de tirar os cravos sim, mas não tem problema.
- Gostou da sobrancelha?
- Sim, gostei sim. Ficou bom. Obrigado, querida. Daqui há 3 meses eu volto.
- Estarei te esperando. Beijo e obrigada.
- Eu é que te agradeço!
Como eu tinha o dia livre, aproveitei para fazer mais umas comprinhas. O
meu guarda-roupa ainda não estava completo. Como o inverno estava chegando, eu
precisava comprar uma blusa de frio.
Não que fosse precisar com frequência, mas naqueles últimos tempos o Rio estava ficando gelado demais. Parecia até que eu tinha voltado a morar em São Paulo...
Escolhi duas blusas: uma de moletom na cor branca e outra de tactel na cor preta. A de tactel seria para uma ocasião mais especial e a de moletom serviria para usar no dia-a-dia com uma roupa mais sport.
Não sei se foi a mudança no visual, mas naquela tarde eu percebi vários olhares direcionados a mim, tanto masculinos, como femininos. Eu queria saber qual ia ser a reação dos meus amigos na república.
Não que fosse precisar com frequência, mas naqueles últimos tempos o Rio estava ficando gelado demais. Parecia até que eu tinha voltado a morar em São Paulo...
Escolhi duas blusas: uma de moletom na cor branca e outra de tactel na cor preta. A de tactel seria para uma ocasião mais especial e a de moletom serviria para usar no dia-a-dia com uma roupa mais sport.
Não sei se foi a mudança no visual, mas naquela tarde eu percebi vários olhares direcionados a mim, tanto masculinos, como femininos. Eu queria saber qual ia ser a reação dos meus amigos na república.
- Nossa... O Caio está loiro! – Miguel foi o primeiro a perceber a minha
mudança.
Por incrível que pareça, naquela noite todos os marmanjos estavam em casa. Parecia até proposital.
- Caraca, Caio... – Maicon me fitou. – Que mudança, hein?
- Pois é.
- Ficou maneiro – Fabrício sorriu. – Eu curti.
- Também curti, Caio – o médico gostoso bebericou a cerveja. – Ficou legal.
- Fala a verdade – Kléber analisou a minha cabeleira. – Você invejou as minhas luzes, né?
- Na verdade eu nem lembrei que você tinha luzes, Kléber.
- Pô, valeu pela parte que me toca...
- É zoeira, peste.
O único que não falou nada foi o Rodrigo. Mesmo nós dois tendo feito as pazes, a nossa relação não era mais a mesma. Ele estava meio “frio” comigo e vice-versa.
- Não vai falar nada do meu cabelo? – perguntei quando ele entrou no nosso quarto.
- Uhum. Ficou maneiro.
- Obrigado – eu fiquei sério e não tirei os olhos dos dele.
- Que foi? Ficou legal mesmo, não estou mentindo não.
- Não, nada. Vou me trocar... Até mais, Rodrigo.
- Até, Caio.
Até quando a gente ia ficar naquela geladeira? Pelo jeito não houve um perdão sincero, porque ele estava praticamente um iceberg comigo. Bom, talvez fosse só questão de tempo.
Por incrível que pareça, naquela noite todos os marmanjos estavam em casa. Parecia até proposital.
- Caraca, Caio... – Maicon me fitou. – Que mudança, hein?
- Pois é.
- Ficou maneiro – Fabrício sorriu. – Eu curti.
- Também curti, Caio – o médico gostoso bebericou a cerveja. – Ficou legal.
- Fala a verdade – Kléber analisou a minha cabeleira. – Você invejou as minhas luzes, né?
- Na verdade eu nem lembrei que você tinha luzes, Kléber.
- Pô, valeu pela parte que me toca...
- É zoeira, peste.
O único que não falou nada foi o Rodrigo. Mesmo nós dois tendo feito as pazes, a nossa relação não era mais a mesma. Ele estava meio “frio” comigo e vice-versa.
- Não vai falar nada do meu cabelo? – perguntei quando ele entrou no nosso quarto.
- Uhum. Ficou maneiro.
- Obrigado – eu fiquei sério e não tirei os olhos dos dele.
- Que foi? Ficou legal mesmo, não estou mentindo não.
- Não, nada. Vou me trocar... Até mais, Rodrigo.
- Até, Caio.
Até quando a gente ia ficar naquela geladeira? Pelo jeito não houve um perdão sincero, porque ele estava praticamente um iceberg comigo. Bom, talvez fosse só questão de tempo.
- Uau! – Murilo me olhou da cabeça aos pés. – Agora eu
tenho um namorado loiro?
- Pra você ver. Gostou?
- Nossa... Muito! Combinou muito com você.
- Ai, que bom. Por que está todo arrumado assim?
- Então, Caio... Eu vou ter que sair com meus pais...
- Sair com seus pais? Mas a gente não combinou que ia namorar hoje?
- Combinamos, cara... Mas meu pai me intimou a ir jantar com eles... Eu não vou poder dizer não, desculpa!
- E por que você não me avisou isso antes? Poderia ter poupado a minha vinda até aqui, né?
- Ah, eu pensei que não teria problema... Pelo menos assim a gente poderia se ver um pouco. Entra aí.
- Não, obrigado. Se você vai sair com seus pais eu não vou nem entrar.
- Por que não? Para de ser bobo, Caio!
- Bobo? Talvez eu seja mesmo. Eu saio do Realengo, venho até Ipanema pra te ver e você não tem a moral de me ligar desmarcando. Valeu!
- Ficou bravo?
- Claro, né Murilo? Poderia ter poupado a minha viagem.
- Desculpa. Se eu soubesee que você ia ficar chateado eu teria te ligado.
- Sem problemas – suspirei. – Deixa pra lá. A gente se vê semana que vem então. Bom jantar com seus pais. Boa noite.
- Já vai?
- Já. Vou ao cinema. Boa noite.
- Cinema? E você vai com quem?
- Vou sozinho. Até mais, Murilo!
Saí e deixei o garoto pra trás. Eu não fiquei tão irritado, mas achei mancada da parte dele não ter me avisado que ia sair com os pais. Se é que ele ia sair com os pais mesmo, né?
Resolvi ir mesmo ao cinema. Já fazia um tempinho que eu não via um bom filme na telona, mas eu nem sabia o que estava em cartaz naquela época.
No entanto, eu não tive nem tempo de olhar as opções de filmes que estavam passando no cinema. Meu celular tocou e eu atendi crente que era o Murilo, mas acabei me enganando redondamente:
- Caio? – era a voz do Bruno.
- Bruno?
- Oi, tudo bom?
- Bem sim e você?
- Melhor agora que estou falando com você.
- Hum. O que quer?
- Te convidar para jantar.
- Oi? – desacreditei.
- Sim, te convidar para jantar. Topa?
Eu confesso que estava faminto.
- Não. Obrigado.
Iniciamos uma discussãozinha básica e ele acabou me vencendo pelo cansaço.
- Beleza, beleza – suspirei. – Eu aceito.
- Finalmente! – meu ex pareceu animadíssimo. – Onde você está? Não está em casa pelo visto?
- Não, eu estou em um shopping.
- Qual shopping?

- No Riosul.
- Eu passo pra te pegar aí então. Em meia hora eu chego aí. Você me espera?
- Espero – não sei onde eu estava com a cabeça.
- Me espera na entrada do shopping então. Pelo menos eu não vou precisar sair do carro.
- Pode ser.
- Em meia hora. Não esqueça.
- Beleza.
- Um beijo. Até já.
- Até já.
Não deu nem 5 minutos e a minha consciência começou a gritar comigo. Eu já não aguentava mais tanta confusão dentro do meu cérebro.
VOCÊ SÓ PODE SER BURRO, CAIO MONTEIRO! VOCÊ NÃO PODIA TER ACEITADO SAIR COM O BRUNO!
Por que não? Por que u não podia aceitar sair com ele? Qual o problema em jantar com o Bruno?
ELE COM CERTEZA DEVERIA TER SEGUNDAS, TERCEIRAS E QUARTAS INTENÇÕES! SERÁ QUE VOCÊ NÃO PENSA NISSO?
E daí? E se ele tiver segundas, terceiras e quartas intenções? Qual o problema? Eu não precisaria cair na lábia dele!
MAS VOCÊ VAI CAIR, SEU BURRO! COMO VOCÊ É BURRO... BURRO... BURRO...
Burro ou inteligente, isso pra mim não importava nem um pouco. Eu já estava cansado, simplesmente cansado de tanta confusão na minha mente. O que eu mais queria naquele momento era paz. E não tinha problema nenhum em aceitar o convite do Bruno; afinal, eu estava com saudades dele. E não ia cair na lábia dele. Eu era forte.
Forte? Eu poderia ser qualquer coisa, menos forte. Quando eu visse os olhos dele, com certeza eu ia ficar todo balançado, todo saudoso e ia acabar caindo na lábia dele. Eu tinha certeza que isso ia acontecer!
Não ia não. Eu ia ser forte, muito forte e não ia cair nos braços e nas garras do Bruno. Eu só ia jantar, nada mais que isso.
Jantar? Aham... Jantar... Até parece que seria só um jantar...
- CHEGA! – eu fechei meus olhos, sacodi a minha cabeça e bufei de raiva. – EU NÃO AGUENTO MAIS!
Minha consciência calou a boca e eu me senti muito aliviado. Às vezes eu tinha a sensação que havia uma pessoa dentro da minha cabeça e essa pessoa não calava a boca um segundo sequer. isso me deixava muito cansado e irritado.
Antes de seguir ao encontro dele, conferi o meu visual no banheiro e aproveitei pra dar uma ajeitada no meu cabelo.
Naquela noite eu estava usando uma calça jeans preta com zíperes por todos os lados, uma camiseta branca bem colada ao corpo e um par de tênis cinza. Meu cabelo estava arrepiadinho e a minha pele permanecia alva como leite. Eu gostei do que vi. Será que ele também ia gostar?
Saí do shopping e fui até a entrada do mesmo. Fiquei esperando pacientemente o meu ex-namorado e quando o carro dele parou na minha frente, o meu coração quase saiu pela boca.
- UAU – Bruno me olhou e ficou boquiaberto.

Eu não falei nada. Nossos olhos ficaram unidos como dois ímãs e eu senti uma fisgada dentro da minha cueca. Não era possível que eu já estivesse ficando excitado!
- Você está... Lindo!
Buzinas começaram a soar no ar e eu recobrei a minha consciência. Nesse momento o arrependimento bateu na minha porta. Eu não deveria ter topado aquele encontro.
- Entra, Caio.
Eu entrei no Celta, bati a porta e coloquei o cinto. O Bruno não parava de me olhar um segundo sequer.
- Você está lindo demais... Lindo demais...
- Obrigado. É melhor você andar, senão vai ser multado.
- Ah, é verdade... Nossa... Não imaginei que ia te encontrar loiro e com essa barbinha, Caio...
- Pois é. Resolvi mudar o visual.
- Amei... Simplesmente amei...
- Valeu.
Fiquei olhando pela janela e suspirei. Eu era louco. Só poderia ser louco em ter aceito aquele convite para jantar.
- E aí, como você está? – Bruno puxou assunto.
- Bem. E você?
- Agora eu estou ótimo. E surpreso com a sua mudança.
- Percebi.
- Eu também ia fazer luzes, mas agora que você fez eu vou deixar quieto.
- Por que? – fiquei curioso.
- Porque eu não quero parecer invejoso.
- Ué! Não vejo problema nenhum nisso. Se quiser fazer, faça!
- Não. Seria inveja da minha parte. Não quero que pense que eu invejei o seu cabelo.
- Eu não vou pensar isso. Nada a ver.
- Faz um tempão que eu to querendo clarear o meu, mas me falta tempo.
- Trabalhando muito?
- Trabalhando e estudando. Não tenho tempo pra quase nada.
- Estudando? Está fazendo faculdade?
- Não, mas estou fazendo cursinho pra entrar na faculdade no ano que vem. Já estou fazendo desde o começo do mês. Não te contei?
- Não. Você disse que estava fazendo um curso pra virar peão de montadora acho.
- Esse daí eu já acabei. Agora o foco é o cursinho pra entrar na UFRJ, se Deus quiser!
- Federal? Boa sorte. É muito complicado.
- Sei disso, porém eu vou conseguir. Eu to me matando de tanto estudar, você não tem noção.
- É isso aí. Ainda vai querer fazer Arquitetura?
- Nossa! Você lembrou! Que fofo!
- É... Lembrei!
- Sempre quis ser arquiteto. E eu vou conseguir!
A força de vontade do Bruno me deixou surpreso. Eu ia torcer pelo meu ex-namorado.
- Vai sim.
- Já estamos chegando no restaurante.
- Qual restaurante? Eu pensei que a gente ia jantar no shopping.
- Não. Eu quero algo mais reservado. Espero que não se incomode.
- Desde que você não venha com as suas gracinhas...
- Fica tranquilo. Será apenas um bom jantar.
- Assim espero.
Bom? A julgar pelo restaurante que ele escolheu, não seria um bom jantar. Seria um excelente jantar.
O restaurante era muito chique e logo de cara eu me perguntei como ele pôde escolher um local tão caro como aquele. Ele era louco?
- Não é caro não – Bruno riu. – É só a aparência. Você vai ver.
- E que tipo de comida serve aqui, Bruno?
- Italiana. Sei qie vpcê adora!
- Eu AMO! – me derreti todo. Fazia tempo que eu não comia uma bela massa.
- Então você vai adorar esse lugar. Deixa eu achar uma vaga pra estacionar, meu Deus...
Meu ex escolheu uma mesa bem afastada, que ficava no fundo do restaurante. Nós sentamos e rapidamente um garçom apareceu para nos atender:
- Boa noite – disse o funcionário.
- Aceitam o cardápio?
- Por favor – Bruno respondeu.
Eu peguei o “meni” e passei meus olhos pelas opções de pratos. Bruno tinha razão. Eles não eram muito caros. Escolhi carpaccio. Eu estava com vontade de experimentar esse prato.
- Um carpaccio, por favor – informei.
- Eu quero gnocchi – Bruno entregou o cardápio ao cara.
- E para beber?
- Aceita um vinho? – Bruno me olhou.
- Vinho? – achei estranho. Aquilo estava parecendo até um jantar de novela das 21 horas.
- Sim? Um vinho.
- Por mim...
- Duas taças de vinho do porto, por favor.
- Perfeitamente. Com licença.
Nos olhamos. Eu não entendi por que ele estava sendo tão... Caprichoso naquele jantar.
- Adorei que você aceitou meu convite, sabia?
- Não vai se animando não. Eu só aceitei pra você calar a boca e me deixar em paz.
- Já é um bom começo – Bruno suspirou. – Não canso de dizer que você está lindo!
- Eu já entendi. Quer virar o disco? Parece uma vitrola quebrada.
- Ah, desculpa. Eu só estou falando a verdade.
- Hum.
- Posso ser indiscreto?
- Não.
- Serei do mesmo jeito. Você tem falado com a sua família?
Ah... Essa era a indiscrição?
- Não – respondi na lata.
- Há quanto tempo não fala com eles?
- Com meu pai e meu irmão eu não falo desde que saí de casa e com a minha mãe eu não falo há quase 2 anos. Por qual motivo está me fazendo essas perguntas?
- Pura curiosidade. Desculpe.
- Tudo bem.
- Eu também não falei mais com a minha família.
- Não?
- Não. Na verdade, só falo com meus sobrinhos. Lembra deles?
- Aqueles meninos que você achava que eram seus irmãos, né? Pâmela e Leonardo, não é isso?
- Isso. Eles mesmo. Que memória boa a sua!
- Lembro deles sim. O menino é xará do ridículo do Léo.
- Exato. E você tem tido notícias dele?
- Deus me livre. Eu estou bem sem a amizade daquele desgraçado!
- Verdade. Concordo com você.
- Concorda? Mas não concordou na hora que foi pra cama com ele!
- Eu nunca transei com ele, Caio. Só nos beijamos.
- Pra mim não faz a menor diferença!
- Não vamos relembrar esse assunto? Deixa o passado pra trás e vamos pensar no presente e no futuro?
- Não temos que pensar em nada. Talvez individualmente sim, mas em conjunto não, você entendeu?
- Alguém aqui disse pra pensar em conjunto?
- Não, mas foi o que você insinuou. Eu não nasci ontem.
Bruno suspirou.
- Não sente falta da sua família? – ele insistiu no assunto.
- Sinto não. Já me acostumei sem eles.
Isso não era mentira. Eu estava mesmo acostumado sem eles, embora ainda pensasse diariamente na minha mãe.
- Sério?
- Sério sim. É muito melhor eu viver sem eles do que correr atrás de quem não me quer bem.
- Isso é verdade. Eu encontrei com o Luciano depois que voltei da Europa, mas não falei nada com ele. Saí de perto e fingi que nada tinha acontecido.
- Mas ele não tentou falar com você?
- Sim, mas eu não ouvi nada. Eu não quero falar com eles mais. Eles me magoaram demais.
- Sei.
- É verdade. Por que acha que eu estou mentindo?
- Porque é bem a sua cara fazer isso.
- Será que você não percebe que eu mudei, Caio?
- Com licença – o garçom apareceu com nossos pratos e nos serviu. O meu carpaccio estava simplesmente lindo; todavia, era grande demais. Parecia até que era um carpaccio todo só pra mim.
- Obrigado – Bruno e eu agradecemos juntos.
Beberiquei um gole do meu vinho. Estava forte demais.
- Podemos brindar? – Bruno me olhou.
- Brindar? À quê?
- Nada. Deixa pra lá.
Ele só podia estar louco. Eu não ia brindar à nada. Aquele jantar não era um jantar de comemoração.
Mudado ele até estava, mas ainda não me passava nenhuma confiança. Eu sentia sim algo muito forte por ele, mas isso não seria suficiente para eu cair em tentação naquela noite. Aliás, nada me faria cair em tentação naquela noite.
Não sei se foi o fato do Bruno ter lembrado da minha família ou não, mas o carpaccio daquele restaurante lembrou e muito o que a minha mãe fazia. Acho que foi meio psicológico essa semelhança.
- Caio, não consigo parar de admirar o seu cabelo. Eu adorei essa cor. Ficou legal demais, amor...
- Não me chama de amor! – eu fuzilei meu ex com os olhos.
- Desculpa. É mais forte que eu.
- Contenha-se. Eu não sou o seu amor e nunca mais serei.
- Desculpa, desculpa. Não está mais aqui quem falou.
Fiquei calado por um tempão.
- Está gostando da comida?
- Muito boa, mas é carpaccio demais. Eu amo comida italiana!
- É nada. Eu acabo com isso em dois tempos. Eu sei que você adora, afinal seu sobrenome é italiano né, Caio C.?
- Pois é, pois é – limpei meus lábios.
- Pensei que você ia pegar o de peixe!
- Quero só ver como vai ficar o meu corpo depois desse deslize. E eu odeio peixe!
- Seu corpo está perfeito. Alías, você é todo perfeito.
- Bruno... Cala a boca! Eu não vim aqui pra você ficar me seduzindo não, entendeu?
Ele abaixou a cabeça e pareceu triste com a repressão.
- Me perdoa.
- Vê se manera. Eu não quero voltar com você.
- Então por que aceitou jantar comigo?
- Porque sou burro!
- Não fala assim, Caio! Eu me sinto mal desse jeito.
- Sinto muito, mas é essa a verdade.
Outro momento de silêncio. Depois eu caí em si e percebi que não estava sendo legal com o menino. Não que ele merecesse, mas eu era idiota e ficava com dó:
- Desculpa – falei baixinho.

Foi a vez dele ficar calado.
- Desculpa? – olhei pra ele.
- Você me machuca demais, sabia? – os olhinhos azuis dele estavam até marejados.
- Ah, Bruno... – suspirei. – Como você mesmo disse: é mais forte do que eu.
- Ultimamente você tem sido um grosso comigo, Caio. Eu sei que eu fui um completo idiota, mas você poderia pelo menos medir as suas palavras ao falar comigo. Eu ainda sinto algo muito forte por você, embora você não acredite.
- Desculpa. Foi mal.
- Eu desculpo. Você disse que é burro, mas o burro nisso tudo sou eu.
Minha vez de ficar calado. Nos olhamos, mas não falamos nada.
Um clima tenso e chato estava sobre nós dois. E a culpa daquilo tudo era minha.
- Vamos mudar de assunto? – tentei puxar papo.
- Como se existisse algum assunto entre nós dois, né?
- Você que me chamou aqui!
- Eu sei. Quem manda ouvir o coração?
- Quem manda ouvir o coração? – eu concordei e fechei meus olhos.
- Por que a gente não tenta resolver tudo, hein?
- Porque o nosso caso não tem solução.
- Será mesmo? Você não sente absolutamente nada por mim, Caio?
- Nada – eu menti. – Absolutamente nada.
- Então eu acho que você nunca me amou, não é?
- Amei sim. Amei você mais do que qualquer pessoa nessa Terra. Amei você mais do que a mim mesmo.
- Não é o que parece.
- Mas você me machucou, me feriu. O que queria? Que eu ainda te amasse como antes?
- Não sei. Talvez. Eu não deixei de te amar nenhum dia sequer desde que saí do país.
Eu também não. Era isso que eu queria falar, mas me segurei.
- Hum. Sinto muito.
- A fila pra você já andou, né? Mas pra mim não.
- Não? – não acreditei.
- Não. Eu não posso ficar com mais ninguém enquanto sentir o que sinto por você.
- E o que você sente por mim? – eu queria chorar.
- Você ainda pergunta? Amor, Caio. Um amor muito puro, um amor incondicional. Eu te amo demais... Demais... Você pra mim é único, sabe? E eu queria muito, muito, muito ficar só com você pro resto da minha vida.
Lembrei das palavras da Maria do Carmo!!! Era muita, muita, muita, muita coincidência!
- Querer não é poder. Receio que isso não aconteça mais, Bruno.
- Se não acontecer eu não vou ficar com mais ninguém. Eu prefiro morrer sozinho e ser fiel ao meu sentimento.
Será que ele estava falando a verdade?
- Acredita em mim, Caio... Eu não saí por que quis, eu te juro!
- É meio difícil acreditar nisso.
- Você mesmo foi expulso de casa... Você mesmo tem um pai que não te aceita... Eu não tive como lutar, Caio...
- Mas você poderia ter falado o que estava acontecendo, Bruno. Eu teria te ajudado.
- Teria? Como? O que você ia fazer? Me colocar na sua casa? Com um monte de heteros que iam ficar julgando nós dois?
- Eles não iam ficar julgando nós dois...
- Ah, não? Quem te garante? Você sabe que o mundo é machista, Caio! Eu não ia aceitar morar na república, na boa.
- A gente poderia ter tentado outra coisa.
- Ah, é? O quê por exemplo? Diz?
- Sei lá... A gente poderia alugar uma casa, morar junto...
- Com que dinheiro? Com o salário que a gente ganhava no telemarketing? Só se a gente fosse passar fome!
- Aí, tá vendo? Tá vendo como você é? Não quis falar nada por puro orgulho!
- Não. Não era orgulho não. Eu até pensei em falar sim, mas não haveria nenhuma alternativa!
- Você poderia morar numa hospedaria como eu fiz!
- E passar fome, né? Caio, em que mundo você vive? Você acha mesmo que R$ 600,00 iam dar para eu viver sozinho no Rio de Janeiro?
- Eu consegui! Por que você não ia conseguir?
- Você conseguiu? Mas quando você pagou o aluguel de uma casa sozinho? Quando você pagou contas de água, luz, gás, comida sozinho? Se você fez tudo isso com 600 reais, me dá a dica porque eu não entendo. Você é mágico por acaso?
Fiquei calado. Eu nunca tinha sustentado uma casa sozinho e na época que morava na hospedaria do Seu Manollo, eu cheguei a passar fome.
- Desculpa, mas se eu tivesse falado alguma coisa você não teria conseguido me ajudar.
- A gente daria um jeito. R$ 600,00 com R$ 600,00 já são R$ 1.200,00. Isso não seria suficiente pra você?
- Até seria, mas até quando a gente ia conseguir sobreviver com isso? As coisas não são tão baratas assim, Caio. E tem mais: você já estava prestes a sair daquela empresa. Como a gente ia sobreviver, me diz?
- Eu consegui outro emprego...
- Depois de quanto tempo?
Fiquei calado.
- Depois de quanto tempo? Vai me dizer que você conseguiu no dia seguinte? Eu duvido muito!
- Não, não consegui no dia seguinte.
- Então? Como eu ia me manter, Caio? Me fala?!
- Mas se eu não consegui um emprego rápido, a culpa foi toda sua!
- Minha? – ele se chocou.
- Sua sim! Eu fiquei em depressão por sua culpa e foi por sua culpa que a minha vida entrou por água abaixo!
- Eu sei disso – ele falou baixinho.
- A culpa é toda sua, seu...
- Seu o quê?! Vai! Me ofende! Não é isso que você quer fazer?
Fiquei mais uma vez calado.
- Você me culpa tanto que daqui a pouco eu vou ser culpado pela inflação e pela alta do dólar! – ele desdenhou.
- Mesmo que você fosse embora, Bruno! Eu tinha o direito de saber.
- Beleza, você tinha o direito de saber. Nisso eu errei. Desculpa?
- Como se pedir desculpas fosse apagar tudo o que aconteceu, né?
- Não vai apagar, mas eu estou sendo humilde, estou reconhecendo o meu erro e estou te pedindo desculpas. Você vai me perdoar sim ou não?
- Não!
Ele ficou calado e muito, muito sério. E lindo também.
- Não vou te perdoar. Não consigo te perdoar.
- E eu não consigo entender como você pode ser tão duro comigo. Eu não queria te magoar, você sabe que eu não queria fazer isso!!!
- Não queria? Mas fez. E agora eu não consigo esquecer isso.
- Sabe por que? Porque você é insensível!
- Insensível? Eu? – dei risada.
- É insensível sim! Você só pensa em você! E não está vendo o quanto eu estou sofrendo nessa situação.
- Você sofrendo? Não mais do que eu sofri.
- Eu sofri também, Caio! Sofri e você não pode imaginar o quanto! Ou você acha que eu fiquei soltando fogos de artifício por ter te largado aqui no Rio?
- Acho!
- Então meu querido, você é muito idiota.
- COMO É QUE É? – me ofendi e fiquei revoltado.
- Idiota sim! Eu te amava, eu te amo! Como você acha que eu estava feliz, estava bem sabendo que você estava a milhares de quilômetros de diatância? Se liga! Não fica olhando só pro seu umbigo não... Eu sofri também e ainda sofro... Eu te amo, porra!
- Lamento muito não poder corresponder a esse sentimento, Bruno.
- Eu sei que você me ama também... Eu sei disso... Não é possível que você não sinta mais nada por mim... Não é possível... Depois de tudo o que a gente viveu...
- Não sinto. Eu namoro e estou muito feliz com meu namorado.
- Com o Murilo? Aquele fedelho que nem saiu das fraldas? Ah, conta outra vai?
- Primeiro: ele não é fedelho. Segundo: respeita o Murilo. Eu não admito que você destrate o meu namorado na minha frente.
- É? Não admite? E cadê ele então? Por que não está com ele?
- Isso não é da sua conta.
- Não é da minha conta? Engraçado... Você diz que “ama” o Murilo, mas na verdade está aqui comigo, né? Se você “amasse” o Murilo, você estaria com ele, não comigo.
- Nós não podemos sair hoje, satisfeito?
- Muito. Muito satisfeito. Depois eu vou passar lá na casa dele pra agradecer.
- Hã?
- É, agradecer. Se ele não quis sair com você foi melhor pra mim. Pelo menos agora eu to aqui com você e isso me deixa muito agradecido ao meu priminho.
- Ai quer saber de uma coisa? Cansei. Eu vou embora que eu ganho mais. Já comi mesmo, já acabei com a minha fome... Melhor eu ir embora, não sou obrigado a ficar ouvindo desaforos e mentiras da sua parte!
- Eu não menti em nada, Caio C. Monteiro da Silva! Caramba, como você está chato, hein?
- E não sou obrigado a ser ofendido também... GARÇOM? – chamei pelo moço. – A conta, por favor.
O rapaz me entregou a nota e eu separei o dinheiro pra pagar, mas o Bruno não deixou:
- Não – ele puxou o papel da minha mão. – Quem vai pagar sou eu.
- Não, não. Eu pago!
A gente ficou nessa briga por mais de 10 minutos. Eu me irritei tanto que deixei o Bruno pagar aquela porcaria. Eu fiquei mesmo muito irritado.
- Boa noite, Bruno. Foi um desprazer encontrar com você – eu levantei e saí andando.
- Espera, Caio. Eu vou te levar em casa.
- Não, não vai. Eu vou de ônibus mesmo. Obrigado.
- Eu te levo em casa ou não me chamo Bruno da Silva Duarte.
Discutimos de novo, mas nesse momento a briga foi um pouco pior. O Bruno chegou a me puxar pelo braço com força para me colocar dentro do carro. Eu fiquei sem reação.
- Você é idiota? Eu não quero ir com você, já falei!
- Mas vai. Eu já to cansado de tanta briga. Você vai comigo e acabou.
Bufei e deixei ele dar a partida no carro. Era melhor acabar com aquela briga de uma vez. Se ele queria me levar, que me levasse logo pra casa. Pelo menos eu ia me livrar dele em seguida.
Contudo, o Bruno não pegou o caminho pro Realengo, ele estava indo pra Barra. Isso me deixou simplesmente enfurecido e eu fui logo falando:
- Você disse que ia me levar pra casa!
- Você não disse que eu sou mentiroso? Pois é, eu menti.
- Me leva pra casa, Bruno!
- Não – ele não olhou pra mim.
- ME LEVA PRA CASA, BRUNO!
- Não, não vou te levar pra casa não.
- DESGRAÇADO!
- Eu te amo também, Caio!
Simplesmente não acreditei no que estava acontecendo. Se eu soubesse que ele iria me levar pro apê dele, nunca teria cedido daquela forma, nunca mesmo.
- Vamos subir – ele desligou o carro e destravou as portas.
- Não. Eu não quero subir.
- Vamos, é sério. Eu tenho um presente pra te dar.
- Presente? Eu dispenso. Eu quero ir pra casa!
- Eu te levo depois que eu entregar o presente, eu juro!
- Eu não acredito em você. Eu vou sair e vou pegar um táxi...
- Não – Bruno me puxou e eu caí sentado no banco do carona. – Por favor, não vai...
Meu coração acelerou, minha respiração falhou e meu pênis aumentou. Por que ele fazia aquilo comigo? Por quê?
- Não... Quero... Ficar... Aqui... – falei pausadamente.
- Por favor, não faz isso... Vamos subir...
Engoli em seco. Como eu queria cair nos braços dele...
- Não... Você não presta!
- Por favor, sobe... Eu tenho algo pra te entregar... Sobe, por favor...
- Isso foi só um plano não foi? E eu caí igual a um patinho... Como eu sou idiota!!!
- Não, você não é idiota, Caio... Vem comigo, por favor?
VAI CAIO... VAI COM ELE!
NÃO, CAIO... NÃO SOBE... NÃO SOBE... É UMA CILADA!
- Não – eu abaixei meus olhos.
- Vamos subir, Caio? 5 minutinhos?
- Depois você me deixa ir embora?
- Prometo que sim. Eu juro por Deus, por tudo o que há de mais sagrado que eu só vou te entregar o presente.
Aceitei. Porém, só para me livrar dele.
CAIO, VOCÊ É MUITO BURRO!
NÃO É NÃO, CAIO. SOBE COM ELE, SOBE LOGO!
O apartamento estava muito organizado. Eu entrei, ele acendeu a luz e fechou a porta quando passou. Eu senti um cheiro muito agradável no ar e terminei de mastigar o Halls que estava degustando.
- Eu já volto...
Ele entrou no quarto, demorou 3 ou 4 minutos e apareceu com um CD nas mãos.
- Um CD? – eu estranhei.
- Sim. Por favor, olha quando você estiver sozinho, tá?
- O que é isso?
- É uma surpresa.
- Surpresa? Vindo de você? Só pode ser coisa ruim, né?
- Você nem olhou ainda e já está julgando?
- É você que está me dando. Não deve prestar.
- Então joga essa porra no lixo! Que ódio!
- É o que eu vou fazer mesmo – provoquei.
- Joga então. Fica à vontade. Faz o que você bem entender com isso.
- Seu ridículo!
- Seu chato!
VAI EMBORA, CAIO MONTEIRO!!!
- Te odeio, sabia? – falei baixinho.
- Eu acho que estou começando a te odiar também. Você só pisa em mim!
- É o que você merece!
- Ogro!
- Eu... Te... Odeio... Bruno!
- Então vai embora daqui... Você já pegou o presente... Vai embora, Caio!
- Eu vou mesmo...
- Então vai!
- Eu vou sim...
- VAI ENTÃO!
- TE ODEIO!
- EU TAMBÉM TE ODEIO!
- CALA A BOCA, BRUNO!
- VEM FAZER EU CALAR...
Fiquei calado.
VAI EMBORA, CAIO!
BEIJA ELE, CAIO!
- VAI EMBORA, CAIO! ME DEIXA EM PAZ... EU TE ODEIO, SEU INFELIZ...
VAI EMBORA, CAIO... ELE TÁ MANDANDO VOCÊ IR EMBORA...
BEIJA ELE, CAIO... BEIJA ELE...
- Vai embora... – ele falou com os olhos molhados. – Vai embora...
VAI... EMBO...
BEIJA ELE, CAIO!!!
NÃO, CAIO... VAI EM...
BEIJA ELE, CAIO!
Vai...
BEIJA ELE, CAIO! BEIJA ELE...
- Vai embora... Vai embora daqui... Me deixa em paz... – ele estava chorando, mas era um choro baixo.
Vai embora... Ago...
BEIJA O BRUNO AGORA, CAIO MONTEIRO, É UMA ORDEM!
Eu tirei a minha camiseta o maix rápido que pude, puxei o meu ex pela cintura, deslizei uma mão até a sua nuca e o puxei para um beijo.
Nããããããããããããããããããão, Caio... Não faz isso... VAI EMBORA!
Eu deletei todo e qualquer tipo de pensamento da minha cabeça e deixei a minha emoção tomar conta da minha vida. Eu não ia sair daquele apartamento... Não enquanto não matasse a saudade que eu estavas entindo do meu mais perfeito ex-namorado.

- Pra você ver. Gostou?
- Nossa... Muito! Combinou muito com você.
- Ai, que bom. Por que está todo arrumado assim?
- Então, Caio... Eu vou ter que sair com meus pais...
- Sair com seus pais? Mas a gente não combinou que ia namorar hoje?
- Combinamos, cara... Mas meu pai me intimou a ir jantar com eles... Eu não vou poder dizer não, desculpa!
- E por que você não me avisou isso antes? Poderia ter poupado a minha vinda até aqui, né?
- Ah, eu pensei que não teria problema... Pelo menos assim a gente poderia se ver um pouco. Entra aí.
- Não, obrigado. Se você vai sair com seus pais eu não vou nem entrar.
- Por que não? Para de ser bobo, Caio!
- Bobo? Talvez eu seja mesmo. Eu saio do Realengo, venho até Ipanema pra te ver e você não tem a moral de me ligar desmarcando. Valeu!
- Ficou bravo?
- Claro, né Murilo? Poderia ter poupado a minha viagem.
- Desculpa. Se eu soubesee que você ia ficar chateado eu teria te ligado.
- Sem problemas – suspirei. – Deixa pra lá. A gente se vê semana que vem então. Bom jantar com seus pais. Boa noite.
- Já vai?
- Já. Vou ao cinema. Boa noite.
- Cinema? E você vai com quem?
- Vou sozinho. Até mais, Murilo!
Saí e deixei o garoto pra trás. Eu não fiquei tão irritado, mas achei mancada da parte dele não ter me avisado que ia sair com os pais. Se é que ele ia sair com os pais mesmo, né?
Resolvi ir mesmo ao cinema. Já fazia um tempinho que eu não via um bom filme na telona, mas eu nem sabia o que estava em cartaz naquela época.
No entanto, eu não tive nem tempo de olhar as opções de filmes que estavam passando no cinema. Meu celular tocou e eu atendi crente que era o Murilo, mas acabei me enganando redondamente:
- Caio? – era a voz do Bruno.
- Bruno?
- Oi, tudo bom?
- Bem sim e você?
- Melhor agora que estou falando com você.
- Hum. O que quer?
- Te convidar para jantar.
- Oi? – desacreditei.
- Sim, te convidar para jantar. Topa?
Eu confesso que estava faminto.
- Não. Obrigado.
Iniciamos uma discussãozinha básica e ele acabou me vencendo pelo cansaço.
- Beleza, beleza – suspirei. – Eu aceito.
- Finalmente! – meu ex pareceu animadíssimo. – Onde você está? Não está em casa pelo visto?
- Não, eu estou em um shopping.
- Qual shopping?
- No Riosul.
- Eu passo pra te pegar aí então. Em meia hora eu chego aí. Você me espera?
- Espero – não sei onde eu estava com a cabeça.
- Me espera na entrada do shopping então. Pelo menos eu não vou precisar sair do carro.
- Pode ser.
- Em meia hora. Não esqueça.
- Beleza.
- Um beijo. Até já.
- Até já.
Não deu nem 5 minutos e a minha consciência começou a gritar comigo. Eu já não aguentava mais tanta confusão dentro do meu cérebro.
VOCÊ SÓ PODE SER BURRO, CAIO MONTEIRO! VOCÊ NÃO PODIA TER ACEITADO SAIR COM O BRUNO!
Por que não? Por que u não podia aceitar sair com ele? Qual o problema em jantar com o Bruno?
ELE COM CERTEZA DEVERIA TER SEGUNDAS, TERCEIRAS E QUARTAS INTENÇÕES! SERÁ QUE VOCÊ NÃO PENSA NISSO?
E daí? E se ele tiver segundas, terceiras e quartas intenções? Qual o problema? Eu não precisaria cair na lábia dele!
MAS VOCÊ VAI CAIR, SEU BURRO! COMO VOCÊ É BURRO... BURRO... BURRO...
Burro ou inteligente, isso pra mim não importava nem um pouco. Eu já estava cansado, simplesmente cansado de tanta confusão na minha mente. O que eu mais queria naquele momento era paz. E não tinha problema nenhum em aceitar o convite do Bruno; afinal, eu estava com saudades dele. E não ia cair na lábia dele. Eu era forte.
Forte? Eu poderia ser qualquer coisa, menos forte. Quando eu visse os olhos dele, com certeza eu ia ficar todo balançado, todo saudoso e ia acabar caindo na lábia dele. Eu tinha certeza que isso ia acontecer!
Não ia não. Eu ia ser forte, muito forte e não ia cair nos braços e nas garras do Bruno. Eu só ia jantar, nada mais que isso.
Jantar? Aham... Jantar... Até parece que seria só um jantar...
- CHEGA! – eu fechei meus olhos, sacodi a minha cabeça e bufei de raiva. – EU NÃO AGUENTO MAIS!
Minha consciência calou a boca e eu me senti muito aliviado. Às vezes eu tinha a sensação que havia uma pessoa dentro da minha cabeça e essa pessoa não calava a boca um segundo sequer. isso me deixava muito cansado e irritado.
Antes de seguir ao encontro dele, conferi o meu visual no banheiro e aproveitei pra dar uma ajeitada no meu cabelo.
Naquela noite eu estava usando uma calça jeans preta com zíperes por todos os lados, uma camiseta branca bem colada ao corpo e um par de tênis cinza. Meu cabelo estava arrepiadinho e a minha pele permanecia alva como leite. Eu gostei do que vi. Será que ele também ia gostar?
Saí do shopping e fui até a entrada do mesmo. Fiquei esperando pacientemente o meu ex-namorado e quando o carro dele parou na minha frente, o meu coração quase saiu pela boca.
- UAU – Bruno me olhou e ficou boquiaberto.
Eu não falei nada. Nossos olhos ficaram unidos como dois ímãs e eu senti uma fisgada dentro da minha cueca. Não era possível que eu já estivesse ficando excitado!
- Você está... Lindo!
Buzinas começaram a soar no ar e eu recobrei a minha consciência. Nesse momento o arrependimento bateu na minha porta. Eu não deveria ter topado aquele encontro.
- Entra, Caio.
Eu entrei no Celta, bati a porta e coloquei o cinto. O Bruno não parava de me olhar um segundo sequer.
- Você está lindo demais... Lindo demais...
- Obrigado. É melhor você andar, senão vai ser multado.
- Ah, é verdade... Nossa... Não imaginei que ia te encontrar loiro e com essa barbinha, Caio...
- Pois é. Resolvi mudar o visual.
- Amei... Simplesmente amei...
- Valeu.
Fiquei olhando pela janela e suspirei. Eu era louco. Só poderia ser louco em ter aceito aquele convite para jantar.
- E aí, como você está? – Bruno puxou assunto.
- Bem. E você?
- Agora eu estou ótimo. E surpreso com a sua mudança.
- Percebi.
- Eu também ia fazer luzes, mas agora que você fez eu vou deixar quieto.
- Por que? – fiquei curioso.
- Porque eu não quero parecer invejoso.
- Ué! Não vejo problema nenhum nisso. Se quiser fazer, faça!
- Não. Seria inveja da minha parte. Não quero que pense que eu invejei o seu cabelo.
- Eu não vou pensar isso. Nada a ver.
- Faz um tempão que eu to querendo clarear o meu, mas me falta tempo.
- Trabalhando muito?
- Trabalhando e estudando. Não tenho tempo pra quase nada.
- Estudando? Está fazendo faculdade?
- Não, mas estou fazendo cursinho pra entrar na faculdade no ano que vem. Já estou fazendo desde o começo do mês. Não te contei?
- Não. Você disse que estava fazendo um curso pra virar peão de montadora acho.
- Esse daí eu já acabei. Agora o foco é o cursinho pra entrar na UFRJ, se Deus quiser!
- Federal? Boa sorte. É muito complicado.
- Sei disso, porém eu vou conseguir. Eu to me matando de tanto estudar, você não tem noção.
- É isso aí. Ainda vai querer fazer Arquitetura?
- Nossa! Você lembrou! Que fofo!
- É... Lembrei!
- Sempre quis ser arquiteto. E eu vou conseguir!
A força de vontade do Bruno me deixou surpreso. Eu ia torcer pelo meu ex-namorado.
- Vai sim.
- Já estamos chegando no restaurante.
- Qual restaurante? Eu pensei que a gente ia jantar no shopping.
- Não. Eu quero algo mais reservado. Espero que não se incomode.
- Desde que você não venha com as suas gracinhas...
- Fica tranquilo. Será apenas um bom jantar.
- Assim espero.
Bom? A julgar pelo restaurante que ele escolheu, não seria um bom jantar. Seria um excelente jantar.
O restaurante era muito chique e logo de cara eu me perguntei como ele pôde escolher um local tão caro como aquele. Ele era louco?
- Não é caro não – Bruno riu. – É só a aparência. Você vai ver.
- E que tipo de comida serve aqui, Bruno?
- Italiana. Sei qie vpcê adora!
- Eu AMO! – me derreti todo. Fazia tempo que eu não comia uma bela massa.
- Então você vai adorar esse lugar. Deixa eu achar uma vaga pra estacionar, meu Deus...
Meu ex escolheu uma mesa bem afastada, que ficava no fundo do restaurante. Nós sentamos e rapidamente um garçom apareceu para nos atender:
- Boa noite – disse o funcionário.
- Aceitam o cardápio?
- Por favor – Bruno respondeu.
Eu peguei o “meni” e passei meus olhos pelas opções de pratos. Bruno tinha razão. Eles não eram muito caros. Escolhi carpaccio. Eu estava com vontade de experimentar esse prato.
- Um carpaccio, por favor – informei.
- Eu quero gnocchi – Bruno entregou o cardápio ao cara.
- E para beber?
- Aceita um vinho? – Bruno me olhou.
- Vinho? – achei estranho. Aquilo estava parecendo até um jantar de novela das 21 horas.
- Sim? Um vinho.
- Por mim...
- Duas taças de vinho do porto, por favor.
- Perfeitamente. Com licença.
Nos olhamos. Eu não entendi por que ele estava sendo tão... Caprichoso naquele jantar.
- Adorei que você aceitou meu convite, sabia?
- Não vai se animando não. Eu só aceitei pra você calar a boca e me deixar em paz.
- Já é um bom começo – Bruno suspirou. – Não canso de dizer que você está lindo!
- Eu já entendi. Quer virar o disco? Parece uma vitrola quebrada.
- Ah, desculpa. Eu só estou falando a verdade.
- Hum.
- Posso ser indiscreto?
- Não.
- Serei do mesmo jeito. Você tem falado com a sua família?
Ah... Essa era a indiscrição?
- Não – respondi na lata.
- Há quanto tempo não fala com eles?
- Com meu pai e meu irmão eu não falo desde que saí de casa e com a minha mãe eu não falo há quase 2 anos. Por qual motivo está me fazendo essas perguntas?
- Pura curiosidade. Desculpe.
- Tudo bem.
- Eu também não falei mais com a minha família.
- Não?
- Não. Na verdade, só falo com meus sobrinhos. Lembra deles?
- Aqueles meninos que você achava que eram seus irmãos, né? Pâmela e Leonardo, não é isso?
- Isso. Eles mesmo. Que memória boa a sua!
- Lembro deles sim. O menino é xará do ridículo do Léo.
- Exato. E você tem tido notícias dele?
- Deus me livre. Eu estou bem sem a amizade daquele desgraçado!
- Verdade. Concordo com você.
- Concorda? Mas não concordou na hora que foi pra cama com ele!
- Eu nunca transei com ele, Caio. Só nos beijamos.
- Pra mim não faz a menor diferença!
- Não vamos relembrar esse assunto? Deixa o passado pra trás e vamos pensar no presente e no futuro?
- Não temos que pensar em nada. Talvez individualmente sim, mas em conjunto não, você entendeu?
- Alguém aqui disse pra pensar em conjunto?
- Não, mas foi o que você insinuou. Eu não nasci ontem.
Bruno suspirou.
- Não sente falta da sua família? – ele insistiu no assunto.
- Sinto não. Já me acostumei sem eles.
Isso não era mentira. Eu estava mesmo acostumado sem eles, embora ainda pensasse diariamente na minha mãe.
- Sério?
- Sério sim. É muito melhor eu viver sem eles do que correr atrás de quem não me quer bem.
- Isso é verdade. Eu encontrei com o Luciano depois que voltei da Europa, mas não falei nada com ele. Saí de perto e fingi que nada tinha acontecido.
- Mas ele não tentou falar com você?
- Sim, mas eu não ouvi nada. Eu não quero falar com eles mais. Eles me magoaram demais.
- Sei.
- É verdade. Por que acha que eu estou mentindo?
- Porque é bem a sua cara fazer isso.
- Será que você não percebe que eu mudei, Caio?
- Com licença – o garçom apareceu com nossos pratos e nos serviu. O meu carpaccio estava simplesmente lindo; todavia, era grande demais. Parecia até que era um carpaccio todo só pra mim.
- Obrigado – Bruno e eu agradecemos juntos.
Beberiquei um gole do meu vinho. Estava forte demais.
- Podemos brindar? – Bruno me olhou.
- Brindar? À quê?
- Nada. Deixa pra lá.
Ele só podia estar louco. Eu não ia brindar à nada. Aquele jantar não era um jantar de comemoração.
Mudado ele até estava, mas ainda não me passava nenhuma confiança. Eu sentia sim algo muito forte por ele, mas isso não seria suficiente para eu cair em tentação naquela noite. Aliás, nada me faria cair em tentação naquela noite.
Não sei se foi o fato do Bruno ter lembrado da minha família ou não, mas o carpaccio daquele restaurante lembrou e muito o que a minha mãe fazia. Acho que foi meio psicológico essa semelhança.
- Caio, não consigo parar de admirar o seu cabelo. Eu adorei essa cor. Ficou legal demais, amor...
- Não me chama de amor! – eu fuzilei meu ex com os olhos.
- Desculpa. É mais forte que eu.
- Contenha-se. Eu não sou o seu amor e nunca mais serei.
- Desculpa, desculpa. Não está mais aqui quem falou.
Fiquei calado por um tempão.
- Está gostando da comida?
- Muito boa, mas é carpaccio demais. Eu amo comida italiana!
- É nada. Eu acabo com isso em dois tempos. Eu sei que você adora, afinal seu sobrenome é italiano né, Caio C.?
- Pois é, pois é – limpei meus lábios.
- Pensei que você ia pegar o de peixe!
- Quero só ver como vai ficar o meu corpo depois desse deslize. E eu odeio peixe!
- Seu corpo está perfeito. Alías, você é todo perfeito.
- Bruno... Cala a boca! Eu não vim aqui pra você ficar me seduzindo não, entendeu?
Ele abaixou a cabeça e pareceu triste com a repressão.
- Me perdoa.
- Vê se manera. Eu não quero voltar com você.
- Então por que aceitou jantar comigo?
- Porque sou burro!
- Não fala assim, Caio! Eu me sinto mal desse jeito.
- Sinto muito, mas é essa a verdade.
Outro momento de silêncio. Depois eu caí em si e percebi que não estava sendo legal com o menino. Não que ele merecesse, mas eu era idiota e ficava com dó:
- Desculpa – falei baixinho.
Foi a vez dele ficar calado.
- Desculpa? – olhei pra ele.
- Você me machuca demais, sabia? – os olhinhos azuis dele estavam até marejados.
- Ah, Bruno... – suspirei. – Como você mesmo disse: é mais forte do que eu.
- Ultimamente você tem sido um grosso comigo, Caio. Eu sei que eu fui um completo idiota, mas você poderia pelo menos medir as suas palavras ao falar comigo. Eu ainda sinto algo muito forte por você, embora você não acredite.
- Desculpa. Foi mal.
- Eu desculpo. Você disse que é burro, mas o burro nisso tudo sou eu.
Minha vez de ficar calado. Nos olhamos, mas não falamos nada.
Um clima tenso e chato estava sobre nós dois. E a culpa daquilo tudo era minha.
- Vamos mudar de assunto? – tentei puxar papo.
- Como se existisse algum assunto entre nós dois, né?
- Você que me chamou aqui!
- Eu sei. Quem manda ouvir o coração?
- Quem manda ouvir o coração? – eu concordei e fechei meus olhos.
- Por que a gente não tenta resolver tudo, hein?
- Porque o nosso caso não tem solução.
- Será mesmo? Você não sente absolutamente nada por mim, Caio?
- Nada – eu menti. – Absolutamente nada.
- Então eu acho que você nunca me amou, não é?
- Amei sim. Amei você mais do que qualquer pessoa nessa Terra. Amei você mais do que a mim mesmo.
- Não é o que parece.
- Mas você me machucou, me feriu. O que queria? Que eu ainda te amasse como antes?
- Não sei. Talvez. Eu não deixei de te amar nenhum dia sequer desde que saí do país.
Eu também não. Era isso que eu queria falar, mas me segurei.
- Hum. Sinto muito.
- A fila pra você já andou, né? Mas pra mim não.
- Não? – não acreditei.
- Não. Eu não posso ficar com mais ninguém enquanto sentir o que sinto por você.
- E o que você sente por mim? – eu queria chorar.
- Você ainda pergunta? Amor, Caio. Um amor muito puro, um amor incondicional. Eu te amo demais... Demais... Você pra mim é único, sabe? E eu queria muito, muito, muito ficar só com você pro resto da minha vida.
Lembrei das palavras da Maria do Carmo!!! Era muita, muita, muita, muita coincidência!
- Querer não é poder. Receio que isso não aconteça mais, Bruno.
- Se não acontecer eu não vou ficar com mais ninguém. Eu prefiro morrer sozinho e ser fiel ao meu sentimento.
Será que ele estava falando a verdade?
- Acredita em mim, Caio... Eu não saí por que quis, eu te juro!
- É meio difícil acreditar nisso.
- Você mesmo foi expulso de casa... Você mesmo tem um pai que não te aceita... Eu não tive como lutar, Caio...
- Mas você poderia ter falado o que estava acontecendo, Bruno. Eu teria te ajudado.
- Teria? Como? O que você ia fazer? Me colocar na sua casa? Com um monte de heteros que iam ficar julgando nós dois?
- Eles não iam ficar julgando nós dois...
- Ah, não? Quem te garante? Você sabe que o mundo é machista, Caio! Eu não ia aceitar morar na república, na boa.
- A gente poderia ter tentado outra coisa.
- Ah, é? O quê por exemplo? Diz?
- Sei lá... A gente poderia alugar uma casa, morar junto...
- Com que dinheiro? Com o salário que a gente ganhava no telemarketing? Só se a gente fosse passar fome!
- Aí, tá vendo? Tá vendo como você é? Não quis falar nada por puro orgulho!
- Não. Não era orgulho não. Eu até pensei em falar sim, mas não haveria nenhuma alternativa!
- Você poderia morar numa hospedaria como eu fiz!
- E passar fome, né? Caio, em que mundo você vive? Você acha mesmo que R$ 600,00 iam dar para eu viver sozinho no Rio de Janeiro?
- Eu consegui! Por que você não ia conseguir?
- Você conseguiu? Mas quando você pagou o aluguel de uma casa sozinho? Quando você pagou contas de água, luz, gás, comida sozinho? Se você fez tudo isso com 600 reais, me dá a dica porque eu não entendo. Você é mágico por acaso?
Fiquei calado. Eu nunca tinha sustentado uma casa sozinho e na época que morava na hospedaria do Seu Manollo, eu cheguei a passar fome.
- Desculpa, mas se eu tivesse falado alguma coisa você não teria conseguido me ajudar.
- A gente daria um jeito. R$ 600,00 com R$ 600,00 já são R$ 1.200,00. Isso não seria suficiente pra você?
- Até seria, mas até quando a gente ia conseguir sobreviver com isso? As coisas não são tão baratas assim, Caio. E tem mais: você já estava prestes a sair daquela empresa. Como a gente ia sobreviver, me diz?
- Eu consegui outro emprego...
- Depois de quanto tempo?
Fiquei calado.
- Depois de quanto tempo? Vai me dizer que você conseguiu no dia seguinte? Eu duvido muito!
- Não, não consegui no dia seguinte.
- Então? Como eu ia me manter, Caio? Me fala?!
- Mas se eu não consegui um emprego rápido, a culpa foi toda sua!
- Minha? – ele se chocou.
- Sua sim! Eu fiquei em depressão por sua culpa e foi por sua culpa que a minha vida entrou por água abaixo!
- Eu sei disso – ele falou baixinho.
- A culpa é toda sua, seu...
- Seu o quê?! Vai! Me ofende! Não é isso que você quer fazer?
Fiquei mais uma vez calado.
- Você me culpa tanto que daqui a pouco eu vou ser culpado pela inflação e pela alta do dólar! – ele desdenhou.
- Mesmo que você fosse embora, Bruno! Eu tinha o direito de saber.
- Beleza, você tinha o direito de saber. Nisso eu errei. Desculpa?
- Como se pedir desculpas fosse apagar tudo o que aconteceu, né?
- Não vai apagar, mas eu estou sendo humilde, estou reconhecendo o meu erro e estou te pedindo desculpas. Você vai me perdoar sim ou não?
- Não!
Ele ficou calado e muito, muito sério. E lindo também.
- Não vou te perdoar. Não consigo te perdoar.
- E eu não consigo entender como você pode ser tão duro comigo. Eu não queria te magoar, você sabe que eu não queria fazer isso!!!
- Não queria? Mas fez. E agora eu não consigo esquecer isso.
- Sabe por que? Porque você é insensível!
- Insensível? Eu? – dei risada.
- É insensível sim! Você só pensa em você! E não está vendo o quanto eu estou sofrendo nessa situação.
- Você sofrendo? Não mais do que eu sofri.
- Eu sofri também, Caio! Sofri e você não pode imaginar o quanto! Ou você acha que eu fiquei soltando fogos de artifício por ter te largado aqui no Rio?
- Acho!
- Então meu querido, você é muito idiota.
- COMO É QUE É? – me ofendi e fiquei revoltado.
- Idiota sim! Eu te amava, eu te amo! Como você acha que eu estava feliz, estava bem sabendo que você estava a milhares de quilômetros de diatância? Se liga! Não fica olhando só pro seu umbigo não... Eu sofri também e ainda sofro... Eu te amo, porra!
- Lamento muito não poder corresponder a esse sentimento, Bruno.
- Eu sei que você me ama também... Eu sei disso... Não é possível que você não sinta mais nada por mim... Não é possível... Depois de tudo o que a gente viveu...
- Não sinto. Eu namoro e estou muito feliz com meu namorado.
- Com o Murilo? Aquele fedelho que nem saiu das fraldas? Ah, conta outra vai?
- Primeiro: ele não é fedelho. Segundo: respeita o Murilo. Eu não admito que você destrate o meu namorado na minha frente.
- É? Não admite? E cadê ele então? Por que não está com ele?
- Isso não é da sua conta.
- Não é da minha conta? Engraçado... Você diz que “ama” o Murilo, mas na verdade está aqui comigo, né? Se você “amasse” o Murilo, você estaria com ele, não comigo.
- Nós não podemos sair hoje, satisfeito?
- Muito. Muito satisfeito. Depois eu vou passar lá na casa dele pra agradecer.
- Hã?
- É, agradecer. Se ele não quis sair com você foi melhor pra mim. Pelo menos agora eu to aqui com você e isso me deixa muito agradecido ao meu priminho.
- Ai quer saber de uma coisa? Cansei. Eu vou embora que eu ganho mais. Já comi mesmo, já acabei com a minha fome... Melhor eu ir embora, não sou obrigado a ficar ouvindo desaforos e mentiras da sua parte!
- Eu não menti em nada, Caio C. Monteiro da Silva! Caramba, como você está chato, hein?
- E não sou obrigado a ser ofendido também... GARÇOM? – chamei pelo moço. – A conta, por favor.
O rapaz me entregou a nota e eu separei o dinheiro pra pagar, mas o Bruno não deixou:
- Não – ele puxou o papel da minha mão. – Quem vai pagar sou eu.
- Não, não. Eu pago!
A gente ficou nessa briga por mais de 10 minutos. Eu me irritei tanto que deixei o Bruno pagar aquela porcaria. Eu fiquei mesmo muito irritado.
- Boa noite, Bruno. Foi um desprazer encontrar com você – eu levantei e saí andando.
- Espera, Caio. Eu vou te levar em casa.
- Não, não vai. Eu vou de ônibus mesmo. Obrigado.
- Eu te levo em casa ou não me chamo Bruno da Silva Duarte.
Discutimos de novo, mas nesse momento a briga foi um pouco pior. O Bruno chegou a me puxar pelo braço com força para me colocar dentro do carro. Eu fiquei sem reação.
- Você é idiota? Eu não quero ir com você, já falei!
- Mas vai. Eu já to cansado de tanta briga. Você vai comigo e acabou.
Bufei e deixei ele dar a partida no carro. Era melhor acabar com aquela briga de uma vez. Se ele queria me levar, que me levasse logo pra casa. Pelo menos eu ia me livrar dele em seguida.
Contudo, o Bruno não pegou o caminho pro Realengo, ele estava indo pra Barra. Isso me deixou simplesmente enfurecido e eu fui logo falando:
- Você disse que ia me levar pra casa!
- Você não disse que eu sou mentiroso? Pois é, eu menti.
- Me leva pra casa, Bruno!
- Não – ele não olhou pra mim.
- ME LEVA PRA CASA, BRUNO!
- Não, não vou te levar pra casa não.
- DESGRAÇADO!
- Eu te amo também, Caio!
Simplesmente não acreditei no que estava acontecendo. Se eu soubesse que ele iria me levar pro apê dele, nunca teria cedido daquela forma, nunca mesmo.
- Vamos subir – ele desligou o carro e destravou as portas.
- Não. Eu não quero subir.
- Vamos, é sério. Eu tenho um presente pra te dar.
- Presente? Eu dispenso. Eu quero ir pra casa!
- Eu te levo depois que eu entregar o presente, eu juro!
- Eu não acredito em você. Eu vou sair e vou pegar um táxi...
- Não – Bruno me puxou e eu caí sentado no banco do carona. – Por favor, não vai...
Meu coração acelerou, minha respiração falhou e meu pênis aumentou. Por que ele fazia aquilo comigo? Por quê?
- Não... Quero... Ficar... Aqui... – falei pausadamente.
- Por favor, não faz isso... Vamos subir...
Engoli em seco. Como eu queria cair nos braços dele...
- Não... Você não presta!
- Por favor, sobe... Eu tenho algo pra te entregar... Sobe, por favor...
- Isso foi só um plano não foi? E eu caí igual a um patinho... Como eu sou idiota!!!
- Não, você não é idiota, Caio... Vem comigo, por favor?
VAI CAIO... VAI COM ELE!
NÃO, CAIO... NÃO SOBE... NÃO SOBE... É UMA CILADA!
- Não – eu abaixei meus olhos.
- Vamos subir, Caio? 5 minutinhos?
- Depois você me deixa ir embora?
- Prometo que sim. Eu juro por Deus, por tudo o que há de mais sagrado que eu só vou te entregar o presente.
Aceitei. Porém, só para me livrar dele.
CAIO, VOCÊ É MUITO BURRO!
NÃO É NÃO, CAIO. SOBE COM ELE, SOBE LOGO!
O apartamento estava muito organizado. Eu entrei, ele acendeu a luz e fechou a porta quando passou. Eu senti um cheiro muito agradável no ar e terminei de mastigar o Halls que estava degustando.
- Eu já volto...
Ele entrou no quarto, demorou 3 ou 4 minutos e apareceu com um CD nas mãos.
- Um CD? – eu estranhei.
- Sim. Por favor, olha quando você estiver sozinho, tá?
- O que é isso?
- É uma surpresa.
- Surpresa? Vindo de você? Só pode ser coisa ruim, né?
- Você nem olhou ainda e já está julgando?
- É você que está me dando. Não deve prestar.
- Então joga essa porra no lixo! Que ódio!
- É o que eu vou fazer mesmo – provoquei.
- Joga então. Fica à vontade. Faz o que você bem entender com isso.
- Seu ridículo!
- Seu chato!
VAI EMBORA, CAIO MONTEIRO!!!
- Te odeio, sabia? – falei baixinho.
- Eu acho que estou começando a te odiar também. Você só pisa em mim!
- É o que você merece!
- Ogro!
- Eu... Te... Odeio... Bruno!
- Então vai embora daqui... Você já pegou o presente... Vai embora, Caio!
- Eu vou mesmo...
- Então vai!
- Eu vou sim...
- VAI ENTÃO!
- TE ODEIO!
- EU TAMBÉM TE ODEIO!
- CALA A BOCA, BRUNO!
- VEM FAZER EU CALAR...
Fiquei calado.
VAI EMBORA, CAIO!
BEIJA ELE, CAIO!
- VAI EMBORA, CAIO! ME DEIXA EM PAZ... EU TE ODEIO, SEU INFELIZ...
VAI EMBORA, CAIO... ELE TÁ MANDANDO VOCÊ IR EMBORA...
BEIJA ELE, CAIO... BEIJA ELE...
- Vai embora... – ele falou com os olhos molhados. – Vai embora...
VAI... EMBO...
BEIJA ELE, CAIO!!!
NÃO, CAIO... VAI EM...
BEIJA ELE, CAIO!
Vai...
BEIJA ELE, CAIO! BEIJA ELE...
- Vai embora... Vai embora daqui... Me deixa em paz... – ele estava chorando, mas era um choro baixo.
Vai embora... Ago...
BEIJA O BRUNO AGORA, CAIO MONTEIRO, É UMA ORDEM!
Eu tirei a minha camiseta o maix rápido que pude, puxei o meu ex pela cintura, deslizei uma mão até a sua nuca e o puxei para um beijo.
Nããããããããããããããããããão, Caio... Não faz isso... VAI EMBORA!
Eu deletei todo e qualquer tipo de pensamento da minha cabeça e deixei a minha emoção tomar conta da minha vida. Eu não ia sair daquele apartamento... Não enquanto não matasse a saudade que eu estavas entindo do meu mais perfeito ex-namorado.
4 comentários:
Eita ❤
esse Murilo deve ter ido é se encontrar com a outra. O Caio pegou muito pesado com o Bruno ainda bem q devem ficar juntos agora, pq esse Murilo ninguem merece. além de não saber meter é um mentiroso. E o conto é nota mil como sempre. ♥
Tomara q o Caio tenha posto outro chifre bem grande na cabeça do Murilo, depois terminado com ele e tenha enfim voltado com o Bruno... #TeamCaio&Bruno4ever
Amor sincero tenho dentro de mim, pra te dar eh soh vc querer e arriscar, pois não eh ilusão nem tão pouco atração eh mais forte do que pode pensar. Não sabe o quanto ja sofri por amor, conheço bem essa dor. Que destrói e causa insegurança de mais. Pra vc superar tem que uma chance se dar e não ter medo de se apaixonar deixa eu te amar... Kkkk sei lah ... Chorei
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